Intervenção na Cidade Gráfica Dyego Digiandomenico & Lula Marcondes
2020 2021
Organizadores Dyego Digiandomenico Lula Marcondes
Projeto gráfico Antônio Leonardo França de Novaes Cavalcanti Dyego Digiandomenico Lula Marcondes
Estagiário Antônio Leonardo França de Novaes Cavalcanti
Ilustração da capa Ana Luiza Vinesof Guedes Gondim Morgana Gonçalves Arruda Torres Victoria Beatriz Vicente Salvino da Silva
Revisão de textos ?
Ficha catalográfica ?
Institucional Universidade Católica de Pernambuco - Unicap Rua do Príncipe, 526 - Boa Vista, Recife - PE. CEP: 50050-900
Intervenção na Cidade Gráfica - 2020 - 2021 / organizadores Dyego Digiandomenico, Lula Marcondes (Luiz Ricardo Fonseca Marcondes).-- [Recife : FASA, 2022] v.: il. p. xx ISBN: xx 1. Arquitetura 2. Política urbana. I. Digiandomenico, Dyego. II. Marcondes, Luiz Ricardo Fonseca. CDU ???
CIDADE
INTERVENÇÃO NA
GRÁFICA
Este livro de Memórias Afetivas da Cidade é parte da prática lúdica e, sobretudo, crítica da disciplina de Expressão Gráfica na Arquitetura do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Católica de Pernambuco, ministrada pelos professores Dyego Digandomenico e Lula Marcondes. Recife, junho de 2022.
Apresentação
O projeto Intervenção na Cidade Gráfica, surgiu como um meio de aplicar na realidade os conhecimentos adquiridos ao longo da disciplina Expressão Gráfica na Arquitetura ministrada no 3º período do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Católica de Pernambuco, pelos professores Dyego Digiandomenico e Lula Marcondes. A partir das experiências desenvolvidas nos semestres anteriores com o exercício Meus Lugares - Pequeno Tratado do Imaginário Afetivo da Cidade, em que as alunas e alunos escolhiam bairros, ruas ou praças da Região Metropolitana do Recife para desenvolverem campanhas de valorização e (re)conhecimento da cidade, solicitamos que procurassem eleger uma problemática no entorno que os cerca e intervir nesta realidade de modo a transformála, colaborando com a melhoria de estabelecimentos comerciais e de serviços populares. A ideia foi levar ao público que normalmente não acessa o mercado formal de design as ferramentas e recursos gráficos no sentido de melhorar a comunicação visual de seus empreendimentos. Ao incitar os alunos a oferecer seus serviços para clientes reais, resolvendo problemas cotidianos através dos recursos de comunicação visual, do design gráfico e das artes como um todo, proporcionamos aos mesmos uma tomada de consciência com relação ao mundo contemporâneo, a cidade em que vivem, o campo profissional que escolheram e os desafios que destas condições decorrem. Os resultados falam por si só.
Índice
Introdução
2020-1
2020-2
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01
Daniel Limongi
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02
Naturalina
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03
Rafael do Coco
28
04
LarBem
34
05
RAPernambucano
42
06
#RECSemFome
50
2021-1
2021-2
07
Alto do Recife
58
08
E se Carlos Pena Filho voltasse ao Santo Antônio?
62
09
O Menino Capibaribe
68
10
O Processo da Periferização da Cidade: Tarot
76
11
Filhos Presos, Mães Reféns
86
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Castelo de Madeira
96
CIDADE
INTERVENÇÃO
NA
GRÁFICA
Intervenção na Cidade Gráfica Sobre a importância da reinvenção pedagógica
Lula Marcondes Professor licenciado da Unicap, mestre em Arquitetura pela University of Texas (Austin, EUA), doutorando pelo MDU da Univserdade Católica de Pernambuco e fundador do O Norte: Oficina de Criação.
Referências FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários a prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. DIB, Paula. Design social: projetos que promovem mudanças na sociedade. SEBRAE, 2019. Disponível em: <https://www.sebrae.com.br/sites/ PortalSebrae/artigos/design-socialimpacto-positivo-para-empresa-e-soc iedade,d5d4c70e2f57f410VgnVCM100 0004c00210aRCRD >. Acesso em 06 de jun. de 2022.
A disciplina de Expressão Gráfica na Arquitetura sempre tem nos desafiado ao longo dos anos. A partir de nossa inquietação pedagógica ou, como diria Freire (1996), da nossa curiosidade epistemológica que não nos deixa à vontade quando se chega a uma zona de conforto na condução dos processos de ensinoaprendizado e seus resultados, partimos de um período de dois anos com indagações estético-conceituais em torno da cidade a partir do projeto Meus Lugares – Pequeno Tratado do Imaginário Afetivo das Cidades para, na sequência, redesenharmos nosso foco para uma condução conceitual-prática na própria cidade. Assim, nasceu o projeto Intervenção na Cidade Gráfica que, por mais dois anos, trabalhou com demandas e clientes reais espalhados nos mais diversos recantos da cidade. De elaboração conceitual restrita aos limites da Universidade à ação prática com resolução de problemas reais, nossa abordagem pedagógica cresceu, se complexificou e, em 2019, lançamos o e-book Intervenção na Cidade Gráfica com um compilado dos trabalhos desenvolvidos entre 2016 e 2019. Neste livro trazemos nossas reflexões e questionamentos sobre a experiência dos quatro anos e de como a reinvenção pedagógica é necessária e salutar para buscarmos o amadurecimento no nosso processo de ensino-aprendizagem como professores. É importante frisar que tivemos mudança de docentes durante esse período. Começamos com o professor Diego Beja Inglez de Sousa, de 2016 a 2018, e o professor Igor Vilares assumiu a disciplina junto comigo em 2019, quando escrevemos o referido
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e-book. Hoje, a disciplina é conduzida por mim e pelo professor Dyego Digiandomenico. Em 2020, veio a pandemia da Covid-19. O que era uma inquietação pedagógica por mudanças de rumo nos momentos que acessávamos uma zona de conforto, passou a ser uma obrigação de recondução para a sobrevivência do semestre letivo. Lembramos das palavras do Mestre Paulo Freire em sua Pedagogia da Autonomia que ensinar exige risco e aceitação do novo (Freire, 1996). O redesenho geral da disciplina nos colocou, de novo, num local de incertezas sobre um novo processo, uma tela em branco esperando uma nova pintura. Para aquele primeiro semestre de 2020, tínhamos esboçado o projeto Cartografia Afetiva a partir de vivências dentro de bairros específicos da cidade. No caso em questão, iríamos trabalhar com a comunidade da Ilha do Joaneiro e, no final do ano de 2019, tivemos reuniões com as lideranças e com membros da comunidade e acertamos os detalhes de nossa ação pedagógica a ser iniciada no ano seguinte, 2020. Como vimos, a Pandemia da Covid-19 alterou abruptamente nosso planejamento e tivemos que reinventar nosso projeto pedagógico. Nos três anos que lidamos com a pandemia de 2020 a 2022, tivemos aulas remotas durante todo o ano de 2020 e 2021 e retomamos as aulas presenciais em 2022. Este novo e-book trata especificamente do processo pedagógico durante a pandemia da Covida-19 quando as aulas foram 100% remotas. Dessa forma, com o adiamento do projeto da cartografia que era fundamentalmente vivencial, tivemos que reinventar a disciplina a partir do que seria possível dentro das normas de segurança de saúde, ou seja, dentro do que fosse possível de ser feito de maneira totalmente remota. Nesse cenário colocamos,
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inicialmente, a disciplina à disposição de um suporte real às pessoas, organizações ou grupos que foram diretamente impactados pela pandemia em relação aos seus empreendimentos que englobavam serviço e comércio. No ano de 2020 cuidamos de dar suporte, através do design gráfico, a uma clientela que passou a se reinventar com os serviços e comércio via redes sociais e internet. Abrimos espaço aos trabalhos de apoio de propaganda e divulgação mais ampla nas redes sociais. Em 2021, com o lançamento às pressas do Plano Diretor do Recife sem consulta popular e com a tragédia política que nos abateu com a péssima gestão da pandemia pelas autoridades federais, abrimos espaço para as leituras críticas sobre as nossas legislações. No primeiro semestre de 2021 propomos a leitura crítica do plano diretor do Recife e, no segundo semestre de 2021, a leitura crítica do artigo 3° da constituição, a seguir: I - Construir uma sociedade livre, justa e solidária; II - garantir o desenvolvimento nacional; III erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
Apresentamos, portanto, este novo e-book que é, na primeira parte, um compilado de um ano de trabalho das alunas e alunos dentro do que pode ser chamado de design social, com projetos que intencionam mudanças sociais a partir do design e, na segunda parte, um compilado de projetos conceituais com olhares críticos sobre as legislações vigentes, tanto de âmbito local – o Plano Diretor do Recife, quanto de âmbito nacional - a Constituição Federal.
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Intervenção na Cidade Gráfica Sobre as práticas envolvidas no refazer do tecido comunitário Dyego Digiandomenico Antes de tudo, cria da periferia Professor da Universidade Católica de Pernambuco - Mestre em Arquitetura, Urbanismo e Tecnologia pela Universidade de São Paulo (IAU-USP).
No ano de 2020 quando fui convidado a participar da disciplina Expressão Gráfica na Arquitetura com o professor Lula Marcondes fiquei muito contente. Primeiro pela admiração que carrego pelos trabalhos da disciplina e segundo por reconhecê-la como um espaço de amadurecimento e verificação de algumas reflexões. Entre as quais, a importância para alunos, ainda no início do curso de arquitetura e urbanismo, terem contato com as ruas da sua cidade e os próprios encontrarem frestas para intervenções nos espaços. Contudo, durante uma longa fase da pandemia da covid-19 perdemos esta oportunidade de atuar nas ruas. Assim, a disciplina se reinventou, buscando frestas de atuação remotas e ocupação do espaço digital. Ao longo desta fase experimentamos um pouco dos potenciais e limites da atuação remota. Um fato que se destacou mais uma vez durante este período foi o da acentuação das desigualdades, parte dos alunos não tinham em suas casas acessos a bons computadores com internet e especialmente programas disponíveis, alguns não tinham sequer espaço de trabalho para desenvolverem suas atividades. Este quadro foi um desafio de muita sensibilidade e aos poucos fomos equilibrando a complexidade destas questões com a ajuda e empenho de todo o corpo da Universidade. Nos cabe aqui uma reflexão crítica sobre o uso de programas proprietários pagos. A disciplina Expressão Gráfica na Arquitetura foi estruturada para, entre outros objetivos, capacitar os alunos nos programas de representação gráfica, o Photoshop e o Ilustrador, que apresentam um alto nível de desempenho técnico,
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contudo, são custosos, fato que cria uma barreira nítida de acesso aos programas originais. Contudo, o principal critério para a escolha destes programas de representação gráfica na disciplina é que estão entre os mais populares na área, e por vezes são exigidos em seleções profissionais de escritórios e empresas de arquitetura e design. Entendo que de certa forma ao ensinarmos e aplicarmos estes programas em sala de aula estamos colaborando com a consolidação das empresas proprietárias envolvidas, que por vezes não demonstram interesse e compromisso com a formação nas universidades em nosso país, esta é uma reflexão que vem sendo amadurecida dentro do espaço desta disciplina, e no futuro poderá produzir derivações. Existe uma dimensão interessante no processo dos produtos frutos da disciplina reunidos neste livro. Os alunos são introduzidos nos programas com exercícios de vetorização, tratamento de imagens, entre outros. Em pouco tempo são encorajados a se apropriar dos programas como recursos a serem aplicados em problemas e desafios da cidade, com clientes e temas reais, sensíveis e carentes em algum nível de transformação. Ou seja, trata-se de direcionar recursos computacionais como instrumentos de prática política. Este movimento não é trivial pois representa em certa medida o refazer do tecido comunitário a partir da transmissão de um conjunto de técnicas iniciais que vão sendo apropriadas através da prática dentro do raio de ação traçado pelos próprios alunos com o objetivo de catalisar transformações sociais, mesmo que pequenas.
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Assim, através de projetos gráficos é possível fomentar a prática política cotidiana, fora do Estado, e que reconhece a cidade como seu espaço doméstico. Quando os alunos definem quais ações vão trabalhar e quais peças vão produzir também estabelecem caminhos relacionais onde canalizam sua empatia, afinidade, revolta e criatividade em uma manifestação de arte e ativismo. Este movimento naturalmente se opõe a retóricas produtivistas e meritocráticas, que por vezes encapsulam a produção universitária dentro de seus muros. Assim, os trabalhos apresentados neste livro estimulam e representam a extensão universitária, onde o conhecimento adquirido e produzido ganha força ao ser compartilhado com a comunidade que o cerca. Mesmo na impossibilidade de arruar mediante a pandemia, os alunos revisaram e desenvolveram o conceito de ação em comunidade, perceberam a cidade como fonte e registro da nossa cultura e de que a ausência ou neutralidade diante de questões urbanas também é um posicionamento. De forma geral, todos que se envolvem ativamente no projeto gráfico, em alguma medida, percebem que este nos permite construir e tecer assuntos e relações de formas diversas, realizar ações transformadoras e elaborar abordagens intersubjetivas, portanto, isso demonstra a relevância da força gráfica no refazer do tecido comunitário.
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2020-1 Desenvolvimento de identidade visual e campanha de divulgação para pequenos comércios ou serviços
Brasil passa de 92 mil mortes por Covid-19.
Daniel Limongi Alex Araújo Arthur Jordão Hugo Pontual Guilherme Jordão Raphael D’Marco
Com o crescente avanço da pandemia de covid em todo o mundo e a implantação do lockdown em todo o país, a disciplina de Expressão Gráfica voltou seu olhar para a parcela da população que foi principalmente afetada com a impossibilidade de exercer suas atividades normais. Sendo assim, iniciou-se um processo de produção de peças gráficas com o intuito de inserir ou reimaginar uma marca pessoal no mundo digital, a fim de suplementar a renda do cliente escolhido. Nosso projeto teve como cliente contemplado um professor particular de letras, Daniel Limongi, que já vinha num processo de iniciação de sua marca no ambiente virtual através do Instagram.
Portanto, nossa equipe formada pelos alunos Alex Araújo, Arthur Jordão, Hugo Pontual, Guilherme Jordão e Raphael D’Marco, decidiu por adotar uma elaboração de peças simples e de fácil manipulação, que servissem tanto como uma chamada do público, como para a manutenção geral do funcionamento do Instagram. Possibilitando que após a conclusão do trabalho realizado por nós, Daniel pudesse ter autonomia de seguir com a mesma linguagem estética construída. Dessa forma, o cliente demonstrou um imenso apreço pela iniciativa e gratidão por ter sido escolhido. Além das peças terem atingido à expectativa criada por ele, visto que o mesmo acompanhou corriqueiramente a confecção das imagens. 21
Contudo, com o passar dos meses e do prolongamento da pandemia, Daniel acabou seguindo um rumo diferente daquele traçado junto à nossa equipe, até que, por fim, as imagens criadas deixaram de ser relevantes. Com isso foi possível, além de desenvolver nossas habilidades nas ferramentas de criação de ilustrações, criarmos uma ligação maior com a comunidade e desenvolver um olhar mais sensibilizado para aqueles que nos circundam, e crítico para o que consumimos em plataformas digitais, além de passar a entender mecanismos de marketing e comunicação de maneira mais clara.
Peças gráficas desenvolvidas para a divulgação das aulas na plataforma do Instagram, mais especificamente no formato 16:9, utilizado para a ferramenta de stories, e 1:1 (quadrado), para o feed..
Naturalina doces saudáveis
Naturalina Gabriel Leite Luana Lapa Maria Eduarda Nóbrega Pedro Porto Carreiro
Desenvolvemos a identidade visual da Naturalina quando Carol, amiga nossa, estava com uma marca de brownies saudáveis para seu novo negócio. A ideia que ela teve de desenvolver receitas mais saudáveis não foi puramente pela estética, mas Carol queria que, pessoas iguais a ela pudessem consumir doces com segurança e sem restrições. Mas por que com segurança? Carol tem alergia a ovo e intolerância a glúten e por toda a sua vida, privou-se de comer os mais diversos alimentos. Foi criando a Naturalina então que ela viu uma oportunidade de consumir produtos saudáveis, seguros para ela e demais pessoas, além de ajudar essas pessoas a encontrar uma marca que garanta o uso de produtos diferenciados.
Desenvolvemos a logo de sua marca, bem como os destaques de seu instagram, posts para delivery e fotografamos os 4 tipos de brownies vendidos na época. O briefing da cliente foi essencial para a obtenção do resultado final. Ela gostaria de usar tons pastéis e traços mais femininos com um toque floral. Na logo, resolvemos usar o “N” inicial de forma diferente do resto da palavra para dar o destaque e ser usado como objeto principal para o reconhecimento da marca visto pelo público. Nele usamos um fuet ligado à flor. As fotografias feitas foram o grande desafio para nós. Não queríamos uma fotografia com ambiente culinário ao fundo ou com fundo branco de estúdio. Propomos colocar então as cores pedidas pela cliente ao fundo de cada imagem, destacando sempre o brownie que ficava em primeiro plano. 25
Entregas
Peças gráficas desenvolvidas para a divulgação dos produtos na plataforma do Instagram, mais especificamente no formato 16:9, utilizado para a ferramenta de stories, e 1:1 (quadrado), para o feed..
Nossas fornadas saem todas as Terças e Sextas!
Gatanta seu pedido pelo
Naturalina doces saudáveis
O feedback de Carol foi bastante positivo, com alguns ajustes aqui e ali, conseguimos criar uma marca com a cara dela e com o propósito que ela pensou. O que extraímos do trabalho foi que, ao trabalhar com um cliente real, conseguimos sair mas de nossa zona de conforto. Vimos que, apesar de termos desenvolvido a marca, ela tem sim que ter o rosto e os anseios do cliente alinhados ao senso estético que estamos desenvolvendo para um resultado bom para ambas as partes.
Beijinho Brownie
Naturalina doces saudáveis
Mix Nuts Brownie
Naturalina doces saudáveis
tradicional Brownie
Naturalina Naturalina doces saudáveis doces saudáveis
Paçoca Brownie
Naturalina Naturalina doces saudáveis doces saudáveis
Rafael do Coco Christiane Maria Cheyenne Colby Gabriela Castelo Lorrene Lima Vitor Faria
Rafael vende coco e água de coco na praia de Casa Caiada - Olinda, PE. Sua maior clientela são as pessoas que frequentam a orla. Devido à pandemia, as pessoas não frequentavam mais a praia e Rafael teve que criar estratégias para conseguir vender seus produtos. Então, um grupo com cinco estudantes do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Católica de Pernambuco, em trabalho para a disciplina de Expressão Gráfica, produziu peças gráfica, assim como desenvolveu um logo e uma identidade visual com a finalidade de atribuir visibilidade para seu trabalho e atrair mais clientes. Além disso, a equipe entrou em contato com ele através do WhatsApp. Através desse contato, foi possível entender melhor suas necessidades e dificuldades e foram feitas sugestões, como o serviço de delivery que ajudaria no levantamento das vendas.
O conceito principal no qual a equipe se baseou foi que a identidade de Rafael remetesse ao coco e à praia, dessa forma, a equipe gostaria que as pessoas tivessem a sensação de que Rafael estaria levando a praia para mais perto delas, já que as mesmas não podiam ir até lá. Por isso, foram utilizados tons de verde por causa do coco e formas orgânicas que lembram a praia. A fonte utilizada para os textos, remetia a uma escrita rústica, lembrando a escrita “letra de forma” feita a mão, que pela praticidade está presente no cotidiano de muitos comerciantes. Além do logo, foram produzidas 5 peças gráficas. O trabalho ajudou a equipe a aprender conceitos básicos sobre design e sobre a importância da identidade visual, sobre como chegar a essa identidade em conjunto em um período pandêmico. 29
Apresentação do Rafael Essa arte fala brevemente sobre Rafael e seu trabalho, com uma curva remetendo à praia, preenchida pela ilustração do coco.
Serviço delivery Tem por ilustração principal o carro de Rafael, que é utilizado em seu trabalho, além da cor verde que remete ao coco. O próprio coco foi utilizado como uma textura de fundo.
Benefícios do coco Apresentava a ilustração de cocos e palavras que indicam os principais benefícios de seu consumo, escritas de forma orgânica seguindo a curva do coco.
Apoie o comércio local Exalta o comércio local e incentiva as pessoas a consumirem produtos de pequenos empreendimentos.
2020-2 Desenvolvimento de identidade visual e campanha de divulgação para Instituições
País contabilizou 194.976 óbitos e 7.675.781 casos da doença desde o início da pandemia.
LarBem Marina Gomes Marisa Acioly Joana Jacineide Letícia Alves Paula Roberta Maria Luiza Frazão
O LarBem - Lar Batista Elizabeth Mein é uma Organização não Governamental (ONG), fundado em 01 de maio de 1954, que atua como abrigo/casa de acolhimento para meninas (crianças/adolescentes), em risco pessoal e social. O objetivo da organização é proporcionar às crianças acolhidas proteção provisória e excepcional de moradia em caráter residencial com vistas a fortalecer vínculos familiares e/ou integra-las em uma família substituta. De modo que o caráter residencial do LarBem contribua com a inserção das crianças/ adolescentes na comunidade e fortaleça vínculos familiares e/ou integração em família substituta.
Usando as plataformas digi tais do LARBEM como plataforma, e tendo a proteção à infância e juventude como tema, a campanha busca conscientizar a sociedade sobre os direitos das cr ianças e adolescentes. Tomamos como base o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que completou 30 anos em 2020, para tratar dos direitos fundamentais estabelecidos em lei, e também os dados estatísticos de órgãos governamentais (Disque 100, IBGE, etc.) para chamar a atenção para a real situação desse grupo vulnerável. O tí tulo traz uma obviedade por tantas vezes esquecida. Vamos cont nuar repetindo que “Nossas Crianças Têm Direitos!” até que esses direitos sejam respeitados de fato. 35
Arte contendo principal reivindicação do LarBem, utilizada como mote para desenvolvimento da pesquisa e das peças gráficas.
Nas páginas anteriores, imagens em formato 1:1 (quadrado) para divulgação do LarBem em redes sociais e conscientização sobre a problemática que a ONG se propõe a solucionar, com embasamento de dados e pesquisas sobre o tema.
Ao lado, mockup com aplicação de logo do LarBem desenvolvida pelo grupo em uma ecobag. 41
Arquivo RAPernambucano Arthur Chaves Liniker de Azevedo Marília Porto Rebeca Carvalho Sofia Hunka
Para desenvolver este trabalho, entramos em contato com alguns nomes importantes da cena do rap/ trap pernambucano, como o coletivo Oeste 7 e os rappers Nexo Anexo e Rudah, e sugerimos trabalhar juntos na intenção de impulsionar sua arte através da criação de um site-arquivo, que seria alimentado com informações de eventos e lançamentos, fotos, contatos e uma loja. Além da plataforma digital, também foram construídas artes em conjunto com os clientes, que traziam certas problemáticas vivenciadas. Essa ideia veio com um propósito de criar um local de exposição cultural do rap/trap e dar voz aos artistas e grupos pernambucanos, que tanto buscam seu espaço na mídia e pouco são reconhecidos como músicos de verdade.
Foram 5 peças desenvolvidas, no total, sendo elas a logo do projeto, que remete às origens do movimento manguebeat, precursor do rap no Nordeste, e quatro artes adjacentes, que foram pensadas em cima das vivências dos artistas e feitas no formato de lambe-lambe. O que mais se esperava com essas peças era a divulgação das músicas e mídias sociais dos grupos, aumentando sua visibilidade para que atingissem outros nichos sociais. Tivemos uma resposta muito boa, os clientes ficaram muito satisfeitos com o resultado e isso nos possibilitou ter uma troca maravilhosa e expandir nosso pensamento através de perspectivas diferentes. Foi incrível ver o trabalho e dedicação dessas pessoas, o quanto lutam pelos seus sonhos e como, através da poesia, eles conseguem passar sua visão de mundo. 43
Cartazes produzidos para divulgação do arquivo RAPernambuco e para o desenvolvimento do debate crítico acerca de problemáticas vivenciadas pelos artistas da cena de rap/trap de Pernambuco.
Cartazes produzidos para o desenvolvimento do debate crítico acerca das problemáticas vivenciadas pelos artistas da cena de rap/trap de Pernambuco.
Cartaz produzido para o desenvolvimento do debate crítico acerca das problemáticas vivenciadas pelos artistas da cena de rap/trap de Pernambuco.
Produtos da Loja
Produtos desenvolvidos para a loja do RAPernambucano a partir das peças gráficas produzidas para o arquivo.
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#RECSemFome Ana Beatriz Lucas Pinheiro Danielly Ingrid, Vitória Gabriela Vila-Nova Andreza Barreto
A campanha #RECSEMFOME foi elaborada na disciplina Expressão Gráfica de Arquitetura e Urbanismo no segundo semestre de 2019, cujo, teve como propósito elaborar peças gráficas e ideias para promover uma causa no Instagram, junto à página PF do Bem. O movimento apresentado é voltado para a extrema fome do Recife, tendo como objetivo distribuir marmitas em pontos de principal foco da pobreza, e com isso, visibilizar um tópico extremamente negligenciado. Pouco se é falado e muito menos é resolvido. Em quantos lugares você passou e foi abordado por alguém pedindo ajuda por estar com fome? Como é possível a fome ser tão real e ao mesmo tempo tão invisível?
Após a leitura de uma matéria escrita por Jamilton Melo no JC (https://jc.ne10.uol.com.br/ blogs/jamildo/2020/04/05/ moradores-de-rua-comfome-estao-se-alimentandode-pombos-na-avenida-boaviagem-diz-alberto-feitosa/ index.html), que fala sobre pessoas em situação de rua se alimentando de pombos na praia de Boa Viagem, foi despertado o interesse de abordar o assunto. Em seguida, foram realizadas mais pesquisas sobre a temática, e verificou-se que com a pandemia, o número de casos de fome só aumentou, não existindo apenas nas ruas e sim em casas, refletindo em 10% das famílias recifenses vivendo em extrema pobreza. 51
Cartazes produzidos para o desdobramento do debate sobre a problemática da fome.
O processo de criação das peças do projeto foi totalmente inspirado em críticas sociais, políticas e econômicas do Recife, na busca de conscientizar ao público que existe sim uma fonte da existência da fome na cidade, e que são esses os pivôs que alimentam a pobreza. A partir das peças, foram lançadas frases impactantes e elementos marcantes da cidade, referências mundiais e nacionais para gerar essa indagação sobre o assunto. Cores que remetessem a comida e a pobreza foram trabalhadas nos desenhos gráficos, gerando essa contradição e levantando análises e pontos de vistas diferentes do público. Diante das pesquisas realizadas, análises e debates feitos dentro do grupo, onde foi possível enxergar de uma forma mais clara, o como a fome
é um tópico sensível e importante para ser discutido e exterminado na vida dos cidadãos, uma vez que na teoria todos têm os mesmos direitos e necessidades. O apoio da população e do governo são de extrema importância para a erradicação do problema, tendo em vista que esse não é um assunto fácil e que iniciativas como o PF do Bem são um bom começo para o diálogo, mesmo que por mais benéficos que sejam, tem um resultado momentâneo que não agregam a nenhuma melhoria futura e permanente na sociedade. Dessa forma, expandir ainda mais esse tópico para outras fontes de comunicação é interessante para abrir discussões, indagações e métodos de reverter esse quadro.
Cartaz produzido para o desdobramento do debate sobre a problemática da fome e conscientização do público, contendo a frase “Quem tem fome, tem pressa. Doe a quem precisa”, com a histórica Ponte de Ferro Imperador D. Pedro II, no centro da Cidade do Recife ao fundo.
Cartaz produzido para o desdobramento do debate sobre a problemática da fome e conscientização do público, com a frase “Já matou a fome de alguém hoje?” estampada no letreiro do icônico e um dos poucos ainda existentes cinemas de rua de Recife, o Cinema São Luiz, localizado na Rua da Aurora, no centro da cidade.
2021-1 Plano Diretor do Recife: Leituras Críticas
Brasil tem 1.366 mortes por Covid-19 em 24 horas e total de óbitos passa de 553 mil.
Alto do Recife
as consequências da especulação imobiliária Ana Laura Santana Júlia Tavares Lígia Aguiar
Alto do Recife, 2021 vídeo, cor, p&b, som 3’03”
o meio externo e interno e evidenciando o abismo social da cidade. O trabalho foi desenvolvido a partir da inquietação sobre o descaso histórico que acontece na cidade do Recife e as consequências da especulação imobiliária, em comparação à ideia que a sociedade tem sobre os altos prédios luxuosos e a falsa sensação de desenvolvimento. A principal crítica do projeto é à verticalização exacerbada que, promovida pelas grandes construtoras e alimentadas pela desinformação, não respeita a proporcionalidade e a escala humana, é jogada no meio urbano sem qualquer coerência e nos afasta do vivenciamento da cidade conjunta, privatizando e isolando as atividades dentro dos condomínios, bloqueando qualquer tipo de contato entre
Quando se fala em planejamento urbano, é impossível evitar o tema da verticalização, pois ela é uma consequência natural da demanda por espaços para construção no meio urbano. Porém, quando trazemos isso para a realidade de Recife, enxergamos um grande problema a partir do momento que essas construções exageradas trazem uma segregação social, apagamento histórico e desassociação total com a realidade climática da cidade. O nome do projeto foi pensado para representar essa unidade acima da escala que dominou a cidade, funcionando como trocadilho com a palavra “auto”, que cria uma composição dramática para a peça e faz alusão à altura em questão no trabalho. 59
Frames retirados do vídeo original.
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Para trazer um impacto visual e ter a possibilidade de ser divulgado através das mídias sociais, a escolha foi de elaborar um vídeo relativamente curto com cenas retiradas de entrevistas e protestos que ocorreram pela cidade. Ao longo da peça, foram explorados diversos pontos polêmicos e sensíveis, expostos de maneira imagética, contrastando com um discurso sobre o status social dos usuários das altas construções e a realidade do mundo externo à elas. Foi estabelecida então uma relação entre a ideia de crescimento da cidade à música “A Cidade” de Chico Science, tocando no aspecto de uma cidade movimentada em cenas como manifestações sociais. O vídeo finaliza com uma cena dramática sobre o nascimento e crescimento de um edifício em concreto, cenário que se torna cada vez mais naturalizado, se relacionando com uma sátira
em forma de música acerca do tema, escrita por Caio Cobaia. Trazer uma reflexão a respeito do impacto que as grandes edificações têm na cidade e como podemos e devemos lutar pela preservação histórica através de uma arquitetura mais coerente com a escala humana na proporcionalidade da cidade. O maior aprendizado durante o projeto foi a relação estabelecida com o urbanismo, tendo em mente uma vivência saudável dentro das cidades e sua relação com as construções, incluindo edificações verticais. Então, esse vídeo nos tirou apenas da escala da cadeira e nos trouxe um conhecimento sobre as diversas problemáticas que podem passar despercebidas no estudo das construções civis, nos levando a refletir cada vez mais sobre aspectos sociais, econômicos e políticos da sociedade urbana atual. 61
E se Carlos Pena Filho voltasse ao Santo Antônio? subtítulo?
Amanda Padilha Emily Bezerra João Bosco Rabello Laura Lay
E se Carlos Pena Filho voltasse ao Santo Antônio?, 2021 vídeo, cor, som 1’41”
Em abril de 2021, foi sancionada a Lei Complementar n. 2, instituindo o novo Plano Diretor do Município do Recife, em substituição ao de 2008. Para além da controvérsia sobre o modo e tempo de tramitação do projetolei, com questionamentos acerca da participação popular nas discussões, a legislação promulgada, no seu teor propriamente, traz alterações substanciais, que ora despertam aplausos, ora reflexões, ora inconformismo, ora revolta. Foi nesse contexto que surgiu o presente trabalho, com a intenção de trazer à tona questões sensíveis do novo Plano Diretor, com uma linguagem clara e acessível, a partir de peças gráficas, ativistas, traduzindo, de algum modo, os termos truncados da legislação.
Após debate coletivo acerca de temáticas versadas no Plano como, por exemplo, a regulamentação das Zonas de Interesse Social (ZEIS), a recuperação/despoluição do rio Capibaribe, a mobilidade urbana e a preservação do patrimônio histórico, a equipe elegeu como objeto de estudo um dos princípios que regem a política de desenvolvimento urbano – a função social da propriedade, valendose do contraponto entre a subutilização (abandono) de imóveis e o déficit habitacional na cidade de Recife. Mais especificamente, o trabalho concentrou-se no bairro Santo Antônio, situado na região central de Recife, que, a despeito do seu histórico vigoroso, hoje, conforme relatórios da ONG Habitat, acumula mais de 42 imóveis sem uso, milhões em dívidas de impostos e, abaixo de suas marquises, milhares de pessoas ao relento, desabrigadas. 63
Frames retirados do vídeo original.
Definido o bairro e realizado o estudo sobre a história da região, foi impossível não se deparar com a poética política de Carlos Pena Filho, um dos mais importantes poetas pernambucanos do século XX. Com apelo pictórico e sempre interessado em cada aspecto da vida da cidade, o poeta retratava em sua obra, muitas vezes, o cotidiano de Recife, a exemplo do poema “Chopp”, cujo cenário era justamente a efervescência do bairro de Santo Antônio entre os anos 50/60. O posicionamento político, jornalista e ativista do poeta associado ao lirismo e à natureza plástica e visual de sua obra, portanto, inspirou o conceito do trabalho “E se Carlos Pena Filho voltasse ao Santo Antônio?”. Qual seria a reação do poeta? Como relataria o estado de abandono da outrora movimentada Av. Guararapes? Como, do palácio do Diário de Pernambuco, onde
trabalhou, conclamaria uma atuação política e denunciaria o descaso com a população? A linguagem plástica do trabalho também se amparou na obra de Carlos Pena Filho que, ao retratar a cidade ou cenas, destacava a cor, o movimento e a luz, como se, em última análise, pintasse o poema. As peças gráficas, portanto, foram concebidas a partir de colagens do acervo fotográfico do bairro, que denunciava o estado de desamparo e vulnerabilidade humana e o abandono dos imóveis, em sua maioria marcos da arquitetura modernista, com sobreposições de efeitos gráficos, dando tom de uma aquarela. O conteúdo gráfico, ao final, foi envelopado como um álbum, que, ao passar das páginas, recebeu, ao fundo, áudio de uma releitura do poema “chopp”, concebida com excertos dos dados estatísticos apurados em estudo. 65
Frames retirados do vídeo original.
Em síntese, objetivou-se, a partir das peças do presente trabalho, uma reflexão social, com a exposição de conteúdo estatístico e registros fotográficos concretos (e alarmantes), mas sem perder de vista a poética inerente à literatura e às artes em geral. Em outros termos, almejouse, a partir de recurso criativo, além de promover o resgate da cultura pernambucana, despertar o interlocutor para debates sobre a sociedade em que vivemos, facilitar a leitura de questões versadas sobre o novo Plano Diretor e convidar, enfim, para maior ativismo, ponto em prática as diretrizes e objetivos da legislação da cidade.
Não se sabe, ao certo, qual será o alcance do presente trabalho a nível da cidade, tampouco se este será capaz de contribuir tal como a expectativa do grupo. Contudo, nos limites interiores da equipe, as reflexões e aprendizados foram inúmeros e valiosos, contemplando não só o manejo de ferramentas gráficas e a compreensão da Lei Complementar nº. 2 de 2021, essenciais ao trabalho enquanto arquitetos e urbanistas, como, sobretudo, a maior percepção sobre a cidade em si, sobre seus integrantes, ruas e patrimônios; a apreensão sobre o poder da arte e da linguagem como ferramentas para um ativismo político; e, enfim, sobre o nosso papel social enquanto cidadãos. 67
O Menino Capibaribe subtítulo?
Amanda Hazin Ana Clara Trindade Maria Catarina Lins
O seguinte trabalho tem como objetivo abordar a proposta do Parque Capibaribe para a cidade do Recife de maneira lúdica e criativa, buscando ser acessível a todas as idades, especialmente ao público infantil. A obra trata-se de um pequeno livro ilustrado, o qual nasceu da vontade das autoras de representar a pauta da Cidade Parque de forma leve e inventiva, aproximando as crianças de um dos bens naturais mais significativos da cidade: o Rio Capibaribe. Nesse sentido, o trabalho conta da história do próprio Rio, que toma forma humana no personagem “Menino Capibaribe”, o qual conversa com os leitores para mostrálos como viver e valorizar a presença do Rio dentro do cenário urbano recifense. Cada uma das peças elaboradas
representa uma das premissas do Parque Capibaribe, a citar: Percorrer, Atravessar, Abraçar, Chegar e Ativar. Sob tal ótica, a linguagem visual escolhida para a arte do trabalho foi um traço leve e arredondado, com cores vivas, destacando a predominância do azul, que esteve presente em todas as imagens como representante do Rio em si e de sua forma humana. Com esse trabalho, as autoras puderam refletir sobre a importância do Rio Capibaribe para o Recife, e, especialmente, sobre o papel de arquitetos e urbanistas na valorização desse precioso bem natural, de forma a integrá-lo ativamente ao cenário urbano. Dessa forma, esperamos que o livro possa alcançar mais pessoas, e, possivelmente, trazer um impacto positivo na sua relação com o Rio e a cidade. 69
Páginas retirados do livro digital original.
Mockups
2021-2 Críticas ao não cumprimento dos parâmetros presentes no Art n. 3 da Constrituição Federal
Brasil encerra 2021 com 412.880 mortes no ano por Covid-19. Óbitos desde o início da pandemia passam de 600.000.
O Processo da Periferização da Cidade a partir da linguagem do Tarot Ana Luiza Vinesof Guedes Gondim Morgana Gonçalves Arruda Torres Victoria Beatriz Vicente Salvino da Silva
O não cumprimento efetivo dos parâmetros do Artigo n. 3 da Constituição Federal de 1988 - que discorrem sobre a necessidade da construção de uma sociedade justa, livre e solidária, da erradicação da marginalização e da pobreza, da garantia do desenvolvimento nacional, da promoção do bem estar de todos sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação e da redução das desigualdades regionais e sociais - direcionou o desenvolvimento de uma temática que trata acerca do processo da periferização nos grandes centros urbanos. Desse modo, o tema pretende apresentar a formação e o crescimento das periferias de forma desordenada como um reflexo da organização da sociedade, que contribuem no processo de desigualdades, marginalização e segregação devido à ausência de um planejamento econômico,
https://expgraficatarot.wixsite.com/tarotperiferia
social e de infraestrutura. Ademais, a ideia tenciona falar sobre a tentativa de inserção e de garantia dos direitos básicos por meio da arquitetura social e dos discursos dos representantes das periferias. Para tal fim, foi designada a linguagem do Tarot estabelecendo uma relação entre onze Arcanos Menores - que examinam aspectos mais cotidianos e pessoais, podendo refletir nos diferentes graus de necessidades humanas, desejos, emoções e pensamentos - e o entendimento do processo de periferização nas cidades. A ideia consiste em estabelecer uma releitura das cartas sobre a formação periférica, a introdução da população das periferias no contexto urbano de forma desordenada, fruto da falta do cumprimento das leis e da ausência da atuação do Estado, e as tentativas de mudanças dessa realidade presentes nos discursos de representantes e nas ações realizadas pela arquitetura social. 77
O tema constitui-se dos seguintes tópicos: 01 Formação e crescimento das periferias de forma desordenada como um reflexo da organização da sociedade;
02 Consequências que perduram até hoje no processo de desigualdades, marginalização e segregação devido à ausência de um planejamento econômico, social e de infraestrutura;
03 Tentativa de inserção e garantia dos direitos básicos por meio da arquitetura social e dos discursos dos representantes das periferias.
O Tarot é composto por 78 cartas, conhecidas como Arcanos, divididas em Arcanos Maiores, que descrevem um processo humanouniversal englobando todos os aspectos espirituais, e em ArcanosMenores, que permitem examinar aspectos mais cotidianos epessoais podendo refletir nos diferentes graus de necessidadeshumanas, desejos, emoções e pensamentos. A ideia consiste em relacionar 11 Arcanos do Tarot a realidade das periferiasestabelecendo para as cartas uma releitura sobre a sua formação, aintrodução da população periférica no contexto urbano de formadesordenada, fruto da falta do cumprimento das leis e da ausênciada atuação do Estado, e as tentativas de mudanças dessa realidadepresentes nos discursos de representantes e nas ações realizadaspela Arquitetura Social. 79
01
Contribuem para a formação da periferia
É o Arcano que traz consigo a interpretação de possíveis situações caóticas e inesperadas, além de uma desestabilização total das organizações. Nesta carta, o Louco vem a partir da personificação do Estado.
O Imperador nesta carta está relacionado ao abuso de poder e à capacidadede coação. Nesta carta, está sendo representa do pelo mercado imobiliário.
02
Consequências da desordenação periférica
O Carro é o Arcano que carrega consigo aconotação de direcionamento e condução.
A Força nesta carta está relacionada com comportamentos agressivos e impulsivos.
Nesta carta, O Carro apresenta-se a partir da figura do transporte público.
Nesta carta, está sendo representada pela violência policial e o racismo sistêmico, que tem como alvo o preto periférico.
02
Consequências da desordenação periférica
A justiça é o Arcano que representa ordem e equilíbrio. Nesta carta, a Justiça apresenta-se pelo descumprimento dos Direitos Humanos.
O Diabo nesta carta está relacionado com energias negativas como a ambição, o comportamento, o desejo, o dinheiro e o vício. Nesta carta, está sendo representado pelo tráfico de drogas.
02
Consequências da desordenação periférica
A Morte nesta carta está relacionada com o fim de tudo o que não tem mais utilidade. Nesta carta, sendo representada pela morte do preto periférico que tem como causa diversos fatores sociais, econômicos e políticos.
A Torre é o Arcano que traz consigo a interpretação de falsas estruturas, possíveis destruições e instabilidade. Nesta carta, a Torre vem a partir da representação da organização instável das periferias.
02
Consequências da desordenação periférica
O Julgamento nesta carta está relacionado com o julgamento por ações passadas. Nesta carta, está sendo representada pelo preto periférico que, na verdade, é taxado pelo estereótipo racista desenvolvido desde o período colonial.
03
Tentativas de mudança
O Mago é o Arcano que carrega a conotação de habilidade, destreza e empenho nas interpretações.
O Papa nesta carta está relacionado com a comunicação privilegiada e a transmissão de sabedoria.
Nesta carta, o Mago é representado a partir das iniciativas de uma Arquitetura Social.
Nesta carta, está sendo representado por figuras que dão visibilidade e voz à periferia.
Filhos Presos, Mães Reféns protagonismo materno no cenário carcerário Ana Beatriz Pontes Júlia Trigueiro Luísa Mesquita Marina Santana
Trabalhamos em conjunto com a associação Amparar, que tem como objetivo ajudar ex-presidiários, suas mães e mães de pessoas ainda em cárcere. Tivemos o objetivo de dissipar a situação do entorno que circunda os presídios brasileiros, das famílias e dos detentos, com objetivo de trazer a sensibilidade da sociedade, ou seja, nosso público alvo é toda a sociedade brasileira principalmente a que nunca teve contato com esse recorte social. Nosso principal problema era a falta de empatia que a sociedade em geral tem com os envolvidos do sistema carcerário e como poderíamos impactar gerando uma sensibilidade nessas pessoas, a ponto de se permitirem entender e simpatizar com a causa. Trouxemos como conceito cores fortes, decidimos o tom de vermelho, para ser a cor predominante, remetendo a sangue e sofrimento. Queríamos também trazer falas que mais nos impactaram na entrevista que fizemos com os participantes da Amparar e enfatizá-las, junto com ilustrações autorais.
Através das informações colhidas na entrevista fizemos uma sondagem e determinando as peças que formariam um panfleto informativo, a capa traz frases e relatos citados pelas mães, e um insulto dito por um policial no momento da prisão de seu filho afirmando que a mãe tinha o “útero podre” por gerar um criminoso. Em seguida trazemos o sumário com uma frase que nosso grupo pensou que fazia referência às situações vividas pelas mães. No prefácio falamos um pouco sobre nosso trabalho e o processo. Após o prefácio, colocamos a obra icônica “Pietá” de Michelângelo, onde representa Maria com Jesus morto em seu colo, uma imagem que passa sofrimento vivido por uma mãe ao ver o filho sofrer. Achamos que era a representação perfeita do sentimento da mãe de um presidiário. Chegamos na parte do Jumbo, onde as mãe citam bastante na entrevista, que se trata de um kit de tudo que o preso precisa, dentre os objetos estão alimentos e produtos de higiene básica, que tem o objetivo de trazer 87
Páginas do prefácio do livreto.
um pouco de conforto para os presos, representamos em ilustração como funciona mais ou menos o “kit”do jumbo e a imagem de uma pessoa presa com grades no macacão laranja, fazendo referência direta a imagem de “cadeia”que nós temos, para auxiliar as ilustrações colocamos textos, explicando o funcionamento do jumbo, o que é, a necessidade dele e o quanto afeta financeiramente as famílias. Na próxima página abordamos sobre as visitas, com ilustrações e relatos que demonstram o quão traumático é o processo. Em seguida temos uma frase dita pelas mães sobre ter que dormir em frente a FEBEM, com medo dos filhos morrerem em rebeliões, trazendo a imagem de jovens com cabelos raspados e uma mulher em desespero por trás das grades. Na seguinte página, trazemos umas das frases que mais nos chocou, sobre os presidiários terem que comer papel higiênico na falta de alimentos, demonstramos então mãos segurando talheres e em vez 88
de ter um alimento no prato, tem um rolo de papel higiênico, fazendo associação ao relato das mães. Por fim, trazemos um questionamento: será que essas mães abraçaram novamente seus filhos? Já que o índice de morte dentro das cadeias é alarmante, para auxiliar o texto trouxemos gráficos e duas ilustrações, na parte de cima temos pernas penduradas representando pessoas enforcadas e embaixo uma mãe chorando por seu filho ensanguentado no chão. Nosso principal resultado esperado era trazer sensibilidade ao tema através das nossas peças e gerar discussão a respeito do tema que é bastante ignorado pela sociedade em geral. Para nós o maior benefício deste trabalho foi a reflexão que tivemos com o tema, dentre eles entender que quem vai para os presídios não são apenas pessoas malignas, entender diferentes recortes sociais e repensar se nosso sistema carcerário, realmente melhora as pessoas ou piora? 89
Página do livreto informativo tratando do “jumbo”. 90
Página do livreto informativo. 91
Página do livreto informativo tratando das visitas. 92
Página do livreto informativo. 93
Página do livreto informativo retratando partes de depoimento que escancaram violação de direitos básicos, como alimenação. 94
Página do livreto informativo onde é levantado o questionamento sobre a possibilidade de retorno das pessoas em situação de cárcere para suas mães ou famílias, acompanhado de dados informativos. 95
Castelo de Madeira
a questão habitacional em comunidades ribeirinhas Caio Henrique Bianca Vilarim Gean Matias Lucas Epifânio
https://issuu.com/geanmattias/docs/ castelo_de_madeira.pptx_af620c41d61791
O trabalho, intitulado “Castelo de Madeira”, gira em torno da realidade do Bode, Comunidade Tradicional Pesqueira, localizada no bairro do Pina, Zona Sul do Recife. A comunidade, que integra a ZEIS (Zonas Especiais de Interesse Social), tem lutado para resistir à especulação imobiliária e ao processo de verticalização, ameaças constantes decorrentes da localização privilegiada da mesma, que se encontra entre dois dos bairros mais elitizados da capital pernambucana: Boa Viagem e Pina. No que diz respeito à habitação, a Comunidade do Bode é composta por moradias, em sua maioria, em condições precárias, divididas em casas de alvenaria, barracos e palafitas. O foco do trabalho foi trazer ao centro do debate público a problemática das famílias residentes nas palafitas da comunidade, denunciando o descaso, dentre outros, do poder público, que ferem os direitos humanos e os direitos básicos da nossa constituição, como por exemplo, o direito à moradia digna.
O conceito abordado foi usar a HQ (História em Quadrinho). Nele usamos uma linguagem um tanto incomum, que foi de usar um cenário real, com imagens reais da comunidade, e usar personagens de animação para uma mistura do real com o irreal. A linguagem também busca, por meio disso, abordar um assunto tão delicado de forma que venha alcançar a todos os públicos, pois são textos curtos, com linguagem local, usado pelas pessoas de nossa cidade. Não queríamos também fazer um monólogo monótono, ou seja, de um personagem falando o tempo todo, mas criamos dois personagens para que houvesse um diálogo entre eles. E, o grande ponto disso tudo, é quando o bode conta de sua realidade para o siri, um personagem que não vivia àquela realidade. Creio que todos, por um momento, nos sentimos e nos colocamos no lugar no siri: chocados e indignados com tanta desigualdade. Nas imagens é possível notar o contraste entre os grandes empreendimentos, e as palafitas à beira do rio. 97
A HQ traz, não apenas, uma reflexão no momento, mas que vá ao subconsciente, fazendo com que ao passarmos pelas pontes da zona sul, olhemos para o rio, e veja não apenas as águas poluídas, mas rotina, labuta, força, resistência e, infelizmente, a triste desigualdade socioeconômica. O objeto de produção escolhido foi a HQ. A escolha se deu pela fácil comunicação que esse tipo de produto possui, aliando textos sucintos à imagens que os contextualizam. Inspirada no livro “A Metamorfose” de Franz Kafka, a história gira em torno de duas personagens principais: o Bode - que representa a comunidade e seus moradores -, e o Siri - que representa a população. Tudo começa quando uma pessoa comum se depara metamorfizada no corpo de um Siri, dentro de um barco, acompanhado pelo Bode, à caminho das palafitas. A partir daí, o Bode passa a mostrar a realidade da comunidade, até então desconhecida pelo Sirí. Foi esperado que com a HQ fosse possível alcançar, a partir de uma abordagem lúdica e popular, uma maior parcela da população, que por vezes não tem conhecimento desses problemas, estimulando a percepção de que todos os cidadãos são, direta ou indiretamente, peças responsáveis pela sua cidade. Com o conhecimento da causa, acreditamos que é possível despertar a sensibilidade e o desejo de mudança, que se refletirão na forma de enxergar a cidade e os seus semelhantes, cobrar os governantes, votar consciente, entre outros exercícios fundamentais de cidadania. 98
Durante o processo de produção da HQ consultamos representantes de projetos sociais diretamente ligados à comunidade e moradores, para abordar com mais propriedade e o cuidado necessário que a sensibilidade dessa pauta exige. Ficamos contentes com o feedback positivo que recebemos durante a apresentação da ideia e fomos incentivados a dar continuidade na produção. Durante as conversas, podemos abrir nosso horizonte criativo para novas possibilidades de aplicação do nosso produto, que poderia então servir como instrumento de mudanças dentro da própria comunidade, direcionando a audiência, antes focada na população externa, para os próprios moradores da comunidade, mais precisamente as crianças. A ideia, ainda embrionária, é produzir HQs, protagonizados pelas personagens criadas, com histórias que misturam entretenimento e conscientização. O objetivo é incentivar a leitura entre as crianças da comunidade e despertar o sentimento de pertencimento e visibilidade das mesmas. O maior legado que o trabalho deixou para a equipe foi, acima de tudo, assim como propõe a personagem Sirí, ter a empatia de se colocar na pele do outro. O sentimento da equipe é o de que nós, enquanto futuros arquitetos e urbanistas, não podemos nos isentar da nossa responsabilidade na definição dos rumos da nossa cidade e das pessoas que usufruem da mesma. Por fim, só nos restam dois caminhos, continuar sendo parte do problema, ou se comprometer a ser parte da solução. 99
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