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EM FOCO

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PROTEGER A NOSSA SAÚDE MENTAL

Portugal é o segundo país com a mais elevada prevalência de doenças psiquiátricas da Europa. A ansiedade, o humor e a dificuldade no controlo dos impulsos estão entre as perturbações mais comuns.

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Alvo de estigmas e ideias preconcebidas durante séculos, as doenças mentais têm vindo a ser sujeitas a uma maior intervenção por parte dos profissionais de saúde. Também as pessoas estão mais recetivas a falar sobre os problemas que as afetam, até porque “não acontece só aos outros”. A Organização Mundial de Saúde (OMS) define a Saúde Mental como «o estado de bem-estar no qual o indivíduo tem consciência das suas capacidades, pode lidar com o stress habitual do dia a dia, trabalhar de forma produtiva e frutífera, e é capaz de contribuir para a comunidade em que se insere». Embora a Saúde Mental englobe o bem-estar psicológico, não se reduz a este. Baseada no equilíbrio das funções mentais traduz-se em comportamentos adaptados às diferentes circunstâncias em que o indivíduo está envolvido: desenvolver e manter relacionamentos, estudar, trabalhar ou seguir com os seus interesses e tomar, diariamente, decisões sobre educação, emprego, habitação ou outras escolhas. Se o equilíbrio mental de uma pessoa estiver fragilizado ou alterado por uma perturbação psiquiátrica ou médica, isso pode afetar negativamente a sua capacidade de escolha, levando não só a uma diminuição das funções a nível individual, mas também a um nível mais amplo com perdas de bem-estar para a família e sociedade. NÃO ESCONDA A DOENÇA!

De acordo com dados da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental, as doenças e as perturbações mentais são a principal causa de incapacidade e uma das principais causas de morbilidade nas sociedades. Portugal não fica bem na “fotografia”: com 22,9%, sendo o segundo país com a mais elevada prevalência de doenças psiquiátricas da Europa. Entre as perturbações mais frequentes encontram-se as relacionadas com a ansiedade, o humor, a dificuldade no controlo dos impulsos e as decorrentes do abuso de substâncias. A juntar a tudo isto há o subdiagnóstico relacionado com o facto de muitos esconderem a doença, não chegando a procurar ajuda médica especializada aos primeiros sintomas. É por isso fácil perceber por que razão algumas destas patologias se agravam e se tornam mais difíceis de tratar. A psicóloga Teresa Paula Marques reforça a ideia de que, «apesar de, atualmente, existir um maior à vontade para se abordarem questões ligadas à Saúde Mental, para alguns, este é ainda um assunto tabu», pois muitas pessoas continuam a recusar assumir as suas fragilidades, «com medo de serem alvo de uma espécie de julgamento popular, já que a doença mental não é algo que se consiga quantificar».

FUGIR DOS EFEITOS DA PANDEMIA

Muito se tem falado sobre o impacto do confinamento e das alterações bruscas na vida pessoal e profissional, ao nível da saúde mental dos portugueses. Os especialistas nesta área têm vindo a manifestar preocupação com os efeitos a longo-prazo da pandemia. João Bessa, da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental, enumera algumas das recomendações da OMS para a promoção da Saúde Mental, que podem ajudar a debelar este período atípico na vida da humanidade. • Mantenha a sua rotina, como horários de acordar ou de refeições. Coma de forma saudável e faça exercício físico, dentro dos constrangimentos recomendados pelas autoridades de saúde. • Evite ler, ouvir ou ver notícias que o deixem ansioso ou angustiado. Além disso, não partilhe informações que não estejam confirmadas. • Procure apenas informação para se proteger a si e aos seus, através de fontes oficiais e fidedignas. • Partilhe histórias positivas. É mais importante perceber que já há milhares de casos tratados, com sucesso, em todo o mundo. • As crianças não devem ser esquecidas e é importante encontrar formas positivas de expressão de sentimentos como o medo ou a tristeza. • Promova interação com outras pessoas através de chamada telefónica ou de aplicações online.

SINAIS DE ALERTA

É importante perceber que todos temos um papel ativo a desempenhar no combate ao estigma associado a doenças como a depressão e que «não é vergonha ou sinal de fraqueza assumir que se precisa de ajuda», salienta a psicóloga. Isolamento, alienação,

EXERCÍCIO FÍSICO E ALIMENTAÇÃO COMO ALIADOS

Os especialistas têm vindo a destacar a importância do exercício físico para, de certa forma, prevenir e debelar algumas patologias do foro da Saúde Mental. O exercício físico aumenta e regula substâncias químicas protetoras, além de eliminar as substâncias tóxicas. A meditação e o relaxamento são igualmente momentos que ajudam ao desenvolvimento de uma boa saúde mental. Dez minutos por dia destas práticas podem ajudar a baixar os níveis de stress e ansiedade. Também uma alimentação equilibrada e saudável é um importante aliado, devendo ser evitada a ingestão de gordura e açúcares.

SAÚDE MENTAL NA REDE

Conheça alguns projetos que o podem ajudar a encontrar informação de qualidade e aumentar o conhecimento sobre saúde mental e doenças relacionadas: • Projeto Descomplica (https://www.youtube. com/channel/UCcw93VIDVugLNz4uMSsvSRg); • Plataforma www.saudemental.pt; • Projeto “Promoting Mental Health During Pandemic” www.saudemental.p5.pt/

apatia, preocupação, medo e tristeza, cansaço, ansiedade e agressividade são palavras que podem estar associadas a perturbações da saúde mental. Contudo, atenção: todos podemos vivenciar estes sintomas, momentaneamente. No caso de persistirem no tempo, há então que procurar ajuda especializada, sobretudo quando estes sinais surgem associados a outros problemas como alteração do sono, ausência ou excesso de apetite, ou alucinações e delírios. ATENÇÃO ÀS “PERSONAGENS VIRTUAIS”

No caso da depressão, a psicóloga Teresa Paula Marques tem a convicção de que as redes sociais vieram piorar a situação, «na medida em que há uma permanente pressão para que todos se mostrem muito felizes e realizados, a todos os níveis. É, muitas vezes, criada uma “personagem virtual” que ajuda a manter as aparências, até porque não é socialmente aceitável que seja de outro modo. Atualmente, a pressão dos “likes” é muito forte». Além disso, esclarece a psicóloga, a depressão é muito mais do que uma simples tristeza! «Enquanto que a tristeza é temporária, a depressão persiste se não existir um tratamento, com um impacto significativamente negativo nas atividades diárias, no rendimento profissional e na esfera familiar». Tal como qualquer outra patologia do foro da saúde mental, estas doenças requerem tratamento, pelo que é essencial uma ajuda especializada, o mais precocemente possível. «É fundamental encararmos o problema, sem medos, sem vergonha, até, porque somos todos seres humanos e não super-homens ou super- mulheres!», reforça a psicóloga.

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