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A história dos combustíveis
De derivados de petróleo vendidos em latas a diesel de alta tecnologia com baixo teor de enxofre, os combustíveis no Brasil passaram por grandes transformações nos últimos 50 anos. Novos insumos entraram para a matriz veicular, que está cada vez mais limpa
n Por Cecília Olliveira
Quem hoje vê a diversificada matriz veicular brasileira, com diversos combustíveis oferecidos em bombas cada vez mais modernas, talvez nem imagine que lá no início do século passado os derivados de petróleo eram comercializados em latas e tambores. E seria apenas em 1934 que entraria em funcionamento a Destilaria Rio Grandense S.A. em Uruguaiana, Rio Grande do Sul, que posteriormente daria origem à primeira refinaria de petróleo do país.
De lá para cá, muita coisa mudou no mercado de combustíveis nacional, fortemente dominado pela atuação da Petrobras. Com a criação da estatal a produção, comercialização e pesquisas sobre o potencial energético do país se aprimoraram, inclusive através de alternativas para a dependência do petróleo.
Um dos principais passos nesse sentido foi dado em 1975, com o lançamento do Programa Nacional do Álcool (Proálcool), que obrigou distribuidoras e postos a adaptarem suas instalações e bombas ao novo com - bustível. Além, obviamente, das mudanças necessárias ao parque automotivo.
Os primeiros registros referentes à representatividade da matriz energética veicular datam de 1979, quando 51% dos veículos automotores utilizavam óleo diesel como combustível; 41%, gasolina; e apenas 5% eram movidos a etanol, segundo dados do Ministério de Minas e Energia e da ANP.
Quatro anos depois, no entanto, o cenário se inverte e apenas 24% dos automóveis produzidos são movidos a gasolina, frente a 73% a etanol. Abrindo a década de 90, outra reviravolta: o petróleo volta a ter preço competitivo, a falta de etanol assusta os consumidores e o Proalcool cai no esquecimento. Um retrato disso pode ser visto no mercado automotivo: só 11% dos carros colocados no mercado tinham motor a etanol, índice que chegou a 5% em 1995 e a zero em 1996, repetindo a estagnação em 1997 e 1998.
O começo da virada só irá surgir em 2003, quando chegam ao mercado os carros bicombustíveis. Naquele ano, os veículos flex representaram apenas 3% dos carros produzidos. Bastaram seis anos, entretanto, para que esse percentual atingisse 80%. Apesar de ser um sucesso absoluto no mercado interno, o etanol é pouco utilizado em outros países, em meio a barreiras tributárias e produção ainda bastante concentrada no Brasil.
Gnv
As análises sobre o uso do GNV (Gás Natural Veicular) como mais uma alternativa para abastecimento começaram em 1980 e duraram pouco mais de uma década. Em 1992 foi inaugurado o primeiro posto GNV, no Rio de Janeiro, e o uso foi liberado para taxistas e frotas de empresas. Entre 94 e 96, o Plano Real estabilizou os preços dos combustíveis e o consumidor percebeu com mais clareza a economia no uso do gás natural. Nesta época, foi concedida isenção de impostos para os taxistas que optassem pelo uso de GNV, estimulando a renovação da frota, principalmente em São Paulo, embora as montadoras não mantivessem a garantia para veículos novos convertidos.
A liberação para uso do GNV em veículos particulares veio em 1997. Com o atrativo da economia, além da conscientização dos benefícios que traz para o meio ambiente, o GNV começa a substituir o uso de gasolina e etanol, especialmente no Rio de Janeiro. O crescimento do mercado de transportes autônomos e de frotistas alavanca a demanda pelo insumo.
Tudo estava indo maravilhosamente bem, até que em 2007 vem o susto: São Paulo e Rio de Janeiro sofrem com o desabastecimento de gás. Declarações como a da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, de que novas conversões eram “uma temeridade” e da priorização do setor elétrico, fizeram com que consumidores e revendedores passassem a viver com o fantasma da escassez.
Essa desconfiança pode ser mensurada em números, em meio à redução drástica no total de conversões. Em 2007 foram convertidos 187.040 veículos, no ano seguinte, apenas 76.386, representando uma redução de 41%.
Biodiesel
Em 1980, a Resolução nº 7 do Conselho Nacional de Energia instituiu o Programa Nacional de Produção de Óleos Vegetais para Fins Energéticos (Proóleo). Entre seus objetivos estava a pretensão de substituir óleo diesel por óleos vegetais em mistura de até 30% em volume. Em 2003 a Presidência da República instituiu um Grupo de Trabalho Interministerial encarregado de apresentar estudos sobre a viabilidade de utilização de biodiesel como fonte alternativa de energia, que resultou em um relatório que estabeleceu o PNPB (Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel) como ação estratégica e prioritária para o Brasil. Dois anos depois, a Lei 11.097 estabeleceu a obrigatoriedade da adição de um percentual mínimo de biodiesel ao óleo diesel comercializado ao consumidor, em qualquer parte do território nacional. O Programa tem ainda um enfoque na inclusão social e no desenvolvimento regional, via geração de emprego e renda.
Hoje todos já ouviram falar em B2 (adição de 2% de biodiesel ao diesel mineral, em 2008), B5 (adição de 5%, obrigatória desde o inicio deste ano, adiantando os planos iniciais, que o estabeleciam para 2013), B20 (usado nas locomotivas da Vele e em ônibus em alguns Estados) e B100 (hoje em teste em ônibus especialmente adaptados para seu uso, na capital paraense), que já estão incorporados em nosso dia a dia.
Com a novidade vieram as reclamações. Revendedores se queixam da necessidade de manutenção constante nos filtros, contaminações (por ser um produto mais sensível), e de cristalização (em áreas de temperatura baixa).
Diesel
Desde 1994, a Petrobras produz dois tipos de óleo diesel: o metropolitano, com menor teor de enxofre (que apresenta propriedades cancerígenas); e o interior, utilizado fora das regiões metropolitanas. Ambos são subdivisões do diesel rodoviário. Há ainda o marítimo, para embarcações.
Dando continuidade à política de abastecimento sustentável foi implantado, em 1986, o PROCONVE (Programa de Controle de Poluição do Ar por Veículos Automotores), com o objetivo de reduzir a emissão de poluentes de veículos, através da introdução de tecnologias como catalisador, injeção eletrônica de combustível e melhorias nos combustíveis automotivos.
Atendendo à fase 7 do Programa, o mercado automotivo vem assistindo a uma transformação em sua energia veicular: desde o ano passado o diesel interior é o S1800 (que será substituído gradualmente pelo S500 até 2014), frente ao antigo S2000; ônibus dos municípios de São Paulo e Rio de Janeiro passaram a rodar com S50, também utilizado em todos os veículos de algumas regiões metropolitanas como de Recife, Fortaleza, Curitiba e Belém. Haverá ainda o diesel off-road (S1800), para uso em ferrovias, atividades agropecuárias e industriais e na geração de energia elétrica. Um diesel ainda mais limpo, S-10 (com 10 ppm) tem sua chegada ao mercado prevista para 2013. E com ele um novo produto chegará aos postos: o Arla-32.
Ou seja, os próximos anos irão escrever um capítulo bem robusto sobre a história dos combustíveis no Brasil. n