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Bom para quem?
Petrobras reúne agentes de mercado e apresenta um novo modelo de aquisição de gás, com leilões semanais. Mas todos são unânimes ao questionar a estatal: isso é bom pra quem?
n Por Cecília Olliveira
Com o intuito de dar mais dinamismo ao mercado de gás natural – que não tem reagido como desejado aos leilões semestrais, e comercializado bem menos que o disponibilizado pela empresa –, a Petrobras lançou outra modalidade de aquisição do insumo, com oferta semanal do gás natural não utilizado pelas termelétricas, a preços ainda menores. Realizado também através da plataforma eletrônica, o leilão semanal será regido pela entrega firme do produto.
Apresentado no dia 25 de fevereiro pela diretora de Gás e Energia da Petrobras, Maria das Graças Foster, o modelo não agradou a nenhum dos representantes dos segmentos presentes na reunião. As reclamações
Petrobras quer que descontos cheguem ao consumidor de gás, mas agentes de mercado discordam de regras sobre vendas propostas pela estatal foram unânimes, uma vez que a possibilidade de compra semanal está atrelada ao TOP (Take or Pay – paga-se pelo valor adquirido, mesmo que não seja utilizado) já existente entre as partes – levando em consideração o VR (valor de referência) outrora estabelecido -, o que acaba por engessar o comprador.
A estatal reiterou que seu objetivo é fazer chegar ao consumidor final os descontos oferecidos tanto no leilão (média de 35%, atingindo 41% em janeiro de 2010), quanto na compra semanal, cuja estimativa é de descontos ainda maiores. “Temos o segundo gás mais caro do mundo e está sobrando o insumo. A Petrobras colocou em leilão o volume não utilizado pelas térmicas, mas não permite que se compre mais, já que não é possível abater no volume de longo prazo”, explica o presidente da Abegás (Associação Brasileira de Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado), Armando Laudorio.
O que muda?
Na verdade, pouca muda em relação à modalidade de leilão com que a Petrobras vem trabalhando. A compra semanal é apenas mais uma opção que a companhia distribuidora de gás passa a ter. Assim como antes, o leilão será feito pela internet, através do site da estatal, com edital de acesso público e auditoria independente. Na compra semanal, o interessado faz o pedido entre segunda e quinta-feira, na sexta as demandas são avaliadas, e logo que processadas, a Petrobras confirma os pedidos, ou não.
Demanda de gás
No primeiro leilão da Petrobras, em maio do ano passado, foram oferecidos 10 mil m³ de gás. Destes, apenas 3.360 m³ foram arrematados e apenas 67% efetivamente retirados. Em relação ao total ofertado, apenas 24% foram de fato retirados e consumidos. Nos demais leilões feitos pela empresa, os valores foram reduzidos, sendo o menor deles ofertado em agosto de 2009, quando apenas 6.733 m³ foram postos em disponibilidade. Mesmo assim houve sobra de 34%.
No ultimo leilão de 2009, em setembro, foram arrematados 81% do total de 7.260 metros cúbicos disponibilizados, mas o volume retirado se manteve baixo, com 40% de sobra. Os descontos concedidos nesta modalidade de compra tiveram uma média de desconto de 35%.
Na nova opção de compra de gás, semanal, a Petrobras vai disponibilizar 22 mil m³ de gás, mais do que o dobro do primeiro leilão do ano passado. A primeira venda semanal não tem data definida, mas provavelmente ocorrerá no início de abril. É estimado que, para as compras semanais, o desconto seja em torno de 40% no valor do metro cúbico.
Na primeira leva de gás comercializado neste ano pelo modelo de leilões semestrais, no dia 16 de março, foram arrematados apenas 6,87 mil m³ de gás, apenas um terço do ofertado. Isso apesar do deságio de 47%, atestando a inviabilidade do processo nestes moldes. “Acho que a Petrobras quer acertar e vamos caminhando pra uma solução. Mas, nada mais justo do que ouvir o mercado. Queremos um leilão mais eficiente”, reitera o presidente da Abegás.
Vai ou não vai ter desconto?
A Petrobras frisou que o intuito dela é que os descontos oferecidos de fato cheguem ao consumidor final. Mas o fato de atrelar o TOP ao VR não deixou ninguém satisfeito. “Não acredito que essas supostas reduções chegarão ao GNV pelo fato de invariavelmente o leilão obrigar a um crescimento de mercado para se atingir o desconto. A premissa está errada e, por lógica,