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Monografia

MÁSCARAS SOBRE MÁSCARAS EM BUSCA DE UMA PERSPECTIVA: FOUCAULT (1960- 1975) Por: Daniel Diego A. da Silva de Souza

A

lguém aí gosta de café? Pois bem. Dizem que os melhores são aqueles feitos na chaleira lançada diretamente nas chamas para por fim serem coados. Inaceitáveis são os de cafeteiras! Geralmente aqueles que apreciam água cafeinada também gostam de faze-

la. Perdem-se no aroma final que atravessa a cozinha; passa pela sala e ocupa, em gesto convidativo, as casas vizinhas. Salve o café que desce por uma goela anônima qualquer! O fazer histórico assemelha- se muito com o fazer café. Mas como? Em si tal prática, de modo análogo, encobre dois modos de pensar a produção histórica que se mutilam reciprocamente. A mais antiga é a que é mais latente: assim como os conceitos estabelecidos por ela percebemos de imediato o coador, a chaleira e a chama como peças principais da trama. Na breve descrição feita – que seria basicamente a mesma de qualquer sujeito perquirido acerca do procedimento de conceber a bebida (levar a água a uma chaleira, por ao fogo e coar) desconsideram- se as forças que envolvem os materiais componentes do processo. A constituição da chaleira é ignorada; se de alumínio, cobre ou ferro, não importa. E ainda fatores externos não são levados em consideração tais quais: a pressão atmosférica que incide diretamente no tempo que a água entrará em ebulição. Paremos no tempo. A água é posta na chaleira a quantidade influirá no tempo do preparo do café e antes a própria quantidade de pessoas que se proporam a bebê-lo terá influído nesta. O corpo constitutivo da chaleira facilitará ou não a propagação do calor para a substância líquida que contem. A qualidade e a quantidade do pó de café terão consequências no sabor da bebida. Poderíamos apontar a questão de ser fogão à lenha ou industrial, mas deixemos de lado essas prerrogativas. Pretendemos fazer uma análise historiográfica e não nos tornarmos baristas. Em suma, as mais diversas correntes historiográficas simplesmente ignoram as práticas de produção e emergência dos conceitos, e também do saber, e as relações vetoriais que os concebem, como também as funções de objetivação nas quais está envolto o processo. São movidas ora disfarçadamente ora não por universalismos e a priori históricos infundados. Não dizemos que Marx (1818- 1883) não era marxista -- o que acaba por ser expressão corrente no meio acadêmico-- mas que o marxismo morreu com a publicação da Sagrada


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