Jane las,
escadas e
escultu ras e outros escrito s
Fernando Antonio Prado Gimenez
Texto Fernando Antonio Prado Gimenez Fotografia Paloma Nunes Gimenez Produção editorial Sandra Sebastião Projeto gráfico e diagramação Stefany Conduta Capa Stefany Conduta e Paloma Nunes Gimenez
Curitiba, 2012. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser utilizada ou reproduzida sem prévia autorização do autor.
Para os contribuintes do fisco brasileiro, pelo custeio de meus estudos.
SUMÁRIO 7 Introdução........................................................................................9 Prefácio.............................................................................................
O começo: entre o cinema e a gestão de pequenas empresas.....................................................
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Autores acadêmicos involuntários? ou “Há só uma porta para o universo acadêmico?”......................
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Empreendedor individual: oportunidade para mais precarização das relações de trabalho?.........................
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Competição e cooperação entre pequenas empresas: um texto inspirado por teias de aranhas .............
31 Mulher gosta de carinho e tem medo de barata.....................37 O administrador dividido em dois: empreendedor e gestor na pequena empresa.........................
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Pequenas empresas com vida longa: duas histórias curitibanas...........................................................
49 Pequena Empresa Familiar: Um Espaço Conflituoso?..........55 Dando cor ao empreendimento: a busca do equilíbrio entre inspiração e domínio técnico........................
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Produtividade e Relevância da Pesquisa em Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas no Brasil ou “tudo que vale a pena acontece fora da academia?”.......................................................
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Janelas, Escadas e Esculturas....................................................
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Vantagem competitiva na pequena empresa – Almoço no Candidu's em Mossoró. Bom quissó!..................
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Sleeve Juice e Pequeno Almoço! Atribulações linguísticas do turista e as oportunidades na hotelaria....................................................................................
87 Para que serve um TCC no curso de administração?.......... 91 — Zezinhoooo! Vai lá no Gimenez............................................. 95 Quadra Cultural: que empreendedorismo é esse?............... 101 O Artista: permanência, mudança e lealdade ou “Se você quer ser empreendedor precisa ter o que os outros não têm”................................................................
105 Da sustentabilidade..................................................................... 109 Que nome dar à empresa?.......................................................... 115
Trajetórias empresariais femininas: o encontro entre realidade e ficção..........................................
119 Buscando o DNA do empreendedor......................................... 125 Qualidade da administração em pequenas empresas: um projeto nascido no MINTER de Jaraguá do Sul..........................................................................
131 Posfácio........................................................................................... 137
Prefácio
F
ernando,como todos nós, possui muitas facetas e passou por muitas fases. Vou me ater a apenas duas delas, as quais conheço um pouco mais: o Fernando acadêmico e o Fernando humanista. Como o leitor poderá rapidamente perceber, os textos aqui presen-
tes se tornam grandes lições do mestre, ao aproximar questões objetivas
das substantivas. Um presente para quem os recebe, como colega e amigo
privilegiado, que ouso chamar de “aulas de humanismo”. O inicio do jovem humanista se deu como auxiliar no mercado de seus pais na cidade de Londrina, com clientes da Rua Paranaguá, Santos, Goiás e proximidades. Fui um deles, consumidor voraz de doces e balas. O que deve ter somado lucro de um ano do empreendimento. O mercado localizado em um bairro de classe média, na época, representava muito bem os moradores da cidade. Fundada por imigrantes, verdadeiros empreendedores, vindos de diferentes partes do país e do mundo. Em busca de oportunidades, iniciavam os seus negócios e suas vidas. A informação era escassa e o conhecimento de poucos. O sentido coletivista e de apoio mútuo dos londrinenses era uma constante, como mecanismo de sobrevivência e desenvolvimento. Apesar de esse aspecto ter sido uma característica marcante da cidade, aparentemente e, infelizmente, não existe mais. Basta ver a política que reina a cidade. Fernando soube capturar o espírito da época. Vejo ainda Fernando subindo a Rua Goiás e a Higienópolis para chegar aos cines Londrina e Augustus. Matinê de domingo e sessões de filmes italianos, franceses, ingleses, americanos e até, por que não,
brasileiros. Lições de realidade, de paixão, de aventura, de emoção, de criatividade e, tudo isso, de vida, que foram sendo representados por nós, garotos de uma época e de um local, por nossas características pessoais e profissões, carregadas de senso de diversidade cultural e regionalidades. Somente percebida por quem soube aproveitar essa verdadeira salada de conhecimento proporcionada pelos filmes da época e do senso de coletividade ali existentes. Fernando, como todos nós, ainda trilhou por vários caminhos até atingir a maturidade profissional como professor, pesquisador e gestor público. Maturidade que se revela não como limite, mas como capacidade criativa e crítica. Como pode ser percebido em seus textos, Fernando é um observador astuto da natureza humana e organizacional e não se restringe em propor fotoshops para essas realidades, como todos, com espírito científico, devem se propor a fazer. Fernando professor celebra os colegas e os alunos brindando-os com os textos que marcam a sua nova fase – “de fuga da formalidade e a agilidade do pensar”. Discordo dessa afirmação. Não é sua nova fase, mas sua característica desde o início da carreira como aluno de administração e como docente na Universidade Estadual de Londrina. Os textos agradam sim a todos, onde a sua provável “incompletude, incoerência e, às vezes deixam de revelar tudo o que se propõe”, reflete não as limitações do Fernando, mas o “estado da arte” do conhecimento acadêmico como um todo, observada por uma mente brilhante. Fernando, vamos continuar celebrando com os seus textos. Curitiba, agosto de 2012. Sergio Bulgacov
Introdução
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Olho para dentro tentando compreender o que está fora
012 é um ano marcante nessa minha vida que chega aos 55, com vontade de ir muito além. Desses anos vividos, em 35 deles estive envolvido com o estudo da administração e do empreendedorismo, com muita vontade de entender como esses fenômenos se mani-
festam em empresas de pequeno porte. Essa jornada não foi solitária! Começando pela graduação, passando pelo mestrado e doutorado, e continuando ao longo dos últimos 15 anos quando me envolvi em atividades de ensino e pesquisa na pós-graduação, contei com a amizade, companheirismo, estímulo e colaboração de muitos estudantes e professores. Muitos se tornaram amigos que dão um sabor especial à vida uni-
versitária. Alguns estão desde o começo: Maria José Barbosa de Souza, Cleufe Pelisson, Marcos de Toledo Tito, Sérgio Bulgacov e Luis Antonio Aligleri. São dos meus tempos de UEL. Outros surgiram no meio do caminho: Paulo Grave, Ariston Azevedo Mendes, João Marcelo Crubellate, Hilka Pelizza Vier Machado, Antonio Artur de Souza, Cláudia e João Luis Passador. Estiveram comigo em meus estudos e desafios maringaenses na UEM. Um convite para ajudar na gestão da Fundação Araucária me reaproximou de Jorge Bounassar Filho e me apresentou Osmar Muzzili. Depois vieram Tarcísio Trindade e Berenice Jordão. A amizade com Lygia Pupatto começou também nessa época. Com eles aprendi muito
sobre a complexidade da gestão pública e pudemos ajudar na consolidação de uma instituição importante para o desenvolvimento científico e tecnológico do Paraná. Foram sete anos de aprendizado contínuo e de trabalho guiados por um desejo de não dar espaço a ações que não fossem orientadas pelos critérios do mérito acadêmico, científico e tecnológico. Muita esperança de ter contribuído seriamente com a comunidade científica paranaense. A chegada a Curitiba, em 2003, acabou me afastando da UEM. Mas, minhas escolhas e o destino permitiram que eu tivesse a oportunidade de contribuir com mais duas instituições universitárias: PUCPr e UP. Na primeira, fui acolhido com muita amizade e carinho por duas vezes. São muitos colegas de trabalho, entre os quais algumas amizades surgiram: Eduardo Damião, Wesley Silva, Heitor Kato, Jansen Del Corso, Belmiro Castor, Cristiano Maciel, Maria Alexandra Cunha, Ubiratã Tortato e Eliane Francisco. Na segunda, fiquei por pouco tempo, mas o suficiente para fazer amizades valiosas: Yára Bulgacov, Sieglinde Cunha e Alexandre Graeml.
Corro o risco de deixar alguns chateados por não estarem nessa lista, mas aqueles que me conhecem sabem do profundo respeito e carinho que tenho por todos com que convivi nessas instituições. Seria impossível nomear todos e, é bem provável, que a memória tenha me traído com algum esquecimento quase imperdoável. Sei que aqueles que não se encontrarem aqui me perdoarão! Mas, na celebração dessa vida acadêmica não posso deixar de lembrar os alunos e alunas que me privilegiaram com suas ideias, estudos e amizade. De novo, a memória pode falhar, mas a convivência com Paulo Hayashi Júnior, Fábio Vizeu, Edmundo Inácio Júnior, Jane Mendes Ferreira, Simone Cristina Ramos, Nobuiuki Ito, Daniela Torres, Elói Júnior Damke, Fábio Fagundes, Roberta Martins, Edson Halter, Carlos Senff, Marcos Murara e Fabíula Rocha foi valiosa tanto em termos profissionais quanto afetivos.
Por fim, o convívio acadêmico me aproximou de muitos pesquisadores. Ao longo dos anos, alguns se tornaram mais do que conhecidos da vida universitária. Entre eles, é preciso lembrar dos que compartilharam o sonho da criação de uma associação brasileira de pesquisadores em empreendedorismo e gestão de pequenas empresas: Vânia Nassif, Cândido Borges, Edmilson Lima, Marcos Hashimoto, Juvêncio Lima, Emil Hoffmann, Everton Cancellier, Rivanda Teixeira, Liliane Guimarães e Mário Nei Pacagnan. Nesse livro resolvi agrupar um conjunto de textos recentes que foram publicados inicialmente no blog Empreendedorismo e Estratégia de Empresas de Pequeno Porte (http://3es2ps.blogspot.com). Para mim, os textos marcam uma nova fase em meu trabalho acadêmico, cuja principal característica é a fuga da formalidade e a agilidade do pensar. Assim, os textos podem não agradar a muitos, às vezes pela sua incompletude, outras vezes por um raciocínio não muito coerente e, por fim, por não revelar muitas das coisas que estão claras na minha cabeça, mas confusas na escrita. Mas, meu objetivo com eles, não é ser acadêmico! Assim, o livro, como escrevi um pouco acima, é apenas uma celebração de 35 anos de academia e 55 de vida! Um convite ao leitor que celebre comigo. Fernando Agosto/2012 P.S.: A epígrafe dessa introdução foi inspirada em frase do fotógrafo paulista Carlos Moreira em entrevista a Carta Capital de 02/05/2012: “Olho para fora tentando encontrar o que está dentro”. Ao contrário do artista, busco dentro de mim a compreensão do que percebo.
O começo: entre o cinema e a gestão de pequenas empresas Para Cleufe Publicado originalmente em 30 de abril de 2012
I
niciei meu curso de graduação em administração na Universidade Estadual de Londrina em agosto de 1977. Após ter estudado Engenharia durante um ano e meio em São José dos Campos e Física por um semestre na UNICAMP, retornei a Londrina ao final de 1976 com o
firme propósito de procurar um novo curso. Meu desejo era fazer vestibular para um curso de comunicação e tentar enveredar pelos estudos na área do cinema. Desde adolescente o cinema me atraiu fortemente. Lembro-me de comentar uma vez com meu amigo Helvécio, quando retornávamos de uma sessão vespertina de cinema: — Sabe o que eu acho engraçado? Os filmes que a crítica gosta eu não gosto. O filme que eu gosto a crítica não gosta! Helvécio riu muito e confirmou: — Fernando, comigo é a mesma coisa! Com o passar dos anos, o hábito de ir ao cinema foi se consolidando e, hoje em dia, muitas vezes, os críticos e eu gostamos das mesmas coisas. Mas, de vez em quando, aquilo de que gosto não agrada a alguns críticos. Embora o cinema seja uma presença marcante em minha vida, sendo até fonte de inspiração para certas interpretações minhas sobre questões empresariais, não é minha intenção escrever sobre isso agora. Naquele ano do retorno à casa paterna, passados os períodos festivos e as férias, certo dia minha mãe me perguntou: — Fernando, não está na hora de preparar a viagem de volta a
Campinas? Isso ocorreu por meados de fevereiro de 1977. Era o momento que eu temia: revelar a meus pais que não queria continuar o curso na UNICAMP. Com o passar dos dias, como já era usual com meus irmãos, comecei a ajudar meus pais no supermercado que tinham. Nesse ambiente
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de trabalho familiar, as coisas começaram a se acalmar e, algum dia, tive a ideia de fazer vestibular para o curso de administração da UEL. Fui à busca do conhecimento que poderia me ajudar e a meus pais na administração daquela pequena empresa. Passados os quatro anos da graduação, logo após a formatura, veio o convite para me tornar professor. Nos primeiros anos, me dividia entre a empresa e a universidade. Depois acabei me dedicando exclusivamente à universidade. Fiz mestrado, doutorado, ocupei cargos de gestão, mas sempre procurei estudar a gestão em pequenas empresas nesse tempo todo. Terá sido uma espécie de compensação por ter abandonado a gestão do supermercado de meus pais? Não sei! Talvez Freud explique! A primeira pesquisa que fiz sobre a gestão de pequenas empresas foi em parceria com Cleufe Pelisson. Durante muitos anos, os alunos de administração da UEL tinham que fazer um estágio como conclusão do curso. Nesse estágio havia um roteiro de diagnóstico que os alunos deviam aplicar a uma empresa. Após o diagnóstico, uma área da empresa era escolhida para o desenvolvimento de ações administrativas sob a supervisão de uma equipe de professores do Departamento de Administração. O meu estágio foi na empresa de meus pais. Conversando com a Cleufe, tivemos a ideia de fazer uma pesquisa sobre os problemas de gestão nas pequenas empresas de Londrina. Com essa finalidade, utilizamos os relatórios dos estágios dos alunos de administração da UEL em pequenas empresas, que totalizavam 287, no período de uma década, entre 1978 e 1987. Com a aprovação do departamento, Cleufe e eu enfrentamos a tarefa de ler 141 desses relatórios e fizemos uma lista dos problemas que eram relatados, classificando-os por setor da empresa (Produção, Finanças, Marketing, RH, Administração Geral). A lista era muito grande! Cleufe e eu queríamos criar uma classificação desses problemas que fosse além das áreas funcionais. Pensávamos
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bastante, trocávamos ideias, debatíamos com colegas, mas não conseguíamos chegar a uma proposta com que nos sentíssemos confortáveis. Um dia, cheguei para a Cleufe e falei: — Cleufe, acho que encontrei a solução. Sonhei com ela! É verdade. Na noite anterior, havia sonhado com aquele problema que estava nos incomodando e a solução veio com o sonho: classificar os problemas em estratégicos, administrativos e operacionais conforme apresentado por Ansoff em seu livro “Estratégia Empresarial”. Concluímos a pesquisa, fizemos o relatório, e uma versão resumida foi publicada na Temática, número 5, de julho de 1988, com o título “Taxonomia dos problemas das pequenas empresas de Londrina”. A Temática foi uma revista criada por alguns professores do Departamento de Administração da UEL, por sugestão do Marcos Tito e, infelizmente, deixou de ser editada há alguns anos. É uma pena! Enfim, a vida foi passando, os anos correndo, eu fui mudando de cidade em cidade, mas algumas coisas permaneceram: as amizades, entre as quais a de Cleufe é muito valiosa, e o desejo de continuar pesquisando esses intrépidos empreendedores e suas pequenas empresas maravilhosas. Os mais antigos devem ter percebido a brincadeira com o título de um filme da década de 60 do século passado, dirigido por Ken Annakin, cujo título em português é “Os intrépidos homens e suas máquinas maravilhosas”. Não poderia concluir este post sem falar de cinema!
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Autores acadêmicos involuntários? ou “Há só uma porta para o universo acadêmico?” Publicado originalmente em 29 de abril de 2012.
O
uvi rumores de que em uma instituição de ensino federal, uma aluna de pós-graduação processou seu orientador, por este ter encaminhado para um periódico acadêmico e conseguido a publicação de um artigo baseado em seu trabalho de conclusão de curso; não sei se dissertação ou tese. É claro que o orientador tomou o cuidado de incluir a aluna como coautora do trabalho, mas aparentemente esta não concordou com essa atitude do orientador, pois não foi consultada sobre o interesse em ter uma publicação de seu trabalho no formato de artigo. O resultado desse processo eu não sei, mas há algumas instituições que estão solicitando que os ingressantes em seus cursos de mestrado e doutorado assinem uma autorização para que o seu trabalho de dissertação ou tese seja convertido em artigo e encaminhado para publicação, caso o pós-graduando não tome essa iniciativa em determinado prazo. Para mim é algo simplesmente inacreditável! Amazing! Como diria minha amiga Gertrud, professora de inglês, que a cada dez palavras em suas falas, insere uma na língua inglesa. Será esse tipo de atitude mais um sintoma dessa busca insana pela produção acadêmica, custe o que custar, que tem assolado os programas de pós-graduação brasileiros, na tentativa de atingir a meta trienal de pontos que garantem uma boa avaliação na CAPES e, algumas vezes, bônus salariais de variados montantes? É o lema do “publique ou pereça”,
“publish or perish” na lingua inglesa, que domina os meios de divulgação acadêmica em muitos campos do saber. Pois é, fiquei muito surpreso com estas novidades. Há muito tempo, os professores da pós-graduação compartilham com seus orientandos
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inúmeras publicações que se originam dos esforços realizados por ambos em pesquisas que conduzem a uma dissertação de mestrado ou uma tese de doutorado. Implícita nessa prática está a necessária atuação cooperada, pela qual o orientador, além de ter dirigido os esforços de seus orientandos ao longo da pós-graduação, se envolve ativamente na construção das versões resumidas desses trabalhos ou na exploração de aspectos específicos de cada dissertação ou tese que são veiculadas nos periódicos acadêmicos. Mas, a dissertação e a tese são, pelo menos no Brasil e na maioria dos países, de autoria do pós-graduando. Nenhum orientador aparece como autor em uma dissertação de mestrado ou tese de doutorado, a não ser naquelas que escreveu quando se tornou mestre ou doutor. Ora, a extração de parte de uma tese ou dissertação e sua redação em formato de artigo só pode ser feita por iniciativa de seus autores. A inclusão de orientadores como coautores é algo que só pode ocorrer quando estes realmente se envolvem na redação do artigo. Parece-me tão evidente isso, que encaro a adoção dessas práticas institucionais como uma tentativa desesperada de aumentar a produção científica de um programa de pós-graduação para ficar bem na foto trienal que é enviada à CAPES. A quantidade estaria substituindo a qualidade? Será que não podemos aceitar o fato de que alguns de nossos orientandos não desejam ter seus trabalhos de mestrado e doutorado divulgados em outros espaços? Será que toda dissertação de mestrado e tese de doutorado apresenta resultados que adicionam conhecimento novo relevante para a academia e devem ser obrigatoriamente divulgados em periódicos acadêmicos? Será que é difícil acreditar que a eficácia de um curso de mestrado e doutorado pode residir no próprio processo de conhecer um campo do saber, em alguma especialidade, que se concretiza objetivamente na produção de um texto final avaliado por uma banca? Será que
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não podemos acreditar que os novos mestres e doutores passam por esse rito de passagem e, ao longo de suas vidas, terão a competência e a apetência para novos estudos que publicarão se julgarem conveniente e se os editores dos periódicos acadêmicos deixarem? Será que não podemos resistir um pouco a essa pressão pela publicação? Hoje à tarde assisti ao “Um método perigoso”, filme dirigido por David Cronenberg que relata parte da vida de Carl Jung, seu envolvimento com Sabina Spielrein, que foi sua paciente, tornou-se sua amante e depois se formou em medicina, indo para sua terra natal na Rússia exercer a psicanálise até 1941, quando foi morta por um esquadrão nazista. O filme retrata também a relação entre Jung e Sigmund Freud, que no inicio foi uma de mestre e discípulo, com a manifesta admiração mútua entre Jung e Freud, mas que depois terminou com um rompimento e distanciamento entre ambos. Duas cenas do filme me chamaram a atenção. Na primeira, quando Jung vai a Viena se encontrar com Freud, o primeiro se refere ao segundo comparando-o ao astrônomo Galileu Galilei, pois como a ele, seus opositores o criticavam sem “ao menos olhar pelo telescópio”. Logo depois, na cena seguinte, conversando com Sabina, Jung comenta a resistência manifestada por Freud em considerar outros aspectos na psicanálise além do sexo. Nesse momento Jung comenta: “Será que não há outras portas para o universo?” Pois é, eu acho que há muitas portas para o mundo acadêmico! Não obriguemos todos a passarem pela mesma!
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Empreendedor individual: oportunidade para mais precarização das relações de trabalho? Publicado originalmente em 21 de abril de 2012.
A
figura do Empreendedor Individual foi estabelecida pela Lei Complementar 128/2008 e entrou em vigor em 01/07/2009. Segundo dados disponíveis no MPE Data (www.mpedata.com.br), mantido pelo SEBRAE,
no dia 15 desse mês já haviam 2.294.095 emprendedores individuais
formalizados junto à Receita Federal do Brasil e Previdência Social.
Comparados com o número de micro e pequenas empresas optantes pelo SIMPLES, na mesma data, os empreendedores individuais equivalem a 36,5% das MPEs regidas pelo SIMPLES (6.282.629). Duas categorias distintas que no conjunto, totalizam 8.576.734 unidades empresariais que se beneficiam de vantagens tributárias e previdenciárias muito relevantes para sua permanência no mercado e justas considerando-se a contribuição que dão para o desenvolvimento econômico e social do país. No Portal do Empreendedor (http://www.portaldoempreendedor.gov. br/modulos/perguntas/empreendedor.htm), mantido pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, o cidadão brasileiro pode obter muitas informações e orientações sobre os requisitos, benefícios e procedimentos necessários para sua formalização como empreendedor individual. Há, nesse portal, uma relação de 467 atividades que podem ser desenvolvidas por empreendedores individuais devidamente formalizados. Nessa relação extensa encontram-se algumas atividades que tradicionalmente são exercidas por proprietários de micro e pequenas empresas, tais como, comerciante de artigos de armarinho, açougueiro, confeccionador de carimbos, fabricante de alimentos prontos congelados, fabricante de esquadrias metálicas, proprietário de cantinas, quitandeiro, dentre outros. Todavia, há um aspecto dessa iniciativa governamental, que atendeu aos anseios de inúmeras associações de micro e pequenas empresas
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espalhadas por todos os estados brasileiros, que me chamou a atenção. Nessa lista de atividades possíveis para empreendedores individuais, encontram-se outras que são tipicamente desenvolvidas por empregados de empresas dos mais variados portes. Por exemplo, a lista inclui cabeleireiros, esteticistas, manicures, azulejistas, carpinteiros, eletricistas, funileiros, marceneiros, maquiadores, e muitos mais. Essa possível confusão entre a denominação de um cargo em muitas empresas e a denominação de atividades de empreendedores individuais pode ser aproveitada para uma precarização mais acentuada das relações de trabalho em nossa sociedade. Recentemente, fui a um grande salão de beleza localizado em um shopping center em Curitiba para cortar meu cabelo e aparar a barba. Conversando com o profissional que me atendia, perguntei como era a relação de trabalho dele com a empresa. Este me contou que até pouco tempo atrás tinha uma relação de contrato de prestador de serviço autônomo com a empresa. Mas recentemente, a empresa fez com que todos os profissionais se formalizassem como empreendedores individuais e o contrato passou a ser entre dois tipos de empresa. A relação anterior, que no meu entendimento de leigo já não era muito correta, expondo a empresa a possíveis ações trabalhistas, passou a ser menos arriscada para a empresa. No entanto, para os profissionais a relação continuou sendo uma relação de emprego disfarçada. Quando se pensa sobre o significado de ser empreendedor individual, não é possível deixar de pensar em alguém que tem ampla autonomia sobre a forma e os momentos em que oferecerá seus serviços ao mercado. Não é o que se vê nesse caso! Nessa relação de contrato com os empreendedores individuais, a empresa contratante exige desses empreendedores o cumprimento de horário de trabalho e a observância de escalas de serviço, determinando quem vai prestar serviços aos
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sábados, domingos e feriados. A relação é tão semelhante com uma de empregado, que o profissional me disse que o contrato prevê seis dias de trabalho com uma folga semanal. Ora, me parece que isso é mais um mecanismo que pode ser utilizado pelas empresas para precarização das relações de trabalho, a qual surge em nosso modo de vida capitalista. Essa empresa, por meio desse esquema, está se desobrigando de pagamento de contribuições previdenciárias, férias e seus abonos, 13º salários e FGTS. Fico pensando o quanto essa prática pode estar disseminada após quase três anos da entrada em vigor dessa nova modalidade de pessoa jurídica! Ser empreendedor tornou-se um sonho que é cada vez mais disseminado pela imprensa como uma das possíveis soluções para o desemprego crônico que marca praticamente todos os países do mundo. Periodicamente, uma vez ao ano, quando são divulgados os dados da pesquisa Global Entrepreneurship Monitor nos enchemos de um orgulho ufanista, pois o Brasil sempre está entre os países com maior taxa de atividade empreendedora. Isso dá ainda mais força para a divulgação do empreendedorismo como a cura de muitos males econômicos e sociais. Ao ver, hoje em dia, uma preocupação crescente com a sustentabilidade da sociedade, fico intrigado com algo que me parece ser deixado de lado. Não é possível termos uma sociedade sustentável se não assumirmos a responsabilidade que todos temos com aquelas pessoas que são excluídas do mercado. A resposta que oferecemos a essas é a vã esperança de se tornarem empreendedores de si mesmos! Se não conseguirem, a culpa é deles mesmos. Não se esforçaram o suficiente! Às vezes me deixo abater pela predominância de pensamentos simplórios como esse na academia brasileira que estuda o empreendedorismo. A maioria dos professores é repassadora de uma crença ingênua de que basta darmos uma formação empreendedora aos nossos jovens que
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muitos dos nossos problemas serão resolvidos. Essa formação empreendedora está invariavelmente baseada na elaboração de um plano de negócio. O que é claramente insuficiente para auxiliar alguém a se tornar empreendedor em uma sociedade que se deseja sustentável! De vez em quando, usam as estatísticas para demonstrar essa possibilidade gloriosa: já temos quase 2.300.000 empreendedores individuais no Brasil! São mais de 700.000 ao ano! Mas, eu me pergunto: quantos desses estão vinculados a relações de trabalho que se assemelham a empregos, mas deixam de ter os benefícios que teriam caso fossem empregados?
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Janelas, escadas e esculturas e outros escritos
Competição e cooperação entre pequenas empresas: um texto inspirado por teias de aranhas Publicado originalmente em 15 de abril de 2012.
U
m fenômeno da natureza atraiu minha atenção certa manhã. Enquanto trabalhava com amigos em Brasília, observei um conjunto de sete teias de aranha que se esparrama-
vam entre as copas de duas árvores. Cada teia com
sua aranha, o conjunto formava uma imagem complexa e inspiradora.
Fiquei imaginando o momento em que um infeliz inseto se prendesse em uma das teias entrelaçadas. Imediatamente, sete aranhas estariam se encaminhando para a origem do distúrbio dessa intricada rede. Não importa qual delas chegaria primeiro, mas o destino do inseto já estaria traçado: terminar nas garras de uma delas! Essa imagem me trouxe à mente, em primeiro lugar, a ideia de uma rede de pequenas empresas. Imaginei que as aranhas poderiam representar, cada uma delas, pequenas empresas, e o emaranhado de suas teias uma rede de cooperação de pequenas empresas. A união delas permitiria compartilhar esforços e recursos na busca de uma maior competitividade no mercado. Assim como essas aranhas, com suas teias entrelaçadas, têm aumentadas suas chances de sobrevivência em função da maior probabilidade de obter insetos em sua cadeia alimentar, as pequenas empresas quando se unem, seja em centrais de compras, seja em suas relações com o mercado consumidor, têm suas expectativas de sucesso empresarial ampliadas. Essa noção de cooperação entre empresas tem sua lógica residente em uma ideia muito simples que foi exposta de forma precisa pelo Prof. Sérgio Baptista Zaccarelli em seu livro “Estratégia e Sucesso nas Empresas”. Para o Prof. Zaccarelli, o sucesso de uma empresa depende de dois fatores: a qualidade do negócio em que atua e a qualidade de sua administração. Essa relação se dá de uma forma que, quanto maior for a
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qualidade do negócio, menor pode ser a qualidade da administração da empresa para se ter sucesso. Por outro lado, se a qualidade do negócio não é muito boa será necessário um esforço maior para se obter sucesso por meio da qualidade da administração que deve compensar a qualidade insuficiente do negócio. Ações de cooperação entre pequenas empresas são uma forma de melhorar a qualidade do negócio em que atuam. A cooperação permite maior poder de negociação com fornecedores, obtendo melhores condições de compra. Permite, ainda, enfrentar em melhores condições as ações competitivas de grandes concorrentes. Por outro lado, além da cooperação, as pequenas empresas em rede competem entre si. Nesse momento é que a qualidade da administração se manifesta, levando a melhores ou piores resultados. No entanto, embora essa noção de cooperação entre pequenas empresas seja comumente estudada na literatura de administração, a imagem das teias de aranhas tão próximas se assemelha, de forma mais adequada penso eu, a uma concentração geográfica de pequenas empresas. Em muitas cidades, observa-se a coexistência de pequenas empresas que competem em um mesmo mercado em espaços geográficos muito restritos. Em Curitiba, por exemplo, há as lojas de sapatos da Rua Teffé, na sua maioria pequenas empresas. Outro aglomerado de pequenas empresas em Curitiba ocorre na rua 24 de maio, com suas lojas de materiais de informática, vídeo e som. São Paulo, onde fiz meu mestrado, tem muitos exemplos, entre os quais me ocorre a Rua José Paulino, no Bom Retiro, com sua concentração de lojas de roupas e acessórios. Maringá, outra cidade em que morei, tem na rua Pedro Tacques uma concentração de lojas voltadas para a comercialização de produtos e serviços automotivos.
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Essas concentrações geográficas são um fenômeno empresarial interessante. Elas ocorrem em geral, de forma espontânea, com o comportamento imitativo de indivíduos empreendedores que veem um caso de sucesso em determinado local e decidem instalar uma nova empresa nas proximidades. Na maioria das vezes, essas concentrações ocorrem por facilidades de acesso a algum tipo de matéria-prima, quando se trata de empresas manufatureiras. No caso do comércio, o grande afluxo de consumidores é, em geral, o principal motivo da repetição desse comportamento empreendedor. O interessante nesses casos é que o comportamento empresarial predominante é a competição, mas esporadicamente podem surgir casos de cooperação entre as pequenas empresas ali localizadas. A disputa pela atenção do consumidor com mix de produtos diferenciados, atrativos promocionais, preços diferentes, é a tônica. Mas, junto a esses esforços competitivos surgem movimentos de cooperação em torno da realização de esforços compartilhados de comunicação com o mercado, articulação concertada para agilizar a realização de benfeitorias públicas na região, comemoração de datas festivas com apresentações artísticas que atraem público e, provavelmente, maior consumo. Nesses esforços coletivos os custos são compartilhados e os ganhos de cada empresa acabam dependendo principalmente de sua capacidade administrativa de se preparar e atuar nesses momentos. É nesse sentido que associo a concentração de teias de aranhas nas copas daquelas duas árvores à concentração de pequenas empresas. Na maior parte das vezes, o consumidor é o foco da atenção gerencial e, dessa forma, as mais ágeis em atendê-lo acabam se beneficiando mais da concentração. Igualmente, são as aranhas mais ágeis que chegarão mais depressa ao infeliz inseto emaranhado em suas teias.
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Por fim, de novo quero citar o Prof. Zaccarelli que, junto com os professores Ruy Leme e Adalberto Fischmann, publicou o livro “Ecologia de Empresas”, que li no inicio dos anos 80, quando fiz meu mestrado na Faculdade de Economia e Administração da USP. Sem essa leitura, essas sete teias de aranha não teriam passado de um fenômeno natural interessante para mim. Certamente a leitura desse livro, que três décadas atrás me marcou profundamente e as ideias nele apresentadas me ajudaram a fazer essas relações hoje.
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Janelas, escadas e esculturas e outros escritos
Mulher gosta de carinho e tem medo de barata Publicado originalmente em 09 de abril de 2012.
R
etornando a Mossoró para concluir meu módulo no Doutorado na UFERSA, tomei conhecimento de um sucesso da banda “Solteirões do Forró”. Ao entrar no carro dirigido por Cláudio Nogueira, motorista que veio
me buscar no hotel, uma música tocava e Cláudio, rindo muito, me disse — É verdade. Preste atenção! É verdade o que a letra diz. Essa banda foi criada em 2005 e uniu o forró tradicional com o ele-
trônico. Tem como vocalistas Zé Cantor e Taty Girl. Entre seus sucessos encontra-se “Você não vale nada”, que foi tema de uma personagem feminina em novela global, a Norminha de “Caminho das Índias”. A música que tocava no rádio era “Eu descobri”, com os seguintes versos: “eu descobri que mulher gosta de carinho. Carro carinho, sapato carinho, vestido carinho, jantar bem carinho...”, na voz de Zé Cantor. Depois na voz de Taty Girl, a letra continuava: “eu descobri que tenho medo de barata. Roupa barata, jóia barata, bolsa barata, viagem barata”. Dei boas risadas com a música e o humor do Cláudio. Uma mensagem bem humorada aos homens que precisam descobrir do que gostam aquelas que pretendem conquistar. Essa letra, por incrível que pareça, me fez pensar sobre uma das razões de sucesso de pequenas empresas varejistas que conseguem sobreviver por muitos anos no mercado. É o caso, por exemplo de pequenas lojas de roupas, em especial, as femininas que costumam manter, ao longo dos anos, um grupo expressivo de clientes fiéis. As proprietárias dessas lojas, em geral são mulheres, desenvolvem uma capacidade extraordinária de saber as preferências e desejos de cada cliente, sendo muitas vezes dirigidas em seus processos de compras por pensamentos do tipo: “Essa peça vai agradar muito a fulana; essa outra a beltrana não vai conseguir deixar de comprar; para a sicrana vou levar essas três, ela
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vai adorar”. Em outras palavras, as dirigentes dessas pequenas empresas, que foram também na maioria dos casos suas criadoras, exercendo o papel de empreendedoras nos estágios iniciais da empresa, conhecem muito bem seu mercado foco. Tive a oportunidade de presenciar cenas desse tipo na Dida-Su, empresa familiar maringaense criada e mantida pela mãe e irmãs de Sara, minha mulher. Certa vez, uma orientanda de iniciação científica, que estudou comigo, manifestou o desejo de pesquisar sobre a forma como proprietárias de butiques em Maringá enxergavam sua concorrência e como escolhiam uma posição competitiva no mercado. Fernanda, esse era seu nome, voltou muito assustada de suas primeiras entrevistas. Quando começava a conversar com as empresárias, invariavelmente, elas lhe diziam que não tinham concorrentes. Suas ações empresariais eram orientadas pelo conhecimento detalhado que tinham de suas clientes. Não prestavam atenção nas outras butiques. Foi um aprendizado importante para Fernanda e para mim também, pois entre as pequenas empresas que estudou, havia algumas que haviam chegado às duas dezenas de anos de existência. Nem sempre, a gestão de pequenas empresas segue os manuais clássicos da literatura estratégica! Esse tipo de comportamento aparece também em outros pequenos varejos que atendem necessidades de consumo de periodicidade de compra mais intensa, tais como, padarias e confeitarias, quitandas, açougues, peixarias, armazéns, bazares, restaurantes, butecos, entre outros. Seus dirigentes descobrem e valorizam o que desejam os clientes que querem conquistar. Já no fim da tarde, Cláudio esperava para levar-me de volta ao hotel. De novo, a música que tocava no rádio era de forró. Mas dessa vez, era um sucesso de Luiz Gonzaga que ele mesmo cantava, o “Xote das Meninas”.
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Tenho um CD de Marisa Monte no qual ela canta de forma maravilhosa essa música. Cláudio, que está me parecendo ser um conhecedor do forró, me chamou a atenção para a diferença entre esta música e a que tocava de manhã. Luiz Gonzaga tocava o verdadeiro forró Pé-de-Serra, com o auxílio de sua famosa sanfona, triângulo e zabumba apenas. A banda Solteirões do Forró toca suas músicas com uma maior diversidade de instrumentos que incluem estes e outros eletrônicos. É uma covardia comparar as duas músicas, seja pela letra, seja pela sonoridade e riqueza de ritmo. Luiz Gonzaga é imbatível! Mas assim como ele já se foi, esse ano se estivesse vivo estaria completando 100 anos, o forró Pé-de-Serra também praticamente não existe. Mas, Cláudio, que além de motorista sabe muito de forró, me contou sobre o forró de cota. Um costume antigo, narrado a ele pelo seu avô, em cujas terras na região de Mossoró aconteceram alguns. Antigamente, os bailes de forró não tinham cobrança de entrada como hoje. Eram realizados em espaços mais abertos. Os músicos, antes de tocar, faziam uma coleta entre os homens que estavam no espaço de dança. Mulheres não pagavam! Mas se estivessem no espaço de dança, não podiam recusar uma dança a um cabra! Os homens que queriam dançar faziam suas contribuições e, em seguida, os músicos tocavam algumas músicas, quatro ou cinco. Terminada esta parte, corriam novamente a coleta para uma nova cota de músicas. Engenhoso e democrático! Só pagavam aqueles que iriam dançar, quem não pagava não podia entrar no espaço reservado aos dançarinos. Tinham que esperar a nova cota. Segundo Cláudio, essa prática não existe mais. Assim como alguns pequenos comércios que antes atendiam bem necessidades que a vida moderna transformou! É o risco do mundo dos negócios: os grandes muitas vezes eliminam os pequenos.
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O administrador dividido em dois: empreendedor e gestor na pequena empresa Publicado originalmente em 09 de abril de 2012.
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ntender como pequenas empresas são criadas e mantidas no mercado por longos períodos de tempo é algo que tem me atraído constantemente. Estudar empreendedorismo e gestão de pequenas empresas permite que eu
olhe ao mesmo tempo para aspectos da criação de um empreendimento
e de facetas de seu crescimento e consolidação ao longo do tempo. Este
processo, no meu entendimento, é um ciclo contínuo de criação gestão criação gestão criação gestão... Infinitas vezes? Talvez sim,
se os empreendimentos sobreviverem a seus criadores e continuadores. Mas, na maioria dos casos, em algum momento, esse ciclo se interrompe, com o encerramento das atividades. Fases de transformação são seguidas por fases de consolidação de forma ininterrupta. Julgar qual é a mais importante não faz sentido, pode-se apenas tentar compreender que há momentos para mudar e há momentos para preservar. Há momentos onde a ação é empreendedora e outros onde prevalece a gestão. Em todos os momentos, o que parece ser comum são as incertezas e os riscos. Às vezes parece que, ao invés de mudar, o administrador deveria tentar preservar. Outras vezes, aquilo que se preserva parece inadequado em face do que deveria ter se transformado. Hoje em dia há um discurso dominante na literatura da administração que pode ser sintetizado de forma resumida assim: inovar é a solução para qualquer empresa; sem inovação não há salvação! Por esse discurso somos levados a pensar que a humanidade está constantemente em busca de produtos ou serviços novos e deixando de lado os produtos e serviços antigos. Surgem tantas coisas novas que os marqueteiros nos impelem a comprar e, de repente, parece que os administradores devem deixar de lado o que fazem bem há muito tempo, para fazer o novo. É óbvio
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que isso é exagerado, e não se pode levar tão a sério as profecias sinistras do “inove ou pereça”. Basta um pouco de bom senso (meus colegas acadêmicos ficam irritados quando uso essa expressão!) para notar o quão incompleta e imprecisa é essa ideia da busca da inovação contínua. Proponho um simples exercício: Reflita sobre seu comportamento de consumidor: quantas vezes vocês compra produtos novos ou se utiliza de serviços inovadores?; Quantas vezes suas compras estão associadas a produtos tradicionais ou serviços rotineiros? Não tenho medo de errar ao afirmar que, na maioria das vezes, suas compras são de serviços e produtos velhos, feitos da mesma forma e com a mesma utilidade há muitos anos. Nós queremos, ou melhor, precisamos de estabilidade em nossas vidas. Não há “tatu que aguente” viver só à base de inovações! Lembrei-me dessa expressão que ouvi muitas vezes quando criança. Antiga, mas ainda tão apropriada. De onde será que ela veio? Ora, se estou certo, ou seja, se as pessoas precisam de continuidade e estabilidade em boa parte das suas necessidades de consumo, se eu for um administrador de uma pequena empresa, talvez fosse prudente que eu, além de buscar coisas novas, prestasse muita atenção àquilo que tem sido bem sucedido. Esse é o constante ciclo de criação e gestão que mencionei, não há como só inovar, assim como não há como só fazer o mesmo sempre. É parecido com a novela “O Visconde partido ao meio” de Italo Calvino, publicada pela primeira vez em 1952. Nessa estória Calvino relata as aventuras do Visconde Medardo, que em uma batalha, vê-se partido ao meio no sentido vertical do corpo. Graças à equipe médica do campo de batalha a sua parte direita, preservada intacta, conseguiu
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sobreviver e retornar à sua terra natal. Mas, para agrura de seu povo, essa parte era extremamente malvada. Depois de algum tempo a parte esquerda, que se supunha destruída, retorna também à casa paterna. Ela fora encontrada e curada por alguns eremitas. Ao contrário da outra metade, esta era extremamente generosa. A grande sacada de Calvino foi mostrar que nessa estória nenhuma das duas formas – a bondade pura ou a maldade pura – eram aturadas pelos habitantes. Era preciso dar um jeito de ter uma mistura de novo. A solução calviniana é genial! Leiam o livro e descubram qual foi. No caso das pequenas empresas, não há como ser só empreendedor ou só operador de pequenos negócios, termos usados por Louis Jacques Filion em artigo publicado em 1999. De forma muito esclarecedora, Filion demonstrou as diferenças entre formas de pensar do empreendedor e do gestor de uma pequena empresa. Há momentos para criar e há momentos para gerir, procurando em cada momento superar as incertezas e os riscos nas decisões. As duas formas de pensar devem coexistir. Simples assim, mas nem um pouco fácil! É isso que torna a administração fascinante! Ainda mais quando se trata de pequenas empresas.
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Pequenas empresas com vida longa: duas hist贸rias curitibanas Publicado originalmente em 06 de abril de 2012.
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uando se fala da administração de pequenas empresas uma questão que sempre vem à tona se relaciona com sua vida curta. As estatísticas variam, mas em geral, pode-se dizer que
cerca de 80% das pequenas empresas não conseguem completar cinco
anos de vida. Assim, quando me deparo com histórias de casos bem sucedidos que conseguem passar da casa das cinco dezenas de existência, minha curiosidade é aguçada. O que explica esse sucesso? Que trajetória seguiram essas empresas e as pessoas que as criaram? Como foi a passagem de geração em geração da família que manteve a propriedade dessas pequenas empresas? E o caso de sucessão fora da família, como se explica que pessoas diferentes dos fundadores conseguiram manter uma pequena empresa por tão longo tempo preservando tradições criadas por seus fundadores e gestores iniciais? Enfim, a lista de coisas que quero saber é longa! Esporadicamente tenho encontrado relatos de pequenas empresas curitibanas que são longevas. Esses relatos são feitos por jornalistas, sem nenhuma preocupação científica, com seus estilos diferenciados, nos revelando aspectos pitorescos, mudanças que ocorreram ao longo do tempo nessas pequenas empresas, chegando até nos detalhes de como seus produtos ou serviços evoluíram ao longo do tempo. E me ajudando a aprofundar minha compreensão de coisas que a literatura acadêmica conta, mas quase sempre sem graça nenhuma. Nos últimos meses tive a felicidade de ler alguns desses relatos. Todos eles na Gazeta do Povo, que voltei a assinar recentemente. Escolhi duas para ilustrar alguns aspectos da gestão de pequenas empresas. Uma das histórias que me chamou a atenção foi relatada pelo colunista José Carlos Fernandes, em um texto muito agradável de ler e
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intitulado “O alfaiate e sua admirável máquina do tempo” (http://www. gazetadopovo.com.br/colunistas/conteudo.phtml?tl=1&id=1236541& tit=O-alfaiate-e-sua-admiravel-maquina-do-tempo). José Carlos conta sobre a Alfaiataria Riachuelo, que existe há 80 anos, na Rua Riachuelo, criada por um alfaiate que morava em Ponta Grossa, como nos informa o colunista: “Se olharem bem, os visitantes vão notar na parede um retrato do general Heitor Borges de Oliveira, espécie de santo padroeiro da Alfaiataria Riachuelo. Nos idos de 1930, em Ponta Grossa, o manda-chuva encomendou do alfaiate G. Matter uma farda. Gostou tanto que o trouxe para Curitiba. Virou febre – todos os homens do Exército queriam se vestir com ele, que era artista e costurava por ofício, para poder fazer o que mais lhe aprazia – pintar telas ao ar livre e pilotar motocicletas, arrancando poeira daquele Paraná em pinheiros.” Hoje a pequena empresa é administrada por Osvaldo Filho, filho de Osvaldo e sobrinho de Guilherme, filhos e sucessores do fundador da empresa. Nesse longo período a empresa manteve-se especializada em trajes militares, mas a clientela inicialmente restrita aos militares, hoje é bem diversificada, ou como bem descreveu José Carlos “... tão sortida quanto um pote de jujubas. Imagino o dia em que um sargento e uma guria blindada a piercings pediram juntos ao balcão, no mesmo tom de voz, “um coturno, por favor”. Tem também a turma do teatro, fashionistas, seguranças carecas ...” Outra história bacana é a da Confeitaria Blumenau, localizada na rua São Francisco, que atualmente é comandada, desde 1994, por Ilse Baumgart Maiochi, uma simpática senhora no vigor de seus 72 anos. Mais uma vez, quem conta a história é José Carlos Fernandes em “Os sonhos e o sonho de Ilse” (http://www.gazetadopovo.com.br/colunistas/ conteudo.phtml?id=1140382). Ilse foi cozinheira da Blumenau, desde
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1963, quando trabalhou com a primeira proprietária, Tecla Probst, e depois com sua sucessora Ertha Weber, como relata Rosy de Sá Cardoso em “Os segredos da Confeitaria Blumenau” (http://www.gazetadopovo. com.br/bomgourmet/conteudo.phtml?id=1223670). Antes de Ilse comprar a empresa onde trabalhava, a Blumenau foi propriedade de uma terceira senhora, dona Regina. Nesse caso, o que se vê é uma pequena empresa que ao longo dos anos foi passando de mão em mão, mas Ilse, a cozinheira, ia junto com a empresa, preservando a qualidade e sabor dos pães de casa, strudels, bolos, sonhos e outras delícias. Hoje em dia, além dos tradicionais doces e confeitos, Ilse criou um buffet no almoço para atender a clientela estudantil e outros que passam pela movimentada região onde está localizada a Confeitaria Blumenau. Enquanto a Alfaiataria Militar manteve-se no âmbito familiar, a Confeitaria Blumenau foi sendo vendida. Assim, duas trajetórias diferentes levam a sucessos parecidos: empresas com vida longa, mantendo-se pequenas e reconhecidas por serviços ou produtos de qualidade. Além disso, algo comum pode ser encontrado nessas duas histórias. Ambas conseguiram se adaptar às mudanças ocorridas na região onde se localizam, conseguindo ao longo dos anos, ofertar serviços e produtos que atraem, ainda hoje, aqueles antigos clientes que desejam fazer uma viagem no tempo de suas memórias, bem como os jovens que estudam no prédio histórico da UFPR na Praça Santos Andrade que encontram satisfação para os desconfortos da fome e roupas que lhes permitem construir parte de sua identidade juvenil. Vida longa a essas e outras pequenas empresas!
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Pequena Empresa Familiar: Um Espa莽o Conflituoso? Em mem贸ria de meu pai Publicado originalmente em 11 de junho de 2012.
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urante alguns anos tive a oportunidade de trabalhar com meus pais em uma pequena empresa tipicamente familiar. Qualquer um que tenha passado por esse tipo de experiência sabe das dificuldades que gerações
diferentes encontram quando precisam trabalhar juntos, em particular quando nesse tipo de trabalho há uma relação que extrapola a profissional, envolvendo pais e filhos ou mães e filhas. O afeto paterno ou materno pode ser um fator gerador de conflitos, pois os filhos muitas
vezes desejam ser tratados como um profissional competente que pode trazer uma contribuição relevante para a empresa da família. De vez em quando, diferentes compreensões sobre uma oportunidade empresarial ou um problema a ser enfrentado levam a conflitos que extrapolam a vida profissional e afetam a relação familiar. Nesses momentos, a autoridade materna ou paterna tende a prevalecer, independentemente de qualquer solução técnica. Mas, conflitos pessoais não são exclusivos de empresas familiares! Em qualquer organização eles ocorrem e, também, as soluções encontradas nem sempre são exclusivamente técnicas. A neutralidade emotiva não existe nas organizações! Em qualquer situação, aspectos afetivos estão presentes nas soluções encontradas. O que pode ser diferente é a maior ou menor ênfase dada as aspectos relacionais nos processos decisórios nas empresas que, provavelmente, vão ser característicos de diferentes culturas organizacionais. Charles Handy apresentou em um de seus livros uma forma de encarar as diferentes maneiras com que a cultura das organizações pode se manifestar. Em seu livro Os deuses da administração, Handy aborda como que as empresas podem evoluir ao longo do tempo, passando por quatro estágios culturais que marcam a maneira como as pessoas
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compartilham diferentes pressupostos sobre processos decisórios, aprendizagem, poder de influência, modos predominantes de mudança organizacional, motivação das pessoas e formas de recompensa. Naquele livro, Handy usa a figura de quatro deuses da mitologia grega para diferenciar entre culturas de grupo ou clube, da função, da tarefa e existencial. Cada uma dessas culturas, segundo Handy, pode representar um estágio na evolução de uma empresa em particular, embora algumas empresas possam passar toda sua existência com uma cultura predominante. A cultura de grupo ou de clube, Handy associa a Zeus, poderosa entidade do Olimpo Grego que, segundo a tradição, tinha comportamentos muito enérgicos e emotivos. Quando Zeus estava irado com os humanos causava grandes tempestades, repletas de trovoadas aterrorizantes e infindáveis raios. Por outro lado, quando Zeus estava muito satisfeito, fazia chover ouro em pó sobre os humanos. Segundo Handy, esse tipo de cultura é frequentemente encontrado em empresas jovens e pequenas, com a presença de um líder muito poderoso. Essa cultura enfatiza a informalidade e empatia entre pessoas, acentua rapidez nas decisões, e é eficiente onde rapidez é mais importante que detalhe. A presença de Zeus nesse tipo de organização se nota pela forma com que o principal tomador de decisões na empresa, se for familiar seria o pai ou a mãe, trata a todos de forma paternalista, tentando reproduzir na empresa um clima de família. Nessas empresas, em geral, a aprendizagem ocorre por tentativa e erro ou baseada em modelos; a influência é exercida através do controle de recursos e carisma pessoal; a base da mudança é a substituição de pessoas; e a motivação é orientada pela busca do poder sobre pessoas e acontecimentos. Handy associa o deus Apolo à cultura da função, que enfatiza a definição da função a ser realizada baseada em princípios racionais e lógicos,
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com a busca constante de estabilidade e previsibilidade e as mudanças ocorrem por meio de alterações estruturais ou dos sistemas. O que motiva as pessoas nesse tipo de organização é a autoridade formal e o status. A cultura da tarefa é representada pela deusa Atena, que caracteriza empresas onde se visualiza a administração como solução de problemas de forma contínua e bem sucedida (projetos). Por fim, Handy menciona a possibilidade de serem encontradas organizações onde a cultura predominante é a existencial representada pelo deus Dionísio. Esse tipo de organização é excelente, onde o talento ou habilidade individual é o recurso crucial da organização. Segundo Handy, a noção de chefia não faz sentido nesse tipo de organização, sendo mais consistente a ideia da presença de alguém que coordena as diferenças tarefas individuais. É o que Handy brilhantemente chama de “administração consentida”, com a coexistência de diversos estilos de pensamento e respeito integral ao indivíduo, sem paternalismo. Nesse tipo ideal de organização as pessoas são motivadas pela liberdade pessoal e autonomia. A leitura do livro de Handy é indispensável para quem deseja conhecer um pouco da diversidade que existe no fenômeno organizacional. Para cada uma das culturas, Handy cita diversos exemplos de organizações onde predomina a cultura específica. Mas, aqui minha ideia é refletir sobre a cultura típica da pequena empresa familiar que é, sem dúvida, a de grupo onde se encontra uma liderança forte feminina ou masculina representadas por Zeus no livro de Handy. Ora, levando isso em conta como é possível aos filhos conviverem de forma harmoniosa e darem uma contribuição efetiva à empresa da família? Lembro-me de alguns episódios em que tive a oportunidade de discordar de Zeus na empresa de minha família. Em geral, os conflitos que tive com meu pai ocorreram por causa de diferentes perspectivas na solução de problemas. Meu pai trazia na sua bagagem de vida, uma
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experiência bem sucedida de mais de 20 anos de condução da empresa. Eu trazia os conhecimentos novos que estava aprendendo no curso de graduação em administração. E muito ansioso para transformar alguns dos processos da empresa. Naquela época eu não sabia, mas o que tentava fazer era transformar a empresa em direção a uma cultura da função. Eu estava aprendendo o valor das regras explícitas, da análise racional de causas e efeitos, da busca de soluções alternativas, baseadas em avaliação de custos e benefícios. Meu pai sabia que, em geral, o que decidia dava certo. Ele sempre fez daquela maneira! E sempre ganhava o argumento, pois ao fim dizia: — Você tem muita gramática e pouca prática! E, típico de Zeus, fazia as coisas a seu modo. Embora isso causasse uma certa tensão, no geral as decisões em nossa empresa eram consistentes com os objetivos de meus pais. Nunca percebi neles um desejo de que a empresa viesse a se tornar grande no futuro. Parecia que meu pai e minha mãe se sentiam satisfeitos com o que tinham realizado: ter uma pequena empresa bem sucedida que fosse uma base segura para manter a família com uma qualidade de vida muito boa. Talvez eu, inconscientemente, desejasse que a empresa se expandisse, impregnado pelos aprendizados que tinha na graduação e que, em geral, falavam de estratégias de crescimento constante. Eu estava sendo formado para dirigir uma grande empresa. Os conteúdos em geral se voltavam para essa realidade, muito diferente daquela que eu vivenciava no dia-a-dia. Aliás, era nesse dia-a-dia que o meu aprendizado teórico era calibrado pelas contingências da administração em uma pequena empresa. Foi assim que pude aprender que nem sempre as regras racionais poderiam ser aplicadas. Ou, ao menos, havia exceções que eram importantes e que faziam sentido. Por exemplo, durante certo período meu pai estabeleceu uma regra de que cigarros não poderiam ser vendidos no fiado.
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A empresa fornecedora só nos vendia à vista e, assim, não fazia sentido vendermos os cigarros no fiado, para receber no final do mês. Mas, meu pai conhecia bem seus fregueses e, segundo um deles, nessa época meu pai chegava e colocava no bolso do freguês um dinheiro para a compra do cigarro. Depois ele acrescentaria esse valor na conta mensal. Ele não podia deixar que um freguês em dificuldade deixasse de atender sua necessidade, mas preservava a regra e as funcionárias dos caixas não ficavam sabendo disso. Belíssimo, não? De novo um comportamento de Zeus, paternalista. Outro exemplo era o relacionamento com os empregados. Muito zangado algumas vezes, muito afetivo outras vezes. Era hilariante ver como meu pai se preocupava em particular com as moças que trabalhavam conosco. Em geral, esse era o primeiro emprego delas, aprendiam na prática e meu pai as tratava como se fossem filhas. Chegava ao cúmulo de querer ser informado quando estas começassem algum namoro, queria saber quem era o rapaz, se era de boa família, e assim por diante... Mas, se faziam algo errado, fosse na empresa ou fora dela, lá vinha a tempestade! Com os clientes era a mesma coisa. Em alguns momentos eram tratados como reis, em outros eram o alvo de discussões e, até mesmo, desaforos! Afinal seu Gimenez era um Zeus espanhol! Chegou a ser retratado na imprensa local como o tubarão da rua Paranaguá, na época em que houve racionamento de alguns produtos e ele dava jeito de atender alguns clientes confiáveis, mas outros não. Foi uma escola de administração para mim. Como filho, algumas vezes foi difícil. Anos depois, quando já me havia decidido pela vida acadêmica, assisti a um filme que me fez enxergar melhor qual foi o papel de meu pai na minha carreira. No filme Estrada para Perdição (Road to Perdition), de 2002, dirigido por Sam Mendes, Tom Hanks vive o papel de um contador, cujo filho presencia um assassinato e, a
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partir desse momento, corre sérios riscos de ser assassinado também. O personagem de Tom Hanks parte em uma jornada para uma pequena cidade chamada Perdition, tentando proteger a vida do filho. Nessa jornada ele comete vários atos violentos. O filme começa com a narração feita pelo filho que diz: — Alguns dizem que meu pai foi um homem mau, outros dizem que ele foi um homem bom, eu só posso dizer que ele foi meu pai... Pois é, alguns me diziam que meu pai era um ótimo empresário, outros me diziam que ele não era tão bom assim. Quanto a mim, só posso dizer que ele foi meu pai. Aprendi muito com ele!
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Dando cor ao empreendimento: a busca do equilíbrio entre inspiração e domínio técnico Publicado originalmente em 04 de abril de 2012.
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capa da Revista Bravo, 176, de abril de 2012, traz uma bela foto de Antonio Fagundes, esse brilhante ator brasileiro, com parte do rosto e da camisa manchados de vermelho. A princípio
pode-se pensar que é uma imagem produzida por meio dessas maravi-
lhas tecnológicas da computação que temos à nossa disposição hoje em dia. No entanto, na Carta da Redação, Armando Antenore, redator chefe da Bravo, explica que a capa foi o resultado de um ensaio fotográfico que contou com a generosidade do ator em se submeter a vários banhos de tinta guache vermelha lançados pela equipe liderada por Valéria
Mendonça, editora de fotografia, e Dani de Lamare, produtora. Nas palavras das duas: “Jogamos copos e copos de guache no rosto do artista até alcançar o efeito que desejávamos. A imagem final talvez pareça milimetricamente calculada, mas o seu impacto está justo no fato de que há nela boa dose de acaso. Ou, se você preferir, de erro. Todos nos preparamos bastante para a missão... Procuramos a tinta mais adequada, montamos a luz, descolamos o figurino minimalista. Mesmo assim, na hora H, as coisas desandaram um pouco...” Depois de várias tentativas, segundo elas, com Antonio Fagundes aguentando firme, a mira do Theo Carias (maquilador) e as lentes do Daniel Klajmic (fotógrafo) “encontraram a perfeita sintonia”. A descrição dessa produção me fez refletir sobre o desenvolvimento da visão empreendedora como guia principal do processo de empreender. O empreendedorismo tem sido descrito recentemente como um processo de criação ou percepção de uma oportunidade que é posteriormente avaliada e explorada com fins empresariais ou sociais. Esse processo, que no meu ver, é essencialmente um ato de criação, distinto das fases posteriores de gestão do empreendimento, pode resultar em uma nova
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empresa, uma nova unidade de negócio em uma corporação, um projeto social ou de governo que atende a uma demanda de parte da população, novos produtos ou processos que são incorporados a organizações já existentes. Filion, o pesquisador canadense, já comentou muito sobre o processo visionário de empreendedores que, para ele, também é o início do ato de empreender. No entanto, a visão do futuro empreendimento é geralmente imprecisa, com contornos indefinidos, e conforme o empreendedor procura transformar a oportunidade em algo concreto, a visão vai se transformando, ajustando-se aos acertos e erros de uma ação humana que não é, nem pode ser, exata, no sentido quantitativo da palavra. Entendo que é um processo muito parecido com a produção da foto de capa da Bravo. Embora a ação de empreender não possa ser milimetricamente planejada, ela pode, também, assim como a fotografia, se apoiar em uma técnica para que surja eventualmente em um formato próximo da visão imaginada pela pessoa ou grupo de pessoas que empreende. Há na literatura uma difusão muito antiga do plano de negócio como uma ferramenta que está à disposição daqueles que querem empreender. Nos inúmeros manuais de planos de negócios apresentam-se diversas técnicas que podem ser usadas no planejamento de um novo empreendimento: análise da qualidade do negócio, posicionamento competitivo, ponto de equilíbrio, fluxo de caixa e taxa interna de retorno, alinhamento entre competências organizacionais e de potenciais colaboradores, divisão de tarefas e criação de mecanismos de coordenação, entre outras. Mas, não quero comentar sobre plano de negócios que, embora úteis, nem sempre são essenciais para a criação de novos empreendimentos. Para desespero dos consultores e de alguns pesquisadores que apregoam sua infalibilidade!
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Quando estava fazendo meu mestrado, três décadas atrás, fiz uma disciplina com o Prof. Scaico, relacionada com a análise sistêmica de organizações. Entre as coisas muito bacanas que aprendi naquela época, me lembro do Prof. Scaico dizendo que, para entendermos um sistema, precisamos pintar suas cores. Em seguida nos deu um acrônimo: CORES. Um sistema é um conjunto de Componentes, que tem um Objetivo comum, transformando sob Restrições, Entradas em Saídas. Ou seja, para entender um novo empreendimento, por exemplo, eu preciso saber quais serão suas partes, para que ele vai existir, qual é o seu contexto em termos de facilidades e dificuldades, que recursos necessita para transformar produtos em serviços. Assim, se uma pessoa envolvida na exploração de uma oportunidade, é capaz de dar as cores para seu empreendimento, a possibilidade do resultado ser positivo, ou seja, o novo empreendimento surgir no mercado ou na sociedade, é maior. A inspiração da visão guiando as escolhas das cores do empreendimento se manifesta em um equilíbrio dinâmico que transforma a visão, depois de vários acertos e erros, em algo concreto que se tornará útil a toda a sociedade. O acaso e a intenção conspiram juntos para que visão e técnica encontrem a perfeita sintonia.
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Produtividade e Relevância da Pesquisa em Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas no Brasil ou “tudo que vale a pena acontece fora da academia?” Publicado originalmente em 01 de abril de 2012.
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VII Encontro de Estudos sobre Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas – EGEPE aconteceu entre os dias 28 e 30 de março passado em Florianópolis.
Dessa vez, sob a tutela da ANEGEPE – Associação dos Pesquisadores em Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas criada em fevereiro de 2011, a parceria com a UDESC, UNIVALI e FURB contou com apoio do SEBRAE nacional e recebeu recursos da CAPES e da FAPESC. Esse reconhecimento institucional da principal agência de estímulo ao empreendedorismo no Brasil e de duas instituições de fomento à pesquisa, uma nacional e outra estadual, revelam o reconhecimento do EGEPE como um espaço relevante para a troca de conhecimentos e experiências nesse campo. Uma programação extensa contando com a apresentação de 275 trabalhos, 4 mesas redondas, uma palestra de abertura com Shaker Zahra, pesquisador reconhecido internacionalmente por suas contribuições à compreensão do empreendedorismo, movimentou as instalações da ESAG na UDESC com a presença de quase três centenas de pessoas. Meu amigo Cândido, da Universidade Federal de Goiânia, sugeriu a realização de um debate sobre a produtividade e relevância da pesquisa em empreendedorismo e gestão de pequenas empresas no Brasil. Para que isso fosse possível, ele e Éverton, que esteve à frente da organização do VII EGEPE, convidaram Hilka, Juvêncio e eu para iniciarmos a conversa em mesa redonda que aconteceu no dia 30 pela manhã. Coube à mim dar início à conversa após breve introdução feita pelo Cândido, quando ele externou sua motivação para ter feito a proposição da mesa redonda no VII EGEPE. Para Cândido, parece que os pesquisadores vinculados aos dois temas e seus estudos têm tido pouca
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repercussão fora do âmbito acadêmico. Parece que o mercado e as instituições públicas acabam privilegiando em suas consultas modelos originários de consultorias e de outras fontes para respaldar suas decisões. Ou seja, em outras palavras, estaríamos em uma crise existencial acadêmica? Inspirado nas palavras de Cândido, me lembrei de um conto de Lygia Fagundes Telles – Jardim Selvagem – no qual Ducha, uma menina que mora com duas tias conta a história de seu tio Ed e sua mulher. Como tio Ed morava afastado da cidade, o contato com ele não era muito frequente, mas certo dia ele chega na casa das irmãs e conta que havia casado. Ducha ficou impressionada e curiosa com a descrição da esposa feita pelo tio ED: um jardim selvagem! Certo dia, ao chegar da escola, Tia Pombinha disse a Ducha que a esposa do tio Ed havia estado lá. Tia Pombinha disse que gostou muito da esposa do irmão e que esta era muito bonita. Ducha chateada com a chance desperdiçada de conhecer o “jardim selvagem” pensou: “As coisas que valiam a pena sempre aconteciam quando estava na escola”. Será que as coisas que valem a pena sempre acontecem fora da academia? Essa pode ser a razão da aparente irrelevância das nossas pesquisas? Mas, a conversa era sobre produtividade e relevância de nossos estudos. Para isso, discorri inicialmente sobre a minha percepção da produtividade em nosso campo de estudo. Por exemplo, o próprio EGEPE representa um avanço produtivo formidável do estudo dos dois temas no Brasil. Em 2000, quando realizamos o primeiro EGEPE na UEM, com o apoio da Hilka, Cleufe, Valdir, Luiz Antonio e Bruhmer, reunimos cerca de 50 pessoas para a apresentação de pouco mais de 30 trabalhos. Doze anos depois, os números relatados acima indicam um crescimento médio de 40% a cada evento. De igual forma, ao consultarmos o Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPQ, usando os termos “Empreendedorismo” e “Pequena Empresa”, localizamos na base corrente de 2012, 263 grupos
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de pesquisa com interesse nesses temas, ao passo que, em 2000, ano do primeiro EGEPE, havia 18 grupos de pesquisa registrados no CNPq com trabalhos em empreendedorismo e pequena empresa. Um crescimento extraordinário no período de pouco mais de uma década Sobre a relevância, busquei verificar como a produção acadêmica dos líderes dos grupos de pesquisa era referenciada em outros trabalhos. Usando o Google Acadêmico, a partir de uma amostra aleatória de líderes de grupos, o quadro que descobri não foi muito animador! A média de citações do trabalho mais citado de 53 líderes de grupo, encontrados no Google Acadêmico, foi de 2,9. Em uma amostra intencional, focada nos pesquisadores seniores dos dois temas no Brasil, essa média subiu para 11,7. É uma medida muito restrita de produtividade, mas aparentemente indica baixa relevância, até mesmo no âmbito acadêmico. No entanto, no meu entendimento, esse enfoque não é suficiente para falarmos de relevância do conhecimento gerado no Brasil. A preocupação do Cândido revela que essa relevância pode ser encontrada fora da academia também. Infelizmente não pude buscar dados para discorrer sobre isso, mas minha percepção não é tão pessimista! A questão da relevância dos nossos estudos deve ser buscada em uma perspectiva que considere, do ponto de vista do ensino superior, os diversos caminhos que a difusão do conhecimento pode tomar. Por exemplo, se considerarmos que a atividade universitária se manifesta em ações de ensino, pesquisa e extensão, precisamos buscar evidências de relevância nesses aspectos. Quanto ao ensino, me parece que a expansão da oferta de disciplinas que abordam empreendedorismo ou gestão de pequenas empresas, em nível de graduação e pós-graduação, indicam para mim uma crescente relevância desse tipo de conhecimento na formação de profissionais em diferentes campos que não só as ciências sociais aplicadas. No que diz respeito à pesquisa, já se falou acima sobre
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a questão. Por fim, no que diz respeito à extensão como forma de evidenciar a relevância dos estudos, minha impressão é que este é um espaço que precisamos explorar mais. Apesar de experiências recentes com programas desenvolvidos a nível nacional e em alguns estados, como, por exemplo, os Agentes Locais de Inovação do SEBRAE em parceria com muitas instituições de ensino superior, o PEIEx da APEXBRASIl, atividades de Extensão Tecnológica Empresarial apoiadas por FINEP, CNPQ e algumas agências de fomento à pesquisa estaduais, há ainda uma baixa intensidade de envolvimento de programas de pós-graduação nesse tipo de atividade. Esse é o espaço que temos que explorar mais, nos aproximando do mercado e da sociedade em geral. Para finalizar este post, minha impressão geral é que temos evoluído de forma significativa ao longo dessa última década, mas precisamos disputar a liderança desse processo de difusão de conhecimento com um número cada vez maior de fontes de conhecimento igualmente legítimas: empresas de consultoria, agências de apoio ao empreendedorismo e pequenas empresas, organizações não governamentais, associações empresariais, entre outras. Parece que estamos tendo que enfrentar uma crise de liderança, parecida com a que Nanni Moretti, cineasta italiano, retrata em seu filme Habemus Papam, com Michel Picolli no papel de um papa recém-eleito pelos cardeais, que entra em crise existencial no momento de sair à sacada do Vaticano para a saudação aos fiéis. Nessa comédia deliciosa e hilariante, Moretti parece falar da crise enfrentada pela Igreja Católica na liderança espiritual dos indivíduos. Será que a Igreja é ainda relevante como guia espiritual? Quanto às questões terrenas do empreendedorismo e gestão de pequenas empresas, penso que aqueles que estão surgindo mais recentemente na academia terão que enfrentar este desafio. Jovens pesquisadores como Cândido Borges, Emil Hoffmann, Jane Mendes Ferreira, Fernando Paiva
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Júnior, Éverton Cancellier, Lucila Campos, Edmilson Lima e Adriana Takahashi, entre outros, têm demonstrado muita competência e enfrentarão esse e outros desafios sem muita dificuldade. Além desses, creio que há uma tarefa essencial para essa nova liderança que é auxiliar na distinção conceitual do que é empreendedorismo e gestão de pequenas empresas, quando comparadas com a administração estratégica e a administração de grandes empresas, respectivamente. Que no próximo EGEPE, em Goiânia, março de 2014, tenhamos avançado mais um pouco.
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Janelas, Escadas e Esculturas Para Paloma e Fernanda Publicado originalmente em 27 de marรงo de 2012.
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ntem à noite, Paloma, minha filha mais velha foi em casa para que eu a ajudasse com sua primeira declaração de imposto de renda. Seu primeiro encontro com o leão! Me trouxe um pequeno qua-
dro de presente, uma gravura com duas janelas que davam visão a uma
escada, dessas de pedreiro, usadas em construção. Adorei o presente!
Paloma sabe que tenho uma atração muito forte por representações de janelas. Por que será? Tenho algumas explicações. Guardo em minha memória um momento muito especial para mim e meus avós maternos. Quando adolescente, morava em Londrina com meus pais e irmãos. Nossa casa tinha uma ampla janela na sala que permitia enxergar o jardim de nossa casa, mas, mais além, no horizonte, um belíssimo vale que hoje se encontra escondido por uma barreira de prédios. Mas, não importa, há muito tempo meus pais mudaram-se para outro local. Um dia, lá pelos meus 15 anos, cheguei à sala e vi meus avós maternos abraçados, debruçados sobre a janela, olhando para aquela paisagem e pensando. Sobre o quê não sei! Mas, guardei essa imagem do afeto mútuo que vó Ananisa e vô Arlindo demonstravam em um casamento de mais de 50 anos. Essa é uma lembrança que sempre me ocorre quando vejo uma pintura ou figura de janelas. Mas, para além dessa razão afetiva, as janelas para mim representam a possibilidade de um olhar para o mundo que pode ser, paradoxalmente, muito estreito ou muito amplo, mas sempre incompleto. Minha compreensão do mundo é ajudada por imagens. As janelas atraem nossa atenção. Ao me aproximar de uma janela consigo ver mais da paisagem que ela enquadra, meu ângulo de visão se amplia. Ao me afastar, a janela estreita minha visão e enxergo menos do mundo lá fora. Assim, é minha
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relação com o conhecimento. Minha atenção acadêmica é atraída por diversas teorias (janelas), de algumas me aproximo mais e amplio meu entendimento. Outras não chamam minha atenção, ou me atraem pouco, assim, deixo de olhá-las ou vejo-as apenas à distância, com pouca clareza do que procuram nos dizer. Mas, a sensação de incompletude é permanente! Por mais que eu queira, não conseguirei olhar todas as janelas. De igual forma, a escada é uma imagem poderosa! Algumas são mais amplas, confortáveis, rolantes até, e permitem que cheguemos a algum lugar com menor esforço. Outras são estreitas, inseguras, temos medo de nelas nos apoiarmos, mas algumas vezes elas nos permitem vislumbrar outros destinos que podemos alcançar. Assim são as teorias, algumas nos dão certezas, que apesar de temporárias, parecem eternas. Parafraseando Vinicius, são eternas enquanto duram! Outras parecem tão fracas, improváveis, mas apelam por nossos pés: venha ver onde posso lhe levar! É o apelo! Precisamos coragem para atendê-lo, mas pode ser compensador. Podemos ampliar nosso entendimento. Mas e as esculturas? O que elas estão fazendo no título acima? Alguém pode estar se pergutando... Com razão! Anos atrás, quando Fernanda, minha segunda filha era ainda adolescente, ela me deu um presente de aniversário que consegui manter intacto (quase) ao longo do tempo. Uma escultura de um corpo masculino, sentado com as pernas dobradas, fazendo um ângulo quase reto, uma perna na horizontal e a outra na vertical, com os braços apoiados no joelho da perna na vertical. Essa escultura é muito bonita, e apesar de estática, a sua composição me passa uma imagem de movimento, ou pelo menos de potencial movimento. Ao contrário das janelas, que nos mostram partes, a escultura é uma totalidade. Ao admirá-la nós vemos a essência do que o artista quis representar, mas não somos capazes de
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isolar suas partes do todo. Janelas e esculturas me ajudam a visualizar e imaginar o mundo. Assim, também é minha relação com o conhecimento. Algumas vezes, busco o olhar quantitativo das janelas. Estudos baseados na mensuração do fenômeno me permitem buscar a compreensão de paisagens amplas ou estreitas, dependo da quantidade de variáveis que estudo. Pode ser uma visão detalhada, pela amplitude das variáveis adotadas, mas é genérica, não permite conhecer as especificidades de cada caso. Por outro lado, o olhar qualitativo das esculturas me conta outra história. O que faz daquela empresa, daquele(a) empreendedor(a), da sua trajetória, uma totalidade cuja compreensão me seria muito valiosa? Preciso de ambos os olhares, pois janelas e esculturas me mostram formas diferentes de enxergar o mundo, acessado pelas escadas. Nessa altura desse texto, começo a me lembrar de uma passagem de um livro do Rubem Alves (Variações sobre o Prazer. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2011) em que ele comenta as três idades do professor segundo Roland Barthes (Ensinar o que sabe; ensinar o que não sabe; desaprender ou esquecer o que sabe). Nesse trecho, Alves exemplifica as duas primeiras fases: “O navegador voltou de suas viagens trazendo nas mãos os mapas que desenhara dos mares onde navegara. Mapas são metáforas do mundo dos saberes. São úteis. Neles encontramos as rotas a serem seguidas, caso se deseje. Chegam os alunos. Desejam aprender os mares do mundo. O professor lhes mostra os seus mapas e fala sobre aquilo que sabe. Os alunos aprendem. Mas, de repente, um aluno inquieto aponta para um vazio indefinido, sem contornos, no mapa. — Qual é o nome daquele mar? – ele pergunta. O professor responde: — O nome daquele mar eu não sei. Nunca fui lá. Não o naveguei. Não o conheço. Por isso, nada
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tenho a dizer. É mar desconhecido, por navegar. Mas, com o que sei sobre os outros mares, vou lhe ensinar a se aventurar por mares desconhecidos: essa é a aventura suprema. Para isso nascemos...” Enfim, quando reflito sobre isso tudo, me vem uma sensação de felicidade. Com minhas filhas, nessa relação de pai, busquei mostrar minhas escolhas de janelas, escadas e esculturas, com a esperança de que elas possam enxergar as coisas que vi, mas também, procurar por outras janelas, escadas e esculturas para enxergar o que querem e chegar aos destinos que escolherem. Aliás, os presentes que me deram, para minha alegria, mostram suas escolhas: Paloma se aproximando das imagens pela arte da fotografia e Fernanda explorando os limites do corpo e sua plasticidade na arte da dança. Quanto aos meus orientandos, numa relação diferente, mas igualmente afetiva, a esperança de que tenham tido a oportunidade de fazer suas escolhas e que elas tenham sido significativas nas suas vidas. Com certeza me ajudaram a conhecer outros mares... Em relação a todos, a esperança de que nas suas escolhas tenham preservado valores que me são caros: respeito ao diverso, humildade, consideração fraternal pelo outro e pela liberdade, igualdade e uma curiosidade infinita para tentar entender o que significa ser humano nesse planeta que nos acolheu.
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Vantagem competitiva na pequena empresa – Almoço no Candidu's em Mossoró. Bom quissó! Publicado originalmente em 14 de março de 2012.
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m grupo de doutorandos me levou hoje para almoçar no Candidu's do bairro Abolição em Mossoró. Desfrutei da companhia agradável de Liana, Adriana, Thaiseany, Ana
Maria e Álvaro e da saborosa comida regional. Carne
de sol na nata, arroz de leite, baião de dois, torresmo, farofa de carne e
outras delícias. A buchada de bode e sarapatel resolvi deixar para uma
próxima visita! Além disso, os doces estavam bons quissó! Gargamel, cocadão e torta de banana e outros que não consegui experimentar. Já estava de bucho cheio! Correndo o risco de pegar umas carnes! Mas, haverá outras oportunidades... O Cândidu’s existe há trinta anos conforme pude perceber em uma faixa comemorativa que estava na entrada. Essa longevidade de pequenas empresas é um estudo esperando para ser feito. O que explica que entre milhares de pequenas empresas que abrem suas portas, a grande maioria encerra atividades precocemente e poucas conseguem chegar à casa das dezenas de anos? Do ponto de vista da literatura em estratégia, a permanência das empresas no mercado está associada à capacidade de criar e manter vantagem competitiva que leva a desempenhos superiores. Quando se fala de pequena empresa, parece que as opções de vantagens competitivas não são tão numerosas quanto as possíveis em médias e grandes empresas. Mais de uma vez já defendi a ideia de que em uma pequena empresa, que assim permanece por longos períodos, na qual seus proprietários/dirigentes não manifestam a intenção de crescer, uma vantagem competitiva importante, embora pouco defensável, é a localização. Estar próximo a uma comunidade com população suficiente que precisa de produtos ou serviços adequados, mas que não valem um esforço muito grande de deslocamento, é uma característica de inúmeras pequenas empresas, tais
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como, panificadoras, açougues, farmácias, bazares, mercearias, pequenos supermercados, butecos, entre outros. Mas, assim como os dirigentes dessas empresas souberam escolher uma localização vantajosa, outros poderão fazê-lo e passarão a disputar o mesmo mercado, eliminando a vantagem competitiva. Nesse momento, minha hipótese é que outras vantagens competitivas, ligadas à história e trajetória de cada empresa e seus dirigentes fazem valer seus efeitos positivos. São os frutos de uma história de proximidade junto aos clientes e de flexibilidade no atendimento às suas necessidades que levam às pessoas a manterem-se fiéis aos seus fornecedores de pequeno porte. É a relação afetuosa, com calor humano, que ainda se encontra no mundo dos negócios. Poderia dizer que são as vantagens competitivas “path-dependent”, mas acho essa expressão a manifestação mais exacerbada do pedantismo acadêmico tupiniquim na administração! Como se diria por aqui: — É coisa de cabra que quer botar banca! Num sabe? É bom mangar dos doutores de vez em quando. Mas eu vou parar por aqui, pois já estou falando mais que a preta do leite! Ôxente!
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Sleeve Juice e Pequeno Almoço! Atribulações linguísticas do turista e as oportunidades na hotelaria Publicado originalmente em 12 de março de 2012.
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stou no Rio Grande do Norte, na cidade de Mossoró, onde a PUCPR está iniciando um DINTER em parceria com a UFERSA. Hoje, pela manhã, fui me servir de suco no café-da-manhã e havia duas opções no hotel em que estou hospedado:
laranja e manga. Em inglês: orange e sleeve juice! Fiquei pensando no falante de lingua inglesa tentando entender o que seria um sleeve juice e, ainda mais, se teria coragem de experimentar! Obviamente, a oferta era de mango juice, já que sleeve é outro tipo de manga, a de camisa. Esse episódio me fez pensar sobre as oportunidades que muitos pequenos empreendimentos hoteleiros terão em 2014 e 2016 com a realização no Brasil de dois grandes eventos esportivos: Copa do Mundo e Olimpíadas. A afluência de turistas de muitos países do mundo trará chances de faturamento maior e, junto com eles, as dificuldades de comunicação. Não é por acaso, que ocorreram iniciativas do governo para melhorar as competências linguísticas de trabalhadores, gestores e proprietários de empreendimentos turísticos no domínio do inglês, principalmente, mas também do espanhol. Programa desenvolvido pelo Ministério do
Turismo, em parceria com uma grande Fundação privada brasileira, esteve recentemente na mídia porque a taxa de conclusão dos cursos ofertados à distância, pela internet, ficou muito abaixo das metas estabelecidas. Forçando uma revisão dessa estratégia de capacitação. Mas, o esforço importante de preparação dos empreendimentos de hotelaria, especialmente, com os pequenos não podem ser focados unicamente na capacidade de comunicação eficiente com turistas. Devem envolver, também, esforços de melhoria de serviços de recepção, atendimento, hospedagem, infraestrutura, alimentação e entretenimento. A melhoria da gestão dessas pequenas empresas e de sua capacidade de
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prestar serviços é parte fundamental na consolidação de atrativos turísticos pelo Brasil afora. Mas, voltando ao sleeve juice, as situações engraçadas na comunicação entre falantes de línguas diferentes podem ocorrer também entre falantes de uma língua comum. Escrevendo este post, lembrei-me de uma viagem a Portugal que fiz com familiares e amigos há muitos anos atrás, quando estava na Inglaterra fazendo o doutorado. Chegando a Lisboa, fomos procurar acomodação para um grupo de nove pessoas e no primeiro hotel perguntamos se a diária incluía o café-da-manhã. A resposta da velha senhora portuguesa foi: — A diária inclui hospedagem e pequeno almoço. Levou alguns minutos e várias repetições da pergunta — E o café-da-manhã? – para que eu e meu amigo Fábio conseguíssemos aprender que pequeno almoço em Portugal é o nosso café-da-manhã!
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Para que serve um TCC no curso de administração? Publicado originalmente em 09 de março de 2012.
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post abaixo me fez pensar nas experiências que tive com projetos desse tipo nesses 31 anos de carreira docente:
“Universidade de Curitiba barra TCC voltado à
inclusão de pessoas com deficiência” (http://www.gazetadopovo.com. br/blog/inclusilhado/?id=1231816&tit=universidade-de-curitiba-barra-tcc-voltado-a-inclusao-de-pessoas-com-deficiencia). Já passei por cinco instituições de ensino e, em todas elas, era possível que os alunos e alunas desenvolvessem projetos de conclusão de curso na forma de planos de negócios. Em pelo menos uma delas, havia essa restrição relacionada ao caráter inovador do novo negócio. O que parece ser uma boa ideia. Mas, isso sempre me incomodou, pois enxergava nessa restrição uma ingerência sobre a vontade de pessoas que poderiam se dedicar com muita intensidade a um projeto que lhes interessasse de forma genuína, mas se viam obrigadas a dedicar tempo e energia em algo que tivesse um caráter “inovador”. Assim, muitas vezes, os estudantes de administração eram empurrados a pensar em um projeto que fosse considerado inovador pelos docentes envolvidos nessa etapa da formação. E tiveram, muitas vezes, projetos “inovadores” recusados por coordenadores que, por qualquer motivo, consideravam a priori a inovação inviável. Ossos do ofício?
Creio que esse osso poderia ser posto de lado, evitando o risco de julgamentos como o descrito no blog de Rafael Bonfim. O problema é que a formação em Administração não é exclusivamente voltada para a inovação. E nem deve ser. Exigir de seus alunos que façam seus projetos de conclusão de curso orientados para a inovação parece que é algo bom, mas não é a única forma de empreender quando se toma essa ideia como a abertura de um novo negócio.
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O plano de negócio pode ser uma experiência de aprendizagem integradora muito útil para alunos de Administração. E essa experiência pode se dar na forma, até mesmo, de um projeto de um novo açougue, uma nova padaria, loja de confecções, pequeno supermercado (vejam o post “Zezinhooo... Vai lá no Gimenez”), entre outras, cujo caráter inovador é praticamente nulo. Mas, para a formação de uma administradora ou administrador, esse plano de um novo negócio “tradicional” permitirá uma reflexão e retomada de conhecimentos adquiridos ao longo de três anos ou mais, que darão a eles uma visão holística da profissão que passarão a exercer. Deixemos a inovação surgir naturalmente nos projetos dos alunos, incluindo-a como um tópico sempre presente nas disciplinas do currículo. Minha intuição é que, quando isso acontecer, poderemos alcançar uma taxa maior de projetos de conclusão de curso que são efetivamente transformados em novas empresas. Do ponto de vista social, creio que uma medida de eficácia da formação de administradores mais relevante é a sedução (sim, para mim a educação é um processo de sedução) desses alunos para uma carreira como dirigentes de novos negócios, pensados e planejados por eles, independente de seu grau de inovação. Minha experiência com esse tipo de atividade revela, infelizmente, que esse evento ainda é raro entre os alunos que dedicam seis meses ou mais de seus estudos a um projeto que é só para “inglês ver”. Nas dezenas de bancas que participei em TCCs dessa natureza, sempre fiz essa pergunta: — E aí turma? Esse projeto é pra valer? Vai ser implantado? A resposta, em mais de 95% das vezes, foi algo assim: — Professor, a gente encarou isso apenas como mais uma exigência para obter o canudo! É uma pena!
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— Zezinhoooo! Vai lá no Gimenez... Publicado originalmente em 03 de março de 2012.
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uando publiquei “O Estrategista na Pequena Empresa”, na introdução relatei que meus irmãos e eu passamos boa parte da infância brincando no supermercado que nossos pais haviam criado na esquina da Paranaguá com Goiás, em Londrina. Com o passar dos anos, a pequena empresa de meus pais deixou de ser um espaço de brincadeiras, tornando-se o local de nosso primeiro envolvimento com o trabalho. Essa pequena empresa e as pessoas que nela trabalharam ou que foram seus clientes (“fregueses” no dizer de meus pais) povoam parte de minha memória com lembranças que, às vezes, ainda hoje, depois de muitos anos de seu fechamento, servem de exemplo para ilustrar um ou outro aspecto do empreendedorismo e da administração de pequenas empresas em minhas aulas. Outro dia, quando estava acompanhando minha mãe nas compras em uma loja de uma grande rede de supermercados que se instalou em Londrina, encontramos o José Brunelli, irmão da Margarida, filho da Dona Letícia, que fora freguesa durante toda a existência do Supermercado Gimenez. O José, depois dos abraços e cumprimentos calorosos que marcam o reencontro de pessoas que se tornaram amigas, indo muito além da relação comercial, me disse: — Fernando, sabe que algo que nunca esqueço são os momentos em que minha mãe me chamava e dizia: “Zezinhooooo! Vai lá no Gimenez e me traz....”. E continuou: — Foram infinitas idas ao Gimenez...
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Assim como o Zezinho, muitos outros filhas e filhos atenderam a esse chamado: “Vai no Gimenez e me traz uma caixa de sabão, uma lata de óleo, cinco pães e um litro de leite. Fala pro Seu Christovam ou pra Dona Kilda marcarem. Depois eu passo lá e pago.” Uma pequena empresa que existiu por algumas décadas no mesmo local, deixa de ser apenas um espaço de trocas comerciais e torna-se um lugar onde laços de amizade e companheirismo se formam e permanecem. Assim como os Brunelli, meus pais estabeleceram relações de amizade com os Fernandes, os Amaral, os Ferrari, os Gorini, aquela família de “turcos”, como era mesmo o sobrenome? Além desses, a família do Prof. Samuel Fabri, do Dr. Moisés Godói, Seu Souza e Maria Luíza, Dona Catarina e seus filhos, Zanda Amaral e seu Arnaldo com os filhos, os Garcia Lopes, a família da Jane, Magali e Divina, os Gonçalves, e muitos outros que estão na minha memória e, certamente na de minha mãe e na de meus irmãos. Esse encontro com o Zezinho Brunelli me veio à mente quando estava lendo a edição especial da Entrepreneurship Theory and Practice, uma das revistas mais importantes do campo do Empreendedorismo, que foi lançada em janeiro deste ano. O tema da edição especial é “O coração do empreendedorismo” e contém oito artigos que abordam os mais variados aspectos da relação das emoções com o empreendedorismo e a administração de pequenas empresas. Essa leitura me fez lembrar de um livro publicado por Stafford Beer, uma das pessoas mais brilhantes que tive o privilégio de conhecer quando fiz meu doutoramento na Inglaterra. Em 1979, Stafford Beer publicou um livro cujo título era “ O coração do empreendimento” (The heart of enterprise) cujo propósito foi complementar seu livro anterior “O cérebro da firma” (The brain of the firm) publicado em 1972. O professor Stafford
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Beer, nessas duas obras, defendia um modelo que tratava as organizações como sistemas viáveis e propunha princípios de administração. Mas, algo que aparentemente parecia embutir a frieza do conhecimento científico racional era carregado de emoções, pois para Stafford Beer “a administração que é profundamente baseada em quaisquer princípios científicos, e não tem ‘coração’, no sentido de consideração humana, não será bem sucedida”. Explicar a permanência de pequenas empresas durante décadas em um mercado que é cada vez mais competitivo e dominado por grandes redes não é uma tarefa acadêmica fácil. Há uma quantidade tão variada de coisas que podem se relacionar com o fracasso ou sucesso de uma pequena empresa, que até hoje, apesar dos esforços dos estudiosos, temos muitas certezas e, também, muitas dúvidas. Mas, nesses 30 anos que tenho dedicado a essa tarefa, carrego comigo uma certeza que não aprendi nos bancos escolares, mas sim no convívio com meus pais no tempo em que os ajudei no supermercado: tão importante quanto o sucesso financeiro e econômico, a administração de uma pequena empresa bem sucedida depende de laços afetivos entre os que nela trabalham e os que dela dependem para a aquisição de produtos ou serviços em sua vida. Talvez, para explicar essa presença da pequena empresa em nossa sociedade, precisamos olhar além da academia e, por exemplo, refletir sobre os versos de Pablo Neruda: “Assim cada manhã de minha vida trago do sonho outro sonho”. Há, na ação dos proprietários de pequenas empresas, a representação de um sonho que é renovado a cada dia. Anos depois, é bom lembrar que os sonhos de Kilda e Christovam marcam as memórias de muitos Zezinhos, Joãozinhos e Mariazinhas.
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Quadra Cultural: que empreendedorismo ĂŠ esse? Publicado originalmente em 25 de fevereiro de 2012.
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Quadra Cultural está acontecendo hoje no bairro São Francisco em Curitiba, entre as ruas Paula Gomes e Duque de Caxias. Iniciativa do dono do bar O Torto, é a quarta edição anual que traz apresentações
musicais e teatrais para públicos de todas as idades, além de barracas
com alimentação e outros produtos e serviços à venda ou distribuidos
gratuitamente. Estive lá e me encantei com a voz da cantora da banda Wandula e o som dos instrumentistas. Peguei, também, os quatro folhetos-conto, ou contos-folheto? Iniciativa que marca o lançamento do selo Tulipas Negras com a publicação de quatro pequenos contos no formato de folhetos – Helena de Renan Machado, Pantera de Fábio Campana, Compressa de Cristiano Castilho e 934 de Marcio Renato dos Santos – distribuídos gratuitamente. De quebra, por alguns minutos me deliciei com o teatro de bonecos Terezinha, uma história de amor e perigo. Mas, o que isso tudo tem a ver com empreendedorismo? Uma vez, ouvi um governador do Paraná dizer, em uma cerimônia pública, que “essa história de empreendedorismo é coisa de ladrão!”. Obviamente, fiquei chocado, mas no meu esforço constante de pesquisador procurei entender o significado das palavras e aceitei a possibilidade desse sentido, quando enxergamos frequentemente uma ação empreendedora orientada exclusivamente pela busca do lucro a qualquer custo, independente dos possíveis efeitos prejudiciais e sem preocupação com qualquer intenção compensatória aos prejudicados. Mas, empreendedorismo em geral não é coisa de ladrão. Muito pelo contrário, é possível empreender com senso de justiça social. Ganhar dinheiro sem perder a ternura!
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Alguns poderiam dizer que a Quadra Cultural é uma espécie de empreendedorismo distinto do empreendedorismo empresarial, talvez um empreendedorismo cultural e social. É possível. Se notarmos a prevalência de atividades ofertadas ao público sem nenhuma troca pecuniária, apenas interação social, prazer e emoção parecem ser enfatizadas nesse evento. Pode ser, também, um empreendedorismo coletivo, se houver o envolvimento de outros parceiros além do idealizador, Arlindo Ventura. Mas, para mim a Quadra Cultural representa também o empreendedorismo sem adjetivo, que é além de cultural e social, empresarial também. Ou seja, sendo tudo, é o tipo puro: uma ação empreendedora iniciada por um dirigente de uma pequena empresa, ativista cultural, que oferece à sociedade, além do famoso bolinho de carne do Torto (que deve ser muito vendido hoje), um espaço de lazer e informação valioso. Empreender é isso: conciliar o interesse do empreendedor com os desejos e interesses de outros, oferecendo e recebendo recompensas de forma justa. Sem exploração ou roubo!
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Crédito: Sandra Sebastião
O Artista: permanência, mudança e lealdade ou “Se você quer ser empreendedor precisa ter o que os outros não têm” Publicado originalmente em 21 de fevereiro de 2012.
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ssisti nessa noite “O Artista”, filme mudo de Michel Hazanavicius produzido em 2011, que conta a história de George Valentim, ator bem sucedido do cinema mudo, que precisa enfrentar a decadência na carreira com o surgimento do cinema falado. Com atuações primorosas de Jean Dujardin, no papel principal e Bérenice Bejo, como a figurante Peppy Muller, que conhece George em uma filmagem e acaba se tornando uma estrela de Hollywood na novidade do cinema falado, a trama me fez refletir sobre como lidamos com a mudança, nosso desejo de permanência e a importância da lealdade em nossa vida. Mais que tudo, quando Peppy e George se conhecem e aparentemente se sentem atraídos, uma fala deste para aquela me chamou a atenção. Diz ele, ao fazer uma pinta com lápis de maquiagem na face de Peppy, o que a deixa belíssima e praticamente irresístivel: — “Se você quer ser atriz, tem que ter o que as outras não têm.” A partir daí a história vai se desenrolando, com uma vertiginosa e bem sucedida carreira de Peppy, enquanto que George Valentim começa a ver a sua ir ladeira abaixo. Nessa trajetória, Valentim conta com a lealdade canina de seu pequeno cão, que também estrelava seus sucessos no cinema mudo e de seu chofer, vivido pelo veterano ator James Cromwell, um misto de faz-tudo, de lealdade quase que canina, que segue com o ator decadente por um ano sem receber salário. Além da beleza e ousadia do filme, filmado em preto e branco, reproduzindo o formato dos filmes mudos do início da história do cinema, inclusive nos créditos iniciais, e trilha sonora muito bem ajustada aos diferentes humores do filme, vi nele uma metáfora para o empreender.
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Para mim, a ação empreendedora demanda uma constante busca do equilíbrio entre o permanente e o mutável. O sucesso de empreendedoras e empreendedores depende muito de sua capacidade de perceber quando a aposta no mesmo de ontem ainda é valiosa e, quando guiadas(os) por transformações ao seu redor, percebem a hora de mudar. Meu amigo Paulo Grave, há poucos dias, chamou minha atenção para algo fundamental: a capacidade essencial do empreendedor não está na sua experiência anterior, que apenas lhe permite reproduzir o que fez, caso nada tenha mudado, mas sim em prognosticar o momento de inovar. Nessa hora, sua experiência será menos importante do que a competência em criar algo novo que se ajuste ao diferente que será enfrentado. É este o drama vivido por George Valentim, que aposta na sua experiência e fracassa ignorando os desejos do público. Mas, nem tudo está perdido. No momento derradeiro, quase desesperador, Peppy Muller, tão leal quanto o cão e o chofer de George, embora movida por outro tipo de amor, encontra uma saída. Não direi qual é para não desmanchar o prazer de quem ainda não viu o filme. E assim, acabo enxergando mais um fator essencial para a ação empreendedora. Longe de ser algo que se faz sozinho, empreender só é bem sucedido quando se conta com a lealdade daqueles que nos ajudam: os coadjuvantes (colaboradores) que podem assumir papéis centrais na trama fascinante do empreendedorismo. Ou seja, se você quer empreender, precisa ter o que os outros não têm! P.S.: Tão bom quanto ver o filme junto a Sara, foi encontrar Roberta e Tomás que não víamos há muito tempo e cujo afeto me é muito valioso.
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Da sustentabilidade Para Sara, que encontrei em um outono. Publicado originalmente em 23 de maio de 2012.
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oje, ao acordar, a primeira que coisa que fiz, após o carinhoso abraço de Sara, foi ler uma crônica de Affonso Romano de Sant’Anna. Desde muito, o livro Tempo de Delicadeza, publicado pela L&PM no for-
mato de bolso, estava no criado mudo aguardando pelo meu olhar. Nessa
crônica, que dá título ao livro, em contraponto à vida cada vez mais
áspera, violenta, rápida e grosseira, o poeta nos convida à delicadeza, seja a de Ghandi, a de São Francisco ou até mesmo a de Guevara. Recentemente fiz uma incursão em alguns escritos que tratam da ideia da sustentabilidade e do desenvolvimento sustentável. Movido por um interesse profissional, me preparava para o concurso de professor titular na Universidade Federal do Paraná, pude apreciar de forma mais organizada a beleza desse sonho que é compartilhado por um número crescente de pessoas, mas ao mesmo tempo, não pude deixar de registrar os limites de sua possibilidade. Na administração, os princípios do desenvolvimento sustentável se refletem em discussões e proposições sobre justiça organizacional, ética nos negócios, gestão socioambiental, responsabilidade social corporativa, preocupação com os stakeholders e outros temas. Em síntese, o desejo da sustentabilidade pode ser resumido na busca por uma vida confortável para todos, com uso consciente dos recursos naturais de que dispomos, preservando nosso planeta para as futuras gerações. Tudo isso com equidade social no acesso ao conhecimento e aos frutos da evolução do conhecimento humano. Mas, os desafios da sustentabilidade são enormes. E, especialmente, conflituosos com nossa forma de vida guiada pelo sistema capitalista de produção, acumulação e distribuição de riqueza. Nessa sociedade em que o princípio do lucro se sobrepõe ao princípio da equidade no bem viver
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para todos, a preocupação com práticas sustentáveis só estará presente enquanto estas contribuírem para o lucro crescente. Qualquer ameaça à lucratividade poderá reduzir os esforços da responsabilidade social corporativa. É isso que me faz indagar: é a sustentabilidade sustentável no nosso modo de vida contemporâneo? Quando foco minha atenção para as pequenas empresas, percebo que essa fragilidade da aplicação da responsabilidade social corporativa se acentua. Os desafios da sobrevivência e da permanência, em um mercado dominado por grandes corporações, levam a um predomínio da razão prática, deixando de lado a preocupação com o humano, no sentido de relações de trabalho mais justas, por exemplo. Além disso, na própria relação das grandes empresas com as pequenas, quando o desempenho econômico-financeiro das primeiras pode ser diminuído, as práticas da responsabilidade social corporativa são postas de lado. O mundo real está repleto de histórias. Procure algum empreendedor de uma pequena empresa que negocia com as maiores e, com certeza, algum caso poderá ser contado. Mas, se você deseja ver até que ponto a crueza e a violência desse convívio podem chegar, leia A Caverna de José Saramago. Nesse romance Saramago narra as dificuldades do oleiro Cipriano Algor. Cipriano descobre, certo dia, que seus produtos não são mais desejados pelo mercado e que ele, como diria um professor de estratégia, precisa reposicionar sua empresa. É nessa tentativa que Cipriano vai se relacionar com os administradores do Centro. Brilhante metáfora de Saramago para essa figura imprecisa, mas onipresente em nossa vida, o Mercado. Nessa relação é que, um dia, Cipriano ao terminar uma conversa com um dos gestores do Centro, sai a refletir: Se te espetam uma faca na barriga, ao menos que tenham a decência moral de te mostrarem uma cara que seja conforme com a acção assassina, uma
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cara que ressumbre ódio e ferocidade, uma cara de furor demente, até mesmo de frieza desumana, mas por amor de Deus, que não te sorriam enquanto te estiverem a rasgar as tripas, que não te desprezem a esse ponto extremo, que não te deem esperanças falsas, [...]
Se desejamos mesmo que a sustentabilidade seja uma presença concreta, ainda que intangível, na vida das organizações, parece que transformações em nosso modo de vida precisam anteceder à sustentabilidade. Em particular, a Administração precisa ser ressignificada. Para isso, meus amigos Ariston e Paulo, já chamaram a atenção quando disseram: A administração é uma ação virtuosa. Enquanto tal, ela se dá no âmbito das organizações, como formas sociais modernas que produzem bens úteis. Embora o seu âmbito de ocorrência seja as organizações, isto não significa dizer que as mesmas encerrem sua finalidade. Pelo contrário, a finalidade da administração ultrapassa os fins organizacionais, pois que está teleologicamente comprometida com a existência humana; não uma existência qualquer, diga-se, mas aquela em que o homem vive bem (AZEVEDO; GRAVE, 2008).
Mais ainda, [...] importa perguntar qual a importância da administração para que possamos lograr o alcance do viver bem coletivo? Se houver um fim humano último, ou bem supremo, ou um bem maior, a administração deve contribuir para o seu alcance, de modo, pelo menos, indireto; do contrário, a administração, como um ato que é mundano, não teria sentido ou importância para a humanidade. Sendo o que é, conforme estamos defendendo, tal fenômeno acaba por se nos apresentar como um dos inúmeros instrumentos dos quais o homem se vale para resolver suas questões de vida, especialmente as relacionadas ao seu cotidiano. Neste sentido, ela estaria voltada para o bem, um bem que é coletivo, e não individual apenas, como temos verificado cotidianamente (AZEVEDO; GRAVE, 2008).
Para concluir impossível, para mim, não lembrar Dersu Uzala, filme de Akira Kurozawa lançado em 1975, e merecedor do Oscar de melhor
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filme estrangeiro em 1976. O filme relata a amizade que surge entre um caçador asiático e um capitão do exército russo, resgatado pelo primeiro na Sibéria. Ao ser levado para a cidade, o caçador questiona os padrões de vida da sociedade, em conflito acentuado com seus costumes. Inesquecível para mim, mais de 30 anos depois de ter visto o filme, é uma cena em que Dersu (o caçador) depois de passar uma noite em uma cabana no meio da mata, ao levantar-se de manhã, antes de partir, deixa tudo muito limpo e organizado, dizendo que é preciso pensar naqueles que um dia poderão precisar dessa cabana. Uma imagem incrivelmente bela e poética do que precisamos fazer com nosso planeta. Ou seja, um mundo onde impere a delicadeza proposta por Sant’Anna e praticada por Sara na gestão hospitalar, que reflete sua inspiração nos estudos da hospitalidade e seu aprendizado na vida profissional em uma pequena empresa e no seus tempos de maruja no Mykonos de Ubatuba. P.S.: Não deixe de ler o texto de Ariston e Paulo cuja referência é: AZEVÊDO, A.; GRAVE, P. S. Prolegômenos a toda administrologia possível: administração – o que é isso?. In: XXXII Encontro Nacional da ANPAD, 2008, Rio de Janeiro. Anais Eletrônicos do XXXII Encontro Anual da ANPAD, 2008 .
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Que nome dar Ă empresa? Publicado originalmente em 16 de maio de 2012.
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credito que a empreendedora ou o empreendedor passa por alguns momentos de angústia quando tem que batizar a empresa que está criando. O nome da empresa passará a fazer parte
de sua identidade. É preciso escolher um nome que passe alguma mensagem significativa ao mercado e, ao mesmo tempo, que agrade a quem
está empreendendo. Se possível, o nome da empresa deve ser escolhido de forma ambiciosa para que se torne uma marca reconhecida por muitos. Não é uma tarefa fácil! Tendo vivido em Londrina boa parte de minha vida, eu acabei me tornando um cliente fiel do Salão King’s, onde sempre fui atendido pelo Jair. De vez em quando, se estou de passagem por Londrina, ligo para o Jair e passo por lá para cortar o cabelo e barba. Essa relação já tem uns trinta anos. Nos anos que vivi em Maringá tomei conhecimento de uma história muito peculiar. Londrina e Maringá estão separadas por apenas 90 quilômetros. Toda vez que precisava de um corte de cabelo eu viajava para Londrina. Depois de algum tempo de vida naquela cidade, tive que escolher um novo salão para fazer a barba e cortar os cabelos. Foi nesse dia que Sara me disse: — Por que você não corta o cabelo com o Carlos? É aqui perto de casa e o meu irmão diz que ele é muito bom. Realmente o Carlos é muito bom profissional e acabei me tornando seu cliente também. Depois de algumas idas ao salão onde o Carlos trabalhava, um dia perguntei: — Carlos, de onde vem o nome do salão de vocês? (O salão é da sogra, de sua esposa e dele).
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— Fernando, foi minha sogra que escolheu o nome. — Mas é nome da família? O Carlos riu e disse: — Não. Antes de abrirmos esse salão, minha sogra trabalhava em outro que existe há muitos anos em Maringá. O Salão Royal. Minha sogra comentou com a proprietária que tinha o desejo de abrir seu próprio salão. — Legal, eu disse. É muito comum isso acontecer. Empregados que tem uma boa habilidade em determinada profissão, acabam deixando o emprego e abrindo sua própria empresa. — Pois é, continuou o Carlos. A minha sogra pediu alguns conselhos para a proprietária do Salão Royal. Ela deu muitas dicas, mas chamou a atenção para algo muito importante. — O que era? — A dona do Salão Royal é descendente de japoneses e ela disse que minha sogra deveria escolher muito bem o nome do salão. Deveria ser algo que significasse crescimento! Foi assim que surgiu o Salão Fleischmann!
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Trajetórias empresariais femininas: o encontro entre realidade e ficção Para Kilda Maria Publicado originalmente em 08 de maio de 2012.
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literatura de empreendedorismo aborda com frequência as diferenças de percurso, de estilo, de desempenho e dificuldades enfrentadas pelas mulheres empresárias em comparação com seus pares masculinos. No caso das mulheres empreendedoras, entre as principais dificuldades para se inserirem no mundo empresarial, estas enfrentam maiores barreiras no acesso a fontes de financiamento e dificuldades associadas ao que se denomina dupla jornada de trabalho feminino, ou seja, a acumulação de atividades empresariais com as atividades do lar, como mães ou esposas, que são ainda culturalmente e socialmente determinadas como mais inerentes à mulher do que ao homem. Por outro lado, as filhas enfrentam maiores barreiras em processos sucessórios nas empresas familiares do que os filhos de fundadores. Muitas vezes, estas não são nem consideradas como potenciais sucessoras e ficam à margem de programas de preparação de sucessores naquelas empresas que se organizam com antecedência para o momento de transição. Nosso grupo de pesquisa está envolvido em um projeto voltado para a identificação das trajetórias empresariais de mulheres que conseguiram vencer as barreiras do mundo empresarial e se tornaram dirigentes de empresas familiares ou criaram empresas próprias. Nesse estudo, as trajetórias femininas serão descritas com base na percepção das mulheres sobre os seguintes aspectos: a) história de vida englobando origem familiar, composição da família e formação educacional; b) trajetória profissional com ênfase nas razões para empreender ou tornar-se dirigente empresarial e como se deu o envolvimento com a atividade empresarial; c) autopercepção como empreendedora ou dirigente empresarial explorando a conciliação entre os diferentes papéis exercidos, suas atividades
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e expectativas e aspirações pessoais e empresariais; e d) percepção do mundo de negócios com seus aspectos facilitadores e dificultadores do exercício do papel de empresária. Estudos anteriores abordaram uma diversidade de aspectos das trajetórias femininas no mundo empresarial. Por exemplo, a conciliação trabalho-família é uma dimensão constantemente explorada. Outro aspecto frequente na literatura é a possível diferença de desempenho entre empresas criadas ou geridas por mulheres em comparação aos homens. É claro que possíveis diferenças não podem ser explicadas unicamente em função do gênero, mas alguns resultados apontam para um desempenho inferior das empresas das mulheres, o que evidencia a necessidade de explorar que condições estão associadas a este fenômeno. Não se pode aceitar que haja diferenças de competências empresariais entre homens e mulheres hoje em dia que poderiam levar a desempenhos diferentes. A participação feminina no mundo escolar e nas universidades é igual à masculina, portanto há outros fatores que estão causando essa diferença. Outro foco de atenção os estudos relatados na literatura é a motivação para empreender. A professora Hilka Machado, da UEM, que é umas das pesquisadoras brasileiras de maior destaque no tema, evidenciou em seus estudos que as principais razões para empreender mencionadas por mulheres são a realização profissional. A percepção de uma oportunidade de mercado e a falta de perspectiva no emprego anterior ou desemprego. No que diz respeito à forma de gestão das empresas, há evidências na literatura que reforçam a existência de diferenças estilísticas entre homens e mulheres. As mulheres tendem a um compartilhamento de informações e preocupação com o ensinamento de outros. Além disso, em geral, a maneira de gestão feminina tende a ser participativa e democrática. Outros aspectos mencionados na literatura são um ritmo de
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trabalho intenso, elevado nível de autoexigência e de seus colaboradores, com muita autoconfiança e obstinação. Nossa expectativa em relação a esse projeto é aprofundar as discussões encontradas na literatura, mas também subsidiar a formulação de políticas públicas que incrementem efetivamente a inclusão das mulheres, de forma mais acentuada, no mundo dos negócios. Mas, a inspiração para esse tipo de estudo não vem só da academia. Muitas vezes, os escritores da literatura de ficção são capazes de retratar o drama empreendedor muito acuradamente. Lembro-me do dia em que participei da defesa da tese de doutoramento da Jane Ferreira, que fez um belíssimo estudo sobre cinco empresárias curitibanas, apresentado na tese “A ação de empreender sob a perspectiva sócio histórica de González Rey” que foi desenvolvida no Doutorado em Administração da Universidade Positivo. Nessa tese, Jane juntou uma excelente capacidade de análise científica com uma sensibilidade quase poética na descrição das cinco histórias empreendedoras. Foi essa sensibilidade que me fez lembrar alguns contos do escritor peruano Julio Ramón Ribeyro publicados em sua coletânea “La palavra del mudo”, volume I. Esse escritor, cuja obra conheci recentemente, no final de 2011, tem uma habilidade impressionante para narrar pequenas histórias. Entre elas, a estória de Mercedes, que sonhava ter uma pequena quitanda, mas quis o destino que esse sonho teria que esperar um pouco mais. O conto se chama “Mientras arde la vela” e foi escrito em Paris em 1953. Ou então, a hilariante história de um desempregado dando explicações a um policial sobre sua situação de embriaguês e como isto se relacionava ao seu plano de abrir uma empresa. Esses contos nos ajudam a compreender de forma mais completa a experiência humana de sonhar e empreender.
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E é nessa toada, que recordo a experiência de Kilda Maria, minha irmã, que sonhou com e criou uma escola de línguas que entrou na vida de muitas crianças londrinenses durante os anos em que funcionou. Na Littera, Kilda pode experimentar os prazeres da realização pessoal, vivenciar as angústias da gestão cotidiana de uma pequena empresa, sofrer a dor da traição de uma sócia em que tanto confiava e aplicar seu estilo na lida com as suas colaboradoras. Mas, embora nunca tenhamos falado sobre isso, tenho certeza que ela guarda na memória muito mais as alegrias do que as dores do empreender e, assim como muitas empreendedoras, marcou a história de vida daquelas que com ela trabalharam.
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Buscando o DNA do empreendedor Publicado originalmente em 03 de maio de 2012.
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autor da expressão que dá título a esse post foi o Bruno Henrique Fernandes, professor do Programa de Mestrado e Doutorado em Administração da Universidade
Positivo. Bruno, João Carlos de Andrade, Cristina Peters Tetto, Yára Bulgacov e eu desenvolvemos um projeto de pesquisa, em parceria com o SEBRAE/PR, cujo objetivo era identificar variáveis que se revelassem significativas para associar determinados perfis empreendedores a tipos de negócios específicos. Nosso projeto envolveu a análise de aspectos vinculados a três tipos de variáveis relacionadas ao estilo de vida do potencial empreendedor, áreas de conhecimento relevantes para o tipo de negócio a ser aberto e dimensões do ambiente competitivo no qual seria aberta a futura empresa. Tendo por base um conjunto de 30 perfis de oportunidades de negócios, foram elaboradas 36 questões para compor um instrumento de coleta de dados junto a empreendedores. Cada questão era avaliada em um escala do tipo Likert, sendo que as questões foram inicialmente validadas em um workshop com técnicos do SEBRAE/PR, para definir um perfil esperado de um potencial empreendedor em cada tipo de negócio. Em seguida, foram coletados dados com 30 empreendedores bem sucedidos buscando comparar o perfil ideal com o perfil dos empreendedores reais. Nossa expectativa era gerar um conjunto de perfis ideais que poderiam ser utilizados em programas do SEBRAE/PR voltados à orientação de pessoas interessadas em abrir uma empresa. Os perfis poderiam ser utilizados como um primeiro instrumento de triagem e avaliação do ajuste entre o futuro empreendedor e a ideia de empresa que buscava empreender. Como o instrumento usava uma escala do tipo Likert, Bruno brincou que estávamos buscando o DNA de diferentes tipos de
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empreendedores, já que o resultado do instrumento gerava uma série de números variando entre 1 e 5. A lógica subjacente a este estudo era orientada pela abordagem das configurações. Nesse sentido, configurações de diferentes estados de variáveis do indivíduo, da empresa e do ambiente de negócio podem surgir levando a formatos estáveis e instáveis. Os formatos estáveis têm um potencial de maior sucesso, enquanto que configurações instáveis levariam a empreendimentos mal sucedidos. Lembrei-me desse estudo hoje, quando estava assistindo ao filme argentino “Um conto chinês”. Nesse filme, o brilhante ator Ricardo Darín personifica um proprietário de pequena empresa, Roberto, que se vê envolvido com um chinês, que não fala nem uma palavra de espanhol, e que chega à Argentina em busca de seu tio, irmão mais velho de seu pai, único parente que lhe restara na vida. O filme é delicioso, e o personagem vivido por Darín é um solteirão, muito sistemático, altamente organizado, proprietário de uma pequena loja de ferragens. O personagem é tão sistemático que conta o número de parafusos que vem em cada caixa que recebe para verificar se é a quantidade marcada na embalagem. O que invariavelmente não é, deixando-o muito irritado. Além disso, o personagem de Darín tem um horário rigidamente controlado, inclusive para cair no sono! O filme é imperdível! O personagem tem uma mania, que não vou revelar, pois está intimamente ligada a história de filme. O início dessa mania é altamente emocionante e nos faz pensar no lado absurdo de nossa vida. Para mim, o dono e a loja de ferragens se encaixam como luvas às mãos adequadas. Uma loja de ferragens, com uma quantidade imensa de produtos, de variados tamanhos, necessita de alguém muito organizado e sistemático para funcionar. O personagem de Darín e a pequena empresa são a representação ficcional daquilo que buscávamos em nosso projeto.
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Para o leitor que quiser conhecer um pouco mais do estudo, sugiro a leitura de um texto que publicamos em 2007, no III Encontro de Estudos de Estratégia, promovido pela ANPAD, cujo título é Potencial Empreendedor para Tipos de Negócios: um Estudo Exploratório. Além disso, a dissertação de mestrado do João Carlos, orientado pelo Bruno, pode ser acessada no sítio do Mestrado em Administração da Positivo, cujo título foi Dimensões da Prática Empreendedora: um estudo empírico com analistas e empresários, tendo sido defendida em 2008.
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Qualidade da administração em pequenas empresas: um projeto nascido no MINTER de Jaraguá do Sul Publicado originalmente em 01 de maio de 2012.
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m abril de 2010, o PPAD da PUCPR deu início ao Mestrado Interinstitucional em parceria com a UNERJ, que agora faz parte da Católica de Santa Catarina. Naquele ano, nas primeiras semanas de dezembro, fui a
Jaraguá do Sul ministrar a última disciplina do curso – Estratégia em Pequenas Empresas. Foi assim que começou um projeto de pesquisa que começa a mostrar seus primeiros resultados, muito animadores, com as defesas de dissertações de Carlos Senff e Marco Murara, no dia 27 de abril. Nove mestrandos se matricularam na disciplina que me coube nesse MINTER: Adriane, Aparecida, Carlos, Caio, Edson, Ricardo, Murara, Ulir e Vicente. Era meu retorno às salas de aula depois de um problema de saúde que me deixara “fora de combate” por algum tempo. Eu vinha com todo o gás! Os alunos, segundo alguns deles, estavam se arrastando, pois haviam passado por uma maratona de disciplinas ao longo de oito meses. A minha era a última! O prognóstico parecia desfavorável, mas o que essa turma não sabia era que tinham fôlego para muita coisa mais! Não me decepcionaram! Já fazia algum tempo que desejava explorar empiricamente uma ideia que o Professor Sérgio Zaccarelli expusera em um de seus livros – Estratégia e Sucesso nas Empresas. Nesse livro, o Professor Zaccarelli argumenta que o sucesso de uma empresa pode ser sintetizado na relação entre duas variáveis: qualidade do negócio e qualidade da administração. Por um lado, quanto maior a qualidade do negócio, maiores as chances de sucesso, mesmo em condições de qualidade da administração ruim. Por outro lado, uma qualidade da administração excelente pode superar as deficiências estruturais de um mau negócio. A beleza e a simplicidade
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dessa formulação constantemente me instigavam para testá-la. O problema maior estava em como mensurar a qualidade da administração de uma empresa, já que a qualidade do negócio há muito tempo pode ser avaliada com base, por exemplo, no modelo das cinco forças de Porter. Mas, qualidade da administração é um conceito tão amplo, envolve tantas dimensões, como se aproximar de sua medida? Esse foi o desafio que coloquei para a turma: vamos explorar esse conceito em pequenas empresas? Com o entusiasmo de todos, fizemos um exercício de brainstorming, buscando afirmações que completassem a seguinte frase: Minha empresa é bem sucedida porque eu... Inicialmente divididos em três grupos, os mestrandos geraram uma lista de mais de 40 afirmações. Em um segundo momento, essas afirmações foram compartilhadas e analisadas para verificação de sobreposições, alterações e exclusões. Ao final restaram 16 afirmações que compuseram uma escala que seria testada empiricamente com gestores de pequenas empresas. Surgia a Escala Jaraguá do Sul de Qualidade da Administração! A partir daí, os grupos foram a campo coletar respostas para essa escala, sendo que os dados coletados foram analisados no último encontro da disciplina. Esse primeiro esforço empírico resultou em cerca de 50 respostas coletadas em empresas de pequeno porte industriais, comerciais e de serviços. As análises indicaram boas qualidades estatísticas para esse teste exploratório, indicando a existência de quatro fatores componentes da qualidade da administração: Monitoramento Ambiental, Práticas Administrativas, Habilidade de Negociação e Capital Humano. Nosso entusiasmo com os resultados foi um estímulo para que Carlos e Murara decidissem explorar a qualidade da administração em pequenas empresas e sua relação com outros aspectos em suas dissertações que
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foram por mim orientadas. Carlos resolveu explorar as relações entre qualidade da administração, posicionamento competitivo e desempenho. Murara, por sua vez, estudou o processo de formação de estratégia, qualidade da administração e desempenho. Suas defesas foram bem sucedidas no dia 27. A Escala Jaraguá do Sul de Qualidade da Administração atraiu a atenção de outros mestrandos da PUCPR. Denize Moraes e Glauco Furstenberg estão fazendo estudos aplicando a escala e buscando sua relação com outras variáveis. Denize busca analisar as relações entre qualidade da administração, qualidade do negócio e desempenho – um teste da proposição de Zaccarelli. Glauco, assim como Murara, analisa a relação entre formação de estratégia, qualidade da administração e desempenho. As análises preliminares indicam resultados compatíveis com as duas dissertações já defendidas. Por fim, nos dias 27 e 28 passados tivemos um conjunto de defesas do MINTER de Jaraguá do Sul. Participei da banca em três, além de Carlos e Murara, a dissertação de Edson Halter, orientada pelo Paulo Mussi, tratou do modelo de Miles e Snow, contribuindo de forma significativa ao relacioná-lo com capacidades estratégicas. Além disso, tive a oportunidade de assistir a banca do Ulir sobre redes sociais em um evento cultural. Em Curitiba já tinha visto a defesa da Adriane, já que seu orientador, Jansen Del Corso, não poderia estar em Jaraguá do Sul nesses dias. Parabéns a todos e meu agradecimento especial aos nove profissionais, agora mestres, pela oportunidade de estudarmos juntos. Valeu!
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Posfácio
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uando o Fernando me pediu um “posfácio” para o seu livro, originário de um conjunto de postagens em seu blog, perguntei a ele o que seria isso, mais precisamente. Como guardo
um certo distanciamento dos novos espaços criados na internet, tinha
em mente a dúvida sobre se deveria ler o conteúdo como crônicas, diário de bordo, cartas a múltiplos destinatários, lições de um professor, etc. O Fernando me respondeu, rindo, que também não sabia. E sua resposta teve dois efeitos imediatos. O primeiro de me mostrar, de novo, o Fernando: simplicidade, bom humor, inteligência. O segundo, mais útil ainda para o cumprimento da tarefa, foi me deixar à vontade para falar livremente de sensações diversas provocadas pelos textos, e do Fernando. Forró de pé de serra, dentro de um taxi. Um emaranhado de teias de aranha. Janelas. O filme sobre Jung e Freud, e outros filmes. Lembranças delicadas da vida, da família, das viagens. Quase tudo em volta é motivo nesses textos, para voltar a falar na criação e administração das pequenas empresas, e sempre de uma maneira precisa e original. A Administração, para mim, é a ciência que tenta organizar a relação entre as pessoas e o mundo do trabalho. Como as pessoas são complexas e o mundo do trabalho tem uma enorme diversidade, então é bom mesmo que alguém esteja olhando para isso desassombradamente, sem pedantismos acadêmicos, mas sem misturar a ciência aos livros de autoajuda. E o Fernando, doutor e professor titular da Universidade Federal do Paraná, faz isto com a autoridade de quem já cumpriu todo o rito para o reconhecimento intelectual.
Suas observações sobre a academia são sempre elegantes, mas sempre contundentes. Se um aluno se rebela porque o professor publicou seu trabalho sem autorização, não se poderia esperar aqui um libelo violento contra as idiossincrasias do mundo acadêmico. Ele lembra simples e candidamente que não são os professores, mas os alunos que escrevem suas teses. Quando fala da ciência administrativa, está sempre presente a postura crítica, essencial para o avanço do conhecimento. E não existem vacas sagradas: “inovação”, “sustentabilidade”, “diferencial mercadológico”, tudo passa pelo crivo do bom senso e pela mediação da clara e direta observação da realidade. Às vezes, com muito humor ( não há tatu que agüente/viver inovando sempre... ), outras vezes, com belas metáforas, como quando associa uma fotografia colorida a considerações sobre a inspiração e o domínio técnico. Quando os textos navegam por águas mais profundas, as dúvidas e perplexidades não ficam encobertas. Mas sua curiosidade intelectual nos convida a pensar por nós mesmos: afinal, o que mede a relevância de nossos estudos? O que mesmo o professor deve ensinar? Pode existir um lucro justo? Empreendedorismo com ternura? Aqui aparece o que é para mim a melhor parte. O Fernando enriquece seus escritos com uma enorme quantidade de referencias culturais de primeira grandeza: de Kurozawa a Barthes, de Italo Calvino a Saramago, livros, esculturas, fotografias e muito cinema, sua paixão. Depois da Sara, lógico. Impossível não lembrar do menino Fellini correndo livremente por sua terra natal em Amarcord. Poeta e operário. Realista e mágico. Quando leio seus textos, vejo o Fernando parado na porta do mercadinho, sem poder decidir se foge para o cinema ou pula de volta para traz do balcão. Melhor para nós. Curitiba, agosto de 2012. Marcos Tito