C
arlos Jardel Oliveira é trirriense, casado, pai de duas meninas, musicista e escritor. São muitas as definições para Carlos Jardel, um autodidata que tem a música presente na vida desde a infância. Nascido em Três Rios e criado na Posse, distrito de Petrópolis, conta que a infância teve momentos muito felizes, mas só ficavam completos quando estava em Areal visitando os parentes. Seu avô era músico e a mãe sempre esteve envolvida nesse meio. “Fui criado nesse clima musical”, conta. Aos 13 anos entrou para a Banda Social da Posse, onde conheceu aquele que considera como mestre, Cizenando Cunha, conhecido como “Xixi”. “Um dia perguntei para ele o motivo do apelido e ele, com o bom humor de sempre, respondeu: ‘Jardel, quando eu era pequeno me chamavam de Cici, proveniente de Cizenando. Mas, um dia, chegou uma anta e me chamou de Xixi, o apelido pegou’”. Com o mestre, aprendeu a tocar trombone, cujo nome correto é tuba, explica sobre instrumento que o “traumatizou” no iní-
As marchinhas de carnaval sempre fizeram parte do gosto musical de Carlos Jardel cio. Apenas depois de alguns anos firmou-se como trombonista, tocando em bandas de carnaval. Já aos 16 anos, ingressou na Escola de Música Santa Cecília, em Petrópolis. “Meu querido e saudoso professor e maestro ‘Xixi’ já havia me passado todo conhecimento que tinha na área musical, por isso decidi me aprimorar e me matriculei na escola. Não terminei o curso por motivos financeiros”, lembra. Foi em 1990 que, ao entrar para o batalhão, teve o primeiro desafio: fazer parte da banda do exército, seu primeiro trabalho profissional com a música. “Ingressei nas Forças Armadas como soldado e participei da banda de música em algumas apresentações como soldado e
músico, infelizmente me desliguei em outubro do mesmo ano”. Fã de Tom Jobim, Milton Nascimento, Vitor Santos, entre outros, se define como eclético. “Ouço desde músicas clássicas até essas loucuras que a sociedade contemporânea insiste em chamar de música”. As marchinhas de carnaval sempre fizeram parte do gosto musical. A Banda Energia surgiu com amigos em 1987, quando foram convidados para o carnaval do Clube de Secretário, no bairro de mesmo nome em Petrópolis. Juntos, montaram um repertório com marchinhas famosas e, a partir daquele momento, começaram a tocar em Petrópolis, Teresópolis, Três Rios, Cabo Frio, Juiz de Fora e Areal. “Nossa especialidade é o carnaval de antigamente, com marchinhas e sambas antigos. Inclusive já ganhei dois prêmios junto com meu parceiro Valber Moraes, como autor e intérprete de marchinhas de carnaval, um primeiro lugar no concurso de marchas em Além Paraíba e um segundo lugar em concurso em Juiz de Fora com a marcha ‘O Novo Portuga’”.
Enfermagem Um sonho que Carlos ainda pretende concluir
Areal Banda Energia agita o Bloco do Pará no carnaval da cidade
Igreja Católica Há 15 anos Carlos voltou a se dedicar aos trabalhos e ao ministério
“Já toquei até em velório. O meu avô pediu que tocassem o hino do Vasco”, Carlos Jardel
Muitas histórias engraçadas fazem parte da vida do músico. “Já toquei até em velório. Meu avô pediu antes de morrer que queria que tocassem o hino do Vasco e entrei no cemitério com o trombone na mão, ficou todo mundo me olhando”, relembra aos risos. Quando o mestre Cizenando faleceu, a banda toda tocou. “Era o perfil do seu ‘Xixi’, sempre teve um bom humor, foi uma homenagem”, explica. Como cantor, Carlos Jardel já gravou dois CD’s com músicas religiosas: “Fonte Divina” e “Brilho Eterno”. A veia de escritor teve início ainda na infância, quando escrevia vários textos, mas foi em 2003 que escreveu o primeiro livro, “O Andarilho”. “Costumo dizer que este texto narra uma ficção que tem um final feliz, mas trata de um assunto nada fictício e muito triste, a pedofilia”. O segundo livro veio em 2006 e retrata conversas vividas no “Bar do Seu Carne Seca”, chamado “EnContos e DesenContos”. “Contém também crônicas e alguns artigos que escrevi em épocas anteriores, por isso o título esquisito”. Com o sucesso como escritor, em 2008 foi convidado para participar do livro “Crônica para a Cidade Amada”, organizado por Arnaldo Niskier, jornalista e membro da Academia Brasileira de Letras, cujo lançamento aconteceu no mesmo ano. “Meu mais recente projeto é o livro ‘Levantar-me-ei’, já concluído, onde exponho alguns pensamentos sobre a vida cristã”. Ainda sobre sua vida na Igreja Católica, Carlos Jardel explica: “Me casei aos 22 anos e, aos 23, devido uma grande decepção e por pura falta de maturidade, me afastei da igreja. Depois de 15 longos anos tive a oportunidade e a graça de retornar”. Hoje, é ministro extraordinário da Comunhão Eucarística e aspirante ao Diaconato Permanente. O músico conta que sempre gostou de
Família Carlos Jardel com a esposa e as filhas
MÚsica na vida O registro de uma apresentção no II Areal Rural
Banda Camarada O projeto conta com alunos que se dedicam ao aprendizado de música
trabalhar com pessoas e conhecer histórias. Em 2003 resolveu fazer faculdade de enfermagem. “Escolhi este curso por sempre gostar de lidar com pessoas. O aprendizado e o conhecimento que podemos adquirir no convívio direto com o ser humano, principalmente em seus momentos de total fragilidade, é impagável”, explica a escolha pelo curso que parou no sétimo período. “Ainda não desisti, lá no fundo da minha alma ainda queima a chama da enfermagem”. Entre várias atividades que Carlos Jardel desenvolve, também está incluída a de presidente da Associação Ambiental Recicla Areal – Acará, cargo onde obteve o Ponto de Cultura e idealizou o projeto “Banda Camarada”, que possui o objetivo de transformar a vida de jovens e adultos
através da música. Carlos Jardel foi às escolas explicando e convidando os interessados para conhecerem e integrarem o projeto. Possui 16 alunos que estão sendo especializados e capacitados gratuitamente. “Quase ninguém sabe do projeto, não é muito divulgado”, conta. Há dois anos o projeto leva a música para esses alunos e no momento aguarda a chegada dos instrumentos para avançar nos estudos e formar as pessoas. “Meu sonho é ver a banda tocando, quando fizermos nossa primeira apresentação vamos ter mais adeptos”. Quando questionado se em algum momento conseguiu viver somente de música, Carlos Jardel desabafa: “No Brasil é muito difícil viver de música, só consegui quando eu estava no batalhão, onde eu era funcionário”.