FB | Revista On Petrópolis #13

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Revista On Dezembro & Janeiro


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#13 Direção Felipe Vasconcellos (felipe@fiobranco.com.br) Financeiro Sabrina Vasconcellos (sa@fiobranco.com.br) Juliana Brandelli (juliana@fiobranco.com.br) Coordenação Bárbara Caputo barbara@fiobranco.com.br (24) 98864-8524 Edição Frederico Nogueira (frederico@fiobranco.com.br)

Editorial

E

le é reconhecido nacional e internacionalmente. Já apareceu na TV e no cinema, além de estar presente em milhares de fotos nas redes sociais de pessoas que participam de eventos realizados em suas dependências. Impossível passar pela rodovia e não notar a construção. Ele é o Castelo de Itaipava, um dos mais bonitos, importantes e reconhecidos cartões-postais da Região Serrana. Na reportagem de capa, apresentamos sua história e os atuais investimentos que o local recebe. Com a nova estrutura, mais eventos são realizados em suas dependências e a Cidade Imperial colhe os frutos do turismo. Além disso, quem nunca sonhou participar de uma festa

em um castelo? As oportunidades estão bem pertinho! Ainda sobre o turismo na região, um grande grupo de pessoas já aproveita as paisagens naturais da cidade para visitar e fazer trilhas ecológicas. É outra vertente do turismo em crescimento na Serra. Também em crescimento está o korfebol, você conhece? No país do futebol, ele ganha espaço e muitos praticantes petropolitanos. Na edição #13, que chega enquanto celebramos o novo ano e as conquistas do que passou, tem ciência, moda, cultura, gastronomia, educação e muito mais! Pessoas, ações e projetos que estão em Petrópolis e você tem a chance de conhecer melhor. Boa leitura!

Redação Marianne Wilbert (marianne@fiobranco.com.br) Tiago Tavares (tiago.tavares@fiobranco.com.br) Comercial Petrópolis Ingrid Rizzo (ingrid@fiobranco.com.br) (24) 98862-8528

Índice

Estagiários Tatila Nascimento Maicon Pereira Rafae Luna

Foto de capa Hugo Carneiro Distribuição Gratuita e dirigida em Petrópolis, Itaipava, Araras, Nogueira, Corrêas, Pedro do Rio e Posse. Também à venda nas bancas. Tiragem 5.000 4

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HUGO CARNEIRO

Criação Ed Silva Felipe Vasconcellos Jonas Souza

BEM-ESTAR

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ARQUIVO PESSOAL

Colaboração Barão (contato@baraogastronomia.com.br) Eduardo Jorge (eduardojorge.com@gmail.com) Fernanda Eloy (fernanda.eloy@hotmail.com.br) Helder Caldeira (helder@heldercaldeira.com.br) Heverton da Matta (heverton@fiobranco.com.br) Nathália Pandeló (nathalia@fiobranco.com.br) Philippe Guédon (phiguedon@gmail.com) Roberto Wagner (rwnogueira@uol.com.br)

TURISMO & GASTRONOMIA

GENTE

Pamela Corrêa (pamela@fiobranco.com.br) (24) 98852-8527

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MODA

REVISTA ON

Luiz Fellipe Aguiar (luiz.fellipe@fiobranco.com.br) (24) 98852-8529

REPRODUÇÃO

Três Rios Emeline Maia (emeline@fiobranco.com.br) (24) 98843-7944

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Fiobranco Editora Rua Prefeito Walter Francklin, 13/404 | Centro | Três Rios - RJ | 25.803-010 Telefone (24) 2252-8524 E-mail sac@revistaon.com.br Portal www.revistaon.com.br


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TRÊS RIOS

UMA CIDADE PREPARADA PARA OS DESAFIOS DE UM NOVO TEMPO Os números comprovam o crescimento. Nos últimos quatro anos, quase 1.200 empresas (entre pequenas, médias e grandes) se instalaram em Três Rios, gerando cerca de 9.000 novos postos de trabalho e colocando a cidade como uma das principais apostas do Estado do Rio de Janeiro. Com investimentos em saúde, educação, obras, segurança, cultura e demais áreas, as constantes transformações que levam Três Rios a ser destaque no cenário nacional são motivos de orgulho para todos os cidadãos.

Bairro Cidadão - Dignidade para viver melhor

Uma parceria da Prefeitura de Três Rios com o Governo do Estado e Governo Federal vai mudar a vida de centenas de famílias trirrienses. Já em fase adiantada, o Bairro Cidadão será um modelo de urbanização e habitação inédito na cidade. Em fevereiro de 2014 serão entregues as 426 novas unidades. “O bairro terá toda a infraestrutura necessária, como asfalto, calçadas, iluminação, praças, um DPO da Polícia Militar e a primeira estação de tratamento de esgoto de Três Rios. Estamos levando dignidade àquele local, transformado aquela realidade”, comenta Vinicius Farah. Casa do Empreendedor

Inaugurada em novembro, simboliza o quanto o poder público acredita na capacidade do cidadão que busca crescer e aproveitar as oportunidades. Para o prefeito do município, Vinicius Farah, a Casa do Empreendedor é a consolidação da marca da cidade. “Tivemos quase 3.000 pessoas saindo da informalidade e, com isso, a Prefeitura aumentou a arrecadação do ISS, o que permitiu realizar investimentos em todas as áreas. A experiência da Sala do Empreendedor deu certo e a transformamos na Casa do Empreendedor, onde podemos dar mais agilidade e desburocratização maior ao cidadão que tem um sonho”, explica.


Três Rios é a única cidade do Estado pré-selecionada para receber faculdade de Medicina

No início de dezembro, o Governo Federal divulgou a relação dos 42 municípios pré-selecionados para receberem cursos de graduação em Medicina. No Estado do Rio de Janeiro, apenas Três Rios foi selecionada. “Independente da faculdade, isso mostra que estamos no caminho certo da Saúde. Só chegamos a essa condição por preencher com resultados positivos todos os pré-requisitos necessários”, comemora o prefeito. O setor da Saúde fecha 2013 com orçamento de R$ 70 milhões e previsão de R$ 90 milhões para 2014. Desenvolvimento industrial

Eventos movimentam o turismo

Com localização privilegiada, Três Rios foi escolhida por grandes empresas como Nestlé, Neobus e Latapack-Ball , que hoje fazem parte da história de crescimento motivada pela política de captação de investimentos promovida pela gestão Vinicius Farah.

Com a Secretaria Municipal de Cultura, o setor ganhou novos investimentos. De acordo com o prefeito, o orçamento da Secretaria para 2014 pode chegar a R$ 7 milhões. Ele aponta a cultura como importante geradora de receita para o município. “Os festivais, por exemplo, movimentam R$ 20 milhões por ano na economia local”. A programação do Carnaval de 2014 já está quase fechada! O maior Carnaval do interior do Estado já tem Michel Teló, Bom Gosto e Tuca (ex-Jammil) como atrações confirmadas, além do tradicional desfile das escolas de samba e blocos carnavalescos.

Mobilidade urbana, segurança e dignidade

Em 2013, o cidadão de Três Rios recebeu o Terminal Rodoviário Hélio Soares. Por ele, passam 15 mil pessoas diariamente. “Oferecemos um espaço que devolve dignidade à população, com conforto, segurança, iluminação, posto médico, banheiros e banco 24 horas”, diz Farah. Enquanto a cidade cresce, a segurança também recebe devida atenção. A Central de Monitoramento, que já foi levado para diversos municípios, passa a ter 66 câmeras distribuídas em toda a cidade. O Café do Trabalhador tem o objetivo de oferecer alimentação saudável e correta, dando suporte e energia para um dia de trabalho. São 600 kits oferecidos por dia gratuitamente, com café com leite, fruta e pão com manteiga. Esporte insere Três Rios no cenário nacional

A qualidade do trabalho desenvolvido na ginástica artística em Três Rios é responsável pela nova conquista do governo municipal para o esporte. “Apresentamos ao ministro Aldo Rebelo a realidade da ginástica artística, que já é reconhecida nacionalmente, e conseguimos a construção do Centro de Treinamento Olímpico de Alto Rendimento para a Ginástica Artística, com investimento de R$ 3 milhões pelo Governo Federal e R$ 400 mil pelo Município. A obra começará em 2014 e nas Olimpíadas de 2016 teremos uma seleção treinando neste centro”, conta o prefeito. Ele lembra, ainda, que o sucesso da ginástica artística é motivo de orgulho para os cidadãos trirrienses e para o poder público. “Com o crescimento e a estrutura proporcionada, o Flamengo veio treinar na cidade e há cinco meses a seleção brasileira feminina está em Três Rios”, diz.


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GENTE

REPRODUÇÃO

cultura 9 educação 16 entrevista 18 opinião 21

O resgate da Petrópolis do século 20 POR NATHÁLIA PANDELÓ

Coleção de fotos, vídeos e textos sobre pessoas e lugares no século 20 gera curiosidade dos leitores e desperta o interesse pela história da cidade.

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GENTE CULTURA

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s bondes, as igrejas, os teatros e cinemas, empresas, lojas e ruas da Petrópolis antiga. A Cidade Imperial que ilustra os livros de História do Brasil ganha novos contornos no imaginário popular com a ajuda de um verdadeiro acervo fotográfico reunido pelo professor Oazinguito Ferreira. Desde julho de 2006 ele é disponibilizado ao público no blog Petrópolis no Século XX [petropolisnoseculoxx.zip.net]. Desde então, já foram mais de 370 mil visitas e atualizações constantes com fotos, vídeos, depoimentos e textos. É o suficiente para que a Petrópolis de 100 anos atrás ganhe forma nas ruas antigas, casarões icônicos do Centro Histórico, construção de seus atuais pontos turísticos, recordações de Carnavais antigos, a sociedade operária e visitas de presidentes, entre outros momentos marcantes. Membro do Instituto Histórico de Petrópolis (IHP) e com 34 anos de magistério, o professor Ferreira percebeu que, apesar da abundância de estudos, ensaios e publicações voltados para o século XIX, período em que Petrópolis ganhou relevância política por ser um dos palcos do Império no país, o caso era diferente para a história contemporânea da maioria das cidades brasileiras. Foi pensando em mudar essa realidade que ele deu início à página na internet. A motivação veio, em um primeiro momento, do curso de especialização em História do Século XX que o educador fazia naquele período - mas, principalmente, da preocupação em resgatar um material prestes a se perder. “O blog surgiu da observação de que esta história recente local necessita ser documentada antes que desapareça pelo desinteresse constatado de seus habitantes. Por fim, um falso-convite realizado por uma instituição de ensino superior para que eu integrasse seu quadro de professores levou à elaboração de uma nova e mais completa metodologia de organização de um banco de dados sobre a memória da cidade, para que os alunos produzissem pesquisas sobre seus diversos momentos”, recorda. O objetivo era transformar memória em História e construir um laboratório único e exclusivo de estudo contempo-

ACERVO Foto da Universidade Católica de Petrópolis apresenta à época o Colégio Notre Dame de Sion

râneo. As primeiras pesquisas foram feitas na imprensa local e, posteriormente, com o blog no ar, os próprios visitantes passaram a enviar doações e concessões para a publicação de material direto de seu acervo pessoal. A iniciativa não atraiu patrocínio de instituições públicas

“Outra Petrópolis existe submersa sobre a atual, com mil faces que desconhecemos e que necessitam ser pesquisadas”, Oazinguito Ferreira

ou privadas, mas conquistou a confiança do leitor em busca de conhecer mais sobre Petrópolis e despertou a curiosidade sobre temas variados. “Inúmeros leitores já contribuíram, não somente por intermédio do próprio blog com retorno de suas respostas, como para

o meu e-mail direto ou mesmo quando me encontram pelas ruas durante o trânsito para as escolas. O número de acessos à página traz uma importância acima da expectativa para um blog de história local como o nosso, com leitores de diversas regiões do país e do exterior, principalmente de petropolitanos presentes em outros continentes”, avalia Ferreira. Assunto é o que não falta. Apesar de extensa documentação sobre a cidade, ainda há fatos e personagens importantes a serem descobertos. O baixo aproveitamento da produção histórica e museológica de Petrópolis foi o tema defendido pelo professor em seu mestrado em Educação, que aponta para uma perda não apenas cultural, mas também econômica. “Outra Petrópolis existe submersa sobre a atual, com mil faces que desconhecemos e que necessitam ser pesquisadas. Nossos professores não foram ensinados a terem um olhar voltado para sua localidade nas duas últimas décadas. O empobrecimento cultural atinge níveis críticos. Petrópolis é uma cidade que não cultua seu passado, sua história. É mais fácil observar os visitantes se apaixonando pela mesma que seus nativos. Inúme-


REPRODUÇÃO

ARQUIVO PESSOAL

RÓTULO Produtos petropolianos também têm a história resgatada

PROFESSOR Oazinguito Ferreira se dedica ao magistério e às pesquisas que disponibiliza

ros prédios poderiam compor o que pode ser denominado de ‘cinturão de memória cultural’. Estamos comemorando o centenário do Barão de Mauá, para o qual não existe um centro museológico neste país e possuímos sua residência oficial. É realmente incompreensível. Quantos turistas a mais poderiam ser recebidos para visitar nossas instituições, fábricas, seu desenho arquitetônico único e prédios urbanos?”, questiona.

Mais que preparar os professores, o grande desafio é despertar nos alunos a curiosidade pelo passado do lugar onde vivem. O momento parece propício, com a popularização de livros e revistas sobre História, mas principalmente com um número cada vez mais expressivo de sites, blogs e ferramentas online voltadas para esse universo. “Pelo interesse despertado nestes últimos anos a partir da presença de alguns estagiários e curiosos, observo que o magistério retorna ao centro das opções. A valorização do capital cultural em nossa sociedade tem despertado verdadeiras revelações entre os jovens. A paixão pelos acontecimentos é despertada por modos de ver diferenciados. A história possui um manto de magia e tem criado uma legião de admiradores”, revela o professor. Foi também em um estágio no Museu Imperial, em meados dos anos 80, que o interesse despertado aos 11 anos por um livro sobre a História de Petrópolis, ganhado do pai, se transformou em opção profissional para Oazinguito. Podem ser esses novos amantes do passado os próximos formadores do futuro.

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COLÉGIO IPAE APRENDIZADO PARA A VIDA TODA FOTOS DIVULGAÇÃO

Colégio investe em infraestrutura para atender alunos em sistema de externato e internato com uma educação multidisciplinar que incentiva o desenvolvimento de habilidades intelectuais, criativas e sociais.

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s salas de aula são equipadas com ferramentas multimídia e os alunos contam com restaurante, piscinas, sauna, academia, salão de jogos, ginásio e quadras poliesportivas e segurança 24 horas. Para os estudantes que voltam ao Colégio Adventista IPAE todos os dias, é um ambiente prazeroso que estimula o aprendizado. Para os matriculados no internato, o Instituto é mais que uma escola: se torna um lar, onde valores e o convívio são somados ao conteúdo curricular na preparação de verdadeiros profissionais cidadãos. Com mais de 115 anos de excelência no Brasil e presente há 74 em Petrópolis, o IPAE continua investindo em tecnologia e capacitação de seus profissionais. O objetivo é proporcionar aos alunos uma educação fundada em princípios cristãos e em uma imersão nas principais questões sociais, ambientais e políticas da atualidade. Um exemplo disso é o sistema Dudow, desenvolvido pela consultoria

WilVest. A plataforma voltada para os vestibulares e para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) agiliza a elaboração e correção de provas e exercícios e já está disponível para que os alunos acompanhem de perto o progresso acadêmico. Mas o conhecimento não se restringe à sala de aula. Pensando em despertar o interesse dos estudantes para um aprendizado que faz diferença no cotidiano, o corpo docente do colégio promove a multidisciplinaridade como uma de suas ferramentas pedagógicas mais eficazes. Aulas de inglês, musicalização, educação física e até canto coral são integradas desde a educação infantil, que recebe crianças acima de quatro anos de idade. A partir do sexto ano do Ensino Fundamental é possível contar com tutores de reforço escolar, além de uma grade curricular diferenciada e orientação vocacional para os que cursam o último ano do Ensino Médio, com aulas extras semanalmente.

O corpo docente promove a multidisciplinaridade como uma de suas ferramentas pedagógicas mais eficazes

INTEGRAÇÃO Desde a Educação Infantil são inseridas aulas de canto e música

CRESCIMENTO Os alunos adquirem conhecimentos que contribuem com a vida toda

A música também ocupa lugar de destaque na grade dos alunos de todas as idades. Com uma orquestra sinfônica jovem, banda, coral de sinos, coral de libras, coral jovem e um conservatório musical que oferece mais de 15 cursos, o ensino de música visa proporcionar aos estudantes as melhores ferramentas para que possam desenvolver suas habilidades de forma integral. Quem comprova isso é o engenheiro elétrico e gerente da Divisão de Engenharia de Transmissão na Eletrobras, Antonio Vieira de Melo Neto. “A contribuição do IPAE em minha formação foi muito além do aspecto intelectual. Aqui eu tive motivação e oportunidade para o desenvolvimento de diversas habilidades, como as musicais, falar em público e trabalhar em equipe. O amadurecimento emocional e o enfrentamento da timidez que me foram proporcionados com certeza fizeram muita diferença no meu preparo como pessoa e profissional”, afirma o ex-aluno, cuja filha, Emanuele, é aluna do IPAE Kids. Foi essa combinação que levou outros tantos alunos do colégio a se tornarem grandes líderes de empresas, organizações e instituições. “Recebemos tanto estudantes petropolitanos como aqueles que vêm de outras cidades em busca do nosso internato, pois prezamos pela excelência acadêmica, mas também por transmitir aos nossos alunos valores morais, familiares e espirituais. Isso só contribui na formação de caráter desses que se tornarão profissionais competentes e adultos conscientes”, enfatiza o professor Jefferson Andrade, diretor geral da instituição. As matrículas para 2014 já estão abertas!

Km 68 – BR-040 Araras – Petrópolis – RJ 24 2225-7250 www.ipae.org.br facebook.com/colegioadventistaipae


GENTE CULTURA

SOM NA CAIXA POR MARIANNE WILBERT

É a correria para conciliar ensaios com outros trabalhos e estudos, é a ocasional desmotivação pelas dificuldades impostas... Mas, no final, o que fala mais alto é sempre o prazer de tocar com amigos e fazer a própria música.

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e Ludwig van Beethoven tivesse desistido de compor após ter perdido a audição, o mundo não teria conhecido a Nona Sinfonia. Se Brian Epstein tivesse desistido de empresariar um grupo após ter ouvido do executivo Dick Rowe que “bandas com guitarras estavam fora de moda”, talvez não tivéssemos conhecido os Beatles. Apesar dos percalços, independente da ambição pela fama e pelo dinheiro, a paixão continua sendo o denominador comum entre todas as pessoas ligadas a arte. Afinal, “sem a música, a vida seria um erro”, já dizia Nietzsche. Por isso, mesmo tendo enfrentado algumas dificuldades, o Solstício do Som chega à sétima edição e continua a levar dezenas de atrações à Praça da Liberdade. “Às vezes certos acontecimentos e críticas dão uma desanimada, mas jamais pensei em desistir. Estamos prontos para superar todas as dificuldades e executar ao menos um evento tão bom como o anterior. A equipe que produz o Solstício é muito aguerrida, engajada, mas, sobretudo, veste a camisa e estará sempre fazendo o possível para não deixar de realizá-lo. Além disso, cada vez mais, há compreensão do público e artistas do espírito do evento, o que o fortalece sempre mais”, explica João Felipe Verleun, organizador do festival Solstício do Som.

“Estamos prontos para superar todas as dificuldades e executar ao menos um evento tão bom como o anterior”, João Felipe Verleun

É também por esta razão que desistir não é uma opção para nenhuma das bandas que participam do evento. “Não acreditamos que ganharemos dinheiro com o tipo de som que fazemos, mas fazer o que gosta ainda vale mais à pena que apenas ganhar dinheiro”, ressalta Rafael Chino, baixista e backing vocal da Upside Down. Já Saulo von Seehausen, vocalista da Hover; Vinicius Pereira, vocalista da Pulse e Gustavo Scanferla, vocalista da banda Gus Ferla, partilham da mesma opinião. “Essa opção não existe! É uma coisa que vive na gente, é o que a gente é. A questão é saber lidar com o tipo de retorno que você recebe e, muitas vezes, com a falta dele”, opina Saulo. “Algumas vezes você fica desmotivado, mas aí faz um show, lembra da vibe e continua”, concorda Vinicius. “Nunca pensei em desistir da vida artística, mas, sabendo das dificuldades que um músico enfrenta, acabei construindo um plano B ao longo dos últimos anos”, completa Gustavo. Por mais que pareça clichê, João (professor de inglês), Saulo (trabalha numa produtora de trilha sonora para publicida-

de), Vinicius (professor de inglês), Rafael (publicitário), Gustavo (desenvolvedor e designer de aplicativos) e tantos outros são exemplos de pessoas que, mesmo tendo encontrado outras formas de pagar as contas, ainda tem na música a força motriz para a satisfação pessoal. “É como cuidar de uma planta, a cada semestre encontramos dificuldades, o trabalho é muito grande para organizar, mas pensar que se nós não cuidarmos ninguém cuidará. Os recursos obtidos para a realização do evento são basicamente para cobrir os custos de estrutura e dar o mínimo de dignidade para a equipe que trabalha todos os dias. O evento já tem uma ‘alma’ voluntária, genuína e comunitária, pouco comercial, e isso que o mantém forte e reconhecido pela população”, analisa João. É mais ou menos como Paul Stanley, do Kiss, cantou certa vez - “God gave rock and roll to you / Gave rock and roll to you / Put it in the soul of everyone” [Deus deu rock and roll para você, deu rock and roll para você / pôs na alma de todo mundo] e só isso já é o motivo suficiente para continuar.


CAROLINA CASARI

Nome Pulse

Fundada em: Novembro de 2011 Formação: Vinicius Pereira (vocal), Thiago Torati (guitarra), Álvaro Cardozo (bateria), Kdu Campos (guitarra) e Igor Fajardo (baixo). Influências: Kings of Leon, Queens of the Stone Age, 30 Seconds to Mars, Foo Fighters, Stone Sour, Killswitch Engage. Repertório: Canções próprias e alguns covers. “Mas no momento estamos procurando chegar ao ponto de só tocarmos nossas músicas”, acrescenta Vinicius. Música de trabalho: “Sigo em frente” Ponto alto da carreira até o momento: “Falando por mim, foi depois do lançamento do nosso EP, pois no show seguinte muitas pessoas cantaram nossas músicas no show e isso para a gente foi algo inimaginável”, comemora.

JULIA DA COSTA REIS

Nome Gus Ferla

FERNANDO CAMMAROTA

Nome Hover

Fundada em: Novembro de 2008 Formação: Saulo von Seehausen (vocal / violão), Felipe Duriez (guitarra), Bruno Bade (bateria), Pedro Fernandes (baixo) e Lucas von Seehausen (guitarra). Influências: Deaf Havana, Foo Fighters, The Almost, Queens Of The

Nome Upside Down

Stone Age, Silverchair, Incubus… “É uma lista gigante e até inconsciente. Difícil de citar! Cada hora uma referência é mais forte... Em cada música é diferente!”, comenta Saulo. Repertório: 95% de músicas próprias. “Quando é cover, fazemos uma versão nossa, se não for assim, não tem graça”, brinca o vocalista. Música de trabalho: “Pieces” Ponto alto da carreira até o momento: “Está sendo agora. Lançamos nosso primeiro clipe, temos o EP em dezembro. Fizemos e fazemos muitos amigos e temos tocado bastante! O momento bom está sendo o presente. Espero que só melhore”, celebra.

MARIANA ROCHA

BANDAS

Fundada em: Julho de 2011 Formação: Bruno Moreno (vocal), Rodrigo Rood (guitarra), Rafael Chino (baixo) e Fernando Gonçalves (bateria). Influências: “A banda tem uma variedade de influências que passa por Deftones e Queens of the Stone Age, até chegar em Los Hermanos. Além das influências de cada integrante, é claro”, comenta Rafael. Repertório: 80% é composto por músicas autorais. Música de trabalho: “Um novo caminho” Ponto alto da carreira até o momento: “Acredito que ter o som reconhecido no cenário underground da cidade”.

Fundada em: Setembro de 2013 Formação: Gustavo (vocal / teclado / guitarra / violão), Ana Beatriz (backing vocal), Bruno Lopes (guitarra), Bruno Oliveira (baixo / backing vocal), Lucas Pinto (guitarra / backing vocal) e João Renato (bateria / backing vocal). Influências: Beatles, Nirvana, Queen, Pink Floyd, Coldplay, Radiohead, Led Zeppelin, The Doors, Red Hot Chili Peppers, Jimi Hendrix, Franz Ferdinand, Black Keys, Arctic Monkeys, The Strokes, Pearl Jam, etc. Repertório: “Apesar de ter música própria suficiente pra preencher horas e horas, achamos que os covers são importantes pra animar o pessoal, enquanto nossas músicas ainda não são conhecidas pelo público”, diz Gustavo. Música de trabalho: “In the river” Ponto alto da carreira até o momento: “Sermos aceitos para tocar no Solstício do Som em Petrópolis!”, festeja.

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GENTE EDUCAÇÃO

PARA FORMAR CIDADÃOS POR JOSÉ ÂNGELO COSTA

FOTOS ARQUIVO PESSOAL

O Pré-Vestibular Para Negros e Carentes é um diferencial de ensino na cidade. Não é, essencialmente, pelo fato de preparar pessoas carentes para o vestibular. Mais do que isso, é uma ferramenta de formação da cidadania, de um novo olhar para o futuro de cada um deles. Composto por mestres e doutores, o PVNC pode ser classificado como uma escola de cientistas que trabalham para formar para vidas.

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urgiu por iniciativa do Frei Davi, em 1993, como um braço da educação do movimento negro no Estado do Rio de Janeiro e com a ideia de inserir jovens nascidos e criados em comunidades pobres nas universidades públicas. Alcançou grau elevado de expansão por toda a Baixa Fluminense e, em 1994, Petrópolis foi contemplada com seu próprio núcleo. Inicialmente, funcionou em um espaço cedido pela Editora Vozes, nas dependências do antigo Colégio Canarinhos. Depois, migrou para uma sala no lado de fora da Ordem Terceira e lá ficou até 2008, quando se transferiu definitivamente para o Colégio Santa Catarina. Atualmente, 24 professores atuam de forma voluntária em uma classe composta por nove alunos. Em 19 anos de existência, beneficiou vários estudantes que foram para universidades federais do Rio, Minas e algumas estaduais de São Paulo, além de faculdades de Cuba e Alemanha. Conforme destaca a professora Adriana Freire, apesar do nome, o curso não possui, fundamentalmente, pessoas negras. “Hoje, em menor grau, o negro é carente, 80% são de classe popular. Então, a gente não visa só o negro carente. É aberto para todo mundo, mas vamos priorizar quem não pode pagar”, garante. Segundo diz, o intuito não é só preparar, mas dar uma carreira acadêmica ao jovem e que ele possa permanecer dentro deste ambiente com segurança. As aulas costumam ocorrer todos os sábados pela manhã. A atividade em classe 16

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ANIVERSÁRIO Os 19 anos do curso foram celebrados em outubro

depende do dinamismo de cada docente. Por isso, antes de entrar, é feito um teste de apresentação com avaliação constante, entretanto, pode acontecer de alguém ultrapassar esta etapa e não corresponder com as expectativas. Os profissionais antigos e os recém-aprovados têm à disposição um material obtido graças a contribuição dos alunos com a taxa de inscrição. Fica a cargo de cada educador por em prática sua dinâmica de ensino ou segundo exige a disciplina. Um dos referenciais do movimento é a questão social. Com base nisso, foi criada uma nova matéria, cujo intuito é tratar de problemas do cotidiano dos jovens, denominada Ciência-Cultura-Cidadania. Através dela, os professores tentam promover formação cultural e procuram ajudar na constituição do senso crítico dos acontecimentos contemporâneos. “É uma disciplina que é levada durante todo o ano, em que os alunos têm essas oportunidades para discutir questões sobre o papel da ciência

na sociedade, o papel da cultura na sociedade e como isso vai afetar e como vai utilizar essas ferramentas para construir sua cidadania”, explica o professor Alexandre de Sá Freire. No decorrer do ano, ainda são promovidas as Jornadas Abertas, que são encontros para debater assuntos da atualidade, com a presença da população. Em outubro, o tema em pauta foi Ciência, Religião e Espiritualidade, com foco nas fronteiras entre estas vertentes. Há, também, a Jornada das Vocações e a Jornada de Acolhida, onde os alunos conhecem o projeto. É a maneira de entenderem a proposta de estudo, com mesas-redondas compostas por catedráticos de universidades. Com relação aos benefícios e resultados obtidos, foram inúmeros. Vindos de famílias pobres e sem perspectivas de futuro, a maior parte deles se sente descrente em si, mas pelos incentivos dados por professores, consegue quebrar esta barreira. A ideia é trabalhar primeiramente a autoestima


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CARREIRA Jovens acompanham atentamente o que é passado em sala de aula

Nascida no estado do Amapá, Loryane Lima de Souza, 17 anos, veio para Petrópolis e só entrou no curso porque a madrasta viu uma reportagem na TV. No início, era fechada e quase não fala com os colegas. Ficava praticamente isolada no lado oposto da sala. Com o tempo, começou a gostar das pessoas e daquela atmosfera de coletividade e companheirismo e acabou se enturmando. Ela nem imagina a hipótese de deixá-lo, mas diz sofrer um pouco de resistência em casa. O pai reprova o fato de estar estudando ao invés de ganhar dinheiro. “Ele é a única pessoa que trabalha lá em casa. Então, R$ 25 que saem do bolso dele é muito para alguém que ganha salário mínimo. No que eu puder ajudar, vou ajudar, mas se tiver que estudar para algum dia chegar no topo, conseguir um bom emprego, ter que ajudar minha mãe que está longe e ter que ajudar ele, vou fazer isso”, fala emocionada.

João Lenon, 21, teve um princípio difícil. Largou o Ensino Médio, viveu sozinho e trabalhou em uma fundação no distrito da Posse cavando buracos. A mãe e o padrasto não tinham condições de sustentá-lo. Quando contraiu pneumonia, recebeu ajuda da tia com quem foi morar. Ela o incentivou a retomar os estudos. Voltou, então, a fazer o segundo ano, mas parou novamente após entrar para uma empresa. Pouco tempo depois, deixou o emprego com a decisão de regressar aos estudos mais uma vez e, finalmente, conseguiu concluir. Sem profissão e formação técnica, tratou de procurar um curso pré-vestibular. Conheceu o PVNC por acaso, ao passar em frente ao Colégio Santa Catarina. “Eu cheguei e o meu desejo de entrar para a universidade foi aumentando à medida que eu via que a possibilidade era maior que imaginava. Acredito que o curso vai me ajudar”, concluiu. [Nota: as inscrições para o PVNC podem ser feitas pela internet no site www.pvnc.com.br]

CLASSE Os professores Adriana e Alexandre Freire com os alunos do PVNC

de cada um mostrando que são capazes e podem almejar novos objetivos. Na concepção do coordenador geral, professor Dr. José Abdalla Helayël-Neto, do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, desde os primórdios, o Pré-Vestibular se firmou como um espaço de compartilhamento de informação, muito mais que um curso preparatório. A missão é despertar vocações estimulando propostas de vida mediadas por conhecimento e ciência, não apenas colocar estudantes nas universidades brasileiras. “Após 19 anos contínuos de trabalho e aprendizado com o próprio processo, a vocação do PVNC vem se firmando como uma escola que visa a formação de futuros docentes e pesquisadores, através de uma integração das ciências e, sobretudo, através da tríade que relaciona ciência, cultura e cidadania”, declara. revistaon.com.br

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GENTE ENTREVISTA

“A VERDADEIRA NATUREZA DA NOSSA MENTE ESTÁ ALÉM DO SURGIR E DO DESAPARECER” POR MARIANNE WILBERT

FOTOS ARQUIVO PESSOAL

MARCOS GUIMARÃES

Estudioso do budismo e de meditação há 25 anos, Miguel Berredo relata como a prática pode ser o caminho para o autoconhecimento e conviver com outras religiões.

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iguel Berredo foi residente em tempo integral, por cinco anos, no Centro de Estudos Budistas Bodisatva, no Rio Grande do Sul, onde trabalhou como coordenador de Comunicação. Desde que começou a seguir os ensinamentos de Buda, Miguel percebe mudanças em sua vida, como mais atenção, estabilidade e compassividade, tornando tudo mais espontâneo e natural. Servindo como uma forma de aprofundar a percepção e permitindo até uma maior entrega na própria religião, o budismo também pode ser um caminho de autoconhecimento para aqueles sem religião. Mas o que é o budismo? Afinal, é uma religião? Quais os preceitos? Miguel Berredo, estudioso do tema desde 1988, responde estes e outros questionamentos acerca desta filosofia que vem sendo disseminada há aproximadamente 2.500 anos. 18

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01 Quais são os principais preceitos do budismo? Fazer o bem, não fazer o mal, dirigir a própria mente, eis os ensinamentos do Buda. Generosidade, ética, energia constante, paciência, concentração, sabedoria. Alegria, amor, compaixão e equanimidade.

O budismo é uma religião? O budismo pode ser visto de muitas maneiras, como ciência da mente, caminho de autoconhecimento, religião, filosofia prática. O objetivo não é converter ninguém ao budismo, nem mesmo adorar o Buda, mas estudarmos a nós mesmos e reconhecermos nossa natureza livre, não construída. O Buda recomendou que ninguém acreditasse no que ele dizia só pelo fato dele estar falando, mas que checassem por si mesmo, que praticassem. Ele nos deixou sua experiência de observação da sua própria mente, o que a perturba 02

gerando sofrimento e o que a acalma trazendo paz. O budismo não é um sistema de crenças, mas fruto de uma experiência direta da natureza da mente do ser. 03 Há como conciliá-lo à prática de outra religião? Sem dúvida, não há nenhuma contradição entre a prática da atenção plena, do bom coração e da compaixão com qualquer outra religião. De fato, as práticas propostas pelo Buda vão aprofundar nossa percepção e uma maior entrega e aprofundamento na nossa própria religião e pode ser um caminho de autoconhecimento para aqueles sem religião. 04 Quando e como o budismo começou a ser difundido no Brasil? O budismo chega ao Brasil com os imigrantes japoneses no século passado, mas fica restrito à colônia japonesa.


A partir da década de 70 surge a Sociedade Budista do Brasil no Rio e o mestre japonês Ryotan Tokuda começa a ensinar o zen para brasileiros. Na década de 80 surge o Centro de Estudos Budistas Bodisatva, no Rio Grande do Sul, e a KTC, no Rio. Já na década de 90, muitos mestres vêm ao Brasil para dar ensinamentos, dentre os quais o Dalai Lama e Chagdud Rinpoche. Este decide vir morar no Brasil e se estabelece na Serra gaúcha, no Templo Khadro Ling, e ordena vários lamas brasileiros. Desde então, grandes mestres do budismo de todas as tradições continuam visitando o Brasil e muitos grupos surgiram a partir da vinda dos mestres. 05 Há muitos espaços voltados ao budismo em Petrópolis? Não há muitos espaços onde se pratica meditação budista na nossa cidade. Há o Espaço Shiva, na Rua 13 de Maio, onde alguns grupos se reúnem. Há um grupo de meditação zen, um do cebb e um de estudo e meditação. Há também o Shiva Ashram Brasil, onde alguns grupos fazem retiros. Também estão acontecendo palestras na Casa de Cláudio de Souza. 06 O número de interessados pelo budismo aumentou desde que começou a novela “Joia Rara”? Não há como quantificar isso. Na verdade, o interesse pelo budismo nos últimos anos vem crescendo independente da novela. O surgimento de uma novela com essa temática expressa esse interesse e é um meio hábil de levar mais sobre os ensinamentos para um grande público. 07 Quais são os principais benefícios da meditação? O grande benefício da meditação é o da gente conseguir fazer amizade com a gente mesmo. Temos uma grande dificuldade em nos aceitar e ficar só, em silêncio. Temos compulsão pela distração. A meditação vai nos permitir uma estabilidade de energia independente de objetos externos. Precisamos desenvolver foco se quisermos avançar. Nossa saúde pode melhorar, podemos ficar mais calmos, mas não podemos esperar nada. O fato de, em um primeiro momento, nos

sentirmos aparentemente pior do que antes, não quer dizer que a prática não está funcionando. A meditação purifica nosso carma e esse é um processo profundo e sutil. Não há maior benefício do que deixar nosso ser mais profundo se manifestar. Estamos condicionados a responder às situações automaticamente, condicionadamente, ao meditar vamos ao poucos quebrar nossos impulsos e desenvolver uma visão mais ampla. O importante é praticar sem expectativa, com entrega, deixar ser e flexibilidade. 08 Quais são as dicas para começar a prática? O mais difícil na prática da meditação é a regularidade e a disciplina, que no primeiro momento vão ser muito importantes. Pode ser que no início haja desconfortos na mente, ao percebermos que os pensamentos não param e que temos um monte de impulsos e sentimentos misturados, mas apenas observe e não tente parar a mente; não lute com ela. Pode-se até contar as expirações no começo. Se a mente estiver muito perturbada, pode-se caminhar um pouco e voltar para mais alguns minutos. Começar com poucos minutos. Se rejeitarmos ou nos fixarmos nos pensamentos, poderemos ficar estressados com a meditação. A respiração é a âncora, a lembrança do momento presente. As dores, sensações de formigamento e coceira também podem acontecer, são distrações sutis no nível do corpo. Pode vir a sonolência. Mas uma postura ereta, joelhos abaixo da cintura, mãos no joelho, pernas cruzadas ou mesmo sentados com a coluna ereta em uma cadeira ajudam durante o processo, além de olhos semicerrados, respiração suave e regular, e língua no céu da boca. 09 Segundo o budismo, não há ninguém que não esteja apto para a prática e para a iluminação. Nesse sentido, como a confusão pode ser o material que a pessoa tem para trabalhar e realizar seu potencial? Normalmente queremos fugir da nossa confusão, dos nossos sentimentos mais negativos e sombrios. Não queremos lidar com nossa depressão. Esse é o sofrimento do sofrimento. Todas essas atitudes internas nos levam a não nos aceitar e desperdiçamos uma oportunidade preciosa de revistaon.com.br

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GENTE ENTREVISTA

lidar com nosso conteúdo. Aceitar o que surge, seja interna ou externamente, nos possibilita lidar com a vida como ela é. Só assim poderemos superar nossas dores maiores e menores. Quando estamos em crise, não vemos os outros. O autocentramento é a característica mais forte de todos os quadros de crise e confusão. Precisamos nos abrir para os outros, fazer conexões positivas. Assim, mudaremos nossas paisagens mais difíceis. Se pensarmos nos outros que estão sentindo o mesmo sofrimento que nós, aspirarmos que eles se libertem do sofrimento e das causas do mesmo, encontrem a felicidade e as causas da felicidade, já estamos dando um grande passo para a cura. 10 Qual é a visão da morte sob a ótica budista? No nível relativo, nascemos e morremos. No nível absoluto, não nascemos e não iremos morrer. Não nascemos com o nascimento e nem morreremos com a morte. Nossa natureza livre permanece intacta. Na medida em que estamos mais atentos a essa natureza, nossa morte não causará sofrimento e será mais uma oportunidade de prática dentro de um contexto maior do que chamamos de vida. Nascemos para o mundo aparente e morreremos para esse mundo. Tudo que surge irá desaparecer. Até mesmo o nosso planeta. A verdadeira natureza da nossa mente está além do surgir e do desaparecer.

O que vem a ser Dharma e Samsara? Há vários significados para Dharma, o principal se refere aos ensinamentos do Buda, às três joias do budismo: o Buda, o Dharma e a Sanga (comunidade de praticantes). Já Samsara significa o ciclo de nascimentos e mortes, e nossa incapacidade de ver ou perceber uma realidade profunda, além das percepções dos sentidos físicos; a verdadeira natureza da mente. Todo o tipo de confusão e engano, sinônimos para Samsara, surgem a partir das percepções das paisagens internas, de bolhas de realidade em que ficamos imersos sem nos darmos conta. A ideia de controle é a raiz do Samsara. 11

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E o Carma? O Carma tem ligação com o Samsara,

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só existe Samsara por que existe Carma. Por termos nos esquecido da nossa natureza pura e livre, criamos ações e emoções perturbadoras, para nós e para os outros. Geramos o Carma. Carma no budismo não é punição, é a nossa visão limitada do mundo e de si mesmo. Por causa do Carma, ou da saudade em relação às nossas paisagens internas construídas, nós renascemos. E aqui estamos nós novamente. Ter uma ação motivada pelo bem do outro, nos alegramos com a alegria do outro nos leva para fora da ação cármica. 13 Quais as principais diferenças entre o budismo Hinayana, Mahayana e o Vajrayana? Na verdade, em vez de Hinayana, o melhor termo seria Theravada. São os três veículos do budismo; os três giros da Roda do Dharma; e as três formas dos ensinamentos do Buda serem compreendidos e transmitidos. As bases de todos são a compaixão e a sabedoria. 14 Como se atinge o nirvana (o estado de libertação)? Na verdade, o termo atingir não é o melhor, embora caiba. A iluminação já está presente, mas não estamos vendo. Estamos distraídos da nossa natureza iluminada, lúcida, plena, absoluta. As práticas de todas as escolas do budismo nos levam a perceber essa natureza ampla da mente. Uma vez que nós não temos habilidade de reconhecer essa natureza livre da mente, vamos precisar de um método, que pode ser a meditação. Sem o foco no momento presente não podemos aprofundar nossa percepção. Todo o caminho budista nos leva a perceber a iluminação sempre presente, à percepção da natureza não fabricada. A única possibilidade de despertamos é na vida humana. 15 Você poderia citar uma prece do budismo? “Que todos os seres encontrem a felicidade e as causas da felicidade / Que todos os seres se libertem do sofrimento e das causas do sofrimento / Que todos os seres encontrem a felicidade livre de sofrimento / Que todos os seres vivam em equanimidade, livres de paixões, de agressões e de preconceitos.”


GENTE OPINIÃO

XERIFE QUINZINHO Era seu dever determinar a execução das penas e expedir as ordens de prisão POR HELDER CALDEIRA

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m Vinhedo, a 100 km de São Paulo, na manhã de 14 de novembro, véspera do feriadão da nunca alcançada “Res publica”, o ex-ministro José Dirceu - ainda todo-poderoso dentro do PT - aguardava as últimas definições do Supremo Tribunal Federal quanto sua prisão e de outros 21 condenados na Ação Penal 470, o famigerado julgamento do Mensalão. Cerca de 500 km dali, na cidade fluminense de Comendador Levy Gasparian, o ex-deputado federal Roberto Jefferson - igualmente todo-poderoso dentro do PTB - parecia resignado com o que chamou de “destino”. O primeiro mantinha aquele ar tártaro de sultão, cercado pelas três ex-mulheres e os quatro herdeiros, como sempre pisoteando o trabalho da imprensa brasileira e acusando os jornalistas, aos quais tenta depreciar rendendo-lhes adjetivos como “inquisidores medievais” e “linchadores”. Segue, assim, a “linha editorial” escalafobética e estúpida do verdadeiro chefe da quadrilha que, ao receber uma honraria do Congresso Nacional pelo aniversário da Constituição Federal de 1988 - que, noutra época, ele negou e rasgou -, fez questão de vomitar que a imprensa “não conhece a história” e, por isso, “avacalha a política”. São grãos de joio num mesmo saco de farinha vencida. O segundo abandonou a verve tragicômica que, em 04 de agosto de 2005 e quase ao som de “Nervos de Aço”, fê-lo consagrar “o despertar dos instintos mais primitivos”, numa fração das mais surreais e de maior audiência da novela histórica da “Bananeira-Jeitinho”. Ciente de seu indelével papel enciclopédico - afinal o Brasil recente pode ser dividido em antes e depois da nitroglicerina “Bob Jeff” -, enclausurou-se em sua casa de campo e, com boné na cabeça e camisa de motoqueiro, limitou-se a entoar um último fado: “O momento é de silêncio. Não me regozijo. Sou um réu condenado como todos os outros”. Concomitantemente, o presidente do STF, ministro Joaquim Barbosa, levava trabalho pra casa naquele feriadão. Ato de ofício, era seu dever determinar a execução das penas e expedir as ordens de prisão em regime fechado, semiaberto e aberto, após decisão favorável da ampla maioria do togado colegiado. Como um xerife que dominou o delírio do (ir)respeitável público encarnando a veste do célebre Sassá Mutema, coube a Quinzinho a intersecção histórica de pôr chancela nos documentos que, “como nunca antes na história deste país” - diria

Lula da Silva -, conduz ao xilindró a alta cúpula do partido político que abocanhou o Palácio do Planalto há mais de uma década e pretende manter-se lá noutros mandatos. Por tétrico, neste penúltimo capítulo da saga Mensalão restou-nos a constatação do aparelhamento do Poder Judiciário, para além de sua nauseabunda lentidão e garantismo. Num último suspiro da barbárie, dois dos supremos ministros tentaram engatar uma marcha à ré: quase uma década depois dos crimes e antes de mandar prender a quadrilha, retroagir à audição dos advogados sob alegação de conceder ampla defesa aos réus fartamente condenados. Ignomínia, convenhamos. Irritado e como resposta, Joaquim Barbosa lançou ao ministro Marco Aurélio Mello a seguinte pergunta: “Há quantos anos Vossa Excelência integra esta Corte?”, ao que ouviu: “Há 22 anos, presidente”. Indagou Quinzinho: “Já viu algo semelhante acontecer por aqui?”, no que foi respondido: “Não, presidente. Nunca vi algo igual. Mas, agora parece que vale tudo e eu e o ministro Lewandowski devemos estar errados”. A conclusão do presidente foi extraordinária: “Nunca viu algo assim porque, em Ações Penais, era tradição nesta Casa não condenar ninguém! E não, ministro Marco Aurélio, vocês não estão errados. Vossas Excelências foram vencidos!” Não espanta, portanto, que na alegoria verde-amarela, depois do papagaio malandro Zé Carioca, o herói nacional sirva-se de uma anacrônica capa preta e muitas doses de destempero e analgésicos para combater dores na coluna. Na sua e na coluna vertebral da atual politicagem brasileira. Bom trabalho, xerife Quinzinho... bom trabalho! Helder Caldeira é escritor, articulista político, palestrante, conferencista e colunista do portal Revista On. É apresentador do SBT e autor dos livros “A 1ª Presidenta” e “Águas Turvas”. helder@heldercaldeira.com.br

1º LUGAR – A REFORMA PARTIDÁRIA

Tudo seria diferente se o Brasil acolhesse a figura dos candidatos avulsos POR PHILIPPE GUÉDON

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e fosse minha a missão de apontar a questão que está a exigir solução com mais premência no Brasil, eu responderia ser a reforma partidária. Pois vejo-a como causa do descalabro ético e técnico que conhece a nossa administração pública: RPPS falidos, transposições de poeira em vez de água, estradas de ferro que não transportam uma tonelada de nada, planejamento nulo, marqueteiros no lugar de administradores. Um horror. revistaon.com.br

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GENTE OPINIÃO

A nossa Constituição Federal abre-se por uma declaração que arrebata (art. 1º, parágrafo único): “todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou, diretamente, nos termos desta Constituição”. O texto da Constituição enumerou possibilidades de ação direta, e o Estatuto da Cidade regulamentou os artigos 182 e 183, que tratam da gestão participativa. Bacana. Mas descumprido e sem cobrança. Não consigo atinar como nem porquê fomos montando um sistema partidário perverso, na contramão dos princípios republicanos e democráticos. A Constituição, redigida por parlamentares filiados a partidos políticos e, portanto, sujeitos à influência de suas cúpulas, declarou – artigo 17 – ser “assegurada aos partidos políticos autonomia para definir sua estrutura interna, estrutura e funcionamento”, tendo por única obrigação o registro (e não a aprovação, como tentam nos fazer crer os senhores ministros no seu portal) de seus estatutos no TSE. Resultou, assim, criada uma terra de ninguém logo ocupada por espertalhões. O atual debate sobre o paradoxo de um condenado à suspensão de direitos políticos exercer, ou não, um mandato eletivo, não vale para a direção de partidos políticos; conheço caso de dirigente que não se poderia filiar a um partido mas é secretário geral de executiva nacional, deliberando assim sobre uso de verbas do Fundo Partidário. E afirmo que normas estatutárias em vigor, por exemplo, quanto à seleção dos candidatos que vão compor as nominatas não passariam pelo velamento de qualquer um dos MPs estaduais nem pelas Juntas Comerciais. A Lei nº 9096/95, a Lei dos partidos políticos, definiu estes como pessoas jurídicas de direito privado. O que resulta no fato de trinta e duas pessoas jurídicas de direito privado repartirem entre si o monopólio de indicação de candidaturas a cargos eletivos públicos no Brasil, desde vereador a presidente, e indiretamente, a Ministro do Egrégio STF, segundo critérios sobre os quais não devem satisfações a ninguém. Interna corporis... Tudo poderia ser diferente se o artigo 14, § 3º, da Constituição, não definisse, entre as condições de elegibilidade, a filiação partidária. E se a Lei não aprofundasse este conceito, transformando o direito de apresentar candidaturas em odioso oligopólio reservado a 32 organizações de direito privado que pairam acima da maioria dos velamentos, livres para criar as regras internas que acharem válidas. O que, entre outras contradições, nos permite constatar que organizações geradas para defender os valores republicanos mantêm presidentes inamovíveis há quinze, vinte ou vinte e cinco anos... Tudo seria diferente se o Brasil acolhesse a figura dos candidatos avulsos. Por que não podem apresentar-se às eleições candidatos que não sejam chancelas por um dos 32 partidos, que não são mais do que ONGs com verbas asseguradas e livres da maioria dos controles? A ONG Voto Consciente publica em sua página eletrônica uma matéria na qual informa que o Jornal do Senado “chegou a publicar um estudo sobre o assunto, apontando que em apenas 9,68% dos 217 países do mundo, as candidaturas avulsas não são permitidas nem para o Legislativo e nem para o Executivo”. Pois somos um deles, onde o povo, de quem emana todo 22

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o poder, acha que vota em “diretas, já” ao ser obrigado a sufragar uma das figuras escolhidas pelas cúpulas de 32 partidos. Compostas, no seu total, pelo que avalio ser um universo máximo de umas trezentas pessoas... Querer que funcione, assim, é muito ingenuidade! Ou esperteza. Francês naturalizado brasileiro desde 1964. Foi o fundador do PHS, já ocupou diversos cargos no governo e luta pelos direitos da cidade e da população petropolitana. phiguedon@gmail.com

HIPOCRISIA NÃO É CRIME Ser hipócrita pode até ser a manifestação de desvios de caráter POR EDUARDO JORGE

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detenção dos condenados pelo Mensalão, a partir de 15 de novembro, provocou apaixonadas reações, devidamente divulgadas na imprensa. Houve vários artigos e entrevistas - favoráveis e contrárias aos mensaleiros, ao tribunal, ou aos procedimentos da prisão. Houve quem dissesse que a detenção significa o início de uma moralização da república - o que, infelizmente, soa como otimismo exagerado. Na contramão, o PT, sintetizando o apoio aos mensaleiros, criticou em nota oficial o “espetáculo” criado em torno da prisão. Através dos jornais, retomou o surrado discurso de criticar a imprensa - velha reação de culpar a janela pela paisagem. A mais interessante reação, porém, é a de alguns dos condenados. Não porque alegam inocência, simplesmente. Dirceu, Delúbio e Genoíno discursam como virtuosos, mártires, perseguidos, libertários, democráticos. E, obviamente, honestos. Querem mostrar que encarnam valores do bem - e que tudo o que se lhes for oposto é necessariamente o mal. Não são apenas inocentes: são heróis. Obviamente, não é o caso. Alegar ou fingir virtudes que não se têm é a estrita definição de hipocrisia. Culpar o juiz, o tribunal, a imprensa ou “uma conspiração da direita” (como já fez Delúbio) é apenas uma consequência desta mesma hipocrisia. Incapaz de provar sua inocência, o condenado ataca seus acusadores. A máxima atribuída a Lênin sintetiza esta estratégia: “Acuse-os do que você fez; xingue-os do que você é”. O culpado se transforma em vítima, esperando que a insistência de seu discurso convença alguém de que a mentira é verdade. O problema é que a hipocrisia dá resultados. Insistindo na mentira, alegando virtudes que não tinham, muitos ditadores chegaram e se mantiveram (e se mantém) no poder. Com hipocrisia, tiranos já justificaram as mais arbitrárias iniciativas, to-


das elas em nome da “liberdade”, do “progresso”, da “justiça” e de outros altos valores, que obviamente os governos tirânicos não possuem. Mesmo nas democracias, a hipocrisia geralmente é considerada quase uma característica intrínseca da classe política. E é assim porque dá certo: sempre há quem acredite nos hipócritas. E sempre haverá muita gente que acreditará. Os mensaleiros do PT foram julgados e condenados em um regime democrático. Que há dez anos é conduzido pelo PT. Foram julgados e condenados em um tribunal no qual a grande maioria dos juízes foi nomeada pelo PT. Suas prisões não derivaram de um ato tirânico. Não foram levados à cadeia pelas forças de repressão de um regime ditatorial. Não foi um ato de arbitrário, ou de violência (considerando-se que colocar alguém na cadeia não é um ato de violência, se derivado de uma decisão judicial em um regime democrático). O encarceramento não se fez às escondidas, como nas ditaduras. Ao contrário: foi acompanhado minuto a minuto, sob a luz dos holofotes da mídia, a mesma mídia que os condenados e seu partido tanto criticam. Para usar a palavra citada pela nota oficial petista, as prisões foram mesmo um “espetáculo”. Os mensaleiros do PT, portanto, não são “presos políticos”, como se autoproclamam. Não são “heróis”, ou “perseguidos”, como sua claque os define. Assim como tantos homens públicos, apenas exercem o eficiente discurso político da hipocrisia. Criminosos até podem ser condenados e encarcerados - mas a hipocrisia, demonstra a história, sempre será exercida com toda a liberdade. Afinal, ser hipócrita pode até ser a manifestação de desvios de caráter. Mas hipocrisia não é crime. E sempre atinge algum resultado. É jornalista, mestre em ciência política e coordenador do curso de jornalismo da Universidade Estácio de Sá (Campus Petrópolis). eduardojorge.com@gmail.com

LABIRINTO O desejo é amoral e a vida não é justa POR ZÓZIMO

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e me encherem o saco mais uma vez eu vou embora. Assim, em tom ríspido, Paola se dirigiu à mãe em mais um daqueles intermináveis bate boca. Paola, aos 19 anos, prefere a companhia das meninas, em todos os sentidos, e sua mãe pressionada pelo pai, cobra outra postura dela. O pai de Paola chama-se Francisco, é engenheiro químico, a família mora em Higienópolis, São Paulo, porém, Francisco trabalha em Brasília, onde fica durante a semana.

Filho dos anos 80, Francisco curte a música de U2, Pink Floyd, Beatles, etc. Não é de conversar muito com a filha, até porque trabalha excessivamente e fora, no entanto, cobra muito de sua esposa. Francisco curtiu a festa de 15 anos de Paola até mais do que ela, adora as formalidades e espera um príncipe encantado para a filha, e sonha conduzir a filha no tapete vermelho da Igreja no dia do casamento de Paola. É mais vaidoso do que as mulheres da casa, pecado atualíssimo. Nos finais de semana detesta ver em seu apartamento as amigas de Paola, sobretudo as horas e horas de porta de quarto trancada a sete chaves. Em Brasília onde trabalha, Francisco frequenta as baladas da Blue Space e da Oficina Club. Otávio é sempre generoso nas conversas com Rafael. Fala sobre a importância de sua afirmação masculina, muito embora esteja disposto a tudo para acolhê-lo do modo que quiser viver. Rafael é muito sensível e carinhoso e encontra no pai o afeto que um filho necessita para evoluir. Otávio é analista de sistemas, mora também em São Paulo, no mesmo bairro de Francisco, Higienópolis. Ambos se formaram na PUC-SP, e de lá se conhecem, e mantém uma amizade com algum contato já que ambos gostam de motocicletas. A esposa de Otávio pensa diferente, acha que ele exagera nas facilidades que concede ao filho e que deve forçar mais a barra sobre ele, e vez por outra acusa Otávio pela criação ‘equivocada’ do filho, não obstante a vida praticamente fora de Otávio. Ela é a dona da casa e da ‘verdade’. A esposa frequenta a Igreja Universal do Reino de Javé, e o pastor do seu templo já disse que cura Rafael de sua ‘enfermidade’, é só levá-lo ao templo e pagar o dízimo da conversão, que não tem valor fixado, é de acordo com o tamanho do pedido segundo a fé do servo de Deus. Otávio é agnóstico, respeita a religiosidade da mulher, no entanto, prefere o Edir Marinho na vertente empresário. Otávio trabalha no Rio de Janeiro há vários anos e frequenta a ponte aérea nos finais de semana. No Rio, é frequentador assíduo da Fosfobox Bar Clube e da Le Boy by Gilles, ambas em Copacabana. Embora sequer mantenham contato entre si, Paola e Rafael dividem as mesmas perplexidades do mundo atual, cada um a seu jeito. Paola é transparente, franca, expansiva, exibida e sem papas na língua. Rafael, um moita, cheio de segredos, mistérios e cismas. O desejo é amoral e a vida não é justa. Quando se faz necessário por força do trabalho, Otávio passa o final de semana no Rio de Janeiro. Hospedado no hotel Sofitel, em Copacabana, Rio de Janeiro, Otávio desce para o café da manhã acompanhado de um garotão sarado e dá de cara com Francisco. Você aqui? Tomado de um repentino susto, Otávio apresenta o acompanhante ao amigo: - você conhece o meu sobrinho Marcelo? Francisco sorrindo, cumprimenta o rapaz e dirigindo-se a Otávio diz: - conheço, ele foi meu sobrinho uns meses atrás. Se você quer sinceridade, transparência, honestidade, felicidade, sexo e um bocado de hipocrisia, Zózimo atende seus desejos Zózimo é escritor e também está no Facebook. Curta facebook.com/zozimo1965 revistaon.com.br

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TURISMO & GASTRONOMIA HUGO CARNEIRO

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Um castelo na terra do imperador POR NATHÁLIA PANDELÓ

Turismo, história, entretenimento e arquitetura. O Castelo de Itaipava é um dos principais cartões-postais da Serra e, nos últimos anos, ampliou a estrutura para sediar eventos e comemorações. Aberto para visitação, o local se prepara para a maior festa de Réveillon da cidade.

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TURISMO & GASTRONOMIA CAPA

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o quilômetro 56 da BR-040 é possível ver as duas torres que despontam na paisagem. No terreno que se abre aos olhos do viajante está a imponente construção: um castelo em estilo renascentista cercado por palmeiras - uma casa digna de rei na terra do imperador. No interior, seis salões amplos revelam os ambientes do Castelo de Itaipava, cenário cada vez mais procurado por noivos, aniversariantes, empresas e produtoras de eventos para dar vida a festas inesquecíveis. O espaço é escolhido para cerca de 50 eventos anualmente e a agenda de reservas já chega a 2016. De festivais de música a congressos corporativos e casamentos, o imóvel oferece uma estrutura que o destaca entre as casas de festa de toda a região. Além dos salões que comportam até 2.000 pessoas, conta com o Quarto Baronesa, uma suíte com antessala e até banheira de hidromassagem disponível como adição opcional para noivas e debutantes. Há, ainda, cozinha com 80 m², banheiros, es26

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A beleza da região inspirou o Barão J. Smith de Vasconcellos para construir o Castelo paço de apoio para a equipe dos eventos e uma área externa com estacionamento para até 1.000 carros, piscina e jardins. A beleza da região inspirou o Barão J. Smith de Vasconcellos, que importou material e mão de obra de 20 famílias da Europa para levantar o projeto dos arquitetos Lúcio Costa e Fernando Valentim em 1920. A obra levou cerca de cinco anos e utilizou blocos de pedra talhadas por artesãos portugueses, telhado de ardósia da França, mármore de Carrara, da Itália, janelas de jacarandá e ferragens inglesas e vitrais austríacos. São 42 cômodos, sendo 19 quartos. “A beleza do espaço fez com que ele parecesse inatingível. Mas, hoje, mais próximas do Castelo através dos muitos eventos realizados aqui, as pessoas veem que é possível sonhar em

fazer sua festa nos salões, que são um pedacinho da Europa aqui na Serra”, relata a gerente, Andréa Ninhaus. Tanta imponência gerou a procura de pessoas e empresas do Rio de Janeiro (a apenas 70 km), Juiz de Fora (100 km), Belo Horizonte, São Paulo, Londrina, Goiânia, Rio Grande do Sul, Amazonas e até de Miami, nos Estados Unidos. O estilo medieval com um toque normando clássico que fazem do castelo o único na categoria em todo o continente americano também chamou a atenção de fotógrafos, produções de televisão e de cinema. Recentemente, sua parte externa apareceu na tela da Rede Globo como a residência dos primos Charlô (Irene Ravache) e Otávio (Tony Ramos) na refilmagem da novela “Guerra dos Sexos”.


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O Castelo abre os portões para visitação gratuita toda primeira quinta-feira de cada mês, mediante agendamento Não foi a primeira vez que seus salões receberam presenças ilustres. Por ali, passaram os políticos Adhemar de Barros, Getúlio Vargas e Amaral Peixoto, além de várias outras personalidades do Rio de Janeiro e de São Paulo em festas inesquecíveis. Algumas das mais recentes já são associadas ao local - é o caso do baile de máscaras e do réveillon. Realizada pela primeira vez no último fim de ano, a segunda edição da festa gera expectativa há meses. A estimativa é que supere o público de 2012, quando atraiu cerca de 1.200 pessoas na noite de 31 de dezembro. “Recebemos ligações e e-mails desde maio de pessoas já interessadas em garantir seus ingressos. Apesar de parecer uma festa

que sempre fizemos, é bastante recente, mas foi muito bem recebida pelo público em geral”, analisa a gerente. Essa é apenas uma das tendências que surgem na agenda cheia. Já testado como palco de shows variados, o Castelo sedia mais um evento de grande porte em dezembro: o Ausländer Music Festival, com os americanos Girl Talk e Mayer Hawthorne, entre outras atrações. A maior frequência de festas e shows oferecidos ao público ajuda a criar uma proximidade com quem tem uma relação de “quase vizinhança” com o imóvel: o petropolitano. “Hoje, os produtores já veem o Castelo com outros olhos. Estão começando a se formar tendências, então queremos

fomentar e tornar possível esse tipo de evento. Estamos trabalhando não apenas para captar clientes, mas também em criar oportunidades para que as pessoas conheçam o Castelo”, conta Andréa. O espaço recebe, ainda, bodas, desfiles, festas temáticas, lançamentos de produtos, confraternizações e workshops empresariais, entre outros eventos diversos. Petropolitanos ou não, visitantes são sempre bem recebidos. Há dois anos, a empresa Lagos de Itaipava adquiriu a propriedade, que teve todos os espaços internos e externos renovados e, desde agosto, o Castelo abre os portões para visitação gratuita toda primeira quinta-feira de cada mês, mediante agendamento. É a oportunidade de conhecer de perto toda a beleza que pode ser conferida no tour virtual no site castelodeitaipava.com.br. O passeio impressiona já na sala da lareira, do carpete no chão ao belo lustre que ilumina o ambiente, ideal para um bate-papo nos belos sofás vermelhos mesmo nos dias frios da Serra. revistaon.com.br

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Ao lado, fica o salão Zodíaco, com pisos do nobre mármore de Carrara e que dá acesso aos quartos no piso superior - esses, exclusivos de acordo com a contratação. Também ficam no segundo andar a sala VIP, duas varandas que levam ao terraço com vista para todo o terreno e os luxuosos camarins do noivo e da noiva. Da Sala da Lareira também é possível se dirigir ao Espaço Cristal, o mais amplo e onde acontecem as recepções e eventos. Como o nome indica, o espaço tem bastante luz - durante o dia, a iluminação natural entra pela estrutura de vidro e, à noite, ganha o reforço de nove belos lustres que compõem a decoração do espaço. Já no Salão Central, a luz natural vem do teto, também todo feito em vidro. A pista de dança conta ainda com um belo mosaico iluminado. A partir dali, também é possível se dirigir à piscina, que fica em uma área ampla de muito verde, com árvores e um extenso gramado. Outros ambientes incluem as salas do Barão e da Baronesa, o hall dos brasões e o Castelo Clube, um gazebo de 540 m² completamente mobiliado que faz parte do complexo. Completam a mansão, a sala de música e galerias que abrigam a história de seus habitantes. Ela está nos vitrais com o brasão da família, nas estantes esculpidas em relevo da biblioteca e até no parque que cerca a propriedade.

PISTA DE DANÇA Ambiente tem iluminação natural durante todo o dia revistaon.com.br

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HISTÓRIA Hall reúne brasões da família do barão J. Smith de Vasconcellos

“O que mais encanta as pessoas é o espaço que remete ao lúdico em uma estrutura ampla, agradável e sofisticada”, Andréa Ninhaus, gerente do Castelo Para a gerência, é esse ambiente, que une o belo, o histórico e o divertido, o maior atrativo de eventos para quem vem de vários lugares do país. “Petrópolis já tem essa aura do passado, do charme do Império e do clima romântico, mas o que mais encanta as pessoas aqui é esse espaço que remete ao lúdico em uma estrutura ampla, agradável e sofisticada. É uma experiência única em toda a região Serrana”, avalia Andréa. 30

Revista On Dezembro & Janeiro

Um dos patrimônios e cartões-postais da cidade, o Castelo também ganhou novos contornos no jardim a partir da nova gestão. Com a fachada mais aparente, o edifício chama a atenção de quem passa pela estrada que liga Petrópolis a Itaipava e ao Rio de Janeiro, dois polos de eventos e festas por excelência. A estrutura maciça do prédio encontra seu contraponto na sensibilidade da atenção ao detalhe em cada um

dos aposentos. Das peças expostas na cristaleira às que enfeitam as paredes, a decoração traz o visitante ao mundo do Barão que se instalou no clima tropical de altitude da Serra Fluminense e, descendente de portugueses e ingleses, trouxe parte de suas raízes para o Novo Mundo. O que em 1920 foi uma novidade em todo o continente, hoje é uma referência em eventos e festas em nível nacional.


TURISMO & GASTRONOMIA SABORES

Paraíso

Creme de Amêndoas MODO DE PREPARO

INGREDIENTES

6 gemas 120g de açúcar 30g de farinha 500 ml de leite 80g de farinha de amêndoa

Leve o leite ao fogo até ferver. Bata as gemas com o açúcar ate obter um creme claro. Acrescente a farinha de trigo, a farinha de amêndoa e bata por um minuto. Acrescente o leite quente e misture bem. Leve novamente ao fogo baixo e mexa sem parar até dar o ponto de creme e cozinhar bem. Leve à geladeira cobrindo com filme pvc.

MONTAGEM

Em uma taça, coloque uma camada de creme de chocolate, uma camada de creme de amêndoas e a calda de maracujá. Finalize com chantilly, cacau em pó e tiras de chocolate. Coloque a taça em um prato e decore com geleia de frutas vermelhas, gotas de chocolate e colher em forma de pássaro. ARQUIVO PESSOAL

O

Paraíso deve ser um lugar parecido com isto. A doçura dos cremes de amêndoas e chocolate. A frescura e leveza da calda de maracujá e um coral de anjos ao fundo. Só não temos os anjos, mas é bem possível que ouça ao provar a sobremesa Paraíso.

Calda de Maracujá INGREDIENTES

MODO DE PREPARO

250 ml de polpa de maracujá 250 ml de água 130 g de açúcar 20 g de manteiga Maisena ou fécula de batata para dar o ponto de calda

Doure o açúcar até obter a cor de ouro. Acrescente o suco de maracujá e a água. Deixe cozinhar em fogo médio por 10 minutos. Em seguida, coloque a fécula de batata e misture bem. Por fim, acrescente a manteiga para dar brilho à calda.

Creme de Chocolate INGREDIENTES

MODO DE PREPARO

Coloque todos os ingredientes em uma panela e leve ao banho Maria para cozinhar por 15 minutos. Após o cozimento, coloque o creme em um recipiente e leve à geladeira.

Barão Chef do restaurante Barão Gastronomia & Eventos, indicado e recomendado pelo Guia Quatro Rodas 2012 e 2013. www.baraogastronomia.com.br Facebook.com/baraogastronomiaeventos contato@baraogastronomia.com.br

HENRIQUE MAGRO

120 g cacau em pó Leite para dar o ponto de calda 30 g de manteiga 1 cálice de licor de cacau 1 colher de sobremesa de geleia de laranja

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ACONTECEU

MASTERCASA ENCANTA VISITANTES NA EDIÇÃO COMEMORATIVA DE 15 ANOS FOTOS DIVULGAÇÃO

A edição foi realizada na Casa do Barão de Mauá e atraiu milhares de pessoas durante quase dois meses com programação variada.

D

esde 1998 atraindo apaixonados por arquitetura, design e paisagismo, a última edição do Mastercasa comemorou essa trajetória já de muito sucesso e celebrou o evento como o maior na sua categoria em toda a região, reunindo 53 arquitetos e suas equipes, em um total de cerca de 300 profissionais envolvidos. De 26 de outubro a 8 de dezembro, o Mastercasa apostou na combinação de estilo e tendências para impressionar os visitantes que passaram pela Casa do Barão de Mauá, palacete em estilo neoclássico cujo dono teve o legado de 200

anos também comemorado neste ano. Os 32 ambientes trouxeram a harmonização entre a imponente mansão e os cômodos modernos, funcionais e integrados. Da sala de jantar ao banheiro do casal, passando por lavabo, sala de chá, jardim, fun room e pelo Salão Barão de Mauá, a casa contou também com apoiadores de peso: a Adega Literária, o Breakfast Lounge e até com espaços como o spa e o pavilhão 15 anos. Para completar o evento, a programação uniu o design e experiências para os sentidos: palestra, tarde de autógrafos, oficina de pizza, degustação de pratos e

cervejas e até uma premiação, realizada pela primeira vez para eleger os destaques em cada categoria presente nos ambientes decorados. Tudo para unir os profissionais da área e garantir para quem visita uma experiência completa. Quem comprova isso é o Business Café, que atendeu entre 150 e 300 pessoas por dia. Participando do evento pela segunda vez, as proprietárias Eduarda Salles e Luciana Reis encontraram o Mastercasa ainda maior e mais importante. “Houve uma grande evolução tanto na estrutura quanto na organização e na captação de apoio junto


“Após toda essa trajetória, vemos o quanto o evento cresceu e amadureceu”, diz Kity Amaral aos patrocinadores. Essa edição contou com espaços criativos e completamente integrados, ainda mais na casa linda do Barão de Mauá”, avalia Salles. Essa é a primeira vez que o evento acontece nessa locação. Em sua 23ª edição, as organizadoras do Mastercasa, Cristina Chimelli e Kity Amaral, comemoram a volta à cidade onde o evento nasceu [ele já se expandiu para Búzios, Niterói, Rio de Janeiro e Nova Friburgo]. Nas duas últimas edições, chegou a Juiz de Fora, em Minas Gerais. “Após toda essa trajetória, vemos o quanto o evento cresceu e amadureceu. Para comemorar os 15 anos do Mastercasa, buscamos um lugar com maior

destaque. E nada melhor que trazê-lo para uma casa que faz parte da história de Petrópolis, também uma forma de homenagear esse homem que fez tanto pela cidade”, avalia Kity. Outro aniversariante foi lembrado no gramado o no quarto do poeta. Vinicius de Moraes, cujo centenário foi comemorado ao longo de 2013, chegou a usar a casa do Barão de Mauá como residência de verão. O Poetinha se fez presente nos versos nas paredes e no espaço Encontro dos Amigos, já que ali o compositor realizava as suas famosas “Viniçadas”, encontros musicais com os colegas da bossa nova. A sofisticação do ambiente e seu design arrojado, que brincou com

o vintage e cores vibrantes, também estiveram presentes em vários outros cômodos da mansão. A combinação agradou quem visitou o evento. É o caso da professora Maria do Carmo Facó. Interessada em arquitetura e decoração, ela visitou o Mastercasa e encontrou ideias inovadoras. “É um evento muito válido, onde podemos ver usos diferentes, como o piso que é colado na cerâmica visto aqui e que podem ser úteis nas nossas casas”, conta Maria do Carmo. “É interessante ver muitos materiais que até descartaríamos se tornando úteis, o que mostra um aproveitamento ecológico”, avalia sua amiga Célia Vieira, profissional do lar. Unindo as últimas novidades do design a ambientes funcionais e aconchegantes, o Mastercasa encerrou sua edição de 15 anos com sucesso de público e integrando arquitetura, história e cultura no evento que segue como o mais importante do segmento em toda a Região Serrana.


VISITANTES DA NATUREZA POR NATHÁLIA PANDELÓ

FOTOS JACI CORRÊA

A extensa área verde de Petrópolis atrai turistas de todo o país e do exterior para aproveitar as belezas naturais Serra

C

achoeiras, montanhas, trilhas, travessias e muitos outros atrativos naturais. Foi esse o cenário que encantou D. Pedro I em sua passagem pela região em 1822, a caminho de Minas Gerais, e até hoje continua a atrair visitantes. Mais que a fazenda do padre Correia, que conquistou o imperador, a localização privilegiada na Serra fluminense faz de Petrópolis um dos mais importantes destinos para quem gosta de praticar montanhismo, ciclismo, mountain bike, tirolesa, voo livre e caminhada rural e, além disso, estar em contato com a natureza. O turismo ecológico não é novidade: o termo já era utilizado em 700 a.C. para identificar as rotas cercadas por belas paisagens na África. De lá para cá, a atividade se organizou, modernizou e não para de ganhar novos adeptos. Enquanto as viagens convencionais crescem 7,5% ao ano, estima-se que os passeios ecológicos estejam aumentando em até 25% anualmente e, de acordo com a Organização Mundial do Turismo (OMT), correspondem a 10% da demanda por viagens. Entre os benefícios da prática estão a geração de empregos especializados, melhorias em infraestrutura e nos equipamentos das áreas protegidas, entre outros.

BELEZAS NATURAIS Cachoeiras estão entre os principais destinos do turismo ecológico 34

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A Fundação de Cultura e Turismo de Petrópolis (FCTP) também já identificou esse aumento na procura. “O ecoturismo é um dos segmentos que mais cresce no mundo e, pela riqueza natural do município, temos grandes possibilidades de avançar nessa área. Há várias áreas naturais em Petrópolis, mas consideramos que o Parque Nacional da Serra dos Órgãos e o Parque Natural Municipal são os espaços mais recomendáveis. As atividades mais procuradas são cavalgada, caminhada e, no verão, banhos de cachoeira”, relata a diretora de turismo da FCTP, Evany Noel. A proximidade de um ambiente que convida a passeios que integram água, terra e ar é um dos fatores que ajudaram a popularizar essa prática até entre quem convive em contato direto com esses belos cenários. De acordo com a Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Petrópolis, a cidade conta com uma área de vegetação protegida de 595.111 km², que corresponde a 74% do território municipal. O outro é a internet. É o que conta o guia de montanhismo Jaci Corrêa, que há mais de 20 anos recebe turistas de todo o Brasil em busca das


TURISMO & GASTRONOMIA ATRATIVO

“Pela riqueza natural do município, temos grandes possibilidades de avançar nessa área”, Evany Noel

trilhas da região - entre elas a travessia Petrópolis-Teresópolis, considerada a caminhada mais bonita do país. “O número de pessoas interessadas em praticar o montanhismo cresce todos os anos, mas quase todas elas vão por conta própria. Pegam um guia de montanhas impresso que fale sobre aquela trilha e trocam informação entre amigos. O montanhismo tem mesmo essa coisa da busca da aventura, de forma controlada e segura. As pessoas ouvem falar da travessia, por exemplo, procuram na internet e acabam chegando ao meu site [condutoresdaserradosorgaos.com.br], porque os atrativos não são divulgados, mesmo com um grande crescimento nessa área”, relata. Apesar disso, a procura acontece durante o ano todo. Entre os pontos mais visitados estão a Pedra do Retiro, a travessia Araras-Secretário, [a trilha da cachoeira] Véu da Noiva, a travessia Uricanal, a trilha Cobiçado-Ventania, entre outras. São cerca de 15 guias e 20 montanhas populares entre os adeptos do esporte. Algumas das caminhadas, como a que leva à cachoeira Véu da Noiva, dentro da Serra dos Órgãos, são consideradas leves e podem ser feitas por qualquer pessoa - desde que tenha autorização médica. “Não há contraindicação para praticar o esporte, mas é importante que a pessoa esteja andando bem em estrada por cerca de 10

VISTA Petrópolis tem cerca de 20 montanhas procuradas por amantes do esporte

quilômetros para conseguir fazer uma trilha leve, já que é na subida”, orienta Jaci. Outras recomendações são: sempre carregar lanterna, kit de primeiros socorros, telefone, capa de chuva, água e lanches rápidos. Outra vocação de Petrópolis - a histórica - não fica de fora dos tours ecológicos. Um dos roteiros mais procurados é de Araras ao Vale das Videiras, região que abriga algumas das mais charmosas fazendas do século 19 e é considerada um dos cinco nichos mais preservados da Mata Atlântica. “O que as pessoas mais buscam é o contato com a natureza, sossego e fugir do stress do dia a dia”, informa Jerônimo Pinheiro, engenheiro florestal e proprietário da Jeep Eco Tour. Fundada em maio de 2013, a empresa recebe turistas de todo o país e até do exterior em busca do “city tour” pelo Centro Histórico, do roteiro eco-rural Caxambu, da rota Fazenda Inglesa-Rocio, dos circuitos do Bonfim e Itaipava rural e do roteiro eco-residencial de Nogueira. A expectativa dos guias é que melhore o incentivo à prática. Em outubro, a Câmara Municipal começou a mudar esse quadro. A casa legislativa aprovou uma indicação para a criação de um programa de turismo ecológico nas escolas do município. O objetivo é promover visitas guiadas dos alunos às reservas e parques da região.

A Fundação de Cultura e Turismo também reconhece o grande potencial para a prática dessas atividades na cidade. Ela já identificou a necessidade de desenvolver um Programa de Ecoturismo e Aventura que envolva o planejamento, a organização e a operacionalização das atividades com segurança e qualidade e está se estruturando para desenvolver a parceria com entidades especializadas na área. Além disso, a prefeitura participa, com empresários do turismo, do Projeto de Estruturação da Cadeia Produtiva no Entorno do Parque Nacional Serra dos Órgãos – o Parnaso foi um dos escolhidos pelo Ministério do Turismo para receber esse projeto. “Consideramos muito importante fortalecer esse atrativo natural e envolver as empresas de turismo, de forma que possamos oferecer produtos estruturados”, avalia Noel. O município captou recursos junto ao Ministério do Turismo para a contratação a elaboração de projetos de infraestrutura básica, infraestrutura turística e de sinalização viária e turística para Estruturação dos Circuitos Ecorrurais [Caminhos do Brejal, Pedras do Taquaril, Bonfim, Araras-Videiras], entre outros projetos. Podem ser os primeiros passos para formar uma nova geração de apaixonados pelas trilhas, fazendas e cachoeiras da Cidade Imperial - assim como D. Pedro.

TRAVESSIA Grupos de três a 20 pessoas fazem trilhas durante todo o ano na cidade revistaon.com.br

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TURISMO & GASTRONOMIA VIAGEM

Banho de mar em Isla Mujeres

Cancún País México Estado Quintana Roo Fundação 20/04/1970 População 526 mil Fuso horário UTC-6

na ltura Mexica

ret - Cu Show em Xca

Tulum

Mergulho em Isla Mujeres

Luciana Basso Quando ir

É sol o ano inteiro. Em setembro não é muito indicado ir por conta dos furacões, mas há anos não tem um. Eu fui em setembro e sobrevivi. Como chegar

Eu fui pela Tam até a Cidade do México. Lá, peguei um voo doméstico para Cancún. Acredito que a opção de fazer conexão no Panamá seja mais prática, além de ser um ótimo destino para compras. O bom do México é que o visto você tira pela internet. Mas não se esqueça da vacina contra febre amarela. Onde ficar

Cancún possui inúmeros resorts, desde os mais baratos até os mais luxuosos, tem opções para todos. Onde comer

Como fiquei hospedada em Resorts All Inclusive, a maioria dos resorts do destino são, não fiz nenhuma refeição fora, mas a rua principal de Cancún possui 36

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em Cancún

S

ol, areia branquinha e mar azul turquesa com temperatura agradável. Com toda certeza, esses são os motivos que mais cativam os turistas na hora de escolher Cancún como destino de viagem, mas a rica cultura maia existente no destino também foi um fator decisivo para a minha escolha. Uma viagem que fiz com um grupo de dez amigos, mas que pode ser feita tranquilamente com a família e, principalmente, a dois. Cancún tem de tudo, das noites mais badaladas aos programas mais românticos. O mar de Cancún parece de mentira, pintura. Permaneci no destino por dez dias e não teve um segundo que não olhasse e não me encantasse com tanta beleza. Essa imagem ficará eternamente em minha memória como uma das paisagens mais lindas que já presenciei. O destino é rico em passeios, tanto culturais quanto de diversão. Entre os locais que visitei, destacam-se Tulum, um sítio arqueológico com antigas ruínas maias, onde temos a oportunidade de vislumbrar paisagens incríveis e mergulhar na história e cultura dos maias, civilização habitante anteriormente do México. Xcaret foi inesquecível, um parque ecológico onde passei um dia incrível, tive a oportunidade de encontrar em um só lugar cultura e diversão. Mergulho em rio subterrâneo e um show incrível, com uma produção impecável de duas horas sobre a cultura maia e também a cultura mexicana marcaram o meu dia. O parque oferece inúmeras


inúmeros restaurantes e bares que com toda certeza valem a experiência. O que fazer

Visitar as zonas arqueológicas e os parques ecológicos: Tulum, Xcaret e XelHá. A Cocobongo e Isla Mujeres também não podem ficar de fora do roteiro. No mais, é curtir as paisagens e aproveitar o lindo mar do Caribe. Dicas para a viagem

O destino é muito quente, beba bastante água. Fique pelo menos uma semana para aproveitar de tudo. Fazer os passeios é essencial, mas tire uns dois dias para curtir o hotel, o mar, ficar apenas aproveitando, sem compromisso de hora.

Xcaret

atrações, é possível ficar em Xcaret por dias e ainda ter atividades para curtir. Mas o passeio de lancha que fiz pelo mar do Caribe, esse realmente não tem descrição. Com destino a Isla Mujeres, passamos o dia navegando o mar do Caribe, com muita música, comida, bebida e diversão. Aquele mar a sua volta te faz pensar na vida, te faz refletir e marcar eternamente o momento na memória. No caminho, uma pausa para o mergulho, com muitos peixinhos e corais. A ilha é muito visitada e, a todo momento, chegam iates, lanchas, barcos para compras e também para tomar um solzinho e mergulhar. A noite em Cancún é bem agitada, com muitos bares, restaurantes e boates que animam a rua principal, mas o local onde ninguém pode deixar de ir é na Cocobongo. De estrutura, nada muito fora do comum, mas as apresentações deixam até o mais baladeiro arrepiado. Telões anunciam em quanto tempo o show principal irá iniciar, clips, música e muita tequila preparam os ansiosos

telespectadores para a atração da noite. Mas cuidado, você pode ser a abertura do show. Quando eu vi, já estava com duas companheiras de viagem no palco principal, dançando e aparecendo em dois telões gigantescos para animar baladeiros do mundo inteiro. E, acredite se quiser, é um mico que vale a pena. Para quem quer aparecer menos, pode dançar apenas em cima do balcão. Apesar de todas as atrações na noite terem me deixado de boca aberta, nada foi mais arrepiante que quando começou a tocar samba e bolas verdes e amarelas começaram a cair do teto da boate, o único país homenageado a noite toda, meu Brasil. Foi emoção que não acabava mais. Viver Cancún é uma experiência impossível de resumir em poucas palavras. Um povo hospitaleiro, que faz de tudo para entender sua língua, uma cultura forte, que predomina todo lugar que você vá, uma comida típica deliciosa e paisagens que ficarão na memória eternamente.

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GUIA GASTRONÔMICO

ATELIER CAFETERIA

Surgiu em 2013 um novo estilo de negócio. A Brigit Atelier Cafeteria é um local que oferece diversos serviços em um. Joias, acessórios e, um bom café. Além disso, todo o mobiliário está à venda. O conceito é diversificar a fim de proporcionar aos consumidores experiências diferentes devido a constante inovação na decoração.

EDUARDO BRITO

Estrada do Catobira, 30. Loja 03 - Itaipava - Petrópolis Tel.: (24) 2222-0588

A melhor pizza de Itaipava não é feita somente pelos melhores ingredientes. É preciso também conforto, bom atendimento e um ambiente agradável para apreciá-la. O lugar onde você encontra tudo isso é na Interlúdio Pizzaria. São mais de 40 sabores, entre pizzas salgadas e doces, aperitivos, além de vinhos para acompanhar. Venha conferir! Estrada União e Indústria, 9.430. Itaipava - Petrópolis Tel.: (24) 2222-0253 / (24) 2222-0053

Um restaurante onde você se sente em casa, reúne amigos e família para compartilhar boas histórias, e claro, pode apreciar a melhor comida caseira de Itaipava em um ambiente agradável e aconchegante. Isso porque o Interlúdio Restaurante oferece há 17 anos, o melhor sabor da região, com qualidade, carinho e respeito. Estrada Itaipava - Teresópolis, 2.165. Itaipava - Petrópolis Tel.: (24) 2222-2592 38

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BEM-ESTAR ARQUIVO PESSOAL

Esporte 39 Ciência 44

Jogo dos gêneros POR JOSÉ ÂNGELO COSTA

No país onde o futebol continua sendo o mais idolatrado pelo povo e outros esportes como basquete, vôlei e handebol também são apreciados, o korfebol, [korf – cesta; boll – bola], começa a ganhar espaço e conquistar cada vez mais adeptos. Ainda recente, a atividade, que mistura homens e mulheres em um mesmo time, é bastante praticada em Petrópolis por alunos de escolas da rede municipal de ensino.

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BEM-ESTAR ESPORTE

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ARQUIVO PESSOAL

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EPK Membros da Equipe Petropolitana de Korfebol

REPRODUÇÃO FACEBOOK

ua origem data de 1902, na Europa, mais precisamente na cidade de Amsterdã, Holanda, por iniciativa de Nico Broekhynsen. Logo, obteve boa aceitação e se expandiu para diferentes regiões do país, resultando na criação da Associação Holandesa de Korfebol. Em 1920, foi apresentado como demonstração nos Jogos Olímpicos. Veio para o Brasil no fim da década de 1990 com o empenho de um carioca: Marcello Bepi Soares. O primeiro contato do professor de educação física com o jogo aconteceu em 1998, em uma viagem internacional. Na ocasião, achou intrigante e, após inúmeras pesquisas, decidiu trazer a inovação. Basicamente, as regras são simples de serem assimiladas por quem pretende se tornar um atleta. Em primeiro lugar, não é permitido contato físico entre jogadores, o que acarreta falta. Trata-se de uma atividade coletiva e cooperativa e, consequentemente, deve existir liberdade completa de movimentação sem a bola. Sempre há equipes mistas constituídas por oito integrantes, ou seja, quatro homens e quatro mulheres juntos em quadra, obrigatoriamente. Com relação aos cestos, dispõem de várias alturas a fim de oferecer os mesmos direitos a todos, diferente do que ocorre no basquete, por exemplo. A novidade chegou à Petrópolis em 2010, por meio do próprio Marcello Soares que, na época, lecionava no Colégio Nossa Senhora de Lourdes. Ele promoveu palestras sobre o tema na UCP e Universidade Estácio de Sá e, ainda, organizou demonstrações na Avenida Koeler, Parque de Exposições de Itaipava e Sesi. Neste período, conheceu outro professor de educação física, hoje em dia um de seus colaboradores no município. “Professor Leandro [Azevedo] tem atuado com grande sucesso em diversos projetos sociais, nos auxiliando sempre em viagens a São Paulo, visitas ao Rio de Janeiro, reforçando a ABRAKO [Associação Brasileira de Korfebol] em seus projetos. Um grande amigo e aliado”, ressalta. Atualmente, conduz o trabalho no Colégio Anglicano de Araras. Leandro assegura que os alunos aderiram rapidamente ao jogo por ser muito prazeroso.

Marcello Soares diz que conta com forte apoio do professor Leandro Azevedo para incluir o projeto em Petrópolis O grupo sob sua coordenação participou de um campeonato brasileiro em São Paulo e terminou a competição em quinto lugar. “Nós temos a equipe mais estruturada do Brasil de korfebol, claro que com o apoio da Secretaria de Esportes, que me ajuda sempre que possível”. A meta é tentar divulgar o máximo possível e um fator preponderante para isto é a Secretaria de Educação, do qual faz parte e vem apoiando na inclusão do programa nas escolas. A adesão da rede pública tem sido grande, principalmente pelos profissionais da área que viram neste esporte um exercício alternativo. O esporte é democrático: cadeirantes, pessoas com qualquer outro tipo de deficiência e crianças com nível menor de autismo podem praticar tranquilamente, sem nenhuma preocupação.

PIONEIRO Marcello Bepi Soares foi quem trouxe o esporte para o Brasil

Consegue-se, portanto, incluir indivíduos com potenciais distintos em um mesmo ambiente onde as regras são diferenciadas. Segundo Leandro, o fato de proibir o uso de palavrões ou de meninas serem marcadas apenas por meninas e meninos somente meninos, facilita todo o processo. No entanto, uma das principais barreiras é a disponibilização de material profissional, encontrado apenas na Europa. A fim de suprir esta demanda, são produzidas peças similares às originais, exceto as cestas oficiais. Os


REPRODUÇÃO FACEBOOK

GÊNEROS O time sempre é composto por homens e mulheres

equipamentos, feitos por um serralheiro, dispõem de formato padrão que em nada atrapalha a aprendizagem. O estudante Ilmar de Souza Brito, 14 anos, é um praticante assíduo deste esporte que o faz manter a saúde, queimando calorias e trabalhando os músculos, e diz estar aprendendo a cada dia sobre como se portar dentro de quadra. “Aprendo a sair da marcação,

Para Camila Gerber, o korfebol é um jogo onde os atletas devem agir com estratégia e rapidez e pouco importa o tamanho e o tipo físico de cada um tenho mais fôlego e resistência. Faço amizades, aprendo movimentos que podem ser bem aproveitados, se tornarem belas cestas e definir o placar de uma partida. Conheço lugares belos jogando torneios e campeonatos”. Camila Gerber pertenceu ao time do curso de educação física da UCP. Apesar de o grupo não existir mais, ela atua na Equipe Petropolitana de Korfebol na companhia do professor Leandro Azevedo em Araras. Quando perguntada sobre o que a atrai neste esporte específico, responde categoricamente: “É um jogo muito rápido e de estratégia. O que importa mais nele é a inteligência nas táticas do que o físico de cada um como nos outros esportes, a velocidade e a altura”, explica.

A Secretaria de Esportes tem dado crédito e respaldo necessários para que a modalidade se expanda pelo município, em especial nos colégios. Conforme avalia o secretário da pasta, Renato Freixiela, nenhuma categoria pode ou deve ser discriminada. “Eu entendo que o korfebol, enquanto esporte estudantil, esporte escolar, é também um esporte recreativo. Ele é um desporto, com certeza. Tem uma competição, mas o lúdico dele é que encanta as crianças e todo mundo. E é um esporte fácil de jogar. Está sendo muito bem disseminado aqui em Petrópolis e a Secretaria vai dar todo o apoio para que esse projeto se desenvolva na cidade”, finaliza.


ANO NOVO PEDE BRANCO. DENTES

BRANCOS!

FOTOS DIVULGAÇÃO

O ano de 2013 já está chegando ao fim. Daqui a pouco começam as festas de Natal e Réveillon e, para iniciar o ano em grande estilo, é preciso estar de bem com a vida e com um belo sorriso no rosto, pois um sorriso bonito sempre chama atenção, impressiona e contagia quem está por perto.

A

brancura do sorriso é algo que as pessoas valorizam desde o Egito de 2000 anos antes de Cristo, quando, em nome da boa aparência, se esfregava sobre os dentes um pó que trazia na fórmula sal, pimenta e flor de íris. Isso mesmo: era desse jeito que os egípcios tentavam remover manchas dos dentes. No Brasil, os tratamentos estéticos tiveram aumento de 200% nos últimos três anos. Os responsáveis por essa crescente são os novos tratamentos ortodônticos, implantes, as lentes de contato para dentes e os clareamentos dentais, que proporcionam algo muito além do que simplesmente deixar os dentes brancos: ajuda a elevar a autoestima. No clareamento de consultório, o dentista aplica um gel de peróxido de carbamida e de hidrogênio nos dentes deixando-os mais claros. “É um processo seguro, que não prejudica a estrutura dental, mas que deve ser ajustado à necessidade do paciente para ser satisfatório e duradouro”, explica o especialista em Odontologia Estética da Quality, Dr. Rodrigo Sutter. Algumas regras precisam ser adotadas durante o período do tratamento de clareamento dental, como não beber refrigerantes, alimentos com molho e

chocolates, café, chás e ainda outros alimentos que contenham corante. O resultado dos tratamentos tem duração média de dois anos, dependendo dos hábitos alimentares do paciente. Os produtos aplicados atuam diretamente na dentina, estimulando a quebra das moléculas de cor. E isso acontece em uma área sensível, que pode ficar fragilizada por algumas horas após as sessões. “Qualquer pessoa, acima de 16 anos, que tenha uma boca saudável, pode fazer um clareamento. Mas é importante, antes de qualquer procedimento, consultar um dentista. Não é recomendado para tratar manchas acinzentadas ou de cor marrom escuro, que podem ter sido ocasionadas pelo uso do antibiótico tetraciclina na infância, ou por tratamentos de canal. No último caso, o tratamento indicado é o clareamento endógeno (interno ao dente)”, informa a ortodontista da Quality, Dra. Aline Cruz. Artistas, celebridades e até mesmo noivos que se preparam para a cerimônia de casamento, por exemplo, utilizam essa técnica para manter o sorriso sempre branco. Os dentes podem ser clareados de duas maneiras: no consultório, utilizando a tecnologia a laser, ou em casa, com orientação do dentista.

O clareamento de consultório é mais rápido por utilizar um gel clareador mais forte que o gel utilizado no clareamento caseiro. Para a especialista em Reabilitação Oral, Dra. Tatiana Brunelli, as grandes vantagens do tratamento estético são: aumento da autoestima e conquista de autoconfiança. “Por outro lado, o paciente deve estar ciente que ambos os métodos promovem sensibilidade dentária tem-

O resultado dos tratamentos tem duração média de dois anos

porária, principalmente no clareamento de consultório. Além disso, pessoas com restaurações nos dentes da frente deverão trocá-las após o procedimento”, diz. Vale ressaltar que nenhum tratamento clareador deve ser utilizado sem orientação profissional. O dentista é quem vai indicar a técnica de clareamento mais apropriada.


Dra. Aline Cruz Cirurgiã -dentista e Especialista em Ortodontia

GEL CLAREADOR Produtos aplicados atuam diretamente na dentina

Dr. Denis Guidini Especialista em Prótese Dentária; Implantodontia com atuação em Odontologia Estética

Dr. Fernando Benini Especialista em Ortodontia (Credenciado ao Damon System) e Dor Oro Facial. Pós-graduações na Universidade de Michigan e Kentucky (EUA)

Dr. Rodrigo Renato Sutter CLAREAMENTO DENTAL Aumento da autoestima e conquista da autoconfiança são as grandes vantagens do procedimento

Os dentes podem ser clareados no consultório, utilizando a tecnologia a laser, ou em casa, com orientação do dentista Os cremes dentais e enxaguatórios bucais que prometem clarear os dentes em poucos dias só devem ser usados com indicação de um dentista. Aparentemente inofensivos, eles removem a camada superficial dos dentes, o que pode ser prejudicial para a saúde bucal. A longo prazo o uso desses produtos pode ser ainda mais perigoso. Como não modificam a cor interna do dente, os branqueadores favorecem a pigmentação, ou seja, quando o paciente para de usá-los, os dentes ficam manchados e escuros rapidamente.

Especialista em Implantodontia; Dentística, Odontologia Estética com atuação em reabilitação oral e cirurgia oral menor.

Dra. Tatiana Brunelli Especialista em Implantodontia; Radiologia e Imaginologia com atuação em reabilitação oral e odontologia estética.

Shopping Pedro II – sala 912/913 Rua do Imperador, 288 – Centro – Petrópolis/RJ Tel: (24) 2231-4690 | 2243-6440


BEM-ESTAR CIÊNCIA

A REALIDADE DOS AMBIENTES VIRTUAIS POR NATHÁLIA PANDELÓ

FOTOS REVISTA ON

Pesquisas desenvolvidas pelo LNCC avançam estudos no campo da realidade virtual, que possibilita treinamentos e capacitação em imersão total

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om uma mão, o médico segura a seringa. Com a outra, tateia a coluna do paciente para identificar o espaço perfeito onde vai inserir a agulha entre as costelas. Para facilitar, transforma sua pele em uma mera camada transparente, através da qual é possível ver não só os ossos que formam a coluna vertebral, mas também o pulmão de onde será removido o líquido durante a punção pleural. Parece ficção científica, mas não é. Avanços no campo da realidade virtual já prometem mudanças significativas no modo como estudamos e praticamos habilidades e aptidões – e algumas delas nascem no Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), em Petrópolis. O conceito de realidade virtual existe há pelo menos 40 anos, mas foram as tecnologias desenvolvidas nas últimas décadas que possibilitaram progressos significativos - mesmo que as novidades venham até mesmo do mundo dos videogames. No LNCC, uma balança utilizada no console Nintendo Wii para jogos que envolvem atividades físicas ganhou nova função. Colocada embaixo de um manequim para treinamento de ressuscitação em casos de parada cardiorrespiratória, a peça possibilita uma qualificação muito mais eficaz, diagnosticando quando a técnica é aplicada na frequência, ângulo e com o peso correto - ou não. “Essa plataforma utiliza quatro balanças, uma em cada extremidade. Com o software que desenvolvemos especialmente para essa aplicação, o sistema consegue indicar se a massagem cardíaca está sendo 44

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TREINO Ellen Corrêa demonstra realização de punção pleural utilizando capacete e joystick

TATO Experiência tátil vai permitir uma imersão sensorial maior


“A realidade virtual é uma grande aliada da medicina, pois traz muitas vantagens para os médicos em treinamento e capacitação”, Jauvane de Oliveira

CIRURGIA ABDOMINAL Estudantes poderão treinar videolaparoscopia com ajuda de software

PETRÓLEO E GÁS Treinamento para plataformas pode ser feito em um ambiente cave

feita da melhor forma. Ele já foi testado, inclusive, por bombeiros, e um professor da Universidade de São Paulo (USP) faz o uso do software em sala de aula para treinar seus alunos”, conta o pesquisador responsável pelo Laboratório de Ambientes Colaborativos e Multimídia Aplicada (ACiMA) do LNCC, Jauvane de Oliveira. Em breve, estudantes de medicina também poderão se beneficiar de outras pesquisas na área. Procedimentos como o de punção pleural ou uma videolaparoscopia já têm aplicações sendo testadas pelos profissionais da instituição, visando um aprendizado mais imersivo. É o caso do capacete desenvolvido pela então estudante Ellen Corrêa, que isola o campo de visão do usuário e o permite praticar, por meio de um manete semelhante ao

dos videogames, todo o procedimento do exame. Outro software, aplicado a um equipamento de experiência tátil, treina a destreza do aluno em um exercício sensorial no abdome do paciente. “A realidade virtual é uma grande aliada da medicina, pois traz muitas vantagens para os médicos em treinamento e capacitação. Do mesmo modo que pilotos ganham experiência em um simulador de voo, é possível aumentar ou diminuir a complexidade dos casos e proporcionar uma vivência profissional homogênea para os médicos durante suas residências”, analisa o pesquisador. Outros trabalhos em andamento envolvem um atlas do corpo humano em três dimensões, além de um braço mecânico com uma caneta que permite simular uma

variedade de ferramentas, do bisturi à espátula odontológica. Mas, apesar de possibilitar uma gama de projetos ligados à medicina e saúde, a realidade virtual também se mostra uma das grandes apostas para áreas como defesa, petróleo e gás. Uma de inovações mais promissoras está no “cave”, um pequeno ambiente que provoca a imersão total do indivíduo com telas em 3D nas paredes laterais, frontal, no teto e no piso. Construído em uma estrutura de baixo custo no LNCC – com canos de PVC, linha de nylon e até um cabo de vassoura -, o equipamento ganhou uma versão “mini”, que traz em uma caixa de cerca de oito quilos dois projetores, computador, conexões internas, filtro e um sistema de software. Uma das simulações já realizadas pelo LNCC coloca o observador em uma plataforma de petróleo. Em breve, uma integração com outros sistemas táteis vai permitir tocar objetos e até interagir com eles. “Uma pessoa que vai trabalhar em uma plataforma petrolífera pode conhecê-la em um ambiente virtual e, de acordo com a função que vai desempenhar, já sabe onde fica o controle de pressão ou estudar rotas de fuga em casos de emergência, por exemplo”, explica Jauvane. As aplicações desenvolvidas por qualquer dos 13 atuais pesquisadores do LNCC podem resultar em um protótipo que passa à aplicação na indústria. O próximo passo é uma parceria com a Petrobras, cujo futuro prédio da rede Galileu, nas proximidades do laboratório, vai estreitar a colaboração em demandas para o setor. Avanços na simulação de cirurgias cada vez mais complexas com o desenvolvimento de um software que leva em conta fatores como pacientes diabéticos ou hipertensos também estão previstos para os próximos anos. O futuro já chegou! revistaon.com.br

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MODA ESTILO

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MODA

cotidiano 49 tendência 54

Rua Teresa 40 anos de história POR NATHÁLIA PANDELÓ

FOTOS REVISTA ON

Polo de moda vence as dificuldades do comércio com criatividade nas vitrines e investe cada vez mais em coleções originais. Marcas desenvolvem peças próprias e atraem consumidores de todo o país.

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MODA COTIDIANO

D

a imperatriz Teresa Cristina, ficaram o nome e a presença marcante na Cidade Imperial. Da fábrica Dona Isabel - essa batizada com o nome da princesa -, ficou a inegável vocação têxtil. Há mais de 40 anos, a Rua Teresa abriga as principais marcas de vestuário em Petrópolis e, superando uma queda no movimento, aposta na criatividade e na perseverança de seus funcionários - da confecção ao balcão. Endereço de mais de mil lojas que comercializam do calçado ao chapéu, a Rua Teresa ganhou a alcunha de “maior shopping a céu aberto do país” e status de polo de moda. Mas nem sempre foi assim. Consequência da falência da fábrica têxtil Dona Isabel, que funcionava no fim da rua, a concentração de lojas veio dos funcionários que buscavam uma alternativa de trabalho. As primeiras lojas surgiram ali mesmo, nas garagens das casas, onde vendiam restos de tecidos e, posteriormente, peças de roupas. De lá para cá, muito mudou. Atualmente, o polo gera cerca de 40 mil empregos diretos e indiretos e atrai turistas e sacoleiros durante todo o ano. Eles vêm em busca dos preços mais acessíveis, da beleza da Serra, do atendimento amigável pelo qual os petropolitanos são conhecidos e, mais do que nunca, das coleções exclusivas das marcas que chegam para todo o Brasil. E o melhor: direto da fonte. “Quando começou, a Rua Teresa tinha umas 300 lojas e o comércio era muito primitivo. Todo mundo fabricava as peças no fundo das lojas. A Diniz também começou assim, há 32 anos, com uma pequena confecção e uma mesa de corte. Agora é uma grande confecção, que trabalha desde a tecelagem até a embalagem. É um trabalho verticalizado, do início ao fim, com a última fase no balcão. Hoje, o cliente de varejo é muito seletivo. Ele olha uma peça, quer ver cada detalhe… Não compra qualquer coisa”, avalia Ivana Ramos, gerente de uma das sete lojas da marca Diniz, que trabalha com até 27 mil peças mensais.

400 lojas já contam com coleções próprias e originais 50

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CLAUDIA PIRES Presidente da Arte busca melhorias e conforto para os compradores

IVANA RAMOS Diniz está entre as marcas que mais cresceram na Rua Teresa

ADRIANA BALTAR Supervisora da Banana Bacana exibe prateleiras cheias de peças de criação própria


PROMOÇÕES Ação voltada para petropolitano busca fidelizar o cliente que mora na cidade

São aproximadamente 400 as confecções que abastecem o polo e até filiais das marcas que surgiram ali e expandiram para outras cidades. É o caso da Banana Bacana, que também chegou a São Paulo e Belo Horizonte. Presente há 20 anos na Rua Teresa, a empresa produz 100% das peças que vende em todas as lojas e fidelizou uma clientela fixa que busca as coleções da marca. A popularização dos cartões de crédito facilitou o acesso do consumidor médio de varejo e foi um dos primeiros sinais da chegada definitiva desse cliente que compra para usar e presentear, e não apenas para revender. Por isso, a produção é constante. “Antes, o perfil da Rua Teresa era malha. Agora, o público pede peças mais complexas, com tecidos planos, por exemplo. Da coleção, sai de tudo: muita blusinha, vestido… E para os meninos, calças, bermudas e camisas o ano inteiro. O importante é estar com peças diferenciadas sempre, para que o cliente tenha opções. Toda semana, a loja recebe modelos novos”, explica a supervisora Adriana Baltar. As peças ganham as passarelas a cada desfile promovido pela Associação da Rua Teresa (Arte), que reúne cerca de 20% das lojas. O próximo está previsto para 2014 e o objetivo é fazer do Petrópolis Fashion um evento ainda maior que os anteriores, trazendo, além do lançamento das novas coleções, estandes de vendas.

CRIATIVIDADE Lojas apostam em coleções próprias a cada estação

O polo gera cerca de 40 mil empregos diretos e indiretos e atrai turistas e sacoleiros durante todo o ano Essa é apenas uma das estratégias adotadas para atrair cada vez mais compradores. Além de desconto especial para petropolitanos toda semana, os lojistas estão realizando promoções, sorteios e até distribuindo mimos em datas especiais. Mas aumentar o movimento e o volume de vendas não é o único desafio dos comerciantes da rua. “Os lojistas veem a importância de investir em produção própria, mas a maior dificuldade é concorrer com alguns produtos importados, em oposição à nossa realidade, que traz uma carga tributária muito alta para a contratação de funcionários. O trânsito é outro dos nossos grandes desafios, assim como locais de estacionamento para os clientes. Solicitamos a instalação de 30 bancos para assentos nas calçadas e de um caixa eletrônico 24 horas, pensando no conforto de quem vai fazer compras. O projeto de reurbanização proposto diminuía a passagem de carros, íamos perder vagas. Por isso, muitos empresários não concordaram num primeiro momento e, com a necessidade de fazer um novo pro-

jeto, perdemos o prazo para a verba. Não quer dizer que a Rua Teresa não precisa ser reurbanizada. Estamos tentando melhorar e fazer investimentos”, avalia a presidente da Arte, Claudia Pires. Parte deles é destinada à divulgação da rua para que o comércio local recupere parte do movimento que apresentou queda quando a imprensa noticiou as perdas sofridas pela cidade durante a chuva de janeiro de 2011. O próximo passo é possibilitar a troca do cartão do pedágio pelo tíquete do estacionamento para quem sobe a Serra. “Há o turista que vem apenas para fazer compras, muitos em busca das etiquetas que vê nas roupas compradas por preços mais altos fora daqui. Ter a confecção própria possibilita ter um preço diferenciado e um produto de qualidade. Agora, quando viajo para algum lugar nas férias, vejo as peças feitas aqui”, comemora Ivana. Sinal de que a Rua Teresa não termina naquela via que um dia fez surgir gerações inteiras de costureiros, comerciantes e vendedores e um dos mais importantes polos de vestuário do Brasil. revistaon.com.br

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MODA TENDÊNCIA

ALÉM DO

SUPERFICIAL POR MARIANNE WILBERT

FOTOS ARQUIVO PESSOAL

“Diga o que vestes e te direi quem és”. Embora não seja um ditado, poderia muito bem sê-lo, já que a combinação de peças ao montar um look mostra não só o estilo e personalidade de uma pessoa, como também conta uma história e transmite um conceito.

N

as ruas, calças listradas, transparência, estampas de animais, neon [ou seja lá o que tenha sido destaque numa Fashion Week] ocupam as vitrines das lojas. Logo, o “estar na moda” e a preocupação em se destacar através de uma roupa transada acaba surtindo o efeito contrário, pois o que se vê são variações do mesmo uniforme. Contudo, mesmo entre moletons Gap e camisas Abercrombie, ainda há aqueles que se destacam porque têm estilo. Afinal, “o estilo é uma maneira muito simples de dizer coisas complicadas”, diria Jean Cocteau. Além disso, “a moda sai de moda, o estilo jamais”, completaria Coco Chanel. Portanto, mais que o consumo por apenas achar uma roupa bonita, ao entrar em uma loja e escolhermos uma peça, também se percebe uma preocupação em consumir um conceito, uma história. O filósofo francês Gilles Lipovetsky, em seu livro “O império do efêmero”, discorreu sobre o assunto e corrobora com a ideia ao afirmar que “consumimos, através dos objetos e das marcas, dinamismo, elegância, poder, renovação de hábitos, virilidade, feminilidade, idade, refinamento, segurança, naturalidade, umas tantas ima-

gens que influem em nossas escolhas e que seria simplista reduzir só aos fenômenos de vinculação social quando precisamente os gostos não cessam de individualizar-se”. Para Sabrina Sabrá, que tem um quadro de moda no programa “Visão Geral” além da sua própria marca de sapatos, a moda está diretamente ligada à identidade. “Pelo perfil, já conhecemos a mulher e todas as características, jeitos e personalidade da mesma. E, para cada identidade há peças dentro da moda, logo, podem estar todas na moda”, opina. A consultora de moda Fernanda Brito complementa: “A maior parte dos consumidores buscam, nas tendências, peças que se adequem ao estilo próprio, acho que seria um balanço entre a personalidade da pessoa e a influência de uma tendência”. Segundo Gilson Monteiro, doutorando da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), em seu artigo “A metalinguagem das roupas”, quando o consumidor decide comprar uma roupa, ele está comprando sua própria alma para se refletir no outro. “Esse processo de reflexo de si mesmo nos objetos comprados não se refere apenas às peças de vestuário. ‘Vender um produto, antes de mais nada, é traba-

“A moda sai de moda, o estilo jamais”, já dizia Coco Chanel 54

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RODOLFO LEITE Acompanha, estuda e trabalha em eventos relacionados à moda

ATELIER O Espaço Niska, da consultora de moda Fernanda Brito


REUEL ALMEIDA Já trabalhou fazendo estampas para uma linha de roupas

lhar para que o possível comprador crie imagens interiores à simples menção do nome do produto’. O consumidor, então, no processo de compra, estaria comprando uma imagem que ele faz de si próprio, refletida no que se poderia chamar de seu objeto de desejo”. Como é o caso de Rodolfo Leite, que já cursou moda e alguns cursos na área, além de trabalhar com eventos relacionados ao segmento e não perder uma Fashion Week, ele alega que suas roupas refletem sua personalidade e até seu humor. “Toda roupa que eu compro precisa refletir o que eu sou e certamente a combinarei com o que estou vivendo e sentindo no momento. Há pessoas que sabem como estou me sentindo dependendo da roupa que estou”, salienta. Quanto ao êxito de uma peça, Sabrina comenta que o sucesso é a moda que deu certo. “Há os que passam as tendências para o papel, que são os grandes estilistas que levantam essa ‘onda’, mas é preciso o público para definir se será sucesso ou não. Moda é aquilo que foi empregado/ definido naquele período”, conclui. Além de marcarem épocas, como o jeans Levi’s 501, o famoso vestido tubinho e os sapatos scarpin fizeram, o vestuário não só marca um traço de individualidade, como também até hoje representa uma opção ideológica, a divisão de classes e a opção social. “É uma forma de o homem demonstrar que pertence a determinada classe social ou grupo. Demonstra, através das roupas, o

SAPATOS De Sabrina Sabrá, em animal print

SABRINA SABRÁ A fashionista tem um quadro de moda e uma marca de sapatos

O consumidor não é mais leigo, ele exige qualidade nos preços que paga, logo o conceito é a única maneira de fidelizar clientes”, Fernanda Brito quanto é bem sucedido, o quando soube e pode se destacar dos demais. A roupa é símbolo de status e diferenciação social e da diferenciação dentro do próprio grupo. Através dos tempos, seus significados mudaram, mas o requinte social que representa está cada vez mais presente e serve como apelo de vendas”, explicita Monteiro em seu artigo. Consequentemente, o conceito acaba sendo fundamental para uma marca. “Hoje, o consumidor não é mais leigo, ele exige qualidade nos preços que paga, logo o conceito é a única maneira de fidelizar clientes”, observa Fernanda. Porém, não é sempre que levamos em conta estes aspectos na hora da compra. Muitas vezes, somos motivados apenas pela beleza que a peça oferece. “Independente da loja, sempre compro o que acho que vai ficar legal em mim. A roupa pode ser nova ou velha, eu acredito que o mais importante disso tudo é você se sentir bem com ela”, diz Reuel Almeida, que já trabalhou na área ao fazer estampas para uma linha de roupas. O conforto é outro aspecto a ser considerado na hora da aquisição. “Como consumi-

dora, sou exigente em conforto, para o meu dia a dia sou extremamente básica e o conceito não pesa. Porém, quando penso em uma peça atemporal, de qualidade, o conceito se faz necessário”, pontua Fernanda. E, claro, além da beleza e do conforto, é inevitável que, às vezes, sejamos fortemente influenciados pelas tendências e acabamos adquirindo uma peça porque esta é praticamente onipresente nas vitrines. “Não sou do tipo ‘fever’ em relação às tendências, mas se vejo em alguma revista, por exemplo, algo que eu acredito que vai ficar legal em mim, eu compro”, comenta Reuel. Já Sabrina se vê como uma fashionista. “Uso e abuso da moda! Um dos maiores prazeres que tenho é acordar e me produzir! Amo looks mais ousados e que sejam ao mesmo tempo alinhados. Amo cores e, sim, me vejo dentro da moda! Mas sou como qualquer ser humano, umas tendências aprovo, outras não”, completa. Em suma, seja você ligado ou não à moda, o simples ato de pegar uma roupa qualquer no guarda-roupa acaba revelando mais de você do que somente uma aparente preguiça para pensar em um modelito. revistaon.com.br

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