Conexão Fiotec-Fiocruz - edição 13

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Rio de Janeiro

Fevereiro - Março - Abril

2018 • Ano 4 • Edição 13

O Diálogo com Julio Croda traz à tona a discussão sobre a tuberculose, a doença infectocontagiosa que mais mata no mundo Página 5

Fiotec 20 anos: instituição celebra aniversário com palestras sobre a relação com a Fiocruz e o futuro das fundações de apoio Página 15

Alimentação no Brasil: aumento de 60% na prevalência de obesidade no País liga o alerta para os maus hábitos de nossas crianças e adolescentes

Página 10


Expediente Conselho Curador Jorge Carlos Santos da Costa Valber da Silva Frutuoso Marcos Jose de Araujo Pinheiro Mario Santos Moreira Maria Rita Lustosa Byington André Luiz Land Curi Italo César Kircove Conselho Fiscal Charles da Silva Bezerra Elias Silva de Jesus Luciane Binsfeld Diretoria Executiva Hayne Felipe da Silva Diretor executivo Mansur Ferreira Campos Diretor financeiro Marcelo do Amaral Wendeling Diretor administrativo Mariana Borges Medeiros Diretora técnica

Conexão Fiotec-Fiocruz Informativo institucional da Fundação para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico em Saúde (Fiotec). Todo o conteúdo pode ser reproduzido, desde que citada a fonte. Edição Janaina Campos Reportagem e fotos Gustavo Xavier Janaina Campos Suelen Gomes Projeto gráfico e diagramação Fernanda Alves Dúvidas ou sugestões? Entre em contato conosco comunicacao@fiotec.fiocruz.br (21) 2209-2600 ramal: 2746 / 2670 Av. Brasil, 4036 - Manguinhos www.fiotec.fiocruz.br

EDI TO RIAL


E

sta edição é especial para a Fiotec. Afinal, engloba o mês de aniversário da instituição. Por isso, a matéria institucional aborda o evento realizado em comemoração à data, que reuniu profissionais da Fiotec e representantes da Fiocruz e do Confies. O encontro contou ainda com uma novidade: transmissão ao vivo pela TV Confies. A matéria principal trata de um assunto muito relevante: a alimentação da população brasileira. Marina Araujo, pesquisadora da Fiocruz, fala sobre os padrões alimentares, os números alarmantes e as perspectivas de mudança. A tuberculose também é pauta desta edição. Apesar de muitos acharem que é coisa do passado, sua manifestação ainda é muito comum, caracterizando-se como a doença infectocontagiosa que mais mata no mundo. O pesquisador Julio Croda fala sobre a questão na coluna “Diálogos com”. Além disso, você pode conferir um giro pelas principais notícias dos meses de fevereiro, março e abril. Não deixe de conferir.

Boa leitura!

Janaina Campos

3


Sumário /05

/21

Diálogo com Julio

Fique por dentro do

Croda: tuberculose não é

que rolou nos últimos

coisa do passado e não

meses na Fiotec

pode ser negligenciada

/10

Existe um padrão alimentar no Brasil? Saiba mais sobre o assunto

/15

Saiba tudo sobre o evento que celebrou os 20 anos da instituição


Julio Croda

Tuberculose: ela estรก mais presente do que nunca Pesquisador fala sobre doenรงa que, apesar de negligenciada, ainda provoca muitos รณbitos Por Suelen Gomes


Julio Croda

Ouvir alguém dizer que está com tuberculose pode causar estranhamento. Isso porque muitos acreditam que a doença é coisa do passado, mas segundo Julio Croda, pesquisador da Fiocruz e responsável pelo projeto “Estratégias do controle de tuberculose nas prisões”, ela é a doença infectocontagiosa que atualmente mais mata no mundo. De acordo com Julio, apesar de afetar populações mais vulneráveis, a tuberculose é transmitida pelo ar, então, nas grandes cidades, em ambientes com circulação de muitas pessoas, existe uma chance elevada de se contrair a doença. Na entrevista a seguir, o pesquisador ainda explica a relação da tuberculose com o mundo atual e qual a situação do Brasil neste cenário.

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Por que a tuberculose é tão perigosa e por que a atenção sob ela ainda não é suficiente?

grande mídia, justamente por-

apresentamos este indicador:

que é uma doença que acomete

o Brasil está entre os 20 países

uma população mais vulnerá-

com maior número de casos de

vel. Podemos dizer que no Bra-

tuberculose, entretanto, apresen-

A tuberculose é um problema

sil existem populações onde o

ta incidência moderada, entre 30

atual na nossa sociedade e

risco de adoecer por tuberculo-

e 40 casos por 100 mil habitan-

desde 2015 supera o número

se é 30 vezes maior que na po-

tes. Desta forma, estamos em

de óbitos relacionados à Aids.

pulação geral, como acontece

uma posição bastante favorável

Isso ocorre porque, de um modo

com quem é privado de liberda-

quando comparado a países da

geral, tivemos um empobreci-

de, onde o número de casos é

Ásia e África, por exemplo.

mento global das populações e

de 1.500 para 100 mil pessoas,

a pobreza está relacionada di-

quando na população geral é de

retamente com os indicadores

30 casos para 100 mil pessoas.

ça para a Europa, todas essas

O Brasil é responsável por um terço dos casos de tuberculose nas Américas. A que se deve esse número expressivo?

condições econômicas de em-

O nosso País tem 200 milhões de

O contágio da tuberculose se dá pelo ar e a doença está cada vez mais resistente aos antibióticos. Novas medidas estão sendo pensadas, tanto para prevenção quanto para a questão da resistência aos medicamentos?

pobrecimento levam ao ressur-

habitantes e dentro dos países

Existe uma tendência mundial

gimento da tuberculose.

da América, com exceção dos

de aumento da resistência aos

Estados Unidos, é o que possui

antibióticos e isso ocorre tam-

Ela é tão negligenciada porque

maior população. Só que o Bra-

bém para os casos de medica-

afeta populações que também

sil ainda apresenta indicadores

mentos contra a tuberculose,

são negligenciadas, ou seja,

relacionados à saúde bastante

no entanto, ainda não existem

populações que não têm visibi-

diferentes de países desenvolvi-

novas medicações. E porque

lidade. A gente não escuta mui-

dos, então, levando em conside-

há formas resistentes? Devido

to a respeito da tuberculose na

ração o tamanho da população,

ao não cumprimento do trata-

desta doença. Há pouco tempo o mundo atravessou uma recessão econômica, uma série de novos conflitos, a crise dos refugiados, a migração maci-

7


Julio Croda

mento adequado. À medida que

quer o uso de drogas injetáveis,

privadas de liberdade, a popu-

o paciente não cumpre o trata-

e isso compromete diretamen-

lação indígena e os moradores

mento, principalmente o inicial,

te a sua taxa de sucesso.

de rua. Quando a gente anali-

há uma grande chance de de-

sa qual impacto de cada condi-

senvolver formas resistentes e

Hoje em dia, novos ensaios clí-

ção dessa no número total de

o tratamento para estas novas

nicos estão sendo realizados

casos, apesar do morador de

com objetivo de diminuir o tem-

rua ter a maior incidência, a po-

po de tratamento para 6 meses e

pulação ainda é relativamente

evitar o uso de drogas injetáveis.

pequena quando comparada a

Se isso ocorrer, teremos muitos

pessoas privadas de liberdade

benefícios, como o aumento da

e pessoas vivendo com HIV/

adesão, taxa de cura e a dimi-

Aids. Então, no contexto de

nuição da transmissão dessas

muitos países como o Brasil,

cepas multidrogas resistentes.

estas duas últimas populações

A Fiocruz e a Fiotec desenvolvem um papel fundamental, o de fomentar e dar suporte ao Ministério da Saúde em pesquisas que impactam diretamente em intervenções no Sistema Único de Saúde (SUS) formas é bastante complicado. Atualmente, esse tratamento para as formas resistentes, dura entre 12 e 18 meses e re8

contribuem mais para a carga

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), moradores de rua chegam a ter 56 vezes mais chances de contrair tuberculose. Além disso, as populações indígena e carcerária também são mais vulneráveis à doença. Por quê?

total da doença.

No Brasil, existem quatro gru-

Com relação aos outros três

pos populacionais mais vulneráveis à tuberculose: pessoas vivendo com HIV/Aids, pessoas

A vulnerabilidade deles depende da característica de cada grupo. No caso da Aids, isso acontece devido às falhas na imunidade celular acarretadas pelo HIV, que diminuem a capacidade de combater e controlar a infecção por tuberculose. grupos, são as condições socioeconômicas e as condições de vida desfavoráveis. Ou seja,


está associado a fatores indi-

um tratamento oportuno. No

lar e exame de raio-x para todos

viduais que são mais frequen-

Brasil, nós temos uma redução

os presos, de dois presídios do

tes nessa população, como por

de 1,5% na incidência por ano.

estado de Mato Grosso do Sul,

exemplo o uso de drogas, mo-

Muito aquém do que é necessá-

em Campo Grande e em Doura-

radia, acesso ao diagnóstico,

rio para que atinjamos as metas

dos. Ofereceremos esses exa-

entre outros. No caso dos pri-

da OMS até 2035 - que é de 10

mes durante dois anos e meio,

vados de liberdade, a questão

casos por 100 mil habitantes.

duas vezes ao ano, e depois,

da superlotação das prisões, é

com base nos dados que gerar-

fundamental para o aumento

Além das medidas que já exis-

mos na pesquisa, iremos criar

da incidência nos últimos anos.

tem, disponíveis, são necessá-

modelos matemáticos que au-

Todas essas populações tam-

rias inovações. Neste aspecto, a

xiliem o Ministério da Saúde a

bém possuem uma dificuldade

Fiocruz e a Fiotec desenvolvem

estabelecer qual a intervenção

de acesso ao diagnóstico, que

um papel fundamental, o de fo-

mais apropriada para o contro-

é um fator muito relevante no

mentar e dar suporte ao Minis-

le da tuberculose entre as po-

controle da tuberculose.

tério da Saúde em pesquisas

pulações privadas de liberdade.

que impactam diretamente em

No dia 24 de março foi celebrado o “Dia Mundial do Combate à tuberculose”. Como está a atual situação da doença no Brasil e quais são os planos para o futuro?

intervenções no Sistema Úni-

Este é um dia muito importante

qual eu sou o pesquisador prin-

para evidenciar que a tuberculo-

cipal no Brasil e o Jason Ander-

se é a doença infectocontagio-

son é o pesquisador principal

sa que atualmente mais mata

da Stanford University. Neste

no mundo e que é necessário

projeto estamos fazendo tria-

um diagnóstico precoce para

gens, ofertando teste molecu-

co de Saúde (SUS). Um exemplo claro disso é a pesquisa que está sendo financiada pelo National Institutes of Health (NIH), “Estratégias do controle de tuberculose nas prisões”, na

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O que explica a

má alimentação do brasileiro?

Enquanto o sedentarismo e a publicidade alimentar aparecem como importantes fatores por trás da “epidemia” de obesidade vivida no Brasil, pesquisadora da Fiocruz apresenta estudo que contribui para a definição das melhores estratégias para mensurar a alimentação infantil - Por Gustavo Amaral -


Ambiente obesogênico. Este é

para determinar a anatomia, fi-

com relação às estimativas de

o nome dado por alguns auto-

siologia ou comportamento de

expectativa de vida.

res ao conjunto de fatores que

um indivíduo”. Para a especia-

está por trás da explosão de

lista, somente a interação entre

Ao lado dos hábitos alimentares

obesidade vista no Brasil nos

os genes e o ambiente, em to-

da família, principal determinan-

últimos 10 anos. A má qualida-

das as fases do ciclo de vida de

te para a alimentação da crian-

de da dieta dos brasileiros e o

uma pessoa, pode determinar o

ça, Marina aponta dois aspec-

sedentarismo explicam os indi-

ganho excessivo de peso.

tos relacionados ao ambiente

cadores apresentados pelo Mi-

obesogênico que são duramen-

nistério da Saúde em abril de

É exatamente o início desse “ci-

te criticados por pesquisadores

2017: a prevalência da obesida-

clo da vida”, a infância, que vem

e especialistas. “Há evidências

de no País aumentou 60%, pas-

se revelando um problema cada

claras de que a publicidade de

sando de 11,8% em 2006 para

vez mais preocupante. Os nú-

alimentos e o consumo de be-

18,6% em 2016. O excesso de

meros referentes à obesidade

bidas não saudáveis, principal-

peso acompanhou o aumento,

infantil aumentaram tanto, que

mente as açucaradas, como os

subindo de 42,6% para 53,8%.

estudos internacionais apon-

refrigerantes, estão relaciona-

tam, pela primeira vez em 100

dos à obesidade infantil. Como

Hoje, pode-se afirmar que a ge-

anos, que a estimativa da expec-

também o preço baixo e a dis-

nética não é o principal fator as-

tativa de vida para os próximos

ponibilidade generalizada de ali-

sociado à obesidade. De acordo

anos é de redução. Isso porque

mentos com alta densidade de

com Marina Araujo, pesquisado-

as crianças e adolescentes es-

energia e baixo teor de nutrien-

ra da Fiocruz que estuda qual é

tão se alimentando mal e o ex-

tes”. Para ela, são dois fatores

a melhor metodologia para ava-

cesso de peso na infância au-

chave por influenciarem de for-

liar o consumo alimentar na in-

menta as chances de obesidade

ma negativa o consumo alimen-

fância, “ainda é difícil explicar

na idade adulta. Assim, a obe-

tar de crianças e adolescentes

a epidemia da obesidade com

sidade infantil mostra-se dire-

que ainda estão passando por

base apenas nos fatores genéti-

tamente associada ao aumento

uma fase de autoconhecimento,

cos ou hormonais. Os genes ra-

da mortalidade na fase adulta,

de construção de suas persona-

ramente têm, por si só, o poder

fator que explica o pessimismo

lidades e hábitos alimentares. 11


Potencial desperdiçado

to de 10 vezes na prevalência de

realizado pelo IBGE em 2011 e pu-

obesidade entre crianças e ado-

blicado no volume 47 da Revista

As mídias sociais, utilizadas ma-

lescentes, nos últimos 40 anos.

de Saúde Pública, apontam para

Existe, hoje, uma ingrata corrida

uma dieta em que 84% dos bra-

entre estatísticas que eviden-

sileiros consomem arroz regular-

ciam a má qualidade da alimen-

mente, 79% tomam café, 72,8%

tação brasileira. Ainda segundo

não dispensam o feijão diaria-

o estudo, o número de crianças

mente, 63% comem pão de sal e

e adolescentes no mundo com

48,7% escolhem a carne bovina

desnutrição moderada e severa

como proteína de suas refeições.

ciçamente e cada vez mais cedo pelos

jovens,

apresentam-se

como um meio de alcançá-los diretamente, no universo que eles dominam, utilizando a linguagem que compartilham. Mas, apesar da profusão de páginas e perfis de nutricionistas e influenciadores que dividem cada minuto de suas vidas dedicadas à boa alimentação e exercícios físicos, o diálogo com o público jovem não ultrapassa a superficialidade da busca por um padrão de beleza e, claro, mais seguidores. Um estudo conduzido com aproximadamente 130 milhões de pessoas, com mais de 5 anos de idade, de 200 países, publicado em 2017 pela revista The Lancet, se propôs a analisar as tendências mundiais referentes ao Índice de Massa Corporal (IMC). A pesquisa apontou um aumen12

ainda é maior que o número de obesos. Contudo, se as tendên-

Apoiado nesses dados, o Minis-

cias pós anos 2000 se mantive-

tério da Saúde publicou em 2014

rem, até 2022 o número de crian-

a nova edição do Guia Alimen-

ças e adolescentes obesos será

tar para a População Brasileira,

maior que os indivíduos com des-

que leva em conta, em suas re-

nutrição, da mesma faixa etária.

comendações, as implicações

A procura por soluções

sociais, culturais, econômicas e ambientais das escolhas alimentares do brasileiro. “Isso vai além

Apesar da grande extensão terri-

da ideia de recomendar apenas

torial e diversidade cultural, exis-

porções de alimentos, ou ainda

te no Brasil um padrão básico de

de recomendações baseadas na

consumo alimentar, fator muito

adequação da ingestão de nu-

positivo para o estabelecimento

trientes. O guia introduz um novo

de uma dieta padronizada a ser

olhar sobre como os indivíduos

seguida no País. Marina ressalta

têm se alimentado e a susten-

que os resultados do primeiro In-

tabilidade de todo o sistema ali-

quérito Nacional de Alimentação,

mentar”, pontua Marina.


Os 10 passos para uma alimentação saudável, segundo o Guia Alimentar para a População Brasileira: 1 Fazer de alimentos in natura, ou minimamente processados, a base da alimentação;

2 Utilizar óleos, gorduras, sal e açúcar em pequenas quantidades ao temperar e cozinhar alimentos e criar preparações culinárias;

3 Limitar o consumo de alimentos processados; 4 Evitar o consumo de alimentos ultraprocessados; 5 Comer com regularidade e atenção, em ambientes apropriados e, sempre que possível, com companhia;

6 Fazer compras em locais que ofertem variedades de alimentos in natura ou minimamente processados;

7 Desenvolver, exercitar e partilhar habilidades culinárias; 8 Planejar o uso do tempo para dar à alimentação o espaço que ela merece; 9 Dar preferência, quando fora de casa, a locais que servem refeições feitas na hora;

10 Ser crítico quanto a informações, orientação e mensagens sobre alimentação veiculadas em propagandas comerciais. 13


Outro grande desafio do comba-

til, e na fase adulta”, defende Ma-

te à obesidade é definir a melhor

rina, que enxerga a padronização

técnica a ser utilizada na avalia-

dos instrumentos de avaliação

ção do consumo alimentar das

alimentar como a única manei-

crianças. O estudo liderado por

ra de garantir-se a qualidade dos

Marina, “Como mensurar o con-

dados coletados, permitindo fo-

sumo alimentar na infância: re-

mentá-los para os programas de

visão sistemática e desenvolvi-

monitoramento da situação de

mento de um instrumento para

saúde e nutrição infantil e, conse-

avaliação da dieta de crianças

quentemente, o desenvolvimento

brasileiras”, tem exatamente o

de políticas de saúde pública re-

objetivo de elaborar uma revisão

almente efetivas.

sistemática da literatura sobre instrumentos utilizados na avaliação do consumo alimentar de crianças da América Latina e desenvolver uma metodologia padronizada e computadorizada, no formato de software, para avaliar o consumo alimentar global de crianças brasileiras entre 2 e 10 anos de idade. “Acredita-se que o hábito alimentar seja formado nos primeiros anos de vida, influenciando as práticas alimentares ao longo da vida, bem como o aparecimento do sobrepeso e obesidade infan14

Marina Araujo, pesquisadora da Fiocruz


Fiotec 20 anos:

celebração reafirma importância da parceria com a Fiocruz para o desenvolvimento da saúde, ciência e tecnologia Por Janaina Campos 15


No dia 23 de março de 1998, a

fissionais da instituição com re-

saltou a importância da institui-

Fiotec abriu suas portas pela pri-

presentantes do Confies e da Fio-

ção, como sendo parte da Fio-

meira vez, à época chamando-se

cruz, para falar da importância e

cruz, para o País. “Qual é a nossa

Fensptec, fundação de apoio da

dos desafios das fundações de

obra? Onde queremos chegar? O

Escola Nacional de Saúde Pú-

apoio para o País e de como o

que estamos construindo? Nesse

blica Sergio Arouca (Ensp/Fio-

trabalho desenvolvido pela Fio-

momento desse País, um pouco

cruz). Em 2002, o III Congresso

tec impacta e auxilia no avan-

turbulento, ou muito turbulento,

Interno da Fiocruz deliberou que

ço da saúde e desenvolvimento

onde se discute para qual rumo

a instituição passaria a se cha-

científico e tecnológico do Bra-

vamos seguir, qual é o projeto

mar Fundação para o Desenvol-

sil, por meio da Fiocruz.

efetivamente civilizatório, de jus-

vimento Científico e Tecnológico

tiça, de igualdade, de democra-

em Saúde (Fiotec) e assumiria o

A solenidade de abertura do even-

cia desse País? Nesse sentido

gerenciamento dos projetos de

to, que foi realizado na Coppetec,

que se insere, no meu ponto de

toda a comunidade Fiocruz. De

contou com a presidente da Fio-

vista, o papel da Fiotec enquan-

lá para cá foram muitas conquis-

cruz, Nísia Trindade; o presidente

to uma instituição que tem sua

tas, a cada ano mais responsa-

do Confies, Fernando Peregrino;

razão de ser na centenária Fio-

bilidade, mais visibilidade e mais

os presidentes dos Conselhos

cruz, que tem uma marca, como

compromisso com uma presta-

Fiscal e Curador da Fiotec, Char-

Sergio Arouca dizia, em defe-

ção de serviço qualificada.

les Bezerra e Jorge Costa; o di-

sa do projeto civilizatório desse

retor executivo da Fiotec, Hayne

País, de uma obra de nação. E

No mês de março, a Fiotec com-

Felipe; o diretor do IBMP/Fiocruz,

isso é feito, no nosso caso, com

pletou 20 anos de existência e

Pedro Barbosa; Valber Frutuoso,

ciência, tecnologia e saúde, que

tem orgulho de ter uma história

membro do Conselho Curador da

é a nossa missão maior. Essa é a

marcada por lutas e vitórias no

Fiotec; e o diretor-presidente da

nossa obra. Quando a gente está

apoio a uma das mais importan-

Coppe, Edson Watanabe.

desenvolvendo projetos, vocês

tes instituições do Brasil, e da

– profissionais - são operado-

América Latina, na execução de

Fiotec é Fiocruz

seus projetos. Por isso, no dia

Na ocasião, Pedro Barbosa, um

com todo o corpo institucional

10 de abril, foram reunidos pro-

dos fundadores da Fiotec, res-

da Fiocruz. Ao comemorar es-

16

res desse processo juntamente


ses 20 anos temos que nos re-

de vacinas, de biofármacos, para

gozijar pelo alcançado: a Fiocruz

pensarmos o acesso e o desen-

O futuro das fundações de apoio

não seria a Fiocruz de hoje, sem

volvimento tecnológico; é o caso

A primeira palestra foi proferida

a Fiotec. Esse país, do ponto de

do Programa Mais Médicos para o

por Fernando Peregrino, diretor

vista de saúde, ciência e tecno-

Brasil, sem a Fiotec seria impossí-

executivo da Fundação Copettec

logia, não seria o mesmo sem

vel toda a atividade de formação;

e presidente do Conselho Nacio-

a Fiocruz e não seria o mesmo sem a Fiocruz imbricada com a Fiotec”, afirmou. O papel da Fiotec também foi ressaltado, pela presidente da Fiocruz, durante a abertura do evento. “Entre nós, que trabalhamos por esse bem público que deve ser a ciência e a tecnologia no País, cada vez mais ganha corpo a ideia de que é imprescindível contar com esses instrumentos fundamentais que são as funda-

“cada vez mais ganha corpo a ideia de que é imprescindível contar com esses instrumentos fundamentais que são as fundações de apoio” Nísia Trindade, Presidente da Fiocruz

nal das Fundações de Apoio do Instituto de Ensino Superior e de Pesquisa (Confies). Fernando guiou sua apresentação em três frentes: quem somos; como estamos; e para onde vamos, falando sobre as Fundações de Apoio. Ele ressaltou a importância das fundações junto às universidades e institutos de pesquisas para o desenvolvimento científico e tecnológico do País e como ainda existe burocracia, entraves e falta de investimento nas FA’s.

ções de apoio. Eu queria fazer re-

é o caso do Programa de Quali-

ferência a alguns projetos recen-

dade na Atenção ao Paciente do

O Marco Legal também foi citado,

tes que talvez alguns não saibam,

Sistema Único de Saúde; enfim, é

como facilitador da atuação das

mas seria impossível alcançarem

o caso de centenas de projetos,

fundações de apoio e agilizando

êxito se fossem realizados sem a

mas que é importante nomear

a captação de recursos, e como

participação da Fiotec. É o caso

para nos dar uma pequena refe-

as fundações devem pensar nas

dos programas de desenvolvi-

rência do impacto das atividades

melhorias, com base na Lei.

mento tecnológico em saúde da

diárias de todos os colaborado-

Por Janaina Campos Fiocruz, com desenvolvimento

res”, disse Nísia.

Fiotec 20 anos: 17


Você faz parte dessa história O momento mais emocionante do dia foi a homenagem aos profissionais que completaram 10 anos de Fiotec nos anos de 2017 e 2018. Além de receberem uma placa comemorativa, cada colaborador foi homenageado por um colega de trabalho, por meio de um vídeo. O momento também serviu para homenagear Eliane Pessanha, a funcionária número um da Fiotec, que junto com a instituição completou 20 anos de trabalho. 18


Fiotec - Fiocruz: uma parceria primordial para a realização de grandes pesquisas Na parte da tarde aconteceu a palestra de Valcler Rangel, chefe de gabinete da Presidência da Fiocruz e coordenador de projetos junto à Fiotec. Assim como Pedro Barbosa e Nísia Trindade, Valcler falou sobre a importância da parceria entre Fiotec e Fiocruz e mostrou, com dados e nomes de projetos, como isso impacta os campos de saúde pública, ciência e tecnologia. Além disso, explicitou alguns desafios relacionados à gestão Fiotec-Fiocruz para ganho de resultados. São eles: amadurecimento, fruto do acúmulo institucional – nos 20 anos de parceria; aumento da capacidade de indução ao efetivo desenvolvimento institucional; refinamento do escopo da relação Fiocruz – Fiotec, com fortalecimento da segurança jurídica entre as instituições; maior integração dos modelos de planejamento e valorização contínua da transparência para a sociedade; e oportunidades de aprimoramento estatutário a partir do Marco Legal de CT&I.

19


Perspectivas para a Fiotec

nosso País. De novo nós cami-

turais que não são simples de

nhamos de uma maneira um

serem realizadas rapidamente.

O evento terminou com a fala ins-

tanto quanto desgraçada de ir

Mas, nós temos que começar,

titucional da Diretoria. Hayne Fe-

para um caminho de um país

dar o primeiro passo, e traba-

lipe, diretor executivo, falou sobre

de periferia se não mudarmos

lhar para que todos os nossos

os compromissos da Diretoria

esse curso. Nós não estamos

objetivos se concluam”, finali-

com os profissionais da Fiotec,

investindo em educação, a gen-

zou Hayne.

no período de 2018 a 2021.

te continua tendo apenas exceções para confirmar a regra de

Acesse a TV Confies para as-

“Está claro para todos que es-

casos que a gente não vê ne-

sistir à solenidade de abertura

tamos vivendo um tempo som-

nhum apoio, nenhum incentivo

e à palestra “O futuro das fun-

brio e que se não tivermos um

para mudar esse quadro. Isso

dações de apoio”.

comportamento cidadão vive-

tem um impacto muito grande

remos mais desses tempos.

em todos nós”, disse Hayne.

Apesar de ser clichê, como os orientais colocam e seus ideo-

“Eu acho que não precisamos

gramas, a crise é uma mistura

mais falar o quanto a gente faz

de perigo e oportunidade e que

parte de um sistema que integra

nós temos que saber viver com

a Fiocruz e a Fiotec e que res-

os dois lados e aproveitar o lado

ponde a ações de pesquisa, de-

da oportunidade. Nós aqui na

senvolvimento e ensino na área

Fiotec tivemos um 2017 mui-

de ciência e tecnologia em saú-

to difícil, e necessitamos fazer

de. Então nós pactuamos aqui,

ajustes para chegar aqui em

com vocês, que vamos buscar o

2018. O contexto não precisa

máximo de eficiência e eficácia

ser repetido, estamos vivendo

para nossas ações. Sabemos

um momento que recrudesce a

que não é uma solução de curto

falta de investimento na ciên-

prazo, porque envolve, além de

cia, tecnologia e inovação no

ações técnicas, mudanças cul-

20


Fiotec recebeu visita de técnicos do projeto “Eliminar a Dengue”

À época da visita, no dia 7 de fevereiro, foi anunciada a liberação de mosquitos Aedes aegypti com Wolbachia no campus da Expansão da Fiocruz. Por isso, uma equipe do programa percorreu toda a Fiotec para tirar dúvidas e fazer um trabalho de sensibilização com os colaboradores. Segundo Lucas Rech de Oliveira, coordenador adjunto comunitário, e Gisele da Mota Silva, técnico de engajamento comunitário, esta é uma atividade de engajamento comunitário desenvolvida antes do trabalho de liberação dos mosquitos. Hoje o projeto chama-se “World Mosquito Program” - já que não combate apenas a Dengue e, sim, mais alguns tipos de arboviroses, como a Zika e a chikungunya. 21


Fiotec representada em fórum internacional da Unitaid

Entre os dias 27/2 e 1º/3, a analista de Projetos Especiais da Fiotec, Leila Spelta, esteve em Genebra, na Suíça, junto à coordenação do projeto para Implementação da Profilaxia Pré-Exposição ao HIV (ImPrEP). A visita teve como objetivo a participação em um fórum da Unitaid, financiadora do projeto, e em reuniões com diversas organizações internacionais. “Foi uma ótima oportunidade de troca de experiências entre os projetos. Foi muito bom ver que outras instituições passavam por problemas que nós já tínhamos identificado, como uma dificuldade na prestação de contas, por exemplo. E como foi debatido lá, já se criou uma possibilidade de mudança e melhoria”, explicou Leila.

22


Primeira turma formada por Pessoas com Deficiência é capacitada na Fiotec

Entre os dias 5 e 9 de março, a Fiotec ofereceu o primeiro curso de capacitação para Pessoas com Deficiência (PcD) do Programa Conviver, que, por meio do convênio com a Secretaria de Estado de Trabalho e Renda (Setrab), qualificará 200 Pessoas com Deficiência (PcDs) para atuar no mercado de trabalho. Durante a capacitação, os alunos tiveram aulas sobre Saúde Ocupacional, Qualidade, noções de Direito do Trabalho, técnicas de apresentação pessoal, entre outras. Todas ministradas por profissionais da própria Fiotec, que se voluntariaram para participar do projeto. 23


Profissionais da Fiotec participam de discussões sobre infecção de gestantes pelo vírus Zika

A equipe do Instituto Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz) recebeu no dia 28 de março os profissionais envolvidos no projeto “Coorte de grávidas com infecção por Zika e crianças com Síndrome Congênita do Vírus Zika”. O encontro levou à unidade representantes das instituições financiadoras do projeto, London School e Wellcome Trust, além dos profissionais responsáveis pela gestão da iniciativa na Fiotec, Clarisse de Castro, Renata dos Santos e Eduardo Diek, da equipe de Projetos Especiais. O principal objetivo do encontro foi alinhar o procedimento de repasse de recursos pelo financiador para o projeto, o que normalmente é feito de outra maneira. “Fizemos uma espécie de prestação de contas a eles. Apresentei todos os valores já reservados para futuros compromissos, o saldo atual do projeto e a necessidade de alguns aportes pontuais”, explicou Eduardo.

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