Rio de Janeiro
Agosto - Setembro - Outubro
É do Brasil, é da Fiocruz, e tem o apoio da Fiotec
Primeira vacina contra a esquistossomose, segunda maior endemia mundial, é desenvolvida pelo IOC/Fiocruz. Miriam Tendler, coordenadora do projeto, destaca a relevância da fundação de apoio
2016 • Ano 2 • Edição 7
Pessoas com Deficiência no mercado de trabalho: a história do medalhista paralímpico que hoje é fisioterapeuta na Fiotec e ações de inclusão promovidas pela instituição Página 24
Diálogo com Diego Bevilaqua: Ciência Móvel completa 10 anos levando ciência e cultura às populações excluídas, colecionando conquistas e com planos para o futuro Página 4
Expediente Conselho Curador Jorge Carlos Santos da Costa Marilia Santini de Oliveira Valber da Silva Frutuoso Marcos José de Araújo Pinheiro Jorge Souza Mendonça Mario Santos Moreira Rosamélia Queiroz da Cunha Conselho Fiscal Charles da Silva Bezerra Elias Silva de Jesus Luciane Binsfeld Diretoria Executiva Mauricio Zuma Medeiros Diretor executivo Mansur Ferreira Campos Diretor financeiro Roberto Pierre Chagnon Diretor administrativo Valéria Morgana Penzin Goulart Diretora técnica Gerência Geral Adilson Gomes dos Santos
Conexão Fiotec-Fiocruz Informativo institucional da Fundação para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico em Saúde (Fiotec). Todo o conteúdo pode ser reproduzido, desde que citada a fonte. Assessoria Técnica Responsável: Emilia Wien Reportagem, edição e fotos Janaina Campos Gustavo Xavier Jornalista Responsável Manuella Garcia Registro: MTB - 14633 - MG
EDI TO RIAL
Projeto gráfico e diagramação Fernanda Alves Revisão Bruna Moraes Dúvidas ou sugestões? Entre em contato conosco comunicacao@fiotec.fiocruz.br (21) 2209-2600 ramal: 2746 Av. Brasil, 4036 - Manguinhos www.fiotec.fiocruz.br
Luanara Damasceno gerente de Gestão da Qualidade
Gerenciamento de processos de negócio: mais valor agregado e melhoria contínua
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ualidade na Fiotec se traduz em reduzir riscos e superar as expectativas de todas as partes interessadas com criatividade, novas tecnologias, desenvolvimento intelectual de seus trabalhadores, melhoria contínua dos processos em conformidade com a legislação e normas vigentes, contribuindo assim para a melhor realização de projetos nos diversos campos de atuação da Fiocruz. Essa é a nossa política, cujo conteúdo possui um olhar para utilização das novas tecnologias em prol de entregar mais valor ao nosso cliente, da melhor forma possível. Estamos a todo tempo atentos às novidades do mercado e mantemos estreito relacionamento com a área acadêmica, prática que nos tem gerado bons frutos. Recentemente, a convite da As-
sociação Brasileira de Profissionais de Processos de Negócios, participamos da 73ª edição do maior encontro sobre BPM do mundo, o BPM Day. Na ocasião, trocamos experiências e compartilhamos com os participantes como tem sido o trabalho de implantação do gerenciamento de processos de negócio (BPM), com o apoio da ferramenta de automação de processos (BPMS). Mas vamos voltar um pouquinho no tempo. Durante um curso, tivemos a oportunidade de conhecer uma ferramenta de BPMS inovadora que oferece a possibilidade de modelar, disponibilizar processos automatizados totalmente controlados, monitorados e gerenciados por meio da utilização de módulos próprios. Após a aprovação interna para a implantação desse projeto, demos início ao trabalho com
metas claras e desafiadoras em mente: facilitar a vida do nosso cliente, estreitar o nosso caminho até a certificação ISO, reduzindo a utilização de papel, aumentando o controle e a transparência por meio de processos eletrônicos construídos com o apoio da ferramenta adquirida. Atualmente, a nossa agenda de trabalho contempla processos importantes da instituição, que terão grande interação com o público externo, tais como: compras diretas nacionais e o de iniciação de projetos. Mais do que oferecer processos eletrônicos, a Fiotec quer compartilhar a gestão do conhecimento dos seus processos internos e promover uma experiência de alto impacto positivo e única para todos os que se relacionam conosco.
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Diego Bevilaqua Se as pessoas não podem chegar até a ciência, a ciência vai até as pessoas
Diego Bevilaqua, chefe do Museu da Vida, conta a história do Ciência Móvel, museu itinerante da Fiocruz, que este ano completa uma década de existência
Por Janaina Campos 4
É direito de todo brasileiro, assegurado pela Constituição, ter acesso à cultura. Mas esse direito fica prejudicado a partir do momento que, no Brasil, os museus e centros de ciências se concentram nas capitais, e as populações periféricas e cidades afastadas têm pouco acesso às suas atividades. Foi em busca de minimizar esse problema que há dez anos o Museu da Vida da Fiocruz criou o Ciência Móvel. O Ciência Móvel é um museu itinerante que viaja em um caminhão, com cerca de 13,5 metros, e leva exposições, jogos interativos, oficinas e outras atividades para municípios da região Sudeste do Brasil. “É algo que estamos sempre preocupados, não só esperar o público, mas de fato pensar em formas de atingir esse público que normalmente não é atingido”, explicou Diego Bevilaqua, chefe do Museu da Vida. Uma década dando uma oportunidade à população das mais de 130 cidades visitadas de se aproximar da ciência. Uma história de crescimento e aprendizado que consolidou o projeto como parte permanente da Fiocruz. “A verdade é que, no cenário atual do Brasil, por conta das instabilidades políticas, frente a outros projetos similares, o Ciência Móvel foi o único que andou initerruptamente”, afirmou Diego.
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Como surgiu a ideia de um museu itinerante? Na verdade, iniciativas como a do Ciência Móvel existem internacionalmente desde o final da década de 70, início da década de 80. O primeiro projeto desse tipo surgiu em Toronto, o Ontario Science Centre, que tinha um projeto similar e que hoje não existe mais. O mais antigo desse modelo, que temos conhecimento, é o Questacon Shell Science Circus, ligado ao Questacon, que é um centro de ciências na Austrália, integrante da Universidade Nacional da Austrália. Já existiam esses projetos e havia no Brasil um projeto no Sul, similar. Dentro do projeto de expansão da popularização da ciência, entre os anos de 2002 e 2010 no Brasil, um dos objetivos era a interiorização da ciência. Então, através de um edital do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, junto à a Academia Brasileira de Ciência, a Fiocruz foi um dos poucos
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projetos contemplados. Isso foi em 2004. Em 2005, chegou o recurso e em 2006 começamos a rodar com o Ciência Móvel e desde então não parou.
Levar ciência e cultura até as pessoas, não só esperar que as pessoas procurem museus. Qual a importância dessa atitude? A ideia de ir até o público, ao invés de ficar passivamente esperando o público chegar, é algo que de alguma forma sempre esteve no DNA do Museu da Vida e no DNA da própria Fiocruz. Se a gente olhar para a própria história da Fundação, vários cientistas fizeram expedições para dentro do país para conhecer o Brasil rural. Chagas saiu desbravando Brasil a fora. Acho que o Museu da Vida nasceu um pouco com esse DNA. Acho que o Ciência Móvel veio somar à missão do Museu da Vida de levar a experiência da ciência e da cultura para aque-
las pessoas que têm maior dificuldade por conta das exclusões históricas existentes em nosso País.
Quais são os principais públicos-alvo? Dentro do Rio de Janeiro, as populações tradicionalmente excluídas, como comunidades vulnerabilizadas socialmente, e também os locais que não têm acesso a esse tipo de aparelho cultural. Nesse sentido, no próprio museu inauguramos o ônibus que “busca” escolas que não têm como vir até o Museu da Vida. É algo que estamos sempre preocupados, não só esperar o público, mas de fato pensar em formas de atingir esse público que normalmente não é atingido.
Quais as exposições levadas pelo museu podem ser destacadas? Levamos algumas exposições normalmente com a gente, como a exposição sobre ener-
gia e uma exposição sobre Darwin, chamada “As pegadas de Darwin”. Costumávamos levar uma exposição sobre Dengue, chamada “Mini dengue”, que estamos atualizando. Frente às novas emergências sanitárias, uma nova “Mini dengue, zika e chikungunya”, que vai levar um pouco dessas questões para essas cidades pequenas.
Após dez anos, quais as experiências e avanços? Como eu falei, o projeto foi iniciado através de uma captação de recursos. Nosso projeto, de alguma forma, fez deslanchar o atual estágio da captação de recursos dentro da Casa de Oswaldo Cruz e é uma iniciativa que agora está se expandindo para a Fiocruz como um todo, através do Escritório de Captação. Uma das grandes experiências foi que, depois de um tempo, tivemos uma crise por depender apenas de recursos externos. Com o tempo, conseguimos re-
tornar esse projeto de captação. Então, hoje temos um pensamento muito grande a respeito da sustentabilidade do projeto. Ou seja, de que maneira a gente pode compor uma carteira de recursos, incluindo recursos públi-
Se a gente olhar para a própria história da Fundação, vários cientistas fizeram expedições para dentro do país para conhecer o Brasil rural. Chagas saiu desbravando Brasil a fora. Acho o Museu da Vida nasceu um pouco com esse DNA cos, parcerias público-privadas, via Lei de Incentivo, para manter esse projeto na forma que consideramos ideal de qualidade, rodando, atingindo um grande número de pessoas do interior,
sem riscos de ser interrompido. A verdade é que, no cenário atual do Brasil, por conta das instabilidades políticas, eu diria, obviamente sem poder afirmar, mas com bastante certeza, que nos últimos 10 anos, frente a outros projetos similares, o Ciência Móvel foi o único que andou initerruptamente, exatamente em razão dessa experiência que ganhamos em manter sempre carteira de recursos.
E o que ainda pode melhorar? Muita coisa, o tempo todo podemos melhorar os projetos. Estamos constantemente renovando as exposições, os equipamentos e a programação visual. Temos como meta entender melhor qual é o impacto desse projeto nas comunidades, isso é algo que ainda planejamos fazer. Desejamos, também, conseguir manter relações mais estáveis com essas localidades que a gente visita. Mas tudo isso esbarra, justa-
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mente, nas barreiras geográficas Qual a importância da volvido, permitiu, nesse períoque a gente enfrenta, então são parceria com a Fiotec? do mais recente, a expansão do desafios para o futuro. Uma das características da número de viagens e incorporaação do Ciência Móvel, desde ção, de forma mais presente, da Pensamos ainda em como a que se tornou permanente do Fiocruz dentro da área de saúgente abrange uma área maior. Museu da Vida, é que ela é fun- de pública através do assunto Hoje a gente está restrito à re- damentada na noção de parce- imunobiológicos. Trouxemos gião Sudeste. Será que podemos ria. Ou seja, ela não seria pos- elementos como jogos sobre ser mais abrangentes dentro de sível sem um grande leque de prevenção de vacinas, elemenum projeto Fiocruz nacional? parcerias que se dão em cur- tos gráficos relacionados a esTambém é um grande desafio. to, médio e longo prazo. Nesse se mundo de imunobiológicos sentido, a parceria com a Fiotec para o Ciência Móvel, dando Quais os planos e com Bio-Manguinhos, dentro uma identidade cada vez mais para o futuro? desse projeto que foi desen- próxima à Fiocruz. Os planos para o futuro são continuar trabalhando na sustentabilidade do projeto. Além disso, sempre dependemos, nesses dez anos, de parcerias com outras instituições públicas para ter o cavalo mecânico, que leva nosso caminhão. Estamos trabalhando para aquisição de um cavalo mecânico, para conseguir criar a sustentabilidade do projeto. Temos ainda planos de rever nossa relação com as secretarias de educação, como já disse, pensando em possibilidade de criar ações mais estáveis, talvez criando novas tecnologias para isso. Enfim, temos Logotipo comemorativo desenvolvido para estampar as ações muito caminho ainda para andar. de celebração dos 10 anos do Ciência Móvel 8
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Gir Sustentabilidade certificada
No mês de agosto a Fiotec deu mais um importante passo em direção à sustentabilidade de suas práticas: a instituição recebeu um certificado, da empresa Furukawa, pelo encaminhamento para reciclagem de quase 270kg de restos de cabos de rede descartados durante a construção da sede própria. Segundo a certificadora, a iniciativa ajudou a evitar que cerca de 134 kg de materiais contaminados com metais pesados fossem depositados em aterros industriais, reduziu a extração de mais de 25 toneladas de minério de cobre da natureza, e contribuiu para a redução de 2.562 Kwh de energia, o suficiente para abastecer mais de 15 casas durante um mês
Fiotec: gestão de projetos em escala internacional
Para ter contratos firmados com agências federais dos Estados Unidos, a Fiotec precisa de um registro no System for Award Management, o SAM. A única maneira de obtê-lo é através de um número reconhecido internacionalmente como identificador comum de empresas junto ao EDI (Electronic Data Interchange), e nas transações de comércio internacional: o Duns Number - Data Universal Numbering System (Sistema Universal de Numeração de Dados). Em meados de setembro, a Fiotec conseguiu a renovação de seu registro no SAM. De acordo com Flávia Estill, assessora da área de Projetos Especiais, a conquista classifica a Fiotec como uma organização com a capacidade necessária para gerir projetos em escala internacional. 10
International Meeting do projeto Profilaxia Pré-Exposição (PrEP)
Mais uma etapa preliminar do estudo sobre a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) foi concluída no fim do mês de agosto. Por isso, a Fiotec sediou o International Meeting, encontro entre pesquisadores envolvidos no estudo. Estavam presentes as pesquisadoras da Fiocruz, Beatriz Grinsztejn e Valdiléa Veloso, referências em pesquisas ligadas à Aids e responsáveis por liderar a iniciativa, além de Cristina Pimenta, representante do Ministério da Saúde (MS) na realização do estudo. Também participaram pesquisadores de instituições do México e Peru, os outros dois países envolvidos no desenvolvimento do projeto. O estudo sobre o PrEP é fruto de um esforço conjunto entre o Ministério da Saúde brasileiro e a Fiocruz, através do financiamento da Unitaid, organização que atua na resposta global ao HIV/ Aids, e prevê o desenvolvimento e posterior disponibilização de um medicamento que reduzirá, de maneira significativa, o contágio pelo vírus HIV. Seu efeito é semelhante ao de uma pílula anticoncepcional. A pessoa que tomá-lo diariamente desenvolverá uma espécie de “barreia imunológica” contra o vírus HIV.
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Mosaico da Bocaina em pauta
A sede da Fiotec abrigou, em setembro, um encontro entre trabalhadores da instituição e representantes do projeto “Observatório de Territórios Sustentáveis e Saudáveis do Mosaico da Bocaina (OTSS) ”. Na ocasião, o coordenador do projeto, Edmundo de Almeida Gallo, apresentou para profissionais de diversos setores da Fiotec os objetivos, atividades e peculiaridades da iniciativa. O encontro serviu também para apresentar atividades já realizadas pelo projeto, como a bioconstrução de módulos de saneamento ecológico em casas da comunidade caiçara da Praia do Sono, em Paraty, no Litoral Sul do Rio de Janeiro.
CDC e Fiocruz, com o apoio da Fiotec, contra o zika vírus
A Fiotec recebeu a visita de representantes do Centers for Disease Control and Prevention (CDC), de Atlanta, nos Estados Unidos, e de Brasília-DF, no mês de setembro. O encontro teve como objetivo alinhar os procedimentos para a aplicação de um recurso que será disponibilizado pela agência à Fiocruz para investimento na luta contra o zika vírus. Apesar de o foco do projeto em questão ser a Aids, uma nova estratégia dentro do programa será voltada para o zika vírus, a partir do suporte do CDC.
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Cidadania LGBT: uma questão de respeito
A Fiotec está participando da Jornada Formativa sobre Cidadania LGBT, promovida pela Fiocruz, com o objetivo que os profissionais sejam instruídos para a humanização no atendimento deste público. A participação no evento faz parte da adequação ao decreto nº 8.727/2016, que dispõe sobre o uso do nome social e o reconhecimento da identidade de gênero de pessoas travestis e transexuais no âmbito da administração pública federal direta, autárquica e fundacional. Os alinhamentos sobre o assunto foram tratados em uma reunião com representantes da ONG Rio sem Homofobia e da Fiocruz. Além da participação no evento, a instituição aproveitou o gancho para abordar a temática da diversidade sexual e de gênero através de ações internas e em seus canais de comunicação. Afinal, cada um tem direito a sua liberdade de pensamento, mas respeitar as opções e ideias do próximo é um dever. Nada melhor do que o entendimento sobre o assunto para promover isso e esse é foco da Fiotec.
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Primeira vacina contra esquistossomose é brasileira e beneficiará cerca de 1 bilhão de pessoas Por Janaina Campos
Miriam Tendler, coordenadora do projeto, fala sobre importância da Sm14 e preparativos para as próximas fases 14
Esquistossomose ou “doença dos caramujos” são sinônimos de uma doença parasitária causada pelo agente etiológico Schistosoma mansoni que se caracteriza como a segunda maior endemia mundial. A infecção é adquirida quando as pessoas entram em contato com água doce contaminada com as formas larvais dos parasitas. Por isso, a enfermidade está relacionada à precariedade de saneamento e está presente em áreas endêmicas de mais de 70 países subdesenvolvidos e em desenvolvimento. No Brasil, maior País endêmico, 19 estados apresentam casos, especialmente na região Nordeste. De acordo com Miriam Tendler, que coordena o projeto de desenvolvimento da vacina, existem 800 milhões de pessoas sujeitas a contaminação por viverem nesses locais. Outras 200 milhões já estão infectadas. Isso significa um contingente de um bilhão de pessoas nos países pobres, principalmente na África e no Brasil, impactadas de alguma maneira pela esquistossomose.
Foto: Gutemberg Brito
Apesar da sua gravidade, o tratamento da doença sempre foi feito através de quimioterapia, ou seja, por meio de remédios, que não trouxeram diminuição do número de casos. Mas essa realidade está prestes a mudar. O Instituto Oswaldo Cruz (IOC/ Fiocruz) desenvolveu e patenteou a Vacina Sm14, a primeira para esquistossomose, que está iniciando sua fase II.
Pioneirismo e reconhecimento
A importância da vacina é tanta, que a Organização Mundial de Saúde (OMS) já a reconheceu como um dos cinco projetos prioritários no mundo todo, dentro da sua plataforma de acessibilidade. “Estamos falando da viabilização do controle de transmissão de uma grande endemia que afeta exclusivamente países pobres. Então, é uma vacina pioneira, que vai alcançar e beneficiar, pelo menos, um bilhão de pessoas”, explicou a pesquisadora. Miriam ressaltou ainda a relevância de a tecnologia brasileira ser utilizada para a produção da Sm14, o que representa a quebra um paradigma do ponto de vista tecnológico. “O estudo possibilita que o Brasil faça uma enorme colaboração sul/sul, transferindo depois para África, e dessa forma invertendo a lógica do desenvolvimento tecnológico que vigora hoje, em que países desenvolvidos – como os Estados Unidos e países da Europa - desenvolvem a tecnologia, vendem e transferem para os países pobres”, afirmou. 15
Estudos clínicos em áreas endêmicas
na África e no Brasil. “Acredito que ao longo de três anos teremos concluído tudo”, previu Os primeiros testes clínicos hua coordenadora. manos, finalizados em 2013 no Brasil, já mostraram a eficácia e a segurança da vacina, porém A importância da Fiotec é foram realizados em áreas não enorme. Eu diria que, endêmicas. Agora, em parceria sem a Fiotec, a gente não com a empresa Orygen Biotec- conseguiria desenvolver nologia S.A., o IOC iniciou a par[a vacina], pois não teríamos te regulatória da fase II, que semeios de administrar e de rão estudos clínicos realizados em adultos moradores da região gerenciar os recursos que endêmica no Senegal, na África, estão vindo de fora — Miriam Tendler local atingido simultaneamenpesquisadora do IOC te por duas espécies do parasita Schistosoma. “O Ministério da Saúde do Senegal já aprovou o estudo, a comissão de ética já li- A fase inicial da doença, na berou e o material está todo pron- maioria das pessoas, é assintoto. Então, a primeira dose deve mática. Já na fase aguda, pode ser aplicada no início de novem- apresentar febre, dor de cabeça, calafrios, suores, fraqueza, bro deste ano ”, disse Miriam. falta de apetite, dor muscular, A segunda fase avaliará a se- tosse e diarreia. Na forma crôgurança e imunogenicidade da nica, a diarreia se torna mais vacina e vai ter, pelo menos, três constante, alternando-se com etapas. Inicialmente, os testes prisão de ventre. Os casos mais serão em adultos no Senegal. graves da fase crônica podem No próximo ano, crianças pas- levar ao emagrecimento, frasarão pelos testes na região e, queza acentuada e aumento do no terceiro momento, um tes- volume do abdômen - por isso te clínico mais abrangente vai o nome popularmente conheciacontecer simultaneamente do como barriga d´água.
O perigo da doença
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Complicações podem levar ainda e cirrose, já que à medida que o tempo passa os ovos das larvas crescem no corpo e vão se depositando no fígado. Como consequência da cirrose, a pessoa pode passar a vomitar sangue, o que pode levar a óbito.
Controlando a transmissão
Quando uma pessoa infectada urina ou defeca na água, ela contamina o líquido com os ovos, que eclodem e invadem os tecidos de caracóis (hospedeiro intermediário) que vivem em lagos ou rios. Os parasitas então crescem e se desenvolvem no interior dessas lesmas. Após crescerem, deixam o caracol e penetram na água, onde podem sobreviver durante cerca de 48 horas, até penetrarem na pele de pessoas que pisam descalças, nadam, tomam banho ou lavam roupas e objetos na água infectada. O ciclo é complexo, pois o parasita não se multiplica no hospedeiro definitivo, ou seja, no homem. Ele precisa de um hospedeiro temporário.
Então, em última instância, o objetivo da vacina é reduzir drasticamente a carga parasitária e causar um impacto no meio ambiente suficiente para interromper a transmissão da doença. “Isso é o que as vacinas são capazes de fazer e é o que elas fazem com todas as doenças transmissíveis e infecciosas, variando um pouquinho se for vírus, bactéria ou um parasita maior, como o da esquistossomose. Por isso, as vacinas são as principais ferramentas que a medicina tem”, enfatizou a pesquisadora. A vacina funcionará da maneira clássica, ou seja, através da indução de uma resposta imunológica específica, eficiente e de
longa duração. “Essa resposta imunológica, assim como em outras vacinas, induz uma memória que faz com que quando a pessoa entre em contato com o parasita ela tenha a capacidade de impedir e reduzir a sua entrada”, explicou Miriam.
Trabalho da Fiotec é destaque na Fiocruz e entre parceiros
Desde o início desenvolvimento da vacina, a Fiotec apoia o IOC nessa inovadora empreitada. A parceria é considerada por Miriam fundamental para a viabilização desse no projeto no Brasil. “A importância da Fiotec é enorme. Eu diria que, sem a
Fiotec, a gente não conseguiria desenvolver, pois não teríamos meios de administrar e de gerenciar os recursos que estão vindo de fora”, disse a pesquisadora. Ela ainda elogiou a prestação de serviço da instituição. “A dedicação e da Fiotec são grandes destaques dentro da Fiocruz. O atual diretor e toda a equipe técnica estão sendo fantásticos no sentido de não pouparem esforços para viabilizar todo tipo de questão ou de necessidade que o projeto tem. É um trabalho superprofissional, extremamente eficiente e está tendo uma visibilidade muito grande, inclusive fora da Fiocruz, com os nossos parceiros privados”, concluiu.
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Com a palavra, a analista do projeto
grid. A analista lembrou que a Sm14 é uma vacina para uma doença negligenciada que acoA parceria bem-sucedida não é mete localidades pobres e dessó uma visão de Miriam. A anatacou a importância do projeto lista de Projetos da Fiotec, Ingrid na vida da pesquisadora. Xavier, que trabalha junto com Miriam desde 2014 acompa“A pesquisa e o desenvolvimennhando dois projetos cujos objeto da vacina são o projeto da tos são a vacina Sm14, também vida da Miriam, o legado dela, manifestou sua satisfação em e mesmo perpassando por dicolaborar com a pesquisadora. versos obstáculos em mais de duas décadas de pesquisa, ela “Tenho grande admiração pela obteve sucesso. Por isso, tem Miriam e grande carinho pela o reconhecimento, não só meu, pessoa que ela é. Além disso, mas de todos que a conhecem”, posso dizer que é extremamencomplementou Ingrid. te gratificante contribuir, mesmo que indiretamente, para um legado humanitário”, disse In-
Posso dizer que é extremamente gratificante contribuir, mesmo que indiretamente, para um legado humanitário — Ingrid Xavier
analista de Projetos da Fiotec
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Uma instituição de referência se constrói com o desenvolvimento contínuo de suas unidades, que atuam em diversas frentes. Parabéns! EPSJV 27 anos
Fiocruz Pernambuco 66 anos
Asfoc-SN 40 anos
Ensp
62 anos
Fiocruz Brasília 40 anos
* Aniversários que foram comemorados nos respectivos meses desta edição. 19
Sede própria da Fiotec completa seu primeiro ano de existência e coleciona ganhos
Profissionais contam como a mudança melhorou os processos de trabalho, o que impactou positivamente na prestação de serviços à Fiocruz
O mês de outubro marca uma importante conquista da Fiotec: um ano da mudança para sua sede, localizada no Campus Expansão de Manguinhos, no Rio de Janeiro. Com o slogan “Um novo tempo para todos nós”, a ida para o prédio próprio da instituição carregava a promessa de uma melhor infraestrutura, mais integração entre os setores e, consequentemente, mais produtividade para melhorar a prestação de serviços à Fiocruz.
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Passado o primeiro ano, os benefícios trazidos pela mudança ficam evidentes. A nova estrutura beneficiou sim a interação os profissionais, mas mais do que isso impactou diretamente na produtividade profissional. Além de ser mais fácil a transição entro os setores, a ampliação das salas proporcionou mais conforto para todos. Heloisa Setta, supervisora de Projetos Internacionais, confirma isso. “A gente desenvolve melhor um trabalho com mais espaço e com um ambiente mais bonito e agradável de se trabalhar”, afirmou.
Integração com os pesquisadores
Com o espaço suficiente e a criação de sete salas de reunião que se integram, até receber os pesquisadores, financiadores, parceiros, ou qualquer convidado de fora se tornou mais fácil e frequente. Thiago Kikuts, analista de Projetos, classificou as salas de reunião uma das grandes melhorias, possibilitando um estreitamento na relação entre os analistas e os pesquisadores.
e encontros relacionados aos projetos, como o International Meeting do projeto Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) e oficinas do Curso a Distância para Formação e Atualização de Responsáveis Técnicos de Agências Transfusionais.
Acessibilidade
Uma das conquistas da sede foi a possibilidade de adaptações para receber pessoas com deficiência. O prédio possui elevador, corredores largos e banheiros adaptados de uso preferencial. As mudanças foram aprovadas “Os coordenadores se sentem pelos nove profissionais PcD melhor apreciados em seus pro- que compõe o quadro adminisjetos porque existe um momen- trativo da Fiotec. to específico para realizar esses encontros. Alguns preferem vir “Nossa infraestrutura é bem aqui, até mais de uma vez, não preparada e existe uma atensó porque gostaram do visual ção muito especial da Diretoria, aqui da sede, mas porque sen- administração e da própria Cotem que os projetos aqui estão missão Interna de Prevenção de realmente muito bem acompa- Acidentes (Cipa). Todos sempre nhados. A recepção e a apre- vigilantes a possíveis pontos de sentação da sede são extrema- melhorias, que no momento são mente favoráveis a isso”, disse quase que nulos”, enfatizou Joro profissional. ge Garcia, profissional da área
A secretária da Diretoria Executiva, Debora Klein, os trabalhadores precisavam de um espaço mais adequado para continuar desenvolvendo suas atividades, sempre com o objetivo de melhor atender a instituição apoiada. “Ter uma sede à altura da importância da Fiocruz, que reconhecidamente é uma das instituições mais importantes da América Latina no âmbito da saúde, foi um desejo realizado”, de Gestão da Qualidade. comentou Debora Klein, secre- Os espaços, inclusive, já foram usados para realizar oficinas tária da Diretoria Executiva.
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1. Introdução
1.4. Um novo tempo para todos nós
Números da Fiotec em 2015
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novos projetos iniciados em 2015
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569 projetos em execução
2.135 projetos ao longo de sua existência
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Um Relatório de Gestão com cara de revista: Layout atraente. Qualidade de conteúdo. Transparência e clareza.
Acesse a publicação que demonstra os resultados obtidos pela Fiotec em 2015
Das piscinas à Fiotec fisioterapeuta dá exemplo de superação e profissionalismo Mauro Brasil foi medalhista paralímpico e hoje atua como fisioterapeuta na Fiotec, uma instituição que luta pela inclusão profissional
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Os Jogos Olímpicos e Paralímpicos marcaram a cidade do Rio de Janeiro e trouxeram à tona, para os milhares de expectadores, a questão da superação de limites. Centenas de atletas estiveram na cidade e deram um show de energia e garra. O espirito olímpico contagiou o País e o paralímpico mais ainda, pois as pessoas puderam ver bem de perto o show dos atletas Pessoas com Deficiência (PcD). Em um poema, Mario Quintana diz que “deficiente é aquele que não consegue modificar sua vida, aceitando as imposições de outras pessoas ou da sociedade em que vive, sem ter consciência de que é dono do seu destino”. O trecho que, dependendo do ponto de vista, mostra que os PcD superam, de longe, aquelas que não possuem limitação física ou mental. Essa percepção se mistura com a história de Mauro Brasil, fisioterapeuta da Fiotec. A deficiência de Mauro não o impediu de conquistar uma medalha de prata e uma de bron26
ze em paralimpíadas e de bater seis recordes mundiais. Aos 8 anos, o fisioterapeuta, participou da primeira competição de natação, ganhou e começou sua vida de atleta na categoria convencional (ou seja, competindo com pessoas sem deficiência física). Aos 15, foi convidado a participar da seletiva para os Jogos Paralímpicos de Atlanta. “Fiquei um pouco reticente, pois, até então, eu nunca tinha pensado em competir considerando minha deficiência. Mas, resolvi ver no que dava”, contou. Mauro permaneceu na seleção brasileira por 14 anos como atleta, colecionou mais de 20 medalhas em grandes competições. “Eu me considero vitorioso não só pelos campeonatos que participei, mas porque, através do esporte, pude mostrar meu valor. Eu era visto como atleta e não como deficiente”, afirmou Mauro. Ele relatou também que foi um dos pioneiros a treinar com atletas da categoria convencional, prática que hoje é adotada durante a preparação para as competi-
ções. Mauro permanece na seleção brasileira de natação, só que agora como fisioterapeuta.
PcD na Fiotec A lei nº 8.213/1991 estabelece que empresas com 100 ou mais trabalhadores são obrigadas a ter de 2% a 5% dos seus cargos ocupados por pessoas com deficiência. O cumprimento da legislação é uma busca constante por parte das organizações, mas em várias delas a meta ainda não foi alcançada. Por se tratar de uma fundação de apoio, a Fiotec possui uma realidade distinta de outras organizações privadas. O número de trabalhadores contratados sob a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) é de 1.265 profissionais. Porém, a maior parte atua diretamente nos projetos, sendo apenas 303 trabalhadores alocados na administração (sede e escritório de Brasília-DF). Patricia Lopes, supervisora de Recursos Humanos, explica que esse quantitativo torna um desafio o cumprimento da cota
exigida por lei. “Pela lei da cota, hoje teríamos que contar com 63 pessoas com deficiência. É difícil alcançarmos essa meta porque os projetos atuam de maneira independente nas suas contratações e muitas não encontram PcD com perfil que atenda as suas especificidades”, explicou. Contando com Mauro, hoje, 11 pessoas com deficiência fazem parte do quadro de trabalhadores da Fiotec, sendo nove na administração e duas em projetos. “Apesar de haver baixíssima rotatividade, todas as vagas que abrimos se estendem também a pessoas com deficiência. Somente neste ano, participaram de nossos processos seletivos 13 profissionais com limitação física e visual”, acrescentou Patricia.
Projeto Conviver: rumo à inclusão e integração Em maio de 2015, foram realizadas oficinas de sensibilização no âmbito do Projeto Conviver, concebido na Fiotec para promover ações e atividades voltadas à inclusão de pessoas com deficiência. As oficinas práticas empolgaram os trabalhadores, que tiveram a chance de compreender realidade das pessoas com deficiência e, desta forma, permitir o crescimento e aprendizagem de todos, garantindo um bom ambiente de trabalho. Agora, a intenção é ir além. Um novo projeto prevê a implantação do Programa Conviver, que visa promover a qualificação de pessoas com deficiência por meio de uma mobilização interna, incentivando o voluntariado e a colaboração de todos os profissionais da instituição. “Queremos trazer essas pessoas até a Fiotec para que elas possam conhecer o ambiente corporativo e para que possam aprender coisas básicas, como a elaboração de um currículo, redação, entre outras atividades”, disse Patricia. “Essa proximidade será benéfica em todos os sentidos, pois nós, como recrutadores, teremos a oportunidade de avaliar melhor o potencial e o talento dessas pessoas, gerando, quem sabe, o aproveitamento dos profissionais”, complementou a supervisora. A previsão é que o programa tenha início no próximo ano.
Trabalhadores da Fiotec recebem noções de libras durante oficinas de sensibilização do Projeto Conviver 27