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Importância das frotas para a Mobilidade Elétrica em Portugal
A importância das frotas para a mobilidade elétrica
O percurso da Mobilidade Elétrica em Portugal deve muito ao papel que empresas e entidades públicas tiveram no desenvolvimento deste mercado e na crescente aceitação das viaturas elétricas, ao contribuírem para desfazer muitas das dúvidas e receios que existiam em relação a estes veículos. Em conjunto, correm os testemunhos das principais marcas automóveis presentes em Portugal, assim como o de algumas gestoras de frota, revelando o peso que os automóveis eletrificados já têm na sua frota
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Em 2014, ano em que a reforma da Fiscalidade Verde foi consagrada em lei (lei n.º 82-D/2014), foram matriculados em Portugal apenas 189 veículos elétricos e 101 automóveis híbridos plug-in, apenas 0,2% do total de matrículas de viaturas ligeiras de passageiros realizadas nesse ano. O Renault ZOE haveria de ser o modelo elétrico mais vendido com 34 unidades, enquanto o
Mitsubishi Outlander obtinha a primeira posição entre os PHEV, com 32 unidades. Publicada a 31 de dezembro de 2014, para vigorar, portanto, a partir de 2015, a lei de reforma da política ambiental introduzia um conjunto de benefícios para a aquisição de veículos elétricos, híbridos elétricos, híbridos plug-in e com motor híbrido, mas também automóveis com motor a funcionar a GPL ou GNC, agravando, simultaneamente, as taxas de Imposto sobre Veículos (ISV) nos veículos a gasolina e gasóleo, em função das emissões de CO2.
Nomeadamente estes, considerados os benefícios fiscais mais importantes dirigidos aos clientes profissionais (empresas e ENI), diretamente relacionados com a aquisição e utilização de viaturas: • A faculdade de dedução do IVA nas “despesas relativas à aquisição, fabrico ou importação, à locação e à transformação em viaturas elétricas ou híbridas plug-in, de viaturas ligeiras de passageiros ou mistas elétricas ou híbridas plug-in, quando consideradas viaturas de turismo”, assim como “em viaturas movidas a GPL ou a GNV, de viaturas ligeiras de passageiros ou mistas movidas a GPL ou a GNV, quando consideradas viaturas de turismo”; • Taxas reduzidas de Tributação Autónoma “no caso de viaturas ligeiras de passageiros híbridas plug-in”, assim como nas “viaturas ligeiras de passageiros movidas a GPL ou GNV” (a lei n.º 2/2014 já havia excluído desta tributação os “veículos movidos exclusivamente a energia elétrica”); • Estabelece um novo regime para as depreciações e amortizações, para efeitos do IRC, dos veículos movidos exclusivamente a energia elétrica, veículos híbridos plug-in e veículos movidos a GPL ou GNC, limitando, por outro lado, as restantes viaturas (híbridas e com motor exclusivamente a gasolina ou gasóleo).
2015, ANO 1 DA MOBILIDADE ELÉTRICA EM PORTUGAL
Embora a reforma da Fiscalidade Verde também contemplasse medidas com benefícios dirigidos aos consumidores particulares, nomeadamente através de uma redução do valor de ISV no momento da aquisição da viatura (“Incentivo fiscal ao abate de veículos em fim de vida”), a relevância das três medidas anteriores mostrava a importância que o legislador atribuía ao papel das empresas enquanto motor da transição energética.
E, de facto, elas continham razões suficientes para despertar o interesse dos clientes profissionais. E isso terá certamente contribuído para que, nas contas finais do mercado automóvel de 2015 (que cresceu 25% face a 2014), o número de registos de automóveis 100% elétricos subisse de 189 (em 2014) para 645 unidades (em 2015), enquanto o de híbridos plug-in multiplicava-se cinco vezes, encerrando o ano com 521 matrículas.
Modelos mais vendidos em cada uma das categorias foram o Nissan LEAF, com 209 unidades, e, novamente, o Mitsubishi Outlander, com 229 registos. Ainda assim, a soma de automóveis de passageiros exclusivamente elétricos e híbridos plug-in representou nesse ano apenas 0,65% da categoria de ligeiros de passageiros, sendo praticamente inexistente este tipo de oferta entre os ligeiros de mercadorias.
Porém, dois factos com impacto para a Mobilidade Elétrica em Portugal ocorreram em 2015: • A MOBI.E, enquanto empresa pública, assume o papel de Entidade Gestora da Rede de Mobilidade Elétrica (EGME), com responsabilidades na gestão e monitorização da rede de postos de carregamento elétricos; • Em meados de 2015, a 12 de agosto, é publicada a portaria 241/2015, que estabelece os requisitos técnicos para atribuição de licença para o exercício da atividade de operação de pontos de carregamento da rede de mobilidade elétrica.
CRIAÇÃO DA REDE PÚBLICA DE CARREGAMENTO ELÉTRICO
O fim do incentivo ao abate terminaria com a entrada em vigor do Orçamento do Estado para 2017, medida que o governo justificou com a fraca adesão à iniciativa, e que foi substituída pelo “Incentivo pela introdução no consumo de um veículo de baixas emissões”.
A 9 de junho desse ano, a publicação do decreto-Lei n.º 60/2017 introduzia um conjunto de objetivos estratégicos para o desenvolvimento de uma política alternativa à utilização de combustíveis fósseis e consequente integração de mais energia proveniente de fontes renováveis na atividade económica, com especial atenção para o sector dos transportes: “tendo em conta as características atuais do mix energético nacional, a utilização de combustíveis alternativos nos transportes, designadamente da eletricidade no transporte rodoviário, configura uma opção estratégica de grande interesse para o objetivo de incorporação de energia de fontes renováveis no sector e principalmente para o objetivo de redução de emissões nacionais de GEE, pela via da descarbonização dos transportes”, lê-se no documento.
Com este diploma, terminologias como “Ponto de carregamento”, “Ponto de carrega-
A FLEET MAGAZINE desafiou gestoras de frota e marcas automóveis (ou aos grupos quando representam mais do que uma marca) a responder a três questões relacionadas com a Mobilidade Elétrica em Portugal: 1. Que importância as empresas têm tido para o fomento da Mobilidade Elétrica em Portugal? 2. Que importância teve a Reforma da Fiscalidade Verde e se continuam a ser os benefícios fiscais a motivar as empresas a apostar na transição energética da frota? 3. Atualmente, quanto representam as vendas corporate de veículos exclusivamente elétricos e híbridos plug-in no volume de matrículas da marca ou grupo automóvel ou, no caso das gestoras, que peso têm na frota total gerida?
Sem obedecer a nenhuma ordem especial, estas foram as respostas obtidas:
ASTARA PORTUGAL (Kia, Mitsubishi, Aiways, Fuso, Isuzu, Maxus e Piaggio)
Fernando Antunes, Diretor de Vendas a Frotas
1. As empresas têm desempenhado um papel fundamental no avanço da mobilidade elétrica em Portugal. Prova disso, no primeiro quadrimestre, apenas 19% das vendas totais de veículos elétricos foram destinadas ao segmento de clientes particulares, sendo o restante canalizado para empresas, rent-a-car e veículos TVDE. As razões são sobretudo duas: ambiental e económica. O fator da sustentabilidade ambiental, seja por imperativo estratégico, pela necessidade de cumprir metas ou até mesmo por uma questão de imagem, tem assumido um caráter cada vez mais prioritário. Já do ponto de vista económico, os benefícios são evidentes, em termos dos custos de utilização e manutenção, bem como do impacto fiscal. Quanto a efeitos colaterais no segmento dos particulares, o facto de existirem mais automóveis de empresas a circular, acaba por tornar mais visível esta tendência e por criar um efeito de mimetismo. 2. Tudo o que possa promover comportamentos mais sustentáveis do ponto de vista ambiental e que, ao mesmo tempo, possa contribuir para uma redução dos custos é bem-vindo. Os incentivos criados tiveram e têm um impacto positivo, com destaque para a dedução do IVA e para a isenção (no caso dos VE) ou da redução (nos PHEV) da Tributação Autónoma em sede de IRC e do ISV, fatores que são muito relevantes para a saúde contabilística das empresas. E deve destacar-se ainda o incentivo de seis mil euros na compra de veículos comerciais ligeiros 100% elétricos. 3. Nos primeiros quatro meses de 2022, no que respeita ao segmento de passageiros, nas marcas Kia e Mitsubishi, as vendas a clientes frotistas de veículos eletrificados representaram, respetivamente, 57% e 35%. O ambicioso plano de lançamentos de novos modelos amigos do ambiente das diferentes marcas, a juntar à recém-chegada Aiways, faz prever um crescimento significativo do peso deste tipo de veículos nas vendas para frotas do grupo Astara. Já nos comerciais, o lançamento dos Maxus 100% elétricos representou um importante passo no reforço da nossa oferta de mobilidade sustentável, a que se juntarão em breve os futuros Fuso eCanter e Piaggio Porter elétrico.
SIVA (AUDI, CUPRA, Volkswagen, SEAT, Škoda e outras)
Miguel Moreira Branco, Diretor de Vendas e de Fleet do grupo SIVA|PHS
1. As empresas em Portugal têm um papel crucial no desenvolvimento da mobilidade elétrica. Senão vejamos: estima-se que as vendas a empresas em Portugal representem perto de 50% do mercado automóvel de passageiros, pelo que, se quisermos acelerar a conversão para os automóveis elétricos, terá de ser através das empresas. As grandes empresas estão bastante despertas para a situação e percebem perfeitamente as vantagem da mobilidade elétrica; o desafio está nas PME, onde será necessário uma maior capacidade de alerta para os benefícios inerentes. 2. Os benefícios fiscais para as viaturas elétricas serão o motor para a transição energética. Contudo, esta será a oportunidade para perceber que a diminuição da carga fiscal no sector automóvel pode trazer benefícios a todos. Será importante que as entidades governamentais não limitem no tempo estes benefícios e que, em conjunto com os responsáveis do sector, encontrem-se soluções para uma maior dinamização do negócio, de forma a melhorar os resultados para ambos os lados. 3. Mais importante do que a atual representatividade de viaturas elétricas, será a tendência do mercado. Podendo afirmar que o crescimento da procura dos BEV e PHEV nos clientes frota é substancialmente superior às demais alternativas. infelizmente, devido às restrições de produção, as vendas não refletem o real volume da procura. Pelo que, quando os fabricantes estabilizarem as produções, a representatividade de viaturas elétricas será muito superior à que atualmente existe.
VOLVO Nuno Silva, Commercial / Fleet Sales Manager
1. As empresas têm sido um dos principais impulsionadores para a alteração do paradigma da mobilidade elétrica, evidenciando uma procura por este tipo de soluções cada vez mais elevada. Os frotistas têm contribuído para a transformação da mobilidade elétrica através de três vetores fundamentais: uma maior preocupação ambiental, a importância dos baixos custos de utilização e um alinhamento com as vantagens fiscais em vigor. 2. A fiscalidade verde continua a ter uma ponderação importante no momento de decisão das empresas quando optam pelas soluções eletrificadas, variando as decisões das mesmas em função da tipologia da frota, do tipo de utilização mesma, da dimensão e das metas de emissões de CO2 (em particular nas multinacionais). 3. As vendas dos veículos eletrificados representam atualmente cerca de 90% das vendas corporate, sendo que, no caso da Volvo, os BEV estão a ganhar um peso cada vez maior fruto também da estratégia que a marca decidiu enveredar. Do total de vendas BEV podemos confirmar que 85% são já efetuadas através do canal corporate. A nossa ambição é conseguir que, já em 2025, 50% das nossas vendas sejam de veículos eletrificados, e que, em 2030, 100% sejam de automóveis puramente elétricos.
Veículos elétricos e híbridos plug-in: evolução das vendas de carros novos entre 2015 e 2021
2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
100% elétricos 645 756 1.640 4.073 6.883 7.709 13.260 (n.º unidades/ Nissan LEAF Nissan LEAF Renault ZOE Nissan LEAF Nissan LEAF Tesla Model 3 Tesla Model 3 + vendido) Híbridos PLUG-IN 521 1.089 2.442 3.776 5.798 11.867 15.660 (n.º unidades/ Mitsubishi Mitsubishi BMW Série 3 BMW Série 5 Mercedes-Benz BMW Série 3 BMW Série 3 + vendido) Outlander Outlander Classe E
mento de alta potência”, “Ponto de carregamento de potência normal”, “Ponto de carregamento ou de abastecimento acessível ao público” e até “Veículo elétrico” passaram a ter o enquadramento legal necessário para a uniformização de nomenclaturas, algo essencial para, por exemplo, a identificação na elaboração de propostas para a instalação, acesso e exploração pública (ou não) de equipamento e serviços destinados ao exercício de atividades necessárias à mobilidade elétrica.
A 27 de outubro de 2017, no âmbito da 6.ª Conferência Gestão de Frotas realizada no Centro de Congressos do Estoril, Nuno Bonneville, então administrador da MOBI.E, apresentava alguns dados do projeto-piloto para a mobilidade elétrica iniciado nesse mesmo ano (que se previa ficar concluído em 2018), a tipificação e cobertura da rede de carregamento à data, bem como a estrutura do que se pretendia vir a ser o modelo de funcionamento de uma rede pública de carregamento de veículos elétricos, com a abertura do mercado a operadores privados.
Algo que realmente veio a acontecer em outubro de 2018, com o início do pagamento das operações de carregamento de carros elétricos.
No final de 2017, as matrículas de veículos elétricos e híbridos plug-in representavam cerca de 1,9% do mercado automóvel em Portugal; um ano depois, com o importante contributo dos 100% elétricos, esse peso já era de sensivelmente 3,4%, sendo que 2018 foi o ano do pico do número de registos automóveis em Portugal desde 2003.
Nesses dois anos os carros elétricos mais matriculado foram o Renault ZOE e o Nissan LEAF, não sendo certamente alheio o facto de estar a decorrer uma renovação da frota do Estado, com a transição energética de 1.200 automóveis provenientes de diversos organismos geridos ou tutelados pelo governo e que tinham mais de 10 anos.
O PESO DO ESTADO E DAS EMPRESAS NO CRESCIMENTO DA ME
O exemplo anterior, mas também as renovações em frotas municipais (Lisboa e Porto, por exemplo), organismos públicos (Águas de Portugal) e entidades privadas (grupos EDP, ctt e Montepio, vencedores do "Prémio Frota Verde" nas três últimas edições dos Prémios Fleet Magazine) contribuíram significativamente para o crescimento do número de veículos elétricos e híbridos plug-in em circulação, com especial incidência desde 2019: • VE – 6.883 unidades em 2019, 7.709 unidades em 2020 e 13.260 unidades em 2021; • PHEV – 5.798 unidades em 2019, 11.867 unidades em 2020 e 15.660 unidades em 2021.
É importante realçar que a oferta de modelos também cresceu e diversificou-se, passando a disponibilizar alguma oferta em escalões mais baixos de preço. Isto teve sobretudo algum impacto com o surgimento de propostas PHEV abaixo dos 27.500 euros (valor sem IVA), modelos beneficiados por uma taxa reduzida de Tributação Autónoma de apenas 5%, em vez da taxa de 17,5% a que são submetidos os encargos com veículos com motor a gasóleo, por exemplo.
Para que se tenha uma visão mais apurada desta realidade, em 2015, ano de implementação da reforma da Fiscalidade Verde, e em 2016, o número de modelos disponíveis era: • VE – 11 modelos em 2015 e 2016, provenientes de 10 marcas diferentes; • PHEV – 6 modelos em 2015 e 12 modelos em 2016, provenientes de 8 marcas diferentes.
Já os resultados de 2020/2021 mostram: • VE – 36 modelos em 2020 e 53 em 2021; • PHEV – 66 modelos em 2020 e 85 modelos em 2021.
Este aumento significativo da oferta foi possível com a adesão de mais marcas: • VE – 20 marcas em 2020, 27 marcas em 2021; • PHEV – 23 marcas em 2020 e 2021.
Importa realçar o surgimento de novas marcas que rapidamente ganharam peso nas frotas (o exemplo mais evidente entre os automóveis elétricos é o da Tesla, onde mais de 90% das vendas destinam-se a clientes profissionais), mas também o facto de o aumento da oferta elétrica e da sua competitividade ter permitido a marcas como a Kia e a Hyundai ganharem mais tração junto deste canal de compras.
PORQUE AS FROTAS FORAM IMPORTANTES PARA O DESENVOLVIMENTO DA MOBILIDADE ELÉTRICA EM PORTUGAL?
Diversas são as razões que evidenciam a importância que as frotas profissionais têm para a Mobilidade Elétrica em Portugal, como a seguir fica demonstrado:
• Conhecimento: O carregamento, através de cartão, permitiu à MOBI.E tipificar as necessidades dos veículos em circulação. A utilização destas viaturas em vários ambientes profissionais e diversas geografias, mas também no âmbito particular, gerou informação para os operadores desenvolverem as suas ofertas e deu a conhecer as necessidades de novos pontos de carregamento; • Serviços: Face ao ainda reduzido número de veículos elétricos e híbridos plug-in utilizados para fins exclusivamente particulares, os veículos profissionais continuam a ser os maiores utilizadores de serviços para a Mobilidade Elétrica e, empresas e empresários, os maiores compradores de equipamento, incluindo viaturas. Ao alimentar este mercado, estimulam a concorrência e geram massa crítica suficiente para a entrada em cena de novos operadores e para o aumento do número de veículos; • Habituação de condutores: poucas vezes valorizado, o primeiro contacto de muitos condutores com a mobilidade elétrica ocorreu (e ainda ocorre) em ambiente profissional. Isto contribui para a aprendizagem de, por exemplo, formas de carregamento e de correta utilização de uma viatura elétrica ou híbrida plug-in, desmistificando muitos receios em redor deste assunto. Principalmente quando os seus condutores beneficiam de formações em eco-condução; • Mercado de usados: parte substancial dos contratos renting de veículos elétricos acontece por prazos de 36 meses, em grande medida para evitar uma desvalorização maior do modelo, o que acontece face à rápida evolução da tecnologia. Por isso, o atual mercado de veículos usados com motor elétrico é alimentado essencialmente com unidades provenientes de frotas; • Ambiente: ao retirar da circulação milhares de veículos com emissões elevadas, as empresas estão a contribuir para a descarbonização dos transportes e, consequentemente, para a melhoria das condições ambientais. Mas também para a economia, com consequências muito positivas para a imagem da empresa e do País.
O QUE AS EMPRESAS “GANHAM” COM A TRANSIÇÃO ENERGÉTICA?
Os benefícios fiscais são geralmente apontados como a razão principal de muitas empresas decidirem pela transição energética da sua frota.
No final de 2017, as matrículas de veículos elétricos e híbridos plug-in representavam cerca de 1,9% do mercado automóvel em Portugal; um ano depois, com o importante contributo dos 100% elétricos, esse peso era de sensivelmente 3,4%, sendo que 2018 foi o ano do pico do número de registos automóveis em Portugal desde 2003
RENAULT PORTUGAL Ricardo Silva, Diretor de Vendas a Frotas
1. As vendas a NIF empresarial têm no mercado português uma grande expressão, pelo que a sua relevância no fomento da mobilidade elétrica é inequívoca. O papel das frotas tem sido fundamental, na medida em que tem proporcionado a inúmeras pessoas o seu primeiro contato com a mobilidade elétrica e, desde logo, quando a empresa atribui a alguém um automóvel elétrico de serviço, põe esse mesmo colaborador em contato diário com as vantagens inerentes e torna-o um embaixador da mobilidade elétrica. A adesão massiva de empresas também faz o publico em geral questionar-se das razões por detrás de tal decisão e, ao tentar saber mais, acabam por ficar a conhecer vantagens como o TCO, o conforto de utilização, a agradabilidade de condução e os benefícios ambientais. O que faz com que se tornem mais recetivos a adquirir automóveis elétricos. 2. São dois fatores indissociáveis. Afinal, se percebemos que o motor da transição energética tem sido as empresas, tal só tem acontecido por via dos benefícios fiscais, uma vez que os mesmos têm influência decisiva no TCO. Sem os benefícios fiscais existentes, seria um processo mais moroso, pelo que importa manter e, na medida do possível, reforçar os mesmos. 3. Tem sido um mercado em franco crescimento, ao ponto de, hoje em dia, ser raro o processo de venda de frotas que não tenha um BEV ou PHEV incluído. A maioria das locadoras com que trabalhamos já tem cerca de 10% da sua frota com veículos BEV e um ainda mais alargado número de automóveis eletrificados. Com a criação da Mobilize Power Solutions, conseguimos hoje apresentar um serviço que faz uma análise exaustiva do perfil dos utilizadores, das condições de carregamento e de todas as variáveis possíveis, para podermos apresentar uma proposta chave na mão com soluções integradas, sem que o cliente tenha que se preocupar com nada. Estatisticamente falando, as vendas de BEV e PHEV cresceram entre 2020 e 2021 (18,4% vs 27,6%) na proporção do mercado Verde no mercado total. E entre 2021 e 2022 YTD (27,6% vs 32,3%), o que faz acreditar que este ritmo se mantenha estável e que o mercado Verde represente um terço (33%) do mercado total até ao final de 2022.
BMW Rui Pais, Corporate & Direct Sales Manager
1. O universo corporativo tem um papel ativo na mudança de paradigma no que diz respeito à mobilidade elétrica, na medida em que têm sido as empresas os grandes consumidores deste tipo de viaturas. Os incentivos fiscais ao nível da recuperação do IVA e da tributação fiscal, a consciência ambiental e as políticas de sustentabilidade são tópicos incontornáveis para qualquer política de frota. Assistimos cada vez mais a “frotas verdes”, com as empresas a adaptarem estruturas e processos para estarem preparadas para esta realidade e poderem tirar real partido destas novas soluções de mobilidade. Com cada vez mais utilizadores deste tipo de viaturas, existe um sem número de preconceitos que se ultrapassam e ficam mais evidentes as vantagens que oferecem também numa utilização a título particular. 2. Os incentivos fiscais assumem uma elevada responsabilidade na transição energética, na medida em que possibilitam um equilíbrio financeiro nesta transição, que requer investimentos iniciais para que efetivamente o mundo eletrificado possa ser uma opção válida. 3. Há um crescimento significativo das vendas de produtos eletrificados, representando hoje cerca de 50% das vendas corporate da marca. Este crescimento assenta numa estratégia de produto iniciada em 2013 e que conta com a oferta cada vez mais completa de produtos eletrificados no portfólio da marca. Em concreto, o BMW Group conta ter, até 2025, 25 modelos eletrificados no portfólio.
FORD Lusitana João Ferro – Diretor Comercial
1. As empresas, no passado recente, têm sido um dos grandes dinamizadores da mobilidade elétrica, através da aquisição de viaturas eletrificadas. Exemplo disso é os conduIores de empresas perceberem e potenciarem cada vez mais a utilização das viaturas PHEV, com todos os benefícios daí decorrentes em termos de economia de combustíveis. Assim evidencia o claro aumento que tem tido a procura do Mustang Mach-E. 2. Sem dúvida foi muito importante, mas também, está claro, há um longo caminho a percorrer quando comparado com outros países da UE. 3. Tanto no mercado, como na Ford, assistimos claramente a um aumento no peso das vendas de passageiros destas motorizações. No caso da Ford, em Portugal, os veículos eletrificados representam 80% nas vendas na nossa gama de passageiros. No caso especifico BEV e PHEV pesam 15%.
NISSAN Rui Alves – Fleet & Used Car Sales Section Manager
1. Desde 2010, quando a Nissan lançou o LEAF, que a procura registou maior evolução no mercado corporate do que no particular. As vendas do LEAF a empresas têm representado mais de 75% das vendas do modelo. Assim, as empresas assumem um papel relevante para a sociedade enquanto aceleradoras e divulgadoras da mobilidade elétrica, tanto no que concerne às zero emissões, como no que respeita ao conforto de condução e também as inegáveis vantagens económicas. Com a segunda geração do LEAF em 2018, muitas empresas acabaram por adquirir frotas acima de cem unidades, com impacto muito significativo para a comunidade, no desenvolvimento da rede e de parques de carregamento ou na instalação de wallbox. 2. Com o início dos incentivos na Tributação Autónoma, no IVA, no IUC e nas depreciações, assistimos a uma completa revolução no posicionamento dos VE’s no que concerne o seu TCO. Desde 2020 que o TCO de um VE é mais vantajoso que o
Veículos Ligeiros de Passageiros
IRC/IRS (Empresa/ENI) Gasóleo, Gasolina Híbridas Plug-in (3) 100% Elétricas (3)
Limite de depreciação aceite Até 25.000 € Até 50.000 € Até 62.500 € para efeitos fiscais (1) Taxa de depreciação máxima anual 25% 25% 25% Tributação Autónoma SIM SIM NÃO de TODOS os encargos
Taxas de tributação autónoma
IRC (Empresas) Gasóleo, Gasolina Híbridas Plug-in (3) 100% Elétricas (3)
Custo de aquisição inferior 10% 5% Encargos não sujeitos a TA a 27.500 € Custo de aquisição igual 27,5% 10% Encargos não sujeitos a TA ou superior a 27.500 € e inferior a 35.000 € Custo de aquisição igual 35% 17,5% Encargos não sujeitos a TA ou superior a 35.000 €
IRS (ENI) (2) Gasóleo, Gasolina Híbridas Plug-in (3) 100% Elétricas (3)
Custo de aquisição inferior 10% 5% Encargos não sujeitos a TA a €20.000 Custo de aquisição igual ou 20% 10% Encargos não sujeitos a TA superior a € 20.000
(1) Depreciações efetuadas em valores de aquisição superiores a estes limites não geram poupança de IRC. Exceto viaturas afetas ao serviço público de transportes ou destinadas a serem alugadas no exercício da atividade normal do sujeito passivo, em que a depreciação é totalmente aceite sobre o valor de aquisição. São exemplos as atividades cujos rendimentos derivem da exploração direta da viatura, como Uber, operadores turísticos ou escolas de condução. (2) ENI – Empresário em Nome Individual com contabilidade organizada. (3) Valores considerados sem IVA. Apenas são elegíveis para a aplicação de taxas reduzidas de Tributação Autónoma as viaturas plug-in que apresentem autonomia elétrica superior a 50 km e emissões de CO2 inferiores a 50g/km.
NOTA: Os valores relativos ao mercado automóvel referidos neste texto foram fornecidos pela ACAP, Associação Automóvel de Portugal.
Veículos Ligeiros de Passageiros: Dedução do IVA ao valor de aquisição
Gasóleo
NÃO
Gasolina
NÃO
Híbridos
NÃO
Híbridos plug-in Elétricos
SIM, com custo de SIM, com custo de aquisição até €50.000 + IVA aquisição até €62.500 + IVA
Contabilisticamente existem razões para sustentar esta análise, pelo que marcas automóveis e gestoras de frota realizam periodicamente estudos que comparam versões equivalentes com motorização elétrica e motor de combustão, e que evidenciam as poupanças que as vantagens fiscais geram nos custos de utilização dos primeiros modelos.
Estas análises comparativas mostram-se ainda mais favoráveis nos veículos com custo de aquisição acima dos 35 mil euros (em consequência da redução da taxa de Tributação Autónoma, ou não sujeição dos encargos a este imposto extraordinário no caso dos VE, consultar tabela com taxas por escalão), razão pela qual há empresas que decidem começar a introdução de veículos eletrificados a partir deste patamar de preço.
E é também neste segmento de atribuição de viatura que se encontram veículos elétricos com autonomia mais elevada e, por causa das características de alguns modelos, onde é mais fácil a aceitação dos utilizadores a uma nova realidade.
De facto, a obrigação de cumprir metas internas de sustentabilidade, nomeadamente através de melhorias de eficiência energética, acaba por ter como um dos seus primeiros alvos a frota automóvel. A redução da pegada de carbono tem um valor quantificável, financeiro e para a imagem da empresa, que é extraordinariamente importante para as grandes organizações e entidades com forte exposição mediática.
de um veículo ICE. Na atual conjuntura inflacionária, especialmente a que se regista nos combustíveis, os valores residuais dos VE começam a aproximarem-se dos valores dos ICE, pelo que prevemos que o TCO dos carros elétricos venha a ter um impacto ainda mais significativo no processo de decisão de clientes corporate. 3. LEAF e e-NV200 (que será substituída pela Townstar EV em setembro deste ano) representaram, em 2021, cerca de 20% das nossas vendas. Em 2022, apesar das conhecidas limitações na produção automóvel, temos conseguido estar próximos desse peso. Relativamente aos PHEV a opção da NISSAN foi noutra direção. Apesar de termos acesso à tecnologia PHEV (proveniente de outras marcas da Aliança), a nossa opção recaiu na tecnologia e-POWER. Esta tecnologia está a chegar Portugal, primeiro com o Qashqai e, muito em breve, com o X-Trail também.
TOYOTA/LEXUS Nuno Soares, Diretor do Departamento de Frotas e Mobilidade
1. As empresas foram quem liderou o caminho nesta transformação, beneficiando da fiscalidade para as unidades BEV e PHEV. A adoção de políticas verdes por parte das empresas, estabelecendo uma penetração de viaturas BEV na sua frota foi também fundamental para que a venda e utilização destas viaturas se materializasse com maior celeridade. Ao optarem pelo aluguer operacional como forma de aquisição das unidades BEV, mitigam os receios iniciais e o risco de obsolescência existente nas unidades com este tipo de motorização, devido à crescente autonomia das viaturas que são lançadas ano após ano. 2. Os benefícios fiscais foram e continuam a ser o principal catalisador de venda de BEV e PHEV. Face ao preço mais elevado das viaturas, fruto de custos de produção mais onerosos, a proliferação deste tipo de motorizações ia ser muito mais lenta sem a existência dos benefícios fiscais. A fiscalidade continua a ditar a tendência de consumo no mercado automóvel nacional. 3. A eletrificação das viaturas de passageiros Toyota/Lexus já existe há mais de duas décadas, com as motorizações híbridas autocarregáveis, e representam, neste momento, um total de quase 100% de peso nas vendas Lexus e cerca de 80% nas vendas de ligeiros de passageiros da Toyota. Apesar de termos sido pioneiros no lançamento da tecnologia PHEV, com o o Prius plug-in em 2012, só recentemente disponibilizamos modelos PHEV e BEV mais adaptados aos consumidores europeus.
MERCEDES-BENZ Jorge Aguiar, Diretor de Marketing
1. As empresas têm tido um importante papel impulsionador relativamente ao desenvolvimento da mobilidade elétrica, quer por questões de preocupações ambientais, demostrando a sua pegada ecológica, quer por força das vantagens fiscais. 2. A Fiscalidade Verde foi um fator muito importante para a transição dos motores térmicos para elétricos. O apoio do Estado tem sido crucial dado o investimento que as empresas precisam fazer, tendo em conta que esta tecnologia nova é mais cara do que a dos automóveis convencionais. No entanto, todo o mindset relativamente às questões ambientais está a mudar e, independentemente das questões fiscais, os nossos clientes irão no futuro dar preferência a um novo conceito de mobilidade. 3. A grande maioria da produção dos nossos automóveis com tecnologia PHEV e BEV é tomada pelas empresas. Atualmente, as vendas no segmento PHEV representam cerca de 30% e BEV cerca de 5% das nossas vendas totais. Importa salientar que estes números estão diretamente relacionados com a produção existente, pois temos maior procura do que oferta. Estamos em crer que, caso a produção estivesse numa fase “normal”, estes números seriam substancialmente superiores. Sublinhe-se que o segmento BEV está em franca evolução, com tendência para alcançar os dois dígitos percentuais das nossas vendas.
ALD AUTOMOTIVE Nuno Jacinto – Diretor Comercial
1. As gestoras de frota têm um papel crucial neste desenvolvimento da mobilidade elétrica e na promoção ativa de um melhor desempenho ambiental do renting. Depois das empresas, que deram assumidamente o primeiro passo, especialmente o sector público, a aceitação é cada vez mais generalizada também no caso dos particulares. 2. Existe uma correlação direta no impacto das políticas públicas na mobilidade sustentável. Incentivos fiscais, subsídios e outras medidas de apoio governamental aos VE são importantes motores da eletrificação. Por isso, existe uma clara correspondência entre o nível desse apoio e o grau de eletrificação de cada país. Veja-se a aplicação de objetivos de CO2 aos construtores automóveis. É uma prova viva do impacto significativo que estes regulamentos têm na dinâmica do mercado. 3. Assistimos gradualmente a uma renovação das motorizações e a uma transição para formas de energia mais limpas e menos poluentes. A nossa frota ainda é formada por 80% de veículos Diesel, mas os restantes 20% são maioritariamente elétricos e híbridos. Olhando para os contratos mais recentes, os veículos Diesel representavam apenas 55% no final do primeiro trimestre de 2022, com os restantes 44% a ser suportados por gasolina, BEV, PHEV, entre outros.
ARVAL Gonçalo Cruz, Head of Consulting & Acquisition da Arval
1. As empresas têm tido um papel crucial na transição energética em Portugal. De acordo com o Barómetro Automóvel e de Mobilidade 2022 do Arval Mobility Observatory, 55% das empresas em Portugal já definiram regras claras de gestão e objetivos de responsabilidade para as suas frotas. Destas, 67% já estabelece limites para as emissões de CO2, sendo que a principal razão apontada pelos decisores nas empresas é a intenção de redução do impacto ambiental das suas frotas. Ou seja, as empresas exercem um papel preponderante na transição para a mobilidade elétrica e, de uma forma geral, existe total disponibilidade e motivação da maioria dos colaboradores para aderir ao uso de novas tecnologias.
2. Sem a compensação promovida pela Reforma da Fiscalidade Verde, Portugal estaria muito atrasado no processo de transição energética face à média europeia. A sustentabilidade nas empresas só se consegue com equilíbrio entre os interesses económicos das mesmas e os benefícios sociais e ambientais. O quadro fiscal veio permitir este equilíbrio que, de outra forma, deixaria de ser sustentável para as frotas automóveis. Desta forma, as empresas têm estado a progredir na transição energética de forma racional. 3. Nestes últimos dois anos assistimos a um crescimento acentuado deste tipo de viaturas. A consciencialização de que é preciso de facto mudar reflete-se no tipo de viaturas procuradas. Podemos dizer que, em 2021, mais de 30% das encomendas de viaturas novas eram de eletrificadas, e que neste ano de 2022 esse número já ronda os 43%.
KINTO Pedro Coutinho, Diretor Comercial
1. A contribuição do mercado Corporate para a dinâmica da transição energética é uma realidade. O facto de as próprias empresas apresentarem uma preocupação genuína com o ambiente passa, e ainda bem, para os seus colaboradores. Logicamente, este facto acelera, também no segmento dos particulares, a transição para veículos eletrificados. Mas também é justo dizer que o segmento dos particulares e dos ENI se apresentou muito bem informado e preparado, desde há uns anos, sobre a Mobilidade Elétrica. Basta ver as redes sociais e os fóruns sobre o tema. 2. A Reforma da Fiscalidade Verde é um documento muito abrangente, que vai bem para além dos benefícios fiscais para os eletrificados. Os incentivos são importantes, no entanto, o sucesso da transição energética depende de mais fatores que contribuem para a competitividade da solução PHEV, BEV (mesmo HEV, que pode ter um papel na descarbonização, que tem sido negligenciado por essas políticas). Por exemplo, o risco que nós, enquanto gestora de frota, tomamos para disponibilizarmos boas soluções de mobilidade elétrica aos nossos clientes. Por outro lado, convém ter presente que o atual contexto onde as cadeias logísticas de vários fabricantes registam sérias dificuldades, pode ter impacto no ritmo da transição energética. 3. Na KINTO temos vindo a priveligiar este tema. Com projetos estratégicos desenvolvidos desde há 3 anos e que, com mérito de todos, nos colocam com uma representatividade dos BEV e PHEV (e mesmo HEV) acima do mercado.
LEASEPLAN PORTUGAL Ricardo Silva – Diretor Comercial
1. Seis em cada dez veículos vendidos na Europa são veículos de frotas corporativas. Em Portugal, este número representa 58%, segundo estimativas da LeasePlan. Historicamente, as frotas sempre estiveram alguns anos à frente do mercado automóvel em geral. Adotaram conceitos, produtos e serviços – como o renting – muito antes destes se tornarem populares entre os clientes privados. Por isso, as frotas corporativas são o principal motor da transição para a mobilidade elétrica de zero emissões. Como gestora de frotas temos desempenhado um importante papel na defesa da adoção da mobilidade de zero emissões, associando-nos a iniciativas que promovam a transição para a mobilidade elétrica. Acreditamos que o caminho para a neutralidade carbónica será percorrido com a promoção do veículo elétrico, com a eliminação da ansiedade associada à sua utilização e com condições para tornar a subscrição mensal interessante do ponto de vista económico. 2. A Reforma de Fiscalidade Verde em Portugal veio trazer competitividade aos veículos movidos por motores elétricos, híbridos plug-in, face aos veículos tradicionais, reduzindo as diferenças a nível de TCO. Enquanto não for atingida uma paridade a nível do valor de compra, faz sentido continuarem a existir incentivos. A Fiscalidade Verde trouxe também uma perspetiva diferente sobre a abordagem das empresas ao tema da mobilidade sustentável. Além dos incentivos fiscais, outras razões contribuem para a decisão de fazer esta transição energética. Se o foco da empresa estiver assente numa estratégia de sustentabilidade, esta transição será um forte contributo para atingir os seus objetivos. 3. Não divulgamos esses valores, mas podemos referir a percentagem de novas encomendas de EV no Q1: os elétricos e plug-in representaram 25% de todas as novas entregas.
LOCARENT Maurício Marques, Diretor de Marketing
1. Há a perceção de que a transição para a Mobilidade Elétrica está a ser feita em três vagas. A primeira foi liderada por empresas públicas e municípios, fruto das decisões políticas e dos compromissos relacionados com a descarbonização. A segunda vaga pelos particulares, empenhados nas questões ambientais e alterações climáticas, numa condução mais confortável e na redução das despesas com combustível. A terceira e decisiva vaga está a crescer e tem as empresas como atores principais. Os incentivos fiscais são determinantes, mas a aceleração tem sido condicionada pela resolução de questões, relacionadas com a definição do número e potência de carregadores a instalar, a potência instalada e avaliação da autonomia versus circuitos realizados. Apesar do contexto atual de falta de viaturas para entrega, é interessante observar que já há empresas a investir em comerciais elétricos. Os 300 Km de autonomia da maioria destas viaturas são suficientes para o circuito de distribuição urbano e suburbano de boa parte das empresas. O agravamento substancial do preço dos combustíveis tem sido decisivo para esta alteração, mas não há soluções universais e, nesta fase, todas as opções devem ser avaliadas. 2. Num contexto empresarial, os benefícios fiscais são indiscutivelmente o principal acelerador da eletrificação das frotas, sendo neste momento preponderantes na nivelação do TCO de uma viatura eletrificada face às viaturas a combustão tradicionais. Poupanças essas que podem chegar aos 35% na Tributação Autónoma (TA) e que juntamente com a possibilidade de deduzir o IVA, possuem em alguns casos materialidade suficiente para transformar uma viatura elétrica na primeira opção num processo de seleção suportado em critérios estritamente económicos. Não obstante, podemos apontar alguns pontos de melhoria / riscos associados ao contexto atual: - Dos benefícios existentes, a isenção de TA é o de maior materialidade, possuindo o seu máximo impacto nas viaturas de gama média/alta. Perde peso nos segmentos utilitários que representam a maioria do nosso parque automóvel, cujas versões eletrificadas ainda possuem custos de utilização pouco competitivos por comparação com as viaturas térmicas. - Impacto (quase) nulo no segmento dos veículos comerciais ligeiros (VCL’s). A competitividade dos VCL’s elétricos por enquanto é uma autêntica miragem e a solução de convergência não passa neste momento pela fiscalidade em vigor. - A perceção de que o modelo atual não será sustentável do ponto de vista orçamental no médio e longo prazo, induz algum receio por parte dos decisores relativamente à possibilidade da reversão de alguns dos apoios que possa penalizar, no futuro próximo, decisões de investimento entretanto tomadas. - Existe igualmente a perceção que parte dos benefícios fiscais possam estar a ser apropriados pelas marcas automóveis beneficiando as suas margens de negócio, especialmente nas viaturas híbridas plug in. O ISV é disso o melhor exemplo. 3. Os BEV, têm um peso de 7% nas vendas à data, neste ano (no mercado de vendas automóveis esse peso é de 9%). Já os PHEV assumem 13% dos contratos em 2022 (no mercado de vendas automóveis esse peso é de apenas 9%). Analisando cumulativamente as 2 tipologias, a Locarent tem atualmente uma quota destes veículos acima do mercado (20% vs 18%).
VOLKSWAGEN FINANCIAL SERVICES Miguel Ribeiro, Portugal Head of Fleet Channel
1. As empresas são atualmente o principal ‘driver’ em termos de mobilidade elétrica. Por um lado estão os benefícios fiscais associados (IVA e IRC, nomeadamente a tributação autónoma), por outro a responsabilidade e o papel que as empresas pretendem ter na criação de um futuro sustentável, o que se afigura cada vez mais importante para investidores, mas também para terem acesso a determinados fundos governativos. Por último, serem quem tem capacidade para suportar alguns do investimento necessários a esta mudança. 2. A Reforma da Fiscalidade Verde foi o momento de viragem no mercado. Foi a partir de aqui que as empresas começaram a mudar a forma como encaravam as viaturas elétricas na sua estrutura de custos. A mudança requer incentivos e, sem estes, a mudança iria ser muito mais longa. 3. No caso da VWFS a nossa quota de encomendas anda à volta dos 20%.