Distribuição Gratuita
Jornalismo UEPG - Novembro - 2019 - 213
Duas esquinas do centro concentram mais de 14 mil veículos nos horários de pico. p.4
Foto: Kauana Neitzel
UEPG p.2
Falta de funcionários efe tivos prejudica qualidade dos serviços na UEPG.
Foto: Marcella Panzarini
Problemas Urbanos p.5 Em Ponta Grossa, 43% dos casos de AIDS ocorrem com jovens de 15 a 29 anos.
Educação p.3 Inclusão de estudantes es peciais continua a desafiar educadores.
Política p.6 Especialistas criticam mo delo de simplificação do sistema tributário.
Perfil p.15 Avani, 95, revive histórias de vida que cruzaram a Estação Saudade no século XX. Foto: Maria Fernanda de Lima
Ombudsman p.14 Para a ouvidora convidada, Estelita Hass, jornalistas devem ser questionadores.
Entrevista p.10 Produtores de curta pre miado em Gramado falam de cinema e do seu poder de provocar.
Por apenas um voto, Conselho de Patrimônio deixa de tombar casas pro jetadas por Vilanova Artigas e Miguel Juliano. Arquitetos são reconhecidos internacionalmente. Cultura p.13 Envie pautas. Comente. Compartilhe. Contato do Foca Livre: (42) 99700-0565
Deficit de servidores compromete atividades da Universidade
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Número de contratos temporários cresceu nos últimos anos em relação aos efetivos
falta de servidores na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) tem sido um problema há anos. O deficit de funcionários afeta de maneira significativa a administração de serviços da Universidade. Dados do Portal da Transparência do Governo do Estado do Paraná mostram que, atualmente, a UEPG possui cerca de 2.091 servidores, sendo 1.342 concursados (efetivos) e 749 de Contratação em Regime Especial (Cres), isto é, funcionários temporários. Do total, 1.134 são servidores administrativos, enquanto 957 são docentes. Os dados são referentes ao mês de setembro deste ano, o último registrado. Os últimos concursos realizados para a contratação de técnicos-administrativos aconteceram em 2009 e 2011. Em dezembro de 2011, a UEPG possuía cerca de 905 agentes administrativos, sendo 795 efetivos e 110 temporários. Em 2019, até o mês de setembro, o total é de 1.134, com 650 efetivos e 484 temporários. Ou seja, o número de servidores cresceu, porém, foram contratados mais funcionários temporários em relação aos efetivos, situação que afeta diretamente a manutenção de serviços. Para o presidente do Sindicato dos Técnicos e Professores da UEPG (Sintespo), Plauto Jacir Coelho, a melhor forma de a universidade resolver o problema seria que todos os servidores (agentes administrativos e professores) fossem efetivos, pois ao término do contrato dos temporários, não se sabe se esse quadro de funcionários será devidamente reposto. Para isso,seria necessária a realização de concursos públicos, porém, não há previsão de que novos concursos para agentes administra-
tivos sejam realizados, segundo o presidente do Sintespo. “O que se destaca hoje é que, quando chega um servidor temporário para assumir determinado departamento, muitas vezes ele não possui experiência de universidade. Ele pode ser acadêmico, estar fazendo um curso de graduação, mas ele não tem experiência administrativa de universidade, com isso a qualidade de trabalho cai bastante, e consequentemente a qualidade de ensino”, ressalta. Segundo Coelho, o sindicato
no ensino presencial e 1.727 no ensino a distância e nos 978 programas de pós-graduação (mestrado e doutorado). Do último concurso realizado em 2017, os professores tomaram posse por ação judicial e a ação está sendo contestada pelo Governo. O presidente do Sindicato dos Docentes da UEPG (Sinduepg), Marcelo Ubiali Ferracioli, disse que “há uma defasagem de servidores enorme. Não só os concursos [para professores] de 2017, mas os anteriores também há candidatos
Estamos lutando junto a outros sindicatos, pela reposição do quadro de servidores da UEPG"
vem lutando em busca de servidores há alguns anos e não se opõe à terceirização e contratação de servidores temporários, mas o número atual de funcionários não garante a qualidade de trabalho para a comunidade universitária. “Diante disso, os servidores efetivos precisam orientar os temporários a respeito do trabalho e, quando esses funcionários finalmente entendem sua função, os contratos já estão terminando. Isso sobrecarrega os que são efetivos dentro da universidade”, relata. No quadro de docentes acontece o mesmo. Os últimos concursos aconteceram em 2010, 2011, 2012, 2013 e 2017. Em dezembro de 2013, a UEPG registrou um total de 929 professores, sendo 768 concursados, enquanto 161 eram temporários. Em 2019, o número total é de 957, com 692 docentes concursados e 265 temporários. Atualmente, a UEPG oferece 48 cursos de graduação, sendo nove a distância, somando um total de 7.594 estudantes matriculados
Restaurantes universitários chegam a trabalhar com metade do número ideal de servidores.
Foto: Marcela Panzarini
aprovados que não foram chamados e, desde então, essas lacunas são cobertas por professores temporários, que trabalham em condições precárias. O que caracteriza um recrudescimento da carreira e o desmonte da universidade enquanto seu corpo docente”. Reflexo nos serviços Na UEPG Central, por exemplo, a biblioteca tem sido fechada mais cedo por falta de trabalhadores. Há aproximadamente um ano, o funcionamento tem sido das 8 às 21 horas. Na falta de uma única pessoa o local muitas vezes precisa ser fechado até em horários em que o movimento é mais intenso, como pela manhã e à noite. E às vezes no horário de almoço. Estudante do segundo ano de Direito, Vitor Augusto Cogo de Oliveira, que utiliza os serviços da biblioteca todos os dias, relata que a falta de servidores tem afetado sua programação de estudos. “Como tenho aulas pela manhã e faço estágio à tarde, utilizo o período da noite para estudar na biblioteca. Geralmente, meu período de estudos começava das 19 às 22 horas. Agora preciso me organizar para sair uma hora mais cedo e terminar de estudar em casa. Essa situação tem me prejudicado bastante”. Na limpeza da UEPG Central, um serviço que antes era realizado por até 50 pessoas, hoje se mantém em funcionamento com apenas nove agentes universitários. Com isso, os servidores não conseguem fazer com que todas as demandas necessárias sejam cumpridas para manutenção da Universidade. Nos próximos dias, duas servidoras da área de limpeza
Atualmente a UEPG possui cerca de 2091 servidores.
Foto: Marcella Panzarini
serão afastadas para a realização de procedimentos cirúrgicos, o que agravará ainda mais a situação. Com relação à segurança, a situação também é alarmante. No Campus Central existem seguranças somente em uma das entradas, enquanto as outras três ficam sem o serviço de vigilância uma vez que a segurança atua com no máximo quatro servidores, que pode variar em cada um dos dois turnos (a troca de segurança ocorre a cada 12 horas). E o problema é ainda maior no Campus Uvaranas, já que os blocos são distantes uns dos outros. Alguns servidores do Restaurante Universitário (RU) têm cumprido hora extra para que os estudantes de todos os turnos sejam atendidos. No RU Central, são nove servidores para o almoço, no jantar esse número diminui por conta dos funcionários temporários que não podem cumprir o horário noturno. Por muitas vezes o restaurante chegou a funcionar sob o comando de apenas três pessoas. No RU em Uvaranas são cerca de 17 funcionários entre efetivos e temporários no almoço. Esse número varia num revezamento entre um grupo de quatro e outro de cinco funcionários no jantar. A reportagem tentou entrar em contato com a Pró-Reitoria de Recursos Humanos (PRORH) da UEPG, na busca por mais informações, porém, não houve retorno do e-mail até o fechamento desta edição. O próreitor, Marcos Fidelis também não retornou os e-mails, nem mensagem por aplicativo. Por Laísa Braga
Inclusão de crianças com necessidades especiais nas escolas ainda desafia educadores Crianças têm o direito a frequentar aulas regulares como as demais
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scolas de ensino regular buscam dar suporte a alunos com necessidades especiais, com apoio da Secretaria de Estado da Educação (SEED). De acordo com a Secretaria Municipal de Educação (SME), hoje em Ponta Grossa são mais de mil crianças com algum tipo de deficiência em inclusão no ensino regular. 887 alunos possuem laudo médico de suas necessidades especiais e 381 estudantes aguardam resultados dos procedimentos médicos. “No início de 2013, havia somente 95 laudos. O restante das crianças não possuíam ainda esses laudos. Com algo certificando que a criança em questão é especial, o professor é capaz de trazer e fazer dentro de sala de aula uma melhor orientação para aquele aluno com dificuldade”, relata a coordenadora de Educação Especial, Elizabeth Alves. Segundo a coordenadora, atualmente as escolas estão preparadas para receber crianças com algum tipo de deficiência, seja ela intelectual ou motora. “Já iniciamos esse trabalho de inclusão da criança no espaço escolar em 2013. Quando se recebe um aluno que necessita de auxílio específico, os professores devem buscar outro tipo de preparo, pesquisar, buscar ajuda. Quando a criança chega à escola, o ambiente escolar é preparado para o acolhimento desse aluno, tanto pelos outros colegas quanto pelos professores”, afirma. O Centro Municipal de Atendimento Educacional Especializado orienta e acompanha professores e alunos na escola, quando esta recebe um aluno com deficiência. “A equipe que trabalha no CMAEE tem formação em neuropsicopeda-
gogia clínica. Essas professoras que têm essa formação foram em busca de algo a mais para dar conta da questão e procurar entender para poder ajudar melhor a criança”. Os métodos de aprendizagem para auxílio dessas crianças são incluídos nas atividades das demais crianças na sala de aula. De acordo com as normas
atendidas por grupos. Isso se dá conforme o nível de aprendizagem. A cada uma hora são trocadas as crianças”, completa. A inclusão de crianças com necessidades especiais é desafiadora para a educação, na Escola Municipal Prefeito Coronel Cláudio, o atendimento aos alunos também encontra dificuldades. De acordo com a pro-
básicas de educação, a professora regente faz o planejamento pensando em uma atividade individualizada para o aluno. O conteúdo deve ser o mesmo que é trabalhado para os demais, mas o currículo ou a atividade são adaptados para a criança com deficiência. As escolas que possuem mais de sete crianças com necessidades especiais, são obrigadas pelo Ministério da Educação (MEC) a destinar recursos para a criação de salas multifuncionais nas instituições. A Escola Municipal Prefeito Coronel Claúdio Guimarães, na vila Coronel Claúdio, é uma das instituições que possuem sala multifuncional. Segundo a professora Ediclelaine Aparecida de Mello, são 25 alunos que frequentam as salas. Com um esquema de rodízio, as crianças são agrupadas conforme o nível de dificuldade para realização de atividades complementares. “As crianças são
fessora Ediclelaine Aparecida de Mello, a escola não possui nenhum suporte aos alunos com deficiência visual, por exemplo. “Não possuímos nenhum material especializado para essas crianças para dar o devido auxílio. Por exemplo, um cego, não possui materiais nem livros em braile”, completa. Bianca Ramos conta que seu filho Matheus, 10 anos, diagnosticado com hiperatividade, não recebe o suporte necessário dentro de sala de aula. “A escola disse que não tem professora para ele”. Matriculado no 5º ano em uma escola pública da cidade, Bianca afirma que a instituição não possui o preparo necessário para receber alunos especiais. “O Matheus, muitas vezes, não é compreendido. Não entendem que ele tem as suas limitações. De fato, pra mim, a escola não tem suporte”, complementa. Em Ponta Grossa, há centros especializados em necessidades especiais, como a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), a Associação Ponta-grossense Assistência à Criança com Deficiência (APACD), a Associação de Pais e Amigos dos Deficientes Visuais (APADEVI) e a Escola Geny Ribas. Segundo Elaine Lima, mãe de Marina Rafaella Alves de Sousa, que estuda na APACD, colocar a filha em uma instituição especializada foi a primeira opção. “Na APACD, ela tem todo suporte necessário, como fonoaudióloga, fisioterapia, entre outros atendimentos. Na escola regular, ela poderia ter uma assistência para ir ao banheiro, por exemplo. Mas outros atendimentos, provavel-
Não possuímos nenhum material especializado para essas crianças para dar o devido auxílio. Por exemplo, um cego, não possui materiais nem livros em braile”
A APACD oferece acompanhamento de professores, fisioterapeutas e assistentes sociais. Foto: Rhamonn Cottar/Foca Foto UEPG
mente, ela não iria possuir. Isso iria acarretar dificuldades para ela e para mim”, completa. A lei nº 9.394 que assegura o direito das crianças especiais de frequentarem ambientes escolares. “Se a criança especial vai frequentar uma sala de aula regular ou não, é opção dos pais. Temos muitos alunos, por exemplo, que iniciaram na APAE e passaram para o ensino regular. Mas é sempre uma escolha dos pais do aluno”, fala a profesora Ediclelaine Aparecida de Mello. A coordenadora Elizabeth Alves explica que a SME oferece auxiliar de inclusão até o quinto ano. Já a partir do sexto ano, a Secretaria orienta os pais na busca por instituição especializada para os filhos. Aparecida de Mello relata que a inclusão é mais aproveitada quando o aluno tem a oportunidade de seguir no aprendizado com os demais colegas. “Como professora, sou a favor da inclusão desde que o aluno com laudo tenha condições de acompanhar os demais no ensino regular”, conclui. Ponta Grossa possui 50 salas de aula com recursos voltados para as crianças especiais, segundo a assessoria de comunicação da SME. Alunos com maiores dificuldades contam com um professor que os auxiliam dentro de sala de aula. Por Larissa Hofbauer Foca Livre valoriza a acessibilidade
Para inclusão de todos, a redação disponibilizou esta matéria no formato de audiodescrição. Esta iniciativa serve como ponto de partida para ampliarmos esforços em favor dos leitores com alguma deficiência visual. Esperamos que ações como essa sejam cada vez mais comum na imprensa paranaense. Ouça a audiodescrição da matéria abaixo:
Número elevado de veículos consome tempo e qualidade de vida do ponta-grossense
Apenas no cruzamento da Balduíno Taques com a Saldanha Marinho, mais de 8 mil veículos atravessam o local nos horários de pico
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O horário de maior trânsito, segundo dados da AMTT, é o das 13h às 13h59. Mais de 1.500 veículos circulam pelo ponto de encontro da Balduíno Taques com a Saldanha Marinho. Foto: Marcella Panzarini
deslocamento pela cidade, principalmente em horários de pico, tem ficado cada vez mais demorado. O grande fluxo de automóveis e pessoas é um dos dos motivos para a falta de agilidade no trânsito. Segundo dados recolhidos pela Autarquia Municipal de Trânsito e Transporte (AMTT), mais de 14 mil veículos ocupam o cruzamentos da Vicente Machado com a Visconde de Nacar e o da Balduíno Taques com a Saldanha Marinho entre às 11h e 13h59 e das 17h às 19h59. Trajetos simples se tornam complicados, principalmente em ruas do centro. Para se deslocar de ônibus, saindo do ponto do Cemitério Municipal São José, localizado na Avenida Balduíno Taques e ir até o Terminal Central de Transporte Público, na Avenida Doutor Vicente Machado, por exemplo, o trajeto costuma levar cerca de cinco minutos, em horários menos movimentados. Em horário de pico, aproximadamente às 18 horas, o tempo de deslocamento chega a dobrar e até passar de 10 minutos. Em horários de pico, segundo levantamento da AMTT, que leva em conta o mês de setembro de 2019, a maior média da contagem de veículos em
dias úteis no cruzamento das ruas Vicente Machado e Visconde de Nacar, é de 1.143 veículos, no horário das 18h às 18h59. No cruzamento entre Balduíno Taques e Saldanha Marinho, o maior número é após o almoço, das 13h às 13h59, quando passam em média 1.553 veículos. Sem contar que essas vias possuem outros cruzamentos e semáforos, o que deixa o trânsito mais complicado nesses horários.
Chego cansado em casa. São oito ônibus por dia. Quando há trabalhos para casa, complica"
O estudante de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa, Lucas Antunes, relata que precisa pegar quatro ônibus para ida e mais quatro na volta da faculdade. O trajeto que faz, do Núcleo Residencial Santa Maria, no bairro Colônia Dona Luiza, até o Campus de Uvaranas da UEPG, demora apro-
ximadamente 90 minutos. Em horários de pico, o tempo perdido é maior, sem contar com a superlotação, calor e atrasos de ônibus. “É complicado. É um tempo perdido, onde poderia estar fazendo outras coisas”, explica Antunes. Além disso, o estudante afirma que o cansaço das “viagens” pode atrapalhar no rendimento acadêmico. “Chego cansado em casa. São oito ônibus por dia. Quando há trabalhos para casa, complica”, diz. O trabalhador pontagrossense no geral também é afetado por essa condição. Para sair de um bairro afastado, que necessite passar por alguns dos terminais (Oficinas, Nova Rússia e Uvaranas) e chegar ao Centro da cidade para trabalhar, o deslocamento leva, em média, 50 minutos, em horários de pico, contanto que não perca nenhum ônibus durante o percurso. Caso aconteça de perder o horário de algum ônibus, o tempo ultrapassa uma hora de viagem. Em horários de trânsito mais tranquilo, o trajeto dura, em média, 40 minutos. Em dias de chuva, a situação é pior. Em alguns pontos de ônibus, passam diversas frotas diferentes. Por isso, o passageiro deve apontar com a mão
para sinalizar que necessita do serviço. Mas, para não se molhar, os passageiros não fazem o sinal, ainda mais se o ponto estiver cheio, e a condução acaba passando direto. Foi o que aconteceu com Rosmari Mehret Silveira, 68, no final da tarde de uma quinta-feira, após as aulas que frequenta na Universidade Aberta a Terceira Idade (UATI) da UEPG. Se soubesse, havia ido apé, chegaria mais rápido”, exclamou indignadamente. Silveira demostrava irritação. Havia esperado mais de 30 minutos pelo ônibus que acabou não parando para a usuária. “Ainda querem aumentar a passagem. Para isso tem que melhorar as condições de serviço”, disse. Outra usuária, de 72 anos, também cursista da UATI, mas que não quis se identificar, aguardava pelo ônibus no mesmo instante e se sentiu prejudicada. “As coisas nunca acontecem como a gente planeja. Poderia já estar em casa, mas estou aqui, na chuva”, lamentou. O ônibus seguinte veio somente 10 minutos depois. “Graças a Deus, finalmente”, exclamaram alguns dos oito usuários à espera do transporte no mesmo local. Por André Ribeiro
Dois em cada cinco casos de AIDS em Ponta Grossa ocorrem com jovens de 15 a 29 anos
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Educação sexual e orientações sobre sexualidade auxiliam na prevenção de ISTs
m Ponta Grossa nos últimos 5 anos, 43% dos casos de AIDS ocorreram com pessoas entre 15 e 29 anos. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), os casos de AIDS no Brasil tiveram aumento de 21% nos últimos oito anos. A falta de informação e educação sexual é um dos agravantes no aumento dos casos de AIDS (sigla em inglês para SIDA – Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) e Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) entre os jovens, segundo o enfermeiro do Serviço de Assistência Especializada (SAE), do Programa Municipal de DST/AIDS de Ponta Grossa, Jean Fernando Sandeski Zuber. “É importante que haja conversa e orientações sobre sexualidade e infecções sexualmente transmissíveis, em todos os âmbitos em que o jovem e adolescente vive, seja familiar ou escolar”, ressalta Zuber. Pessoas entre 25 e 49 anos são o maior público atendido no Serviço de Assistência Especializada (SAE). “Idosos e pessoas que mantêm relacionamento afetivo não se cuidam
por acharem que estão na zona de conforto, fazendo com que o vírus seja contraído e o diagnóstico seja tardio”, ressalta a psicóloga do Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA), Edivalna Maria Graff. Se o vírus do HIV/AIDS for detectado, a pessoa inicia o tratamento no SAE e recebe apoio psicológico no CTA. “O atendimento psicológico é feito para trabalhar o preconceito, através do fortalecimento emocional, humanizando os pacientes”, explica Graff.
O Centro de Testagem e Aconselhamento realiza círculos restaurativos a cada 15 dias com os pacientes tratados no SAE. “Os círculos são vivenciais e informativos, onde é trabalhado o psicológico dos pacientes, pois o tabu da sexualidade atrapalha a conversa sobre o HIV. Cuidar da saúde mental é um elemento de prevenção”, completa a psicóloga do CTA. O vírus da AIDS é transmitido pelo sangue e através de relação sexual. Uma das formas de prevenção é o uso de preser-
vativo (camisinha). O teste rápido para descobrir se a pessoa contraiu o vírus é feito nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e Unidades de Pronto Atendimento (UPA) da cidade. O resultado sai em até 10 minutos. O teste e tratamento da AIDS e outras infecções sexualmente transmissíveis, como a sífilis e hepatite, é gratuito em todo brasil e é feito pelo SUS. Por David Candido
Infográfico: David Candido e Denise Martins
Senado pode criminalizar coaching
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Proposta encaminhada por estudante obteve apoio de 20 mil internautas
atividade de coaching pode ser criminalizada através de um projeto de lei, se aprovado pela Comissão de Direitos Humanos do Senado. Sob encargo do senador Paulo Paim (PT-RS), a pauta foi encaminhada através do portal e-Cidadania, do Senado, pelo estudante do Instituto Federal em Sergipe, William Menezes, e obteve apoio de 20 mil internautas. A ideia, de acordo com o autor, é impedir o charlatanismo de autointitulados formados, que não possuem diplomas válidos. A proposta tenta inibir propagandas enganosas, como a Cura Quântica ou Reprogramação do DNA. “Uma pessoa que realiza um curso de 4 a 8 horas não está preparada para realizar nenhuma atividade que possa interferir na vida de outro indivíduo. Falta preparo, uma vez que não se exige uma qualificação adequada para a realização do coaching”, diz Menezes. A palavra coach significa treinador. No mercado de trabalho, equivale a um instrutor capaci-
tado a ajudar pessoas a atingirem metas pessoais. Segundo a International Coach Federation, no Brasil cerca de 70 mil pessoas exercem essa atividade. Porém, não há nenhuma regularização ou fiscalização que possa provar que tais pessoas possuem um conhecimento na área, conforme Menezes.
Salloum, que atua em Ponta Grossa, a atividade é muito problemática, pois cria expectativas nas pessoas. “O coaching trabalha muito com o imediatismo e isso é algo impossível. Precisase de tempo e conhecimento para tratar as pessoas”, enfatiza. Juliano Nogueira atua como coach há três anos na ci-
No Brasil, cerca de 70 mil pessoas exercem coaching. Não há regularização ou fiscalização que comprove o conhecimento delas na área
Em março deste ano, o Conselho Federal de Psicologia divulgou uma nota sobre o tema no país. Destacou-se que, embora a atividade não seja regulamentada, deve auxiliar indivíduos a alcançar objetivos previamente definidos e seguir o código de ética da psicologia. Para a Psicologa Gisah
dade e em Curitiba e diz que a proposta levada ao Senado visa impedir a atuação de pessoas despreparadas na atividade. “Muitas pessoas atuam como coach para faturar e sequer têm algum preparo específico. Têm muitas pessoas oferecendo milagres. Coach não faz milagre, não resolve problemas do dia
para a noite”, relata. Nogueira afirma que já observou colegas de profissão usarem e divulgarem atividades como Cura Quântica ou Reprogramação do DNA. Porém, não vê a criminalização como caminho certo. “Aprovar a criminalização é inibir todos os profissionais, inclusive aqueles honestos. Em qualquer profissão, temos profissionais ruins. Não é a criminalização que vai acabar com o problema”, ressalta. Sobre o coaching, a vice-presidente do Conselho Regional de Psicologia dos Campos Gerais, Ana Lígia Bragueto Costa disse que o tema “requer discussão ampla e não é possível construir um posicionamento para a categoria sem o debate”. Ainda assim, destaca que o Conselho Regional tem aproximação com o posição do Conselho Federal de Psicologia, conforme a nota emitida em março. Por Alexsander Marques
Especialistas desaprovam distorções do sistema tributário brasileiro
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specialistas criticam medidas de simplificação do sistema tributário e a criação de um imposto único. Um dos principais pontos é o temor da criação de uma nova Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), que foi extinta em 2007. Para o economista Leandro Batistta Camargo, a criação de uma nova CPMF seria um equívoco. “É um erro grotesco e amador acreditar que a solução para o país é criar mais impostos, sem reduzir os inchaços da máquina e os crescentes gastos públicos”, diz Camargo. Para o economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Sandro Silva, as propostas para reforma tributária se concentram na simplificação dos impostos. “O objetivo dessas propostas é a simplificação, que não é o principal problema [do sistema tributário]. Além dessa questão, tem o fato de o governo centralizar a receita. Uma grande parte da arrecadação tributária do país acaba sendo da esfera federal, onde ele tem que repassar partes para os estados e municípios”, opina Silva. Segundo o contador Jair Gordia, a reforma tributária - da forma como está sendo debatida - apenas visa reduzir a carga de impostos. “Ela pode reduzir o custo burocrático na apuração e recolhimento dos tributos, além do aumento da produtividade e do PIB potencial brasileiro; porém não traz uma solução para todos os problemas tributários”, explica Gordia. Para a advogada da Comissão Tributária da Ordem de Advogado dos Brasil (OAB-Ponta Grossa), Bianca Karla Wiecheteck Alves, propostas como a reforma tributária exigem um grande esforço político, por alterarem competências de tributos estaduais e municipais podem trazer riscos para a autonomia das instâncias. “O melhor seria uma reforma tributarista apenas infraconstitucional, com alterações na legislação nacional, como no Código Tributário Nacional e leis de normas gerais dos impostos, pois alterações na legislação poderiam conferir maior segurança jurídica ao processo administrativo e judicial na esfera tributária”, diz Alves. Camargo explica que a reforma pode reduzir a sonegação, implicando em melhor distribuição de renda. Ele enfa-
Reforma tramita no Congresso em duas PECs tiza que, se a reforma tributária não for elencada entre as prioridades de governo, a proposta não vai prosperar. “Toda vez que vai discutir reforma tributária, a classe que acha que vai perder algum benefício imediato reage. Ninguém consegue enxergar o processo como um todo, pois o modelo atual está implicando em enormes dificuldades para o crescimento econômico no país”, enfatiza o economista. Pesquisa de 2017 do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), ligado ao Ministério da Economia, indica que o “Brasil possui umas das piores legislações tributárias do mundo”. Segundo a pesquisa, apenas 0,30% da população detém 45% do PIB nacional em patrimônio. O País ainda possui uma das taxas tributárias mais elevadas, a carga tributária brasileira chega a 30% do PIB e o número de impostos pagos pela população chega a mais de 60%. Reforma Tributaria Solidária
O economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) explica que está em andamento no Congresso Nacional a proposta de Reforma Tributária Solidária, defendida pela Associação Nacional dos Auditores-Fiscais da Receita Federal (Anfip), pela Federação Nacional do Fisco (Fenafisco) e Frente Parlamentar Mista em Defesa da Previdência Social e Centrais Sindicais, tendo como objetivo um sistema tributário mais graduais e democrático para cobranças de impostos. Para o economista Sandro Silva, a questão solidária da reforma segue a lógica da cobrança de impostos. “Essa medida seria cobrar mais de pessoas que têm uma situação melhor, para que a situação de quem ganha menos melhore e possa movimentar a economia de forma correta, se tributaria mais na renda e na propriedade, reduzindo a tributação sobre o consumo e a produção, levando um aumento do poder aquisitivo da população”. Silva explica que o sistema tributário atual necessita mudanças, pois gera muita deformação na renda da população. “Uma pessoa que ganha um salário mínimo paga o mesmo imposto sobre o arroz, feijão, carne e a conta de luz do que uma pessoa que ganha 10 salários mínimos. Isso acaba gerando uma distorção. É visto
muito nos repasses indiretos que estão embutidos nos preços dos produtos e serviços que, independente da renda da pessoa, acaba pagando o mesmo valor em impostos”, comenta. Segundo o economista, atualmente mais de um terço das contas de luz e água é referente ao ICMS. No caso de redução desse imposto, as pessoas teriam mais dinheiro disponível para gastar e, assim, girar a economia mais rapidamente. “Um outro ponto é a questão da pro-
dução. Se você tributar menos produtos e mais a renda, vai abaixar a produção e terá um efeito positivo na redução dos preços. Consequentemente, as pessoas vão consumir mais. A proposta da Reforma Tributaria Solidária pretende reduzir a tributação dos mais pobres e aumentar a renda disponível, diminuindo a desigualdade”, defende o economista. Por Alexander Marques
Analistas posicionam a economia local entre a retração e a volatilidade
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Dados de emprego e falência de empresas colocam a cidade como exceção frente ao cenário nacional, mas sindicalistas e economista indicam apenas estabilidade
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) confirma que desde 2016 mais de 340 mil empresas já fecharam no País. No Paraná, a conta é de 10 mil fechamentos. O desemprego atinge mais de 17,5 milhões de brasileiros. Em contrapartida, dados da Junta Comercial do Paraná de dezembro de 2017 a julho de 2019, e do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) do Paraná, de julho de 2018 a julho de 2019, colocam Ponta Grossa em contraste com a situação nacional. Segundo a Junta, nenhuma empresa da cidade, nos últimos três anos, entrou na lista de empreendimentos falidos ou em recuperação judicial. De acordo com o CAGED, de junho de 2018 para o do ano de 2019, a cidade gerou um total de 21.510 admissões contra 21.127 demissões. O saldo positivo de 386 empregos com carteira assinada gerados coloca a cidade entre as 40 do Paraná que mantiveram o número de contratações maior que o de demissões. Os dados simbolizam um avanço em relação ao mês de julho de 2018, onde houve 2.704 contratações contra 3.036 demissões. Um saldo negativo de menos 332 empregos. Para o secretário geral do Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, José Vanilson Cordeiro, os indicadores não traduzem a realidade, pois em questão dos dados da Junta Comercial, muitos empreendedores quando avistam riscos ou contraem pendencias pesadas, encerram apenas na prática a empresa, mas não legalmente. “Temos várias empresas que desativaram ou pararam com a atividade, mas não legalmente. Por isso há um desencontro entre elas, as estatísticas de falência e sua contabilização em órgãos como a Junta Comer-
Infográfico: Denise Martins
Especialistas debatem sobre os prós e contras da economia, mas concordam que o cenário é estável. Da esquerda para a direita: José Vanilson, Professor Osvaldo Callegari, Rafael Scozynsky Fotos: Yuri A. F. Marcinik e Vítor Almeida estamos com uma retração tanta demanda para a oferta. Iscial”, revela Cordeiro. O sindicalista comenta econômica muito forte. Isso é so tende a favorecer funções que a elevada taxa de contrata- resultado dos índices de 2015, mais técnicas e braçais.” ções e demissões na cidade são um dos piores anos que já tivePara o professor Osvaldo um reflexo dos períodos úteis mos. Só agora a economia está Callegari, do Departamento de do comércio local. “Nos últimos conseguindo voltar a respirar”, Administração da UEPG, a cidaquatro meses do ano, a partir de diz Scozynsky. de se beneficia de uma estrutuO executivo do SindiLo- ra industrial referência na resetembro, ocorre um período forte de incremento nas contra- jas comenta que, em termos de gião, que a torna um polo pritações especialmente voltado emprego, a cidade mantém cer- mário de distribuição de renda, para suprir a demanda do perí- ta estabilidade devido ao mode- e assim beneficia perifericaodo natalino no comércio”. Cordeiro explica que o alto nível de contratações e demissões dos últimos 12 meses denunciam um mercado de trabalho que não oferece condições de planejamento a médio ou longo prazo para o trabalhador, assim como uma estagna- lo econômico que está inserido, mente o setor de serviços que ção na economia. “Na área do onde os empregos terceirizados tende manter a geração de emcomércio, sempre temos uma das indústrias criam uma dinâ- pregos, mesmo que volátil. “A alta rotatividade, causada justa- mica produtiva que abastece se- indústria acumula um montanmente pela falta de melhores tores como o comércio e servi- te [de dinheiro] significativo, condições e remunerações para ços. “A indústria, mesmo ge- que desloca uma cadeia produos trabalhadores”, comenta o rando menos empregos diretos tiva para a manufaturação de comparado ao comércio, com matéria prima. Isso mantém a secretário geral do sindicato. os terceirizados [serviços de se- oferta de empregos, que benefiSindlojas e economista con- gurança, limpeza, alimentação ciam o setor de serviços através cordam que polo industrial entre outros] cria uma massa da massa salarial deslocada ursalarial maior, que é aplicada na banamente pela cadeia produtimantém PG estável dinâmica monetária da cidade e va em torno da produção indusRafael Scozynski, do fortalece todos os setores, como trial. Toda essa estrutura impede que o desemprego generalSindicato dos Varejistas de o próprio comércio. ” Contudo, Scozynsky vê izado atinja Ponta Grossa na Ponta Grossa (SindiLojas), argumenta que o estado atual uma possibilidade de formação mesma escala do âmbito nasignifica uma esperança para de pirâmide invertida devido à cional”, afirma o docente. Procurada, a Associação um engate geral da economia procura por qualificação. “Colocal. “Ponta Grossa vem se mo a qualificação é um ponto Comercial, Empresarial e Indestacando no cenário estadual muito discutido na atualidade, dustrial de Ponta Grossa devido ao saldo positivo da principalmente entre jovens re- (ACIPG) não retornou o contato economia, mas ainda não é o su- cém saídos da universidade, é da reportagem. ficiente. Se compararmos com possível que daqui algum tempo Por Yuri A. F. Marcinik os saldos positivos do início da cargos mais remunerados e de responsabilidade, não ofereçam década passada, vemos que hoje
Ponta Grossa vem se destacando no cenário estadual devido ao saldo positivo da economia, mas ainda não é o suficiente"
Prefeito Marcelo Rangel recebe alerta por descumprir de novo o limite de gastos com pessoal SindServ protocolou pedido na Câmara para reduzir cargos comissionados
A
gestão do prefeito Marcelo Rangel (PSDB) recebe mais um alerta por desrespeitar o limite prudencial de 51,3% de gastos com pessoal estabelecido pela Lei da Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar nº 101, de 04 de maio de 2000). Em 2 de setembro deste ano, o município foi avisado pelo Tribunal de Contas do Estado do Paraná (TCE-PR) em consequência dos gastos dos três quadrimestres do ano passado, que foram respectivamente 52,74%, 53,68% e 55,55%. O aviso foi publicado na edição nº 2.134 do Diário Eletrônico do órgão. Em relação às duas primeiras porcentagens, apenas foi alertado o limite prudencial; e a terceira porcentagem é referente ao limite máximo de 54%, conforme estabelecido pela Lei de Responsabilidade Fiscal (artigo 20). Em 2017, o prefeito foi notificado pelo TCE-PR, em relação ao ano anterior, por ter atingido 54,25% da Receita Corrente Líquida em gastos com pessoal, conforme Processo 989694/16. Na época, o prefeito prometeu ajustar conforme necessário. Na resolução em 12 de abril de 2017 (Nº 1599/17), Rangel firmou junto ao TCE-PR exonerar todos os cargos comissionados contratados em dezembro de 2016, incluir a proibição de horas extras – a exceção da área da saúde – e
a hora extra, função gratificada ou qualquer outro benefício além do salário”, explicou a assessoria. Rangel já havia sido notificado pelo TCE-PR por descumprimento da lei na metade do primeiro mandato em 2015. Segundo a assessoria de imprensa do tribunal, as contas da Prefeitura relativas ao exercício financeiro de 2015 foram aprovadas pelas Câmara Municipal de Ponta Grossa, conforme o Decreto Legislativo nº 189/2018. Sindserv reivindica na Câmara projeto que impõe teto a cargos comissionados no município
Infográfico: Emanuelle Salatini
despedir pelo menos 20% das contratações dos cargos comissionados e estabelecer regras para redução das despesas até o encerramento do mandato, conforme documentos disponibilizados pelo TCE-PR. A Constituição Federal (artigo 169, parágrafos 3º e 4º) prevê que, caso as medidas não sejam suficientes, o gestor público deverá ainda realizar exoneração dos cargos não estáveis e, se ainda persistir, a exoneração dos cargos estáveis. A Lei de Responsabilida-de
Fiscal (LRF) determina ainda que o ajuste deve ser realizado em dois quadrimestres do mesmo ano. A LRF estabelece ainda que, mensalmente, todos os municípios publiquem relatórios das finanças públicas para prevenir gastos desnecessários e desvios na gestão. Porém, o artigo 22 determina que o limite prudencial deve ser de 95% do total das despesas (54% previsto na LRF para gastos com pessoal), ou seja, quando alcançar 51,3% o gestor público fica proibido de criar cargos,
Em 2018 e 2019, o Sindserv realizou atos para reivindicar a data-base porém a prefeitura alega não ter dinheiro para fazer o pagamento Foto: Emanuelle Soares
conceder vantagens ou remunerações não previstas por lei e contratar pessoal a não ser aquelas decorrentes de aposentadoria ou falecimento de servidores da área da saúde, educação e segurança. Quando ultrapassar o limite máximo, além das restrições estabelecidas no artigo 22, o percentual excedente terá de ser eliminado nos dois quadrimestres seguintes e adotar as medidas previstas na Constituição Federal. Na mesma edição do Diário Eletrônico de 2 de setembro, o TCE-PR publicou também restrições ao município de Ponta Grossa, caso não fosse alcançada a redução no prazo estabelecido. “Caso não alcançada a redução no prazo estabelecido, e enquanto perdurar o excesso, o ente não poderá: receber transferências voluntárias; obter garantia, direta ou indireta, de outro ente”. No primeiro quadrimestre de 2019, foi registrado o custo total de R$ 426.854.326,91 nos demonstrativos de Despesas com Pessoal, representando 55,04%. Já no segundo quadrimestre foi de R$ 432.634.528,92, o equivalente a 55,02% do total, valor acima do previsto de 54,52% (percentual para redução do gastos). Nos documentos disponíveis no portal da transparência, há uma tabela quanto a trajetória de retorno ao limite da despesa total com pessoal e que demonstra esses valores, porém mostra irregularidades ao colocar dados do segundo quadrimestre no local do primeiro. A assessoria de imprensa do Tribunal de Contas do Paraná informou que ainda não analisou
a gestão fiscal de Ponta Grossa no ano de 2019. A justificativa dada pela assessoria do TCE-PR foi o fato da Fundação Municipal de Turismo ter enviado os dados com atraso. Sobre a prestação de contas referente ao ano de 2016, o TCE-PR informou que o processo já foi encerrado.
A assessoria de imprensa do Tribunal de Contas do Para-ná informou que ainda não analisou a gestão fiscal de Ponta Grossa no ano de 2019"
A assessoria de imprensa da Prefeitura de Ponta Grossa respondeu à reportagem por e-mail que, atualmente, o município possui 8.500 servidores, sendo 290 cargos em comissão, o que representa 3,5% do total. A assessoria informou ainda que a “Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) não estabelece limite para contratação de cargos em comissão, apenas um índice prudencial e um índice máximo de despesa com pessoal”. Segundo a assessoria, a folha de pagamento é de aproximadamente R$ 800 mil por mês, o equivalente a menos de 2% dos R$ 30 milhões por mês para os cargos efetivos. Além disso, “os funcionários contratados como cargos em comissão não têm direito
No levantamento do Sindicato dos Servidores Municipais de Ponta Grossa (Sindserv), atualmente, a Prefeitura possui 220 cargos comissionados. O sindicato informou protocolou pedido à Câmara de Vereadores no dia 16 de julho, em que reivindica que a contratação de cargos comissionados da Prefeitura não ultrapasse 2% do total dos servidores municipais. O presidente do Sindserv, Roberto Ferensovicz, disse que, na solicitação, reiterava a permanência das contratações dos comissionados pela Prefeitura, além de mais 700 estagiários. Ferensovicz ressalta que nos dois últimos anos o Prefeito alega não poder pagar o reajuste da data-base aos servidores efetivos, aumento previsto por lei. O SindServ sugere ao Prefeito a criação de um Projeto de Lei, que determina o município tenha limite de cargos não efetivos. O número, na opinião do sindicato, não deveria exceder 2% do total dos efetivos. Como não foi resolvido administrativamente, o presidente do Sindserv afirma que o sindicato irá encaminhar denúncia ao judiciário. Ferensovicz ressalta que a atual situação da gestão Rangel afeta a contratação de novos servidores concursados e efetivos, principalmente para atender as demandas nas áreas de educação e saúde. “No Hospital Municipal e no Pronto-Socorro, se você for conversar com o pessoal, falta na enfermagem, falta na zeladoria, falta servidor na cozinha. No trânsito falta também. Em diversos setores, tem falta de pessoal. Precisa contratar, mas enquanto não abaixar o limite, não pode”, relata. Por Emanuelle Soares
Infográfico: Emanuelle Soares
Prefeito Marcelo Rangel recebe alerta por descumprir de novo o limite de gastos com pessoal SindServ protocolou pedido na Câmara para reduzir cargos comissionados
A
gestão do prefeito Marcelo Rangel (PSDB) recebe mais um alerta por desrespeitar o limite prudencial de 51,3% de gastos com pessoal estabelecido pela Lei da Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar nº 101, de 04 de maio de 2000). Em 2 de setembro deste ano, o município foi avisado pelo Tribunal de Contas do Estado do Paraná (TCE-PR) em consequência dos gastos dos três quadrimestres do ano passado, que foram respectivamente 52,74%, 53,68% e 55,55%. O aviso foi publicado na edição nº 2.134 do Diário Eletrônico do órgão. Em relação às duas primeiras porcentagens, apenas foi alertado o limite prudencial; e a terceira porcentagem é referente ao limite máximo de 54%, conforme estabelecido pela Lei de Responsabilidade Fiscal (artigo 20). Em 2017, o prefeito foi notificado pelo TCE-PR, em relação ao ano anterior, por ter atingido 54,25% da Receita Corrente Líquida em gastos com pessoal, conforme Processo 989694/16. Na época, o prefeito prometeu ajustar conforme necessário. Na resolução em 12 de abril de 2017 (Nº 1599/17), Rangel firmou junto ao TCE-PR exonerar todos os cargos comissionados contratados em dezembro de 2016, incluir a proibição de horas extras – a exceção da área da saúde – e
a hora extra, função gratificada ou qualquer outro benefício além do salário”, explicou a assessoria. Rangel já havia sido notificado pelo TCE-PR por descumprimento da lei na metade do primeiro mandato em 2015. Segundo a assessoria de imprensa do tribunal, as contas da Prefeitura relativas ao exercício financeiro de 2015 foram aprovadas pelas Câmara Municipal de Ponta Grossa, conforme o Decreto Legislativo nº 189/2018. Sindserv reivindica na Câmara projeto que impõe teto a cargos comissionados no município
Infográfico: Emanuelle Salatini
despedir pelo menos 20% das contratações dos cargos comissionados e estabelecer regras para redução das despesas até o encerramento do mandato, conforme documentos disponibilizados pelo TCE-PR. A Constituição Federal (artigo 169, parágrafos 3º e 4º) prevê que, caso as medidas não sejam suficientes, o gestor público deverá ainda realizar exoneração dos cargos não estáveis e, se ainda persistir, a exoneração dos cargos estáveis. A Lei de Responsabilida-de
Fiscal (LRF) determina ainda que o ajuste deve ser realizado em dois quadrimestres do mesmo ano. A LRF estabelece ainda que, mensalmente, todos os municípios publiquem relatórios das finanças públicas para prevenir gastos desnecessários e desvios na gestão. Porém, o artigo 22 determina que o limite prudencial deve ser de 95% do total das despesas (54% previsto na LRF para gastos com pessoal), ou seja, quando alcançar 51,3% o gestor público fica proibido de criar cargos,
Em 2018 e 2019, o Sindserv realizou atos para reivindicar a data-base porém a prefeitura alega não ter dinheiro para fazer o pagamento Foto: Emanuelle Soares
conceder vantagens ou remunerações não previstas por lei e contratar pessoal a não ser aquelas decorrentes de aposentadoria ou falecimento de servidores da área da saúde, educação e segurança. Quando ultrapassar o limite máximo, além das restrições estabelecidas no artigo 22, o percentual excedente terá de ser eliminado nos dois quadrimestres seguintes e adotar as medidas previstas na Constituição Federal. Na mesma edição do Diário Eletrônico de 2 de setembro, o TCE-PR publicou também restrições ao município de Ponta Grossa, caso não fosse alcançada a redução no prazo estabelecido. “Caso não alcançada a redução no prazo estabelecido, e enquanto perdurar o excesso, o ente não poderá: receber transferências voluntárias; obter garantia, direta ou indireta, de outro ente”. No primeiro quadrimestre de 2019, foi registrado o custo total de R$ 426.854.326,91 nos demonstrativos de Despesas com Pessoal, representando 55,04%. Já no segundo quadrimestre foi de R$ 432.634.528,92, o equivalente a 55,02% do total, valor acima do previsto de 54,52% (percentual para redução do gastos). Nos documentos disponíveis no portal da transparência, há uma tabela quanto a trajetória de retorno ao limite da despesa total com pessoal e que demonstra esses valores, porém mostra irregularidades ao colocar dados do segundo quadrimestre no local do primeiro. A assessoria de imprensa do Tribunal de Contas do Paraná informou que ainda não analisou
a gestão fiscal de Ponta Grossa no ano de 2019. A justificativa dada pela assessoria do TCE-PR foi o fato da Fundação Municipal de Turismo ter enviado os dados com atraso. Sobre a prestação de contas referente ao ano de 2016, o TCE-PR informou que o processo já foi encerrado.
A assessoria de imprensa do Tribunal de Contas do Para-ná informou que ainda não analisou a gestão fiscal de Ponta Grossa no ano de 2019"
A assessoria de imprensa da Prefeitura de Ponta Grossa respondeu à reportagem por e-mail que, atualmente, o município possui 8.500 servidores, sendo 290 cargos em comissão, o que representa 3,5% do total. A assessoria informou ainda que a “Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) não estabelece limite para contratação de cargos em comissão, apenas um índice prudencial e um índice máximo de despesa com pessoal”. Segundo a assessoria, a folha de pagamento é de aproximadamente R$ 800 mil por mês, o equivalente a menos de 2% dos R$ 30 milhões por mês para os cargos efetivos. Além disso, “os funcionários contratados como cargos em comissão não têm direito
No levantamento do Sindicato dos Servidores Municipais de Ponta Grossa (Sindserv), atualmente, a Prefeitura possui 220 cargos comissionados. O sindicato informou protocolou pedido à Câmara de Vereadores no dia 16 de julho, em que reivindica que a contratação de cargos comissionados da Prefeitura não ultrapasse 2% do total dos servidores municipais. O presidente do Sindserv, Roberto Ferensovicz, disse que, na solicitação, reiterava a permanência das contratações dos comissionados pela Prefeitura, além de mais 700 estagiários. Ferensovicz ressalta que nos dois últimos anos o Prefeito alega não poder pagar o reajuste da data-base aos servidores efetivos, aumento previsto por lei. O SindServ sugere ao Prefeito a criação de um Projeto de Lei, que determina o município tenha limite de cargos não efetivos. O número, na opinião do sindicato, não deveria exceder 2% do total dos efetivos. Como não foi resolvido administrativamente, o presidente do Sindserv afirma que o sindicato irá encaminhar denúncia ao judiciário. Ferensovicz ressalta que a atual situação da gestão Rangel afeta a contratação de novos servidores concursados e efetivos, principalmente para atender as demandas nas áreas de educação e saúde. “No Hospital Municipal e no Pronto-Socorro, se você for conversar com o pessoal, falta na enfermagem, falta na zeladoria, falta servidor na cozinha. No trânsito falta também. Em diversos setores, tem falta de pessoal. Precisa contratar, mas enquanto não abaixar o limite, não pode”, relata. Por Emanuelle Soares
Infográfico: Emanuelle Soares
À
Curta Apneia aborda temáticas como abuso e busca pela própria identidade
s duas da tarde de sábado (5/10 deste ano), Walkir Fernandes e Carol Sakura chegaram ao Museu Campos Gerais para exibição e debate do curta metragem Apnéia, lançado em janeiro passado e vencedor do Festival de Gramado de 2019. O curta traz a história de Muriel, uma menina que tenta enfrentar seu medo de nadar, além de abordar outros problemas como a distância entre ela e sua mãe, o abuso cometido por seu padrasto e a busca por sua própria identidade. Uma produção de animação leve, com traços e narração suaves, mas aborda temas mais sombrios e de difícil discussão. Em uma conversa despretensiosa e divertida sobre arte, lembranças da infância e demais curiosidades, mencionamos Antônio Abujamra e nossa comum admiração pelo dramaturgo. Neste momento, fiz a Walkir uma pergunta do repertório de Abujamra e ele me pediu tempo para responder. Ao final da exibição e debate, o casal sentou-se comigo e Walkir já havia formulado resposta para tal pergunta, ao fim da entrevista:
para quem somos. Quando você está nadando, talvez seja um mergulho em um espaço apenas seu e esta é a distinção: quando ela aprende a nadar, está vendo apenas a si mesma como mulher e tendo voz, porque a sereia precisa nadar pra ter voz, ao contrário de quando ela tem pernas e não pode falar. W: “Aprender a nadar” seria ter a ferramenta necessária para buscar o que ela é. O filme acaba com ela pronta para tal descoberta. C: Ela fala de um lugar mais amplo e este lugar sempre existiu. Quando ela aprende a nadar, seria como se ela fosse mais longe. Ela não está sufocada em uma multidão na cidade onde ela se sente silenciada e presa. W: Algumas pessoas podem fazer a leitura de que as minorias estão ganhando espaço. No cinema e nas HQ's, por exemplo, a maioria de produção é majoritariamente masculina. A presença feminina é muito recente em tais meios.
O que o filme fala e poucas Das metáforas presentes no pessoas percebem? filme, “aprender a nadar” está relacionado a “aprender a C: Difícil dizer, já vi muitas leituras diferentes. Eu fico feliz viver?” quando as pessoas não o vêem C: Para mim é um contraponto apenas como autobiográfico, entre as pernas e o andar. São mas também como uma consdois elementos muito fortes e trução ficcional da narrativa: presentes no filme. Certas ve- que existe uma criação de imzes, andamos sem olhar para portância ali. Ele fala muito soonde estamos ou, até mesmo, bre solidão e as pessoas repar-
Imagem: Divulgação
Apneia foi exibido no Museu dos Campos Gerais em outubro deste ano. Foto: Yuri A. F. Marcinik
am, mas tem várias pequenas referências que são muito pessoais e não tem como as pessoas saberem. Eu gosto é de ver como as pessoas percebem muito mais do que a gente imagina.
seja, alguém que não se encaixa no ambiente em que está. Já alguns mergulham tão fundo ao ponto de fazerem leituras que nem eu e a Carol fomos capazes.
W: O filme é deixado em aberto. Ele tem espaço para a pessoa se colocar. Pessoas que vêem o filme e têm uma leitura mais rasa: “é um peixe fora d’água”. Ou
C: Eu não sinto falta, às vezes me pergunto se as pessoas sabem que o peixe que voa também é a menina. No geral, nossas expectativas foram atendida.
Quando ela aprende a nadar, seria como se ela fosse mais longe. Ela não está sufocada em uma multidão na cidade onde ela se sente silenciada e presa"
Apneia retrata a história de Muriel, uma garota vítima de abusos e com medo de água. Imagem: Divulgação
Receberam represálias por Quais são as grandes detratarem de temas como o ficiências de produção e eaborto? xibição do cinema nacional atualmente? C: Só de minha mãe. É algo muito complexo, envolvendo W: É muito difícil fazer cinema uma relação entre nós duas. Ela no Brasil. Na verdade, é muito diz que vai me processar porque difícil fazer arte no Brasil. Eu não gostou de saber que fiz um trabalho também com quadrifilme onde ela está inserida. nho e sei o quanto é. Ao mesmo Fora isso, tem sido tranquilo. As tempo em que temos muitas pessoas gostam porque ele é um pessoas apaixonadas pela arte, filme leve. muitas ainda resistem. A maior dificuldade hoje é fazer com que as pessoas reconheçam o Até há pouco valor de nossa arte e sua imtempo, tínha- portância. Que saibam o quão mos preconceito bom é o nosso cinema. Um filme como Bacurau, de Kleber com cinema Mendonça Filho e Juliano Dornelles, é uma obra que convernacional que só sa com o que está acontecendo recentemente na sociedade brasileira atual. O deixou de existir" nosso cinema é muito criativo.
preconceito com cinema nacio- gar em um momento tão caónal que só recentemente deixou tico e marcado pela perseguição de existir e parece querer voltar. a minorias, artistas e demais envolvidos com a cultura. O arW: É muito difícil também con- tista tem o papel de mostrar seguir dinheiro para fazer um também aquilo que as pessoas filme, principalmente filme de não querem ver. Tocar na ferida. animação que é muito caro. O O Apneia tem poder por tocar Apneia é um filme que deveria em temáticas de difícil acesso. ser feito em três ou quatro anos, mas tivemos que fazê-lo em um C: Didi-Huberman [filosófo e hisano por falta de recursos para toriador da arte, nascido em 1953, bancar o projeto por todo este na França] compara, em um tempo. E com exceção de alguns texto, o artista a um vagalume: lugares, como o Japão, não co- eles têm o poder de brilhar mais nheço empresas privadas inves- quando a noite é mais escura. Quando os tempos são mais tindo em produções do tipo. tenebrosos e sombrios, o artista Se vocês fossem começar o aparece e resiste para trazer a Apneia hoje, o que mudariam? luz. Este é nosso momento de iluminar a escuridão W: Antes de começar, tiraria Por Cássio Murilo seis meses de férias para estar bem descansado. Vencedores do 47º Festival de Cinema de Gramado C: Ele foi muito corrido para fazer. O Walkir sofreu muito. Hoje eu ainda vejo coisas que Melhor longa-metragem bragostaria de melhorar, tipo “essa sileiro: Pacarrete cena poderia ser um pouquinho diferente”. Acho que o Walkir Melhor longa-metragem pelo poderia ter mergulhado mais no júri popular: Pacarrete processo, porque às vezes ele não conseguia participar de Melhor longa-metragem esmomentos que ele quis estar trangeiro: El Despertar de Las presente, como o desenho da Hormigas protagonista. W: Eu tenho uma relação muito boa com o filme, por isso digo que não mudaria nada. Sempre há cenas que sentimos falta de algo, mas isso faz parte do processo. Sinto muito orgulho dele. Para encerrar: qual é o papel do artista na tragédia cultural brasileira?
W: Neste momento, é de resisO filme ganha um novo sig- C: Até pouco tempo, tínhamos tência. Não podemos nos entrenificado a cada exibição?
Melhor longa-metragem estrangeiro pelo júri popular:
Perro Bomba
Melhor longa-metragem gaúcho: Raia 4 Melhor curta-metragem brasileiro: Apnéia Melhor curta-metragem pelo júri popular: Teoria Sobre Um
Mundo Estranho
Fonte:Festival de Gramado
W: Com certeza. Estamos passando por festivais e vemos que a percepção do filme muda conforme a curadoria do festival. Em Curitiba, o filme foi colocado junto com outros que abordavam minorias. Eram filmes que abordavam trans, gays e indígenas, por exemplo, mas muito pesados de estética. Isso contribuiu para uma visão mais pesada do Apneia. C: Em Recife, o filme foi o último a ser exibido e foi visto com outros muito alegres. W:As pessoas estavam com um humor diferente, viram o filme e se emocionaram, assim como no Anima Mundi também. C: Ele muda conforme o local onde estamos e também como estamos. Eu sempre fico nervosa de apresentá-lo porque cada público é diferente.
O casal Carol Sakura e Walkir Fernandes produziram em parceria o curta Apneia, vencedor do 47º Festival de Cinema de Gramado e garantiam o Kikito de ouro (centro da foto).
Foto: Yuri A. F. Marcinik
Campos Gerais sediam duas feiras medievais em menos de dois meses
Para organização, popularidade dos eventos reflete uma tentativa de reconexão ancestral e histórica de parte da população
E
ntre agosto e outubro, a região dos Campos gerais recebeu dois eventos relacionados a cultura medieval. Juntos, a “III Feira Medieval do Parque Histórico” em Carambeí, e a “Iª Feira Medieval de Ponta Grossa”, contaram com público próximo de 13.800 pessoas, segundo dados dos organizadores. Com atrações como culinária, encenações, estandes de artesanatos e exposições, cada um dos eventos teve duração de dois dias em final de semana. Para Alexandrina Leuch, uma das organizadoras do evento em Ponta Grossa, a adesão do público aos eventos possui um caráter relacionado à ascendência teuto-europeia presente na região. “O Brasil é um país jovem e não possui um período similar à idade média europeia. Mas como o Sul tem todo o histórico de imigração. Nós trazemos essa cultura na veia. Isso se fortalece somado aos produtos que consumimos culturalmente sobre esse imaginário, como séries, filmes e livros“, comenta Leuch. O professor do Centro de Línguas Ger-
mânia e membro da Academia Ponta-Grossense de Letras, Newton Schnner Jr, 33, vê com bons olhos o resgate cultural oriundo das feiras na região. “Isso reflete um momento de resgate histórico e autoafirmação que vários outros descendentes estão vivendo no Brasil, como os de japoneses e africanos", afirma Schnner. No caso do Paraná, o sentimento de resgate histórico possui tons de reaprendizagem entre os descendentes atuais e
as gerações anteriores, segundo o professor. “Por volta de 1940 os imigrantes alemães, japoneses e italianos foram proibidos de demonstrarem qualquer traço que os identificasse como tais devido ao clima de atrito com as nações do Eixo na Segunda Guerra Mundial. Isso causou uma ruptura entre as gerações. Algo que lentamente está se procurando reverter com esses movimentos de resgate do imaginário cultural histórico”, explica Schnner.
Cosplays (fantasia e interpretação de personagens) são um dos atrativos das feiras, sendo incentivada pelos organizadores com abatimento na entrada. Foto: Yuri A.F. Marcinik
Professor de Sociologia na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e Filosofia na Faculdade Sant´Ana, Donizete Pessi, 42, descarta a ideia de herança de sangue, devido ao distanciamento natural que ocorreu entre as tradições vindas com os imigrantes e as desenvolvidas pelos seus descendentes. “Por questões de como fomos colonizados em nossa formação nacional, esse tipo de cultura europeia tende a ser mais facilmente assimilada, visto que foi trazida como uma ‘cultura maior’, do que por exemplo as culturas de matriz afro-indígena”, explica. Pessi afirma, que é importante que o país se assuma como periferia frente aos polos norte-americanos e europeus. “A partir da constatação de que somos periferia e que em lá também se produz cultura, podemos produzir sociedade, do ponto de vista político, econômico, cultural e por fim, de autonomia”, explica o professor. Por Yuri A.F. Marcinik
Jogo eletrônico estreia em torneio estudantil
O
League Of Legends, ou simplesmente LOL, tem mais espaço para competições e aumento de visibilidade na cidade
jogo virtual League Of Legends entra como modalidade pela primeira vez nos Jogos Estudantis de Primavera de Ponta Grossa, os quais envolveram mais de 30 instituições, desde o ensino médio à faculdades. Neste ano estiveram presente competidores da UFPR, Unioeste, UP, Unicuritiba, PUC Curitiba, UTFPR Curitiba, além das instituições locais, UEPG, Unisecal e UTFPR. Isso mostra o crescimento do jogo virtual na cidade, assim como a quebra do este-
reótipo de ser apenas um entretenimento online para jovens, conforme destaca o presidente do clube de eSports da UEPG, Matheus Oliveira Alves. Basicamente o LOL consiste em um jogo eletrônico de estratégia, no qual dois times com cinco jogadores competem para destruir a base do inimigo. Em Ponta Grossa, existem dois times universitários que competem dentro e fora da região: os Insa-nes, da UTFPR, e a UEPG Hawks. “Do ponto de vista teórico, o esporte tem organização
Universitários competem nos Jogos de Primaveira na UEPG. Foto: Marcella Panzarini
burocrática, regras definidas, competição, situação de igualdade, e, portanto, o LOL se enquadra em todas as categorias e pode ser considerado um esporte moderno”, explica o professor de Educação Física da UEPG, Miguel Arcanjo. Além disso, os eGames são uns dos maiores nichos esportivos do mercado atualmente por ter mais adeptos. Quanto ao funcionamento, se assemelha a de outras modalidades de esportes, como a elaboração de táticas, esquemas e estratégias para tentar vencer. A única diferença é o espaço em que ocorre, por ser totalmente online. Árbitro coordenador dos Jogos da Primavera neste ano, Alves relata a importância da visibilidade positiva que o LOL tem ganhado, principalmente por ter sofrido preconceito por ser eletrônico e “fazer mal” fisicamente e mentalmente: “O esports desenvolve a mente, habilidade, pensamento rápido. Repercussão grande, como essa, pode fazer com que a visão das pessoas
mude, que aceitam melhor os players, que os admirem por habilidades que adquiriram durante o jogo”. Alves diz que a presença de competições gera uma série de benefícios, pois, além do bom reconhecimento do jogo, a comunidade produz entretenimento e turismo. Como funciona o time de LOL da UEPG
Há dois lineups: um principal e um academy. Os acadêmicos preenchem formulários e têm o nível de habilidade avaliados. Os que mais se destacam são chamados ou para compor uma das lineups, ou para alguns testes. Uma vez entrando na lineup, o atleta começa a treinar junto com a equipe, tendo então manager, técnico e pessoas por trás que estudam o cenário e elaboram treinos para a equipe melhore e se adapte sempre que surgir um cenário mais atual. Os treinos são constantes e sempre há uma comissão técnica que orienta as modalidades. Por Denise Martins
Compac rejeita tombamento de casas modernistas Petição online exige anulação da decisão do Conselho de Patrimônio Cultural
C
onforme a decisão do Conselho Municipal de Patri-
publicado o não tombamento das casas, elas são retiradas do documento de inventário cultural, que categoriza imóveis com interesse de preservação na cidade, e podem ser demolidas a qualquer momento: “Ca-
mônio Cultural (Compac)
de Ponta Grossa, tomada na sessão pública em 30 de setembro passado, duas casas modernistas não passarão pelo processo de tombamento. Na reunião, foram votados o tombamento de cinco edifícios na cidade, entre eles as casas projetadas pelos arquitetos modernistas Vilanova Artigas, localizada na Rua Coronel Dulcídio, número 481, e Miguel Juliano, na rua Theodoro Rosas número 910. Mas ambas não entraram na lista do tombamento por um voto. Segundo o diretor de Patrimônio Cultural e da Fundação Municipal de Cultura, Alberto Portugal, as duas casas foram indicadas para o tombamento por conta de sua importância para o cenário urbano de Ponta Grossa: “Uma delas é um projeto de Vilanova Artigas, reconhecido internacionalmente. A outra, do Miguel Juliano, uma expoente do movimento modernista da década de 40. São exemplares legítimos do movimento mais importante da arquitetura nacional”, explica. Portugal lembrou ainda que a maioria dos conselhos presentes na sessão votaram a favor, mas por questão regimental, não foi autorizado o tombamento: “A legislação prevê que para determinar o tombamento é necessário 70% de votos favoráveis do total de conselheiros. Como no dia da sessão havia apenas 17, dos 21 conselheiros que integram o Compac, apesar da maioria presente votar a favor, o tombamento das casas foi rejeitado”. Dos 17 conselheiros presentes no dia, 14 votaram a favor das casas modernistas e três contrários. Diante da decisão do Compac, uma petição online
São exemplares legítimos do movimento mais importante da arquitetura nacional"
anônima foi aberta no avaaz.org “Exija o tombamento das casas de Vilanova Artigas e Miguel Juliano em Ponta Grossa – PR”. Até o fechamento desta reportagem, 31 de outubro, a petição já contava com 1.431. No texto da petição, há crítica à atuação do Compac e destacada a importância das casas para a arquitetura e história de Ponta Grossa: “[…] a expressão modernista, que já foi objeto de estudos científicos e publicações de livros, pode ser considerada um
marco da paisagem da cidade, pois a edificações atuam como monumentos em meio ao restante do espaço urbano e por retratar um período áureo no desenvolvimento de Ponta Grossa. Exigimos de imediato nova votação, dessa vez justa e não viciada, de forma a incluir no rol de bens tombados de Ponta Grossa, as duas casas modernistas mais importantes da cidade”, completa. Portugal afirma que, a partir do momento em que é
Exigimos de imediato nova votação, dessa vez justa e não viciada, de forma a incluir no rol de bens tombados de Ponta Grossa, as duas casas mais modernistas mais importantes da cidade"
sos assim já aconteceram outras vezes em Ponta Grossa. Outro imóvel de Miguel Juliano que não era inventariado nem tombado foi totalmente alterado e sofreu diversas modificações estéticas e na estrutura”. Portugal ressalta que o Compac não pode reconsiderar a decisão, apesar do apelo da população: “Eventualmente poderia ser anulada essa sessão. Mas como ela foi feita totalmente dentro da legalidade. Não tem porquê ela ser anulada. Acredito que se houvesse uma outra sessão para decidir o tombamento dessas casas, o resultado seria o mesmo”. O representante da Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Ponta Grossa (AEPG) no Compac defendeu a necessidade de atualização da legislação sobre patrimônio cultural de Ponta Grossa. “Na sessão, ficou evidenciado o posicionamento da AEPG quanto à atualização das legislações que deve ser sempre uma prioridade dos poderes para que a voz da população seja soberana”. Por Maria Fernanda de Lima
O Foca sempre defenderá a democracia
Em um contexto no qual o filho do Presidente da República defende a volta do Ato Inconstitucional Número 5 (AI-5), mais do que nunca o jornalismo tem o papel de defensor da democracia. Nesta edição, o especial mostra como a prefeitura de Ponta Grossa não está cumprindo a Lei da Responsabilidade Fiscal e, em Política, especialistas debatem a Reforma Tributária. Ainda em Política, a matéria trata da alta taxa de desemprego e, em Problemas Urbanos, o jornal repercute a longa demora no trânsito. Os conteúdos exemplificam como nossos governantes não conseguem soluções eficientes para os problemas econômicos e de mobilidade urbana da população. Queremos governantes que se preocupem com os cidadãos.
CHARGE
Nas últimas edições, os Ombudsman contribuíram para nossa formação jornalística, por meio dos apontamentos apresentados. Um dos principais tópicos apontados é o de acharmos opções ao jornalismo declaratório - isto é, não nos concentrarmos apenas naquilo que é falado pelas fontes, procurando trabalhar com dados, por exemplo. Temos tentado aplicar tal recomendação em nossas produções e esperamos sempre melhorar como profissionais. Por fim, parabenizamos os vencedores na 23º Edição do Prêmio Sangue Novo, premiação voltada a graduação em jornalismo. Em especial, destacamos nossas felicitações ao 3º lugar do Foca Livre produzido pela turma 32 de Jornalismo da UEPG.
"A incompetência é nossa, mas a culpa é de vocês".
Charge: Larissa Hofbauer
Ombudsman Questionar: a maior força de um jornalista Em tempos de profunda crise no modelo de negócios do jornalismo e da escassez cada vez mais gritante de bons veículos de comunicação locais, ler um jornal como o Foca Livre, da UEPG, é um alento a quem acredita no poder do jornalismo como ferramenta para construir uma comunidade mais crítica, fiscalizadora e atenta ao seu entorno. Na leitura da edição de outubro de 2019, me chamou a atenção a qualidade e pluralidade das pautas, em geral de grande interesse para o morador de Ponta Grossa e para o público universitário da UEPGsaúde pública, política universitária, difusão da cultura, identidade local, mobilidade, combate à homofobia. Foi uma seleção inteligente de temas, algo que é difícil de se ver em outros veículos laboratório, em que a curadoria de pautas mais parece depender da facilidade que o aluno tem de acesso a determinadas fontes ou fatos, do que da rele-
vância e noticiabilidade do fato. Mas a qualidade da seleção não basta para formar um bom jornal. É preciso que cada reportagem exerça, em profundidade, a ferramenta-mestra do jornalismo: o questionamento. Perguntar, de forma interessada e sem pré-julgamentos, insistentemente e educadamente, é o que sempre vai nos levar além dos fatos, além da casca dos números e do senso comum. Fazer as perguntas certas às pessoas que podem respondê-las é também um ato de atribuir responsabilidades, de fiscalizar o poder público e principalmente de referenciar informações, de forma que nada na reportagem se baseie em seu palpite ou percepção, mas que seja calcado na fala de um pesquisador, numa fonte pública ou num dado oficial. A interessante reportagem sobre cotas raciais na UEPG, por exemplo, poderia ter ganhado em relevância se mais perguntas houvessem sido feitas. Por exemplo: por que me-
nos de 3% dos estudantes se insrevem por cotas raciais? Isso tem a ver com o perfil demográfico da população da cidade, ou com a resistência dos alunos em se identificarem como cotistas raciais? Esse percentual é historicamente o mesmo, ou já foi maior/menor no passado? Se sim, por que mudou? E o mais importante: por quais mudanças o sistema de cotas precisa passar, como afirmou a pró-reitora? Ela levanta a bola para o repórter, dizendo que elas precisam ser mais flexíveis, mas o repórter não “corta”: como assim, mais flexíveis? Por que você identifica essa necessidade? Qual a opinião da comunidade acadêmica, docente e discente a respeito? Na reportagem sobre gravidez na adolescência, o questionamento que me vi impelida a fazer era outro: por que o número de casos diminuiu significativamente desde 2014? O que deu certo nesse período? Em se tratando de políticas públicas, destacar o que funciona é
tão importante quanto apontar os problemas - o que é chamado de Jornalismo de Soluções. Deixo, enfim, duas sugestões de leitura: o excelente Atlas da Notícia, que mapeia os veículos de comunicação locais e os “desertos de notícias” no território brasileiro; e um artigo do IJNet (Rede de Jornalistas Internacionais) sobre jornalismo de soluções, para quem quiser saber mais sobre o assunto.
Estelita Hass Carazzai é jornalista formada pela Universidade Positivo. Foi repórter da Folha de S. Paulo, com passagens pelas sucursais de Curitiba e Washington, da Gazeta do Povo e da BandNews Curitiba. Atualmente, é jornalista freelancer e atua na comunicação do EBANX.
ERRATA
A Foca também é humana. Pedimos desculpas pelos erros da edição 212 p.4 - A distância entre os bairros da Palmeirinha e do Bonsucesso está errada O correto é de 4,5 quilômetros. p.7 e p.14 (editorial) - Porcentagem no aumento na passagem de ônibus está errada, onde está 15%, leia-se 13,1%. Editores-chefe: Daniela Valenga, Eduardo Machado, Jessica Allana.
Edição de Texto: Gabriel Mendes, Juliana Cosmoski, Laísa Braga, Lucas
Muller, Marcus Benedetti, Maria Fernanda de Lima, Robson Soares, Vitor Almeida . Edição de Imagens: André Ribeiro, Denise Martins, Marcella Panzarini. Diagramadores: Alexsander Marques, Amanda Gongra, Cássio Murilo, David Candido, Emanuelle Salatini, Germano Busato, Kauana Neitzel, Larissa Hofbauer, Mirella Mello, Yuri A. F. Marcinik . Repórteres: Consulte a autoria das reportagens diretamente na página da notícia.
Foca Livre é o jornal-laboratório do curso de Jornalismo da UEPG Contato: focalivreuepg@gmail.com Whatsapp (42) 99970-0565
Os textos de opinião são de responsabilidade de seus autores e não expressam o ponto de vista do jornal. Impressão: Grafinorte, Apucarana (PR) Tiragem: 2.000 exemplares
Departamento de Jornalismo UEPG- Campus Central- Praça Santos Andrade, nº 01- Centro CEP:84010-790- Ponta Grossa- PR- Telefone +55 42 3220-3339 Professores responsáveis pela edição: Ben-Hur Demeneck (MTB- PR 5664) Rafael Kondlatsch (MTB- PR 6730) Professora responsável pela produção de notícias Hebe Gonçalves (MTB MG 5204)
“Chamam de Estação Saudade porque dá saudade”, enfatiza filha, irmã e companheira de ferroviários
A
Da infância aos 95 anos, dona Avani acumula histórias ao lado da ferrovia
vani Martins dos Santos, 95 anos, “sentiu muito” quando a Estação Saudade foi desativada em 1989. Devido à idade, atualmente ela só sai para ir ao médico, trajeto que passa em frente da Estação. Antes da reforma do edifício, também lhe causava tristeza ver o prédio abandonado. O processo de revitalização iniciou em janeiro deste ano e a entrega das obras no principal prédio dos tempos da ferrovia está prevista para dezembro. Após a reforma da Estação, o local contará com uma sala-museu, com objetos relacionados às ferrovias obtidos por doação dos moradores.. . — Por isso é que se diz Estação Saudade - porque dá saudade. Pelo menos para mim, que já morava ali no fundo, bem onde é o coreto [construção com palco]. Subindo o barranquinho. Lá ficava o fundo da nossa casa. A cidade maleita A administração dos trilhos que cortavam Ponta Grossa era responsabilidade da Rede de Viação Paraná - Santa Catarina entre os anos de 1942 e 1975 e, depois, da Rede Ferroviária S/A – RFFSA - até 1989. Filha de ferroviário, Avani cresceu nas casas da “Rede”. Ela conta que nasceu em uma casa dos funcionários da companhia no dia 21 de abril de 1824, em Tomazina, no norte do Paraná. Por volta dos quatro anos, ela se mudou para Itararé, no estado de São Paulo. O pai, Juvenal Martins, que nasceu em 6 de agosto de 1888, dizia que a terra “estava maleita”, comparando a terra os prejuízos de uma malária. Portanto, deveriam se mudar. Avani mostra a carteira de trabalho do pai. Avani perguntou se a repórter queria ver os documentos. Respondi que sim. A senhora se levantou sem buscar o apoio do andador que usa para se deslocar às clínicas. Foi ao quarto ao lado e voltou com uma pilha de papéis amarelados. Mostrou todos eles. Pegou na mão um documento, sorriu antes de exibir a
carteira de trabalho aquela que estava “virada num fiapo”: — A única herança que tenho do meu pai é esta. Avani chegou em Ponta Grossa, quando terminavam do antigo Hospital 26 de Outubro, hospital feito para os ferroviários da época, na rua Joaquim Nabuco, localizado atrás do Shopping Palladium. Mas Avani não sabe dizer com certeza os anos, não por falta de memória. Perguntei datas precisas algumas vezes e a resposta sempre era a mesma. — Saber a gente sabe, mas não marca data. Ai a memória vai se perdendo. Por outro lado, da infância ela lembra com precisão: — Juntavamos aquele bando de criança e ia brinca no fundo na barranca da estação.
do para fazer as manobras do O maquinista que ficou doentrem de passageiros. te de tomar vento Quando o pai viajava a O Vagão PT trabalho, Avani sabia quando ele Avani saía da sua casa, voltava. Sabia só de ouvir o badescia até a linha do trem, nos rulho do apito do trem. Segundo fundos da Estação Saudade e pe- ela, era um apito diferente dos gava carona em um vagão sem outros. Ela e os dois irmãos corcobertura - conhecido na época riam para perto da linha. Seu Jupor “vagão PT”. É evidente que venal trabalhou mais de 50 anos não tem nenhuma conotação na Rede. O irmão mais novo deideológica. Seria anacronismo la, Osmário Martins, seguiu carde nossa parte. reira na Rede tal como o pai. Foi — São aqueles vagões trabalhar muito novo na ferroque só têm assoalho. Não são fe- via. Também como maquinista. chados. Só têm assoalho e rodas. Osmário ficou doente no Eu pegava um e ia embora. O re- trabalho. Foi Avani quem recevisor - o funcionário que prepa- beu a notícia. Osmário costumara o vagão pra viagem, ralhava va sentar na janela dos vagões comigo - [imita uma voz grave] em vez de sentar no baco da má“Desça daí, menina! Vai cair no quina - e pelo que ela soube do meio dos vagão e vai morrer.” “doutor André”, foi isso que deiEu tinha medo de cair, mas eu xou o irmão “fraco da cabeça”. Ele ficou internado dois meses.
Avani Martins dos Santos tem a história ligada com as ferrovias da cidade desde 1924. Foto: Jessica Allana
A estaçãozinha A família de Avani construiu uma escada no barranco nos fundos da casa da rua Tenente Hinon Silva - paralela à “Rua da Estação”. Ela levava à linha do trem. Avani costumava ver a “ordem”, ou seja, a escala de serviço do pai no depósito de máquinas. Avani chamava o espaço ao lado da Estação Paraná de “estaçãozinha”. Na época, os passageiros desciam na Estação Saudade. Os trens faziam a manobra no pátio, onde hoje fica o Complexo Ambiental. Havia sempre um maquinista escala-
não caía. Eu me segurava bem e ia embora lá pro depósito. Chegando no depósito, Avani anotava a escala de serviço do pai em um papel e levava para casa. O pai viajava dois dias e voltava. Às vezes partia para a Estação de Rio Azul (próxima a União da Vitória), às vezes saía rumo a Jaguariaíva. Quando o pai dela ia para União da Vitória, Avanir viajava dentro do bagageiro para ver os padrinhos sem precisar pagar passagem. Rindo, ela conta que viajava muito de trem usando expedientes clandestinos.
Fotorreportagem “Maria Fumaça 204: o encontro do presente com o passado”. Fotorreportagem de João Guilherme de Castro e Veridiane Parize. Primeiro lugar na categoria Fotojornalismo do 23° Prêmio Sangue Novo no Jornalismo Paranaense.
Romance nos trilhos A ferrovia volta às memórias inclusive para falar de romance. Mostra a imagem do falecido companheiro, Brasiliano Bueno Carneiro. É uma imagem 3 x 4, afixada na carteira de trabalho do ferroviário. — Por isso que é bom guardar as coisas. As do meu véio estão tudo aqui. Esse homem aqui era muito bom pra mim. Uma vez o doutor André me mandou chamar. Ele queria saber informações. Porque o “Bueno” encrencava com Deus e tudo mundo. Ele era muito brabo. O que ele tinha de brabo tinha de coração bom. Tive que falar a verdade para o doutor André - “doutor André, ele é um homem muito bom”. Hoje, Avani se emociona pelo tempo que passou. Quando necessita de médicos, relembra as facilidades do Hospital 26 de Outubro e da Cooperativa dos Ferroviários, que ficava próximo à Estação Saudade, com lojas para os funcionários, de alfaiataria e mercado. Enquanto caminha com seu andador rumo ao médico, ela se lembra com detalhes de sua infância.
Por Jessica Allana
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"O crescimento como ator e como ser humano são sinônimos" Stella Adler (1901-1992), atriz e professora pioneira do Método Stanislavsky de atuação Fotos: Gabriel Ferreira (3, 7), Gabriel Miguel (5), Júlio César Prado (4, 6), William Clarindo (1, 2, 8) & Yuri A.F. Marcinik (9, 10).