Distribuição Gratuita
Jornalismo UEPG - Dezembro - 2019 - 214
Desigualdade social cresce no Paraná, indica IBGE. p. 10
Foto: Marcella Panzarini
Em média, famílias paranaenses com renda de até dois salários mínimos levam dois anos e nove meses para atingir os mesmos gastos em Educação feitos em apenas um mês por famílias com renda de mais de 15 salários mínimos. Pesquisa da UEPG relaciona uso de agrotóxicos à ocorrência de doenças nos limites urbanos do municipio.
Política p.11
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Contato do Foca Livre: (42) 99700-0565
Restaurante Popular de Ponta Grossa é o mais caro do Paraná com o valor de R$ 5.
Esporte p.13
Estádio Germano Krüger apresenta falhas de acessibilidade, como a ausência de rampas e elevadores.
Política p.7
Metade dos usuários de ciclovias utilizam a bicicleta para ir ao trabalho na cidade.
Política p.12
Justiça Restaurativa aplica círculos de construção de paz nas unidades prisionais.
Literário p.15
Viajantes preenchem a rodoviária com histórias de saudade e amor; por dia, 6.500 pessoas passam pelo local.
Foto: Bruno Santos
UEPG p.2
Meio Ambiente p.5
Instalação de 15 novas pequenas centrais hidrelétricas revolta moradores de Prudentópolis.
Pesquisa realizada na UEPG relaciona a existência de problemas de saúde associados a agrotóxicos em vilas próximas a plantações Áreas agricultáveis próximas a conjuntos habitacionais, tem resultado em problemas de saúde que podem ser associados aos agrotóxicos, aponta pesquisa da UEPG
A
pesquisa “Relação Urbano Rural no Município de Ponta Grossa”identificou como os agrotóxicos utilizados na área rural do município afetam a área urbana que faz fronteira com as plantações. Desenvolvida pela estudante do 4º ano de Serviço Social, Carolina Soares dos Santos, sob orientação da professora do Departamento de Serviço Social da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Sandra Maria Scheffer, a pesquisa é resultado da Iniciação Científica, com financiamento da Fundação Araucária.
A pesquisa mostra que áreas como conjuntos habitacionais, loteamentos e vilas dividem muros e cercas com plantações.Tem casas que o ‘quintal de trás’ é uma fazenda”
Segundo Scheffer, Ponta Grossa apresenta uma característica peculiar, ao concentrar áreas agricultáveis próximas às áreas urbanas, ou seja, nas bordas periféricas ou no interior da área urbana. “A pesquisa mostra que áreas como conjuntos
habitacionais, loteamentos e vilas dividem muros e cercas com plantações. Tem casas que o ‘quintal de trás’ é uma fazenda”, expõe a estudante Carolina Soares dos Santos. Dados da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (ADAPAR), indicam que Ponta Grossa é o 14º município que mais utiliza agrotóxicos no Estado. Santos explica que, além do contato no período de aplicação dos agrotóxicos, também ficam vestígios das substâncias no ar, água, alimentos e solos das residências próximas às áreas agriculturas no municipio. “Há uma ideia de que os agrotóxicos afetam somente o trabalhador rural. Mas a pesquisa mostra como moradores da área urbana também estão sendo diretamente afetados pelo uso desses herbicidas”, explica Scheffer. Dados da pesquisa apontam ainda doenças que podem decorrer de agrotóxicos utilizados nas culturas agriculturas de Ponta Grossa, entre elas problemas de pele, câncer, doença de Parkinson, lesões hepáticas, arritmias cardíacas, entre outras. “Em primeiro momento, não temos como comprovar os efeitos na saúde pelos testes serem muito caros. Por isso, tivemos como referência pesquisas da área da saúde sobre o efeito dos agrotóxicos e demonstramos que os agrotóxicos usados aqui podem atingir a população”, explica Scheffer. A estudante também desenvolveu Trabalho de Conclu-
Área agricultável próxima a área urbana em loteamento em Ponta Grossa.
Foto: Carolina Soares dos Santos
Mapa: Carolina Soares dos Santos
são de Curso (TCC), defendido em novembro, sobre o tema e sob a orientação de Scheffer. Com o título “O urbano e os agrotóxicos: a partir da percepção de profissionais da saúde no município de Ponta Grossa – Paraná”, a pesquisa entrevistou enfermeiros-chefes de quatro unidades básicas de saúde localizadas em áreas urbanas que fazem fronteira com plantações. “Pelo resultado das entrevistas, percebi que os enfermeiros das unidades não relacionam as doenças que a população mais apresenta com os agrotóxicos utilizados nas áreas próximas. Tem uma normalização dessas doenças e um desconhecimento do território e dos efeitos dos agrotóxicos”, relata. Como um exemplo desse desconhecimento, as pesquisadoras citam a Escola Municipal General Aldo Bonde, localizada no conjunto habitacional Lagoa Dourado, na Costa Rica, e que faz divisa com a área rural. “Os
enfermeiros da Unidade de Saúde próxima à escola relataram um grande número de alunos com problemas respiratórios, mas não relacionaram com o fato da instituição estar perto de plantações”, relata. A estudante também expressa uma preocupação com a liberação do uso de mais agrotóxicos pelo governo federal. “Como aumentou o consumo, o efeito tende a aumentar. Mas os efeitos demoram anos para aparecer”, expõe. Scheffer explica que a ideia é tornar os resultados da pesquisa uma agenda pública do município. “No ano passado, apresentamos os primeiros resultados nas reuniões de desenvolvimento do Plano Diretor da cidade. Neste ano, participamos da audiência pública sobre o uso de agrotóxicos, mas não sentimos um resultado”, relata a professora sobre os dados. Por Daniela Valenga
3 DEZ/19
MEIO AMBIENTE
Pesquisa indica déficit de 58% de árvores na cidade Potencial seria de 70.000 unidades, contra 28.925 existentes nas ruas de PG
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ados do IBGE de 2019 revelam que Ponta Grossa é uma das cidades menos arborizadas do Paraná. De acordo com a pesquisa da professora do Departamento de Geociências da Universidade Estadual de Ponta Grossa, Silvia Méri Carvalho, a cidade tem a capacidade de 70.000 árvores de rua, mas tem apenas 28.925 em aproximadamente 2.429 vias públicas. O total de árvores na cidade representa 41,3% da estimativa, o que indica um déficit de 58,7% (41.075). Há ainda 2.369 indivíduos arbóreos em praças. Além do paisagismo, as árvores são fundamentais ecologicamente. Dentre seus benefícios, estão a amenização das temperaturas em áreas urbanas devido às sombras, maior filtração de água no solo e impedimento de erosão. “As árvores são apontadas como sumidouro de gás carbônico. Em ambientes
É preferível plantar árvores em praças, parques e espaços públicos com avenidas largas, ao invés de ruas, já que pode danificar as calçadas” urbanos, é possível encontrar, muitas vezes, fragmentos florestais. Isso seria bastante benéfico para o ambiente, se caracterizando entre os chamados serviços ambientais”, explica a pesquisadora Silvia Carvalho. A pesquisadora relata que, desde 2015, diversas pesquisas e projeto sobre o tema foram realizadas na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). A
A região central de Ponta Grossa é uma das que sofre com a escassez de árvores. Foto: Marcella Panzarini
pesquisa realizada por Carvalho mostra mapa digital sobre as árvores na área urbana de Ponta Grossa. O mapa indica a localização das árvores por vias, quantidade, regiões, a relação de árvores por quilômetro e extensão total das vias. A pesquisa foi feita em 14 bairros e os próximos passos são finalizar os levantamentos em novos bairros. “Os mapeamentos digitais ajudam na visualização espacial das árvores, onde estão e quantas são. Os inventários de campo auxiliam na identificação das espécies das árvores, ou seja, a condição das mesmas, além de identificar conflitos com a infraestrutura urbana, como por exemplo, calçadas, muros, rede elétrica, entre outros. Ainda possibilita identificar áreas com potencial para recebimento de novas árvores”, conta. Estudante do 2º ano de Letras na UEPG, Vitória Klunck, 19, mudou para Ponta Grossa há 7 anos com a família e já morou em Porto Alegre, Rio de Janeiro e Curitiba. Ela relata que, en-
tre as diferenças que percebeu estão a menor qualidade do ar e a quantidade de plantas nas ruas, além da falta de conservação. Klunk observa a ausência de árvores nas ruas em Ponta Grossa: “É um pouco difícil da gente comparar capitais do Brasil com Ponta Grossa por ser menor. Mas é interessante pensar que, mesmo nessas cidades grandes, a questão da natureza e arborização é levada tão a sério, é tão importante. Não se vê isso em Ponta Grossa, parece que não temos essa preocupação”, expõe. Segundo o secretário de meio ambiente, Paulo Barros, em 2018, foram plantadas mais de 3.000 árvores e, neste ano, a estimativa são de 4.000. Houve ainda um reforço na área de paisagismo e plantação na cidade, que conta atualmente com uma equipe de 10 profissionais. Barros diz que a destruição de árvores é um problema no desenvolvimento de arborização na cidade. “A quantidade de árvores no perímetro urbano é grande. Temos um déficit grande na quantidade de árvores em passeio, mas existem fatores como que as ruas são geralmente estreitas e, muitas vezes as pessoas acabam danificando as árvores”, relata Barros. O secretário do meio ambiente fala que “é preferível plantar árvores em praças, parques e espaços públicos com avenidas largas, ao invés de ruas, já que pode danificar as calçadas”. Paulo Barros cita ainda que as árvores plantadas no canteiro central da Avenida Bispo Dom Geraldo Pellanda, em Uvaranas, levarão cerca de 10 anos anos para crescimento. Por Denise Martins
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Pesquisa da UEPG alerta sobre preservação da mata ciliar do rio Pitangui Manual orienta ações de conservação ambiental nas zonas fluviais
Branquilho (Sebatiania commersoniana) faz parte da mata ciliar do rio Pitangui.
O
projeto Herbário da Universidade Estadual de Ponta Grossa (HUPG), desenvolve um manual ilustrado, sobre características do Rio Pitangui e sua mata ciliar. Um dos grandes objetivos do projeto é fornecer informações à gestão, ao planejamento ambiental e às ações de Educação Ambiental aos municípios pelos quais se estende a floresta ripária da nascente do rio Pitangui. Não há nenhum meio de informações ligadas ao Rio para a população, o que motivou o desenvolvimento do manual, para haver uma conscientização populacional sobre preservação. Segundo um dos criadores do projeto, Mateus Alexandre, o material pode ser usado como auxílio didático para tratar da preservação da água e mata ciliar do Rio. A mata ciliar é um corredor ecológico, isso significa que vários animais utilizam como passagem ou casa, além de fornecer alimento e abrigo. “As raízes dessas árvores perto do Rio, funcionam como uma barreira contra agrotóxicos que possam ser levados aos rios pelas chuvas ou infiltração. Também mantém as margem
firmes, influenciando na quanti-dade da água de um rio” justi-fica Alexandre. Os dados obtidos até agora pelo projeto, contribuem na complementação da lista de espécies que podem ser empregadas na restauração da floresta ripária ao longo do rio, servindo como base para estudos futuros e orientando ações de conservação da mata do Rio Pitangui. Moradores do Alagado
Ernesto Jober Miara, que frequenta a região do Alagado (barragem artificial formada sobre o Rio Pitangui) há 45 anos, conta que antigamente não era normal ver variação no nível da água do rio, ele permanecia o mesmo, diferente de agora que o baixo nível é constante. “A mata também diminuiu visual-mente. No meu ver o agricultor não preserva as áreas que ocu-pa, sempre querendo aumentar sua área de plantio, não pensan-do nas políticas de preser-vação”, conta Miara. Segundo alguns moradores mais antigos o nível da água está baixando cada vez mais de-
vido às atividades da Copel. “Ela quer gerar energia, usa tudo e quanto quer da água. Não desperta o maior interesse de preservação” relata Miara. “Minha preocupação é que cada nascente do Pitangui deveria ter uma preservação, coisa que não acontece. Deveria existir uma política de preservação das nascentes e mananciais” finaliza Miara. A associação dos moradores do Alagado (AMA) no últi-
mo mês de outubro coletou cerca de 2 toneladas de lixo do rio e da mata. “Os moradores se juntaram para fazer a limpeza das matas e rio. Montamos nossas equipes, tinha equipe trilha que ia pela estrada, equipe carros que faziam o apoio e onde era colocado o lixo e equipe barcos que recolheram o lixo do rio” explica a integrante do AMA, Milena Parreira. Por David Candido
Local onde as espécies coletadas são armazenadas no Herbário da Universidade Estadual de Ponta Grossa (HUPG) .
Foto: David Candido
Prudentópolis enfrenta construção de 15 novas hidrelétricas de pequeno porte
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O município já conta com duas PCH’S, instaladas no Rio dos Patos, denominadas hidrelétricas Rio dos Patos e Salto do Rio Branco.
Com cerca de 50 mil habitantes, Prudentópolis, localizada no centro-sul do Paraná, a 204 quilômetros de Curitiba, enfrenta a construção de 15 novas Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH), usinas com reservatórios de até três quilômetros. O município já conta com duas PCH’S, instaladas no Rio dos Patos, denominadas hidrelétricas Rio dos Patos e Salto do Rio Branco. Contrariando o Plano Diretor Municipal, a Prefeitura autorizou a construção das novas PCH’S no município. Uma dessas novas hidrelétricas seria instalada nas cachoeiras do Salto Manduri e do Salto Barão do Rio Branco. Essa usina seria construída pela empreiteira Dois Saltos, e incluiria a construção de um túnel e canais interligando as duas quedas d’água. A construção da hidrelétrica gerou revolta na população local, pelo fato do cursor da água do rio ser alterado e os sérios riscos de modificações na diversidade ambiental da região. A área afetada pelas instalações das pequenas hidrelétricas corresponde o total de 300 hectares e inclui 17 propriedades rurais, como os pontos turísticos Recanto Jacob Rickli, Saltos Manduri e Barão
Infográfico: João Paulo Pacheco
Cachoeira Salto Barão do Rio Branco, em Prudentópolis(PR)
Foto: Adriane de Andrade do Rio Branco. (LACTEC-2011) O promotor de Prudentópolis Robertson de Azevedo explica que a instalação das PCH causam grandes impactos em rios de menor porte. ‘’O principal efeito é o desvio de água do leito natural dos rios para dutos forçados a casa de máquinas geradoras de energia, preendimentos acabem com impactando o patrimônio paisa- nosso turismo desta maneira’’. gístico e turístico da cidade’’. O comerciante Gabriel Através de e-mail, o Ins- Teodoro Camargo também é tituto Ambiental do Paraná contrário à construção de mais (IAP) informa que, até segunda usinas na cidade. “Prefiro que ordem, as licenças encontran- invistam mais em nosso tuse suspensas desde o segundo rismo, ao invés de construírem semestre deste ano. “O órgão novas usinas, isto só irá prejuaguarda decisão entre municí- dicar nossos rios e cachoeiras’’. pio e Ministério Público sobre a Entre as cachoeiras, seis Anuência de Uso e Ocupação do são abertas à visitação, como Solo, na qual é necessária para Salto do São Francisco, Salto emissão da Licença Prévia”, ex- São Sebastião, Salto Mlot, Salto plica o IAP. A Prefeitura Mu- Barão do Rio Branco, Salto Mannicipal não retornou os e-mails duri e Salto São João. Reconenviados que questionavam so- hecido por “Terra das Cabre a situação da instalação das choeiras Gigantes”, o município novas PCH e o Plano Diretor encontra-se no sopé da Serra da Municipal de Prudentópolis. Esperança, o que lhe atribuiu Moradores da cidade um terreno acidentado, e fordemonstraram-se contrários à mando cachoeiras e cânions. construção das PCH’S, aleganNo limite do município, do a preservação ambiental e a encontram-se 34 cachoeiras valorização do turismo. com aproximadamente 80 meEstudante de agronomia tros de altura cada uma delas. na Universidade Estadual de Entre elas, apenas algumas são Londrina e morador de Pruden- exploradas pelo turismo, devido tópolis, Luis Gabriel Kosloski à dificuldade de acesso. As caconsidera uma grande “desvan- choeiras são formadas pelos tagem prejudicar nossas belas rios São João e dos Patos, dois naturais”. “Temos aqui o Salto principais rios da região e fordo Barão, meus amigos e eu mam o Rio Ivaí, e também a sesempre visitamos o local. Não gunda maior bacia hidrográfica podemos deixar que em- do centro-sul paranaense.
Pelo médio porte e o terreno acidentado, os dois rios da região são tidos ideais para a implantação de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH), na perspectiva do setor de. As hidrelétricas desviam o curso do rio antes de ocorrer a queda das cachoeiras, para mover as turbinas e gerar energia. Defendidas como obras de menor impacto ambiental, estudos recentes, publicados na revista ‘’Energy Policy’’ mostram que as consequências sistêmicas e proporcionais dessas pequenas centrais? são até maiores que as de grandes hidrelétricas. Os rios da Amazônia são os mais afetados, com destaque para o Tapajós. No Congresso Nacional, as PCH’s ganharam uma Frente Parlamentar Mista, exclusiva em sua defesa dessas construções, composta por 27 senadores e 238 deputados federais. Outro fator que facilita o licenciamento expresso das
De em lado, o interesse em preservar o que existe no turismo, e de outro, o interesse privado de construir a usina"
PCH’S é a declaração do presidente Jair Bolsonaro de ‘’liberar em 2 ou 3 meses as licenças para construir uma PCH’’, junto com o debate nacional sobre a Lei Geral de Licenciamento. Por João Paulo Pacheco
Salto Manduri
Considerado o local mais afetado. A área é um dos poucos lugares de lazer em local acessível, é bastante frequentado pela população local, turistas e visitantes. Fica a uma distancia de oito quilômetro do centro do município, possui infraestrutura com restaurantes, quiosques, piscinas e área destinada para camping. Apesar de Prudentópolis ter identificado mais de 34 cachoeiras com potencial turístico, a população local sempre se refere as duas cachoeiras mais próximas da cidade, o Salto Manduri e o Salto Barão do Rio Branco. Fonte: Adriane de Almeida
Moradores da Palmeirinha convivem com esgoto a céu aberto e rua precária
Automóveis e ambulâncias não passam na rua, e mau cheiro e insetos são frequentes
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ás condições e esgoto a céu aberto no final da rua dos Bandeirantes, localizada no bairro Vila Palmeirinha, região da Nova Rússia, dificultam diariamente a rotina dos moradores da região. A rua é uma ladeira sem asfalto e não possibilita o trânsito de carros. No trecho final, próximo à pinguela, o esgoto escorre à beira das casas à margem. As condições precárias se concentram no final da rua dos Bandeirantes, que se inicia na parte norte do bairro. Após o cruzamento com a rua Maurício de Nassau, a Bandeirantes apresenta situação mais precária há mais de cinco anos, segundo os moradores. A ladeira possui várias partes esburacadas. O barro, juntamente com a inclinação natural da rua, impedem a passagem de veículos. Maribel Correa, moradora da rua e auxiliar de cozinha, relata que tem que pagar uma moradora em outra rua da região, para deixar seu carro. “Eu pago um valor se-manal para uma pessoa de confiança minha, para deixar o carro na garagem, porque aqui o carro não passa”. A situação fica pior nos
casos de emergência. Correa conta que já teve de sair às pressas para o hospital. Porém a ambulância não conseguia descer até sua casa, no final da rua Ban-deirantes.” Tive que ir me arras-tando até lá em cima. Meu ma-rido e o vizinho me segurando pelo braço, me carregando”. Correa informou que, por conta da situação da rua, colocou sua residência à venda. O esgoto a céu aberto, que passa ao lado das casas é outro problema presente na região. Com um matagal nas beiradas, o esgoto corre logo após o fim da rua dos Bandeirantes, que liga a rua Padre Anacleto. A moradora Jussara Aparecida Ribeiro diz que, em dias de chuva, a situação piora. “Quando chove, a água aumenta. Passa do nível da ponte e alaga tudo”. Ribeiro afirma que, em dias quentes, o mau cheiro fica insuportável para quem mora nos arredores. Há ainda o risco de animais transmissores de doenças e peçonhentos, como ratos e escorpiões. “Direto chega a aparecer ratazanas dentro de casa e de tamanho enorme”, conta Ribeiro, que também relatou a presença de escorpiões na região.
Em abril deste ano, a Pre-feitura de Ponta Grossa anunci-ou o atendimento de esgoto pa-ra 100% da população da cida-de, segundo o Sistema Nacional de Informações sobre Sanea-mento (SNIS). A assessoria de imprensa da Prefeitura informou por email à reportagem que, desde 2013, foram asfaltados cinco trechos em quatro ruas na região da Vila Palmeirinha, totalizando um quilômetro. Na Nova Rússia, foram pavimentados 151 metros em dois trechos, compreendendo duas ruas. Porém, o trecho
final da rua dos Bandeirantes não consta dentro destes dados. A assessoria informou ainda que “a Secretaria Municipal de Serviços Públicos enviará equipes à rua para verificar as condições e colocála no cronograma para reparos em tempo breve”. Quanto ao esgoto, deveria verificar junto a concessionária responsável pelo saneamento básico no Município, a Sanepar. A reportagem buscou contato com a Sanepar, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição.
Moradores da rua dos Bandeirantes tem dificuldade de circulação. Foto
Sem piso tátil: calçadas ao redor da APADEVI não são acessíveis
A
Falta de acessibilidade em Ponta Grossa atrapalha vida de deficientes visuais
s calçadas ao redor da sede da Associação dos Pais e Amigos dos Deficientes Visuais (APADEVI) não possuem piso tátil, que é uma das principais formas de aumentar a acessibilidade dos deficientes visuais. A própria revisão do Plano Diretor da Prefeitura Municipal de Ponta Grossa (PMPG) entrevistou pedestres sobre a qualidade das caçadas.
As principais reclamações no documento são que as calçadas são estreitas e na maior parte dos trechos é interrompida por algum elemento fixo. No caso dos deficientes visuais, além da falta da acessibilidade ainda há problemas nas calçadas sem o piso tátil. A pedagoga da instituição, Lucélia Aparecida Lara, relata que noano passado caiu um
Infográfico: Emanuelle Salatini
pedaço da calçada da rua lateral da APADEVI, abrindo um buraco. “Ficou assim por cerca de um ano, só na metade de novembro a Prefeitura veio arrumar”. Lara ainda conta que um dos alunos da instituição caiu no buraco da calçada este ano e machucou o pé. Quando procurada pela reportagem via e-mail, a Prefeitura afirmou que a manutenção das calçadas é responsabilidade do proprietário, e nesse caso, o responsável pela APADEVI é o Estado do Paraná. A professora da APADEVI, Adriana Martins, relata que a Prefeitura de fato arrumou a calçada da instituição, mas não o asfalto da rua da frente, que também tem buracos. Martins se questiona “Se a calçada é responsabilidade do Estado do Paraná, a rua da frente também é?”. A professora fala que os alunos têm dificuldades tanto para circular nas calçadas quanto para atravessar a rua. A PMPG não soube informar quantas calçadas da ci-
dade têm o piso tátil. Além disso, a reportagem perguntou no e-mail quais políticas ou ações a Prefeitura realiza para aumentar a acessibilidade para deficientes visuais na cidade, questão não respondida pela assessoria. Martins reforça que além do piso tátil há outras maneiras que a Prefeitura poderia aumentar a acessibilidade na cidade, mas que isso não ocorre. “Acho que o primeiro passo seria uma conscientização da população”. A professora conta casos da população vidente parando em piso tátil ou batendo nas bengalas dos deficientes visuais. O atual local da APADEVI foi cedido pela Secretaria do Estado de Educação, a SEED. A reportagem entrou em contato com a SEED, mas não obteve resposta até o final desta edição. Por Amanda Gongra
Sistema cicloviário de Ponta Grossa não atende necessidades da população
Pesquisa do Plano Diretor de 2018 aponta que apenas 5% dos usuários de ciclovias da cidade utilizam a bicicleta para lazer
A
pesquisa qualitativa de ciclomobilidade da URBTEC, empresa contratada da Prefeitura Municipal de Ponta Grossa para elaboração do Plano Diretor, consta que 50% dos usuários usam ciclovias da cidade para trabalho, 10% para estudo e 5% para lazer. Atualmente, o município possui dois trechos de passeio compartilhados entre pedestres e ciclistas, nas avenidas General Aldo Bonde e Visconde do Rio Branco e um trecho de ciclofaixa, na Avenida Bispo Dom Geraldo Pellanda; conta também com uma faixa compartilhada na Avenida Monteiro Lobato em fase de conclusão. A nova faixa inicia na bifurcação da Avenida Monteiro Lobato e segue até a rua Bernardo Sávio, e retorna na Avenida Euzébio Rosas. De acordo com a assessoria de imprensa da Prefeitura Municipal, a via será liberada no sentido binário, após definição da AMTT. “A Autarquia deverá emitir um comunicado para alertar aos motoristas, pedestres e ciclistas que usam a via”. A faixa compartilhada não consta no Plano Diretor, segundo a assessoria da Prefeitura. Cloter Migliorini, utiliza a bicicleta de cinco a dez vezes por semana. O ciclista afirma que a infraestrutura cicloviária da cidade não proporciona conforto e segurança aos usuários. “As ciclovias existentes não foram executadas pensando em bicicletas como transporte, mas sim como recreação”, comenta. “A localização e trajetos das ciclovias mostram que os locais foram escolhidos por critério apenas de conveniência e facilidade de implementação e não sua utilização para apoiar o uso da bicicleta como meio de transporte urbano em Ponta Grossa”, conta o ciclista. Segundo Migliorini, o trecho de faixa compartilhada das avenidas Monteiro Lobato e Euzébio Rosas segue o Plano Municipal de Mobilidade Urbana. Porém, de acordo com o ciclista, as avenidas não são atrativas para o uso das bicicletas, por serem trechos com subidas e descidas íngremes. “Nesse tipo de topografia, o uso da bicicleta é menos atraente que no sentido leste/oeste [Centro-Avenida Carlos Cavalcanti], na nossa cidade”, explica. “Esses [sentidos], que proporcionam muito mais possibilidades de implementação, seriam úteis
Nova faixa inicia na bifurcação da Avenida Monteiro Lobato.
Foto: Marcella Panzarini para seus usuários, devido a nas Avenidas Visconde de Taumaior demanda e a maior facili- nay e Dom Pedro II. dade de uso”. De acordo com MigliorO Plano Diretor mostra ini, os pontos de maior demanda que a topografia acidentada, no para a estrutura ci- cloviária na perímetro urbano, é a principal cidade são as re-giões dos bairdificuldade para a implemen- ros Boa Vista, San-ta Paula, tação da infraestrutura cicloviá- Souza Naves, Av. Visconde de ria na cidade. A pesquisa quali- Mauá e principalmen-te a extativa de ciclomobilidade da tensão da Av. Carlos Cavalcanti, URBTEC mostra que 70% dos que está em processo de revitaentrevistados avaliam a quali- lização. De acordo com a Prefeidade das ciclovias como péssi- tura, as reformas da avenida não mas, 15% como ruim, 10% como preveem ciclofaixa. “Nenhuma razoável e apenas 5% avaliam das ciclovias ou ciclofaixas imcomo boa. O Caderno Síntese do plantadas até agora foram ou esPlano Diretor aponta que “um tão sendo feitas de acordo com o sistema cicloviário oferece ao plano de mobilidade urbana do ciclista uma rota que permite Iplan [Instituto de Pesquisa e acesso democrático para os es- Planejamento Urbano], mas sim paços da cidade”. de acordo com oportunidade de As ciclofaixas propostas conveniência em cada projeto pelo Plano Diretor são nas ruas isolado”, comenta Migliorini. Anita Garibaldi, Balduíno TaPara o vereador Geraldo ques, Bento Ribeiro, Doutor Stocco, que tem projeto de lei João Cecy Filho, Leopoldo Fró- sobre sistema de ciclovias na es, Siqueira Campos, Joaquim cidade, é necessário incentivar de Paula Xavier, Margarida e o ciclismo. “Precisamos mostrar nas Avenidas Ana Rita e Profes- para Ponta Grossa que a bicisora Cândida. As ciclovias pro- cleta é um meio de transporte e postas são nas ruas Ernesto deve ser utilizado. Hoje, a maioVilela, João Ribeiro, Maria Rita ria das pessoas acaba relacioPerpétuo da Cruz, Benjamin nando a bicicleta apenas ao Constant, Ermelino de Leão e esporte ou lazer. A partir do mo-
Infográfico: Emanuelle Salatini
mento que a cultura for mudando, as pessoas irão respeitar mais”, declara. A faixa compartilhada entre pedestres e ciclistas na Avenida Monteiro Lobato será usada também pelos ônibus somente nos locais de parada para usuários. De acordo com Stocco, o código de trânsito prescreve que o trânsito deve ser compartilhado, entre automóveis e bicicletas. Porém, Migliorini comenta que não é possível compartilhar a via de modo seguro. Primeiramente, por causa da velocidade reduzida das bicicletas e, consequentemente, o conflito que se cria entre automóveis e ciclistas. “Esta deveria ser a maior motivação para a construção de ciclovias e ciclofaixas. Mas o poder público prefere não pensar nesta obrigação e segue apenas construindo ciclofaixas e ciclovias recreativas”, finaliza o ciclista. A assessoria de imprensa da Prefeitura afirma que será implantada uma ciclofaixa na estrada para Itaiacoca. O projeto, apresentado em maio pelo Departamento de Estradas de Rodagem (DER), propõe a construção de uma ciclofaixa de cerca de 17 quilômetros, com início na rotatória da UEPG, no Campus Uvaranas, e término na Igreja do Passo do Pupo. A construção custará mais de R$ 4 milhões, recurso destinado pelo governador do Paraná, Ratinho Júnior, e pelo secretário de Infraestrutura e Logística, Sandro Alex, no final de outubro. A obra, voltada para o cicloturismo, não tem previsão para início e nem término. Por Emanuelle Salatini
Prefeitura mantém 152 contratos de pessoal acima do limite prudencial desde 2017
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Por descumprir limite da Lei da Responsabilidade Fiscal, gestão estaria impedida de contratar funcionários
Prefeitura de Ponta Grossa contratou 285 funcionários acima do limite prudencial desde 2017. Dados disponibilizados no Portal do Servidor da Prefeitura (na página Demonstrativos de Pagamento Geral) indicam que, de junho a dezembro de 2017, foram realizadas 53 contratações. Em 2018 e 2019 foram, respectivamente 111 e 121 admissões. Atualmente a Prefeitura mantém 152 funcionários que foram contratados dentro deste período. Desde 2017, a gestão do Prefeito Marcelo Rangel (PSDB) ultrapassa 95% do limite máximo das despesas com pessoal e não poderia contratar cargos efetivos ou temporários, conforme reportagem publicada pelo Foca Livre em novembro (edição 213). Pelo artigo 22 da Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000 (Lei da Responsabilidade Fiscal), quando o município excede a porcentagem prudencial de 51,3% dos gastos com pessoal, o gestor fica impossibilitado de contratar funcionários que não sejam reposição de aposentadoria ou morte das áreas da educação, saúde e segurança.
disponível no Portal da Transparência da Prefeitura, as despesas com pessoal somam 53,45%. Após o tempo de publicação, o município deve diminuir em dois quadrimestres, demitindo primeiramente os funcionários comissionados. Mas, apenas no mês de junho de 2017, foram admitidos 10 novos funcionários, sendo sete destes, em cargos comissionados. 180 contratos ilegais ocupam cargos comissionados
Cerca de 65% (180 funcionários) dos servidores contratados entre junho de 2017 a novembro de 2019 foram para cargos comissionados. Atualmente trabalham na Prefeitura 275 pessoas em cargos não estáveis. Do total de contratos no período do levantamento, 120 ainda continuam trabalhando. A partir de junho de 2017, 2018 e 2019, foram contratados respectivamente 47, 63 e 70 pessoas. Nos anos de 2015 e 2016, foram registrados em alguns quadrimestres, o valor acima do limite prudencial O Sindicato dos Servidores
Desde 2017, a gestão do Prefeito Marcelo Rangel (PSDB) ultrapassa 95% do limite máximo das despesas com pessoal e não poderia contratar cargos efetivos ou temporários. A Constituição Federal (Artigo 65, parágrafo 3º) institui que o relatório referente à despesa tem até 30 dias para divulgação. No parecer do 1º quadrimestre de 2017,
Municipais de Ponta Grosa (SindServ) pede a redução de 20% dos comissionados, ou seja, 55 funcionários. Pela Constituição Federal, o município precisa reduzir pelo
menos 20% das despesas com cargos de comissão e funções de confiança, além da exoneração dos servidores não estáveis. Se mesmo assim não for suficiente, os servidores estáveis poderão perder o cargo. Os efetivos despedidos são compensados financeiramente pela lei e seus cargos são extintos, não podendo ser ocupados por outros funcionários. Em resposta à reportagem publicada pelo Foca Livre nº213, a assessoria da Prefeitura informou que os comissionados representam apenas 3,5% do total de funcionários e que a folha de pagamento chega a menos de 2% dos R$ 30 milhões por mês para os cargos efetivos. Além disso, os comissionados não têm direito a nenhum outro benefício, apenas o salário. Para o presidente SindServ, Roberto Ferensovicz, o fato de o município estar acima do limite prudencial afeta o direito dos ser-
vidores de Ponta Grossa. Como a Prefeitura está impedida de realizar concurso público para a entrada de novos efetivos, ela só realiza contratos temporários. Ferensovicz frisa que, mesmo ocorrendo exonerações, após atingir o limite não poderia haver nenhuma contratação. “O ponto principal são as nomeações ilegais”, afirma o presidente. Prefeitura recebe novo alerta do TCE-PR por descumprir ‘limite máximo’
A gestão do prefeito Marcelo Rangel (PSDB) recebeu novo alerta do Tribunal de Contas do Estados do Paraná (TCE-PR), em 5 de dezembro, por descumprir o limite máximo permitido pela Lei de Responsabilidade Fiscal. Em setembro deste ano, Rangel recebeu o primeiro alerta referente ao limite máximo. No
novo ato de alerta do TCE-PR, está disposto que a partir da extrapolação deve reduzir 1/3 do excesso em dois quadrimestres e nos outros dois retornar para abaixo de 54% da Receita Corrente Líquida. Após dois quadrimestres, o prefeito Marcelo Rangel deveria ter reduzido 0,54% nas despesas de pessoal, mas apenas abaixou 0,37% (para 55,25%). Nos relatórios de setembro e outubro do TCEPR constam variações nos números, com 55,47% e 55,21% os gastos com pessoal respectivamente. Porém a redução não chegou ao limite de 54%. O dado de novembro de 2019 ainda não foi divulgado. Presidente da Câmara alega que “prefeito não extrapolou gastos com pessoal”
O presidente da Câmara de Vereadores de Ponta Grossa, Daniel Mila (PV), afirmou que “o prefeito não extrapolou no momento das contratações a questão do limite prudencial”. Segundo Mila, em diálogo com o TCE-PR as contas do município estão dentro do estipulado. “A argumentação do prefeito [de Ponta Grossa, Marcelo Rangel] hoje é de que não tem a questão limite prudencial extrapolado. No entanto, ele consegue fazer as contratações sem que tenha esse prejuízo”. Já o vereador Pietro Arnaud (REDE) afirmou ser “totalmente ilegal qualquer contratação do município” dentro deste período em que se encontra acima do limite prudencial. “Eventuais criações de cargos, empregos ou funções, alteração na estrutura do Município e contratações de empréstimos como operações de crédito realizadas pelo Município
de Ponta Grossa, podem ser considerados atos de improbidade administrativa praticado por administradores do Município de Ponta Grossa”. O vereador disse ainda que tem tomado medidas contra possíveis irregularidades. “Já estamos denunciando aos órgãos competentes, como TCE, e espera-se um protocolo de uma ação judicial”, destacou Arnaud. A assessoria da impressa do Tribunal de Contas do Paraná (TCE-PR) reforçou que não pode haver nenhuma contratação, exceto nos casos de nomeações para repor servidores aposentados ou falecidos nas áreas de educação, saúde e segurança. “O fato de o Tribunal de Contas emitir ou não alerta sobre o problema não influi na necessidade de o gestor adotar as medidas determinadas pela lei para corrigir a situação. O alerta serve exatamente para isso: alertar o gestor sobre a necessidade – da qual ele, na maioria dos casos, já está ciente – de tomar providências imediatas para adequar a realidade da gestão municipal às determinações da LRF”. A assessoria de imprensa da Prefeitura de Ponta Grossa respondeu que as contratações de pessoal seguem a LRF: “As contratações realizadas no período estão dentro das exceções previstas pelas Lei de Responsabilidade Fiscal: para a reposição por aposentadoria ou morte, ou para atender à necessidade nas áreas autorizadas. Entre as medidas adotadas pela Prefeitura estão a redução das horas extras, revisão de Funções Gratificadas e aumento da receita do município. A exoneração de cargos em comissão é uma das medidas previstas pela legislação para a redução do índice”. Por Emanuelle Soares
: Confira a forma de levantamento de dados e a reportagem completo no Portal Periódico:
Infográficos: Emanuelle Soares
Prefeitura mantém 152 contratos de pessoal acima do limite prudencial desde 2017
A
Por descumprir limite da Lei da Responsabilidade Fiscal, gestão estaria impedida de contratar funcionários
Prefeitura de Ponta Grossa contratou 285 funcionários acima do limite prudencial desde 2017. Dados disponibilizados no Portal do Servidor da Prefeitura (na página Demonstrativos de Pagamento Geral) indicam que, de junho a dezembro de 2017, foram realizadas 53 contratações. Em 2018 e 2019 foram, respectivamente 111 e 121 admissões. Atualmente a Prefeitura mantém 152 funcionários que foram contratados dentro deste período. Desde 2017, a gestão do Prefeito Marcelo Rangel (PSDB) ultrapassa 95% do limite máximo das despesas com pessoal e não poderia contratar cargos efetivos ou temporários, conforme reportagem publicada pelo Foca Livre em novembro (edição 213). Pelo artigo 22 da Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000 (Lei da Responsabilidade Fiscal), quando o município excede a porcentagem prudencial de 51,3% dos gastos com pessoal, o gestor fica impossibilitado de contratar funcionários que não sejam reposição de aposentadoria ou morte das áreas da educação, saúde e segurança.
disponível no Portal da Transparência da Prefeitura, as despesas com pessoal somam 53,45%. Após o tempo de publicação, o município deve diminuir em dois quadrimestres, demitindo primeiramente os funcionários comissionados. Mas, apenas no mês de junho de 2017, foram admitidos 10 novos funcionários, sendo sete destes, em cargos comissionados. 180 contratos ilegais ocupam cargos comissionados
Cerca de 65% (180 funcionários) dos servidores contratados entre junho de 2017 a novembro de 2019 foram para cargos comissionados. Atualmente trabalham na Prefeitura 275 pessoas em cargos não estáveis. Do total de contratos no período do levantamento, 120 ainda continuam trabalhando. A partir de junho de 2017, 2018 e 2019, foram contratados respectivamente 47, 63 e 70 pessoas. Nos anos de 2015 e 2016, foram registrados em alguns quadrimestres, o valor acima do limite prudencial O Sindicato dos Servidores
Desde 2017, a gestão do Prefeito Marcelo Rangel (PSDB) ultrapassa 95% do limite máximo das despesas com pessoal e não poderia contratar cargos efetivos ou temporários. A Constituição Federal (Artigo 65, parágrafo 3º) institui que o relatório referente à despesa tem até 30 dias para divulgação. No parecer do 1º quadrimestre de 2017,
Municipais de Ponta Grosa (SindServ) pede a redução de 20% dos comissionados, ou seja, 55 funcionários. Pela Constituição Federal, o município precisa reduzir pelo
menos 20% das despesas com cargos de comissão e funções de confiança, além da exoneração dos servidores não estáveis. Se mesmo assim não for suficiente, os servidores estáveis poderão perder o cargo. Os efetivos despedidos são compensados financeiramente pela lei e seus cargos são extintos, não podendo ser ocupados por outros funcionários. Em resposta à reportagem publicada pelo Foca Livre nº213, a assessoria da Prefeitura informou que os comissionados representam apenas 3,5% do total de funcionários e que a folha de pagamento chega a menos de 2% dos R$ 30 milhões por mês para os cargos efetivos. Além disso, os comissionados não têm direito a nenhum outro benefício, apenas o salário. Para o presidente SindServ, Roberto Ferensovicz, o fato de o município estar acima do limite prudencial afeta o direito dos ser-
vidores de Ponta Grossa. Como a Prefeitura está impedida de realizar concurso público para a entrada de novos efetivos, ela só realiza contratos temporários. Ferensovicz frisa que, mesmo ocorrendo exonerações, após atingir o limite não poderia haver nenhuma contratação. “O ponto principal são as nomeações ilegais”, afirma o presidente. Prefeitura recebe novo alerta do TCE-PR por descumprir ‘limite máximo’
A gestão do prefeito Marcelo Rangel (PSDB) recebeu novo alerta do Tribunal de Contas do Estados do Paraná (TCE-PR), em 5 de dezembro, por descumprir o limite máximo permitido pela Lei de Responsabilidade Fiscal. Em setembro deste ano, Rangel recebeu o primeiro alerta referente ao limite máximo. No
novo ato de alerta do TCE-PR, está disposto que a partir da extrapolação deve reduzir 1/3 do excesso em dois quadrimestres e nos outros dois retornar para abaixo de 54% da Receita Corrente Líquida. Após dois quadrimestres, o prefeito Marcelo Rangel deveria ter reduzido 0,54% nas despesas de pessoal, mas apenas abaixou 0,37% (para 55,25%). Nos relatórios de setembro e outubro do TCEPR constam variações nos números, com 55,47% e 55,21% os gastos com pessoal respectivamente. Porém a redução não chegou ao limite de 54%. O dado de novembro de 2019 ainda não foi divulgado. Presidente da Câmara alega que “prefeito não extrapolou gastos com pessoal”
O presidente da Câmara de Vereadores de Ponta Grossa, Daniel Mila (PV), afirmou que “o prefeito não extrapolou no momento das contratações a questão do limite prudencial”. Segundo Mila, em diálogo com o TCE-PR as contas do município estão dentro do estipulado. “A argumentação do prefeito [de Ponta Grossa, Marcelo Rangel] hoje é de que não tem a questão limite prudencial extrapolado. No entanto, ele consegue fazer as contratações sem que tenha esse prejuízo”. Já o vereador Pietro Arnaud (REDE) afirmou ser “totalmente ilegal qualquer contratação do município” dentro deste período em que se encontra acima do limite prudencial. “Eventuais criações de cargos, empregos ou funções, alteração na estrutura do Município e contratações de empréstimos como operações de crédito realizadas pelo Município
de Ponta Grossa, podem ser considerados atos de improbidade administrativa praticado por administradores do Município de Ponta Grossa”. O vereador disse ainda que tem tomado medidas contra possíveis irregularidades. “Já estamos denunciando aos órgãos competentes, como TCE, e espera-se um protocolo de uma ação judicial”, destacou Arnaud. A assessoria da impressa do Tribunal de Contas do Paraná (TCE-PR) reforçou que não pode haver nenhuma contratação, exceto nos casos de nomeações para repor servidores aposentados ou falecidos nas áreas de educação, saúde e segurança. “O fato de o Tribunal de Contas emitir ou não alerta sobre o problema não influi na necessidade de o gestor adotar as medidas determinadas pela lei para corrigir a situação. O alerta serve exatamente para isso: alertar o gestor sobre a necessidade – da qual ele, na maioria dos casos, já está ciente – de tomar providências imediatas para adequar a realidade da gestão municipal às determinações da LRF”. A assessoria de imprensa da Prefeitura de Ponta Grossa respondeu que as contratações de pessoal seguem a LRF: “As contratações realizadas no período estão dentro das exceções previstas pelas Lei de Responsabilidade Fiscal: para a reposição por aposentadoria ou morte, ou para atender à necessidade nas áreas autorizadas. Entre as medidas adotadas pela Prefeitura estão a redução das horas extras, revisão de Funções Gratificadas e aumento da receita do município. A exoneração de cargos em comissão é uma das medidas previstas pela legislação para a redução do índice”. Por Emanuelle Soares
: Confira a forma de levantamento de dados e a reportagem completo no Portal Periódico:
Infográficos: Emanuelle Soares
“A gente vende pra comer, se não vender não come”, afirma vendedora ambulante
Pesquisa do IBGE mostra que 18,8% dos paranaenses estão na classe econômica mais baixa, enquanto apenas 2,6% estão na mais rica
A
vendedora ambulante Raiza Cássia Motta, 55 anos, trabalha vendendo pipoca e algodão doce em Ponta Grossa há 15 anos. Raiza acorda às 7h, limpa a casa que mora no bairro de Uvaranas e depois de almoçar, ao redor das 12h, pega ônibus e vai até o calçadão, onde trabalha até as 19h. Ela e suas filhas sempre estudaram em escola pública e ninguém da família teve a oportunidade de fazer faculdade. Ao ser perguntada sobre sua renda mensal, Motta respondeu: “A gente vende pra comer, se não vender não come”. A família Motta faz parte dos 18,8% das famílias paranaenses que estão na classe econômica mais pobre do estado, vivendo com até dois salários mínimos por mês. A Pesquisa Orçamentária Familiar (POF), divulgada em outubro pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra também que 18,1% do total de 3.961.208 famílias do Paraná, vivem com dois a três salários mínimos por mês. Já a maior parte das famílias, 32,1% delas, vive com três a seis salários mínimos mensais. Enquanto 16,3% vivem com seis a 10 salários mínimos; 7,8% vivem com 10 a 15 salários mínimos; 4,3%, com 15 a 25 salários mínimos; e 2,6%, com mais de 25 salários mínimos. Graduado em Ciências Sociais e, atualmente, mestrando em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), Tiago Borges afirma que a desigualdade social é uma característica do capitalismo mundial. “Várias pessoas produzem, muitas não têm emprego e a grande minoria lucra enquanto não precisa fazer o trabalho duro”, completa. Borges ainda afirma que a desigualdade social no Brasil e no Paraná tem aumentado desde 2017.
gar o ônibus, para não perder tempo no horário de busca das crianças na escola. Mas ela conta que, em algumas situações, tem de pedir ajuda de familiares para buscar as filhas nas escolas. O marido, operador de máquinas, faz alguns ‘bicos’ para completar a renda da família, que é de dois a três salários mínimos mensais. “Estabilidade [econômica] pra mim é uma coisa bem difícil de ser alcançada”, afirma profissional
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC) do IBGE mostra que houve um aumento de 8,4% na renda das pessoas mais ricas e queda nos ganhos das classes que formam os 30% mais pobres. Ao oposto da realidade de Raiza, Roberta (nome fictício), 44 anos, engenheira química, natural de Ponta Grossa, faz parte das 6,9% famílias mais ricas do Paraná, ganhando mais que 15 salários mínimos por mês. Roberta conta que nunca ficou desempregada. “Sempre tive muita sorte. Saí da faculdade com emprego, no qual fiquei seis meses. Depois fui para uma empresa, na qual fiquei mais de 20 anos. Quando saí de lá, já consegui um trabalho na hotelaria dos meus pais”, destaca. A pesquisa do IBGE também mostra que a classe social a qual Raiza pertence gasta cerca de R$17,51 por mês em educação, enquanto a classe social de Roberta gasta cerca de R$566,90 por mês para a mesma área. Para uma pessoa da
classe de Raiza atingir o gasto por mês de uma pessoa da classe de Roberta, ela levaria cerca de dois anos e nove meses. A pesquisa também mostra que o que as duas classes mais ricas (6,9% do Paraná), ou seja, famílias que recebem de 15 a 25 salários mínimos mensais, e mais de 25 salários mínimos mensais, gastam por mês em recreação e cultura é mais do que o restante do Paraná (93,1%) gasta – em conjunto – em dois meses e meio com recreação e cultura. Diferente do caso de Roberta, a estudante de Serviço Social Evelyn de Souza cursa sua primeira graduação aos 28 anos, já com duas filhas, uma de três anos e outra de nove, Evelyn começou no trabalho informal desde cedo. “Trabalhei informalmente com meu tio em um lava car com 15 anos. Depois num salão de beleza. Quando concluí meu curso técnico, trabalhei numa protética. No último emprego que tive, foi auxiliar administrativa de um mercado da cidade”, conta. Atualmente, a estudante acorda às 5h30, deixa o café da manhã e o almoço prontos para a família, arruma os materiais escolares de suas filhas – a mais nova que frequenta o Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI) e a mais velha uma escola pública. Depois de arrumar as crianças, tomam café. O esposo leva as crianças para escola e vai para o trabalho. Enquanto isso, Souza pega ônibus às 7h45 para chegar na UEPG centro perto das 8h10, cinco minutos antes do início das aulas. Almoça no Restaurante Universitário e, à tarde, realiza as atividades da faculdade. No retorno para casa, vai a pé até o terminal central pe-
Segundo pesquisa do IBGE, os jovens entre 15 e 29 anos são os mais afetados pela desigualdade social. De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), divulgados em outubro de 2019, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) trazem números que ilustram a desigualdade social no Brasil. As estatísticas indicam que 1% da população brasileira recebe 33,8 vezes mais que 50%. O rendimento médio mensal do trabalho desses 1% foi quase 34 vezes maior que dos 50% mais pobres, em 2018. Paralelamente à esses números observa-se também o aumento no número de profissionais sem registro e informais, na faixa dos mais pobres, enquanto os mais ricos continuam tendo lucro. A jornalista, formada pela UEPG, Camila Delgado, 30 anos, trabalha como pessoa jurídica para uma revista da cidade e também faz freelance de marketing, depois de um ano e meia desempregada. Ela voltou para a cidade em 2015 e depende do SUS. Como pessoa jurídica, recebe por edição de revista publicada. Sua rotina começa às 9h, quando vai para a redação da revista, onde fica até as 18h. Dependendo da quantidade de trabalho para empresas de publicidade, chega a ficar escrevendo até às 01h após retornar do trabalho na revista. “Estabilidade [econômica] pra mim é uma coisa bem difícil de ser alcançada, ainda mais nesse sistema”, desabafa Delgado. Ela é só mais uma dos 41,4% dos trabalhadores informais, no Brasil, de acordo com o PNADC. Como Delgado é uma pessoa jurídica e recebe apenas por revistas publicadas, em janeiro não terá salário, pois o local entra em férias e só volta a produzir em fevereiro.
O revendedor de lingeries, Marcio Soares de Agustinho, de 39 anos, trabalha com vendas há oito anos, mas desde os 12 trabalha para ajudar a família. “Comecei a trabalhar limpando jardim e depois em oficinas e dessa maneira o estudo sempre foi ficando em segundo plano, até que, em 2001, consegui um trabalho com vendas e hoje, o estudo voltou a ser um dos fo-
cos”, conta Agustinho, que cursa o segundo ano de Serviço Social na UEPG. Além do trabalho como revendedor de lingerie e da faculdade, Agustinho participa do Diretório Central de Estudantes da UEPG (DCE) e de um projeto de extensão do curso de Serviço Social. No tempo livre, ainda tra-balha como motorista de aplica-tivo para complementar a
Infográfico: Emanuelle Salatini
renda familiar. A família de Agustinho se enquadra na classe social do IBGE que recebe de três à seis salários mínimos. De acordo com a Fundação Getúlio Vargas (FGV) Social a partir dos dados do PNAD/IBGE. Os jovens, de 15 a 24, são a faixa etária que mais perdeu na crise. Entre 2014 e 2019, os jovens de 20 a 24 anos, perderam cerca de 20% da renda, enquanto a faixa etária de 15 à 19 anos, perderam cerca de 30%. “Hoje é muito mais difícil de se manter que nos anos 80 e 90. Você tendo uma formação já tinha mais oportunidade e uma estabilidade maior, hoje ter faculdade é o mínimo para o mercado” afirma Delgado. Em meio à crise, uma das alternativas dos jovens, foi con-tinuarem na casa dos pais por mais tempo, é o que mostra a pesquisa do IBGE, 1 a cada 4 pessoas, entre 25 e 34 anos, ainda mora com seus pais, o que é ocasionado geralmente por fatores econômicos. Mas isso não é o caso de João (nome fictício), que precisou sair de casa aos 15. Atualmente desempregado, trabalha com bicos. “Teve tempo que fiz muitas coisas juntas, antes do
meu primeiro emprego com carteira assinada foi o período mais difícil”, afirma. João já arrumou computadores, fez pintu-ra prostática, trabalhou em es-critórios, na parte financeira, no atendimento em farmácias e hoje faz bico em um sebo. A pesquisa da FGV/Social ainda mostra que a população sem instrução perdeu 10% da renda em comparação a 2014; a população jovem, de 25 a 29 anos, e chefes de família perdeu 10% enquanto a média geral da população perdeu menos de 5%. Por Amanda Gongra e Emanuelle Salatini Ouça a matéria completa sobre desigualdade social no Paraná em:
Com aumento para R$ 5,00, Restaurante Popular de Ponta Grossa torna-se o mais caro do Paraná
O
Valor subiu de R$3 para R$5 no início do mês de novembro
preço do Restaurante Popular de Ponta Grossa subiu. O bandejão aumentou de R$ 3,00 para R$ 5,00 desde 4 de novembro deste ano. O Restaurante passou a ser o mais caro comparado a outras cidades do Paraná e capitais de outros Estados, como Belo Horizonte, Fortaleza e Porto Alegre. Em Curitiba o valor subiu no meio deste ano para R$ 2,80, sob argumento da falta de troco. Em Londrina, o valor é o mesmo da capital do Paraná, tendo ajuste no meio do ano de R$ 2 para R$ 3. Na cidade de Maringá, o preço também é R$ 3, com último reajuste feito em 2017. Em nível nacional, Ponta Grossa fica ainda mais atrás. Comparado a Belo Horizonte, o valor do almoço é de R$ 3,00. Já o jantar sai a R$ 1,50 e café da manhã, a R$ 0,75. Além disso, beneficiários do Bolsa Família têm até 50% de desconto e moradores de rua não pagam. Em Porto Alegre e Fortaleza qualquer morador paga somente R$ 1. Com o aumento, a Prefeitura passa a receber R$ 6 mil por dia para a realização das 1.200 refeições preparadas. Valor que chega a R$ 120 mil por mês. Anteriormente, o total do valor das refeições somavam
Com aumento do preço a freseguesia do Restaurante Popular Foto: Marcella Panzarini R$ 3.600,00 por dia à Prefeitura, pago R$ 25,00. Pesa no bolso”, exchegando a R$ 72 mil por mês. clamou Franco. Para o trabalhador com A zeladora Fátima Crerenda mensal de um salário mí- ma, 59 anos, percebeu uma dinimo, o gasto com refeições sai a minuição no público que freR$ 25,00 em cinco dias por sem- quentava o restaurante após o ana, o que representa R$ 100,00 aumento do preço. “Comentei por mês e aproximadamente 10% com minha neta que diminuiu do salário mínimo. bastante o pessoal. Ainda tem O aposentado Pedro Sil- gente, mas menos do que antivio Franco, 66 anos, almoça to- gamente”. Crema ainda relatou dos os dias no local desde sua i- a mudança em seu almoço devinauguração, em 2012. “Não al- do ao valor. “Vinha almoçar aqui moço em casa. Somente sábado porque eram R$ 3,00, porque no e domingo porque o restaurante centro só tinha restaurante a fecha. Mas antes pagava R$ 15,00 R$ 8,00, no mínimo. Com aqui a para almoçar na semana. Agora R$ 5,00 agora não adianta mui-
to, não dá tanta diferença”, relata Crema. O peixeiro Cláudio Roberto de Camargo, 43 anos, fez as contas e notou a diferença com o aumento. “Para o pessoal que almoça aqui todos os dias fica ruim, pois R$ 5,00 por dia dá R$ 100 no mês. É um valor alto”, comenta Camargo. A assessoria de imprensa da Prefeitura Municipal informou por e-mail que o aumento no preço das refeições foi devido ao reajuste de preços da inflação: “Grande parte dos insumos e produtos usados no preparo das refeições sofreu aumento, tanto apenas a reposição da inflação do período ou reajuste com aumento real”. A assessoria informou ainda que “cada refeição do Restaurante Popular tem custo total de R$ 15. A população pagando R$ 3 e a Prefeitura custeando o restante, R$ 12”. A Prefeitura alegou que falta subsídios do Governo do Estado do Paraná para custeio do Restaurante Popular. Por Eduardo Machado
Unidades prisiona is a dota m prá tica da Justiça Resta ura tiva
Curso de Direito da Unisecal aplica metodologia há seis meses na Cadeia Pública Hidelbrando de Souza e há dois anos na Penitenciária Estadual de Ponta Grossa ouco conhecida do públiP co, a Justiça Restaurativa, aplicada há seis meses na Cadeia Pública Hidelbrando de Souza, gera resultados há dois anos na PEPG (Penitenciária Estadual de Ponta Grossa). O método da Justiça Restaurativa utilizado nas duas unidades prisionais da cidade são os círculos de construção de paz, através do Projeto Travessia. “É um método que busca aproximar as pessoas através do diálogo. Fazemos quatro círculos no projeto, prevendo a transição deles do regime fechado para a Unidade de Progressão”, esclarece a responsável pela aplicação dos círculos, Renata Young. A Unidade de Progressão (UP) é um meio termo entre o regime fechado e o semiaberto. Assemelha-se muito ao semiaberto, mas não oferece ao preso todas as condições e benefícios do semiaberto, sendo justamente uma passagem para esse regime, ou como diz o nome do projeto, uma travessia.
pelo projeto na PEPG, enquanto 12 estão sendo atendidos na Cadeia Pública atualmente. Os círculos de construção de paz tem gerado resultado positivo na PEPG, conforme afirma Young. “Os círculos são terapêuticos e curativos na medida em que eles [detentos] podem falar e se escutar. A gente percebe que eles fortalecem vínculos entre eles. Os agentes que têm o contato cotidiano falam isso. Eu até recebi uma mensagem do diretor da penitenciária dizendo: ‘Nossa, como diminuíram os conflitos, como melhorou a convivência e até a produtividade depois dos círculos’. É muito interessante, pois um deles até falou: ‘Quando estou nos círculos, parece que não estou na penitenciária. Não me sinto dentro da penitenci-ária’”, conta Young. O objetivo principal da aplicação da Justiça Restaurativa na PEPG e na Cadeia Pública não é a ressocialização, mas sim a emancipação do preso. “O
Eu até recebi uma mensagem do diretor da penitenciária dizendo 'Nossa, como diminuíram os conflitos, como melhorou a convivência e até a produtividade depois dos círculos'". Para a instrutora, a Justiça Restaurativa vai além do que somente um método. “É um modo de ver e estar na vida. De como a gente quer se relacionar com o outro. O diálogo é esse ponto de convergência para tudo isso”, completa Young, que também é coordenadora do curso de Direito da Faculdade Unisecal. Os círculos de construção de paz são constituídos por grupos de 10 a 15 apenados, com a participação de dois facilitadores, que atuam como uma espécie de mediadores dos diálogos. Quatro sessões de diálogos são realizadas por grupo, uma a cada 15 dias. Ou seja, um grupo participa a cada dois meses. No final, os participantes dos círculos podem ser encaminhados para a Unidade de Progressão, dependendo de uma série de fatores, como o bom comportamento, por exemplo. Cerca de 135 presos que estão na Unidade de Progressão atualmente já passaram pelos círculos de construção de paz. Neste semestre, 35 deles foram atendidos
foco da Justiça Restaurativa é a emancipação dessas pessoas a partir desse olhar que as pessoas se fazem de dentro pra fora. Isso cria empatia, faz com que essas pessoas tenham mais expectativas, faz com que eles sejam mais pacientes com os
outros, fortalece vínculos, criam vínculos de solidariedade, então esse é o objetivo”, afirma a instrutora. “A ressocialização não é o objetivo principal, mas pode
especialmente do comportamento acerca do que diz respeito à convivência com os outros presos”, afirma. O diretor considera ino-
Círculo restaurativo realizado no Hildebrando de Souza, com a presença de diretores e facilitadores. Foto: Divulgação/Direção CPHS ser um reflexo, pois na medida vador o modelo aplicado na Unique eu compreendo sobre mim, dade de Progressão. Mesmo no sobre as escolhas que eu tenho regime fechado, o preso pode feito e as escolhas que eu quero trabalhar dentro da própria cafazer, eu posso fazer melhores deia e até fora, em empresas escolhas”, completa. conveniadas. Para Ferracini, as Mesmo aplicado há pou- UPs são importantes, pois ajuco tempo, os resultados dos cír- dam a diminuir o número de culos restaurativos já têm se reincidência dos presos, que amostrado positivos dentro da Ca- tinge 80% dos casos, de acordo deia Pública Hildebrando de Sou- com próprio o diretor. “A Uniza. O diretor da unidade prisional, dade de Progressão é um moMaurício Ferracini dos Santos, delo importante. Unida à Justiça acredita que os círculos têm um Restaurativa fica mais relevante impacto importante na relação e ainda. Antes, o preso passava no convívio dos presos. “O impac- por todo um processo dentro do to hoje, ainda que esteja come- regime fechado e, muito próçando, é gigantesco. Aqueles ximo de ir embora, não havia presos que estão participando do um tratamento adequado. Abregrupo, de fato tem um reflexo se um portão e os devolvem muito positivo em seu enten- para a sociedade. O resultado é dimento de pena, de dano aos o que a gente tem visto hoje, um seus familiares, às vítimas, e índice de reincidência absurdo”, explica Ferracini. Interessado em se tornar facilitador e participar dos círculos de construção de paz nas instituições prisionais, é preciso passar por um curso de capacitação oferecido pela Faculdade Unisecal. O curso acontece uma vez por semestre e tem duração de quatro dias. Para ser um facilitador, não há a exigência de formação superior, apenas exige-se que saiba dialogar e ter empatia para se colocar no lugar dos presos. Por Marcus Benedetti
Infográfico: Emanuelle Salatini
Estrutura do Estádio Germano Krüger não respeita normas de acessibilidade
Com apenas um setor destinado a cadeirantes, estádio do Operário Ferroviário carece de acesso às arquibancadas
A
o entrar no estádio do Operário Ferroviário pelo portão da Rua Padre Nóbrega e passar pela revista policial, o torcedor tem a opção de subir a arquibancada superior, conhecida como setor do Sócio Diamante (o plano de sócio mais caro do clube, com valor mensal de R$ 130,00 para homens e R$ 80,00 para mulheres) ou seguir para a arquibancada inferior, que conta com sete lances de cadeiras, conhecido como o setor do Sócio Ouro. Por estar no nível do gramado, é a única área do estádio do clube com espaço para cadeirantes. Para subir a área das lanchonetes e do bar, são 18 degraus, sem rampas ou elevadores para cadeirantes. Passar da área de alimentação e chegar ao setor do Sócio Diamante, é necessário subir mais 16 lances de escadas, novamente sem opções de acessibilidade. Quando se chega à arquibancada do Sócio Diamante, o torcedor se depara com mais 54 lances de escadas, onde estão dispostas as cadeiras para usuários. Além da visão diferenciada, o setor do Sócio Diamante é a única área que conta com cobertura. Em caso de chuva ao
Arquibancada do Sócio Diamante, a única com cobertura do estádio.
Foto: José Tramontin/OFEC
longo das partidas, os cadeirantes não têm local apropriado como abrigos. “Me sinto indignado. O que faço no jogo quando começa a chover? Até conseguir sair de lá, eu me molho bastante”, comenta o cadeirante Felipe Costa. O torcedor assistiu a uma partida no Germano Krüer há dois meses e reclama também do espaço reservado aos cadeirantes se localizar no setor em que o ingresso avulso custa R$ 90,00 para deficientes físicos. O ideal seria um espaço
para cadeirantes na arquibancada geral, que tem ingressos mais baratos, no valor de R$ 75,00 a meia-entrada. “É complicado, pois não tem como ter mais opções de onde ver o jogo, já que só tem uma parte que tem acessibilidade no estádio”, relata. A presidente da Associação Ponta-Grossense de Esportes para Deficientes (APEDEF), Valdirene Ávila, considera que o fato do local não ter cobertura é um problema para todos os torcedores, não somente para cadeirantes. “Teria que ter cober-
tura para que os cadeirantes tivessem onde ficar. Mas todos os torcedores que estão ali também se molhariam. Com o cadeirante, seria a mesma coisa. Queremos igualdade. Não é uma pessoa com deficiência que tem que ter todos os privilégios. É certo que, com o cadeirante, é mais complicado. Mas a chuva atingiria todos os torcedores”, afirma a presidente. De acordo com o Decreto Federal 5.296/2004, todos os estádios do Brasil devem destinar 4% do espaço das arquibancadas para deficientes físicos e visuais. O decreto determina que as praças esportivas ofereçam opções de acessibilidade como rampas, corrimões e elevadores. O Estatuto do Torcedor, sancionado em 2003, também assegura o direito à “acessibilidade ao torcedor portador de deficiência ou mobilidade reduzida”, conforme expresso no Artigo 13, parágrafo único. A reportagem do Foca Livre entrou em contato com a assessoria de imprensa do clube, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição. Por Marcus Benedetti
Projeto Vamos promove a prática de atividades físicas para pacientes com câncer de mama Após o tratamento, a chance de recidiva diminuiu em 30%, além de diversos benefícios durante a radio e quimioterapia
I
niciado em outubro, o projeto ‘’Vamos’’ incentiva as pessoas a praticarem exercícios físicos no combate ao câncer de mama. E tem como objetivo divulgar informações, conscientizar pacientes e familiares acerca dos benefícios da prática regular de exercícios. A médica Lucimara Maeda, fundadora do projeto, afirma que essa prática pode reduzir até 30% de chance do câncer de mama retornar.D Com menos de dois meses de fundação, o projeto está sendo bem aceito na cidade. Conta com o trabalho voluntário de profissionais de diferentes áreas. Toda primeira quintafeira do mês é feita uma palestra aberta ao público e direcionada para a especialização e qualificação de profissionais ao tratar e atender pacientes com câncer de mama. Semanalmente aos domingos de manhã, são feitos encontros para prática de exercício físico coletivo, com caminhadas pelo Parque Ambiental, localizado no centro.D
Maeda diz que as informações acerca da importância dos exercícios para quem está em tratamento, mesmo em quimioterapia, ou pós tratamento não são de conhecimento geral, sendo então o objetivo primordial do projeto. “Até 2010, mais ou menos, o paciente oncológico tinha que ficar quietinho em casa se recuperando. Hoje em dia, não. Os últimos dados dizem que eles têm que fazer exercício”. Após essa rotina melhora a resposta da quimioterapia, diminui a fadiga muscular e a qualidade de sono. Pesquisa feita pelo Ministério da Saúde em 2018 mostra que 12% das mortes causadas pelo câncer de mama no Brasil poderiam ser evitadas com a prática regular de atividades físicas. No Paraná, ocorre principalmente na faixa etária entre 45 e 54 anos. O estudo analisou casos de óbitos devido a inatividade física por pacientes com câncer de mama em 1990 e 2015, e apontou que 875 e 2.075, respectivamente, poderi-
am ser evitadas. “A ideia do projeto surgiu partindo da informação que o exercício físico faz parte do tratamento do paciente com câncer e divulgar essa informação que nem todo mundo sabe, conscientizar o paciente, porque é através da conscientização que ele vai aderir o tratamento”, relata Maeda.D Acadêmica do 3º de Medicina,D Jessica Mainardes participa do projeto como voluntária e diz que o incentivo é de extrema importância para o
paciente. “O ideal são 150 minutos semanais de exercícios aeróbios, mais dois a três treinamentos de resistência na semana, mas nem sempre é o realizado. O mínimo que o paciente já consegue fazer, nós temos que o incentivar”. A programação de caminhadas e palestras do ‘’Vamos’’ estão disponíveis em redes sociais e a participação é aberta ao público. Por Denise Martins
Participantes em um dos encontros no Parque Ambiental.
Foto: Arquivo pessoal/Projeto Vamos
Em defesa do jornalismo de qualidade
Em uma faculdade de jornalismo aprendemos sobre a importância da profissão à sociedade. O compromisso com o público e a responsabilidade social fazem parte da rotina de estudantes, pesquisadores e profissionais formados. O Jornalismo é alvo de golpes e tentativas de deslegitimar a profissão. A queda da obrigação do diploma, em 2009, foi uma delas. A profissão e prática jornalística vai além da questão técnica. Senso crítico, pensar o jornalismo como uma ciência digna de ser pesquisada e reverberada, e outros atributos que
ERRATA
só o curso superior oferece estão sendo atacados. Um dos destaques da edição é o foco em matérias ambientais, que reforçam a importância da preservação da natureza. Como a matéria sobre Pesquisa da UEPG alerta sobre preservação da mata ciliar do rio Pitangui, retrata a preocupação das pesquisas e da própria população em cuidar do que é nosso. Assim como Prudentópolis enfrenta construção de 15 novas hidrelétricas de pequeno porte, que reforça essa importância de preservar o patrimônio ambiental.
Charge
Pg 03: audiodescrição do QR code não colocou o nome da repórter Larissa Hofbauer. Pg 07: Os Especialistas da esquerda para direita nas três fotos do topo da página: Professor Osvaldo Callegari, José Vanilson, Rafael Scozynski. Pg 13: No infográfico está escrito "mmunicipal", o correto é "municipal".
É
Charge: Larissa Hofbauer
Ombudsman Sobre aprendizagem, clareza e diversidade de fontes
muito legal acompanhar o trabalho dessa turma e ver que vocês desenvolveram, ao longo do ano, a capacidade de editar um jornal laboratório de qualidade, tanto na forma quan-to no conteúdo. Isso fica visível nas pautas diversificadas desta edição, que resultam numa composição equilibrada de tex-tos, fiscalizando o poder público de um lado e, de outro, exerci-tando a sensibilidade do olhar humano. São ambas competên-cias essenciais para o jornalis-mo, e que vocês estão apren-dendo bem. No processo de aprendizagem é comum cometermos também deslizes, e vou chamar a atenção para alguns, nunca no intuito de desqualificar o bom trabalho realizado pela equipe, e sim para provocar reflexões sobre as práticas, que auxiliem na construção dos(as) jornalistas que um dia serão. As principais questões que aponto aqui são sobre clareza, falta de informações e diversidade de fontes. A reportagem sobre os servidores da UEPG chama a atenção pela quantidade de dados. Os números são relevantes e preocupantes, mas precisam ser interpretados, ao invés de simplesmente dispostos no texto. É necessário mastigá-los, pa-
ra facilitar a digestão de quem lê. Porcentagens e infográficos são bons recursos nesses casos. Quanto às fontes, faltaram os servidores. A matéria é sobre eles, mas nenhum(a) servidor(a) fala, nem mesmo quem aparece nas fotos. E por que não se debruçar sobre o campus de Uvaranas, se lá o problema é maior? Adorei a ideia da audiodescrição presente na p.3, e acho que essa iniciativa deve ser levada adiante em todas as produções laboratoriais do curso, inclusive na edição inteira do Foca. Até porque pessoas com deficiência vi-sual não se interessam apenas por matérias sobre deficiência, né? Elogio o esforço dos repórteres que se desafiaram a cobrir temas tão complexos, como distorções no sistema tributário (p.6) e empregabilidade (p.7). No entanto, falta clareza. O título “Analistas posicionam economia local entre a retração e a volatilidade”, por exemplo, é enfadonho, assim como o lead da reportagem sobre sistema tributário. Ficam muitas questões em aberto nesse texto, como por exemplo explicar o que é uma CPMF, como funciona, e de onde vieram essas medidas de simpli-ficação de impostos. Mas a prin-cipal delas é dizer: como,
Editores-chefe: Alexsander Marques, David Candido, Denise Martins,
Gabriel Mendes.H Edição de Texto: Eduardo Machado, João Paulo Pacheco, Marcus Benedetti, Maria Fernanda de Lima, Mirella Mello, Robson Soares, Vítor Almeida. Edição de imagem: Marcella Panzarini, Yuri A. F. Marcinik. Diagramadores : Amanda Gongra, André Ribeiro, Cássio Murilo, Daniela
afinal, a reforma atinge o público lei-tor? Há que se avançar nessa di-fícil tarefa de “traduzir o econo-mês” para o leigo, e aproximar para o local. Uma consideração geral nesta edição é sobre a diversidade de fontes. Na maioria das matérias, há mais homens do que mulheres sendo ouvidos, e mais pessoas brancas do que negras. Isso fica bem explícito na matéria de política, na qual só pessoas brancas e do sexo masculino tem voz. É uma coisa que muitas vezes nem paramos para pensar, mas é necessário questionar: por que nós, repórteres e editores(as), só ouvimos homens brancos em assuntos considerados “hard”? Não há mulheres e pessoas negras qualificadas para falar sobre o assunto? Ou é pura reprodução de uma lógica desatenta à diversidade da sociedade? Fiquei na dúvida sobre a escolha da matéria de capa. A reportagem sobre o trânsito certamente tem interesse público, além de boas fotos, mas não tem nenhuma informação realmente nova ou impactante. Além disso, várias questões importantes ficaram sem resposta: em contexto, a situação piorou ou permaneceu nos últimos anos? Quais as possíveis razões?
Foca Livre é o jornal-laboratório do curso de Jornalismo da UEPG Contato: focalivreuepg@gmail.com Whatsapp (42) 99970-0565
Neitzel, Laísa Braga, Larissa Hofbauer, Lucas Müller, Emanuelle Soares,
Os textos de opinião são de responsabilidade de seus autores e não expressam o ponto de vista do jornal. Impressão: Grafinorte, Apucarana (PR)
Emanuelle Salatini. Monitora: Hellen Scheidt. Repórteres: consulte a
Tiragem: 2.000 exemplares
Valenga, Germano Busato, Jéssica Allana, Juliana Cosmoski, Kauana
autoria das reportagens diretamente na página da notícia.
As mudanças recentes de direção em vias centrais da cidade fizeram alguma diferença no trânsito? Quais soluções seriampossíveis para melhorar a mobilidade urbana em PG? O que a Prefeitura tem a dizer? Por fim, queria ressaltar que fiquei feliz em acompanhar mais de perto essa edição, como ombudsman, e lembrar que pro duzir um bom jornal é uma arte, possível apenas quando se exercita a habilidade do trabalho conjunto, se compreende a potência intelectual e afetiva do compartilhamento (de ideias, inquietações, fontes, espaços, tempo), e se avalia com atenção o resultado final. Pela qualidade do jornal que vocês apresentam, arrisco dizer que estão no caminho certo. É a cooperação, a autocrítica e a empatia que podem salvar o jornalismo de seus vícios, adoecimentos e crises. Andressa Kikuti é jornalista e mestre formada pela UEPG. Doutoranda em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) com pesquisa focada no jornalismo independente, trajetórias profissionais e estudos de gênero.
Departamento de Jornalismo UEPG- Campus Central- Praça Santos Andrade, nº 01- Centro CEP:84010-790- Ponta Grossa- PR- Telefone +55 42 3220-3339 Professores responsáveis pela edição: Ben-Hur Demeneck (MTB- PR 5664) Rafael Kondlatsch (MTB- PR 6730) Professora responsável pela produção de notícias Hebe Gonçalves (MTB MG 5204)
Com quantas despedidas, reencontros, desabafos, motores e silêncios se faz uma rodoviária?
Com uma circulação média de 6.500 pessoas, a rodoviária forma uma encruzilhada de histórias de vida
O
relógio marca cinco da tarde. É fim do expediente para muitos. Mas para aqueles que se encontram sentados, com olhos voltados para os próprios ce-lulares e malas de viagem, a jor-nada pode estar longe de acabar. Em dias de sol forte, a luz do fim da tarde clareia o prédio, os sentimentos e feições daqueles que aguardam seu horário de embarque na rodoviária de Ponta Grossa. O dia a dia de um terminal de ônibus tem vida própria. Ele tem uma rotina com sua própria riqueza, his-tórias e pessoas. Vidas vêm e vão. Segundo a Prefeitura, diariamente passam, em média, no terminal rodoviário cerca de 6.500 pessoas. Em feriados prolongados, o fluxo de usuários aumenta em aproximadamente 20%, para linhas interestaduais, e em 30%, para estaduais. Esses dados não conseguem dar conta de todos os significados daquele espaço graças aos sentimentos, angústias, destinos cruzados e representações da vida daquele espaço urbano. Cada pessoa que entra e sai do terminal possui uma história de vida. A cada horário na plataforma de embarque, a voz feminina do alto-falante da rodoviária anuncia a partida do próximo ônibus. A fila em frente ao portão de acesso à plataforma se alonga. Presencia-se um abraço contínuo de um rapaz e uma moça, seguido de vários beijos. A cena se estende por mais alguns minutos. Ele se despede com um longo beijo e se dirige à porta do ônibus para seguir a viagem. Ela o segura pela mão e pede mais um abraço. O rapaz retribui o abraço e retorna ao ônibus. Olha mais uma vez para trás e dá um sinal de “tchau”.
Reconstruído pela última vez em 2007, o terminal rodoviário atende aos usuários das linhas de ônibus intermunicipais e interestaduais, mas também dos funcionários que a-
outros que descem perdidos”, conta Maria Rita enquanto escorre lágrimas “Essas coisas remetem aos nossos próprios problemas. Vemos todos os dias as pessoas dos mais variados
tuam no local. Como no caso de Maria Rita Ramos, taxista há mais de nove anos, com várias histórias para contar sobre o terminal. “Já peguei passageiros que desciam aqui em Ponta Grossa sem saber para onde iam. A gente que trabalha como taxista é que mostra onde eles devem ir”, comenta. Em uma das histórias ela diz que o passageiro a acabou assaltando “de um jeito um pouco diferente”. “Ele entrou no carro - era um rapaz bonito. Ele foi o caminho todo contando suas histórias de vida, até de uns assaltos que ele mesmo sofreu. No final, ele acabou me assaltando e eu fiquei sem entender nada”, contou Ramos, em tom irônico. Ao falar de suas experiências, a taxista reflete sobre o trabalho na rodoviária. “A gente pega cada passageiro com cada problema!", observa em tom sério. "Tem uns que entram chorando,
problemas, senti-mentos. Nós também temos os nossos, mas estamos aqui todos os dias”, filosofa. Na lanchonete ao lado do guarda-volumes, Luiz Fernando da Luz observou milhares pessoas e presenciou situações inusitadas no terminal. “Há gente que desce aqui e fica dois, três meses [morando]. Gente que vem pedir ajuda aqui na lanchonete. São coisas que, em 6 anos, fazem parte da nossa rotina”, relata. O funcionário de guichê Gabriel Guachineski afirma que já atendeu vários clientes irritados. “Direto chega gente para comprar passagem e se ir-rita. Culpa a gente. Coisas do trabalho”, desabafa. Gabriel conta que o trabalho é bem estressante, porque lida com público. Viajar, entrar em um ônibus, costuma ser estressante para algumas pessoas.
Toda vez que piso nessa plataforma, já bate aquela saudade”
A trilha sonora da madrugada
Algumas pessoas revela que é durante a madrugada que a inspiração vem. O silêncio da noite, já sem o barulho da cidade, toma conta do local. É um silêncio próprio. Nos bancos de espera enfileirados, as pessoas ficam sentadas com suas malas aos pés. Nas faces, as feições são sonolentas, sérias. Alguns consultam celulares com olhos semi-fechados. Em alguns momentos, pipocam focos de conversa. Os motores dos ônibus que encostam compõem a trilha sonora da rodoviária. Portas e bagageiros rangem. Márcia Martins, que aguardava um ônibus para Florianópolis na madrugada de segunda-feira, embarca em um ônibus que sai às 2h da manhã. Vai visitar a irmã que mora na capital catarinense e que não vê há quase um ano. “A rodoviária traz um clima único. Quando frequento aqui de madrugada, já me sinto perto de minha irmã, que mora em Floripa”. O terminal rodoviário forma um entrelaçado de sentimentos a quem circula por ele. Seja para uma despedida ou um recomeço. Seja para iniciar ou matar uma saudade. Por Germano Busato
Ladrões de corações e táxi
“Dá vontade de subir no ônibus junto com ele”, afirma Thalita Bloinski, que se despede do namorado que mora em Paranaguá. Ela trabalha em uma lanchonete durante o dia e, à noite, estuda no Colégio Estadual Regente Feijó. “Toda vez que piso nessa plataforma, já bate aquela saudade”. Bloinski relata que o sentimento de um momento alegre durante o fim de semana com o namorado se perde em todas despedidas a cada duas vezes por mês. O exemplo faz parte do dia a dia da rodoviária, que marca despedidas ou reencontros, cheios de sentimentos, como saudade ou angústia.
Diariamente, em média, passam pelo espaço do terminal rodoviário cerca de 6.500 pessoas. Em feriados prolongados, o fluxo de usuários aumenta aproximadamente em 20%, para linhas interestaduais, e em 30%, para estaduais, segundo a Prefeitura. Foto: Marcella Panzarini
"PREVIDÊNCIA DA MORTE" Por David Candido e Emanuelle Soares
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No dia 3 de novembro a Assembleia Legislativa do Paraná foi ocupada por servidores públicos contra a reforma da previdência proposta pelo Governo Ratinho Junior. O projeto, que acabou sendo aprovado, determina um aumento de 11% para 14% na contribuição e idade mínima de 65 anos para homens e 62 para mulheres se aposentarem. ____________________________________________________________