Jornal Laboratório | N º 198
Novembro de 2017 | Jornalismo UEPG
Disque 100 registra uma denúncia de intolerância religiosa a cada 15 horas
Segundo dados do Ministério dos Direitos Humanos, de janeiro de 2015 ao primeiro semestre de 2017, houve 1.486 denúncias de intolerância religiosa no Brasil. Segundo relatório do Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (CEAP), seguidores de candomblé e umbanda são alvo de 60% dos ataques. Em Ponta Grossa, praticantes dessas religiões têm receio de usar roupas e endereços cerimoniais em público. | Cidadania p.7
UEPG, p. 3
Gabriel Miguel
Centros acadêmicos realizam I Semana da Consciência Negra CULTURA, p. 1 3
Fenata em números
Nossa equipe de reportagem fez um balanço dos últimos cinco anos do Festival Nacional de Teatro. Os CIDADANIA, p.6 dados indicam a quantidade de público, grupos, peças inscritas e peças apresentadas.
ENTREVISTA, p. 1 5
Novo sistema de repasses interfere na autonomia das escolas municipais INVESTIGATIVO p. 4 e 5
Cacique denuncia perda de terras Huni Kuin no Acre
Escritores locais encontram dificuldades para publicar suas obras
"A história do Fenata se cruza com a história da minha vida"
Vire o jornale confira o ensaio do 45°Fenata
Kimberlly Safraide
PG EM PESSOA, p. 1 0
ESPORTE E LAZER, p.1 2
PASSO A PASSO, p. 8 e 9
ESPORTE E LAZER, p.1 2
UEPG, p.2
JORN. LITERÁRIO, p.1 1
EDITORIAL, p.1 5
Ponta Grossa não aproveita potencial inclusivo do Boxe Julio César Prado
Matéria especial descreve o cenário literário de Ponta Grossa. Os repórteres revelam como autores superam as limitações do setor, desde a autopublicação ao uso de estratégias alternativas para ser conhecido pelo público. Alguns escritores criticam a Feira do Livro "educacional" e a gestão desastrada dos últimos concursos literários.
Saiba como entrar com Popularização da uma ação no Tribunal cultura geek divide de Pequenas Causas gerações
Wi-Fi continua com Uma casa marcada pela Foca Livre critica problemas no Centro idade e pelos cachorros onda de retrocessos
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UEPG
Problemas de conectividade na rede Wi-Fi incomoda estudantes do campus central Servidores e acadêmicos criticam a dificuldade de conexão nas redes disponíveis na universidade Estudantes e professores da UEPG reclamam da dificuldade em acessar a internet no Campus Central. A situação tem impactado na produção de trabalhos de pesquisa e em aulas que necessitam de conexão à rede mundial dos computadores. A estudante de Comércio Exterior, Karoline Hartmann, conta que não usa a internet do campus com tanta frequência por causa da lentidão. A Universidade Estadual de Ponta Grossa conta com 10.109,90 m² e recebe investimentos anuais em tecnologia. Contudo, mesmo com investimentos, o WiFi da universidade sofre críticas quanto a sua conectividade. “A principal reclamação da maioria dos professores é a dificuldade de realizar as chamadas dos alunos usando a Wi-Fi, mas temos consciência de
que isso é resultado da estrutura antiga do prédio”, afirma a professora do curso de Letras, Jeane Mons. A professora do departamento de Jornalismo, Maria Lúcia Becker, explica que a dificuldade com o acesso à internet prejudica no andamento das aulas, pois existem disciplinas que necessitam do acesso à internet em tempo integral. Uma das principais dificuldades da rede Wi-Fi no Campus Central é a estrutura antiga do prédio. Como também os picos de acessos gerados pelos usuários em determinados horários do dia. Os pontos de acesso de rede são distribuídos pelo campus e não suportam uma sobrecarga de dispositivos. O fato dos estudantes andarem pelo campus conectando em vários pontos também dificulta a conexão, já que os pontos demoram um certo tempo para desconectar de um
Os programas de extensão ligados a Universidade Estadual de Ponta Grossa concretizaram a
mudança de sedes na última quinta-feira (12). O local administrativo que antes funcionava no Edifí-
Alunos da UEPG criticam lentidão do Wi-Fi da universidade. | Foto: Jéssica Gradin
dispositivo e conectar em outro. O diretor do Núcleo de Tecnologia de Informação (NTI), Dierone Foltran, destaca a falta de investimentos direcionados à área devido a prioridade no momento enfrentada de concentrar os investimentos da universidade em tec-
nologia para segurança dos campi. Dierone Foltran indicou que os estudantes devem usar a rede “eduroam” e não a “visitantesUEPG”, já que é a rede feita para os alunos. Porém, os estudantes devem solicitar diretamente ao NTI no Campus Uvaranas o cadastramento
do seu login e senha. A rede eduroam (education roaming) é um serviço internacional desenvolvido para a comunidade de educação e pesquisa e permite um acesso sem fio seguro.
cio Piquiri, agora atende no Edifício Imperador, na Rua Júlio de Castilho, 620, esquina com a Rua Coronel Bittencourt, a uma quadra do Campus Central. Entre os programas de extensão que efetuaram a mudança estão a Incubadora de Empreendimentos Solidários (IESOL), o Núcleo de Relações ÉtnicoRaciais de Gênero e Sexualidade (NUREGS), o Núcleo de Apoio Fiscal (NAF), o Programa de Qualificação para Exportação (PEIEX), o Bom Negócio Paraná, a Associação de Aposentados da UEPG e o Núcleo de Estudos em Turismo (NETUR). “Este novo ambiente é bem melhor por ser mais arejado e espaçoso, o que facilita o trabalho, porém, ainda temos algumas dificuldades de adaptação”, afirma a bolsista e funcio-
nária do projeto Incubadora de Empreendimentos Solidários (IESOL), Luciana Gomes Pereira. “Sofremos um pouco com a paralisação no andamento do trabalho, ocorreram poucas reuniões e atividades em grupo, a internet ainda não foi instalada. Mas temos consciência que essas mudanças levam tempo”. As instalações no Edifício Piquiri estavam comprometidas com infiltrações, cheiro de mofo, umidade nas paredes e rachaduras, “sem dúvida essas dificuldades determinaram a mudança”, quem compartilha a opinião é a Pró-Reitora de Extensão e Assuntos Culturais da UEPG, Marilisa Oliveira, uma das responsáveis pela troca de sedes. Segundo ela, o crescimento do número de programas gerou um aumento na quantida-
de de professores, alunos e técnicos, logo, a mudança era de extrema necessidade. A biblioteca da universidade, que também funcionava no antigo prédio, está com parte do material no Edifício Imperador de forma provisória, e em breve será deslocada para o Campus da UEPG, em Uvaranas. A repartição administrativa do Centro de Educação Básica para Jovens e Adultos (CEEBJA), que passou a funcionar no Edifício Piquiri após a interdição de sua sede oficial na Avenida Bonifácio Vilela devido a um desmoronamento ocorrido no início do ano, permanecerá no prédio até o fim do mês de outubro, onde aguarda a liberação da Defesa Civil para retornar ao seu ambiente de origem. Por Allyson Santos
Por Jéssica Gradin e Verônica Scheifer
Projetos de extensão mudam de sede
Localizado na Rua Júlio de Castilho nº 620, o Edifício Imperador é o novo lar para projetos de extensão da UEPG. | Foto: Priscilla Pires
UEPG
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Centro acadêmico de Serviço Social promove Semana de Consciência Negra
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Parceria com Diretório de História, semana de consciência negra debate questões do movimento negro O Centro Acadêmico de Serviço Social Divanir Munhoz (CASSD) em parceria com o Diretório Acadêmico Livre de História (DALHIS) realizou a “I Semana da Consciência Negra: Em memória a Zumbi e Dandara dos Palmares”. O evento ocorreu em os dias 16 a 20 de novembro, data em que é lembrada a morte de Zumbi dos Palmares. As atividades aconteceram no campus central da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). “A semana nasceu a partir das preocupações do centro acadêmico”, explica o acadêmico de Serviço Social André Henrique Correia, que participou da organização do evento e reforça a importância do debate para a formação dos acadêmicos, uma vez que traz temáticas atuais, como a representatividade de minorias sociais. Conforme Correia, a parceria com o DALHIS veio para aumentar o alcance do evento. Dividida em três dias, a programação do evento trouxe palestras, mesas redondas, documentários e atividades culturais. “Tivemos atividades de manhã, a tarde e a noite, tra-
zendo vários eixos de discussão com a temática étnico-racial”, aponta o estudante. O evento terminou na segunda-feira (20), dia da Consciência Negra e também aniversário de morte de Zumbi dos Palmares. Personagem histórico do movimento negro, Zumbi é conhecido por liderar uma resistência de ex-escravos. Junto à ele, Dandara dos Palmares também é um forte símbolo do movimento negro, especialmente da luta da mulher negra. Correia explica que o nome do evento tem por objetivo homenagear essas duas personalidades. “A luta do movimento envolve homens e mulheres e trouxemos ambas figuras para termos essa representatividade”, afirma Correia. Na abertura do evento, os presentes debateram o feminismo negro, racismo institucional e a identidade negra. A fala principal da tarde foi da estudante de Jornalismo da UEPG e ativista negra Debora Chacarski. Durante sua fala, Chacarski contextualizou a história da sociedade brasileira, que sempre marginalizou os negros e concretizou uma cultura de
No dia 20 de novembro, o Grupo Centro Cultural Ilê de Bamba fez uma roda de capoeira no campus central da UEPG
Foto: Saori Honorato
racismo que permanece até os dias de hoje. A estudante também ressaltou os desafios do feminismo negro e as diferenças com o feminismo eurocêntrico, originado pelos movimentos sufragistas. “O feminismo negro não luta por liberdade sexual, porque as mulheres negras já são hipersexualizadas”, provoca Chacarski. Conforme a acadêmica de Jornalismo, o feminismo eurocêntrico busca o direito ao voto, ao trabalho e a liberdade sexual. “Essas pautas são pequenas para nós, mulheres negras, porque nós sempre trabalhamos e nunca votamos pois não nos sentimos representadas”, opina a estudante. Uma das participantes do evento, a acadêmica de Antropologia na Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA), Jade Alcântara, reforçou o racismo sofrido no ambiente acadêmico. “Todo dia em sala quando eu falo sobre mulher negra, é muito nítido o incômodo dos professores e dos colegas que sempre questionam e falam que não é assim”, explica a estudante, que atualmente pesquisa mulheres haitianas no oeste do Paraná no seu trabalho de conclu-
são de curso. Segundo a estudante, o racismo institucionalizado é nitidamente percebido no âmbito acadêmico. “Na universidade é ensinado o conhecimento branco. Estamos nas primeiras gerações de intelectuais negros nas universidades brasileiras. Por isso, é muito importante estarmos aqui resistindo, produzindo novos conhecimentos e falando da gente também”, complementa Alcântara.
mulheres brancas diminuiu em 10%, as mortes de mulheres negras aumentaram em 54%. Nesse sentido, a estudante aponta a necessidade do feminismo pautar questões exclusivas à mulheres negras. “Atualmente o feminicídio de mulheres negras têm praticamente dobrado enquanto o de mulheres brancas diminuiu. Nós também somos as que mais sofrem com mortalidade materna”, denuncia a estudante. Segundo Alcântara, as mulheres negras sofrem O Mapa da opressões na sociedade deViolência vido a três fatores: raça, clasmostra que se e gênero. A semana da consciência negra serve coenquanto os mo um lembrete e reforça casos de luta. “Nós não estamos feminicídio a essa nas faculdades e nós estamulheres mos morrendo. [...] É muito brancas importante estarmos aqui diminuiu 10%, resistindo, produzindo novos conhecimentos e falanas mortes de da gente”. Para superar o mulheres negras do a estudante ressalaumentaram racismo, ta que “a primeira ação que em 54% todos devem fazer é ouvir. Ouvir aquela pessoa negra, No Brasil, dados evi- o que ela tem a dizer, sua denciam que a violência so- trajetória de vida”. frida por mulheres brancas e negras são diferentes. O Mapa da Violência de 2003 a Por Saori Honorato e 2013 mostra que enquanto William Clarindo os casos de feminicídio a
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investigativo
Escritores criticam modelo da Feira do Livro e gestão dos últimos concursos literários O último concurso literário promovido pela Fundação Municipal de Cultura foi em 2015 e as suas três últimas edições receberam críticas dos participantes. A Feira do Livro reduziu seu espaço físico e apresenta baixo número de obras de autores locais nas prateleiras. Escritores criticam o evento pelo volume de livros encalhados à venda pelas editoras. Por seu vínculo com a Secretaria de Educação, a Feira do Livro tende a negligenciar títulos que não estejam ligados à Educação Infantil.
FEIRA DO LIVRO
A Feira do Livro chegou à nona edição em 2017 com uma redução de espaço em relação ao ano anterior. Antes, era realizada na Biblioteca Municipal, grandes toldos compunham uma estrutura do tamanho de uma quadra. Em 2016, havia corredores e lugares para visitar. Neste ano, somente havia um corredor com pequenos quiosques na Estação Arte e um palco para apresentações e de contações de histórias misturando-se com o cenário movimentado do Parque Ambiental. A Feira do Livro está vinculada desde 2013 ao Congresso de Educação, sob organização da Secretaria Municipal de Educação. A integração à Educação faz com que os livros trazidos pelas editoras se concentrem no pú-
blico infantil. A Feira ganhou em 2017 o aporte financeiro de R$ 300 mil via Ministério da Cultura, através do Programa Nacional de Apoio à Cultura (Pronac), que tem a finalidade de estimular a produção e a distribuição de produtos, direcionando recursos para investimentos em projetos culturais. Cerca de R$ 668 mil foram destinados para 143 escolas municipais e Centros Municipais de Educação Infantil (CMEIs) de Ponta Grossa a fim de integrar a leitura nas escolas municipais, como parte do Congresso. O dinheiro foi utilizado pelos professores para a compra de livros, com editoras, durante a Feira. O investimento permitiu que professores conhecessem mais obras, possibilitando mais visibilidade a elas. O objetivo era dar oportunidade de que obras locais fossem trabalhadas dentro das salas de aula das escolas da cidade.
A lógica de mercado
Poucos autores locais participaram da Feira do Livro, mesmo sendo um evento com a finalidade de abrir espaço para a literatura de Ponta Grossa. Somente seis obras foram encontradas em toda a Feira. Para a ilustradora e artista visual Melissa Garabeli e o professor e escritor Phellip Willian, o problema é que a organização deixa que as empresas resolvam como ocupar o espaço e, assim, geralmente, chamam atrações de fora, a fim de promover as
Promoção de livros são comuns em Feiras de Ponta Grossa. | Foto: Kimberlly Safraide
vendas. O escritor Marco Aurélio, autor de dois romances, descaracteriza o evento como um festival literário. “É um festival literário em que tudo importa, menos a literatura; em que você anda pelos stands e só tem livraria de best-seller e livro infantil. Não tem uma única editora de literatura por lá”, comenta Souza. O processo de montagem da Feira não incomoda só Marco Aurélio. O escritor Miguel Sanches Neto, finalista dos prêmios São Paulo de Literatura e Oceanos, participou do processo como curador em 2014, quando a Feira ainda se chamava Flicampos. Porém, pediu o seu desligamento. “Um projeto de leitura não pode se reduzir a uma feira de livro, deve ser uma atividade contínua ao longo do ano. A feira também não pode se reduzir a espaço para vender saldo encalhado nas editoras e livrarias. Deve ter uma cura-
doria que valorize a qualidade literária e não o best-seller. Ou seja, não pode ter uma lógica de mercado”, analisa.
“Livros encalhados”
Os “livros encalhados”, como colocam os dois escritores, são de grandes editoras e são notados pela sua repetição em edições da Feira do Livro. A promotora e divulgadora da editora Paulinas (SP), Adélia Abreu, confessa que grande parte do acervo disposto no quiosque da editora na feira deste ano foi o que sobrou da feira passada. “Nós trazemos aquilo que os professores ainda não compraram ou não viram”, afirma. O foco nos professores e na Educação Infantil dificulta para o escritor local que deseja vender sua obra, porque, muitas vezes, não faz parte deste segmento e, por estar fora desse nicho, fica deslocado e de fora da Feira. Renata Regis Flo-
risbelo é membro da Academia de Letras dos Campos Gerais e lamenta o interesse comercial da feira, deixando de lado o contato com os escritores. “As editoras e instituições literárias locais não foram convidadas a tomar parte, acabando por afastar a possibilidade de participação dos escritores da nossa região. Não apenas eu, como diversos autores consideraram esta situação lamentável".
O ESCRITOR EM PG
Para o escritor Miguel Sanches Neto, que também é professor de Letras na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), a literatura instiga a humanidade. O professor coloca que, quanto mais escritores, maior a representação dos diferentes grupos na cidade, que podem gerar uma maior reflexão sobre os diferentes segmentos sociais.
Empresários não aproveitam lei Bepe para incentivar artistas locais
O município criou a Lei Bepe há quatro anos, que incentiva empresários a transferir, além de impostos federais, também impostos municipais, para projetos aprovados em Lei Rouanet. O último edital da Lei Bepe prorrogou projetos até 2016 e, atualmente, não existe nenhum
projeto no “banco de projetos culturais” recebendo qualquer auxílio financeiro por meio dela. “O empresário ganha desconto no IPTU. Mas é uma ação muito tímida. Não há uma lei municipal – como em Curitiba e muitas outras cidades – de incentivo à cul-
tura. Existe legislação que permite isso, mas as últimas administrações não a implantaram para não abrir mão de nenhum centavo da arrecadação”, afirma Miguel Sanches. Segundo Alessandra Bucholdz, jornalista e diretora de captação de recursos da ABC Projetos,
Ponta Grossa dispõe de indústrias e empresas capazes de apoiar financeiramente projetos que fomentam a cultura, e gerar renda e fazer com que recursos circulem no município. No entanto, Bucholdz considera ser “extremamente pequeno o número de empresas que fazem tais apor-
tes e os valores destinados não chegam a representar 10% da capacidade” porque elas preferem investir em projetos de maior alcance. Em literatura, os patrocinadores tende a preferir livros de caráter histórico.
investigativo
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“A cidade em que há uma variedade de sujeitos escritores acaba representada de maneira complexa, tensionada, fugindo das armadilhas simbólicas dos proprietários consagrados da palavra oficial. Além de ser um fator de renda, pois cria uma microeconomia por meio da produção e consumo de livros”, reforça Sanches Neto. Em seu livro mais recente, os autores Melissa Garabeli e Phellip Willian refletem sobre abandono animais. “A literatura ajuda sensibilizar a nossa alma para entender o que acontece à nossa volta. Eu não consigo explicar racionalmente o que é empatia, mas a literatura ajuda a você a se colocar no lugar do outro”, reflete Phellip. Para publicar o livro, o casal partiu para uma campanha de arrecadação on-line com a plataforma Catarse. Os dois elaboraram estratégias publicitárias, como recompensas para determinadas quantidades de doação em dinheiro, como pôsteres de artes do livro, o nome do doador na parte de agradecimento, e até um curso de aquarela ministrado por Melissa. “A internet está fazendo todo mundo ter acesso. E então acaba que o público vai sendo criado e assim nós vamos progredindo”, comemora Phellip. Como os escritores não
têm amparo da cidade, precisam ir para fora. Phellip e Melissa afirmam que a maior parte das pessoas que os lêem são de São Paulo e Minas Gerais. Por isso participam de festivais fora da cidade e do Estado, como por exemplo, a ComicCon Experience, em São Paulo, que, diferente da Feira do Livro, os autores podem alugar seu próprio espaço para mostrar suas obras. Sem o dinheiro que eles conseguem com suas profissões - Phellip éprofessor e Melissa é ilustradora freelancer - esse tipo de investimento não seria possível.
Autopublicação
Para Sanches Neto, a principal via para o escritor atualmente é a autopublicação. Além disso, o escritor reforça a importância da comunicação digital, como publicação via e-book. Há várias plataformas para tanto, como é o caso da Amazon. “Agora, para se chegar ao mercado editorial, o caminho é mais longo e demorado. O fato é que hoje boa parte do mercado de literatura é custeado pelos autores, seja com seu dinheiro, seja usando editais públicos para edição”, coloca Sanches. O escritor geralmente não consegue viver apenas de escrever livros. Segundo pesquisa da Folha de S. Paulo, em entrevista com 50 escritores no Brasil, apenas quatro deles têm co-
mo renda principal a venda de livros. “É preciso um incentivo da educação, das políticas públicas, política de incentivo a cultura, sem isso ou o artista se esgota demais, ou ele vai sucumbir”, lamenta Phellip. João Paulo Oliveira queria ter sido advogado ou recepcionista, mas caiu “no abismo da literatura”, como diz. Já publicou três livros e aponta os problemas de se pagar pela publicação: “é preciso organizar o evento de lançamento por conta própria, promover o trabalho totalmente sozinho e finalmente vendê-lo em consignados mínimos ou de mão em mão, às vezes sequer recuperando o dinheiro investido. Tornando a obra um mero objeto de consumo e o autor um marqueteiro e lobista de si mesmo e do seu trabalho”. Porém o escritor ainda tem um pingo de esperança. Esperança da “fermentação” da cultura de Ponta Grossa, sua cidade natal.
Vivências literárias
Como uma forma de suprir essa demanda da cidade, de dar visibilidade aos escritores locais, a Prefeitura por meio da Fundação Municipal de Cultura em parceria com a editora Estúdio Texto criou o projeto Vivências Literárias, que teve início em abril deste ano. Segundo a assessora da Fundação, Luana Caro-
O livro "Imortal: Operário Ferroviário" foi lançado por meio de Leis de Incentivo a Cultura. | Foto Kimberlly Safraide
line “a iniciativa do projeto é aproximar o público da cidade com os escritores locais, incentivando o interesse pela leitura ponta-grossense”. Durante todo o ano, um autor local, que tenha livros publicados pela editora, ministra palestras ou oficinas literárias em escolas municipais. O projeto já tem agenda fechada e deve continuar até o ano que vem. A primeira escritora a participar desse projeto foi Renata Florisbelo, para
ela este tipo de iniciativa é louvável pois promove uma atividade prática e real "o maior ganho está na proximidade com os autores, desmistificando o processo da escrita e apresentando-o como algo acessível a todos. O projeto também valoriza os autores locais, além dos próprio alunos e professores", conclui.
Por Kimberlly Safraide e Matheus Pileggi
“Fundação de Cultura deu calote nos escritores”, afirma premiado em concurso literário
Os concursos literários em Ponta Grossa acontecem desde 2008 e acumulam reclamações dos escritores . No ano de 2013, o Concurso Nacional de Contos foi alvo de polêmicas devido ao atraso nos pagamentos dos prêmios de R$ 1 mil para os três primeiros lugares nas categorias Local e Nacional. Em 2014, a vencedora do concurso de contos, na categoria local, era de São Paulo. A Prefeitura de Ponta Grossa realizou o último concurso literário em
2015 e até hoje não anunciou nenhum vencedor nas categorias infanto juvenil, contos, crônicas, poemas, histórias de vida e ensaios históricos. Na polêmica de 2014, ao premiar paulistana em concurso local, a Fundação Municipal de Cultura assumiu a confusão. Como forma de recompensa, concedeu menção honrosa ao trabalho de Regina Ruth. Por não mudar a colocação da autora no concurso e reconhecer o primeiro lugar a um autor local, o dinheiro
da premiação não foi dado a nenhum ponta-grossense. Passados quatro anos do concurso de 2013, ainda não foi publicada a antologia com os melhores contos do concurso daquele ano. A publicação era prevista no edital. Segundo um dos ganhadores desse concurso, o escritor Marco Aurélio de Souza, a Prefeitura desrespeitou a premiação e deu um calote nos ganhadores. Segundo Eduardo Godoy, diretor de cultura da Fundação Municipal de Cultura, ocorreu um pro-
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blema com os jurados em 2015. Para ele, a falta de recursos é o principal empecilho para o financiamento de publicações literárias. “É muita demanda e nós não temos dinheiro para ajudar a todos, por isso incentivamos que aqueles interessados fiquem de olho nos editais e busquem auxílio nas Leis”, propõe Godoy. O escritor Marco Aurélio desconfia da justificativa. “‘Não há dinheiro’, eles dizem, mas, misteriosamente, os projetos na área de cultura continuam.
Aconteceu um festival de música (9º Festival de Música de Ponta Grossa) cheio de gente vinda de São Paulo, certamente mais caro aos cofres públicos do que a impressão de meia dúzia de livros”, rebate o escritor, sendo a “meia dúzia de livros” uma referência à antologia de contos em 2013. Naquele ano, a Lei 11.263/2013, que estabeleceu o orçamento do Município, destinou à Fundação de Cultura R$ 7,2 milhões.
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cidadania
Burocracia prejudica funcionalidade do Programa Fundo Rotativo O “Programa Fundo Rotativo” da Secretaria Municipal de Educação, criado pela Lei Municipal nº 12.814 de 30 de maio de 2017, que viabiliza o repasse mensal de materiais de expediente para a rede municipal de ensino entrou em vigor no segundo semestre de 2017. Entre as escolas em que o programa está sendo aplicado, estão as escolas Aldo Bonde e Coronel Cláudio. Na Escola Municipal General Aldo Bonde, a diretora Maria Alvina dos Santos Silveira afirma que o repasse para a compra de materiais está sendo insuficiente: “o novo programa não está atendendo às necessidades. Existem muitos alunos e a escola é muito grande, não está sendo o suficiente”, afirma. Quanto às questões de ordem burocrática, a diretora Silveira lamenta que a situação também não melhorou: “ficou muito corrido o novo repasse, além de ter que fazer as pesquisas de preço, há preocupações com as certidões das empresas e como não se pode repetir o CNPJ, acaba não dando para comprar do mesmo fornecedor”. Para a diretora da escola Coronel Claudio, Rosana Lopes, as mudanças do novo fundo rotativo são de ordem burocráticas. “Como já administramos a verba do Pró (programa anterior), com o novo programa Fundo Rotativo, pouca coi-
sa mudou. No Pró pagamos as despesas com cheques no nome da Associação de pais e mestres (APM) da Escola, no Fundo Rotativo, as despesas são pagas no cartão de crédito e todas as Notas Fiscais saem no nome da Prefeitura de Ponta Grossa”, explica Lopes. A diretora Rosana também cita outras mudanças que ocorreram na parte burocrática com o novo programa: “os materiais licitados pela prefeitura e entregue às escolas, não podem ser adquiridos na unidade escolar pela diretora e no Pró, quem respondia pela prestação de contas era a presidente da APM junto a diretora, no Fundo Rotativo, somente a diretora”. A dirigente sindical, Angelica Maria Mendes comenta as dificuldades encontradas com o novo repasse, “o Fundo Rotativo possui um limite de 6 mil reais por escola, nós temos como realidade em Ponta Grossa alguns locais que possuem mais de mil alunos, por mais que sejam dez reais por aluno elas não chegam a dez mil reais, por exemplo”, explica a dirigente. A perda de autonomia das diretorias também é um problema segundo Mendes. “O Pró-educação dava maior autonomia para as diretoras, para a escolha de produtos e empresas. Com o Fundo Rotativo a autonomia das diretoras
travou porque os produtos agora vem da secretaria da educação. São produtos licitados, às vezes não se preza tanto pela qualidade, porque vem pelo menor preço. Elas têm uma certa restrição de comprar os materiais pelo fundo rotativo, pois as diretoras devem direcionar as compras pelo CNPJ, existe um limite para ao número de produtos em cada loja”, afirma a dirigente sindical. Sobre a Associação de pais e mestres (APM), Maria Mendes explica as limitações encontradas no novo programa, “o presidente é um pai ou mãe voluntário, às vezes é feito por eleição dentro da escola. Eles eram responsáveis em averiguar o produto, assinar o cheque, então havia essa participação dos pais e mestres na fiscalização de onde esse dinheiro era gasto. A diretora tinha que prestar contas para a APM, esse também é um diferencial. Embora a associação ainda exista nas escolas e CMEIs, eles ainda estão para fiscalizar, mas não mais nessa autonomia da compra dos produtos”. Sobre a diminuição da participação da APM nas compras e fiscalização, Mendes afirma: “a gente ainda não viu como funciona a prestação de contas, ainda há uma adequação das diretoras com o projeto, tem que ver na prática se há essa limitação”. Por Enaira Schoemberger Priscilla Pires
Como funciona o Fundo Rotativo? Segundo o DECRETO Nº 13.244, de 14/07/2017, o custo liberado às Unidades Escolares (UE) tem como base o número de alunos matriculados e com frequência regular, não podendo ultrapassar o valor de 6 mil reais por mês. O uso do Cartão de Pagamento Governo é isento de taxa de adesão, manutenção e de anuidade. O seu uso deve ser administrado e responsabilizado pelo Gestor de cada UE. Novo programa de repasse de verba afeta autonomia das escolas municipais. | Foto: Lucas Cabral
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cidadania
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Praticantes de religiões afro receiam usar roupas e adereços cerimoniais em público Relatório nacional publicado em 2016 informa que religiões afro-brasileiras são alvo de 60% dos casos de intolerância religiosa
Segundo relatório de Intolerância Religiosa no Brasil de 2016, o segmento das religiões afro-brasileiras é o mais vulnerável de todos. O documento foi organizado pelo Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (CEAP) e a Comissão de Combate à Intolerância Religiosa e aponta que 60% das denúncias foram feitas por seguidores do candomblé e da umbanda. “A mãe-de-santo do terreiro do qual faço parte recomenda que não usemos nossas vestes cerimoniais em público”, relata o ponta-grossense e praticante da umbanda Jorge Manosso. Autor de TCC em Licenciatura em História sobre o tema, Manosso escreve em sua pesquisa que há uma defasagem documental da cultura afro-brasileira parte da mídia e da história regionais. As religiões afro-brasileiras em Ponta Grossa são praticadas de forma discreta para evitar situações de risco aos membros. “Há um processo de silenciamento das nossas práticas”, afirma Manosso. Além do preconceito, outro problema relatado por adeptos da umbanda e do candomblé é a incompreensão de suas tradições e história por parte da sociedade, que resultam no preconceito sofrido, explica o acadêmico. Tânia Mara Batista, conhecida como “Mãe Tâ-
nia”, teve a candidatura a vereadora barrada pela Justiça Eleitoral sob a alegação de que ela não poderia usar adereços religiosos em fotos oficiais. Em entrevista, Mãe Tânia afirma haver um favorecimento da gestão municipal de igrejas cristãs, principalmente do catolicismo. Quando se candidatou a vereadora, o fato de vestir um turbante na foto oficial da campanha lhe tirou fora da corrida eleitoral. “Bíblia pode, mas turbante não”, questiona. O lojista Adilson Koloswski trabalha há trinta anos em uma das três lojas de umbanda de Ponta Grossa. Ele revela uma relação amigável entre fiéis de diferentes crenças. “A maioria dos clientes são umbandistas e católicos”, comenta. O comerciante afirma que nunca presenciou episódio algum de discriminação contra seu estabelecimento ou frequentadores. Para o professor do Departamento de Direito da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e bacharel em Teologia pelo Centro Universitário Cesumar (Unicesumar), Alexandre Almeida Rocha, o estado deve garantir a liberdade à todas as religiões. “No entanto, haverá aquelas religiões que ganham espaço maior na política”, esclarece o professor, que recorda das bancadas evangélicas.
Praticantes de religioes afro reclamam da falta de visibilidade em Ponta Grossa. Foto: Gabriel Miguel
Por Gabriel Miguel Julio César Prado
A cada hora circulam sete denúncias de intolerância religiosa na internet Segundo dados do Ministério dos Direitos Humanos (MDH) de janeiro de 2015 ao primeiro semestre deste ano, foram registradas 1.486 denúncias de intolerância religiosa pelo Disque 100. Ou seja, uma denúncia a cada 15 horas.
A Polícia Federal monitorou, em 2016, 68.268 denúncias por crimes relacionados a intolerância religiosa, de acordo com os Indicadores da Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos, acessados no portal Datasafer. As quase 70 mil denúncias virtuais
envolveram mais de 16 mil páginas (URLs) sendo 4.995 delas removidas. Foram escritas em oito idiomas e hospedadas em 2.582 hosts diferentes, conectados à Internet através de 1.927 números IPs distintos, atribuídos para 42 países em 4 continentes. Ainda segundo o
portal, o Facebook reúne metade das páginas denunciadas por intolerância religiosa em 2016 - 42% pelo host principal e 12% pelo m.facebook.com. No Paraná houve apenas um registro de denúncia por intolerância religiosa em 2016, valor dez vezes menor que o ano an-
terior. De acordo com o Ministério Público do Estado do Paraná, a Polícia Militar não enquadra tais ocorrências como situações de intolerância religiosa, e sim como situações de perturbação de sossego ou depredação de patrimônio.
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As histórias que vivem nas nossas cabeças
De que maneira a mídia influencia nossos pensamentos? Escutar música enquanto a ponta da caneta encosta o papel, o que será que sai daí? Um disco? Ou talvez uma história ritmada? Experimente uma maratona de Seinfeld e repare no pensamento depois. Parece que deixamos o sitcom mas o sitcom não nos deixou. Qualquer ideia de piada vem à tona, como se sua vida tivesse espaço no apartamento de Jerry a tirar sarro com Elaine de George e rindo de Kramer abrindo a porta. E então, a distância entre você e a produção do programa se revela, e a frustração de
nunca poder dar um rolê na Nova Iorque dos anos 90 o decepciona um pouco. Os sonhos dizem muito sobre isto. Afinal, quem nunca sonhou com algo que a mídia instigou. Uma vontade de experimentar aquela mensagem tão bem produzida (ou não). De estar lá quando o mundo explode. Jung bem que percebeu essa relação intensa de nós com nossos símbolos. Certa vez assisti os Bons Companheiros e bateu uma vontade danada de jogar Mafia. Outra vez assisti o Poderoso Chefão e resolvi baixar o jogo do filme para computador. E isso, na verdade, foi o
máximo que pude fazer para matar o desejo de participar do simulacro que são as histórias contadas por filmes. Mas esse é um conceito para os jogos em geral, esse usufruir de uma realidade distinta à sua. Agora com essa de realidade alternativa programada, os tais videogames, parece que a imaginação fica saciada com o poder de se vivenciar outra história, outra vida. Ou melhor, parece que a imaginação é cada vez mais reprimida por esse simulacro com uma concretude tão mais atraente que as histórias vividas na cabeça. Adeus imaginação,
Uma das fugas é o video-game | Foto: Danilo Schleder bem-vinda realidade alternativa programada. O que preocupa, principalmente, é o fato de cada vez mais nos expormos a estes mundos ao ponto de essencialmente nos comportarmos a partir
de valores fabricados, e que a distinção daquela realidade mais próxima com o real (existe isso?) desvaneça. Por Matheus Pileggi
PG EM PESSOA: Roberto Siemieniaco, diretor do grupo de teatro Paré.
“Tudo aquilo que eu via no palco me deixava completamente extasiado”
“O Fenata (Festival Nacional de Teatro de Ponta Grossa) significa muito para o grupo e para mim. Acompanho o festival desde que eu era pequeno. Meu pai trabalhava como motorista da UEPG e me levava junto na Kombi em que ele transportava os grupos de um lado para o outro. Eu sempre pude assistir aos espetáculos do camarote do Grande Auditório [antes de mudar para o Teatro Ópera, esse era o palco principal do festival]. Tudo aquilo que eu via no palco me deixava completamente extasiado. Vinte anos depois eu pude descobrir a sensação e não troco por nada. A organização do Festival sempre foi muito competente. Nunca tivemos problemas quando participamos, muito pelo contrário. Como espectador, eu fico ainda mais encantado. Sempre vi muita gente próxima a mim trabalhar no Festival. E a arte mexe com todo mundo que se envolve com ela. Meu pai foi motorista do
festival. Minha irmã foi estagiária por anos e tem todas as camisetas guardadas até hoje). Eu me apresento como artista e tenho grandes amigos que sempre estiveram envolvidos com o Festival. Acho que ele funciona muito como a arte funciona, assim como o Paré nasceu de uma parceria. O que faz as coisas mágicas do teatro acontecerem é essa cumplicidade, esse encantamento e - principalmente - a generosidade de quem vive e sente o Teatro. Algumas das minhas primeiras grandes lembranças da vida se passaram no início da década de 90, era quando muito de vez em quando eu podia viajar junto com o meu pai, naquela época motorista da UEPG, o querido ‘Carlão’, no muito famoso Trovão Azul, um ônibus que é uma lenda na UEPG, hoje só uma lenda mesmo, infelizmente. Quando eu ia nessas viagens para o campus de Telêmaco Borba, saíamos por voltas das 16h para levar os
professores que lá lecionavam no turno da noite e chegávamos de volta só depois da meia-noite. Na volta, meu pai me colocava para dormir em cima do motor do ônibus, ao lado do motorista. Ele fazia essa viagem todos os dias da semana, e essa rotina mudava no final do ano, quando começava o Fenata. Eu deixava de passear no trovão azul e passava para as kombis com aquele característico cheiro de combústivel, acompanhando meu pai que levava os atores aos teatros, e hotéis e tudo aquilo me encantava. Eu não entendia direito como tudo aquilo acontecia, mas era mágico. Eu passava horas vendo espetáculos sendo montados, apresentações que me faziam pensar como deveria ser maravilhosa a vida de artista. Mas o momento mais legal era quando no final do espetáculo os artistas agradeciam o meu pai por todo o apoio que ele dava ao grupo. Eu ficava maravilhado quanto todo aquele auditório da UEPG
lotado. Olhava lá pra cima, no camarote que era onde sempre ficávamos, e aplaudiam o meu herói. Depois ele mudou de emprego, eu continuei indo às edições do Festival, cada vez mais encantado pelo movimento e pela energia que a Arte movimentava em mim. Mas só como espectador. Nas escolas que frequentei, a atividade teatral nunca foi incentivada, por isso fui tentar jogar vôlei, o que não deu muito certo. Na Universidade, cursei Turismo, conheci pessoas maravilhosas, algumas com caminhos cruzados até na Arte, e por 10 anos trabalhei em vários ramos e aprendi muita coisa que me fizeram perceber que o que realmente me move nessa vida é a Arte. Em menos de 6 meses, fui convidado pela minha "mãe artística" para participar da ação de divulgação do Fenata. Eu, que desde pequeno via tudo aquilo, agora tinha a minha primeira chance de participar como um personagem. Junto com uma amiga, em-
barquei nessa aventura que durou quase um mês e me levou a lugares que eu jamais pensaria visitar. No encerramento da 41ª edição do Festival, lá estávamos nós, eu e minha amiga, em um dos maiores teatros da cidade, com uma plateia lotada, interpretando uma pequena esquete que tínhamos preparado. Saímos de lá e em um abraço, decidimos: "Precisamos montar um grupo". Um ano depois, estaríamos apresentando nosso primeiro espetáculo "Por que o Mar Tanto Chora" com mais dois Amigos, quando fomos brindados com o prêmio de melhor espetáculo local. Um incentivo para que não parássemos. Este ano, o Fenata fez 45 anos ininterruptos. Eu completei 31 anos de idade. A nossa história vem se cruzando durante a minha vida. “
Por Fernanda Wolfe Millena Villanueva
jornalismo literário 1 1
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A dona de uma casa nada engraçada
Engoli o café da manhã num gole só e pedi mentalmente para que minhas meias estivessem certas e meu cabelo menos pior do que estava enxergando no reflexo do vidro do ônibus. Tentei desembaçar o vidro com a manga da blusa e vi uma cena dessas que deixam o coração quentinho por alguns segundos: quatro cachorros de rua dormindo perfeitamente enfileirados na calçada em frente a uma casa. Observei a cena por alguns instantes e percebi um pote de água e outro de ração que estavam encostados no muro. "A pessoa que mora aqui deve ter bom coração", pensei. Poderia aqui parafrasear o grande poeta Vinicius de Moraes e dizer que "era uma casa muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada", mas estaria mentindo. Tinha teto, tinha chão e tinha parede, só não era engraçada. O assentamento do terreno parecia ter sido feito às pressas. De longe era possível notar que a construção estava torta. Duas janelas, uma porta lateral e nada demais. Sujeira, muita sujeira. O quintal parecia nunca ter se encontrado com uma enxada. O portão coitado - era todo torto, nem conseguia mais se manter fechado. Mas os potes de água e ração permaneciam lá. O ônibus saiu, mais uma vez. São 22h45 e meus olhos mal conseguiam se manter abertos. Duas senhoras entram e consigo notar que o cansaço que o horário traz à qualquer pessoa não parece atingi-las. O papo entre as duas flui solto e é impossível não as ouvir. - Essa casa já é estranha, né? Deve ser mal assombrada - matraqueia uma delas. - Deus me livre! Bota estranha nisso. Esses dias estava conversando com a Luciana, dona da padaria ali da esquina, sabe? E ela falou que não para ninguém aqui. São 23h50 de uma sexta-feira. Saí tomar uma cerveja com alguns amigos. Quase perco o último ônibus que passa lá na vila, mas consegui embarcar. Estou no mesmo banco de sempre. Uma senhora entra e toma assento. Apesar da visão estar
um pouco turva, da escuridão da noite e de a rua estar mal iluminada, consigo ver perfeitamente quando aquela senhorinha, cuja presença foi minha única companhia durante a breve viagem de 20 minutos do Terminal Central até o Núcleo Pitangui, entra na casa. O ônibus sai, e eu queria ter ficado ali só para espreitar mais um pouco. Rua Haroldo Fernando Geber, ou "Rua 8", como é conhecida pelos moradores do Núcleo Pitangui. É a segunda casa à direita vista por quem vem da rua de baixo - o mesmo à esquerda para quem vem da de cima. É um dos lugares que mais me intrigou nos últimos meses. Nos 22
os mais intímos, tem 53 anos e é professora da rede municipal de ensino há 25. Nossa primeira conversa foi numa tarde ensolarada de sábado no mercadinho da esquina. Estava entretida com retrós de linha das mais variadas cores até que ouço minha mãe/avó tagarelar alto com alguém. Nessa hora eu brotei na frente da minha mãe/avó para alertá-la de que a conversa dela com a amiga estava sendo ouvida por todo o mercadinho - falar baixo nunca foi o seu forte! Eis que ela me puxa para a roda de conversa: - Olha, filha, essa é a mulher que mora naquela casa que você perguntou. Eu não sabia se cum-
fomos sorteados para receber uma casa do governo. Lembro como se fosse ontem o dia em que fomos conhecer a casa. A casa era pequenininha, cozinha, banheiro e um quarto só. Mas, para nós, valia mais do que um palácio. Era a nossa casa. Tudo estava do jeito que tinha que ser, posso afirmar que nunca estive tão feliz como naquela época. Mas o destino quis me pregar uma peça. Com 4 meses de gestação, e o quartinho do meu João Pedro todo arrumado, sofri um aborto. Os médicos não souberam explicar direito o que houve. Só sei que sofri, e ainda sofro muito com isso.
anos em que moro aqui, ou sequer nos sete em que faço uso diário dos ônibus circulares, eu nunca vi ninguém entrar naquela casa. O mais próximo de "humano" que já vi por ali foram os cachorros. A forma como conheci a senhora que entrou na casa naquela noite escura não é lá muito interessante. Um belo dia resolvi perguntar para a minha avó - com quem eu moro e chamo de mãe -, se ela conhecia alguém que já tivesse morado lá. Levando em consideração que, dos 64 bem vividos anos de dona Maria, 43 deles ela passou nesse bairro, não poderia esperar outra resposta a não ser "conheço!”. Dona Ivone Aparecida Silveira, ou "Cidinha" para
primentava a senhora ou se saía correndo de nervoso e vergonha. Ela não falou, mas eu posso apostar que naquele momento deve ter pensado no porquê de eu ter perguntado sobre a sua casa. Foi quando eu conheci a sua história. A casa nunca mais seria a mesma.
Levei alguns anos para conseguir engravidar novamente. Sendo bem sincera, fiquei traumatizada depois de perder o meu primeiro menino. Quando soube que estava grávida pela segunda vez, me vi mais assustada do que feliz, mas o instinto de mãe é uma coisa difícil de controlar. Demorou muito para que eu conseguisse levar uma vida normal. Segui minha carreira como professora, mãe e dona de casa. Vivemos assim por um bom tempo, para mim os dias pareciam como comercial de margarina sabe? Quando aquela família feliz toma café da manhã reunida em uma mesa bonita. Até que chegou o dia em que meu es-
A senhora fala comigo
Eu me casei bem novinha, de 15 para 16 anos. Antes a gente casava mais cedo mesmo. Mas não posso deixar de falarque tive sorte. Meu esposo sempre foi muito bom para mim. No começo, as coisas eram difíceis. Moramos com a mãe dele por um bom tempo, e casa de sogra sabe como é, né? Até que em 1985
poso não conseguiu se levantar para tomar café. De início eu achei que era alguma irritação no estômago causada pelo chá de camomila que ele tomava como se fosse água. Nem fui trabalhar naquele dia, fiquei o tempo todo cuidando dele. O dia passou e nada dele melhorar, fiquei um pouco com medo e consegui convencêlo a irao médico. Esse povo do interior não gosta de lidar com médico, sabe como é, né? Ele fez todos os exames e no outro dia fomos levar para o médico analisar. Eu só lembro que ele disse "vocês precisam ser fortes". Era um câncer maligno que estava corroendo o estômago do meu esposo e ele não tinha mais muito tempo de vida. Resolvi deixar meu emprego e me dedicar totalmente a ele. Afinal, eu sabia que a qualquer momento ele poderia não estar mais aqui. A nossa rotina de comercial de margarina se quebrou totalmente. Eu não via mais graça em continuar viva. Se houve uma época em que a depressão me pegou, foi essa. Eu tentava parecer feliz para ele, para a minha filha, mas era em vão. Quando o João faleceu, eu já estava morta por dentro. Morta por ter perdido o grande amor de toda a minha vida. Depois disso, não vi mais motivos para continuar vivendo naquela casa. Permaneci ali por mais alguns anos até a Beatriz se formar e ter o cantinho dela, depois fui morar com ela. Sei que às vezes sou um estorvo, embora ela nunca deixe parecer, mas, para mim, era triste demais continuar naquela casa. Hoje só volto lá para dar comida e água para os cachorros da rua. O João sempre tratava muito bem deles e eu me sinto na obrigação de continuar fazendo isso. Muitas pessoas me perguntam: - Mas Cidinha, por que você não vende então? E a resposta é bem simples: eu não consigo. Sinto como se estivesse vendendo uma parte de mim. Eu não moro mais lá, mas as histórias que eu vivi naquele lugar ainda moram em mim. Por Bruna Oliveira
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esporte&lazer
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Popularização da cultura geek provoca debate geracional entre membros da comunidade
Apesar da ascensão e popularização do conceito de nerds e geeks, as diferenças entre as gerações e os produtos que elas consomem causam desentendimentos no meio sobre a perda do significado de “ser nerd”. Diego Juraski, 34 anos, é um dos donos de uma loja voltada ao público nerd, que existe desde dezembro de 2015 e é uma das poucas em Ponta Grossa especializadas em produtos da cultura geek. “Por aqui os nerds são mais reservados. A nossa loja é um dos poucos espaços que têm card games, role playing games (RPGs) e outros jogos que proporcionam uma convivência deste tipo de público”, relata Diego sobre a expressão desse grupo geek na cidade, complementando que falta incentivo e recursos para realizar eventos temáticos para os nerds. “Os novos nerds tem uma opção ‘mastigada’ de conteúdo, e apesar do acesso fácil, não buscam conhecer sobre aquele assunto. Só assistem filmes, mas não lêem os quadrinhos em que se baseiam, por exemplo”, afirma o estudante Emanuel Cordova de Oliveira, de 26 anos. Em relação à geração mais velha de nerds em Ponta Grossa, Emanuel afirma que eles são pouco sociáveis e abertos a diferentes públicos. As diferentes gerações de nerds e geeks foram mudando ao passo das novas tecnologias, deixando obsoletos alguns conteúdos popula-
Geeks e nerds compartilham experências de jogos e cultura pop. | Foto: Gabriel Miguel
res entre os públicos mais velhos. Contudo, alguns jovens têm preferência por esses clássicos, sejam filmes, jogos de videogame e tabuleiro, livros ou quadrinhos. Como é o caso de Victor Fagundes, de 18 anos, que cursa Engenharia Civil na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). O acadêmico conta que seu interesse por essa cultura começou quando jogava videogames antigos, como Super Nintendo. “Desde pequeno já era apaixonado por games como Super Mário, Donkey Kong e inúmeros outros”, afirma o estudante. Além de jogos, Victor Fagundes fala que tem interesse em outros conteúdos em geral, especialmente os quadrinhos. “Confesso que nunca gostei muito de ler livros, porém
duas sagas que acho incríveis A estudante ressalta são "O Guia do Mochileiro que muitas mulheres se intedas Galáxias" e "O Senhor ressam pela cultura geek, dos Anéis", enfatiza Victor. mas se sentem desconfortáveis no ambiente. “No meu Machismo na Cultura grupo de amigos nerds eu Pop sou tratada como homem, Muitas feministas nem me consideram meniapontam a cultura geek como na. Além de sempre testar discriminatória em relação às meus conhecimentos sobre mulheres, além de afirmarem os assuntos porque aparenteque seu conteúdo fictício ob- mente meninas não podem jetifica o corpo das mulheres saber desses assuntos”, relata por apresentar personagens Maria Castanho. femininas muito sexualizadas. “As personagens mais famosas A história dos termos são erotizadas demais, usam “nerd” e“geek” roupas muito curtas para atrair O termo “nerd” é o público masculino”, aponta uma expressão de origem ina acadêmica de Biologia, Ma- glesa, e surgiu nas escolas esria Eduarda Dutra Castanho, tadunidenses da década de acrescentando que não é con- 1960, como uma forma pesumido pelo público nada jorativa de chamar um deterque seja protagonizado por minado grupo de jovens uma mulher e não esteja se- pouco sociáveis e muito dexualizado. dicados aos estudos. A partir
PG não aproveita o boxe como ferramenta de inclusão social O baiano Robson Conceição vendeu picolé em praia, carregou compras e trabalhou como ajudante de pedreiro antes de ser o primeiro brasileiro a conquistar uma medalha olímpica no boxe. O que fez mudar sua vida foi um projeto social do esporte voltado a meninos de 13 e 16 anos numa academia de Salvador. “O boxe é um esporte que incentiva a inclusão, a retirada de crianças carentes das ruas, que oferece disciplina e oportunidades às crianças e jovens. Tem cunho social,” afirma o
técnico de boxe Everton William Christiane. O instrutor comenta que a modalidade promove disciplina, interação, respeito, autoconhecimento e a formação social dos indivíduos. Segundo William, existe uma grande dificuldade em localizar projetos sociais dentro do boxe em Ponta Grossa. O município subemprega as potencialidades inclusivas desse esporte, recomendadas por atletas que tomam iniciativa. “Através de projetos formamos grandes campeões e pessoas na sociedade“, conta o boxeador
profissional Paulo Zenidim, um dos poucos instrutores da cidade que trabalha com inciativas sociais na área. Conhecido como “Paulão”, Bueno afirma dar aulas gratuitas para crianças que não têm condições de pagar por elas. A falta de apoio é indicada como a maior causa para um cenário de poucos projetos de inclusão. “Paulão” afirma receber apoio apenas de empresários que conhece pessoalmente. Por Raylane Martins
dos anos 1980, o termo passou a designar grupos de pessoas com interesse por ciências, tecnologia, jogos eletrônicos e obras de ficção científica e fantasia. Esses conteúdos que surgiram no período criaram relações de amizade entre os nerds, que passam a constituir uma “tribo urbana”, caracterizada pelo consumo de ficções e tecnologia como forma de interação. A partir dos anos 1990 e início dos anos 2000, esse tipo de conteúdo começou a ganhar maior popularidade, principalmente no cinema, nos quadrinhos e videogames. A expressão deixou de ter essa carga negativa e passou a ser usada de forma comercial e generalizada para designar um grande número de pessoas que são consumidoras desses conteúdos. A expressão “geek”, também de origem inglesa, criada nos anos 1980 define pessoas interessadas por tecnologias e eletrônica de forma geral. A partir dos anos 2010, com o surgimento dos smartphones e outros equipamentos eletrônicos, os geeks passam a ser público alvo também desta tecnologia. Atualmente, os dois termos são sinônimos para um grande grupo de pessoas adeptas a nova cultura pop, com prevalência do termo “geek”. Por Gabriel Miguel e Julio César Prado
O boxeador brasileiro Robson Conceição atualmente é voluntário em projeto social na periferia de Salvador. | Foto: Luiz Humberto MonteiroPereira/Esportedefato
cultura
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FestivalNacionaldeTeatro emnúmeros
Dados mostram como foram os últimos cinco anos do Fenata em público, grupos, peças inscritas e apresentadas
O Festival Nacional de Teatro (Fenata) acontece em Ponta Grossa desde 1973, sem interrupções, com organização da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), sendo um dos festivais teatrais mais antigos do Brasil. Este ano, o festival – que aconteceu entre os dias 6 e 16 de novembro – está em sua 45ª edição. Nos últimos cinco anos, o festival vem mantendo a média de público de 31.912 pessoas, porém, em 2015 houve uma queda de 25,9% no número de pessoas que participaram do festival em relação aos três anos anteriores. Em contraponto, em 2015 houve maior número de peças inscritas (507), um aumento de 244% em relação aos três anos anteriores, porém, menor número de peças foram oferecidas ao público (132), enquanto os dois anos anteriores (2013 e 2014) ofereceram 176 e 166 espetáculos, respectivamente. Segundo a assessoria da UEPG, em 2015 as inscrições passaram a ser online, além das mudanças no regulamento (novo formato que sele-
ciona por número de peças e não de grupos) e ajuda de custo. A variação de público foi justificada por questões climáticas, eventos com datas conflitantes, calendário de provas nas escolas e universidades, organização das entidades que recebem a Mostra Especial e também capacidade dos teatros. A assessoria explica que a seleção de peças está relacionada ao valor captado com os patrocinadores até a data de encerramento do processo de curadoria. No ano de 2016, houve a participação de 36 grupos e 171 peças apresentadas com um público de 32.227 pessoas.
45º Fenata
Wilton Paz, diretor cultural da Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Culturais (PROEX), diz que o tamanho do festival vai depender do valor captado. “Eu posso captar até 581 mil reais. Geralmente, a gente capta metade disso para fazer o festival, mas quanto mais recursos eu conseguir mais grupos serão chamados”, informa Paz. No dia 27 e 28 de setembro ocorreu o lançamento do Fenata no Teatro Pax com
apresentação da peça teatral “Mazzaroppi, um certo sonhador” premiado como melhor espetáculo adulto no ano de 2016. O objetivo do lançamento era conseguir patrocinadores para o evento pela Lei Federal de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet). No ano passado, o festival obteve patrocínio de nove empresas pela Lei totalizando R$227.878,52. Para 2017, Wilton Paz também abriu financiamento coletivo na internet para a Mostra Especial que levará 210 peças às periferias, creches, presídios, asilos e instituições. O objetivo é conseguir arrecadar R$100 mil até 31 de dezembro. Até o momento somente 0,09% da meta foi alcançada. Os patrocínios para o evento podem ser feitos de diversas maneiras, sendo através da doação de 100% do seu IPTU ou ISSN mensal pela Lei Municipal de Incentivo ao Turismo, com a destinação de 6% do imposto de renda devido ou a restituir pela Lei Rouanet como Pessoa Física ou Pessoas Jurídicas. Cada valor doado receberá um tipo de benefício em publicidade durante o evento.
45º Festival Nacional de Teatro
Mostra Adulta
Júri popular: Macumba Melodramas de picadeiro (empate) Melhor texto original: Melodramas de picadeiro Melhor ator: Gilberto Bellini (Melodramas de picadeiro) Ator revelação: Otávio Sarti (Melodramas de picadeiro) Melhor iluminação: Beto Bruel (Nanook) Melhor atriz: Má Ribeiro (Nanook) Melhor cenografia: Daniel Herrero (Maurice) Melhor atriz coadjuvante: Cléo Fagundes (Macumba) Melhor sonoplastia: Cia. Pé no palco (Agreste) Melhor Figurino: Agreste Melhor ator coadjuvante: Pedro Bonasin (Agreste) Melhor direção: Fátima Ortiz (Agreste) Melhor espetáculo: Agreste
Mostra infantil, bonecos e animação
Melhor figurino: Era uma vez, contos, lendas e cantigas Melhor cenoografia: O Inimigo Melhor iluminação: O Inimigo Melhor ator: Thiago Ubaldo (O inimigo) Melhor sonoplastia: o Patinho feio Melhor atriz: Denise da Luz (O patinho feio) Melhor direção: Max Reinert (O patinho feio) Melhor texto original: Paco e o Tempo Prêmio do Júri: Paco e o Tempo Melhor espetáculo: Paco e o tempo
Outros
Melhor teatro de rua: Safari Urbano Melhor teatro Telmo Faria (22h30): Terrível Incrível Melhor teatro Campos Gerais (infantil): Ai! Sumiram os brinquedos Melhor teatro Monólogo: Uma Mulher Impossível Maior público (mostra especial): As peripécias de Ana e Baltazar - (4265 pessoas) Rádio comida (4230 pessoas)
Gráficos: Infogr.am Imagens: Freepik e google imagens Dados consultados: http://www.uepg.br/fenata/44 e diretamente com a assessoria da UEPG por email. Por Fernanda Wolfe Millena Villanueva
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da redação
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EDITORIAL
A foca também é humana
Foca não retrocede
A proposta da PEC 181, que criminaliza o aborto mesmoemcasosjálegalizados, foi votada na Câmara dos Deputados no último dia 8 de novembro por uma comissão formada majoritariamente por homens. Dos 18 votos, apenas um foi contrário - voto feito por uma mulher. Entoando o coro de “vida sim, aborto não", o Brasil continua no caminho de nãopermitiràmulheradecisão sobre seu próprio corpo. Grupos que atacam o aborto por “defender a vida”, ora cerram fileiras também para instituir a penademorte. Nas edições do Foca Livre deste ano buscamos reportar questões que estão marcando o retrocesso conservador no país. Além dos movimentos LGBTQ+ e o combate à homofobia, a luta a favor das mulheres e ao direito de todos sermos iguais foram defesas constantes na cobertura do jornal. Neste sentido, o jornal se posiciona contrário à postura do vereador ponta-grossense Pastor Ezequiel (PRB) que ameaçou prendera dragqueen Pabllo Vittar, quando, a partir de uma notícia falsa, soube que Vittar ensinaria diversidade sexual nas escolas. Pabllo Vittar estará em Ponta Grossa se apresentando na München Fest emdezembro. O aluno do quarto ano de jornalismo, Daniel Schneider, leu nosso último editorial e fez uma interessante observação -o mesmo grupo de pessoas que defende a Escola Sem Partido é aquele que defende o ensino religioso nas escolas. No caso, tão somente o ensino religioso cristão. Agradecemos esse leitor atento à realidade por evidenciartal contradição. Nesta edição tratamos de outro assunto sensível, a intolerância religiosa que a cada 15 horas o Brasil registra uma denúncia pelo Disque 100. E também da I Semana de Cons-
ciência Negra da UEPG promovida pelo Centro Acadêmico de Serviço Social e pelo Diretório Acadêmico de História. A entrevista desta edição enfatiza a luta dos indígenas pela terra, traz o relato de cacique Huni Kuin que denunciaalutapelaterranoAcre. Na matéria investigativa, escritores de Ponta Grossa reclamam do novo formato da Feira do Livro da cidade, agora voltada para espaço de livros didáticos, e criticam os concursos literários promovidos pela Fundação deCultura. O que nos resta agora é continuarmos nosso trabalho em prol de um mundo justo e livre em que não precisaremos nos esconder por quem nós somos. Esperamos também que você leitor continue conosco. Somente assim saberemos que cumprimosnossopapel.
Retículaboreal
A retícula desse jornal faz referência a uma paisagem ártica. Jornalismo é feito por pessoas confinadas a uma redação,localemqueprosperam lendas e piadas internas. Esta edição se chama “Ártico” porque a estamos planejando há doismesescom“matériasfrias” (no jargão jornalístico, matériasquenãotemmuitoprazode validade para serem publicadas). Curiosamente, uma das peças do Fenata se passou na paisagem ártica. “Contos de Nanook” teve direção de Eduardo Ramos, dramaturgia de Léo Moita e a presença de dois mitos curitibanos - o ator Mauro Zanatta e o iluminadorBeto Bruel. Uma foto da montagem está na contracapa e foi clicada porLucasCabral. Oleitorpode conferir a imagem à esquerda da hashtag#Fenata. Tudo para dizer: aproveite a paisagem fria einóspitadonossoFocaÁrtico.
Edição geral: Barbara Popadiuk, Lorena Panassolo e William Clarindo. Edição de texto: Julio César Prado, Lucas Cabral, Alessandra Delgobo, Fernanda Wolf, Ana Flávia Aranna e Ana Lopes. Edição de imagem: Priscilla Pires, Camila Zanardini e Debora Chacarski. Núcleo de pesquisa e revisão: Rodrigo Charneski e Amanda Santos. Diagramadores: Ingrid Petroski,Jessica Gradin, Maira Orso, Veronica Scheifer, Pedro Andrade, Saori Honorato, Nicolas Ruttes, Millena Villanueva, Millena Lopata, Patrícia Guedes,
Pedimos desculpas pelos erros das edições passadas Edição 193- p. 13
Nas recomendações da página de ideias, no filme “Pitanga”, há um erro no nome do filme: o nome do filme na verdade é: “Sala de cinema: Antonio Pitanga”.
Edição 197- p. 14
No texto sobre cavalgadas na página de Esporte&Lazer, no início do terceiro parágrafo, na frase “os trajes típicos gaúchos- bota, lenço, camisa”, no lugar de traço são dois pontos que separam a frase das vestimentas usadas por cavaleiros e amazonas.
Edição
197-
p.
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No texto "Abrigo promove tarefas, brincadeiras e oficinas", na página de cidadania, a pedidos da entrevistada, o repórter usou o pseudônimo de Maria, pois ela não quis ser identificada.
OMBUDSMAN
Antídoto à burocracia
No primeiro texto que fiz para esta coluna, em que indicava algumas premissas para se produzir um bom jornal laboratório, citava a criatividade como uma delas. Em tempos de banalização da informação pelas redes sociais, buscar formas de atrair e manter o interesse dos leitores é um exercício constante. Apesar de boas pautas e temas palpitantes, alguns textos do Foca Livre têm esbarrado no tratamento burocrático. É o que acontece, por exemplo, quando se inicia uma reportagem relatando simploriamente algo factual (caso do texto sobre câncer de mama, na última edi-
ção) ou enfileirando dados estatísticos (matéria sobre violência contra as mulheres). Quando um filme ou livro não te envolve desde o início, são grandes as chances de ele ser abandonado. Assim é também com os textos jornalísticos. Mais do que nunca, informação fria e objetiva não é tudo. Pensar fora da caixa e enxergar além dos dados é regra básica para manter viva a força do jornalismo.
Anderson Gonçalves é jornalista formado pela UEPG, foi repórter e editor nos jornais Diário dos Campos e Gazeta do Povo
RECLAMAÇÃO O coordenador do curso de Bacharelado em História da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), José Roberto De Vasconcelos Galdino, entrou em contato com repórteres do Foca Livre afirmando que a matéria da página 2 (UEPG) do último jornal não consultou professores contrários à proposta de suspenção do Bacharelado em História no vestibular da UEPG. O professor foi convidado a enviar uma carta à redação. A redação (21/11/2017)
CHARGE
Departamento de Jornalismo Ana Istschuk, Guilherme Bronosky e Lorena Panassolo. Repórteres: Consulte a autoria das reportagens diretamente UEPG - Campus Central Praça Santos Andrade, nº01- Centro na página da notícia. CEP: 84010-790 - Ponta Grossa - PR Foca Livre éum jornallaboratorialdo segundo ano do Professores Responsáveis: Ben-Hur Demeneck (DRT 5664 - PR) curso de Jornalismo da UEPG. Cibele Abdo Rodella (MTB 22,156 SP) Os textos de opinião são de responsabilidade de seus Impressão: Grafinorte, Apucarana (PR) 2000 exemplares autores e não expressam o ponto de vista do jornal. Tiragem: Telefone: +55.42.3220.3389 Endereço (cartas, CDs e DVDs para o Foca): Contato: focalivre25@gmail.com
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entrevista
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Cacique explica como sua tribo utiliza a cultura e a medicina como forma de resistência O cacique Mapu Huni Kuî, da tribo dos Huni Kuî, do Acre, viaja pelo país para palestrar em universidades sobre sua cultura e sua medicina natural sagrada. Por onde passa, realiza eventos com sessões desta cura tradicional de seu povo. Ele afirma que, ao ensinar sobre sua cultura, legitima a luta de seu povo, que recentemente foi retirado das terras em que se instalaram há dois anos, pela prefeitura do município acreano de Plácido de Castro. No dia 30 de outubro, Mapu e seu irmão, Ixã Huni Kuî, estiveram na UEPG para apresentar aos alunos de Jornalismo sobre a situação de sua tribo, e como o conhecimento de sua cultura fortalece a reivindicação por terras.
Como foi a trajetória após perder as terras indígenas? Em 2012, sai da minha terra indígena para estudar. Passei por Marechal Taumaturgo e Cruzeiro do Sul, ambas na fronteira do Acre com o Peru. Fui para Manaus e em seguida voltei ao Acre, onde passei por Taruacá, Feijo, Rio Branco e Plácido de Castro. Não foram fáceis esses cinco anos de constante migração. Em Plácido de Castro, nós, Huni Kuî, fomos indicados por um ex-prefeito para cuidar de um parque abandonado na cidade. Para mim foi um privilégio, porque estava procurando um lugar para me instalar. Iniciamos os trabalhos com a prefeitura, a Funai (Fundação Nacional do Índio) e o Governo do Estado. Nós entramos na área em 2015, com várias expectativas de projetos de preservação da nossa cultura, e agora estamos sendo retirados da área pelo atual prefeito. Isso aconteceu porque denunciamos um vereador que queria nos explorar e prostituir as mulheres da comunidade. Não somos mais bem vindos naquele município, apesar da
meu avô. Logo, eu passarei para meus filhos, irmãos e netos. E eles também o farão. Essas lendas são importantes porque representam nossa realidade e a nossa vida.
Que relação vocês buscam manter com outras partes da comunidade?
Entrevista com índios da etnia Huni Kuî para o curso de Jornalismo da UEPG. |Foto: Gabriel Miguel.
nossa presença na comuni- não percebemos isso. A nosdade e escolas. sa medicina representa a cura física, mental e espiriComo a Funai se posici- tual. Às vezes sofremos porona em relação ao ocor- que o irmão está doente. rido? Quando todos se aceitarem como membros de uma irO que me entristece é ouvir mandade, a nossa luta será da Funai "que poderia ter uma luta coletiva. feito algo para impedir a retirada", mas se fizesse teria Como foi a iniciativa de que ajudar outras tribos expor a sua luta nas unicom problemas de demar- versidades? cação. Nós indígenas sofremos E todos esses grupos preconceito por falta de coprecisam de espaço, por nhecimento. Nossa ideia foi que não ajudar todos? de entrar nas universidades para apresentar nossa situaA Funai nos atrapalhou, e ção para que os acadêmicos hoje dificulta o movimento possam compreender a reaindígena. É triste ver um ór- lidade do cotidiano dos pogão federal criado para vos indígenas. Usamos esse apoiar a nossa causa por ter- espaço para contar lendas ras tomando a contramão, do nosso povo. Outro projecomo tem feito ultimamen- to nosso oferece aos alunos te. a oportunidade de entrar na nossa comunidade, para coComo a medicina nhecer nosso povo e poder tradicional que vocês desenvolver pesquisas sobre trazem para cá ajuda na nossas artes, medicina, reliluta de vocês? gião e culinária. Em todas as universidades que visitaTrazemos a cura porque ela mos, colocamos essa profaz a diferença. Nós indíge- posta de firmar parceria nas acreditamos que a nossa para que haja apoio na medicina tradicional é um compra de terras próprias, patrimônio cultural da hu- em troca desse conhecimanidade, que muitos “ir- mento repassado. Além da mãos” não conhecem. É UEPG, já estive em uma através desses encontros cu- universidade de Joinville, rativos que a gente se reco- onde os alunos fizeram uma nhece como parte da rifa para nos ajudar, e em comunidade e legitima nos- Chapecó. São parcerias que sas tradições. Viemos da não surgem da noite para o mesma criação, e as vezes dia, mas cada instituição
pode nos ajudar de alguma forma.
Sobre as histórias que vocês contam para os alunos, o que elas representam para vocês? Essas histórias são a nossa resistência, nossa identidade. São sagradas. Por isso são repassados para as novas gerações, como fez comigo meu pai, que aprendeu do
A gente sempre busca se aproximar, oferecemos nossos conhecimentos da medicina sagrada para lugares onde há problemas de saúde e apresentar nossa visão de mundo, ensinar as nossas tradições, repassadas por nossos anciões. É o que podemos oferecer. E a partir de então construir uma relação de irmãos. Em troca buscamos o reconhecimento da nossa luta, nossa cultura e nossos direitos pelas pessoas de fora da nossa cultura. Como falei, nossa luta é uma só: que as pessoas nos reconheçam como irmãos e juntem à causa. Por Gabriel Miguel e Hygor Leonardo
Representantes denunciam determinação da Prefeitura Plácido de Castro. | Foto: Gabriel Miguel.
45 anos Festival Nacional de Teatro
PorDebora Chacarski, Gabrel Miguel, Lucas Cabral, João Guilherme Castro, Marina Santos, Saori Honorato eWilliam Clarindo.
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