Foca Livre - Ano 25 - Edição 195

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Jornal Laboratório | Nº 195

Agosto de 2017 | Jornalismo UEPG

Assistênciaestudantil daUEPG não atende adequadamente

Revitalização do prédio daEstação Saudade deve terminarem 2021

Dos estudantes beneficiados pela assistência estudantil hoje na UEPG, apenas cinco moram na Casa dos Estudantes e sete recebe a bolsa permanência desde julho de 2017. Novo Plano de Assistência Estudantil entre em vigor com a volta do Diretório Central Estudantil (DCE). Confira também um quadro comparativo com outras universidades do Paraná.

Professor da UEPG analisa decisão que absolveu governo pelo 29 de abril Comofuncionaos TribunaisdeContas

O Foca Livre explica o que é um tribunal de contas, sua atuação, e apresenta dados recentes da fiscalização do TCE do Paraná nos investimentos públicos da prefeitura de Ponta Grossa, e os processos que ocorreram por conta dessa regulamentação.

Lucas Cabral

OprédiodaEstaçãoSaudadeestáinterditadodesde2016eaguardainíciodasreformas. | Cultura, p. 13

Licenciaturas na UEPG abordam pouco sobre diversidade de gênero Imigrantes buscam assistência para permanecer em PG

Mulheres disputam espaço e visibilidade no esporte

As mulheres lutam diariamente para ganhar espaço diante de esportes considerados exclusivamente masculinos. A busca do reconhecimento tem resultado em times femininos como foi o caso do time de Rugby de Ponta Grossa Laravi. O esporte ganhou presença nas Olimpíadas somente em 2016. Em contrapartida o Chearleading considerado um esporte feminino também ganha destaque nas competições, mas mesmo assim ainda recebe preconceito por isso. Confira como anda o cenário esportivo das mulheres em PG. Saori Honorato

Agosto Dourado: ações de unidades de saúde incentivam amamentação

Saori Honorato

Conheça a história do engraxate da Praça do Barão do Rio Branco


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UEPG

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UEPG sofre com falta de manutenção e segurança Texto e fotos por Rafael Santos

A crise econômica que atinge o Brasil tem reflexo nas universidades estaduais do Paraná. A Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) é afetada nos serviços básicos como a falta de manutenção de salas de aulas, banheiros, corredores e espaços de convívio acadêmico. A falta de segurança, como a iluminação no campus de Uvaranas põe em risco a segurança dos estudantes. A instituição revela a escassez de investimentos por parte do Governo Estadual e os cortes orçamentários preocupam, como o fim da autonomia universitária ocasionado com a tentativa de implantação da Meta 4 e a insuficiência de recursos para obras de manutenção e contratação de professores e funcionários.

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Campus Central

Campus Uvaranas

Foto de fundo: Fernanda Wolf

Invisibilidade de gênero: as disciplinas da UEPG não discutem questões LGBT Em uma análise de todas as matrizes curriculares dos cursos de licenciatura da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), disponível no Catálogo de Cursos 2017, foram encontrados 14 resultados na busca da palavra diversidade, e cinco resultados da palavra sexualidade. Nenhum resultado foi encontrado na busca das palavras LGBT, minorias e homossexualidade. O Plano Nacional de Educação (PNE) organiza a educação do Brasil e dentro das metas estabelecidas está a “superação das desigualdades e à valorização da diversidade”. Para isso, as universidades devem oferecer nas disciplinas espaços de discussão que abordam essas temáticas. Segundo o site do PNE, o plano é responsável por políticas educacionais que gerem metas e caminhos e tem como objetivo garantir o direito à educação básica; promover a redução das desigualdades trabalhando com a di-

versidade e cuidado com os profissionais da educação. A coordenadora do Departamento de Estudos da Linguagem, Jeane Mons, explica que dentro do Plano Nacional de Educação vigente não existe algo específico para trabalhar com grupos LGBT e gênero. “Com a medida no novo Ensino Médio, eles não são claros em relação à diversidade”, afirma. De acordo com a professora, dentro das novas matrizes curriculares do curso de Letras da UEPG, os professores são instruídos a trabalhar questões de diversidade e gênero. “Nós temos uma disciplina que se chama Seminários Temáticos sobre a realidade escolar brasileira. Já é uma preparação para os acadêmicos trabalharem com esses assuntos, como a questão racial”, ressalta Mons. Licenciada em Ciências Biológicas pela UEPG, Jorleide Carvalho explica que as questões de diversidade eram trabalha-

das na disciplina de Laboratório de Ensino em Ciências e Biologia. Segundo Carvalho, a matéria apresenta a diversidade de temas e abordagens que podem ser exploradas na sala de aula e, através disso, os alunos têm possibilidade de pesquisar sobre os assuntos que serão debatidos em sala de aula. A estudante de Licenciatura em Letras, Kamyla Leal, afirma que em uma das matérias previstas na grade do curso estuda os documentos dos Parâmetros Curriculares Nacionais e Diretrizes Curriculares Estaduais (discutem sobre diversidade, sexualidade, raça e cultura em geral) que dão amparo legal para tratar sobre certas situações, como a questão LGBT. “Respaldo legal a gente tem pra debater sobre isso, mas na prática não funciona assim, porque muitas vezes os pais nos questionam sobre o que nós estamos ensinando à partir da diversidade, como se estivéssemos incitando e pe-

Bandeira LGBT colocada em frente à UEPG Central. | Foto: Ingrid Petroski

dindo para que eles que os futuros professores busquem a sexualidade”, entendam sobre identidades para que seus alunos se enfatiza a acadêmica. sintam contemplados. “É O professorpre- uma questão de extrema cisa entendera relevância, porque o professor precisa entender a complexidade das identidades complexidade das identimúltiplas, e es- dades múltiplas, e essas sas questões ne- questões necessitam de cessitam de preparo”, declara. Segunpreparo. Aparecida Ferreira do a professora, os acadêmicos do curso estão A professora do de- saindo preparados para trapartamento de Letras da balhar com diversidade, UEPG e coordenadora do uma vez que o graduação Núcleo de Relações Etni- conta com grupos que tracorraciais, de Gênero e Se- balham com essas questões xualidade (NUREGS), LGBT. Aparecida de Jesus FerreiPor Ingrid Petroski e ra, conta que é importante Pedro Andrade


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Novo plano de assistência estudantil falha em atender comunidade acadêmica

Neste ano, 344 es tudantes da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) são beneficiados pelo Plano de Assistência Estudantil. De acordo com o Artigo nº4, do Estatuto da Universidade, referente ao projeto de assistência, o Plano tem por objetivo prestar apoio financeiro e social a universitários em condições que prejudi quem a continuidade de seus estudos. O Estatuto contem pla diferentes atividades, como a isenção ou descon to do pagamento da refei ção no Restaurante Universitário, direito à mo radia na Casa do Estudante e ao fundo de assistência estudantil, através da “bolsa-permanência”. Dos estudantes que utilizam do Plano de Assistência Estu dantil, 352 possuem o des conto na alimentação, cinco moram na Casa do Estudante e apenas dez re cebem a “bolsa-permanên cia”, destes, sete recebem desde julho de 2017. Ou tras atribuições incluem a permanência de 21 estu dantes indígenas e 12 portadores de necessidades especiais. O coordenador da

Restaurante universitário do campus central no horário de almoço. | Foto: Arieta Almeida

ram o preço”, relata o alu no. Outro benefício que está presente no Plano é o acesso à moradia na Casa do Estudante do Campus Uvaranas, desti nada aos alunos de outras cidades. “A estrutura é bem simples, a casa é dividida em quartos de até duas pessoas. Tem uma lavande ria, mas está destruída. Não tem cozinha”, relata Murillo Costa, que conse guiu uma vaga na Casa do Estudante. Segundo ele, a demanda por moradia lá é baixa. Dia 17 de agosto foi a inauguração da nova Ca sa do Estudante, que rece beu um investimento de mais de duzentos mil reais e irá acomodar 16 novos acadêmicos. O estatuto do re cém fundado Diretório Central Estudantil (DCE) prevê o acompanhamento constante do funciona mento da política de assis tência estudantil, além de prestarem assistência ao es tudante, fornecendo auxílio e soluções das questões básicas de permanência, como explica a acadêmica de Direito Caren Pereira. “Não há um acompanha mento do que é decidido

Coordenadoria de Auxílio acadêmicos de baixa renda e Orientação ao estudante na universidade. “Isso con (CAOE), Milton Anfilo, tribuiria para elitização da trabalha com permanência instituição. É importante a estudantil na UEPG há manutenção da gratuidade. três anos. “Antes da políti - O aluno carente já tem ca estudantil o estudante uma grande dificuldade de tinha que buscar algum ti - acessar a universidade”, expo de bolsa para se manter plica o coordenador. A na universidade e a univer- maioria dos alunos assisti sidade não tinha instru - dos estão relacionados ao mento para manter Restaurante Universitário financeiramente o estu - (RU), que considera a ren dante, não tinha bolsa per- da familiar do estudante manência e não tinha para a oferta de desconto e moradia, apenas algumas isenção do pagamento. isenções, então o aluno fi O acadêmico do cava carente por precisar curso de Letras/Inglês Luiz de uma ajuda da institui - Guilherme Sandeski assim ção”, ressalta Anfilo. como outros alunos, recorEm relação a fre - reu ao CadÚnico após o quente discussão sobre a preço da refeição subir em privatização das universi - 100% no semestre passado. dades públicas, Milton “Antes eu pagava o preço Anfilo afirma que isso afe - normal pelo almoço, só fiz taria na permanência dos a isenção porque aumenta Livros de Direito e de Biologia lideram RU da UEPG possui horário de ranking de empréstimos na biblioteca funcionamento mais curto da UEPG Entre as maiores universidades Livros de Direito e de Biologia estaduais do Paraná, a Universidade Esestão entre os dez mais emprestados na tadual de Ponta Grossa (UEPG) tem o Biblioteca da UEPG, considerando o menor horário de funcionamento do resperíodo de 1 de março a 16 de agosto. Oito taurante universitário (RU) central 11h dos dez primeiros livros mais até às 12h30. Já em universidades estaemprestados na biblioteca do campus duais como Londrina e Maringá o almoço Central são de direito, sendo três deles de fica disponível das 11h até as 14h (UEL) e direito civil e dois de direito penal. O livro das 11h as 13h (UEM). A UNIOESTE teve “Curso avançado de processo civil” é o o restaurante inaugurado este ano e atenprincipal. Em oitavo aparece “Análise de das 11h30 às 13h30. financeira de balanços”. Já no Campus Estudantes de cursos da manhã da Uvaranas, “Fundamentos de física” é o UEPG reclamam da falta de flexibilidade primeiro colocado seguido por livros da do horário. “Tenho aula até 11h30, mas histologia e bioquímica. Em oitavo não acho justo o horário do RU. Apesar de colocado, há “O cálculo com geometria nunca ter perdido o almoço, fica em cima da hora”, relata a estudante de comércio analítica”. exterior Thayane Gabrieli Ferreira A biblioteca possui sede nos dois Os horários de funcionamento do campus. A administração atualmente fica jantar variam, sendo das 17h30 às 19h30 no Centro e será deslocada para o campus (UEL); 18h às 19h30 (UEM); 18h30 às Uvaranas com a inauguração da nova 19h30 (UNIOESTE) e 17h30 às 19h biblioteca prevista para este ano. (UEPG). Por Natália Paes de Souza Barbosa Por Maria Fernanda Laravia

pela administração da uni versidade, os estudantes não são ouvidos. Houve um aumento no preço do RU sem fundamentação para tal, um valor decidido pura e simplesmente pela vontade dos conselheiros”, reclama a aluna.

Em outras universidades estaduais do Paraná, os benefícios são semelhantes aos contemplados pelo estatuto da UEPG, porém existem algumas diferenças. Na Universidade Estadual de Londrina (UEL), o plano de assistência estudantil inclui a isenção do transporte público. Na Universidade Estadual de Maringá (UEM), há a prestação de auxílio médico para alunos e funcionários dependentes químicos. Na Universidade Estadual do Centro-Oeste possui um projeto de inclusão em atividades para alunos de baixa renda, em situação de risco e minorias. Por Gabriel Miguel e Julio César Prado

UEPG oferece curso de informática O professor do Departamento de Informática da UEPG, Reinaldo Mayer, oferece curso gratuito na área de Mediações Digitais Educativas. As aulas iniciaram no dia 7 de agosto na sala do Lalupe (Laboratório Lúdico Pedagógico) da UEPG central e as inscrições ainda estão abertas. “Na oficina número um, eu começo com macetes, desde Paint, Word e PowerPoint, depois eu parto para partes mais profundas", explica Reinaldo Mayer. O professor conta que a oficina número dois abrange área de edições de imagens e vídeos. As aulas visam utilizar a informática nas salas de aula e são divididas em três grupos com nove vagas em cada uma. A turma A terá aula nas segundas, das 18h às 20h. Turma B, quartas-feiras, das 9h às 11h. E os encontros da turma C serão nas quintas, das 14h até as 16h. O curso tem 30 horas de carga horária. Para informações complementares e inscrições, entrar em contato com o email ramayer1952@gmail.com. Por Erica Fernanda


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Imigrantes recorrem a projetos de assistência durante período de adaptação Organizações religiosas oferecem auxílio com documentação para migrantes e sustento temporário para cidadãos em situação de risco, enquanto iniciativa universitária fornece suporte jurídico.

Nassim, Síria

Quarta feira, 28 de junho. Chegamos ao foodtruck de Nassim por volta das 18h30. A entrevista foi agendada após contato com a namorada Priscila, brasileira, que não pôde comparecer. Surge a primeira dificuldade: o idioma. No sábado, 1º de junho, tivemos uma conversa intermediada com Nassim .

Nassim é sírio, tem 34 anos e está no Brasil há um ano e meio. Em seu país de origem, presenciou a guerra entre rebeldes, o ditador Bashar Al-Assad e o Estado Islâmico. Ele faz questão de explicar que o cenário de bombardeios não é igual em todas as cidades, algumas são mais atacadas, outras nem tanto. Contudo, a consequência é a mesma para a população: o avanço da guerra dificulta a alimentação, eleva o preço de produtos e reduz a

Paulin, Haiti Segunda-feira, 03 de julho. Encontramos Paulin no horário de intervalo do trabalho, próximo a um supermercado da cidade. A haitiana fala em português com desenvoltura, apesar do sotaque. Paulin está no Brasil há quase dois anos. Ela veio do Haiti em outubro de 2015, com a filha de dois anos, para acompanhar o marido, Ludson, que já residia no país, cursando mestrado em Agronomia. A haitiana também é engenheira agrônoma, faculdade que cursou em Cuba. Por isso, não estava no Haiti quando ocorreram os terremotos em 2010. A família de Paulin, no entanto, viu de perto os tremores de terra e, mesmo não sofrendo nenhuma

oferta de água. A proximidade da guerra e a dificuldade em conseguir itens básicos afasta as pessoas de seus lares. Jaramana, cidade de Nassim, integra a região metropolitana de Damasco e possui maioria de população cristã. “Conversando com todos, [a guerra] vira o principal assunto. É uma guerra de segredos, tem vários motivos dentro de uma única guerra. Cada um que entra, é com interesse próprio”, explica Priscila Castro, namorada de Nassim. O sírio conta que quase morreu três vezes, por conta de bombardeios, e a guerra foi o que o trouxe, junto da família, para o Brasil. No período de adaptação em um novo país, os maiores desafios costumam ser as diferenças culturais e linguísticas. A família de Nassim chegou a Ponta Grossa através da organização Missão em Apoio a Igreja Sofredora (MAIS) em parceria com a Comunidade Cristã, e por isso não

passou pelas dificuldades que acometem outros refugiados sírios. A MAIS providencia a documentação necessária, o que fez com que o maior obstáculo fosse a linguagem. Em Jaramana, Nassim trabalhava em uma lavanderia. Em Ponta Grossa, possui um foodtruck de shawarmas, comida síria típica, e lanches. A conversa com Nassim foi intermediada pela namorada devido à dificuldade de compreensão do português. Priscila explica que uma das dificuldades em aprender o novo idioma está na falta de contato com a língua portuguesa, pois a família continua falando a língua-mãe. O Projeto Renovare, da Primeira Igreja Presbiteriana de Ponta Grossa (PIPPG), também atende refugiados através da MAIS. O projeto surgiu da necessidade de socorrer as famílias que estavam sendo vítimas da guerra ou que corriam risco por conta da fé cristã. A MAIS realiza o primeiro

contato com as famílias e providencia a mudança de país. Até agora, a Primeira Igreja Presbiteriana recebeu uma família síria, que não depende mais do apoio da Igreja e está integrada à sociedade. A secretaria da PIPPG afirma que a igreja ajudou a família de modo

integral: “Durante dois anos a igreja providenciou moradia, sustento (pagando aluguel, luz, água, alimentação, internet etc), aulas de português, auxílio para regularizar documentação junto a Polícia Federal, escola para as crianças, e emprego para o pai”.

consequência física, passou pelos temores que eles ocasionaram. “Depois que aconteceu o terremoto, muita gente tinha medo de ficar em casa. Eles estavam dormindo quase na rua, todo mundo estava dormindo na rua”, lembra. De acordo com Paulin, o apoio ao Haiti vindo de outros países aumentou após os abalos sísmicos. O Acordo Básico de Cooperação Técnica e Científica entre Brasil e Haiti existe desde 2004 e foi intensificado em 2010. Atualmente, são cinco projetos em execução, segundo a

Agência Brasileira de Cooperação do Ministério das Relações Exteriores, em áreas diversas, como sanitarismo, hotelaria, recenseamento, segurança pública e desenvolvimento infantil e para deficientes. O processo da vinda de Paulin foi simples. “Meu marido enviou uma carta para a embaixada do Brasil no Haiti e em uma semana me deram o visto”, relata. Dois meses após chegar em Ponta Grossa, começou a trabalhar em um supermercado. Ela afirma que a adaptação não foi tão difícil. “Eu já sabia falar espanhol. Como português e espanhol tem uma relação, escutando gente falando e conversando no mercado com as clientes, eu aprendi a falar”, conta Paulin. Também foi através da conversa com brasileiros que Paulin e Ludson co-

nheceram a Cáritas Diocesana de Ponta Grossa, que atua como organismo da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). De acordo com Érica Clarindo, assistente social da Cáritas, os imigrantes procuram a instituição buscando auxílio com documentação e trabalho. Entre 2014 e 2016, a Cáritas deu assistência a cerca de 50 migrantes. “Já recebemos pessoas da Costa do Marfim, Angola, Bangladesh, Cuba”, afirma Érica. Esses atendimentos, no entanto, foram esporádicos. A comunidade mais expressiva apoiada pela Cáritas ponta-grossense foi a dos haitianos. A instituição deu início a um de curso língua portuguesa para cerca de vinte alunos haitianos e também cubanos. O grupo foi reunido por Ludson, que se voluntariou na organização. As aulas eram

semanais e ministradas por um voluntário brasileiro. Mas o curso, que deveria durar trinta aulas, se desfez no início de 2017. “Ano passado a gente fez bastante atividades, no Natal fizemos um almoço, mas neste ano não conseguimos resgatar isso”, afirma Érica. De acordo com a assistente social, a inserção dos migrantes no mercado de trabalho foi uma das razões para o fim do curso de português. “A maioria conseguiu emprego e trabalha no sábado, aí se desmotivaram. O Ludson, que era o líder do grupo, voltou para o Haiti e os outros ficaram sem um norte”. Depois de terminar o mestrado, Ludson arrumou um emprego no país de origem e voltou para lá. Paulin continua no Brasil, com a filha de 4 anos, mas considera voltar para o Haiti também.


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investigativo

Poderpúblico

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As medidas de auxílio para refugiados em Ponta Grossa e os desafios nas políticas públicas para maior assistência

A Prefeitura Municipal de Ponta Grossa não tem nenhuma ação voltada especificamente a imigrantes ou refugiados. De acordo com a assessoria da Secretaria Municipal de Assistência Social, os Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) atendem a pessoas em situação vulnerável em geral e registram 25 auxiliados de quatro nacionalidades diferentes: síria, paraguaia, haitiana e angolana. A assistência consiste no fornecimento de informações sobre outros serviços públicos, como saúde e educação. O Departamento de Direito Processual da Universidade Estadual de Ponta Grossa, por meio do Projeto Caminhos da Cidadania, presta assistência jurídica a migrantes, imigrantes e refugiados em documentação e legalização, por exemplo. Até o momento, duas famílias buscaram auxílio do projeto. Kleber Cazzaro, coordenador do projeto, afirma que o número de refugiados no Brasil se explica por uma imagem falsa sobre o país no interior. “Há uma ilusão sobre o Brasil de que é um país com empregos, boa

alimentação, boa situação de moradia”, explica. De acordo com Cazzaro, a situação cobra políticas públicas eficientes de acolhimento e regularização. “As fronteiras abertas são naturais no contexto de globalização e o Brasil deu um recado ao mundo: estamos de portas abertas para prestar auxílio a quem precisa. Contudo, são necessárias políticas públicas para não apenas receber as pessoas mas dar condições de permanência com dignidade”.

O Brasil deu um recado ao mundo: estamos de portas abertas para prestar auxílio a quem precisa. Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), no primeiro semestre de 2016, 3,2 milhões de pessoas foram forçadas a sair de seus locais de residência por causa de conflitos ou perseguições. Um documento divulgado pelo Comitê Nacional para os

Refugiados (Conare) em junho deste ano mostra que, no Brasil, 9.552 pessoas tiveram a condição de refugiadas reconhecida e desde 2011, quando se deu início ao conflito, 3.772 sírios solicitaram refúgio no Brasil. Foi também em 2011 que as solicitações de refúgio começaram a aumentar de forma expressiva, chegando ao maior número em 2015, com mais de 28 mil solicitações. Nos últimos seis anos, o número de refugiados reconhecidos teve aumento de mais de 130% no país. Das 10.308 solicitações de refúgio feitas somente em 2016, a maioria é de venezuelanos, que corresponde a quase 33%. Já os haitianos ocupam a quarta posição – com 646 pedidos, seguidos dos sírios, que fizeram 391 solicitações. Em contrapartida, segundo dados da Polícia Federal, as solicitações da Síria foram as que tiveram maiores números de deferimento, somando 35%, enquanto nas da Venezuela, apenas 14 foram deferidas em 2016. Em 2016 houve um aumento de 12% no total de refugiados no Brasil, de 51 nacionalidades diferentes. No Paraná, foram 455

pedidos de refúgio em 2016, vindos de mais de 12 países. O governo estadual assinou, no dia 21 de junho deste ano, o protocolo de intenções de caráter humanitário para a promoção e defesa dos direitos dos migrantes, refugiados e apátridas que vivem no Paraná. O documento serve para colocar em prática as garantias legais dos que chegam ao Estado, como questões relacionadas ao

visto, trabalho e educação. Nesse contexto, o governo brasileiro sancionou uma nova Lei da Imigração, que busca o fortalecimento do sistema de refúgio no país. Kleber Cazzaro aponta que a questão dos refugiados é, na verdade, uma questão de direitos humanos. A Lei entra em vigor em novembro, 180 dias após a publicação oficial.

Por Ana Cláudia Pereira Bruna Alexandrino e Giulia G. do Prado


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cidadania

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Programa Mais Médicos de PG enfrenta polêmica entre profissionais da área

Em coletiva feita pelo Portal Periódico, o Secretário da Saúde aponta a importância do programa Mais Médicos para Ponta Grossa

O programa Mais Médicos completou no dia 8 de julho quatro anos de criação e tem o objetivo de trazer médicos de fora do país para suprir a falta de profissionais nas Unidades Básicas de Saúde. O programa criado em 2013 no governo da expresidenta Dilma Rousseff, conta com 18.240 vagas em 4.058 municípios de todo o país, cobrindo 73% das cidades brasileiras e 34 Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSRIs). Segundo dados do Portal da Saúde, as vagas para o programa são oferecidas prioritariamente aos médicos brasileiros. No caso de não preenchimento, elas são completadas por estrangeiros. Hoje o programa conta com cerca de 11 mil intercambistas de todas as nacionalidades. Um estudo realizado pela USP aponta que o Brasil possui 2,09 médicos a cada mil habitantes, uma média superior a recomendada pela OMS (Organização Mundial da Saúde), que

Unidade de Saúde Dr. Antônio Russo, Bairro São José. Foto: William Clarindo é de 1 médico a cada mil pes- mos médicos para preencher soas. Porém esses médicos todos os vazios assistenciais não são exclusivos da rede existentes em todo o Brasil”, pública e estão presentes enfatiza o secretário. também nas redes particulaSegundo o Coorderes de saúde. nador do curso de Medicina Em entrevista para o da UEPG Ricardo Zanetti, a curso de jornalismo da Uni- questão de falta de médicos versidade Estadual de Ponta brasileiros em algumas reGrossa (UEPG) o secretário giões não pode ser vista de Adjunto de Gestão em Saú- forma simplista. “Qualquer de, Robson Xavier da Silva, profissional almeja trabalhar afirmou que o programa nas melhores condições deMais Médicos é essencial pa- pois de formado. E quando ra o país. “O programa foi você é lançado para trabalhar fundamental para o Brasil, num lugar onde não concorsem ele hoje nós não tería- da com as condições de tra-

balho, acaba desistindo”, relata o coordenador. Zanetti ressalta ainda que grande parte dos formandos iniciam a carreira em algum programa de saúde pública, porém, saem para ingressar na rede particular. O médico Hilton A. Dantas Filho de 48 anos, trabalha há 18 anos pelo SUS (Sistema Único de Saúde) e também atua no sistema privado. Ele relata que existem diferenças entre as condições de trabalho do SUS e do sistema privado. “As principais diferenças estão nas condições de trabalho, humanas e materiais. No sistema público já enfrentei dificuldades em encaminhar pacientes em situação grave e até falta de medicação específica para tratamento adequado dos pacientes”, ressalta o médico. Dantas expôs sua posição em relação aos investimentos do governo brasileiro em contratar médicos estrangeiros no Projeto Mais Médicos, em vez de investir

em médicos do país. Para ele sobressaem os fatores econômicos e políticos. “Econômico, por ser mais barato remunerar médicos estrangeiros do que oferecer remuneração digna ao médico brasileiro para incentivá-lo a ir para os interiores remotos do nosso país. E outro em esfera política, por causa do favorecimento das relações internacionais em relação a pseudo cobertura da saúde do país”, declara o médico. O estudo Demografia Médica no Brasil 2015 realizado pela Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) com apoio do Conselho Federal de Medicina (CFM) e Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), aponta que o Brasil possui mais de 400 mil médicos formados e aponta a má distribuição de médicos por regiões e localidades, como principal problema do sistema de saúde brasileiro. Por Ana Flávia Aranna, Camila Zanardini, Letícia Dovhy

Ex-detentos sofrem com reintegração Cursos profissionalizantes e nível escolar são atenuantes para contratação das(os) ex-detentas(os) Para que a reintegração dos ex-detentos na sociedade aconteça efetivamente, principalmente no mercado de trabalho, depende da mediação entre as instituições prisional e empregatícia. Em Ponta Grossa, o Patronato é umórgãoquefiscalizaasaçõesdos ex-detentos, nominados de “assistidos”. Estes cumprem horas de serviço comunitário devido a determinação judicial do Fórum. A Agência do Trabalhadoré responsável pormediaras vagas de emprego regulares (com carteira assinada) e os trabalhadores cadastrados. A Assistente Social Rosângela Cladeira Legat confirma que não há necessidade de especificidades para ex-detentos procurarem uma vaga, ou seja, podem concorrer a qualquer vaga se possuiro requerido. Na agência são analisados os currículos de pelo menos cinco candidatos para cada vaga ofertada. Legat afirma que a contratação não é simples. “Na maioria das vezes as empresas têm receio de empregarum ex-detento, e se ele tiver cometido um crime grave é ainda mais difícil”,

Ex-detentos sofrem com o mercado de trabalho | Foto: Debora Chacarski revela a assistente social. ços educacionais nas empresas que as cotas sejam cumO Patronato tem como penitenciárias, como a oportuni- pridas. A lei da aprendizagem que função observar o cumprimento dade de terminar os estudos e/ou determinaserdeverdoempresário das penas e acompanhar os assisti- fazer cursos profissionalizantes. ter 12% de aprendizes até 24 anos, dos na reinserção social. A AssisOauditorfiscaldoMinis- é uma medida que não requer extente Social da instituição, tério do Trabalho, Antonio Luiz periência para as funções disponíCrisciele Ferraz explica que o in- Fabris Junior, ressalta que cabe a veis. Nos casos de detentos e divíduo recluso tem acesso a servi- instituição fiscalizar e cobrar das ex-detentos dentro dessa faixa etá-

ria,equeaindaestudam,aleiosinsere no mercado de trabalho. A assistente social Leget declara que há dificuldade em contemplar ex-detentos nas vagas disponíveis pelo fato de experiência ser requisitada em quase todos os editais. “Os empresários estão mais rigorosos atualmente e pedem candidatos que já trabalharam com as funções antes, e só podemos contabilizar o que está na carteira de trabalho”, enfatiza Leget. O número de presos que cursam ensino fundamental é de 17,14%, somadas as iniciativas de escolaridade dentro dos complexos penitenciários, os presos que exercem algum tipo de educação dentre as ofertadas pelo sistema prisional é 37,64%. Um panoramadivulgadopeloDepartamento Penitenciário do Paraná (DEPEN-Pr) mostra que o número de detentos que realizam cursos técnicos e profissionalizantes fora da penitenciária é de apenas 0,01%. Por Débora Chacarski e Bárbara Popadiuk


cidadania

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Agosto Dourado promove a amamentação Segundo a OMS, somente 39% dos bebês brasileiros de até 5 meses ingerem apenas o leite materno

Agosto Dourado simboliza o incentivo à amamentação. Em 1992, a Aliança Mundial de Ação pró-Amamentação (WABA) criou a Semana Mundial do Aleitamento Materno, que se comemora do dia 1º a 7 de agosto e inicia o mês de incentivo. No Brasil, o Ministério da Saúde coordena a semana. Em Ponta Grossa, as ações que visam a promoção da amamentação são realizadas nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) durante todo o mês. Técnicas para acalmar a mãe e bebê, com intenção de melhorar a maneira de alimentar, também são trabalhadas nos postos de saúde. “O aleitamento materno diminui a mortalidade infantil, a incidência de doenças na infância e, por fortalecer o sistema imunológico da criança, garante que o adulto que essa criança vai se tornar tenha uma boa imunidade”, explica a doula e advogada Ana Maria Bourguignon. É indicado que o bebê tenha alimentação exclusiva do leite materno até os 6 meses de idade. Após isso, recomenda-se a ingestão de alguns alimentos como frutas e sopas para completar a dieta da criança Porém, o leite materno ainda deve ser dado como complemento. A Organização Mundial da Saúde (OMS) aconselha que a amamentação seja realizada até os 2 anos de idade do bebê. Segundo a enfermeira especialista em pediatria e consultora em aleitamento Allana Pietrobelli Trierweiler, devido a rotina agitada e,

Puericultura

porvezes, estressante, muitas mães apresentam dificuldades em produzirleite. “Amãe tem que estar saudável para produzir leite. Ela deve estar bem nutrida e hidratada e também precisa estar tranquila e não estressada”, indica a enfermeira. A assistente administrativa Daianne Mirelli de Oliveira relata que teve dificuldades para amamentar seu segundo filho, pois havia colocado prótese de silicone. A especialista Trierweiler diz que a “prótese pode afetar na ejeção do leite, porque pode lesionar ductos mamários, e pode afetar também a produção de leite”, porém, ela não impede a amamentação. Oliveira teve problemas com a recuperação da cirurgia e desde então sentia muitas dores nos seios. “Mas apesar de ter chorado de dor muitas vezes e ter pensado em desistir em vários momentos, depois de aproximadamente 40 dias nos adaptamos”, relata a mãe que amamentou Ícaro exclusivamente com leite materno até os 4 meses. A mãe Maria* também teve dificuldades para amamentar sua filha. A explicação foi que a anatomia do seu seio não a permitia amamentar. Maria conta que no hospital sua filha chorava de fome e, por ela não conseguir dar o leite materno, a criança passou a tomar leite artificial. “Insistiram que eu amamentasse, porém não saía nada de leite. Eu tentei esgotarcom a bomba, mas não saía nada, apesar de meu seio estar cheio. Consegui 3 ml com muita dor e dificuldade. Doía muito mesmo… Até que, de tanto insistir, saiu

A puericultura é um acompanhamento frequente da criança para verificar seu desenvolvimento. Ela ocorre de maneira mensal até os seis meses, trimestral até 12 meses e semestral até os 24 meses. Depois disso, é realizada uma consulta anual até os 10 anos de idade. Ainda na maternidade, a mãe recebe o agendamento da vacina e a data da primeira consulta da criança. Esta será a primeira consulta com a puericultura. Ela acontece geralmente de forma individual para poder orientar cada mãe, cada caso. Mas há algumas unidades que contam, também, com grupos de mães para orientação coletiva, ação educativa.

sangue. Daí não insisti mais”, relata Maria. “Mas não fiquei traumatizada com minha experiência”, conta a mãe ao mostrar a foto de um ensaio de seu bebê, “ao contrário, aprendi muito e fiquei feliz por minha filha ter conseguido crescer forte e saudável apesar de tudo” afirma a mãe. Segundo a enfermeira Allana Trierweiler, a melhor alternativa para mães que não conseguem amamentarno seio é a fórmula infantil. “É contraindicado que o bebê seja amamentado por outra mãe. O leite materno é secreção assim como o

sangue e pode transmitir doenças”, alerta a consultora em aleitamento sobre a amamentação cruzada. A fórmula infantil deve ser comprada pelas mães. O governo não fornece nenhum tipo de auxílio, a não ser em casos de HIV onde a mãe recebe fórmula até os 6 meses do bebê, já que não podem amamentar seus filhos. A enfermeira enfatiza o risco em dar leite de vaca puro para os bebês. “Pode ocasionar alergias alimentares na criança, pois o organismo dela não está preparado para receber a quantidade de

proteínas que o leite contém”, informa Trierweiler. O consumo do leite não diluído pode ocasionar sintomas como: refluxo, vômito, diarreia, cólica, gases, entre outros. Caso haja necessidade do leite de vaca diluído, o Programa Leite das Crianças (PLC) auxilia as mães necessitadas. O PLC é um projeto do governo do Estado que distribui gratuitamente um litro de leite por dia para crianças de 6 a 36 meses de idade. Para ter acesso ao programa é necessário que a renda percapta da família não ultrapasse meio salário mínimo. O leite é retirado nas escolas estaduais. O Banco de Leite Humano fornece leite para bebês prematuros, internados em unidades neonatais, em hospitais pediátricos e, em casos raros, para alguns bebês com indicação restrita médica, segundo a enfermeira Trierweiler. A mãe Thaís Smiderle, que abdicou do serviço para se dedicar à filha, não teve problemas de produção de leite, apesar de ter tido pequenas dificuldades no começo do processo de amamentação. Ela relata que doou leite para o Banco de Leite Humano da cidade. “Os bebês prematuros não podem se alimentar direto no seio da mãe e muitas delas não tem leite logo no início. Então saber que o leite iria ser destinado a eles foi o que me motivou a doar. Saber que eu estava multiplicando aquelas gotas de amor”, conta a mãe. A enfermeira Adriana Alves afirma que nas Unidades Básicas de Saúde, há o acompanhamento das mães e crianças através da puericultura. “As informações são passadas de forma oral, individual para cada mãe ou nos grupos”, conta Alves. Os materiais gráficos são disponibilizados quando o Ministério da Saúde manda para o município.

*Maria=nomefictício

Por Ana Istschuk e Lucas Cabral


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ago

passo-a-passo

2017

Entenda como funciona os Tribunais de Contas A fiscalização dos gastos públicos na lógica do controle externo Tribunal de Contas do Estado (TCE-PR)

Ele é o órgão responsável pela fiscalização do uso do dinheiro público, do Estado e dos 399 Municípios paranaenses, em complemento à atividade fiscalizadora do Poder Legislativo (Assembleia Legislativa e Câmaras de Vereadores). Além de controlar todo volume de dinheiro público investido pelo governo do Paraná e prefeituras, o TCE também informa à comunidade o resultado destas contas públicas, isto é, se o dinheiro público foi aplicado corretamente e se os serviços oferecidos à população têm qualidade. O Tribunal de Contas do Estado trabalha com emitir parecer prévio nas contas do governador do Estado e dos prefeitos, para posterior julgamento pelo Poder Legislativo, quer estadual, quer municipal; julgar as contas de todas as associações e entidades que tenham recebido recursos do Estado ou dos municípios, para atividades sociais; apreciar 2º Passoou ilegalidades e julgar as denúncias sobre irregularidades praticadas por administradores públicos e prestar orientação nas ações administrativas, respondendo as consultas formuladas. Tribunal de Contas da União (TCU)

3º Passo

O Tribunal de Contas da União (TCU) é um tribunal administrativo. Julga as contas de administradores públicos e demais responsáveis por dinheiros, bens e valores públicos federais, bem como, as contas de qualquer pessoa que der causa a perda, extravio ou outra irregularidade de que resulte prejuízo ao erário. Tal competência administrativa-judicante, entre outras, está prevista no art. 71 da Constituição brasileira. Conhecido também como Corte de Contas, o TCU é órgão colegiado. Compõe-se 4º Passo de nove ministros. Seis deles são indicados pelo Congresso Nacional, um, pelo presidente da República e dois, escolhidos entre auditores e membros do Ministério Público que funciona junto ao Tribunal. Suas deliberações são tomadas, em regra, pelo Plenário – instância máxima – ou, nas hipóteses cabíveis, por uma das duas Câmaras. Nas sessões do Plenário e das Câmaras é obrigatória a presença de representante do Ministério Público junto ao Tribunal. Trata-se de órgão autô5º Passo nomo e independente cuja missão principal é a de promover a defesa da ordem jurídica. Compõe-se do procurador-geral, três subprocuradores-gerais e quatro procuradores, nomeados pelo presidente da República, entre concursados com título de bacharel em Direito.

COMO AS CONTAS PÚBLICAS SÃO APROVADAS

1citaOaTribunal de Contas soliprefeitura que encami-

nhe um relatório contendo todos os gastos feitos em determinado período, normalmente em um ano. A prefeitura envia o documento contendo todos os investiO documento passa mentos do período e a folha de pagamento dos servidores. por todo o processo de análise, até chegar ao Conselho do TCE que arquiva o relatório em caso de confirmação, ou reenvia ao executivo se forem encontradas irregulariSe apresentar problemas, dades. o relatório é enviado para a Prefeitura e a Câmara Municipal que tem um prazo de até 30 dias para justificar os apontamentos do tribunal. Os casos de irregularidade resultam em uma série de penalidades, como a aplicação de multas, a inegibilidade política e em alguns casos, prisão.

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NOTA: Conforme a assessoria da Prefeitura Municipal de Ponta Grossa em resposta ao Foca Livre no dia 25 de agosto, as obras do CMEI Jd. Amália II, CMEI Jd. Canaã e a Unidade de Saúde Recanto Verde já foram finalizadas. A escola de educação infantil no Jd. Canaã foi inaugurada no dia 27 de junho e a outras construções aguardam inauguração. Quanto a Escola Municipal no Jd. Ouro Verde, a assessoria afirmou que a empresa responsável (Engepark - Construções Civis Ltda. - CNPJ 11.851.047/0001-85) abandonou a obra. Uma nova licitação foi realizada e aguarda aprovação pela Comissão de Licitação. Já sobre o Centro de Especialidades, a assessoria alegou não ter “governabilidade sobre ela”, pois trata-se de uma obra do Governo de Estado. Quanto às obras nos distritos rurais, o Foca não recebeu resposta da Secretaria Municipal de Agricultura e Abastecimento até o fechamento desta edição

Os dados utilizados para este infográfico foram retirados do site Tribunal de Contas do Parana (www.tce.pr.gov.br) e Federal (portal.tcu.gov.br)

passo-a-passo

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Confira as últimas contas de Ponta Grossa que estão no Tribunal de Contas do Paraná O portal de informações do Tribunal de Contas do Paraná divulga o balanço financeiro de entidades municipais e estaduais. Os dados revelam a procedência dos fundos e o seus fins. Em Ponta Grossa, o Tribunal de Contas do Paraná indica nove projetos de obras que estão paralisadas que totalizam um investimento no valor de R$ 13,4 milhões. O projeto do Centro de Especialidades do Paraná teve inicio no dia oito de junho de 2015, com o prazo de 360 dias para ser executado. O valor estipulado para a obra é de R$ 6,762 milhões. O projeto está paralisado desde o dia seis de julho de 2017 e o motivo da parada apresentado para o TCE-PR aponta descumprimento de obrigações contratuais pela empresa responsável pela obra. Em ofício, a empresa informa a desistência da obra: “Após inúmeras reuniões e constatações de descompassos de projetos ou a falta desses, termos burocráticos deveras procrastinatórios, incompatibilidade de informações e tantas outras dificuldades, a execução da obra Centro de Especialidades se tornou inviável para a Paraná Construções”, relata o ofício do dia 1º de junho de 2016. A obra continua paralisada, sem previsões de avanço do projeto. Três das obras paralisadas são da Agência Reguladora de Águas e Saneamento (ARAS), nas áreas distritais de Itaiacoca e Uvaia e somam mais de R$ 408 mil . O projeto mais antigo paralisado é referente a implementação do abastecimento de água na comunidade de Mato Queimado – Distrito de Itaiacoca encaminhado pela ARAS. As obras deveriam ter iniciado no dia 21 de novembro do ano de 2011, porém continuam inacabadas. O motivo apresentado pela ARAS é a não previsão de alterações no projeto para a conclusão da obra.

OBRAS PARADAS 1º) Centro de Especialidades do Paraná Valor estimado: R$ 6,762 milhões, estadual Início da obra: 8 de junho de 2015 Estimativa de término: 2 de junho de 2016 Paralisação: 29 de janeiro de 2016 Porcentagem de término: indisponível

4º) CMEIno Jd. Amália II Valor estimado: R$ 1,223 milhão, federal Início da obra: 1 de janeiro de 2013 Estimativa de término: 30 de junho de 2013 Paralisação: outubro de 2015 Porcentagem de término: 70.53% (30/10/2015)

2º) Escola Municipal no Jd. OuroVerde Valor estimado: R$ 2,625 milhões, local Início da obra: 10 de janeiro de 2014 Estimativa de término: 6 de dezembro de 2014 Paralisação: 10 de março de 2016 Porcentagem de término: 31,72% (30/10/2015)

5º) Unidade de Saúde no Jd. RecantoVerde Valor estimado: R$ 960 mil, federal Início da obra: 5 de novembro de 2013 Estimativa de término: 2 de agosto de 2014 Paralisação: 30 de outubro de 2015 Porcentagem de término: 75.42% (30/10/2015)

3º) CMEIno Jd. Canaã Valor estimado: R$ 1,275 milhões, local e federal Início da obra: 1 de janeiro de 2013 Estimativa de término: 30 de junho de 2013 Paralisação: 10 de março de 2016 Porcentagem de término: 69.20% (30/10/2015)

6º) Abastecimento de água no Passo do Pupo Valor estimado: R$ 198 mil, local Início da obra: 18 de julho de 2012 Estimativa de término: 14 de janeiro de 2013 Paralisação: 19 de fevereiro de 2014 Porcentagem de término: 100% (03/12/2012)

DESPESAS COM DIÁRIAS

De janeiro até 23 de agosto deste ano, oito entidades do município de Ponta Grossa gastaram R$ 281.549,00 em 3.047 diárias. Abaixo, o Foca Livre lista os cinco maiores gastos em viagens relativos ao Município de Ponta Grossa considerando os valores totais: 1º) R$ 6.400 para Esmeria de Lourdes Saveli. Entre 6 e 13 de maio, Saveli participou do “Grupo de estudos da América Latina”, realizado em Brasília/DF. Nos oito dias da viagem, uma média de R$ 800 foram gastos diariamente. 2º) R$ 5.600 para Nilcea Mottin de Andrade, que também participou do “Grupo de estudos da América Latina”, entre 6 e 13 de maio. Em oito dias, o evento - que foi realizado em Brasília - custou R$ 700 diariamente.

em Brasília. A viagem de quatro dias custou R$ 900 diários e aconteceu entre 23 e 27 de abril os dados disponíveis no portal divergem entre março ou abril.

4º) R$ 3.200 para Paulo Henrique Carbonar. O secretário da Indústria também foi a Brasília participar do “IVEncontro dos Municípios com o Desenvolvimento Sustentável”. A viagem de quatro dias aconteceu entre 24 e 28 de abril e custou R$ 800 por dia.

5º) R$ 3.150 para Robson Camargo. Entre 20 e 3º) R$ 3.600 para Elizabeth Schmidt. A vice- 24 de abril, Camargo participou do “Festival prefeita participou do “IV Encontro dos Muni- Nacional da Criança de Xadrez”, em Brasília. cípios com o Desenvolvimento Sustentável”, Nos 5 dias da viagem, a diária custou R$ 630.

Por Gabriel Miguel, Julio César Prado, Saori Honorato e William Clarindo


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Entenda como funciona os Tribunais de Contas A fiscalização dos gastos públicos na lógica do controle externo Tribunal de Contas do Estado (TCE-PR)

Ele é o órgão responsável pela fiscalização do uso do dinheiro público, do Estado e dos 399 Municípios paranaenses, em complemento à atividade fiscalizadora do Poder Legislativo (Assembleia Legislativa e Câmaras de Vereadores). Além de controlar todo volume de dinheiro público investido pelo governo do Paraná e prefeituras, o TCE também informa à comunidade o resultado destas contas públicas, isto é, se o dinheiro público foi aplicado corretamente e se os serviços oferecidos à população têm qualidade. O Tribunal de Contas do Estado trabalha com emitir parecer prévio nas contas do governador do Estado e dos prefeitos, para posterior julgamento pelo Poder Legislativo, quer estadual, quer municipal; julgar as contas de todas as associações e entidades que tenham recebido recursos do Estado ou dos municípios, para atividades sociais; apreciar 2º Passoou ilegalidades e julgar as denúncias sobre irregularidades praticadas por administradores públicos e prestar orientação nas ações administrativas, respondendo as consultas formuladas. Tribunal de Contas da União (TCU)

3º Passo

O Tribunal de Contas da União (TCU) é um tribunal administrativo. Julga as contas de administradores públicos e demais responsáveis por dinheiros, bens e valores públicos federais, bem como, as contas de qualquer pessoa que der causa a perda, extravio ou outra irregularidade de que resulte prejuízo ao erário. Tal competência administrativa-judicante, entre outras, está prevista no art. 71 da Constituição brasileira. Conhecido também como Corte de Contas, o TCU é órgão colegiado. Compõe-se 4º Passo de nove ministros. Seis deles são indicados pelo Congresso Nacional, um, pelo presidente da República e dois, escolhidos entre auditores e membros do Ministério Público que funciona junto ao Tribunal. Suas deliberações são tomadas, em regra, pelo Plenário – instância máxima – ou, nas hipóteses cabíveis, por uma das duas Câmaras. Nas sessões do Plenário e das Câmaras é obrigatória a presença de representante do Ministério Público junto ao Tribunal. Trata-se de órgão autô5º Passo nomo e independente cuja missão principal é a de promover a defesa da ordem jurídica. Compõe-se do procurador-geral, três subprocuradores-gerais e quatro procuradores, nomeados pelo presidente da República, entre concursados com título de bacharel em Direito.

COMO AS CONTAS PÚBLICAS SÃO APROVADAS

1citaOaTribunal de Contas soliprefeitura que encami-

nhe um relatório contendo todos os gastos feitos em determinado período, normalmente em um ano. A prefeitura envia o documento contendo todos os investiO documento passa mentos do período e a folha de pagamento dos servidores. por todo o processo de análise, até chegar ao Conselho do TCE que arquiva o relatório em caso de confirmação, ou reenvia ao executivo se forem encontradas irregulariSe apresentar problemas, dades. o relatório é enviado para a Prefeitura e a Câmara Municipal que tem um prazo de até 30 dias para justificar os apontamentos do tribunal. Os casos de irregularidade resultam em uma série de penalidades, como a aplicação de multas, a inegibilidade política e em alguns casos, prisão.

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Os dados utilizados para este infográfico foram retirados do site Tribunal de Contas do Parana (www.tce.pr.gov.br) e Federal (portal.tcu.gov.br)

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Confira as últimas contas de Ponta Grossa que estão no Tribunal de Contas do Paraná O portal de informações do Tribunal de Contas do Paraná divulga o balanço financeiro de entidades municipais e estaduais. Os dados revelam a procedência dos fundos e o seus fins. Em Ponta Grossa, o Tribunal de Contas do Paraná indica nove projetos de obras que estão paralisadas que totalizam um investimento no valor de R$ 13,4 milhões. O projeto do Centro de Especialidades do Paraná teve inicio no dia oito de junho de 2015, com o prazo de 360 dias para ser executado. O valor estipulado para a obra é de R$ 6,762 milhões. O projeto está paralisado desde o dia seis de julho de 2017 e o motivo da parada apresentado para o TCE-PR aponta descumprimento de obrigações contratuais pela empresa responsável pela obra. Em ofício, a empresa informa a desistência da obra: “Após inúmeras reuniões e constatações de descompassos de projetos ou a falta desses, termos burocráticos deveras procrastinatórios, incompatibilidade de informações e tantas outras dificuldades, a execução da obra Centro de Especialidades se tornou inviável para a Paraná Construções”, relata o ofício do dia 1º de junho de 2016. A obra continua paralisada, sem previsões de avanço do projeto. Três das obras paralisadas são da Agência Reguladora de Águas e Saneamento (ARAS), nas áreas distritais de Itaiacoca e Uvaia e somam mais de R$ 408 mil . O projeto mais antigo paralisado é referente a implementação do abastecimento de água na comunidade de Mato Queimado – Distrito de Itaiacoca encaminhado pela ARAS. As obras deveriam ter iniciado no dia 21 de novembro do ano de 2011, porém continuam inacabadas. O motivo apresentado pela ARAS é a não previsão de alterações no projeto para a conclusão da obra.

OBRAS PARADAS 1º) Centro de Especialidades do Paraná Valor estimado: R$ 6,762 milhões, estadual Início da obra: 8 de junho de 2015 Estimativa de término: 2 de junho de 2016 Paralisação: 29 de janeiro de 2016 Porcentagem de término: indisponível

4º) CMEIno Jd. Amália II Valor estimado: R$ 1,223 milhão, federal Início da obra: 1 de janeiro de 2013 Estimativa de término: 30 de junho de 2013 Paralisação: outubro de 2015 Porcentagem de término: 70.53% (30/10/2015)

2º) Escola Municipal no Jd. OuroVerde Valor estimado: R$ 2,625 milhões, local Início da obra: 10 de janeiro de 2014 Estimativa de término: 6 de dezembro de 2014 Paralisação: 10 de março de 2016 Porcentagem de término: 31,72% (30/10/2015)

5º) Unidade de Saúde no Jd. RecantoVerde Valor estimado: R$ 960 mil, federal Início da obra: 5 de novembro de 2013 Estimativa de término: 2 de agosto de 2014 Paralisação: 30 de outubro de 2015 Porcentagem de término: 75.42% (30/10/2015)

3º) CMEIno Jd. Canaã Valor estimado: R$ 1,275 milhões, local e federal Início da obra: 1 de janeiro de 2013 Estimativa de término: 30 de junho de 2013 Paralisação: 10 de março de 2016 Porcentagem de término: 69.20% (30/10/2015)

6º) Abastecimento de água no Passo do Pupo Valor estimado: R$ 198 mil, local Início da obra: 18 de julho de 2012 Estimativa de término: 14 de janeiro de 2013 Paralisação: 19 de fevereiro de 2014 Porcentagem de término: 100% (03/12/2012)

DESPESAS COM DIÁRIAS

De janeiro até 23 de agosto deste ano, oito entidades do município de Ponta Grossa gastaram R$ 281.549,00 em 3.047 diárias. Abaixo, o Foca Livre lista os cinco maiores gastos em viagens relativos ao Município de Ponta Grossa considerando os valores totais: 1º) R$ 6.400 para Esmeria de Lourdes Saveli. Entre 6 e 13 de maio, Saveli participou do “Grupo de estudos da América Latina”, realizado em Brasília/DF. Nos oito dias da viagem, uma média de R$ 800 foram gastos diariamente. 2º) R$ 5.600 para Nilcea Mottin de Andrade, que também participou do “Grupo de estudos da América Latina”, entre 6 e 13 de maio. Em oito dias, o evento - que foi realizado em Brasília - custou R$ 700 diariamente.

em Brasília. A viagem de quatro dias custou R$ 900 diários e aconteceu entre 23 e 27 de abril os dados disponíveis no portal divergem entre março ou abril.

4º) R$ 3.200 para Paulo Henrique Carbonar. O secretário da Indústria também foi a Brasília participar do “IVEncontro dos Municípios com o Desenvolvimento Sustentável”. A viagem de quatro dias aconteceu entre 24 e 28 de abril e custou R$ 800 por dia.

5º) R$ 3.150 para Robson Camargo. Entre 20 e 3º) R$ 3.600 para Elizabeth Schmidt. A vice- 24 de abril, Camargo participou do “Festival prefeita participou do “IV Encontro dos Muni- Nacional da Criança de Xadrez”, em Brasília. cípios com o Desenvolvimento Sustentável”, Nos 5 dias da viagem, a diária custou R$ 630.

Por Gabriel Miguel, Julio César Prado, Saori Honorato e William Clarindo


1 0 jornalismo literário

ago/2017

Ah, se meu colete falasse!

Baia desarma. Robi nho recebe, avança com muito espaço e deixa Batati nha na boa pra começar a festa. Cara, que noite foi o 1 4 de agosto de 201 7. Ela durou até o dia 1 5. Mais pre cisamente quando acordei, peguei o celular, abri o Fa cebook e vi o que as lentes do resto do mundo haviam captado aquilo eu já tinha visto. Saindo de uma noi te de sonhos, minha ficha caiu. Mais de 8 mil torcedo res haviam entupido o tem plo alvinegro. O borderô de 200 mil reais não mostrava o

que alguns portões do GK haviam abraçado. Pela pri meira vez na minha vida, eu tinha a sensação de estar vi vendo um momento total mente diferente de tudo o que já havia presenciado nesses meus 20 anos. O es porte se confundia com a glória. É preciso dizer que só o Germano é sobrenatu ral. Só no Germano a nebli na acontece mesmo sem ter tempo ruim - é poeira de extintores, senhores árbitros, que muda a paisagem dos Campos Gerais. Só no Germano a torcida veste a cami -

sa do Operário mesmo depois de ter visto o clube perder a mão (e a classifica ção) na Divisão de Acesso. Se o mundo é uma bola, o futebol é um jogo de boli nhas de gude. De repente, tudo muda. Em maio, houve o caos. Em agosto, alcança mos a redenção. A jornada incluiu até um futebol raiz, longas viagens, arquibanca da de chão duro, cerveja no estádio e transmissão em rá dio. A TV só entrega o “filé mignon”. Graças a Deus, o fu tebol respira. Só o meu cole -

Torcida alvinegra vibra com classificação do time| Foto: João Guilherme de Castro

te sabe o que eu senti aquele nosso coração bater mais dia. Desculpa, CBF, mas forte. vocês têm outros que ficam Por João Vitor Rezende fora do seu radar e fazem

PG EM PESSOA: José Carlos Salvador, 66

“Tenho amor pela estrada que andei”

O baiano José Carlos começou sua vida de trabalhador muito cedo, como engraxate. Hoje com 66 anos, já viajou o Brasil todo por conta de diferentes tipos de profissão – inclusive ventríloquo. Vende raízes em praça central de Ponta Grossa.

José Carlos. | Foto: Milena Oliveira

Meus pais eram muito pobrezinhos, então eu tinha que ajuda a trazer dinheiro pra dentro de casa desde os meus sete anos. Todos os lugares que passei eu me dei bem. No começo o frio era problema aqui em PG, mas, morei três anos em Porto Alegre e três anos em Florianópolis. A gente, que fazia show de rua, era obrigado a viajar. Conheci todas essas regiões frias, Gramado, Passo fundo. Não tenho uma cidade preferida ou que acho mais bonita, toda cidade é bonita, Florianópolis, Goiânia, Bahia, o Brasil em si é muito bonito. Todo dia tem uma história: já vi caminhão pegando fogo na BR, já vi mulheres dando a luz na rua, moradores de rua em situações difíceis no relento. Visitei hospitais também. Conheci muitas pessoas doentes. Tem coisas boas e coisas ruins, não dá para explicar direito. Eu sempre gostei da minha vida, sou feliz pois faço o que gosto. Independente do que pensam. Tenho amor pela estrada que andei.

Depoimento concedido à Maria Fernanda Laravia, Milena Oliveira e Mariana Santos

RECOMENDAÇÕES SÓ GAROTOS Por Saori Honorato "Só Garotos" é uma obra escrita pela renomada artista Patti Smith que através de sua linguagem poética e profunda, leva o leitor à uma Nova York do final dos anos 60. onde grandes artistas começaram a aflorar e a transformar a cena cultural da cidade. Este livro de Smith foi dedicado ao seu grande companheiro de vida, o fotógrafo Robert Mapplethorne. Uma história simples mas emocio- nante, que fala sobre arte, amor e lealdade de jovens artistas insatisfeitos que querem criar e se expressar.

O APANHADOR NO CAMPO DE CENTEIO

Por Rafael Chornobai "O Apanhador no Campo de Centeio" acompanha o fim de semana do adolescente Holden Caulfield, que é expulso de um internato por conta das péssimas notas e deve confrontar a família. Vindo de uma família abastada, no caminho, contata pessoas que uma vez já foram importantes, uma ex-namorada, um antigo professor… tentando fazer com que as pessoas entendam a confusão que se passa em sua cabeça. Holden constantemente declara o ódio que tem pelo mundo e pelas pessoas falsas que nele vivem. Livro indispensável na formação de senso crítico.


jornalismo literário 1 1

ago/2017

Peacekeeper – Uma Guerra pela Paz

A rotina militar nunca foi uma coisa simples, a disciplina, a preparação, tudo exigia um grande esforço, porém quando ele falava parece que tudo se tornava mais simples. Um dos melhores soldados do Exército Brasileiro. Possuía uma ficha militar quase impecável. Entre testes e avaliações físicas e de habilidade militar, os registros apontavam apenas um único erro que se referia à época em que esteve impossibilitado de realizar os testes por conta da mão quebrada em um acidente pouco antes daquela avaliação. Primeiro Sargento do Exército Brasileiro, Miranda servia no 15º Batalhão Logístico, localizado em Cascavel, cidade do interior do Paraná. Dois filhos, à época eu registrava 13 anos e minha irmã acabava de completar 5 anos. A família sempre foi um dos alicerces da vida do meu pai, sempre nos serviu muito bem. Casado há 25 anos, a esposa e mãe era uma ajudadora, ao mesmo tempo independente e intensa nos seus objetivos. “Ele sempre foi um bom marido e um bom pai, esse tempo que ficamos separados serviu para nos unir ainda mais”, conta feliz, a esposa ao lembrar do período da missão. Cinco horas e trinta minutos, era a hora que relógio despertava convidando para mais um dia de trabalho. Ele acordava, fazia suas orações antes mesmo de se levantar da cama, pedia a Deus cuidado e proteção para mais um dia. Tomava um bom café e preparava sua partida, mas não sem antes beijar carinhosamente o rosto de sua esposa e filhos enquanto dormiam. Pegava sua bicicleta e pedalava a distância de uns 2 quilômetros até chegar à entrada do batalhão. “Identificação!” Gritava a segurança da guarita. “Sargento Miranda”. Os portões abriam e ali começava mais um dia

de trabalho, mas não era um dia qualquer, pelos corredores do batalhão já se comentava sobre a novidade que estava para chegar: “Já ficou sabendo?”, “O que?”, “O edital que abriram aqui no batalhão, vão selecionar alguém daqui para compor o contingente brasileiro na missão de paz no Haiti.” Comentavam esperançosos os companheiros. Aquela oportunidade já tinha chamado atenção do sargento, e a curiosidade e a sede de aventura para conhecer uma nova realidade o fizeram se inscrever na seleção. A ideia começa a se desenhar, surge então o primeiro desafio: Contar a decisão à família. A primeira reação é de medo, o casal nunca havia ficado longe durante tanto tempo, seriam seis meses na base brasileira no Haiti e mais oito meses em preparação e treinamento para encarar a missão. Meu pai trabalhava o dia inteiro no quartel e a minha mãe trabalhava como secretária em um colégio estadual no período da tarde e da noite. Costumávamos nos reunir em família logo no final da tarde em volta de uma mesa farta e convidativa para um café. Era um dos únicos momentos em que tínhamos a oportunidade de estarmos todos juntos. Ele então aproveitou para fazer o comunicado: “Tenho

Não me lembro de ver meu pai tão perturbado quanto naquele momento [...] ele sentou-se em frente à televisão e acompanhou atordoado as notícias [...]

uma notícia para dar. Eu me inscrevi para participar da missão de paz no Haiti.”, “Que bacana, o que vai fazer la?” perguntei inocentemente. “É uma missão de paz no exército, o Brasil manda alguns soldados para a ONU que aju-

dam a manter a paz e a ordem no país.”. Dias depois, na mesma situação, durante a reunião de família, ele nos comunicou a confirmação da seleção. “Lembram daquele edital de seleção para o batalhão do Haiti que havia comentado? Então, eu fui um dos selecionados para participar, eu vou para a missão de paz no Haiti.”. Meu pai disse isso com entusiasmo e uma alegria que eu não entendia muito bem. Foi um momento de alegria geral, minha mãe conta que sentiu muito orgulho do marido ao saber da notícia. Após a confirmação vieram os treinamentos e a preparação dos documentos, além de testes físicos e psicológicos que eram exigidos, “no total, me recordo de aproximadamente oito meses de preparação entre estágios, testes e documentação”, lembra o militar. Tudo parecia correr como o planejado, porém um momento muito específico mudou o rumo das coisas de uma forma muito inesperada. Terça-feira, 12 de janeiro de 2010, “era período de férias escolares, lembro que estávamos em Curitiba, na casa de um parente, uma das irmãs da sua mãe.” lembra já com certa emoção no olhar. Estávamos reunidos em volta da mesa conversando, a televisão estava ligada, mas ninguém prestava muita atenção, a conversa estava bem mais interessante, foi naquele momento que a Rede Globo interrompeu sua programação para um plantão de última hora. Uma das maiores catástrofes naturais já registrada nos últimos tempos, um terremoto de mais 7,0 graus na escala de Richter atingiu o país caribenho deixando mais 220 mil pessoas mortas, mais 300 mil ficaram feridas e aproximadamente 1,5 milhão perderam suas casas naquilo que os especialistas consideravam a maior tragédia do século.

Sargento Miranda e sua filha.| Foto: Arquivo pessoal Não me lembro de um período de adaptação, ver meu pai tão perturbado aproximadamente uma sequanto naquele momento, mana até se acostumarem ele pegou uma pequena à nova realidade. Barracas banqueta, sentou-se em e pequenas tendas estendifrente à televisão, apoiou o das nas ruas, pouca higiequeixou sobre o braço e ne, pessoas tomando acompanhou atordoado às banho ao ar livre, essa se notícias que chegavam. tornava a realidade coPassado o choque mum. O calor forte típico inicial, mais uma vez ele da região tropical e a falta reúne a família e dessa vez de saneamento básico cono comunicado é diferente: tribuíam para que um “Bom, acho que vocês já cheiro desagradável tomassabem o que esta aconte- se conta da cidade. O alocendo no Haiti”, começou jamento era grande, com já com um pesar na fala. ele habitavam outros 5 mi“Eu espero que vocês en- litares. A relação obviatendam agora a minha de- mente não era fácil, como cisão de continuar o conta Miranda, mas os soltreinamento e seguir na dados contornaram a situamissão”, comunicou. “Ago- ção. Para ter um momento ra mais do que nunca de lazer, os militares se aquele país precisa de nós, reuniam para fazer alguvamos reconstruir o que foi mas ações sociais, ou ainda deixado em ruínas, mesmo simplesmente passeavam sabendo do risco que esta- pela feirinha de produtos mos correndo agora.”.Foi artesanais feitos pela próum momento motivacio- pria população como fornal, ao mesmo tempo de ma de arrecadar um pouco medo e apreensão, mas o de renda. sentimento mais forte naApós três meses, viquela sala era o de orgulho eram umas pequenas férias por de alguma forma poder com direito um mês no ajudar a reconstruir o país Brasil com a família. Faltamais pobre das Américas. vam agora apenas três meChega enfim, o tão ses para completar a aguardado momento de missão. Miranda conta que embarque. “A ansiedade alguns companheiros cheera forte, e aos poucos a gavam a contar cada dia saudade também aumen- que passava, com saudade tou.”, o embarque em três de casa. Encerrado o períoescalas durou cerca de 48 do da missão, é hora de volhoras até os soldados che- tar pra casa, a sensação de garem à capital Porto Prín- dever cumprido toma concipe. ta do batalhão e os soldados “Ao chegarmos à retornam para abraçar suas capital, me espantou o ta- famílias novamente após manho da destruição cau- seis meses no país mais posada pelo terremoto e bre das Américas. como a população estava carente”, conta Miranda. Por Lauro Alexandre O novo contingente passou


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esporte e lazer

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As mulheres no cenário esportivo de PG A luta das mulheres está longe de um fim, em especial, no esporte. Há uma urgente necessidade de números e representatividade. Urgência de serem reconhecidas por seus nomes e seus feitos, não pelos homens que antes tiveram algum reconhecimento em suas áreas esportivas. “Eu não sou o próximo Usain Bolt ou Michael Phelps. Sou a primeira Simone Biles”, afirmou a ginasta na última Olimpíada que ocorreu em 2016 no Rio de Janeiro. A Rio-2016 foi marcada pelo ano que teve a maior participação de mulheres em uma olimpíada: 5.180 mulheres representando 45% do total de atletas. Um número expressivo se comparado há 117 anos na Paris-1900, primeira participação das mulheres na Olimpíadas, onde a porcentagem de mulheres era 2,2%, 22 mulheres. Outro marco das Olimpíadas para a carreira esportiva das mulheres no ano de 2016 foi a introdução do rugby também como um esporte de mulheres.

Em Ponta Grossa, o rugby feminino ainda é tímido lutando para conquistar seu espaço. As mulheres da Lavari Rugby iniciaram dentro de um time masculino onde algumas vezes eram excluídas de partidas pelo fato de serem mulheres. Nayara Sidulovicz, 24 anos, é uma das atletas. Ela conta que começou sem ter experiência e nem aptidão esportiva, apenas pela necessidade de praticar uma atividade física. A atleta comenta sobre a diferença entre mulheres e homens em quadra - falando com base na sua experiência jogando anteriormente com os homens - quando diz que mulheres são mais organizadas e dedicadas. “Quando decidem praticar um esporte mostram muito mais garra que os homens”. A jogadora de rugby também quebra com o estigma do rugby ser visto como um esporte masculino. “Não íamos medir forças com os rapazes que são maiores, mas nós sabíamos que poderíamos chegar ao nível deles se treinássemos duro”, comenta Nayara.

Rúbia Catarina de Lima, 17, joga vôlei pela cidade de Ponta Grossa, e fala sobre mulheres no esporte: “As mulheres devem buscar e lutar mais espaço no mundo do esporte, principalmente nos esportes que são considerados masculinos”. Perguntada sobre algum caso de preconceito que tenha sofrido dentro do esporte que pratica, ela falou que nunca sofreu e nunca viu as mulheres sofrerem pois como ela diz - o esporte é visto como feminino. Em contrapartida, o cheerleading é visto como um esporte feminino. Está presente no cenário universitário ponta-grossense há poucos anos e a cada ano surgem mais equipes interessadas no esporte. Oficialmente, no ano de 2016, quatro equipes participaram do JOIA (Jogos Interatléticas). Há em torno de 10 equipes em ativa treinando regularmente dentro das atléticas. Camila Fontana cursa Comércio Exterior na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), é cheerleader pelas The Flames e também coach da

Circuito MunicipaldeVôleidepraia|Foto: SaoriHonorato

equipe. Ela conta que há preconceito por parte dos homens em relação ao cheerleading. “Muitos não participam do esporte por considerar muito afeminado, julgam sem antes conhecer como um todo”,

continua, “é foco, é treino, habilidade e força de vontade, não é dança com pompom”. Por Fernanda Wolfe

Millena Villanueva

Operário celebra classificação parasérie C

Projeto populariza badmin- Xadrez masculino da UEPG ton entre jovens dominaJUPs

O Operário Ferroviário derrotou a equipe do Maranhão pelo placar de 2 a 1, em partida válida pelas quartas de final da série D, do Campeonato Brasileiro, no dia 14 (segunda-feira), no Estádio Germano Krüger. O resultado garantiu aclassificação do Fantasma para a terceira divisão nacional em 2018. “Ter um calendário o ano todo é algo que atrai muitos sócios-torcedores, o que contribui muito para o crescimento do nosso clube e do futebol ponta-grossense”, relata Vladimir Axt, 50, sobre a importância da classificação do time para a série C. Os torcedores do alvinegro de Vila Oficinas lotaram o estádio uma hora antes de o jogo começar. Foi o maior público do OFEC em 2017, reunindo cerca de 8.627 pessoas e contabilizando uma renda de mais de 200 mil reais.

Mais de 150 crianças e adolescentes treinam badminton três vezes por semana no Campus de Uvaranas e no Colégio João XXIII. O projeto “Escola da bola” da Prefeitura Municipal ajuda a divulgar o esporte olímpico bastante popular em países asiáticos e que tem dado a Ponta Grossa medalhas em Jogos Estaduais e nos Jogos Universitários. “O badminton requer concentração, treinamento e principalmente agilidade”, observa o professor de Educação Física e instrutor do projeto, Sandro Biedermann, ao explicar porque esse esporte se diferencia daqueles ensinados nas escolas regulares. O esporte que usa raquetes e peteca, é jogado em quadras cobertas. Apesar de ser o segundo esporte mais jogado do mundo, o badminton não é muito conhecido no Brasil, mas ficou popular após as Olimpíadas do Rio de Janeiro em 2016. A Confederação Brasileira de Badminton possui 21 federações filiadas que são responsáveis pela promoção e desenvolvimento do esporte em seus respectivos estados.

Por Ane Rebelato

Por Thailan de Pauli

Enxadristas da UEPG conquistam primeiro e terceiro lugares da 57ª edição dos Jogos Universitários do Paraná (JUPs). O aluno de Medicina da UEPG, Giovani Broday, venceu a final individual masculina e o acadêmico de Engenharia Civil, André Lúcio Pedroso, ficou em terceiro lugar. Não há nenhuma equipe de xadrez na UEPG. Os participantes não realizaram nenhuma preparação técnica para o JUPs. “Sempre estou jogando uma ou outra partida on-line,” revela André, que concentra seu tempo de preparação pela internet. Giovani acredita que a participação em outras competições é um dos fatores para seu resultado positivo.

Por Veridiane Parize


cultura

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Projeto de restauro da Estação Saudade pretende revitalizar a região A Fecomércio tem dois anos para iniciar as obras de restauro da Estação Saudade. A escritura de concessão foi assinada em maio deste ano e o processo de licitação para a empresa que será responsável pela obra já está em curso. A Estação Saudade foi construída entre 1899 e 1900 e é um patrimônio cultural tombado do Estado do Paraná desde 1990. O prédio funcionou como biblioteca municipal de 2004, quando recebeu uma reforma, até 2012. Vinte mil livros foram incinerados por estarem contaminados com fungos devido a infiltrações no edifício, o restante foi movido para o novo prédio em Olarias. Desde então, a antiga Estação não recebe reformas. Sua ocupação mais recente é a feirinha do artesão, que acontece aos sábados, e a defesa civil. O prédio também é usado para alguns eventos como o Festival de Música e o Sexta às Seis. Originalmente chamada de Estação São Paulo – Rio Grande, a edificação foi um importante polo de comércio da cidade. De 1920 a 1950, o turismo de negócios na cidade, trazido pela Estação, representava cerca de 90% das motivações para visitas. Hoje, na região do patrimônio circulam cerca de 100 mil pessoas por dia, segundo o diretor do departamento de turismo Eros de Freitas em entrevista à revista Fecomércio. Segundo Tonia Mansani, funcionária da Prefeitura que responde pe-

Atualmente fechada, Estação Saudade deve reabrir em 2021 | Foto: Heloísa Vivan

lo Projeto de restauração da Estação Saudade e da rua da estação, a Fundação de Cultura passou cerca de oito anos tentando conseguir verba para o projeto, sem sucesso. Por isso, a prefeitura realizou uma parceria público-privada com o Sesc, sancionada em março de 2016, que cede o prédio à instituição por 25 anos, com possibilidade de renovação pelo mesmo período. Em troca, o órgão fica responsável pelo restauro do edifício. O resultado esperado se inspira no Sesc Paço da Liberdade em Curitiba e no Sesc Cadeião em Londrina. Serão 2.748 mil m² de área construída ocupada por programação cultural variada, café-escola e cozinha pedagógica do Senac. Para a arquiteta e urbanista Nisiane Madalozzo, esse é um uso adequado para o prédio, que possuía grande circulação de pessoas. “Quanto mais perto do uso original melhor”, comenta Madalozzo, considerando

que o restauro aumentará o fluxo de pessoas no patrimônio. Sem recursos, a Prefeitura cedeu o edifício da antiga Estação para que o Sesc realize o restauro. Como forma de pagamento, o município abre mão do uso livre do local, que é de responsabilidade do Sesc por 25 anos. Contudo, por meio de ofícios, o governo ainda pode utilizar o espaço. “A concessão sai mais cara para a Prefeitura, mas se for esperar a chegada da verba, acaba o mandato e o próximo prefeito não continua o projeto”, avalia a arquiteta. O professor de administração da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) Luiz Fernando Lara avalia que uma parceria público-privada traz benefícios para a população que terá como usar o serviço e para o governo que terá seus gastos minimizados para a conservação, manutenção e restauro do bem. Além disso, a concessão prioriza empresas espe-

Patrimônio Histórico

cializadas que possuem know-how para realizar as transformações e melhorias do espaço. Contudo, “a população fica a mercê porque, às vezes, ela tem de pagar por um bem que ela já paga em impostos”, contrapõe Lara. Não somente a Estação Saudade passará por um restauro, mas todo o seu entorno. A prefeitura já possui projetos para a revitalização do chamado “quadrilátero histórico”, que compreende a região entre a Estação Saudade e o antigo Mercado Municipal, hoje em desuso e mal conservado que, segundo Tonia Mansani já está em processo de concessão. Somente o projeto deve custar cerca de 500 mil reais. Todo o investimento gira em torno de 8 milhões, de acordo com a responsável da prefeitura pelo projeto, considerando todas as movimentações geradas pelo processo. Uma das causas para o alto custo do restauro é o fato de que

somente empresas especializadas podem realizar a obra. “Qualquer arquiteto está capacitado para fazer o projeto de um restauro, mas em Ponta Grossa não existe nenhuma empresa especializada na área”, explica a arquiteta Nisiane Madalozzo. Segundo a prefeitura, a Fecomércio tem dois anos para começar a obra e, após o início, dois anos para o término dela. Hoje, o prédio já não pode ser usado para eventos. O motivo é o isolamento do prédio antes do início das obras, além de questões de segurança. Após o fim da obra, a prefeitura afirma que as atividades deslocadas deverão voltar a ocorrer no local. Segundo Tonia Mansani, a prefeitura já possui outros projetos para a Rua da Estação, como a instalação de parklets – vagas de estacionamento trocadas por pontos de convivência -, um portal e QR Codes – códigos que podem ser lidos por celulares – contando a história da região. A Fecomércio afirma que ainda não existem informações precisas para o início das obras. “O processo de licitação da empresa que será encarregada do restauro está em curso. Apenas depois de escolhida a empresa, teremos a definição dos prazos”, completa a assessoria de imprensa. A escritura de concessão foi assinada dia 12 de maio deste ano.

Por Ana Istschuk e Lucas Cabral

Quando um prédio é tombado, seu proprietário não pode vendê-lo, e passa a receber alguns incentivos, como a redução do IPTU, para conservar o seu patrimônio. Qualquer intervenção no prédio tombado precisa da aprovação do Conselho Municipal de Patrimônio Cultural – COMPAC. Segundo a arquiteta Nisiane Madalozzo, esse processo de aprovação do tombamento pode demorar e desmotivar o proprietário a manter o imóvel. Além disso, o incentivo não é eficaz. “O proprietário, muitas vezes, precisa pedir todo ano o benefício, além de todos os outros problemas. Isso acaba fazendo com que ele desista do prédio ou, até mesmo, o destrua, para que tenha mais liberdade sobre sua propriedade”, lamenta a arquiteta. Para Nisiane, usar o prédio da Estação Saudade é a melhor maneira de conservá-lo e quanto mais perto do uso original, melhor. Além disso, ela acredita que contar sua própria história, é uma função interessante para esse tipo de edifício. Por exemplo, um museu ferroviário funcionando dentro da Estação seria adequado. Ela defende ainda que “é preciso manter tudo na posição mais próxima da original, para não criar uma falsa história”.


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da redação

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EDITORIAL

Jornalismo também é integração Após tantas edições comemorativas, o Foca Li vre 1 95 saúda seus leitores com uma edição resultado da integração entre todas as séries do curso. Compartilhamos a vista panorâmica do cen tro da cidade de Ponta Gros sa. A retícula que acompanha o título do jornal desse mês recupera a cor azul celeste, mas inclui no raio de visão a skyline de Ponta Grossa. Mais que fa lar da cidade, é indicar nossa combinação de esforços de convergência com o portal Periódico. Veja o logotipo do portal no site periodico.jor.br e entenda. Ao longo do ano de 201 7, as turmas do segundo ano do curso vivenciam a experiência de uma redação de um jornal, preservando o caráter formativo dos uni versitários. Agora, os alunos aprofundam iniciativas de integração com outros anos. Nossos repórteres se espa lham com mais confiança

pela cidade. Além de fazer nosso trabalho, colabora mos e recebemos colabora ções de alunos do primeiro, terceiro e quarto anos. Indicamos forte mente aos leitores que aces sem outros veículos do curso. Além da nova edição do Foca, confiram as atuali zações em fluxo contínuo do “Periódico” no site perio dico.jor.br. De novidades, o Jornalismo UEPG traz o te lejornal “Correspondente Local” que também pode ser visto no Portal Periódico e, em breve, as seções de jornalismo especializado na web, fact-checking (Foca checking) e depoimentos de personagens pontagrossen ses (PG em Pessoa). Aguardem. Importante: traba lhamos apenas com fatos. Boatos não não fazem parte do nosso vocabulário e leva mos a população apenas no ticias reais, sem alardes que amedrontam nossos leitores para que no fim a notícia seja

CHARGE

falsa.

OPERÁRIO: En quanto isso, as segundas-fei ras agitadas em Vila Oficinas marcaram o mês de agosto. Nem o mais oti mista torcedor operariano esperaria encontrar tantos outros que se intitulam tão torcedores (que comece a discussão) quanto no Germano Krüger. Na terceira tentativa, a conquista veio. A primeira foi traumática, em 201 0, contra o Madurei ra. A segunda foi sofrida, contra o Remo, em um 201 5 quase encerrado com chave de ouro. Dois anos depois, o ano que começou bem, se transformou em caótico du rante a temporada e termi nou redentor. Finalmente, o Operário está entre os 60 melhores clubes do país. Lamentamos a morte do estudante de pós-gra duação do departamento de Geociências da UEPG, Sandro Murilo Pedrozo, agredido em junho, perto do Campus Central. Sandro

foi alvo de homofobia, tema principal e edição especial do Foca Livre 1 94, na página dois você confere a nota so bre o caso. A redação des preza qualquer tipo de violência e considera justa

OMBUDSMAN

Decifrando estatísticas Que estatísticas são essenciais para o jornalismo todos nós já sabemos. Mas é preciso lembrar, sobretudo, que fazer jornalismo vai muito além de reproduzir números. Cabe ao jornalista uma tarefa bem específica: traduzir ao leitor o que dizem essas estatísticas e desvendar que significado há por trás dos dados. Pois bem. A última edição do Foca Livre selecionou números interessantes, que certamente retratam algo da nossa realidade. Mas não conseguiu levar à frente a tarefa de decodificar tais dados. Uma das reportagens informa que, mesmo em minoria, as escolas particulares levaram a maior parte das medalhas dos Jogos Estudantis

todas as formas de amor. Esperamos que tenham gostado das últimas versões do Foca, pois ele é feito para nossos leitores. Boa leitura, até breve!

Acompanhe o portal de notícias do curso de Jornalismo da UEPG

Municipais. Explicações para o fraco desempenho das escolas públicas estão lá, mas o lado das particulares, não. Outra reportagem noticia que apenas metade dos colégios tem ensino de espanhol no currículo, enveredando para uma discussão político-burocrática. Se a LEITORES estatística foi o chamariz da maté- Na UEPG, a ligação universidade-sociedade é cheia de falhas, portanto, a ria, seria justo que se explicasse por existência de um meio informativo que conecte o meio acadêmico com a que o ensino do idioma é tão im- sociedade é essencial. Além de criar um hábito de leitura, também portante. colabora para a formação de opinião… Tamanha é a responsabilidade do Foca! Nele podemos encontraruma grande variedade de assuntos, cultura, música, política, charges, arte… É importante que os alunos de todos os cursos, mas principalmente de jornalismo, lutem para que o Foca prospere, Anderson Gonçalves é garantindo assim um meio que nos represente, e que também mantenha jornalista formado pela UEPG, foi repórter e editor nossa autonomia, liberdade de expressão, reivindicações e lutas no meio nos jornais Diário dos acadêmico. Campos e Gazeta do Povo. - Maria Eduarda Maciel, estudante do 2°ano de Biologia UEPG

Edição geral: Barbara Popadiuk, Millena Villanueva, Lorena Panassolo. Edição de texto: Jean Borg, Letícia Dovhy, Millena Lopata, Rafael Chornobai, Rodrigo Charneski e Saori Honorato. Edição de imagem: Amanda Santos, Enaira Schoemberger, Gabriel Miguel e William Clarindo. Núcleo de pesquisa e revisão: Ingrid Petroski, Rafaela Martins. Diagramadores: Alessandra Gobo, Ana Lopes, Fernanda Wolf, Maíra Orso, Marina Santos, Patrícia Guedes e Priscilla Pires. Repórteres: Consulte a autoria das reportagens diretamente na página da notícia.

Foca Livre éum jornallaboratorialdo segundo ano do CEP: 84010-790 - Ponta Grossa - PR Professores Responsáveis: curso de Jornalismo da UEPG. Os textos de opinião são de responsabilidade de seus autores e não expressam o ponto de vista do jornal. Endereço (cartas, CDs e DVDs para o Foca): Departamento de Jornalismo UEPG - Campus Central Praça Santos Andrade, nº01- Centro

Ben-Hur Demeneck (DRT 5664 - PR) Cibele Abdo Rodella (MTB 22.156 SP) Impressão: Grafinorte, Apucarana (PR) Tiragem: 2000 exemplares Telefone: +55.42.3220.3389 Contato: focalivre25@gmail.com Redes Sociais: fb.com/focalivre Edição Digital: periodico.jor.br


entrevista 1 5

ago/2017

"Nenhum governo reprime manifestações desprovidas de potencial de transformação social e política", afirma professor

Murilo Duarte Costa Correa, Professor Adjunto de Teoria Política na Faculdade de Direito da UEPG. Fez graduação em Direito pela UFPR com habilitação em Direito das Relações Sociais e em Direito do Estado. Doutor em Filosofia e Teoria Geral do Direito pela USP e pós-doutor com pesquisa sobre a filosofia do campo social . Movimentos Sociais Contemporâneos e Políticas de Segurança Pública estão entre seus interesses. A justiça declarou que na Batalha do Centro Cívico o Governador Beto Richa foi absolvido e os manifestantes culpados. [O que esta decisão significa para o ativismo dos professores? Precisamos corrigir duas coisas. A decisão judicial não tem por objeto “a batalha do Centro Cívico” – expressão perigosa, pois pressupõe uma equivalência de forças entre polícia e manifestantes que é impossível de verificar, e subentende uma noção de confronto aberto, o que é discutível. Adecisão recai sobre a acusação de cometimento de crime de improbidade administrativa por cinco agentes públicos – entre os quais, o Governador do Estado – e se se pode ou não responsabilizá-los pela ação da Polícia Militar no dia 29 de Abril de 2015, na medida em que teriam corroborado a ação policial repressiva que todos vimos. Em segundo lugar, a decisão rejeitou a denúncia do Ministério Público do Estado do Paraná. Essa decisão não tem o efeito de culpar – nem poderia, a não ser por força retórica – os manifestantes. Ela considerou lícita a ação policial e, também, regular o exercício das decisões tomadas pelos denunciados, o que diz respeito aos cinco agentes políticos. A decisão considerou que os manifestantes teriam “deflagrado” uma resposta policial como aquela – que deixou mais de duzentas pessoas feridas, a maior parte delas servidores e estudantes; mas não há, nem pode haver, juridicamente, declaração de

culpa de manifestantes. O que há é uma leitura evidentemente deformada da realidade social e política que estava em jogo, e isso se reflete na conclusão da juíza, ao caracterizar a atuação dos órgãos do Estado como lítica e rejeitar a denúncia contra os juridicamente responsáveis pela sua atuação. É provável que isso se deva, de um lado, à atmosfera patrimonialista, elitista e mistificadora em que vive uma parte significativa do Poder Judiciário brasileiro; de outro, a uma tendência da jurisprudência bastante geral em matéria policial no Brasil: o Judiciário, que deveria ser a mais importante instância de controle da legalidade da ação policial (porque última), se comporta, na maior parte dos casos, como uma instância meramente homologadora das ações ilegais das polícias. O juiz não passa de um policial da fronteira que separa o lícito e o ilícito, e o policiamento dessa fronteira nem sempre (eu diria que, nesses casos, quase nunca) se faz de acordo com a lei O que a decisão significa para oativismodosprofessores? Isso impacta no ativismo de outros movimentos sociais? No nível simbólico, a decisão exprime mais uma derrota que o governo consegue impor, direta ou indiretamente, ao movimento de 2015. Porém, a decisão reforça ainda uma vez uma correlação importante à qual os sindicatos têm prestado cada vez mais atenção: já que o Judiciário brasileiro tem uma estrutura marcadamente oligárquica, é preciso disputar politicamente as ruas e as redes, mas sem descuidar dos instrumentos legais que desempenham um papel não negligenciável na formação da opinião pública, e que podem se tornar um argumento homologador da legitimidade uma demanda política. O governo do Estado já entendeu isso. Os sindicatos parecem estar demorando um pouco mais. O fato de o Ministério Público Estadual ter tido suficiente sensibilidade para denunciar cinco agentes públicos do

estrato superior do Estado do Paraná, incluindo o Governador, é um indício muito positivo; o fato de ter havido algumas dezenas de policiais que foram presos administrativamente por se recusarem a cumprir as ordens do comando geral da Polícia Militar no dia 29 de abril, também é um excelente indício de que as demandas dos servidores e professores em 2015, na contramão dos ajustes de Richa, canalizavam muito mais do que um mero “interesse de classe. É irônico, e aterrador, que os verdadeiros integrantes da casta política e econômica do Paraná tenham querido imprimir a sua própria marca, de casta gananciosa e metalista, justamente aos professores. Por isso, o 29 de abril representou o massacre de todo um campo de possíveis, em termos de um evento do comum que o movimento de 2015 catalisava. Nos movimentos paranaenses de 2015 (dita “greve) e de 2016 (os “ocupas”), ainda se tratava de ondas desencadeadas por Junho; ainda eram fragmentos das crenças e dos desejos de Junho pulsando sob os jalecos dos professorese sobosmoletonsdosestudantes. Por isso, tamanha repressão; uma repressão, por enquanto [pois o MP vai recorrer da decisão de primeira instância] homologada pelo Poder Judiciário. Oquesignificaoagravamento da repressão policial nas manifestações? Poderia responder isso pelo viés do Estado. Prefiro tentar responder por outro lado, se me permitir; pela perspectiva do social. Talvez signifique que estamos diante de manifestações com potencial transformador, que esses conjuntos de pessoas que se agenciam e suscitam uma tal resposta do Estado estão conectadas com as linhas de criatividade e de transformação que definem uma sociedade. Nenhum governo reprime manifestações desprovidas de potencial de transformação social e política. Para ficarmos com o exemplo do 29 de Abril: ninguém desloca policiais de todo o Estado, deixando regiões inteiras

Professor Murilo Costa Correa é especialista em Teoria do Estado

sem policiamento, a um custo milionário,apenas para impedir manifestantes de ingressarem em uma Assembleia Estadual. É preciso ter compreendido que aquele movimento de greve prolonga uma pauta social capaz de pôr abaixo os referenciais de uma dada forma de governar. A greve e o 29 de Abril foram uma sucessão de eventos contra a governamentalidade neoliberal de Richa, contra a gramática dos ajustes e da austeridade, contra a rarefação dos serviços públicos e do bem-estar comum, em favor da honestidade dos governantes. Isso tudo é um franco desafio a um modo de governar. Para um governo, isso é intolerável. Para os movimentos sociais, muitas vezes essa é a única chance de continuar existindo. Como foi e é a relação entre movimentossociaiseEstado? Não é unívoca nem estável, porque nem os movimentos sociais permanecem o mesmo, nem os governos, ou as suas estratégias. Me parece que importa menos a relação entre movimentos sociais e Estado do que entre movimentos e governos. , os movimentos sociais são fenômenos de margem. Estão sempre exigindo a radicalização dos seus direitos de governados, enquanto governados, mas ao mesmo tempo conduzem o corpo social para um “algo

além” dessa condição. Nenhum direito é fruto de um favor dos governantes; os direitos sãofrutodarevoltaque nasce no limiar do intolerável político. E a única forma de mantê-los é reacendendo-os pela via da ação política. Do lado do Estado, eu diria que relação é dupla: ou de cooptação e negligência, ou de inimizade e violência. Vemos que, pela parte do Estado, a coisa é bem mais simples. Ao contrário dos movimentos sociais, o Estado não cria nada: ele fixa, codifica, distende. Acrescente violênciae conflitos durante os atos significa sinais de autoritarismo? Se por“violência” você estiver falando da violência perpetrada pelo Estado, sim. Este é um fenômeno muito próprio ao Brasil. Alguns pensadores brasileiros afirmaram que vivemos um liberalismo de tipo autoritário; isso se reflete muito claramente nas formas sociais e institucionais de lidar com os direitos –o direito ao protesto, aí incluído. Seria preciso enxergar os traços de autoritarismo precisamente aí, no ponto em que a Justiça parece se fazer com docilidade, numa sentença, num acórdão, sob a forma sutil da desresponsabilização.

Por Ana Istchuk e Bárbara Popadiuk


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