Especial p.8
Distribuição Gratuita
Reportagem detalha diferença númerica entre homens e mulheres no ambiente acadêmico do Paraná.
Jornalismo UEPG - Junho - 2019 - 210
Foto: Vitor Almeida
Frio aumenta demanda dos moradores de rua por assistência. p.13 Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (PRAE) inicia campanha contra assédio.
Política p.6
Envie pautas. Comente. Compartilhe.
Contato do Foca Livre: (42) 99700-0565
Mortes de LGBTs no Paraná aumenta em 187% nos últimos quatro anos.
Política p.7
Termo "Violência Obstétrica" pode ser extinto por Ministério da Saúde.
Entrevista p.10
Artista Marinho Gallera relembra parcerias musicais e episódios da música e teatro paranaenses.
Esporte p.13
Pela primeira vez, mulher assume comando do futsal . feminino local.
Cultura p.14
Movimento artístico “Croquis Urbanos” encerra atividades em Ponta Grossa.
Foto: Arquivo Museu Campos Gerais
UEPG p.3
Personagens p.15
Dois vencedores do FUC compartilham memórias do Festival.
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UEPG
JUN/19
Cortes de bolsas Capes afetam alunos da UEPG
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Universidade Estadual de Ponta Grossa tem oito bolsas retiradas
o início do mês de maio, o Governo Federal anunciou a suspensão de novas bolsas da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) dos cursos de mestrado e doutorado em todo o país. A Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) teve oito bolsas retiradas. Atualmente são 305 bolsas de mestrado e doutorado. Segundo a presidente da Associação de Pós-Graduandos da UEPG (APG), Isabela Gobbo, o corte nas bolsas dificulta o acesso à pesquisa para pessoas que não possuem renda para se manter nela. “Oito bolsas correspondem a oito alunos de pósgraduação que poderiam estar desenvolvendo sua pesquisa de forma integral e que teriam melhores condições de se sus-
tentar". Gobbo aponta que o corte de bolsas, que utilizam critérios de demanda social para os repasses, torna a universidade mais elitizada, o que dificulta o acesso à pesquisa. A UEPG conta com 22 cursos de mestrado e 10 de doutorado. O Coordenador do Programa de Pós-Graduação Mestrado Profissional em Ensino de História, Paulo Eduardo Dias de Mello, relata que o Programa conta com quatro bolsas da Capes neste ano. A manutenção das bolsas para as próximas turmas é uma preocupação. “Esse clima de incertezas e insegurança é acentuado porque o governo vem atacando ideologicamente a área de Humanas”, afirma. As bolsas de mestrado e doutorado, que correspondem a
R$ 1.500 e R$ 2.200, respectivamente, auxiliam os estudantes para continuar com suas pesquisas. Diante dos cortes na educação propostos pelo Governo, manifestações se espalharam por todo o país. A primeira delas foi realizada no dia 15 de maio e foram registradas em mais de 200 cidades. Os 26 estados mais o Distrito Federal aderiram à paralisação. Foi a primeira grande manifestação realizada durante o governo do Presidente Jair Bolsonaro. A reportagem entrou em contato com a Pró-Reitoria de Pós-Graduação (Propesp) da UEPG, mas até o fechamento desta edição não teve resposta. Por Renata Oliveira
Corte de bolsas pode diminuir número de pesquisas em universidades.
Foto: Denise Martins
UEPG prevê Curso de Nutrição para 2020, mas vestibular ainda permanece sem oferta
Universidade ofertará primeiro curso público de Nutrição nos Campos Gerais
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provado em 2011 pelo então reitor da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), João Carlos Gomes, o curso de Nutrição está previsto para iniciar em 2020, com a oferta de 30 vagas e quatro anos de duração. A UEPG possui atualmente 49 cursos de graduação, sendo 40 presenciais e nove a distância. A Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), em Guarapuava, é a instituição pública mais próxima da região de Ponta Grossa a ofertar o Curso de Nutrição. Em Ponta Grossa, o curso é ofertado pela escola privada Cescage. Para abertura do curso, a contratação inicial de quatro professores para o primeiro ano é necessária. Também a construção de um laboratório de avaliação nutricional e um laboratório de técnica dietética para o terceiro ano do curso. A Diretora do Setor de Ciências Biológicas e da Saúde, Fabiana Mansani destaca a importância da graduação de Nutrição na UEPG: “O curso de Nutrição é complementar aos cursos da área da saúde. Haverá projetos multiprofissionais que entrelacem diversas graduações”. Em contrapartida, Mansani critica o atual estado da universidade: “Falta estrutura em nossos laboratórios. Os aparelhos estão ficando obsoletos. São poucos para a quantia de
alunos”. Para a efetiva inauguração do curso, é necessária a verba e a contratação dos professores, o curso será realizado no Bloco M e utilizará laboratórios já existentes para os demais cursos do setor. Além da contribuição no Hospital Universitário (HU), a formação do curso será direcionada à formação generalista, atendendo não somente ao campo hospitalar, mas escolas, clínicas, presídios, entre outros locais públicos.
Segundo o Conselho Federal de Nutricionistas (CFN), existem 108.000 profissionais , formados em todo país, cerca de um nutricionista para cada 2000 habitantes. O vestibular de inverno previsto para 7 e 8 de julho deste ano não disponibilizará vagas para o curso de Nutrição. As informações sobre as inscrições para o 1º vestibular do Curso de Nutrição ainda serão anunciadas pela UEPG, sem data prevista.
Falta estrutura em nossos laboratórios. Os aparelhos estão ficando obsoletos. São poucos para a quantia de alunos” Por Marcella Panzarini
Alunos se preparando para o vestibular de inverno da UEPG pelo cursinho popular oferecido gratuitamente pelo DCE.
Foto: Marcella Panzarini
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UEPG lança campanha contra assédio dentro da Universidade
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Instituição afirma não ter como apurar casos ocorridos no passado
Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (PRAE) da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) lançou em 23 de maio a campanha “Assédios Plurais: discutindo o assédio e a importunação sexual no ambiente universitário. A iniciativa tem o intuito de acolher as vítimas. A UEPG é considerada a primeira entre as Universidades Estaduais a lançar uma campanha contra o assédio. A PRAE ressalta que a campanha é um esforço para construir coletivamente o atendimento a estudantes alvos de práticas de assédio nos espaços da universidade. “É dizer às vítimas que a instituição se importa com elas e reconhece que há um problema a ser enfrentado e, por outro lado, dizer a agressores que eles estão sendo observados e que a instituição não é conivente com esse tipo de atitude”. A campanha tem o propósito de acolher tanto alunos, professores e funcionários que sofrem ou sofreram assédio dentro da universidade. “Estamos tratando em especial de assédio sexual, importunação sexual e assédio moral nas relações acadêmicas”, especifica. A pró-reitora de Assuntos Estudantis, Ione Jovino, não acredita que a campanha irá incentivar alunos a denunciarem. “Pensamos primeiramente em iniciar uma cultura de acolhimento, na qual as pessoas que queiram denunciar ou relatar se sintam acolhidas. A ideia é enfrentar a questão, assumir uma postura de discussão e enfrentamento, criar mecanismos para ouvir”, relata. A pró-reitora explica que, caso seja efeituada uma denúncia, ela pode ser seguida de abertura de inquérito ou processo administrativo, conforme o caso. “As sanções previstas não são específicas para assédio, mas vão desde suspensão, multa, até exo-neração
Assédio é qualquer tipo de ato ou relação que intimide, coaja ou coloque em risco a integridade física e/ou psicoloógica de alguém
Foto: Marcella Panzarini
no caso de agressores serem funcionários ou professores No caso de alunos, de suspensão a expulsão, também não há ainda nada específico sobre assédio”, explica. Apesar da intensa campanha contra o assédio dentro da universidade, alunos, professores e funcionários reclamam do descaso nos casos já denunciados pela UEPG, em sua maioria arquivados, e dizem ter medo de denunciar, pois sabem que os possíveis casos continuarão impunes. Aluna de Engenharia de Alimentos da UEPG, Aime Sprotte, conta que ela e outras amigas já sofreram assédio dentro do campus por parte de um estudante da Universidade. “Ele parava em frente a minha sala e ficava observando a mim e as meninas através da janelinha na porta. Um dia chegou a nos seguir até o terminal central, colado em nós durante todo o trajeto”, relata. Cansada da situação, uma amiga de Sprotte decidiu protocolar processo na Universidade no início deste ano, mas a Instituição disse não poder fazer nada, pois alegou que o aluno sofre de problemas psi-
cológicos, mas que está dando suporte para a família. Sprotte diz não se sentir segura na mesma instituição que ele. “Mesmo podendo parecer só alguém querendo fazer amizades, ele não respeita nosso espaço, tem um olhar nojento e malicioso, aparentemente se faz de tonto e só vem atrás de nós quando não estamos acompanhadas de nenhum homem”.
Ele não respeita nosso espaço, tem um olhar nojento e malicioso"
Durante a produção desta reportagem, a própria repórter recebeu vários relatos de alunas e funcionárias que sofreram ou ainda sofrem assédio, tanto moral quanto sexual, dentro da universidade. Segundo outra aluna que também não quis se identificar, o assédio na universidade já está institucionalizado. “Eu imagino que as pessoas envolvidas no projeto têm boas intenções, mas são barreiras muito pesadas para conseguir ultrapassar”, afirma.
Presidente do Diretório Central dos Estudante (DCE), Iniwara Kurovski, afirma que eles recebem denúncias de alunos que sofreram assédio dentro da universidade, prin-cipalmente de alunas. Kurovski conta que ao receber a denúncia, eles encaminham para a UEPG para iniciar um processo adminitrativo, que muitas vezes não dão em nada. “Eles não lidam da melhor forma possível, e obviamente protegem muita gente, é aquela coisa de hierarquia, infelizmente”. A presidente afirma que o DCE tem tentado ajudar como pode para diminuir os casos de assédio na universidade. “Tentamos enfatizar essa questão fazendo campanha, postando coisas na nossa página, conversando com os alunos, mas ainda falta muito pra fazer, e não está sendo muito efetivo, porque é muito difícil atingir todo mundo”, conta. Presidente do SINDUEPG , Marcelo Ubiali, diz que é dever da universidade se preocupar com o assédio. “Se um professor usa da relação hierárquica de poder para constranger, impor situações ou atitudes, não pode ser ignorado. A instituição tem o dever de responsabilizar o agressor”, finaliza. A Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis, que é quem lida com os casos de assédio que ocorrem dentro da universidade, afirma não ter nada a dizer sobre os processos que já foram encerrados. “Poderei dizer se algum processo ainda estiver tramitando e a PRAE for solicitada a dar algum parecer ou alguma ação, no caso de envolver alunas e alunas como vitimas e/ou agressores”, esclarece Jovino. Por Isabela Gobbo
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PROBLEMAS URBANOS
JUN/19
Crescimento populacional causa impacto em serviços públicos no bairro Colônia Dona Luiza Aumentam as demandas nas vilas mais afastadas do bairro
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crescimento populacional no bairro Colônia Dona Luíza tem aumentado a demanda de serviços públicos no local, situado após o Viaduto do Santa Maria. Composto por nove vilas, Santa Maria, Santa Marta, Jardim Ouro Verde, Santa Luíza, Santa Tereza, Santa Clara, Jardim Cerejeiras, Porto Seguro e Colinas Verdes, toda a região conta apenas com duas Unidades Básicas de Saúde (UBS) para atender toda a população nas UBS Lauro
Gráfico: Marcus Benedetti
Muller (Santa Maria) e Adão Ademar Andrade (Cerejeiras) Censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2000, mostra que a população do bairro era de 12.367 pessoas. Já em pesquisa de 2010, o número chega a 16.639 moradores. Isso mostra um crescimento de mais de 4 mil pessoas em dez anos, mesmo sem contar com o Jardim Cerejeiras, que foi inaugurado em novembro de 2010, além de Colinas Verdes e Porto Seguro, que são vilas mais recentes ainda. No posto de saúde da Santa Maria, a demanda de consultas e agendamentos médicos cresceu de forma acelerada. A enfermeira do posto, Lauryellen Aparecida Padilha, conta que o crescimento populacional da região influencia o funcionamento da UBS principalmente no caso dos grupos prioritários. .
“Tentamos trabalhar principalmente com as prioridades, que são exatamente aquelas que correm mais riscos, como crianças, gestantes, idosos. E o crescimento influencia neles”, explica a enfermeira. Das nove vilas citadas, apenas quatro delas possuem Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI) – Santa Maria, Santa Marta, Cerejeiras e Ouro Verde. O CMEI Santa Marta possui 120 crianças matriculadas, mas as instalações estão fechadas para reformas desde 2018. Os alunos tiveram que ser realocados para o CMEI Nossa Senhora Aparecida, no Santa Maria. As crianças do Santa Maria foram realocadas para o CMEI Professora Gisele Maria Zander, que conta com 161 alunos, e CMEI Professora Fabiane Hernandez Barbosa, com 162 alunos matriculados, no Jardim Cerejeiras e Jardim Ouro
Verde, respectivamente. O advogado e membro do Conselho da Cidade, João Luiz Stefaniak, explica que essas áreas de conjuntos habitacionais e vilas recentes eram áreas rurais e passaram a ser urbanizadas devido à programas sociais do governo, como o “Minha Casa Minha Vida”. Para Stefaniak, grande parte dos projetos do Plano Diretor não foram aprovados. “O Plano Diretor simplesmente definiu as diretrizes urbanas, mas não definiu áreas prioritárias para expansão urbana, porque foram aprovadas as leis gerais e não foram aprovadas as específicas”, explica o advogado. Além disso, Stefaniak afirma que geralmente as áreas isoladas são as que mais sofrem sem os serviços públicos. Por: André Ribeiro
Demarcação do Parque Nacional dos Campos Gerais preocupa pesquisadores e ambientalistas
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Em entrevista concedida à imprensa, ministro declara que irá rever o modelo de demarcação do Parque Nacional dos Campos Gerais (PNCG).
eclarações do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, causaram uma reação em ambientalistas e pesquisadores locais, após uma reunião fechada entre o ministro e empresários, produtores rurais e políticos da região. A reunião aconteceu após o pedido oficial da deputada federal Aline Sleutjes (PSL-PR) na qual solicita “avaliar a possibilidade de cancelar o decreto de criação ou alterar de Parque para Monumento Natural o hoje denominado Parque Nacional dos Campos Gerais”. A deputada teve a motivação pela demanda de 100 famílias que ainda moram em regiões do parque que não foram desapropriadas. As reivindicações são o pagamento de indenizações, dificuldade com novos empreendimentos e acesso de novas linhas de crédito. Segundo o professor de Geologia da UEPG, Gilson Burigo, o ministério do meio ambiente não tem condições de fazer essa alteração sozinho, por ser uma unidade federal. Para que os limites sejam modificados ou mude de categoria, é preciso criar um projeto de lei, e esta deve ser aprovada pelo Congresso. Para que isso ocorra, ela terá que passar pelo trâmite na Câmara e no
a qualidade da água na região, reforça que a sociedade deve reivindicar a existência do parque para preservar a qualidade do abastecimento da cidade. “Com aproximação da área urbana, existe uma grande tendência de contaminação na água por diferentes substâncias que são descartadas pelo uso urbano e agrícola, dificultando a recuperação ”, revela Campos. Produtores rurais questionam a existência do Parque pelo direito à propriedade rural, sustentado pela Lei 4.504/64 do Estatuto da Terra, mas a questão é que o Estado deve garantir os
direitos coletivos como a preservação ambiental antes dos direitos particulares à propriedade, conforme ressalta Gilson Burigo. ”É dever do Estado identificar quais são as áreas minimamente importantes para preservação, e aí então pagar as indenizações para os moradores e desapropriar essa área” ressalta o geógrafo. O Decreto n° 3.365/41 (artigo 5º, alínea k), determina a preservação e conservação dos monumentos históricos e artísticos, isolados ou integrados em conjuntos urbanos ou rurais, bem como as medidas necessárias a manter-lhes e realçar-lhes os aspectos mais valiosos ou característicos e, ainda, a proteção de paisagens e locais particularmente dotados pela natureza. Pesquisas realizadas no PNCG pelo Laboratório de Mecanização Agrícola (LAMA – UEPG) mostram que, entre 2005 e 2018, os campos nativos da região tiveram uma redução de 27% no período. Somadas, as áreas com alteração ilegal totalizam 947 hectares.
O Parque Nacional possui 21 mil hectares e está localizado entre o 1° e 2° Planalto dos Campos Gerais. Foto: Veridiane Parize
Por: Patrícia Guedes
Senado para que efetivamente haja uma mudança. Burigo reforça a necessidade de preservação da região. “É preciso garantir que os ciclos naturais aconteçam na região, pois ela oferece muitos serviços ecossistêmicos para a sociedade. Boa parte do abastecimento de águas da nossa região, acontece graças às nascentes de água subterrânea ou do Rio Pitangui e Rio verde que contemplam o parque”, alerta O professor do Departamento de Química da UEPG, Sandro Xavier de Campos, desenvolvedor de pesquisas sobre .
JUN/19
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PROBLEMAS URBANOS
Chegada do frio aumenta demanda em abrigos sociais para moradores de rua Serviço dos assistentes sociais cresce mais nesta época do ano, para auxiliar desabrigados ou pessoas em situação de vulnerabilidade social ,
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queda nas temperaturas no final do outono e começo do inverno atinge diretamente a população que vive nas ruas. Em Ponta Grossa, duas entidades filantrópicas oferecem abrigo aos moradores de rua e às pessoas em situação de rua, o Ministério do Melhor Viver e a Casa da Acolhida. Além dos abrigos, há o serviço municipal de atendimento do Centro Pop, unidade básica do Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), que oferece café da manhã e da tarde, banhos, tíquetes do Restaurante Popular e outros serviços. A organização social Ministério Melhor Viver atende na recuperação e reintegração social dos indivíduos. Além disso, o local oferece vagas para 50 abrigados e o tempo de permanência é ilimitado. Já no abrigo da Casa da Acolhida, considerado apenas uma casa de passagem, os abrigados podem ficar no máximo 90 dias. A assistente social do Ministério Melhor Viver, Ana Carolina Reis, explica que há dois tipos de população que vive nas ruas, as consideradas moradoras de rua e as em situação de rua. Esta última se refere às pessoas que possuem um lugar para morar, mas que por algum motivo encontram-se na rua. “Jovens usuários de drogas, idosos abandonados pela família, pessoas que tem o vínculo familiar rompido, são pessoas que têm onde dormir, mas que vivem nas ruas, esse é o conceito do termo”, destaca. No frio, o trabalho dos assistentes sociais do Centro aumenta além da procura por a-
Cerca de 160 pessoas vivem nas ruas em Ponta Grossa. Foto: Vitor Almeida
Morador de rua em praça pública no centro de Ponta Grossa. Foto: Isabela Gobbo juda. Durante a permanência da humano e acredito que eles posreportagem no local, a coorde- sam mudar, ter uma vida difernadora do Centro Pop, Rose ente da que eles têm hoje, Christóforo, atendeu cinco situ- porque ninguém nasceu desse ações em 10 minutos: “Rose, jeito”, finaliza Christóforo. quero uma vaga na Casa da Além da movimentação Acolhida”, “Preciso de ajuda, nas unidades de serviço social, a vim de Palmeira e não tenho preocupação com a saúde dos onde dormir”, “Tem um homem que se encontram desabrigados lá tomando banho e disse que também aumenta nessa época vai demorar”. A cada minuto, a do ano. Segundo o médico coordenadora do local é chama- Bráulio César Pereira, a queda da por quem procura o Centro nas temperaturas pode fazer por ajuda. “Nós aqui não para- com que o corpo de quem vive mos. É sempre bem corrido. nas ruas entre em estado de Eles sempre precisam de al- hipotermia. “Quando a pessoa guma coisa”, conta a coordena- fica exposta ao frio intenso, dora. como é o caso dos moradores de Christóforo estima que, rua, o organismo começa a disatualmente, há cerca de 160 pes- sipar mais calor do que ele é casoas no município que vivem na paz de produzir. Nessa situação, rua e/ou em situação de rua. O a pessoa entra em risco de deaumento da procura por ajuda senvolver a hipotermia, que tecno frio acontece, mas também nicamente é quando a tempernão existe uma estatística que atura corporal fica abaixo de mostre esse crescimento. “A 35ºC”, explica o médico. procura aumenta, não só por “A exposição prolongada pessoas que moram nas ruas ao frio pode causar uma aqui da cidade, mas também diminuição muito grande no pessoas de outras cidades que diâmetro das arteríolas [pevêm até Ponta Grossa atrás de quenos vasos sanguíneos] que ajuda, pois sabem que aqui exis- levam o sangue até as extremitem locais que podem ajudá- dades. Algumas pessoas podem los”, relata. sofrer até necrose das extremi“Fazemos a abordagem o dades por causa da exposição ao dia todo. Qualquer pessoa que frio”, finaliza Pereira. fizer uma chamada, nós vamos e O Ministério Melhor fazemos, além da abordagem Viver atende na recuperação e espontânea. Alguns são re- reintegração social dos indivísistentes e preferem ficar na duos. Os assistentes sociais do rua, mas temos que conquistá- local trabalham em quatro etalos pela confiança, pois não faze- pas de recuperação das pessoas: mos nenhuma abordagem pela da saúde, estímulo à profissioforça”, afirma a assistente. nalização através de cursos, A coordenadora, que tra- reestabelecimento da estrutura balha com assistência social há familiar e o desligamento, que 26 anos, explica que não tem acontece no último passo, como medir quantas pessoas quando os abrigados são levasão atendidas por dia e nem dos para um outro local, conquantas pessoas são encami- hecido como República, onde nhadas por mês para a Casa da são divididas contas básicas Acolhida e para o Ministério como água e luz entre os Melhor Viver. “Acredito no ser próprios moradores. Diferente -
mente do abrigo, a República oferece 15 vagas. Os assistidos são deslocados para a República quando já tem um emprego formal e, então, se inicia a etapa de desligamento através de planejamento com o indivíduo. “A gente estabelece metas perguntando: ‘O que você quer comprar?’ Alguns querem uma casa, outros um carro, outros querem móveis novos, depende de cada um. A partir desse momento, a gente inicia o desligamento deles, para que possam viver de forma independente”, relata Ana Carolina Reis. Reis destaca que, desde o ano passado, o Ministério Melhor Viver não pode mais deslocar as pessoas que se encontram na rua diretamente para o abrigo, como era realizado por meio do procedimento de abordagem: “Uma lei no ano passado mudou isso e agora a gente só faz a abordagem, mas o encaminhamento para cá não pode mais ser feito de forma direta. O processo é feito pela Prefeitura”. De acordo com a assistente social, são realizadas cerca de 100 abordagens por mês, as quais são repassadas para o Centro Pop.
A procura aumenta, não só por pessoas que mo-ram nas ruas aqui da cidade, mas também pessoas de outras cidades que vêm até Ponta Grossa''
Desde o ano passado, o Creas Pop funciona das 8h30 às 17h, na Rua Tobias Monteiro, 74, embora o endereço esteja desatualizado no site da Prefeitura de Ponta Grossa. O Ministério Melhor Viver fica na rua Herculano de Freitas, 751, no Órfãs e recebe doações de roupas e cobertores para os abrigados. A Casa da Acolhida fica na Rua Doralícia Correia, 316, no Cará-Cará e também recebe doações. Para ajudar alguém que está em situação de rua, basta ligar no número (42) 3220-1065 para que o Centro Pop realize a abordagem. Por: Marcus Benedetti
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POLITICA
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JUN/19
Paraná teve 69 mortes de LGBTs em apenas 4 anos Dados indicam ausência do Estado no combate à homofobia
ntre 2015 e 2018, os homicídios de vítimas LGBTs (lésbicas, gays. bissexuais, travestis e transexuais) aumentaram em 187,5% no Paraná. As mortes motivadas por homofobia foram de oito em 2015, para 15 em 2016, chegando a 23 em 2017 e 2018. Os dados foram levantados no relatório do Grupo Gay da Bahia (GGB), com base em notícias publicadas em veículos de comunicação, informações de parentes das vítimas e registros policiais. O relatório do GGB mostra que no Brasil, em 2018, ocorreram 320 homicídios de pessoas LGBTs, além de 100 suicídios. Mesmo havendo uma diminuição no número de mortes referente a 2017, quando foram computadas 445 mortes, o número de vítimas continua alto em comparação ao início da década. Das 130 vítimas registradas em 2000, o número de casos aumentou para 420 em 2018 um crescimento de 223,08%. O estudante Luciano Rodrigues, 26, conta que já passou por várias situações desconfortáveis em razão de sua orientação sexual. “O sentimento de impotência é o pior possível, em saber que, por conta da minha orientação sexual, sou alvo de críticas e violência. Se registro um boletim de ocorrência, aparecerá apenas uma agressão, sem menção à homofobia”,
declara Rodrigues. Os dados também mostram que a cada 20 horas, um LGBT é morto ou se suicida no Brasil. O que coloca o país como recordista no ranking dos que mais matam LGBTs no mundo. De acordo com o relatório, os crimes são por arma de fogo (29,5%); arma branca (23,6%) e asfixia (5,2%). O presidente do Grupo Universitário de Diversidade Sexual e Identidade de Gênero (GUDI) da Universidade Estadual de Ponta Grossa, Brendo Carvalho, explica que a homofobia dentro das universidades também contribui para o au-
mento do número de vítimas. “Na própria UEPG está presente a LGBT-fobia, principalmente em cursos em que a heterossexualidade é regra, dificultando, às vezes, para uma pessoa LGBT, o bom an-damento da sua vida acadêmica”, expõe Em 23 de maio, seis dos onze ministros do Superior Tribunal Federal (STF) votaram pela criminalização da homofobia e transfobia, equiparando-as ao crime de racismo, cuja conduta é inafiançável e com penas que variam de um a cinco anos de reclusão. Porém, a discussão foi suspensa antes da votação de todos os ministros. .
STFvotou pela criminalização da homofobia equiparando-as ao crime de racismo. Foto: Veridiane Parize
Para a presidente da Comissão da Diversidade Sexual OAB/PG, Thais Boamorte, a população LGBT encontra-se marginaliza-da judicialmente sem uma legislação penal específica. “As pessoas LGBTs estão sujeitas a um silenciamento e exclusão, sem contar as diferentes formas de discriminação e preconcei-tos que sofrem diariamente, e com essa aprovação pelo STF, a comunidade terá um resguardo legal para punir o agente por suas práticas homofóbicas”, afirma Boamorte. Segundo o promotor de Justiça do Ministério Público do Paraná, Rafael Osvaldo Machado Moura, diferentes órgãos no Estado promovem atividades para a diminuição de mortes de LGBTs. “Um aspecto para combater a homofobia no Paraná tem sido a criação de núcleos voltados ao atendimento e auxílio da comunidade LGBT”, explica Moura. A assessora da Prefeitura Municipal de Ponta Grossa, Rafisa Ramos, explica que o município também trabalha com ações educativas sobre o tema LGBT dentro de instituições de ensino, através da Fundação Muni-cipal de Assistência Social e também pela Secretaria Muni-cipal de Políticas Públicas Sociais. Por Alexsander Marques
Decreto assinado por Bolsonaro retira das universidades federais a escolha de cargos
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Indicados aos cargos comissionados serão inscritos no SINC e submetidos à aprovação do presidente da República
través de Decreto 9.794 de 14 de maio, o Presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL) determinou uma intervenção nas universidades federais. O decreto, que entra em vigor a partir de 25 de junho, trata da
nomeação e designação de cargos em comissão e de confiança pelo poder executivo, e institui o Sistema Integrado de Nomeações e Consultas (Sinc). A medida também possibilita ao presidente “as competências para
Estudantes da UTFPR protestaram contra o contingência de verbas nas Universidades Federais. Foto: Emanuelle Soares
exoneração e dispensa.” No âmbito das Universidades Federais, o parágrafo IV do artigo 7 engloba “as nomeações para cargo de dirigente máximo de instituição federal de ensino superior.” A indicação deve então ser encaminhada para a Casa Civil da Presidência da República, que passa a ter a competência para aprovação e indicação dos cargos. O SINC tem função de servir como um banco de dados sobre os indicados ao cargo. Em 10 dias após a aprovação, o Presidente poderá retirar a nomeação. Se nesse tempo, não for encontrado nenhuma oposição ao indicado, a nomeação é oficializada e publicada no Diário Oficial da União. O banco de dados poderá ser utilizado de forma facultativa nas instituições federais de ensino superior. Doutor em Direito pela UTFPR, José Robson da Silva co-
menta que “as Universidades têm autonomia em diversos setores, como nos de conhecimento e administração, que é limada pelo decreto”, analisa. O jurista comenta que a decisão pode comprometer o funcionamento de projetos e certos setores acadêmicos. Em nota oficial, a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) de Ponta Grossa ressalta “a defesa incondicional da autonomia universitária nos termos do que estabelece a Constituição Federal de 1988 e espera que qualquer ato que atente a este princípio seja revertido.” A Instituição informa que aguarda estudos mais detalhados da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) sobre as implicações do decreto. Por Jessica Allana
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POLÍTICA
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Ministério da Saúde não utiliza “violência obstétrica” em documentos públicos Para médicos, uso do termo prejudica profissionais. Pesquisadores da área reforçam a existência de violências durante o parto Ministério da Saúde reconheceu o direito das mulheres a usar o termo Violência Obstétrica, no dia 10 de junho deste ano, após uma recomendação do Ministério Público Federal. Grupos de médicos alegam que a expressão é genérica e prejudica profissionais. Para pesquisadores na área, abolir o termo prejudica as gestantes e tenta esconder um abuso que ocorre em diferentes fases da gravidez. Um despacho publicado anteriormente pelo Ministério da Saúde, em 3 de maio, orienta que o termo “violência obstétrica” fosse evitado em documentos públicos e, posteriormente, abolido. A decisão de não utilizar o termo em documentos continua a mesma pelo Ministério. Em 2018, o Conselho Nacional de Medicina emitiu um parecer com a mesma orientação aos profissionais da área. De acordo com o despacho do Ministério da Saúde, o termo Violência Obstétrica “tem conotação inadequada, não agrega valor e prejudica a [sic] busca do cuidado humanizado [...], desta forma, a impropriedade da expressão ‘violência obstétrica’ no atendimento à mulher, pois acredita-
-se que, tanto o profissional de saúde quanto os de outras áreas, não têm a intencionalidade de prejudicar ou causar dano”. O presidente da Associação Médica de Ponta Grossa, Gilmar Alves do Nascimento, defende que o termo é genérico. “Quando se fala em ‘violência obstétrica’ a ideia é que só o médico obstetra é culpado, quando na verdade a violência contra a gestante pode acontecer em vários estágios da gravidez e por diversos profissionais”, declara. Para a mestranda em Ciências Sociais Aplicadas na UEPG e membro do Núcleo de Estudos e Pesquisas Interdisciplinares sobre Saúde Reprodutiva, Comunicação em Saúde e Direitos Humanos, Elena Guimarães, a abolição do termo pode contribuir para a dificuldade de entender o que é ‘violência obstétrica’ e da noção da mulher de que está sofrendo uma violência. “Pesquisas mostram que a violência existe. Abolir o termo tenta esconder a realidade”, afirma. Conforme dados da Pesquisa Nascer no Brasil, realizada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), uma em cada quatro mulheres afirma ter sido vítima de violência obstétrica. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que 830 mulheres morrem diariamente ao redor do mundo por complicações no parto. A advogada Fer-
nanda Kossatz, representante da OAB-Ponta Grossa, avalia que a abolição do termo pelo Ministério da Saúde, em 3 de maio, viola a liberdade de informação e de expressão. “A violência obstétrica ataca a dignidade, a saúde e a vida da pessoa, ou seja, é um ataque aos direitos fundamentais”, explica. Atualmente, não existe uma lei específica no Brasil que regulamente a ‘violência obstétrica’ como crime, mas ela pode ser denunciada por outros artigos do código penal. Em 2017, o deputado federal Francisco Floriano (DEM-RJ) propôs um projeto de lei que criminaliza a ‘violência obstétrica’. O projeto está parado na Câmara Federal. Kossatz avalia que a abolição do termo pelo Ministério da Saúde pode influenciar a decisão dos deputados em dar continuidade ao projeto para votação em plenário.
“Nunca pensei que eu seria uma vítima” Rosicler Rodrigues Gos conhecia o significado de ‘violência obstétrica’ e buscou um hospital humanizado em Ponta Grossa para o parto da primeira filha. Apesar disto, foi vítima de uma série de abusos. “Cheguei ao hospital às 23h, com contrações e dilatação de dois dedos. Para realizar um parto natural, a dilatação precisa estar no tamanho de 10 dedos. Após oito horas internada e três horas com oito dedos de dilatação, pedi para trocar o parto normal por uma cesária, mas o pedido foi negado pela equipe do hospital”. Gos conta que o sangramento começou às 10h da manhã: “Fui orientada pelas enfermeiras a realizar exercícios em uma bola de pilates e tomar banhos para impulsionar a dilatação natural, mas não houveram resultados. Às 12h, decidi utilizar o soro para tentar aumentar a dilatação, também não houve resultados. Às 12h30min, a médica que estava de plantão aconselhou que a bolsa fosse estourada para aumentar a dilatação”. Na sequência, Gos relatou que, uma hora depois, decidiu aceitar que a bolsa fosse estourada não de forma natural. “Ela tentou estourar minha bolsa com os dedos, mas não conseguiu. Foi a pior dor que senti
A violência contra a gestante pode acontecer em vários estágios da gravidez e por diversos profissionais”
na vida. Depois disso, ela usou o instrumento correto”, relata. Por volta das 14 horas, Gos foi levada para a sala do parto. “Lembro que gritava muito de dor e pedia para o parto ser cesária”. Após cerca de 40 minutos na sala de parto, a equipe percebeu que o coração do bebê estava fraco e decidiram realizar a cesária. Sofia nasceu às 15h42 da tarde de 8 de maio de 2018. Na carteirinha de vacinação, o parto ainda estava marcado como “natural”. Nos dias que seguiram ao parto, Gos pensou em denunciar a violência que sofreu, mas acabou desistindo porque a filha estava saudável e não queria sofrer com o assunto.
Como denunciar violência obstétrica
A advogada Fernanda Kossatz destaca que muitas mulheres deixam de denunciar uma violência obstétrica por não saberem que foram vítimas de uma violência, o que pode se agravar com a abolição do termo. A Organização Mundial da Saúde (OMS) define violência obstétrica como o “uso intencional de força física ou poder, em ameaça ou na prática, contra si próprio, outra pessoa ou contra um grupo ou comunidade que resulte ou possa resultar em sofrimento, morte, dano psicológico, desenvolvimento prejudicado ou privação”. O primeiro passo para realizar uma denúncia é procurar qualquer delegacia ou o Ministério Público. É recomendável levar o prontuário médico e uma testemunha. A advogada ressalta a importância de que a gestante esteja com um acompanhante durante todo o processo de gestação e parto. “O acompanhante funciona como uma de testemunha do que acontece”, explica. Na delegacia ou Ministério Público, o denunciante e a testemunha depõem sobre o caso. Após isto, é aberto um inquérito contra os envolvidos (órgãos e profissionais da saúde) que participaram do parto. Com o fim do processo, pode ocorrer uma responsabilização penal ou civil. Por Daniela Valenga
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ESPECIAL
Graduações das universidades estadua numérica entre m
Discrepância na quantidade de homens e mulheres nas I Ciências exatas e biológicas de universidades estaduais se destacam na desigualdade de gênero entre os professores
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as áreas das ciências exatas da UEPG 70% do corpo docente é composto por homens. A diferença de gêneros entre os professores da universidade também existe na área das ciências sociais aplicadas, na qual mulheres são a grande maioria. Já a área das biólogicas é composto por uma pequena maioria de homens. Nas outras Estaduais do Paraná, como UENP, UEL, Unespar e Unicentro o padrão se repete, com poucas diferenças. A Unioeste não forneceu os dados ao ser abordada pela equipe de reportagem. A professora do Centro Acadêmico de Línguas Modernas da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Nádia Kovaleski, reconhece que a disparidade na área de exatas e biológicas tem influencias em uma tradição sexista. Com pesquisa de mestrado sobre as escolhas das estudantes para cursos na graduação, a professora defende que essa herança é perpetuada pela sociedade, alunos e os próprios docentes, que discriminam e limitam a mulher a poucos e injustos papéis na sociedade. “Quando escolhem cursos da área de exatas, as meninas enfrentam piadas e situações constrangedoras com colegas e professores, isso levou a criação da aba “Já ouvi na UTFPR” no site da instituição para denúncias e exposição desses casos. Além disso, a família também exerce pressão, pois teme que, pela pouca participação femi-
nina no ramo, as meninas terão dificuldades em arrumar emprego. É o que acontece com as que seguem no curso e não desistem”, argumenta a pesquisadora. “As que não abandonam, enfrentam bancas de Trabalho de Conclusão de Curso formadas, no geral, por homens, cuja a subjetividade alheia ao feminino interfere. E para as que pretendem adentrar no mundo acadêmico, as barreiras são mais sutis, por exemplo, o preconceito pelo fato da mulher engravidar, supostamente a torna uma pesquisadora menos compromissada com a agenda [cheia] que o ofício requere. Isso também interfere na escolha de projetos, editais e dissertações de especializações escolhidos pelos corpos docentes das universidades [novamente maioria masculina]”, propõem a professora. Sobre a segregação envolvendo a presença feminina nas áreas biológicas e ausência proporcional nas exatas, Kovaleski menciona a interferência de preconceitos dentro de corpos docentes, quase sempre homogeneamente masculinos. “É um círculo que alimenta a ideia de uma suposta inabilidade inerente da mulher para às abstrações das Ciências Exatas. Assim como mantém a de que elas possuem afinidade natural com a área biológica. O pior é que isso é dito até por professores de currículo gabaritado. Inevitavelmente o caminho delas fica mais difícil e menos atrativo, para alunas que estão na fase de escolher em qual graduação cursar”, conclui. Estudante de Licenciatura em Música na UEPG, Rhulianne Lee relembra com dor dos
tempos que cursava Engenharia de Processos e Biotecnologia na UTFPR. “Quando eu entrei na UTFPR, eu só usava saia por causa da minha igreja, mas tive que começar a usar calça por causa do medo de sofrer assédio. Os professores deixavam claro que lugar de mulher não é na ciência e nos menosprezavam muito. Teve um [professor] que disse que me passava se eu fizesse umas “coisinhas” para ele”, lembra a estudante. Para a pedagoga formada pela UEPG, Myrella Leão Leineker, cujo TCC foi sobre a Dominação Masculina nas relações sociais/educacionais e a resistência feminina, a menorização das meninas é construída por uma divisão social do trabalho por gênero, moldada desde a educação infantil. “Não tendo a mesma qualidade de educação e com um estigma social que as associa à menoridade, as meninas entram em desvantagem quando disputam vagas de trabalho, sobretudo na área de exatas, onde há salários maiores”, afirma. A pedagoga cita dados do artigo Escolhas Profissionais e Impactos no Diferencial Salarial entre Homens e Mulheres, onde mais de 53% das meninas vão para a área de humanas, 40,6% para biológicas e apenas 18,2% vão para exatas”, finaliza a pedagoga. Como exemplo, ela cita o fato da pedagogia como um campo majoritariamente feminino devido a de um processo histórico no pais. “Os campos de licenciatura e pedagogia foram um dos primeiros a serem permitidos a ocupação profissional de mulheres. Logo, há um censo comum que as associa à profissão. Também reforçado por, antigamente, os homens do ramo serem deixados a cargos administrativos”, pondera Leineker.
Por Yuri A.F. Marcinik
Graduações de Universidades Estaduais do Paraná mostram desigualdade entre mulheres e homens
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gronomia, Ciências da Computação, Engenharia, Enfermagem, Odontologia, Pedagogia e Serviço Social. Esses são os cursos com maiores discrepâncias de gênero, tanto no corpo discente, como docente nas Universidades Estaduais paranaenses. Em 2018, na Universidade Estadual de Londrina (UEL), dos 162 estudantes de Engenharia Elétrica, apenas 17 são mulheres. Já em Enfermagem, de 301, 67 são homens. Na
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ESPECIAL
ais do Paraná expressam desigualdade mulheres e homens
IES do Paraná atinge tanto corpo docente como discente Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP), o curso de Odontologia possui 161 universitários, sendo 113 mulheres. De acordo com o Censo de Educação Superior de 2017, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), em todas as instituições brasileiras, o corpo discente é formado mais por mulheres do que homens. Entretanto, há uma grande desigualdade de gênero em algumas graduações. Os cursos que possuem mais matrículas por mulheres são, respectivamente: Pedagogia, Direito, Administração, En-
fermagem, Ciências Contábeis, Psicologia e Serviço Social. Já os que têm mais homens são Direito, Administração, Engenharia Civil, Ciências Contábeis, Engenharia Mecânica e Licenciatura em Educação Física. Tamires Regina Oliveira, pesquisadora do Grupo de Estudos Territoriais (GETE) na área de Epistemologia e Gênero da UEPG, constatou que, apesar da ativa participação feminina no mundo científico, “as mesmas ainda estão em desvantagens e por vezes invisibilizadas dessa produção do conhecimento”. Os corredores das Universidades eram antes masculinizados e o contato das mulheres com estes centros de ensino foi preponderante a partir dos anos 70.
Segundo Oliveira, a desigualdade nos cursos, historicamente, direcionaram seu público à determinadas atividades consideradas femininas e outras masculinas. Oliveira exemplifica a profissão de Enfermagem, que durante anos foi relacionada a situações vistas como ‘natural’ das mulheres, como o cuidado e zelo. “Assim como as Engenharias, as Ciências Exatas em si, eram vistas como atividades direcionadas ao público masculino, principalmente à ida a campo, ou até mesmo os cálculos muito entendiam como algo mais “fácil aos homens”, salienta. A estudante de Engenharia de Produção da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Fernanda Freitas, diz que nunca sentiu preconceito dentro da Universidade por cursar Engenharia, mas sim por alguns parentes. Por mais que a ênfase em Produção abranja mais mulheres que em Mecânica e Civil, Freitas já se sentiu pressionada. “Todo mundo fala que tem muito mais homens no mercado de
Foto: Yuri A. F. Marcinik e Denise Martins
trabalho, que eu terei que trabalhar em chão de fábrica, ter muito mais voz, ser séria, não poderei abaixar a cabeça”, relata. Já no caso de cursos predominantemente femininos, não há relatos de resistência à presença masculina. Um dos 14 graduandos homens de Serviço Social na UEPG, Alisson Palamar afirma que não sofre preconceito na área. “Serviço Social é historicamente feminino. A inserção de homens na profissão é recente, mas não me senti pressionado quanto a isso”. O mesmo acontece com Marcos Maciel da Silva, estudante de Enfermagem da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro). “Me sinto confortável em relação aos professores, além de ter um incentivo a mais por parte de alguns, já que mulheres são maioria dentro da profissão”, avalia. Até o fechamento desta edição a Unioeste e a UEM não responderam a reportagem. Por Denise Martins
Infográficos:Denise Martins
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ENTREVISTA
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“Leminski tinha a visão correta do ambiente que ele queria”, diz Marinho Gallera sobre parceria com poeta o
araraquarense Mário Amadeu Gallera, sentado no banco da praça Marechal Floriano Peixoto, fumou cinco cigarros durante a entrevista de quase duas horas e meia. Durante os três meses em que mora em Ponta Grossa afirma que “andou escrevendo algumas coisas”. Aos 71 anos, Marinho Gallera planeja começar um novo projeto até o fim do ano, além de visitar os amigos e familiares de São Paulo. Gallera desembarcou em Curitiba para estudar Ciências Sociais na Universidade Federal do Paraná, mas foi com os Paulos, Leminski e Vitola, um trio de amigos no qual, segundo ele, compunha sem vaidades, que Marinho fez carreira no meio artístico. Além de ter participado do Movimento Atuação Paiol (MAPA), que reunia pessoas ligadas à cultura curitibana, Gallera compôs trilhas, jingles, discos, fez parcerias e acompanhou o desenvolvi-mento dos grandes espetáculos nos teatros curitibanos. Em 2018, Gallera e Paulo Vitola lançaram o projeto “Nós de Pinho”, o primeiro volume de partituras com canções compostas durante parceria dos dois, disponível no site http://www.nosdepinho.com.br/
Foto: Vitor Almeida
Primeira Parte: Vida De Gallera
Além de Paulo Vitola, o senhor também teve uma parceria com Paulo Leminski. Como foi a experiência?
Mudou o jeito de compor pelo fato de Leminski ter vindo da área da poesia propriamente dita, que não tem a melodia intrínseca como as “letras de música”. O Vitola compõe canção, toca bem violão, só que ele parou, Leminski tocava também, moía os dedos no violão. Eu sabia um pouquinho mais do que ele, então ele me dava as músicas dele para eu “ajeitar”, mas eu não mexia muito. O Leminski tinha a visão correta do ambiente que queria. Ele ouvia muito Bob Dylan, tinha o “negócio” das várias linguagens, ele tinha acesso tanto à literatura quanto à música, no original. De entender de cabo a rabo. O Vitola teve uma formação basicamente publicitária e de bastante leitura. Ele sempre foi um cara muito dedicado à literatura e à escrita, por isso mesmo Leminski e Vitola eram íntimos. Onde Vitola ia, levava Leminski. Onde Leminski ia, levava Vitola. Então, quando o Leminski me deu um texto, o
O disco 'Fazia poesia' possui os trabalhos de Leminski e Marinho Gallera. Foto: Vitor Almeida
Vitola disse: “Ele falou para mim que ia te dar”. Não havia ciúmes nenhum. Já ouvi bastante comentário dizendo que Leminski era um cara difícil. Só que, durante os mais de 15 anos que a gente conviveu, notei que quem pintava, escrevia, era poeta, tocava ou fotografava ele dava uma certa preferência. Frequentava minha casa e eu frequentava a dele. Fizemos amizade, tínhamos crianças pequenas, às vezes eu até dormia lá depois que tomava umas cervejas. Então não havia problema nenhum porque estávamos juntos, cansamos de escrever juntos. Leminski e o Paulo (Vitola) eram pessoas com quem eu convivia diariamente, é lógico que quando a gente fez a peça “Cidade da Gente”, que era uma peça mais demorada, o Paulo (Vitola) ia na minha casa e a gente ficava horas e horas experimentando coisas, pensando em como dispor a canção. Com o Leminski era diferente. Ele dava os textos e dizia: “Este é teu”. Mas eu falava para ele que, quando estivesse pronta, ia mostrar para ele. Só fazia as coisas com o Leminski com aval dele. Tanto que, depois que ele morreu, dei tudo que tinha dele para a filha. Tinha muitos originais dele, posteriormente, a Estrela [filha de Paulo Leminski] me pediu todas as músicas que eu tinha com ele para fazer um Songbook. O disco que eu fiz com o Leminski [Fazia Poesia] foi o primeiro que escrevi todos os arranjos do meu “jeitinho”, nada imenso.
O senhor ouve de tudo e gosta de tudo?
Eu ouço de tudo. Sempre tem alguma coisa que eu gosto. Eu não ouço muito samba “carnavalesco” porque não me interessa. Acho que é muito sazonal. É para aquele momento e não vai longe. Gosto de tudo. Tenho muita influência, na verdade, de música americana. Adoro Jazz, por exemplo Bill Evans e o pessoal mais da antiga, como Barney Kessel, Joe Pass, mas são coisas de gosto pessoal. Adoro esse pessoal do Nordeste. Tive o prazer de conhecer Dominguinhos e Gilberto Gil. E para o futuro?
Tenho esse projeto do disco para sair até o final deste ano. (…) Até final de junho, com certeza, fico aqui, quero assistir ao FUC [Festival Universitário da Canção] e aí vou para São Paulo rever a família.
Só fazia as coisas com o Leminski com aval dele. Tanto que, de-pois que ele morreu, dei tudo que tinha dele para a filha."
ENTREVISTA
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exclusiva para concertos. Tem também o Teatro Positivo, que traz grandes espetáculos internacionais, mas as apresentações são esporádicas. Com a globalização e a universalização da música através da Internet, o senhor acredita que tenha se perdido a identidade cultural local?
Vejo o momento. Não adianta querer comparar um tempo com o outro. Certas coisas antigas não dão nem para mexer. Uso “mesmo” a internet. O que eu não sei, eu procuro saber lá. O que acho que sei, procuro para ver se é aquilo mesmo. A gente tem acesso a tudo. Acho que isso é bom porque você ouve ou vê alguma coisa que nem imaginaria que existisse, mas existe e está lá. Acho bom que tenha acontecido esse lance tecnológico porque as pessoas saem um pouco mais da televisão. Tanto que, depois da entrada desse lance da internet, houve uma melhora da qualidade dos programas televisivos. Tenho ouvido essa gurizada nova. Às vezes estou escrevendo alguma coisa de música e estou ouvindo rádio, então tenho bastante interesse nesse lance tecnológico. E sobre a gravação do álbum “Fazia Poesia”? Divulgação. Fonte: Nós de Pinho Segunda Parte: A carreira
Em 1974, Paulo Vitola liderou o Movimento Atuação Paiol (MAPA). O senhor já tinha mais experiência quando chegou ao grupo. Por que o grupo não alcançou um espaço maior em âmbito nacional? Já que os grupos que interpretavam a MPB com uma “regionalidade” estavam alcançando um bom espaço, como é caso do Clube da Esquina, Novos Baianos, Os Almôndegas. O problema era a falta de regularidade, pois no grupo tinha gente que fazia cursinho para medicina, direito, engenharias e essas pessoas seguiram nas suas respectivas carreiras. Não esperava do MAPA. Já que eram reuniões. A gente não esperava que o MAPA fosse resolver os nossos problemas. Tanto que quando ofereceram para gravar. A diretora responsável avisou que o objetivo não uma gravação para “soltar” no Brasil inteiro. Mas sim como um registro da gente. Então chegamos a gravar o disco, em 1978, sendo a última coisa que se fez no MAPA. Depois, cada um seguiu a sua. Uns continuaram na música, outros não.
Por onde passa o valor cultural e consequentemente musical de Curitiba e do
Paraná? Onde a Curitiba musical acontecia? Quais os lugares? Como que era organizado a “cena” musical da época? Tem até hoje as associações e sociedades musicais, além das músicas de concerto de Curitiba e festivais de música em Londrina. O teatro Paiol, depois que veio Vinicius de Moraes, ficou com uma programação musical imensa. Ia Gonzaguinha, Jards Macalé, Paulinho da Viola. Por isso as pessoas procuravam o Teatro Paiol, que apesar de ser um teatro pequeno e não tão bem localizado, tinha “nome”. No Teatro da Reitoria (UFPR), sempre havia bons espetáculos. Só que voltado para apresentações de piano solo, orquestra de cordas. O Teatro Guairinha [Auditório Salvador de Ferrante] é, no meu modo de ver, o melhor teatro de Curitiba, mais eclético. Depois fizeram o Guairão [Auditório Bento Munhoz da Rocha Netto], que ficou para grandes espetáculos, como or-questras e balés. Coordenei o projeto Pixinguinha no Guairão, onde vinha artistas do Brasil inteiro que se revezavam em apresentações que ficavam em cartaz de segunda a sexta. O cenário na época era assim. Hoje tem o Espaço Cultural Capela Santa Maria que é muito boa, mas é
Depois que o Leminski morreu, Alice e as filhas me propuseram a registrar as coisas que eu tinha com o Paulo, mas também as coisas que ele fazia e que ela ouvia e que jamais foram gravadas. Falei que ia gravar as minhas músicas com ele. Fui fazendo com calma. Como havia muitas imagens do Leminski, o Vieira que é o marido da Aura [filha de Leminski] sugeriu que a gente fizesse um vídeo, com as imagens e com o depoimento. Quando resolvemos fazer o vídeo, o Vieira cedeu o estúdio que tinha. Remontamos a sala do Leminski, apenas a janela que ficou ao contrário do original [risos]. A Aura tinha tudo guardado em baús. Só quem foi lá que poderia testemunhar que não estava conforme era. Eu, Alice e Aura ficamos escolhendo os poemas, as músicas que iriam entrar. Foi dividido em duas etapas. Primeiro foi a etapa de poemas e cenários lá do estúdio do Vieira. A parte de música, eu e o Vitola fizemos em um outro estúdio. Mas com a mesma direção e captação. Quando eu estava gravando o “Fazia Poesia”, já aproveitei e fiz das várias músicas, várias trilhas, pensando em utilizar no vídeo. Mesmo quando tivessem recitando poema, poderia ter uma música de fundo que não fosse cantada
Sobre o MAPA: "Foi o primeiro disco que a Fundação Cultural fez. Na verdade, era um compacto duplo de quatro músicas. A Fundação cedia o Teatro Paiol para gente toda segunda-feira. Quando o Vitola teve que voltar para o Rio de Janeiro, fiquei na coordenação do grupo. Mas me apertei com o texto e chamei o Leminski para me ajudar. Ele topou na hora. Daí, eu falei: 'Leminski, costure o texto! Fico com a parte da música lá no palco e você fica com o texto'. Ele me disse: 'Vou tocar também!'. Quando Leminski entrou na jogada, começamos a fazer canções juntos. A gente se conhecia da publicidade. Ele era redator. Eu fazia jingles e trilhas e o Vitola era chefe de redação. O MAPA conseguiu gravar um disco simples, pois a gente gravou em quatro canais. Na se quência, o Vitola escreveu 'Curitiba cidade da gente', uma peça grande. Ficamos meses ensaiando e a peça ficou meses em cartaz. Na época era a gestão do Jaime Lerner. Um dia, Lerner compareceu à peça. Ela saiu 'perfeitinha'. Ele falou: 'Temos que gravar esse lance. Só não sei se cabe tudo em um LP'. Daí, ele me indicou para eu ir na Fundação resolver. Então, eu e o Vitola fomos lá. O processo foi de ir tirando música. A gente notou que não ia caber no LP. Foi quando alguém, não sei dizer quem, falou: 'Faz um duplo [disco]' Nesse momento que percebi que eles estavam afim de fazer mesmo. Aí o maestro Gaya [Lindolpho Gomes Gaya] me liga do Rio de Janeiro dizendo que vem passar uns tempos em Curitiba. Eu queria ele como meu arranjador. Ele carregava os equipamentos e instrumentos numa Kombi. O disco foi grande e demoramos dois anos para fazer. E para ficar barato, a gente ia nos horários ociosos para gravar, nunca em horários ruins, apenas quando não tinha horas marcadas para gravação. Leminski acompanhou o tempo inteiro. Fez o glossário da capa e aparece nas fotos. Por ser um LP duplo, a gente teve um caderno gráfico imenso." Por Vitor Almeida
CULTURA
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Croquis Urbanos encerra atividades após quatro anos
JUN/1 9
Jornada de trabalho dos participantes dificulta manutenção da iniciativa que desenvolve desenhos ao ar livre
A
pós quatro anos, o movimento Croquis Urbanos, iniciativa em nível nacional também desenvolvida em Ponta Grossa, foi encerrado pelos próprios participantes. O grupo, que mantinha o costume de se reunir aos domingos para fazer desenhos ao ar livre, desenvolveu sua última atividade em 19 de maio passado, na entrada da UEPG, no Campus Uvaranas. Composto por voluntários, o grupo apreciava desenhar com base na observação ao ar livre. Em Ponta Grossa, foram feitos 138 registros com a assinatura dos presentes no livro de ata do movimento. Segundo uma das organizadoras, a empresária Lenita Stark, todos encontros tiveram um registro fotográfico e narrativa do evento.
Croqui desenhado por Rute Yum. Colégio Regente Feijó, localizado no Centro de Ponta Grossa.
tros, os participantes começaram a olhar os lugares de maneira diferente. “Nós, os croquizeiros, passamos a olhar a cidade, as arquiteturas, o espaço e o tempo com mais atenção e curiosidade nos detalhes da cidade, que antes passavam despercebidos aos nossos olhos”. De acordo com Stark, os locais eram escolhidos por meio de votação entre os participantes. A integrante, Rute Yumi relata que, com o passar dos encontros, foi adquirindo outras percepções com relação à cidade. “Inicialmente era na dimensão do desenho, na riqueza de detalhes de muitas construções. Com o passar do tempo, fui adquirindo outras percepções. Percebi a relação emocional das pessoas com os locais desenhados que eu postava nas redes sociais”, observa. Uma das dificuldades para manutenção da iniciativa foi garantir a presença nos encontros. Conforme explica Stark, “um dos motivos do movimento acabar foi a pouca participação dos participantes, e os compromissos pessoais das pessoas envolvidas diretamente, outro motivo foi quando alguns companheiros se afastaram, foi aí que o movimento começou a perder a sua essência”. Para participação, não havia a exigência do domínio de técnicas de desenho. “O registro era livre. Cada pessoa fazia seus traços de acordo com a sua observação. Cada um usava o material que queria e a técnica que mais se identificava”, relata. Os desenhos eram propagados por meio das redes sociais, mas também já foram expostos na mostra da Fundação Municipal de Cultura, no Cine Teatro-Ópera. Stark ainda afirma que
Croqui desenhado por Rute Yumi. Estação Arte, localizada no Parque Ambiental de Ponta Grossa.
não há chances do grupo voltar a se reunir. “O movimento pode surgir novamente, mas só caso um outro grupo seja criado, pois este não há chances de voltar”, relata. Segundo Yumi, o Croquis Urbanos Curitiba foi uma das inspirações para criar o movimento na cidade.
Croquis em Curitiba
O projeto existe há 6 anos e é considerado um dos grupos mais ativos do Brasil, totalizando 314 encontros até agora. Não diferente do moviStark conta que a comumento em Ponta Grossa, o Cronidade Croquis Urbanos foi funquis Urbanos Curitiba partilha dada em 2007 pelo jornalista das mesmas regras para a conespanhol Gabriel Campanário. strução dos desenhos, sen-do Em Ponta Grossa, as reuniões uma delas o tempo de duas hoeram realizadas em locais ras para finalizá-lo. De acordo aleatórios, escolhidos pelo mocom a participante de Curitiba, vimento. “O foco era, no geral, Luíza de Sá Moreira, um dos casas antigas do período colomotivos para o grupo estar ativo nial, arquiteturas da imigração, até hoje é a descontração de depraças, igrejas, locais em que tosenhar ao ar livre e partilhar os dos estavam de acordo com o resultados adquiridos no enpossível encontro”, comenta . contro, mostrando a evolução A empresária aponta dos participantes. “O Croquis que, com o passar dos enconUrbanos se trata de um agito cultural. Isso é importante pois vai na contramão das pressões cotidianas, direcionadas por metas estratégicas que tem seu sucesso medido pelo lucro”, afirma Moreira. A adesão dos participantes também atinge, em média, 15 desenhistas que se encontram semanalmente, em qualquer condição climática. Segundo Moreira, os pontos turísticos de Curitiba costumam agrupar cerca de 25 pessoas no dia. Em dias chuvosos, a média cai para cinco pessoas. Luíza lembra que o olhar dos participantes também é ouCroqui desenhado por Rita Yumi. Hospital 26 de Outubro, localizado tro na hora de perceber aspectos do local retratado. no bairro de Uvaranas, em Ponta Grossa. “Com o passar do tempo,
acabamo s conhecendo mais os locais e aguçando a curiosidade sobre a cidade e suas construções”, completa. Moreira ainda ressalta que, um dos pontos na hora de transmitir algo com seus desenhos, é mostrar o contexto histórico dos locais retratados com base nas artes feitas pelo grupo. As reuniões acontecem semanalmente. As artes já foram expostas em exposições recentes, como no lançamento do livro, em 24 de março de 2018, ”Morar nas alturas! A verticalização em Curitiba entre 1930 e 1960”, de autoria de Elizabeth Amorim de Castro e Zulmara Clara Sauner Posse, e no evento “Zombie Walk Curitiba”, em 23 de fevereiro de 2019. Por Larissa Hofbauer
O objetivo do grupo era desenhar in loco em todas as reuniões, proporcionando uma nova visão da cidade.
Foto: Arquivo Croquis Urbanos
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ESPORTE Seleção Brasileira Feminina de Futebol busca primeiro título na Copa do Mundo de 2019
JUN/19
Proibido na Era Vargas, futebol feminino conquista maior espaço na TV brasileira com a oitava edição da Copa feminina de futebol.
convocaC das,om 23a jogadoras seleção brasileira
busca conquistar o primeiro título do país na Copa do Mundo feminina de futebol. Após 28 anos, esta é a oitava edição da Copa do mundo feminina. Realizada pela primeira vez no ano de 1991, neste ano o campeonato acontece na França, entre os dias 7 de junho e 7 de julho. Em 1941, na Era Vagas, a prática do futebol feminino foi proibida pelo Decreto 3.199, que determinava que as mulheres não poderiam praticar alguns esportes, incluindo o futebol. “Às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza, devendo, para este efeito, o Conselho Nacional de Desportos baixar as necessárias instruções às entidades desportivas do país.” “Acho ridículo e sofrível
que tenhamos passado por essa lei. O mais revoltante é o texto dizer que tínhamos que preservar as futuras mães dos filhos da pátria, ou seja, a mulher era feita para reproduzir”, diz Luciana Marianno, narradora do canal ESPN e primeira mulher a narrar um jogo de futebol na televisão brasileira. Marianno reconhece que o futebol feminino nunca teve tanta visibilidade como hoje, e que isto de ocorreu através das movimentações nas redes sociais. “Antigamente a gente não existia. Só ficávamos sabendo do futebol feminino se tivesse em uma rede aberta ou se saísse na capa de um grande jornal do país”, completa. Desde 1970, a rede aberta de televisão transmite todas as partidas da Copa do Mundo Masculina de futebol. Neste ano, a emissora transmite as
partidas da Copa feminina, porém exibe apenas os jogos do Brasil, ao contrário do masculino onde transmite todas as partidas, independente da seleção. Profissional de Educação Física em Ponta Grossa, Aline Melnyk avalia que a principal dificuldade encontrada pelo futebol feminino é a falta de incentivo das entidades organizadoras. “Se compararmos com o futebol masculino, qualquer amistoso é transmitindo”, relata. “Tornando viável a transmissão o esporte passa a ser visto, a população tende a se habituar e gostar e assim o esporte tende a evoluir”, comenta. Para a atleta de futsal e futebol de campo, Fabrine Souza, é demorado o processo para transformar o futebol feminino em algo atrativo. “Nos sentimos atrasadas em relação a isso, mas já é uma vitória. Vindo de um
país onde tudo que os homens fazem é mais valorizado, aos poucos vamos conquistando nosso espaço”, conclui Souza. A seleção estreou no domingo, dia 9 de junho, na partida contra a Jamaica e ganhou de 3x0. No segundo jogo, realizado no dia 13, perdeu para a Austrália de 3x2. Os jogos estão sendo exibidos em TV aberta, pela rede Globo e Bandeirantes. Por Nataly Gayde
Jogos da seleção brasileira na primeira rodada
Dom. 09/06 - 10:30h Brasil ___X ___Jamaica Qui. 13/06 – 13h Brasil ___ X ___ Austrália Ter. 18/06 – 16h Brasil ___ X ___ Itália
Pela primeira vez, mulher assume equipe de futsal em Ponta Grossa A técnica Juciandre Capri treina o PYL FC para o Campeonato Paranaense
fevereiro deste ano, JuE mciandre Capri se tornou a
primeira treinadora a assumir um time de futsal profissional adulto no município e está à frente do PYL FC no Campeonato Paranaense da modalidade. Aos 25 anos de idade, Juciandre é responsável por quebrar uma barreira no futebol de salão ponta-grossense. Durante toda a história, as beiras de quadras da cidade eram ocupadas por técnicos homens em equipes masculinas e femininas. Nos demais times, o cargo ainda é ocupado por homens. Em 2016 e 2017, após passar pela Secretaria Municipal de Esportes, Capri teve sua primeira oportunidade como auxiliar técnica. Nesse período, fez parte da comissão técnica da equipe de Ponta Grossa e foi campeã do Jogos Abertos do Paraná, comandada pelo técnico China. Ficou um ano afastada das quadras e em 2019 pediu à Secretaria de Esportes para treinar o time feminino, para disputa do Abertos.
Durante sua trajetória no futsal, Capri conta que sofreu preconceitos, desde quando começou a jogar há 15 anos. “O machismo me fez tomar a decisão entre jogar ou estudar. Preferi os estudos, pelo que falavam sobre meninas que jogavam na época”, conclui. Quando era auxiliar, tinha mais dificuldade no cargo, pela falta de liberdade para expor suas ideias. Capri relata que várias pessoas afirmavam que, por ser mulher, não era capaz de comandar uma equipe, de ser pro-
dutiva. “Falavam que eu não entendia nada sobre o esporte e muito menos de tática, porque homens eram superiores”. Capri só se deu conta da conquista quando disse em entrevista que era a primeira técnica de futsal na história de um time profissional da cidade. “Ali percebi toda a grandiosidade da nossa conquista, de tudo que estamos fazendo, do que sofremos também na falta de incentivo e recursos financeiros. Caiu a ficha que superamos uma barreira e sou a pioneira
Capri passa instruções táticas às suas atletas. Foto: Eduardo Machado
desse grande marco”, relata Capri. A ala da equipe do PYL FC, Bruna Novaki, comenta a experiência de ter uma mulher como orientadora no banco de reservas. “Ficamos felizes e aliviadas em ter uma mulher no comando do time, pois tem muito machismo nesse meio. Existe um entendimento melhor entre ambas as partes”. Novaki ainda ressalta: “Lugar de mulher é onde ela quiser, inclusive no futsal”. O presidente do PYL FC, Luís Fernando Pyl, explica porque deu a oportunidade à Capri. “Há muito tempo acompanho o futsal daqui, vi que era o momento de dar a chance a quem realmente acredita no esporte. No feminino, a Juciandre é uma dessas pessoas que acreditam”, conta. “Não vejo diferença entre homem e mulher, apenas quero os melhores técnicos. Para o feminino, não tem ninguém melhor que Juciandre”, finaliza. Por Eduardo Machado
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EDITORIAL Ombudsman
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Foca precisa evoluir no quesito apuração Nilson de Paula é jornalista formado pela UEPG e mestrando em Ciências Sociais Aplicadas da mesma instituição. Contato: nil.ndp18@gmail.com Uma apuração tização do rap na cidade, assim jornalística, quando como o pouco interesse em bem feita, pode desconstruir a levar batalhas de rimas e eimagem de “mitos” criados pela ventos de graffiti para o centro sociedade e mostrar a realidade da cidade. Para isso traz como incrustada e/ou escondida aos principal ponto a pesquisa sobre olhos das pessoas. Na maioria mapeamento da produção de das vezes trazer a verdade in- rap e graffiti, sendo um tema comoda, seja aos que se bene- pesquisado desde 2017. A Funficiam prejudicando os seme- dação Municipal de Cultura e o lhantes, ou aqueles que temem Conselho Municipal de Política em sair do conforto da caverna Cultural no ano passado, troude Platão. Trazer a verdade é xeram o edital “Circuito de função do jornalismo, como de- Cultura Periférica Cooperativa fender os direitos da sociedade, Cultural”. Será que esse edital o que está no Código de Ética dos chegou ao conhecimento dos Jornalistas Brasileiros, que no grupos de cultura popular como Art. 7° diz que o jornalista tem o o Hip Hop? A reportagem não compromisso “com a verdade respondeu isso e não trouxe o dos fatos” e o seu trabalho ne- posicio-namento da Fundação. cessita de uma “precisa apuA falta de apuração mais ração dos acontecimentos e sua aprofundada pode ser verificada correta divulgação” . também no texto sobre os 10 liO Jornal Foca Livre ne- vros ebooks publicados pela Edicessita fazer levantamentos jor- tora UEPG. A informação princinalísticos mais sisudos. Colocar pal da reportagem, no caso os 10 em prática o “bê-á-bá do jorna- ebooks, não está de acordo com lismo” que é apurar informa- que se encontra no site da Editoções. Essa atividade é impor- ra que traz 11 ebooks, mesmo um tante para dar voz a diversos dos livros sendo um manual de setores da sociedade, livrar-se normatização para a UEPG, não do efeito “papagaio de pirata” deixa de ser publicação. (falar sem fundamento) ou ficar Outras reportagens aprecirculando em um “jornalismo sentam pouca apuração, como a declaratório” caracterizado na que aborda a queda de visitação produção com base somente nas do parque Vila Velha, mas não declarações das fontes. Nesta e- traz as respostas da Fundação dição Maio 209 do jornal tem Municipal de Turismo e do Concomo calcanhar de Aquiles os selho Municipal de Turismo de casos. A Reportagem sobre Hip Ponta Grossa; a reportagem de Hop, que denuncia a estigma- linhas de ônibus para estudan-
Crítica da pauta à coluna
Ombudsman rotativo: o Foca Livre busca respeitar a pluralidade de opiniões. Por conta disso, procuramos a opinião de não só um, mas de vários jornalistas graduados para nos criticar e orientar ao longo do processo de construção do jornal. A partir desta edição, é possível encontrar uma coluna rotativa do Ombudsman, na qual jornalistas graduados e em atuação nos ajudarão a construir um produto de qualidade para o público. Pautas para a demo-cracia: em uma época muito conturbada para nossa democracia, os assuntos que pautam esta edição abordam temas que mostram como o poder público não está protegendo e servindo
a população. A abolição do termo “violência obstétrica”, mortes de LGBTQ+, cortes de verba para a Educação e falta de abrigo para moradores de rua são provas de que o Brasil não preza por inclusão social e diversidade. Desequilíbrio de gêneros: nesta edição destacamos
CHARGE
Editores-chefe: Daniela Valenga, Denise Martins, Lucas Müller. Edição de Texto: Eduardo Machado, Emanuelle Benicio, Gabriel Mendes, Germano
Busato, Laísa Braga, Larissa Hofbauer, Marcella Panzarini, Renata Oliveira, Robson Soares, Yuri Marcinik. Edição de imagem: Alexsander Marques, Cássio Murilo, David Candidao, Juliana Cosmoski, Mirella Mello. Diagramadores: Amanda Gongra, André Ribeiro, Emanuelle Salatini, Isabela Gobbo, João Paulo Pacheco, Jéssica Allana, Kauana Neitzel, Marcus Benedetti, Maria Fernanda Lima, Nataly Gayde. Repórteres: consulte a autoria das reportagens diretamente na página da notícia.
tes que traz a realidade de alguns alunos universitários e para isso traz uma fonte dizendo que o transporte passa a cada 20 minutos na faculdade Cescage, contradiz a reportagem que fala que ônibus passam a cada 40 minutos; e como a reportagem sobre a falta de segurança de motoristas de táxi que não questiona a Secretaria Municipal de Cidadania e Segurança Pública da cidade sobre a demanda e não estende-se para motoristas de aplicativos. Outro texto que poderia ser melhor apurado é a reportagem sobre obras do colégio do Cará-Cará, pois a reportagem dá voz ao vizinho e a farmacêutica que trabalha em frente à instituição, mas não ouviu os afetados pelo desvio da verba da construção desta escola, no caso, os alunos, pais e funcionários. E o que diz o Núcleo Regional de Educação (NRE) de Ponta Grossa sobre essa realidade que resulta na Operação Quadro Negro? O segundo ponto para ser melhorado é em relação ao fotojornalismo. Algumas fotos são escuras e pecam com a informação, as legendas não tem padronização de caracteres e briga por espaço com os créditos ao fotógrafo/a. Na última página há um portfólio de fotos analógicas, e não fica claro se o intuito do ensaio é abordar a foto analógica ou os patrimônios históricos culturais de Ponta Grossa. Poderia visitar os em reportagem especial a desigualdade de gênero presente nas universidades estaduais do Paraná, nas mais diversas graduações, entre professores e acadêmicos. Os números expressam uma versão particular do sexismo da história do Brasil, que resulta na divisão do trabalho e do status social.
Foca Livre é o jornal-laboratório do curso de Jornalismo da UEPG Contato: focalivreuepg@gmail.com Whatsapp (42) 99970-0565
Os textos de opinião são de responsabilidade de seus autores e não expressam o ponto de vista do jornal. Impressão: Grafinorte, Apucarana (PR) Tiragem: 2.000 exemplares
mesmos cenários e realizar um ensaio de “antes & depois”. A capa dá pouco espaço para o especial, usa uma foto repetida para a matéria p&r (pergunta e resposta), e a foto do basquete tira atenção do leitor das outras chamadas, há um desequilíbrio da harmonização da página. Na capa pede comentários dos leitores, mas o jornal não tem espaço para eles. Há matérias bem apuradas como as reportagens sobre o transplante de órgãos, da distribuição da vacina em Ponta Grossa (poderiam fazer um especial de retrato da saúde pública local) e as sobre esportes. Todas tem um forte interesse local. Vale destaque para o diálogo da obra Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, com a barbárie do caso Marielle Franco. Vale parabenização pela entrevista com a pesquisadora Aparecida de Jesus Ferreira, que dá voz para a pesquisadora e mostra a importância da pesquisa acadêmica, colocando em xeque a defesa da rateação da verba da universidade pública e a falácia chamada balbúrdia. Para as futuras matérias é necessário pensar no leitor, na prestação de serviços, nas respostas aos problemas sociais retratados nas pautas. Parafraseando o jornalista e escritor Frei Betto, “a cabeça pensa a partir de onde os pés pisam”, o Foca Livre deve pensar e retratar da melhor maneira possível onde pisam e vivem as suas fontes.
ERRATA
A Foca também é humana Pedimos desculpas pelos erros da edição 209 Capa : O número de telefone foi errado. Não há o primeiro 9 p. 4 e 5: As imagens estão muito escuras p.8 e 9: Faltou crédito pra Kauana Neitzel no infográfico, que foi gerado na tecnologia Google Maps p. 14: Em vez de março, leia-se maio p.15: Deveriámos ter enfatizado que o primeiro parágrafo do conto foi inspirado no texto de Machado de Assis, além disso não há créditos legíveis na ilustração de Marielle de Larissa Hofbauer.
Departamento de Jornalismo UEPG- Campus Central- Praça Santos Andrade, nº 01- Centro CEP:84010-790- Ponta Grossa- PR- Telefone +55 42 3220-3339 Professores responsáveis pela edição: Ben-Hur Demeneck (MTB- PR 5664) Renata Caleffi (MTB- PR 9018) Professora responsável pela produção de notícias Hebe Gonçalves (MTB MG 5204)
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JUN/19
PERSONAGENS
Histórias de bastidores, paixões e prêmios marcam participantes do FUC
O Festival Universitário da Canção da UEPG narrado por Cláudio Chaves e Vivian Bueno
O
Festival Universitário da Canção (FUC) realiza sua 32º edição em 2019. Conversamos com o vencedor da 3ª e da 8ª edição do FUC, Cláudio Chaves, e com a vencedora da 27ª edição do FUC Nacional, Vivian Bueno, para entender o Festival partindo de seus relatos. Chaves ganhou o Festival em 1982 e 1996; já Bueno, em 2016. A paixão pelo evento vive nos dois apesar da diferença nas datas das vitórias. Na edição de 2019, ambos estão competem na etapa regional do FUC.
Foto: Renata Szafranski
Cláudio Chaves começou a tocar profissionalmente a partir de sua participação no FUC de 1982, na terceira edição do Festival. Naquela época, só universitários poderiam participar. Chaves prestou vestibular para o curso de Letras somente para poder participar do evento. Já na primeira tentativa, foi vencedor. Em 1996, o músico ganhou novamente a premiação. A participação no evento não tem sido pequena. Chaves já perdeu as contas de quantos festivais participou. O músico nos conta os momentos que mais o marcaram no evento:
Meu pai sempre se inscreveu [no FUC]. Ele sempre o valorizou muito. A primeira vez que entendi o que estava acontecendo, foi quando ele participou com a música ‘Campos Gerais’. Foi um frenesi para nós! [...]De um FUC apenas, acho que não tenho um momento preferido. Mas de todas as edições que participei, a coisa mais gostosa é a interação com os outros artistas no camarim. É muito gostoso. É uma energia muito boa. Não existe uma energia de competição lá atrás. É uma coisa de entrega, de doação e de muito amor. É muito gostoso! No camarim, é a experiência mais gostosa que se tem! Nem mesmo ganhar é melhor do que estar lá, interagir, conhecer, trocar experiência, desejar boa sorte e de entender que [participar do FUC] é genuíno. " - Bueno
Dica Literária FICHA TÉCNICA AUTORA: Christina Dalcher LANÇAMENTO: 16/10/2018 TÍTULO ORIGINAL: VOX TRADUÇÃO: Alves Calado FORMATO: 16 X 23 CM NÚMERO DE PÁGINAS: 320 PESO: 0.33 KG ACABAMENTO: Brochura ISBN: 9788580418897 EAN: 9788580418897
Capa: Editora Arqueiro
Fonte: Editora Arqueiro
Nossa! Tantas cenas me marcaram no FUC! Mas acho que a cena mais marcante, aquela que está na minha retina, é a de 1996, quando ganhei o festival pela segunda vez. Minha filha tinha quatro anos e usava trancinha e vestidinho comprido. Estava todo mundo cantando a música na final, quando fiz a reapresentação, e ela estava dançando no palco comigo. Lembro dessa cena! Estava tocando violão, olhando ela. Estava muito emocionado! Acho que foi essa [a cena que mais me marcou]. Homenagens que eu fiz a amigos queridos que eu perdi, que morreram na trajetória da música. Fiz músicas para alguns deles, apresentei no Festival, gente que se apresentou comigo... Foram momentos marcantes [para mim]." - Chaves Vivian Bueno é a única pontagrossense a ganhar o FUC Nacional. A vitória do FUC Nacional aconteceu em 2014 para Bueno, mas a cantora acompanha o Festival desde criança já que seu pai, Álvaro Bueno, ganhou a etapa regional mais de uma vez. A edição de 2019 será a primeira vez que pai e filha campeões do FUC irão se apresentar juntos no festival, uma tradição da família Bueno. Para a musicista, a experiência de crescer nesse ambiente marcou sua carreira. Por Amanda Gongra
Ouça a fala de Cláudio Chaves e Vivian Bueno
O enredo é uma distopia não muito longínqua, diria uns 100 anos adiante de 2019, que explora um governo ditatorial em que as principais vítimas de repressão são as mulheres, que são silenciadas com no máximo 100 palavras por dia, além de inúmeras limitações de modo geral para a sociedade. Eu, que não sou muito participativo em eventos de protesto, reividicação de direitos e afins, fiquei mexido, para dizer o mínimo, ao ver o que a inércia pode fazer, atingindo não só a mim mas os de-
Foto: Matheus Gastaldon
mais. Além de ter uma trama intrigante, personagens extremamente cativos, coloca o leitor para analisar posições governamentais, grupos de resistência, religião, sexualidade e mais uma dúzia de assuntos que não imaginei me pegar pensando enquanto leio uma história toda cheia de ação e revira-voltas. Uma das melhores leituras do ano. Recomendo 100%."
Por Enzo de Oliveira Camargo Estudante do terceiro ano do curso de Direito da UEPG
ENSAIO
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Da pinha ao pinhão
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Por David Candido, Kauana Neitzel e Vitória Silva
Assado ou cozido, o pinhão faz parte da paisagem cultural do Sul
brasileiro. O costume de comer pinhão nos meses de inverno combina preservação de mata nativa, gastronomia e fortalecimento de vínculos sociais. Este ensaio, registrado na cidade de Ipiranga, no Paraná, retrata o processo de colheita e seu trajeto até a mesa do paranaense.