A BIOMEDICINA Kenneth Rochel Camargo Jr.
Medicina Odidental Contemporânea: uma racionalidade médica. Elementos constitutivos vinculados: Ao surgimento da ciência moderna, em especial, com o conhecimento produzido por disciplinas científicas do campo da biologia Anatomoclínica: medicina do corpo, das lesões e das doenças. “Até o final do século XVIII persiste a visão humoralista do processo saúde doença, com seus colorários terapêuticos (sangrias purgantes, vesicatórios), embora já acrescida de recursos terapêuticos químicos, contribuição fundamental de Paracelso” (Carmago Jr., p.108)
Medicina Odidental Contemporânea: uma racionalidade médica. Suas características decorrem de profundas transformações institucionais na prática e no ensino da medicina que se torna, predominantemente, HOSPITALAR. Antes de ser uma máquina de tratar, o hospital se constitui como máquina de ensino e pesquisa.
Nessa racionalidade a saúde é definida como ausência de doença, a normalidade contrapõe-se à patologia.
Medicina Odidental Contemporânea: uma racionalidade médica. Visão de funcionamento orgânico fortemente ligada a teoria dos sistemas.
Organização do conhecimento em disciplinas básicas (Fisiologia, anatomia, fisiopatologia, bioquímica) e especializadas, que tem relevante correspondência com a divisão dos sistemas. Concepções estruturantes: Homeostase (manutenção das condições de funcionamento do microambiente) e metabolismo (conjunto de reações (bio)químicas que se dão no organismo.
Medicina Odidental Contemporânea: uma racionalidade médica. As várias disciplinas não são articuladas em nível teóricoconceitual, inclusive porque o corpo conceitual da prática médica é em grande parte implícito. A articulação entre saberes é fluida, o que fez Canguilhem apontá-la como um interminável exercício de criação de ideologias científicas. As formulações teóricas mostram-se fundamentais do ponto de vista da legitimação social (jurídica, política, cultural) da prática médica, mesmo que o papel exercído pela teoria seja contigente no exercício profissional.
Medicina Odidental Contemporânea: uma racionalidade médica. Embora a ideia de multicausalidade seja frequentemente proposta como modelo explicativo, os modelos de causalidade linear predominam na prática, fazendo com que discursos disciplinares tidos como complementares acabem por se tornar concorrentes. Exemplo: a corrente peregrinação por especialistas, em busca de um diagnóstico.
Questões para reflexão: obstáculos para a transformação desta racionalidade. A fluidez teóric—conceitual torna difícil o estabelecimento de rupturas epistemológicas, porque estas não implicam necessariamente em superação, abandono do saber “velho”.
Remanescentes de etapas historicamente anteriores coexistem com o contemporâneo no saber médico. Exemplo: apesar do equipamento médico ter incorporado em larga medida as conquistas da mecânica quântica, seu imaginário científico permanece ancorado na física clássica (mecanicismo e causalidade linear).
Questão para discussão
Vocês identificam a racionalidade biomédica em sua formação profissional ou em sua experiência como usuário de serviços de saúde?
Racionalidades médicas
DEFINIÇÃO
RACIONALIDADES EXISTENTES
“Um sistema lógica e teoricamente estruturado, composto de cinco elementos teóricos fundamentais”
• Medicina ocidental contemporânea – Biomedicina • Medicina Homeopática • Medicina Tradicional Chinesa • Medicina Ayuvérdica
cosmologia Ruptura com a cosmologia dominante na Idade Média (epsiteme teocêntrica): Physis Aristotélica (dialética mudança/continuidade) – “impetus e o motor primeiro”
Renascimento (séc. XV e XVI) e o Século das Luzes : estalecimento da ciência experimental como fonte última da verdade. Rupturas paradigmáticas: ciência galilaica / debate metodológico da ciência (pós kantiano), quando nasce a clínica.
Visão de mundo mecanicista
Racionalidade, baseada na mecânica clássica, que isola componentes discretos, reintegrados, a posteriori em seus “mecanismos” originais CARÁTER GENERALIZANTE - discursos de validade universal, com modelos e leis de aplicação geral. CARÁTER MECANICISTA – princípios de causalidade linear tradutíveis em mecanismos. CARÁTER ANALÍTICO – abordagem teórica e experimental cuja lógica é baseada no isolamento das partes, tendo como pressuposto que o funcionamento do todo é dado pela soma das partes
Objetos com existência autônoma, traduzíveis pela ocorrência de lesões que seriam por sua vez decorrência de uma causa ou de causas múltiplas. O sistema de diagnóstico é dirigido à identificação das doenças a partir das suas lesões, a terapêutica é hierarquizada segundo sua capacidade de atingir as causas últimas das doenças, a morfologia e a dinâmica vital servem, sobretudo, como auxiliares na caracterização do processo mórbido (Camargo Jr, p.110).
A lesão traduz-se como uma perspectiva comum de tradução objetiva da doença Exemplos: Para os primeiros anatomopatologistas as lesões eral teciduais A partir de Vircchow a patologia é caracteristicamente celular Garrod aponta para um erro inato metalolismo (lesão e causa que coincidem) Pauling demonstra que a lesão da falcemia é uma alteração química da hemoglobina
O corpo humano divide-se, nessa racionalidade, em uma série de sistemas com funções bem definidas, divisão em parte morfológica, em parte funcional. Os sistemas são agrupados segundo propriedades isoladas por cada uma das disciplinas articuladas em seu discurso. Alguns sistemas são subdivididos, como o sistema nervoso (central e autônomo), cada um com funções específicas, embora interligadas. Essa é a última característica, a interligação, atribuível a todos os sistemas, como partes componentes de uma mesma totalidade orgânica.