Revista Foto Grafia #05

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Revista Foto Grafia: Universo Fotográfico Edição n° 5 Maio de 2011

Idealizador/Editor: Ricardo Gallarza Diretor de Arte: Felipe H. Gallarza Diretor de Redação: Sergio Antonio Ulber Colunista: Marcelo Juchem Revisor: Sergio Antonio Ulber Revisora Ortográfica: Jane Cardozo da Silveira - SC00187JP Estagiárias de jornalismo: Karina Pizzini e Suelen Figueiredo Colaboradores desta edição: Cynthia Vanzella, Denise Camargo, Ester Mendes, Evandro Teixeira, Felipe José Mendonça Ferreira, Guilherme Bueno Pereira, Juliana Ferreira Bernardo, Núbia Abe, Raimundo Brito, Rodrigo Uriartt, Sol Casal e Tales Sabará Imagem de capa: Rodrigo Uriartt e Sol Casal Ilustrações: Felipe H. Gallarza ISSN: 2178-8596

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Editora: RGF Comunicação e Cultura Balneário Camboriú - Santa Catarina - Brasil contato@grupolapis.com.br As fotografias e os artigos científicos assinados são de total responsabilidade dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião da revista. A produção total ou parcial de qualquer texto ou imagem, por qualquer meio, sem autorização dos responsáveis ou da revista é totalmente proibida. Para participar da seleção para publicação confira as instruções no site da revista. A revista Foto Grafia é um projeto de fomento à produção fotográfica. A LAPIS Comunicação e Cultura agradece a todos que colaboram com a Foto Grafia e aos autores que participam das seleções de projeto, tornando possível a realização desta.



1924 / 2011 Nosso adeus a Thomaz Farkas Oitenta e sete anos de idade e setenta e nove anos de paixĂŁo pela fotografia, Thomaz Farkas se vai, mas deixa um legado admirĂĄvel


N

ascido na Hungria em 1924, veio morar no Brasil com seis anos de idade. Dois anos depois ganhou de seu pai, fundador da Fotoptica – empresa pioneira no comércio de equipamentos fotográficos no Brasil – sua primeira câmera fotográfica. O que ele

fazia apenas por diversão, como capturar imagens de sua família andando de bicicleta, seus amigos e animais domésticos, acabou virando sua profissão. Apaixonado pelo Brasil, Farkas passou a fazer parte do Foto Cine Clube Bandeirante (FCCB), grupo que redefiniu o jeito de se fazer fotografia no país: fotografou, filmou e registrou o que existia de identidade brasileira. Ele montou o laboratório fotográfico do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP), com Geraldo Ramos, e documentou a construção de Brasília buscando retratar as pessoas que chegavam à nova capital. Farkas organizou expedições para o Norte e Nordeste do país ao lado de cineastas como Eduardo Escorel, Maurice Capovilla e Paulo Gil Soares, chamadas de “Caravana Farkas”, que tinham o objetivo de produzir uma série em cores de documentários sobre a cultura popular no interior do país. Depois da mostra “Estudos Fotográficos”, no MAM/SP, teve sete de suas imagens incluídas na coleção do Museum of Modern Art, em Nova York (MoMA/NY). Dirigiu a Cinemateca Brasileira de São Paulo nos anos 90 e já teve vários livros lançados com coleções de fotos e análises sobre suas obras. O livro “Thomaz Farkas: Uma Antologia Pessoal”, publicado pelo Instituto Moreira Salles (IMS), apresenta 150 fotografias produzidas a partir da década de 1940, revisando toda sua trajetória. Outros livros do fotógrafo, como “Notas de Viagem”, “Thomaz Farkas, Pacaembu”, “Thomaz Farkas, fotógrafo” e “Thomaz Farkas” podem ser encontrados à venda na internet. O húngaro que revolucionou a fotografia brasileira deixou um legado admirável. O artista foi e sempre será uma grande influência, um grande ícone do cenário fotográfico brasileiro e também mundial. Ele partiu, mas presenteou seu público com o prazer eterno de poder prestigiar um trabalho tão límpido e original como o seu. Não perdemos Thomas Farkas, ele se fez eterno.

* Thomaz Farkas faleceu em sua própria casa, no dia 25 de março, por falência múltipla dos órgãos após passar 21 dias internado no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo (SP).


CAPA?

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efinido como uma metáfora do embate do corpo individual no corpo social, o projeto Umbigo almeja ir além da representação do parto para lançar questões a respeito dos processos de significação corporal e seus pressupostos representacionais

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EDITORIAL

LEITURA DE PORTFÓLIO

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B

P

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reve raciocínio sobre a consolidação da Foto Grafia no meio digital. Veja também os destaques desta edição

ara Evandro Teixeira, mestre do fotojornalismo, as imagens não devem depender das legendas. Cynthia Vanzella, jovem gaúcha com 4 anos de experiência, submete seu portfólio à crítica do Fotógrafo

OPINIÃO

enise Camargo, editora da antiga revista Iris Foto, estréia esta seção opinando sobre a disponibilização gratuita de conteúdos fotográficos na internet


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EDIÇÃO DE IMAGENS

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ominar os softwares não basta, é preciso entender de fotografia. Fique por dentro da realidade e das tendências deste mercado

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CLICK LITERÁRIO

B

oris Kossoy é um Fotógrafo com qualidades práticas e teóricas, o Colunista Marcelo Juchem considera isto uma rara exceção. Conheça o livro “Boris Kossoy: Fotógrafo” e também outras obras do autor

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ENSAIOS FOTO GRÁFICOS

A

parecida, O Peso da Leveza e True Colors são os projetos publicados nesta edição. Aprecie os novos trabalhos, inspire-se e envie o seu

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ARTIGOS CIENTÍFICOS

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companhe a produção teórica e conheça novas referências para suas pesquisas


Projeto: Umbigo Idealizadora e produtora: Sol Casal Acessoria fotogrรกfica: Rodrigo Uriartt


EDITORIAL

A

edição passada consolidou a transição da Foto

editora da revista Iris Foto durante anos e acompanha

Grafia: Universo Fotográfico para o meio digital.

de perto toda a influência das novas mídias no universo

Apesar de acreditarmos nesta nova mídia, que

fotográfico.

passa a ser cada vez mais aceita no mercado editorial,

Impossível não destacar também a participação do

fomos surpreendidos positivamente pela aprovação dos

Fotojornalista Evandro Teixeira, respeitado e admirado

leitores. Para ilustrar esta afirmação, desde que foi lan-

nos quatro cantos do Brasil e do mundo, analisando o

çado o quarto número da revista os acessos dobraram.

portfólio de uma jovem Fotojornalista gaúcha que atua

No site, a página de artigos científicos é uma das mais

há 4 anos na profissão. Evandro faz a crítica como um

visitadas. Isto revela que a intenção inicial de aproximar

verdadeiro mestre, aproveita a oportunidade para dar

a produção acadêmica do mercado – e vice-versa –

dicas e conselhos a todos que pretendem atuar neste

estava de acordo com os anseios de um público exclu-

segmento.

sivo, que aprecia trabalhos teóricos, artísticos, sociais e

E é contando com a participação de notórios profissio-

projetos bem executados. São pessoas que prezam pela

nais e com a essencial colaboração dos leitores que

fine art, que vêem fotógrafos como verdadeiros artistas.

a Foto Grafia: Universo Fotográfico chega a sua quinta

Para acompanhar este novo cenário em que a Foto Gra-

edição. A todos nosso muito obrigado.

fia está inserida, Denise Camargo estreia a seção Opinião revelando seu ponto de vista sobre a disponibili-

Sergio Antonio Ulber

zação gratuita de conteúdos fotográficos na internet.

Diretor de Redação

Denise é Doutora em Artes pela Unicamp (2010), foi

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LEITURA DE PORTFÓLIO COM EVANDRO TEIXEIRA O FOTÓGR A FO A NA L I SA O T R A B A L H O D E C Y N T H I A VA N Z E L LA, FOTOJORNA L I STA C O M 4 A N O S D E E XP E R I Ê N C I A Na foto: Evandro Te i x e i r a Fo t o divulgação


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F O T Ó G R A FA Cynthia Vanzella - F O T O J O R N A L I S M O

Acima: fotos de Cyn t h i a

E

vandro Teixeira, Fotógrafo do Jornal do Brasil, é, sem

Paris, França, desde 1992.

dúvida, um dos mais respeitados Fotógrafos do mundo.

Seu currículo está incluído na Enciclopédia Suíça de Fotogra-

Em 1967, ele realizou sua primeira exposição individual,

fia, onde estão registrados os maiores fotógrafos do mundo.

na Feira Internacional de Berlim, Alemanha. Já recebeu, entre

Suas fotos estão em museus da Suíça, Colômbia, São Paulo e

outros, o Prêmio Especial da Unesco no Concurso Internacio-

Rio de Janeiro. Evandro já realizou exposições individuais nas

nal “A Família”, em Tóquio, Japão, os prêmios do Concurso

principais capitais do mundo e em várias cidades do Brasil. Em

Internacional da Nikon, também no Japão, e da Sociedade

1997, lançou o livro “Canudos, 100 anos”, um registro histórico

Interamericana de Imprensa, em Miami, EUA.

do cenário da guerra e de seus sobreviventes, todos com mais

Em 1983 editou seu livro “Fotojornalismo”, em que registrou

de 100 anos, e seus herdeiros. Em 2002, lançou “O Livro das

acontecimentos nacionais e internacionais marcantes desde

Águas”, registrando o impacto do programa de irrigação na

a década de 60, com prefácio e texto do poeta Carlos Drum-

vida dos sertanejos do Rio Grande do Norte. Em 2004, ele teve

mond de Andrade e dos escritores Otto Lara Resende e Anto-

sua vida e obra retratada em um documentário, exibido na-

nio Callado. Em 1988, lançou a edição ampliada do livro, no

cionalmente com o nome de “Evandro Teixeira: Instantâneos

Rio, São Paulo e Basel (Suíça). “Fotojornalismo” faz parte do

da Realidade”.

acervo da Biblioteca do Centro de Artes Georges Pompidou,

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L E I T U R A D E P O R T F Ó L I O C O M e va n d r o t e i x e i r a

SobrE a autora Cynthia Vanzella, 27 anos, é formada em Jornalismo e trabalha como Fotojornalista há 4 anos. Nasceu em Sapucaia do Sul, região metropolitana de Porto Alegre e reside na capital gaúcha. Iniciou sua carreira no jornal Zero Hora, onde trabalhava como auxiliar de Fotografia. Após a conquista da graduação, atuou como freelancer por 6 meses até ser contratada pelo jornal Diário Gaúcho, onde trabalhou durante 3 anos e meio. Em maio Cynthia embarca para Londres, onde terá a oportunidade de conhecer um novo mercado jornalístico e pôr antigos projetos em prática. Ela sente que chegou a hora de conhecer, experimentar e aprender outras formas de fotografia também.

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F O T Ó G R A FA Cynthia Vanzella - F O T O J O R N A L I S M O


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“AS IMAGENS DEVEM CONTAR SUAS HISTÓRIAS SEM A NECESSIDADE DE LEGENDAS”

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F O T Ó G R A FA Cynthia Vanzella - F O T O J O R N A L I S M O

L E I T U R A D E P O R T F Ó L I O C O M e va n d r o t e i x e i r a

Observador, conselheiro e conclusivo a análise de Evandro Teixeira

“REGISTRAR O INSTANTÂNEO, O MOMENTO EXATO DO ACONTECIMENTO, FAZ COM QUE A NOSSA IMAGINAÇÃO QUEIRA IR ALÉM, TENTANDO IMAGINAR O MOMENTO SEGUINTE”

M

eu trabalho é a minha vida. Comecei a

Cynthia, através deste pequeno acervo apresen-

fotografar cedo e, desde então, procuro

tado para a Leitura de Portfólio, demonstra ter a

registrar os fatos imprimindo a minha au-

capacidade de desenvolver um trabalho diferen-

toria. Recomendo, para quem estiver ingressando

ciado. Através destas fotos, percebe-se sua aptidão

na fotografia, que a ousadia é uma parceira funda-

de fotografar objetos, fatos e pessoas. Por isso, uma

mental no desenvolvimento profissional. As imagens

vez que trabalha em um jornal, pode e deve ex-

devem contar suas histórias sem a necessidade de

plorar a oportunidade de vivenciar realidades dis-

legendas. Este deve ser o critério de avaliação do

tintas em sua rotina. Mas pode, em paralelo ao seu

fotógrafo diante de suas imagens.

dia-a-dia, optar por desenvolver ensaios seguindo o

Avaliando as fotografias da Cynthia, pude perce-

caminho do fotojornalismo ou pela especialização

ber que, mesmo ainda com tão pouco tempo de

em algum segmento.

profissão, ela já procura uma diferenciação em seu

O importante é arriscar muito, fotografar muito,

trabalho. Busca diferentes ângulos e demonstra agi-

mas ser bastante criteriosa na edição das imagens.

lidade no ato de fotografar. Registrar o instantâneo,

As fotos apresentadas nesta edição contam com

o momento exato do acontecimento, faz com que

um resultado ótimo para uma jovem com apenas

a nossa imaginação queira ir além, tentando imagi-

4 anos de profissão. Cynthia, siga em frente: você

nar o momento seguinte ao registrado. O que será

está no caminho certo!

que aconteceu com aquela pessoa, com aquele carro, com aquela família naquela situação, etc.

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Evandro Teixeira.


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Projeto: Umbigo Idealizadora e produtora: Sol Casal Acessoria fotográfica: Rodrigo Uriartt

Umbigo O ser humano esbarra e atravessa múltiplas películas. Das passagens visíveis (orifícios fisiológicos) aos ritos simbólicos (pontos de evolução, nasce-crescemorre), a atuação do corpo registra suas volumetrias sobre essas superfícies (nem sempre) elásticas. O Projeto Umbigo atualiza esse embate entre o corpo e seus limites, entre a representação e o representado, através do jogo da planaridade da fotografia que anseia aos contornos e volumes tridimensionais. A realidade convencionada da imagem é também um ponto de partida para as pressões da fisicalidade que, tencionando uma liberdade inaugural, choca-se contra a pele ilusória de uma irrealidade quase intransponível. Metáfora do embate do corpo individual no corpo social, o projeto almeja ir além da representação do nascimento para lançar questões a respeito dos processos de significação corporal e seus pressupostos representacionais. O processo do trabalho Umbigo inicia a partir da impressão de uma imagem fotográfica digital. A captura de um fragmento do corpo (barriga, umbigo) é transposta a um suporte flexível: um tecido de algodão. Este tecido, que contém a imagem, é esticado sobre um bastidor de madeira tamanho 30 x 40 cm. Realiza-se no mesmo um pequeno corte vertical na região do orifício do umbigo. Em seguida, o bastidor, contendo a imagem já interferida pelo corte, é fixado para que não ocorra deslocamento nem movimento do mesmo, proporcionando firmeza para a “performance” que vem a seguir. Tal ação consiste em pressionar o corpo (neste caso o da artista) contra o tecido pelo seu verso, na intensão de saída do corpo pelo orifício, criando assim volumetrias e tensões corporais.

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OPINIÃO

I N T E R AT I V I D A D E É A C H AV E PA R A C O N T E Ú D O S FOTOGRÁFICOS NA REDE por Denise Camargo

Este texto foi elaborado tendo como premissa as discussões realizadas no Grupo de Pesquisas da Imagem Contemporânea (GPic), coordenado pelo pesquisador e artista Fernando Fogliano, do qual participo como pesquisadora. Os trabalhos do Grupo têm gerado artigos apresentados no Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (Intercom), nos últimos anos, e intervenções e projetos artísticos cujo foco são a imagem, a cultura e a interação.

E

m uma entrevista, em meados da década 1990, o filósofo francês Philippe Dubois afirma que é cada vez mais difícil saber o que é a imagem fotográfica hoje. Flexibilidade, nomadismo e mestiçagem permeiam a produção fotográfica contemporânea. Tanto pelos processos tecnológicos que ultrapassam o conceito de imagem técnica mediada pelo aparelho, quanto pela valorização do processo criativo e da convergência de mídias no

fazer mais do que fotográfico, imagético. Embora as câmeras se apropriem ainda do perspectivismo peculiar ao projeto renascentista de representação da realidade, como pontua Arlindo Machado em A Ilusão Especular, a imagem fotográfica passa por uma espécie de atualização em virtude do modo como vem sendo concebida nos âmbitos comunicacionais e artísticos. A denominação fotografia expandida, cunhada por Andreas Müller Pöhle evoca ainda uma nova natureza da ima-

gem fotográfica e ressalta a pertinência do híbrido, colocando-o como elemento substancial para a imagem do nosso tempo, ou seja, a fotografia como conceito expandido, como expressão de seu conceito, como nos diz Machado, na coletânea de artigos do livro O Quarto Iconoclasmo. No contexto do hibridismo, as tecnologias digitais são responsáveis por transformações significativas no processo de produção das imagens, deslocando para o que se convencionou chamar de pós-produção boa parte de sua 2011 . REVISTA . FOTO GRAFIA

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“É BASTANTE LEGÍTIMA E MUITO BEM-VINDA A DIFUSÃO DE CONTEÚDO GRATUITO E DE QUALIDADE, DEMOCRATIZANDO O ACESSO ÀS PRODUÇÕES FOTOGRÁFICAS” relevância, sobretudo se pensarmos na adesão da imagem fotográfica aos novos meios. Mercado em grande expansão, cada vez mais a Internet está suplantando os meios de comunicação tradicionais, graças a sua agilidade, interatividade e flexibilidade no suporte a diferentes meios, tecnologias, linguagens e processos. Nesse universo, as redes sociais e os websites contemplam generosamente uma fotografia ainda ditada pelos cânones de uma tradição que remonta seus primórdios, ou o que André Rouillé, em A Fotografia Entre Documento e Arte Contemporânea, denomina “a arte dos fotógrafos”. É que o fazem, em geral, usando esse campo do conhecimento e das artes como ilustração, ou como uma ferramenta para criar visibilidade aos fotógrafos, em verdadeiras vitrines para agenciar seus trabalhos individuais, de agências ou estúdios a que pertencem. Grandes instituições como fundações e museus no mundo todo também colocam em seu endereço online suas

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principais atividades e programações. Quanto às revistas eletrônicas indexadas a respeito da produção intelectual sobre Fotografia, temos no Brasil uma única publicação, a Studium. E, num mercado de bem poucas revistas segmentadas para a área, são os blogs, ferramentas inovadoras e atraentes que, re-

centemente, têm-se dedicado a noticiar exposições, lançamentos de livros, equipamentos, enfim, a programação e as novidades do setor. Alguns colocam à disposição do internauta reflexões críticas sobre a imagem fotográfica, como o Dobras Visuais e o Icônica, dois bons exemplos de produtos que propõem uma discussão diferenciada e de fundo para a imagem fotográfica, de modo abrangente. Também são comuns websites e blogs que divulgam determinados eventos relacionados à fotografia, como os diferentes festivais que já fazem parte de um já tradicional calendário anual em todas as regiões do País. Em campo fecundo, a Internet fertiliza a notícia e a reflexão sobre a fotografia, em geral, de forma gratuita, o que viabiliza sua difusão a diferentes públicos. Entretanto, ao menos um desafio marca a fotografia na Internet: os conteúdos hoje disponíveis ainda não alcançaram todas as possibilidades propiciadas pelo próprio meio, muito provavelmente porque fotógrafos, de modo ge-


ral, ainda são pautados por um certo conser vadorismo, o mesmo que os adere ao referente e que pode fazê-los resistir ao meio digital como uma nova abordagem para a fotografia. Sabemos que a fotografia experimenta sua ampliação em diferentes campos, mas o apego ao registro da realidade que a encheu de glórias é também um golpe cotidiano em tempos de novas mídias. Rouillé considera necessário investigar como a imagem produz um real. Sabemos que se trata, na verdade, de modelos de realidade, concebidos por meio das decisões técnicas e estéticas que envolvem o “ato fotográfico”, muito mais do que retratar a realidade ou reproduzi-la. Portanto, há também modelos sociais, artísticos, culturais e tecnológicos envolvidos nesse processo. Para Rouillé, o confronto entre ícone e índice faz parte de um conjunto de oposições binárias: artista versus operador; artes liberais versus artes mecânicas; originalidade e unicidade versus similaridade e multiplicidade. A principal crítica do autor ao mo-

delo do índice reside no fato de que ele reduz a fotografia ao funcionamento elementar de seu dispositivo, freqüentemente associado a um simples automatismo. O que implica a análise da autonomia relativa das imagens e de suas formas em relação ao referente. De qualquer maneira, ainda que centrada nesse padrão, é bastante legítima e muito bem-vinda a difusão de conteúdo gratuito e de qualidade, democratizando o acesso às produções fotográficas, mesmo que democratização de acesso aos bens e produtos culturais e a acessibilidade universal sejam uma questão importante a ser enfrentada por todos os meios, indistintamente. Mas esta característica, por si, representa importante papel na sociedade brasileira que apresenta estatísticas muito positivas de crescimento no uso da Internet. A chave que aciona esse quadro de força pode estar na interatividade. É que as tecnologias propuseram relações dialógicas profundas entre o dispositivo, o ambiente, o indivíduo. O avanço

na distribuição de conteúdo sobre a fotografia na internet pode estar na compreensão da imagem também como uma interface dentro desse jogo de virtualidades e digitalizações. Com isso, a aposta é na abordagem diferenciada para os conteúdos, ampliando os seus sentidos e nossa relação com eles.

D

enise Camargo é fotógrafa e docente. Doutora em Artes (Uni-

camp, 2010). Mestre em Ciências da

Comunicação (ECA-USP, 1991) onde também é formada em Jornalismo. Pós-graduada pela Faculdade de Ciências da

Informação (Universidade de Navarra, 1992). Foi Fotojornalista e Editora de veículos especializados na difusão cul-

tural da fotografia brasileira. Em 2007 foi contemplada com o Programa Cultura e Pensamento pelo projeto Representação imagética das africanidades no

Brasil e, em 2010, pelo projeto Corpo-

imagem dos terreiros. Recebeu o Prêmio Expressões

Culturais

Afro-Brasileiras

2010, para a exposição E o silêncio nagô

calou em mim. Pesquisa a imagem e as manifestações

culturais.

Participa

do

Grupo de Pesquisas da Imagem Contemporânea (GPic) e do Grupo de Pesqui-

sa Fotografia, do Intercom. Desenvolve

ensaios fotográficos, projetos editoriais, curatoriais e culturais.

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EDIÇÃO DE IMAGENS Um mercado de trabalho amplo, mas carente de profissionais capacitados Po r Ka r i n a Pi z z i n i


“Hoje em dia qualquer pessoa pode ter o Photoshop no seu computador, mas poucos têm o conhecimento aprofundado para operá-lo”

N

em sempre as lentes da câmera capturam a cena como os olhos do fotógrafo. Nos últimos dez anos, seja na fotografia artística, editorial, publicitária, jornalística, de moda ou de embalagem, a imagem raramente é impressa sem antes passar por um processo de tratamento digital, mesmo que mínimo. Desde o final do século XX, houve uma transformação no conceito fotográfico a partir da acessibilidade à fotografia digital. A edição de imagens já ocorria anteriormente em laboratórios tradicionais, mas o leque de possibilidades dos softwares oferecidos no mercado hoje supera as limitações da câmera e dos antigos laboratórios. Este conceito de edição de imagens busca equalização de cores, ajustes de brilho, nitidez e outros aspectos fotográficos, gerenciamento de objetos, pessoas e fundo de imagens. Antes da era digital, esse trabalho era braçal e focado, já que o número de fotografias era mais limitado do que atualmente, quando as novas tecnologias permitem despejar no mercado um volume de imagens sem precedentes na história dessa arte.

APLICATIVOS Dentre as várias opções de softwares existentes, é indiscutível a popularidade do aplicativo Adobe Photoshop. O programa foi lançado pelo Adobe em 1990, mas criado em 1987 pelo americano Thomas Knoll. Com um número incalculável de usuários, o software já está em sua décima segunda versão,

além de estar presente no pacote de aplicativos Adobe Creative Suite 5 (CS5). O CS5 estreou no Brasil no dia 12 de abril de 2010 e conta com mais de 250 novos recursos. “Remova qualquer elemento de imagem e veja o espaço ser preenchido como se fosse mágica”, sugere a empresa em seu site oficial. Apesar do sucesso do Photoshop, outros aplicativos também são conhecidos e utilizados no mercado, como o Adobe Lightroom. Este aplicativo veio agilizar o processo de edição para uma quantidade maior de fotografias. Porém, conforme o membro da National Association of Photoshop Professional - USA (Associação Nacional de Profissionais do Photoshop nos Estados Unidos), Altair Hoppe, as duas ferramentas devem ser usadas juntas. “Nos últimos quatro anos o Photoshop teve uma gravidez e ganhou um filho, o Adobe Photoshop Lightroom, que é um photoshop sintético com algumas facilidades, principalmente para quem trabalha com grande volume de fotos”, esclarece.

MERCADO Uma vez que a ferramenta mais utilizada no tratamento de imagens é o Adobe Photoshop, um aplicativo acessível para amadores e profissionais, a banalização do recurso passou a contaminar o mercado profissional. O Fotógrafo e Professor de fotografia, detentor de um Certified Adobe Expert (título dado a uma pessoa que alcançou nível profissional de eficiência em um ou mais softwares da Adobe), Guilherme Becker, comenta que hoje em dia qualquer pessoa pode ter o programa no seu 2011 . REVISTA . FOTO GRAFIA

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“ O p r o f i s s i o n a l d e v e u s a r a s f e rramentas em prol de uma ideia c r i a t i v a, e n ã o u s a r a i d e i a c r i a t i v a sobre a ferramenta”

computador, mas poucos têm o conhecimento aprofundado para operá-lo. Becker faz a edição das próprias imagens, mesmo acreditando que essa não seja função do fotógrafo. “Ele tem que saber fotografar e gerenciar seu arquivo, assim como o diretor de arte tem que criar, mas essa preparação do arquivo para impressão e outras mídias tem que ser responsabilidade do tratador de imagem”. Para ele, o conhecimento teórico sobre fotografia ou artes é importante para a realização da edição de imagens. “O profissional tem uma chance maior ao trabalhar com um conceito mais elaborado; se conseguir usar essas ferramentas em prol de uma ideia criativa, e não usar a ideia criativa sobre a ferramenta”, recomenda. O Empresário e Fotógrafo Luiz Henrique Chiquetti Krambeck, dono de uma empresa de fotografia e edição em Santa Catarina, apesar de não achar necessária a formação universitária, espera que um tratador de imagens tenha domínio sobre as ferramentas. “Exijo que tenha conhecimento em Photoshop e Lightroom, porém alguns atributos como a compreensão sobre iluminação e fotografia básica ajudam muito no resultado final e no tratamento das fotos”. Há quase dez anos no mercado, Krambeck tem em sua equipe dois fotógrafos que editam suas próprias imagens. O publicitário e dono de uma empresa que presta ser viços de tratamento e manipulação de imagens, Marcelo André Hass, acredita que existam

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poucos especialistas na área, apesar de todo o espaço que o mercado oferece. “Por esse motivo, moldamos os profissionais internamente conforme as nossas necessidades”, explica. Para ele, este ainda não é um setor consolidado no mercado devido a uma idéia distorcida da profissão. “Uma dificuldade que temos é de conseguir colocar na cabeça das pessoas que o tratamento de imagem não ser ve apenas para arrumar defeitos, e sim para agregar valor a uma fotografia”.

AUTO-ESTIMA A Designer Gráfico há quatro anos que trabalha com criação e tratamento de imagens, Luana Portella, considera esta uma carreira valorizada, mas corrompida por tratadores despreparados. “Eles cobram muito pouco, desvalorizando o trabalho”, reclama. Hoppe também acredita que este seja um mercado aberto, porém muito carente de profissionais capacitados, e adverte: “Temos excelentes profissionais no mercado, mas acho que falta auto-estima neles. Se você não dá valor ao seu trabalho, ninguém dará”. Apesar das oportunidades no setor, e da valorização do profissional, muitas empresas ainda impõem acúmulo de funções, quando profissionais de outros setores acabam fazendo o trabalho do editor de imagens e vice-versa. “Creio que agências pequenas não tenham um cargo específico para isso. Nós geralmente esperamos que quem


“Seja nas universidades ou em cursos t é c n i c o s, o s u c e s s o na carreira de tratad o r d e p e n d e, p r i n c i p a l m e n t e, d a v a l o r i zação e empenho do próprio profissional ” produz as fotos as entregue tratadas”, diz o responsável pela área de criação de uma agência de publicidade de Itajaí, Jerônimo Costa. “ Quanto a tratadores de fotos, vejo que há falta, pois já procuramos por alguns ‘ freelas’ (profissionais que prestam ser viço temporariamente sem vínculo empregatício) e não encontramos”, acrescenta. O mercado de edição é carente de profissionais capacitados para agregar valor artístico às imagens, como obser va o publicitário Marcelo Hass, por se tratar de um ramo deficiente em profissionalização específica. As possibilidades de especialização ainda são limitadas. Seja nas universidades ou em cursos técnicos, o sucesso na carreira de tratador depende, principalmente, da valorização e empenho do próprio profissional. Becker e Hoppe acreditam que a busca por cursos, workshops e palestras é muito produtiva, o que depende de um empenho extra do profissional, já que este tipo de especialização geralmente só é oferecido nas grandes capitais do país.

FORMAÇÃO Ambos também concordam que para este trabalho, seja em um estúdio fotográfico, uma agência de publicidade ou mesmo em uma empresa de edição e manipulação de imagens, o tratador deve ter mais do que conhecimento técnico de Photoshop. Para eles, o profissional deve ter visão de mundo, de fotografia, de vida e de “gente”.

Hoppe afirma que tanto fotógrafos quanto editores precisam conhecer e entender “de gente”, para assim conseguirem ampliar ou aplicar valores à imagem. O aper feiçoamento nessa área é um desafio para os profissionais brasileiros, a julgar pelo número escasso de publicações e autores voltados à fotografia nos catálogos do país. Para Hoppe, enquanto o Brasil não tiver produções próprias que gerem educação e preparação profissional, sempre ficaremos defasados em relação a outros países. “Enquanto não criarmos uma cultura nossa e transformarmos isso em obras, de fato o Brasil vai continuar nesse nível ”. Cursos e workshops são oferecidos online e alguns autores, como o próprio Altair Hoppe, viajam o país oferecendo palestras relacionadas ao Photoshop. Oportunidade em que ele utiliza as informações de seus livros “Adobe Photoshop: para fotógrafos, designers e operadores digitais”, da iPhoto Editora. Outros títulos (entre os poucos) sobre o assunto e que podem ser usados como fonte de pesquisa são a obra do especialista em tratamento e edição de imagens, Alexandre Keese, “Tratamento e Edição Profissional de Imagens”, da Editora Desktop, e o livro Adobe Photoshop Lightroom 3, da editora Photos, escrito por Clício Barroso.

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Projeto: Umbigo Idealizadora e produtora: Sol Casal Acessoria fotogrรกfica: Rodrigo Uriartt

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click

literário

Contrastes & Contrários, Teorias & Práticas Marcelo Juchem apresenta o livro “Boris Kossoy: Fotógrafo”

Olá caro leitor. Na coluna anterior tratamos de livros em geral comentando alguns aspectos que podem nos ajudar a escolher um exemplar que mereça nossa atenção. Nesta edição trataremos de um livro específico, de um autor brasileiro de múltiplas faces. Em todas as áreas do conhecimento, é relativamente raro encontrarmos profissionais que sejam tão bons na prática quanto na teoria, e na fotografia não é diferente. São poucos os fotógrafos que conseguem escrever e refletir sobre a ciência fotográfica com excelência, o que é uma pena. Ok, vá lá, um dos maiores fotógrafos de todos os tempos, Ansel Adams, escreveu uma trilogia sobre técnica fotográfica que é considerada até hoje a “Bíblia” por muitos fotógrafos, mas esta é uma exceção que só confirma a regra. Outra exceção, cá no Brasil, é Boris Kossoy, que no final do ano passado lançou “Boris Kossoy: Fotógrafo” pelas editoras Cosac Naify, Imprensa Oficial do Estado de São Paulo e Pinacoteca. Com uma boa impressão em formato próximo ao A4, o livro é um resumo da vida e obra do autor e traz exemplos da sua produção fotográfica de diferentes períodos, entrevistas, cronologia ilustrada e uma bibliografia não só do que o autor escreveu, mas também do que foi escrito sobre ele. Já na apresentação de Jorge Coli pode-se ler uma das frases mais adequadas ao trabalho de Boris Kossoy, além de extremamente bonita e poética: “Não são os contrastes, mas a união dos contrários que nos arrepia” (p. 15). Embora este aforismo pareça um resumo da fase fantástica do Fotógrafo,

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também serve como pano de fundo de todo seu trabalho. E perceba, caro leitor, a beleza da frase! Aquilo que normalmente consideramos sinônimos – os contrastes e os contrários – tão bem relacionados neste breve raciocínio que pode ser visualizado em diversas fotografias do livro. Boris Kossoy é fotógrafo brasileiro de quase 70 anos que transitou por diversas áreas da fotografia: produziu muitas imagens, foi proprietário de estúdios, estudou e ensinou fotografia como poucos neste país. Iniciou seu contato com a fotografia muito cedo e, algumas décadas depois, enveredou pelos caminhos da pesquisa histórica e teórica da fotografia, em trabalhos que contribuíram muito para a evolução da fotografia no Brasil, sem descuidar da prática fotográfica.

A Obra O livro é bonito, de porte, e já na capa apresenta um recorte de uma das imagens mais conhecidas do fotógrafo: uma imagem urbana no melhor estilo street photography, o click certeiro do fotógrafo na hora e local exatos e com olhar atento à rica composição. Chama a atenção certa heterogeneidade nas imagens, o que, em vez de resultar em uma “salada de frutas”, leva o observador mais atento à reflexão – o que é ótimo! Se algumas fotos de arquitetura seguem uma rigidez geométrica, outras desequilibram o olhar exigindo observação e análise mais


A b a i x o : c a p a d o l i v ro “ B o r i s Ko s s o y : Fo t ó g r a fo” Editora - Cosac Naify

OUTRAS OBRAS IMPORTANTES DO AUTOR

Fotografia & História (Ateliê Editorial, 2001)

Realidades e Ficções na Trama Fotográfica (Ateliê Editorial, 2002)

apuradas. De novo vale citar a boa apresentação de Jorge Coli sobre a fotografia de Kossoy: “Instaura o desconforto que obriga à atenção”. Outra qualidade do livro é a disposição das imagens. Sendo estas de diferentes tamanhos e formatos, a diagramação consegue valorizá-las apresentando fotografias em páginas duplas ou simples, em página inteira ou com molduras brancas e espaços vazios que facilitam a leitura das imagens. Porém, como também ocorre com outros fotógrafos, Boris Kossoy peca em um detalhe que muitas vezes pode acrescentar bastante à imagem: o título. Devo assumir que é um detalhe que particularmente me incomoda, então pode ser apenas implicância minha, vá lá. Além das diversas “Sem título”, por vezes tem-se a obviedade, a solução mais fácil e, em alguns casos, mais pobre, como “A noiva” ou “Fonte na floresta”, imagens que mostram justamente estes elementos. Cabe lembrar que são fotos publicadas originalmente em outros livros ou mesmo produzidas para outros fins, e estes detalhes que me inquietam não comprometem a qualidade do conjunto. Além das imagens bem selecionadas, o livro também agrada pelas informações extras. Nas entrevistas, por exemplo, Kossoy comenta sua infância e suas raízes europeias, sua formação e algumas de suas referências estéticas, bem como as várias funções e atividades profissionais exercidas por ele. Estamos a tratar de um fotógrafo, pesquisador, historiador, teórico, produtor e, como se não bastasse, alguém que exerceu diversos

Dicionário Histórico Fotográfico Brasileiro (IMS, 2002)

Hercules Florence – A descoberta isolada da fotografia do Brasil (Edusp, 2006).

Os Tempos da Fotografia – O Efêmero e o Perpétuo (Ateliê Editorial, 2007)

cargos públicos em diferentes órgãos e institutos na busca pela valorização da fotografia, seja como documento ou forma de expressão artística. No livro também são comentadas suas pesquisas históricas, com referências indispensáveis, como seus estudos sobre Hercule Florence, o francês que já em 1832 (ou seja, antes do registro oficial da fotografia por Daguerre em Paris) desenvolveu experimentos bem sucedidos sobre fotografia no interior de São Paulo. Comentários bastante elucidativos também são feitos a respeito do trabalho teórico de Kossoy. Ao relatar sua biografia o Fotógrafo-Pesquisador-Historiador aponta no tempo e no espaço suas diferentes linhas de pesquisa e respectivos resultados. Com isso pode-se ter ideia de seus trabalhos teóricos mais maduros como pesquisas que evoluíram e amadureceram com o próprio Pesquisador ao longo do tempo. É um Fotógrafo-e-muito-mais este senhor Kossoy e o livro comprova isso com seu rico conteúdo, seja fotográfico ou com outras informações. E você, caro leitor, enquanto aguarda nossa edição seguinte sobre autor e livros específicos, acesse www.boriskossoy.com e conheça um pouco mais. Até a próxima, Prof. Marcelo

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True Colors Ester Mendes estermendes.com

Além da sensualidade evidente do corpo desnudo, as imagens têm a intenção de mostrar ao espectador a busca da mulher pelo autoconhecimento. A ideia de transformar este ensaio em uma viagem ao interior feminino surgiu baseada na evidência das cores fluorescentes no verão de 2011. Neste ensaio, vemos a mulher revelando-se através delas, que representam seus sentimentos e expressões mais profundos, mostrando quem de fato é: um ser vibrante e forte, mas também vulnerável e feminino.

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O Peso da Leveza Núbia Abe

flickr.com/nubiabe

O projeto retrata a leveza, intrínseca à natureza humana e seu extremo oposto: o peso. Partindo para questões filosóficas o trabalho estabelece, por intermédio de uma linguagem abstrata, um diálogo entre o peso, a leveza e o desafio de atingir o equilíbrio em meio a uma sociedade pós-moderna. São questionados tais conceitos, aparentemente antagônicos, com base em filósofos da corrente existencialista, onde se destaca Jean-Paul Sartre, que afirmava que o homem está condenado a ser livre. O peso da responsabilidade, da razão, da moral e dos bons costumes nos mantém firmes no chão, mas nos apresenta uma vida rígida e regrada. A leveza no sentido de não comprometimento com a realidade, entretanto, quando tomada em excesso, torna a vida vaga e superficial. Qual seria então o ponto de equilíbrio, onde a leveza e o peso coexistam e agreguem à vida mais autenticidade e transcendência?

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Aparecida

Tales Sabará e Raimundo Brito fama.zupi.com.br/sabara

Deixe-se ser invadido pela imaginação. Sexta-feira de sol. Você está com a sua família. As crianças correm, brincam na terra. A casa está bagunçada. Papai está de folga. Súbito, um carro velho, sujo de poeira e assentos rasgados, para no quintal. Do carro saem duas pessoas. Um velho de barba e cabelos brancos acompanhado de um jovem. Ambos com bolsas pretas penduradas nos ombros. Os jornais têm estampado notícias horríveis de famílias que são exterminadas dentro de suas próprias casas. Aproximam-se. As crianças assustadas param de brincar. A casa sem reboco, o telhado de zinco e o basculante com os vidros precisando de reparos. O velho explica que são estudantes e estão fazendo um trabalho que inclui registro fotográfico. Num misto de desconfiança e alegria, o casal parece estar mais receptivo pela presença de pessoas importantes. Parece que a Imaculada começa a emanar sua energia de amor entre os desconhecidos. O mais jovem, que traz sempre consigo imagens da santa de sua devoção, intercede pela primeira vez dirigindo-se aos moradores com uma imagem impressa de N. Sra. Aparecida: ...é pra senhora. Cético, o velho vê suas convicções serem abaladas naquele momento: o grupo de pessoas confraterniza de forma serena diante da imagem. Que estranho poder tem a imagem de uma santa a ponto de tornar exequível um projeto que retrata a intimidade da casa de pessoas com quem nunca se teve contato?

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As reduções das titulações acadêmicas dos autores foram feitas baseadas no vocabulário ortográfico disponibilizado pela Associação Brasileira de Letras (ABL)


O pictorialismo de Roberty Demachy Guilherme Bueno Pereira

Palavras Chaves: Robert Demachy, pictorialismo, fotografia, “Speed” O Fotógrafo e Teórico Robert Demachy é um dos grandes expoentes do movimento pictorialista do final do século XIX. No entanto, enfrenta certa obscuridade, no que diz respeito, sobretudo, a produções acadêmicas. Sendo assim, não obstante sua importante contribuição para a História da Fotografia, sua vida e obra caminham em direção à inexatidão proveniente de referências incertas. O presente estudo busca ressaltar este fato e, ao mesmo tempo, oferecer sua contribuição. Para tanto, primeiramente trata, de modo breve, de particularidades da vida do autor para, em sequência, abordar com maior profundidade uma única fotografia, “Speed”, de 1904. Esta metodologia do artigo é resultante da proposta do seminário que o originou.

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Memória e fotografia Em busca do tempo perdido B.el Juliana Ferreira Bernardo

Palavras Chaves: fotografia, Proust, memória, colagem O presente artigo aborda a constituição narrativa da obra Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust. Nesta análise será retratado os aspecto da memória como recursos de colagem narrativa. Esta pesquisa se propõe também a verificar as implicações da fotografia nas características da escrita proustiana no contexto do início do século XX.

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SNV - sistema nervoso virtual: um ensaio, uma reflexão Esp. Felipe José Mendonça Ferreira

Palavras Chaves: arte, mídia, computador, tecnologia, fotografia Este artigo traz para o debate acadêmico o uso do computador na criação artística contemporânea a partir do ensaio “SNV - sistema nervoso virtual” A presença da máquina como pré-requisito para a criação artística contemporânea aumenta à medida que o sistema binário passa a ser a mídia de armazenamento de diferentes equipamentos. A proposta de trazer esse ensaio para o debate é a tentativa de evidenciar que os questionamentos existentes dentro dessa relação homem-máquina-arte estão presentes na criação contemporânea, estão no DNA da criação dos novos artistas que começaram a se expressar já na era da informática e têm no computador uma ferramenta de auxílio na construção de suas obras. Não é interesse deste artigo discutir a riqueza estética do ensaio.

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> FOTO GRAFIA > UNIVERSO FOTOGRテ:ICO.



Capa - Davilym Dourado


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