Revista Foto Grafia #08

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ROSELY NAKAGAWA IATÃ CANNABRAVA LUZ PARA TODOS CLICK LITERÁRIO ENSAIOS ARTIGOS

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w w w.revistafotografia.com.br



08 editorial

Ricardo Gallarza fala sobre o evolução da revista Foto Grafia e opina sobre a situação da produção cultural ligada à fotografia no Brasil

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Iatã Cannabrava, fotógrafo, curador e produtor cultural, vislumbra caminhos para a produção cultural no Brasil, apresenta a wikifotografia e revela o que pensa sobre o fazer coletivo

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leitura de portfólio Rosely Nakagawa trabalha com cur adoria fotográfica há mais de 30 anos e realiza leituras de portfólio em eventos pelo Brasil. Aqui, ela analisa o trabalho de Elisa Elsie, fotógrafa profissional desde 2006

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Cristiano Trad registrou com um iPhone a enchente que atingiu a cidade de Guidoval, em Minas Gerais, no início deste ano. O fotógrafo é integrante do coletivo uaiPhone, no qual os fotógrafos apresentam a fotografia móvel como importante evolução da área


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Conheça melhor o trabalho dos fotógrafos humanitários, profissionais engajados que fazem da fotografia uma arma para denunciar os problemas sociais e dão voz às classes menos favorecidas

O erótico na contemporaneidade, representação e estereótipos fotográficos e a apropriação das técnicas pictóric as na composição fotográfica contemporânea são os principais assuntos abordados nos artigos desta edição: o download é gratuito e a leitura indispensável

A Rua Barton, no Canadá, um Brasil construído pelo fluxo de culturas e uma visita ao passado por meio de fotografias reconstituídas compõem os ensaios selecionados para sua apreciação. Inspire-se e envie o seu

universo fotográfico

ensaios

artigos científicos

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conteúdo indicado Seleção de conteúdos online, livros e filmes relacionados aos assuntos desta edição e à fotografia em geral

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click literário Marcelo Juchem apresenta outro clássico da literatura fotográfica: A Câmara Clara, de Roland Barthes. O autor, além de criar os famosos termos “Punctum” e “Studium”, procura a essência da fotografia e levanta questões que ainda hoje continuam sem resposta



COLABORADORES Carla Fernanda da Silva - Cristiano Trad - Coletivo Parênteses - Daniel Meirinho de Souza - Elisa Elsie - Iatã Cannabrava - Israel Souto Campos - Maíra Soares - Rafael Peixoto Ferreira - Rosely Nakagawa

COLABORADORES DO BLOG Carola Santos - Vitor Ebel

EXPEDIENTE Coordenador Geral: Ricardo Gallarza Editores: Felipe H. Gallarza - Ricardo Gallarza - Sergio Antonio Ulber Diretor de Arte: Felipe H. Gallarza Diretor de Redação: Sergio Antonio Ulber Programador: Iacami Enapupê Gevaerd Jornalista: Gustavo Zonta Colunista: Marcelo Juchem

EDITORA RGF Comunicação e Cultura Balneário Camboriú - Santa Catarina - Brasil contato@grupolapis.com.br

ISSN: 2178-8596 As fotografias e os artigos científicos assinados são de total responsabilidade dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião da revista. A produção total ou parcial de qualquer texto ou imagem, por qualquer meio, sem autorização dos responsáveis ou da revista é totalmente proibida. Para participar da seleção para publicação confira as instruções no site da revista.

IMAGEM DE CAPA: Cristiano Trad ART P. 3: Carpintaria Estúdio Art: Felipe H. Gallarza

A revista Foto Grafia é um projeto de fomento à produção fotográfica. A LAPIS Comunicação e Cultura agradece a todos que colaboram com a Foto Grafia e aos autores que participam das seleções de projeto, tornando possível a realização desta.



H

á dois anos, em um evento de fotografia onde eu apresentava à algumas pessoas o terceiro número da Revista Foto Grafia, ainda com um viés bastante acadêmico, mas já com indícios de que tomaria novos rumos, ouvi de uma pessoa que possui muitos anos de atuação no mercado fotográfico que a maioria das iniciativas editoriais na área da fotografia no Brasil não passavam do quinto número por conta da dificuldade que é de se empreender tal iniciativa. Hoje sou obrigado a concordar que se trata de um empreendimento muito difícil que depende de muita dedicação e investimento e que demanda tempo até o reconhecimento chegar. No entanto, se aquela opinião era de fato um referencial de mercado, é com muito orgulho que apresento nossa 8ª edição que, mantendo o proposto nas edições anteriores, conta com colaboradores de reconhecida notoriedade no mercado fotográfico. Roseli Nakagawa, com sua expertise de curadora, produtora cultural e professora faz a Leitura de Portifólio e Iatã Canabrava, com o reconhecimento de um dos mais importantes produtores culturais da fotografia contemporânea brasileira, apresenta uma reflexão sobre o que podemos chamar de o “novo mercado da fotografia” por conta dos novos fenômenos midiáticos e tecnológicos. Não posso deixar de fazer uma referencia, é claro, à nossa equipe permanente que evolui a cada edição nos permitindo o amadurecimento contínuo. E é este amadurecimento, fruto da experiência também como produtores culturais da fotografia que estamos adquirindo ao longo do tempo, que nos coloca mais a vontade para fazermos um importante questionamento: o que acontece em alguns estados ou regiões brasileiras que a classe cultural ligada à fotografia não consegue atuar de forma

mais colaborativa? Como citado no texto do Iatã, há dois anos foi fundada a Rede de Produtores Culturais da Fotografia no Brasil, cuja harmonia até então era impensável para a classe fotográfica. Este incansável trabalho realizado em todo território nacional por incansáveis articuladores, parece que não consegue criar eco em algumas regiões brasileiras. Tomo como exemplo o próprio estado de Santa Catarina, onde somos residentes, e que desenvolve importantes iniciativas culturais, mas que não desenvolve sinergia entre seus produtores que insistem ver seus empreendimentos de forma isolada. É claro que nesta colocação pensamos também o quanto estamos deixando de fazer para que esta articulação sinérgica a que me refiro, deixe de se concretizar. É preciso que tomemos consciência de que como empreendedores de iniciativas tão importantes para o mercado da fotografia, principalmente em um estado que apresenta um enorme potencial mercadológico por conta do seu frenético desenvolvimento, como é o caso de Santa Catarina, também atuamos como formadores de opinião de centenas e porque não dizer de milhares de jovens que veem na fotografia o seu futuro profissional. Um mercado forte que absorva esta potencialidade produtiva só irá se estabelecer de fato quando todos (editoras, escolas, universidade, festivais e outras iniciativas) nos unirmos em torno da causa maior que é a fotografia, assim, quem sabe, possamos corresponder de maneira sólida e permanente à enorme demanda que se forma em torno do fazer fotográfico atraindo o interesse de grandes marcas do setor e, consequentemente, o fomento para as atuais e para as novas iniciativas. Ricardo Gallarza Coordenador Geral da Foto Grafia


Ro se l y N a ka g a wa Fo to - A do lfo Lei rner


Há mais de 30 anos Rosely Nakagawa dedica sua vida à fotografia, desenvolvendo principalmente trabalhos como curadora e editora. Acostumada a analisar portifólios fotográficos em eventos pelo Brasil, nesta edição Rosely analisa o trabalho de Elisa Elsie, fotógrafa profissional desde 2006

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fotografia surgiu na vida de Rosely Nakagawa durante a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAUUSP), curso pelo qual é graduada. Em 1979, com 25 anos de idade, por indicação de Cristiano Mascaro e Renina Katz, foi convidada por Thomaz Farkas a coordenar a Galeria Fotoptica, iniciando sua carreira na área curatorial. Em 1977, ingressou no curso de especialização em Museologia e, em 2004, buscando ampliar seu repertório de avaliação, fez especialização em Comunicação e Semiótica pela PUC/

USP. Como curadora, atuou na Galeria Fotoptica de 1979 a 1986, no Espaço Cultural Citibank até 1990, na Casa da Fotografia Fuji até 2004 e nas galerias FNAC até 2009. Em curadorias independentes, realiza mostras no SESC, MASP, Bienal, IMS e Pinacoteca. Em 1991, fundou o Núcleo dos Amigos da Fotografia (Nafoto), entidade em que são realizados eventos voltados à fotografia, inclusive leituras de portfólio. Organizou importantes exposições em países como os Estados Unidos, França e Japão. Criou os “Encontros com a Fotografia” da Fnac 2008 (livro e mostra) e edita livros de fotografia em parceria com importantes

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“É fundamental definir o objetivo que se quer alcançar com o material produzido. A clareza nesta etapa define todas as discussões que vem a seguir” E lisa E lsie

editoras nacionais. Em entrevista para Alexandre Belém, responsável pelo blog Olhavê, Rosely explica que para a criação de um portfólio é fundamental definir o objetivo que se quer alcançar com o material produzido. A clareza nessa etapa define todas as discussões que vêm a seguir. Segundo ela, “o fotógrafo precisa saber o que ele está buscando, mesmo que a princípio seja um indício tênue”. Elisa Elsie, que nesta edição submeteu seu trabalho à análise de Rosely, trabalha profissionalmente com fotografia desde 2006. Nasceu em 1984, em Natal (RN), é jornalista formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e estudou fotografia no Westchester Community College, em Nova Iorque, onde morou por dois anos. De volta ao Brasil, atuou produzindo textos e fotos para o jornal Tribuna do Norte (Natal, RN) e para a revista Brouhaha. Realizou documentários fotográficos no Piauí, no Rio Grande do Norte e na Argentina. Atualmente tem dois trabalhos em curso: a documentação do mais antigo tributo a Raul Seixas do país e da península de Galinhos, RN. Elisa também dedica parte do tempo a promover eventos de fotografia no Estado onde mora. Nos últimos seis meses foram dois. O primeiro foi o Seminário Enquadres, que contou com a participação dos fotógrafos Marcelo Buainain, João Roberto Ripper e Numo Rama; e da curadora Isa-

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Foto - M a ria na d o Va l e

bel Amado. O segundo foi o “Natal na trilha da imagem”, resultado de um trabalho de Marcelo Buainain que foi apresentado com a participação do fotógrafo Tiago Santana e da curadora Ângela Magalhães. Há um ano montou o ‘Duas Estúdio’, em parceria com a fotógrafa Mariana do Vale, onde produz editoriais de moda e ensaios.

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ara o portfólio apresentado, Elisa selecionou basicamente retratos, editados de seus diversos ensaios pessoais, jornalísticos ou documentais, que acabei conhecendo no site. O seu portfólio mostra que ela sabe fazer retratos com muita desenvoltura. Uma capacidade rara, dada a coragem necessária para se aproximar de um universo particular e muitas vezes delicado. Particular porque todo ser é único, em seu modo de relacionar-se com o outro; delicado por ser a fotografia um elemento de invasão de privacidade e nem

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sempre o resultado é tão bem sucedido. O modo como o fotógrafo se aproxima para retratar alguém é fundamental para que o retratado se entregue e se deixe fotografar. Em seu site podemos ver que em todas as modalidades nas quais ela classifica seu trabalho, o retrato se destaca. Certamente o drama humano a sensibiliza; pode-se ver isto nos gestos e olhares dos seus retratados. O drama humano, no sentido da corrida para a sobrevivência e o encontro com a felicidade. Muitas vezes este “drama” se entrega num

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olhar certeiro (foto 17), mas divide a atenção com um elemento do fundo, como o calango que a mãe carrega. Num sorriso lindo (03), mas que tem a sua força expressiva dividida com uma pequena entrada de luz. Num grafismo interessante (07 e 13), mas com muitas expressões contraditórias e ruído visual ao fundo ou no primeiro plano (12, 15 e 16). Algumas imagens têm o fundo excluído, perdendo seu contexto (10 e 11). Um portfólio como este pode ser apresentado sem problemas para um editor de uma revista mensal ou um periódico semanal. As imagens selecionadas mostram um pouco do talento da autora em tudo: show, cultura, política, ensaio poético. Mas encon-

tram problemas para definir o que sensibiliza realmente a fotógrafa, deixando, portanto de sensibilizar, aproximar o leitor, que busca esta identificação com as imagens. Os melhores momentos do portfólio mostram retratados em situações onde estas categorias (documental, jornalístico, ensaio), não aparecem tão definidas, rígidas: a mão que esconde o rosto (04), o homem sentado de costas solitário num hospital (08), a menina quase imperceptível atrás da pilha de mandioca (09) e os meninos jogando bola na praia (19). Estes quatro retratos me comovem, me deslocam no tempo, me conduzem. Ela mostra que sabe chegar fundo na emoção e transportá-la para a imagem. Para

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isso utiliza a composição, a inclusão do fundo, as cores suaves e fortes contrastes, o foco, a luz às vezes lateral, às vezes focada num rosto. E sabe também se aproximar do sujeito sem fazê-lo perder a atitude e a espontaneidade. Certamente a seleção das imagens para este portfólio merece ser revista, procurando uma síntese destes momentos em que ela sente que esta sintonia acontece de maneira mais forte, intensa e verdadeira. Nas quatro imagens mencionadas (04, 08, 09 e 19), existe esta síntese e ela mostra o que tem de melhor. Especialmente deixando de lado estas categorias que podem ser mescladas sem tanto rigor de classificação. Esta classificação é funcional para

arquivamento e pode ser fatal para uma leitura mais crítica e a edição das imagens. Não falei das fotografias de moda, porque não estão no portfólio e, por serem totalmente montadas e produzidas, perdem o que ela tem de mais incrível para oferecer como fotógrafa sensível que é: saber trabalhar com as pessoas como elas são. Procure não perder esta emoção na edição do portfólio final.

Rosely Nakagawa

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Rosely www.rpcfb.com.br/realizadores/rosely-nakagawa Elisa www.elisaelsie.com

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Iatã Canabrava

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ste texto só faz sentido se for datado, por isso o estranho título. Alguns números nos ajudam a vislumbrar o cenário onde se desenvolve a produção cultural da fotografia contemporânea: 37 milhões de iPhones vendidos nos últimos três meses de 2011, representando 53% das vendas da Apple no período. Suspeita-se que a venda de celulares com câmera já supere a venda das máquinas convencionais. A cada segundo, 3 mil fotos são adicionadas ao Facebook, uma média de 250 milhões de arquivos de imagem acrescentados diariamente à rede. Ou ainda, 10.4 milhões de fotos por hora ou 174 mil por minuto. No Google+ a média é de 100 mil fotos por dia. Fotografias e vídeos são armazenados por servidores com capacidade agora medida em petabytes (mil terabytes). Essa popularização, ou melhor, democratização dos instrumentos de captura de imagens é irreversível e acontece no mundo todo. Em países em desenvolvimento, como o Brasil (somos a 5a potência mundial, mas ainda subdesenvolvidos) isso faz uma retumbante diferença: pulamos de um cenário onde apenas uma pequena parte

da população fotografava para o que podemos chamar de era do “assédio fotográfico”. Hoje, fotografa-se como forma de autopertencimento, algo como “eu estive aqui e faço parte disto!”. Vale a pena destacar que estamos falando de um duplo instrumento – foto digital e internet – que mudou o paradigma da comunicação global. Existe comunicação entre massas e não de massas. Milhões falam com milhões com a mesma facilidade que falávamos com nosso vizinho. Desenhado o cenário, seguimos ao que podemos chamar de mercados culturais da fotografia, afinal, não faz mais sentido falar no singular, mercado. Se algumas portas se fecharam, muitas outras se abrem, e a parafernália digital, ao contrário de reduzir o mercado editorial, cria mais espaço para sua difusão. Os procedimentos de pré-impressão cabem hoje num Macintosh e as formas alternativas de e-books e afins surgem e se desenvolvem rapidamente. Comparando nosso país hoje com o Brasil de 20 anos atrás, observa-se uma explosão de “paredes” para a fotografia: galerias, feiras, leilões e outros mecanismos como a venda de fotografia

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Leilões públicos de arte em 2010 percentual de venda

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produtos de leilão

e arte pela internet adquirem proporções astronômicas, num vislumbre de negócios permanentes. Deixando o otimismo de lado, também existem setores nos quais esse boom digital gerou crises inimagináveis: assistimos, por exemplo, a um fotojornalismo ainda tentando anotar a placa do caminhão que lhe passou por cima. Nos recentes acontecimentos e tragédias mundiais, vimos câmeras nas mãos de cidadãos comuns e até mesmo aparelhos de vigilância realizarem parte importante das coberturas fotojornalísticas, enquanto na publicidade, bancos de imagens e estúdio 3D avançam sobre fatias consideráveis de um mercado que um dia já foi o mercado dos sonhos para muitos. Talvez o mercado que mais tenha se desenvolvido nos últimos 10 anos seja o da imagem social, mas deixemos o assunto para outra oportunidade. Basta notar que, na educação, nunca os cursos e workshops foram tão procurados como agora, do básico aos mais complexos. Os festivais se multiplicaram chegando a quase trinta em atividade atualmente no país, entre os de alcance local e regional e pelo menos três internacionais. Amadores avançados, profissionais, usuários de iPhone procuram trocar informações

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diárias, e o velho laboratório serve hoje como sala de discussões. Deve-se salientar que 100% dos festivais enfrentam problemas de financiamento, e que o mercado de arte no Brasil representa aproximadamente 0,1 % do mundial, para sermos ainda generosos. (Vejam gráfico da Artprice referentes à venda de arte em leilões no ano de 2010). Embora sejam mudanças radicais, estas não alteraram significativamente a triste tendência de grande parte da nossa fotografia: a de colocar o foco na pobreza, na violência, no exotismo, sem concessões ao banal, ao ordinário, ao nosso próprio cotidiano. Há muito tempo não vemos uma fotografia de uma sala de TV, com uma família assistindo à novela das nove! Como disse o peruano Jorge Villacorta, no II Fórum Latino-Americano de Fotografia de São Paulo, realizado ano passado no Itaú Cultural, “precisamos apostar em uma fotografia sem sofrimento”.

Wikización (o grande coletivo) Resumindo em um tópico a tendência, ou me-


Produtos de leilões públicos de arte em 2010

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conssumo por países

lhor, o futuro da produção cultural na fotografia brasileira, podemos afirmar que o caminho é o da coletivização do fazer fotográfico. Em quesitos como a desconstrução do autor na forma como o conhecemos hoje, o que vemos é apenas a ponta do iceberg. Insisto na tese da wikifotografia como produção não apenas dos coletivos propriamente ditos, mas de todas as formas de se pensar em rede hoje em dia. Organizo o Paraty em Foco com um conselho consultivo de mais de doze pessoas; há dois anos fundamos a Rede de Produtores Culturais da Fotografia no Brasil, cuja harmonia até então era impensável para a classe fotográfica. São experiências sobre o fazer coletivo e para o coletivo. Hoje me considero mais um facilitador que um curador ou um diretor de festival. Essa nova era do fazer coletivo também é uma era da subtração de fronteiras: vídeo + fotografia + texto + vezes o artista. A mudança de paradigma não é privilégio do mundo da imagem. Podemos afirmar que estamos nitidamente saindo da sociedade da informação e entrando na sociedade da cooperação. Temos exemplos bem conhecidos na área do pensamento e da informação, como a Wikipé-

“Deve-se salientar que 100% dos festivais enfrentam problemas de financiamento, e que o mercado de arte no Brasil representa aproximadamente 0,1 % do mundial” dia. O projeto que, muitos apostaram, seria um fracasso, talvez seja a mais bem sucedida rede de colaboração da internet. Em seu recém-lançado livro “A Cultura da Participação”, o escritor Clay Shirky afirma que o trabalho acumulado dos colaboradores do site resulta em torno de 100 milhões de horas. Nos negócios, o herói hoje é o cyber guru canadense Don Tapscott, que defende a tese da inteligência conectada. Tapscott apresenta uma nova era a caminho, a da Wikieconomia (Wikinomics), onde mais importante que ter as ideias é deter as conexões. Bem-vindo à Wikifotografia.

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na capa...

GUIdoval M i n a s G e ra is c omeçou o ano de 2012 c o m f o rt e s c h uva s, p rincipalment e na região da Zo n a d a M ata. O número de cidades no est ado e m si t u a ç ã o de e m ergência chegou a 87 n as du as p r i m e iras s e manas do ano. N ove pesso as m o r r e r a m. Em to do o est ado, mais de duze n t as po n t e s f o ram de s tru ídas pela força das ág u as. U m a d el a s fic a va e m Guidov al, um dos mu n i c í pi o s t o so f rime nto, muit a angust ia, muit a do r e m u i t a so l i d arie dade. “ Por l á, as c id a des mais pareciam um c e n ár i o p ós - gue rra ”, re lat a o fot ógrafo Crist ian o Tr ad. “ Pa r e de s c a ídas, carros de cabeça p ar a bai x o, m ó v e is, fo gõ e s e geladeiras espalhad o s pe l as r u a s, c as a s inte iras no chão” . Para ele, é m u i t o d i f í ci l e nc o ntra r palavras que possam t r adu z i r o q u e viu e o q ue sent iu. A s i m age ns que compõem est e ensai o f o r am

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m a i s afe tado s pelas enchent es. Muit a ág u a, m u i -


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c a pta d a s c o m um iPhone 4. Apesar de e x i s t i r e m c el u lare s c o m câmeras melhores, o f o t ó g r af o e x p lic a que uma das grandes ev olu ç õ e s t r az i das c om e s te aparelho é a facilidade de e di t ar e c ompartilha r as imagens em quest ã o de s e g u n d o s. I nc lus ive o t ermo iPhonegraphy s u r g e par a i d entific ar e s te t ipo de fot ografia. M i n e iro, Cris tiano Trad nasceu em 19 8 2 . É af i c i o n a d o pe la fot ografia como art e e pr o f i s s ão. Fo r m ado e m D esign Gráfico, v em at u an do h á m a i s de d o is anos como repórt er fot o g r áf i c o do s j or n ais O Te mpo, Supernot ícia e Pampu l h a. E m 2011, Tra d fo i vencedor do concurso n ac i o n al V l a d im ir He r zo g de anist ia e direit os h u m an o s c om um a s é rie de report agens sobre s an e am e n t o b ás ic o na região met ropolit ana de B e l o H o r i -

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z o n t e, e m M inas Gerais. C rist iano faz par t e d o co le tivo internacional uaiPhone, f u n da d o em 2010, in t egrado por fot ógrafos de d i ca d o s a p ro mover o seu t rabalho e apr e s en ta r a fo to grafia móvel como uma f o r m a i m p o rtante na evolução da área. C o m u m a vis ã o unificada e uma paixão d e di c a d a, o s fo tó g rafos do colet iv o cap t u r am o p i niõ e s s o b re o mundo e compart ilh am s u a s his tó ria s. A perspicácia dest es f o t ó g r a f o s tra ns fo rma os celulares em po de r o s a s c â me ra s fot ográficas, com a ca pac i d a d e o b te r re gist ros impressionant es c o m o e st es a p re s e ntados no ensaio Guidoval.

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Fotógrafos humanitários fazem da fotografia uma arma para denunciar os problemas sociais do mundo, dão voz às classes sociais menos favorecidas e encontram beleza e dignidade onde falta quase tudo. Conheça melhor o trabalho destes profissionais engajados, qual a visão que eles têm da fotografia e o que pensam sobre as críticas em torno da estetização da miséria

f ot o - J oã o Ro be r to Rippe r

D esp ejo d e ocup a çã o urb a na em C a m p o Gra n d e , R i o d e J a n e i ro

p rojeto d e ca p a - “ G UI DOVA L”


U n i ver s o Fo t o g r á f i c o

por Gust avo Z ont a

Sudão, África, 1993. A Guerrilha pela Libertação do Povo Sudanês e o governo Islâmico estão em guerra civil. O conflito mata mais de 600 mil pessoas de fome, milhares estão vivendo em campos de refugiados. O fotojornalista sul-africano Kevin Carter desembarca no sul do país para mostrar ao mundo o que está acontecendo naquele lugar. Carter visita alguns campos de refugiados e faz uma das fotos mais marcantes da história. Uma criança sudanesa faminta, sem forças, se arrasta em direção a um posto de ajuda humanitária enquanto, ao fundo, um urubu a observa, como que aguardando a sua morte

para poder devorá-la. A imagem resume todo o sofrimento pelo qual o povo sudanês passa naquele momento. A fotografia foi publicada no jornal americano The New York Times em março de 1993 e chamou a atenção do mundo para o problema da fome no continente africano. Em 1994, o fotógrafo ganhou o Prêmio Pulitzer com a imagem, o mais respeitado prêmio do jornalismo mundial. Mas a foto feita no Sudão não trouxe apenas prestígio para o fotógrafo sul-africano. Todos queriam saber como estava a criança e o que Carter havia feito para salvá-la. O fotógrafo foi criticado na época e muitos o com-

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f oto - Kevin C a r ter A cria nça e o a b utre: a f o t o g r a f i a d e Kevin C a r ter f eita no Sud ã o , e m 1 9 9 3 , é um a d a s im a g ens hum a n i t á r i a s ma i s em b lem á tica s d a história

pararam ao próprio abutre, questionando porque ele não havia ajudado aquela criança. Três meses depois de receber o Pulitzer, Kevin cometeu suicídio. Depressivo após a morte de um de seus colegas fotojornalistas e ainda com todas as situações de guerra e violência que acompanhou durante sua carreira, ele decidiu tirar a própria vida. A história do fotógrafo Kevin Carter virou documentário. Em 2006, o filme intitulado The Death of Kevin Carter: Casualty of the Bang Bang Club (A Morte de Kevin Carter: O Desastre do Clube Bangue Bangue) recebeu uma indicação ao Oscar. Apesar de trágica, a vida de Carter é um exemplo para aqueles que se dedicam à fotografia humanitária, profissionais que transformam suas câmeras em armas para denunciar a miséria, a guerra, as doenças, a fome, a dor. No livro A fotografia: entre documento e arte contemporânea, o francês André Rouillé explica que a

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fotografia humanitária surge com “o inusitado aumento dos excluídos, dos deserdados, de homens reduzidos ao estado de ‘coisas’”. São esses os personagens que os fotógrafos humanitários buscam retratar: os excluídos do coletivo, os anônimos, os esquecidos pelo sistema. Como nos conta Rouillé, “os homens dos clichês humanitários são vítimas da economia, que os deixa sem trabalho, sem domicílio, sem recursos; vítimas da fome, da aids, da droga; vítimas, de fato, do fim do projeto moderno”.

Lentes que denunciam Desde que o equipamento fotográfico conseguiu sair do estúdio, os fotógrafos se interessa-


f oto - Lewis H ine Fotog ra f ia s d e Lewis H ine, d o in í c i o d o s é culo X X , d enuncia ra m o tra b a lh o i n f a n t i l nos E sta d os U nid os e o m od o d e v i d a d a s cria nça s a m erica na s

ram em dar voz aos setores da sociedade economicamente menos favorecidos, mostrando os problemas sociais vivenciados pelo homem. Um dos trabalhos fotográficos mais importantes neste período foi o do sociólogo americano Lewis Hine (1874-1940), que encontrou na fotografia sua forma de denunciar o trabalho infantil nos Estados Unidos. Em 1908, Hine foi contratado como fotógrafo e inspetor do Comitê Nacional do Trabalho Infantil e até 1924 produziu um vasto material sobre as condições de trabalho das crianças americanas e suas vidas. São mais de 5 mil fotografias em papel e 300 negativos de vidro. Um dos mais importantes documentos fotográficos daquela época. Hine não se preocupou apenas com as questões problemáticas do trabalho infantil, mas também registrou a saúde pública americana e a discriminação das minorias. Suas fotos foram encaradas como documentos pelo gover-

no americano e ajudaram na criação de diversas leis trabalhistas e de reforma social. Tendo como base as mudanças conseguidas através das fotos de Hine, a doutora em antropologia Rita de Cássia Alves Oliveira, que realiza estudos antropológicos aliados à fotografia, ressalta a importância do trabalho dos fotógrafos humanitários. “No presente, eles têm a importância de denunciar e tem conseguido alterar algumas situações, como no caso de Lewis Hine. Historicamente, eles têm o papel importante de registrar o passado para não repetirmos mais essas coisas, para a gente acreditar que é possível transformar essas situações”, afirma Rita. Ela completa: “diante das fotos de Hine, vemos o quanto a nossa sociedade já caminhou nos direitos das crianças, na organização do trabalho. Por isso, elas são importantes não só para nós, mas também para as gerações futuras”. Um dos fotógrafos brasileiros que também regis-

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trou as difíceis condições de trabalho em diversas nações foi Sebastião Salgado, talvez o fotógrafo humanitário mais conhecido no mundo. Nascido em Minas Gerais, em 1944, Salgado dedicou o seu livro ‘Trabalhadores - Uma arqueologia da era industrial’, de 1993, para estas questões. A obra, que levou sete anos para ser realizada, reúne 350 fotos de trabalhadores de várias partes do mundo em 400 páginas. Formado em economia, Sebastião Salgado iniciou tarde a sua carreira de fotógrafo, quando tinha quase 30 anos de idade. Desde que começou a fotografar, seus trabalhos sempre se concentraram na documentação das injustiças enfrentadas pelo homem: fotografou os pobres da América Latina, a seca no Norte da África, os trabalhos manuais, os desalojados em massa. Suas imagens em preto e branco, cheias de jogos de sombra e luz, têm um grande cuidado estético e já foram expostas em todo o mundo.

Fotógrafos engajados Além de fotografar temas humanitários e através deles mostrar ao mundo as situações críticas enfrentadas pelo homem, Salgado transformou seus temas fotográficos em verdadeiras causas, que têm defendido durante toda a sua

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carreira. Ele foi um dos primeiros a apoiar o Movimento Sem Terra no Brasil, chegou a reverter os lucros com as vendas de seus livros para o MST, e tem contribuído generosamente com organizações humanitárias, como o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, (ACNUR), a Organização Mundial da Saúde (OMS), a ONG Médicos sem Fronteiras e a Anistia Internacional. A professora Rita de Cássia aponta que este é um comportamento comum entre os fotógrafos que optam por esse tipo de fotografia. “A fotografia humanitária tem um caráter político muito forte. São fotógrafos que dedicam sua carreira a uma discussão política na sua região, no seu país ou no mundo. Até por isso, essas fotos vão ser bastante criticadas, porque elas expõem os problemas da sociedade”, afirma Rita. Por esse posicionamento na produção de suas imagens, muitos destes profissionais são chamados de fotógrafos engajados, do inglês concerned photographs, termo que denominava a tendência dos fotógrafos precursores da fotografia documental nos Estados Unidos, da qual Lewis Hine fez parte. Ana Maria Mauad, doutora em História Social pela Universidade Federal Fluminense (UFF), no artigo “Olhar engajado: fotografia contemporânea e as dimensões políticas da cultura visual”, publicado em 2008, explica que os fotógrafos


f ot o - J o ão Ro be r to Ripp er Im a ge m fe ita po r Rippe r mostra meni nos bri ncando com bol i nha s d e g ud e em um a com unid a d e d e m ulheres m a risq ueira s

engajados, que surgiram principalmente a partir de 1930, “aspiravam exprimir, por intermédio da imagem, seus próprios sentimentos e as ideias da época. Rejeitavam a montagem e valorizavam o flagrante e o efeito de realidade, suscitado pelas tomadas não posadas, como marcas de distinção de seu estilo fotográfico. Em geral, os participantes dessa geração eram adeptos da Leica, câmera fotográfica de pequeno porte que prescindia de flash”.

Ainda segundo Mauad, esses profissionais surgem através de uma cultura visual diversificada e plural, no decorrer do século XX, junto com a ascensão das questões sociais na cena pública. “(...) Do movimento operário às demandas de liberdade sexual, passando pela lutas pelos direitos civis, pelos movimentos pós-coloniais etc, tudo isso captado por profissionais atentos ao calor dos acontecimentos. Suas imagens compõem um catálogo, no qual surge uma

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história redefinida pelo estatuto técnico próprio ao dispositivo da representação: a câmera fotográfica”. É com este espírito engajado, que nasceu no início do século XX, que o fotógrafo carioca João Roberto Ripper realiza os seus trabalhos. Aos 58 anos, Ripper completa, em 2012, 40 anos de carreira, a maior parte dela dedicada à retratar as minorias brasileiras. A proposta de Ripper é colocar a sua fotografia a serviço dos direitos humanos. Desde que começou a trabalhar com fotojornalismo, o carioca sempre teve um posicionamento político muito forte. Nas redações por onde passou, lutou pelo direito dos fotógrafos: pelos créditos nas fotos, que era algo que ainda não existia, por uma tabela de preços mínimos e por melhores condições de trabalho. Insatisfeito com os resultados alcançados trabalhando nos grandes veículos, como os jornais o Globo e Diário de Notícias, ele decidiu trilhar o seu próprio caminho fotográfico. Ao lado de grandes profissionais da época, criou a agência independente F4, em São Paulo, e passou a abraçar as causas que fotografava. “Deixamos a imparcialidade de lado e assumimos causas e lutas. Colocamos a fotografia neste caminho. Especialmente, na questão da terra. Trabalhamos na documentação oral brasileira, nas lutas por posse de terras, no trabalho escravo e no trabalho infantil”, conta Ripper. Neste caminho, ele fotografou o Movimento Sem Terra, Ripper e Sebastião Salgado acompanharam de perto o massacre de Eldorado do

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Carajás, no sul do Pará, em 1996, que deixou 19 manifestantes mortos em confrontos com a polícia; fotografou os sobreviventes dos quilombos, o trabalho dos seringueiros, os índios, os trabalhadores rurais, os carvoeiros trabalhando praticamente como escravos. Foi neles que Ripper encontrou a beleza que procurava. “Aprendi fotografando essas pessoas que tão importante quanto denunciar é mostrar a beleza que existe nelas. Se a informação só mostra a dificuldade, a culpa, o erro, você acaba formando a opinião pública em cima dessa dificuldade. A gente trabalha com o renascer do belo, com a auto-estima da comunidade em se ver e se gostar”, explica o fotógrafo.

Estética da miséria X Estética da dignidade A beleza estética das fotografias humanitárias é muito questionada por alguns críticos. Um dos principais alvos destas críticas é Sebastião Salgado. Segundo essa corrente, os trabalhos destes fotógrafos são tão apurados tecnicamente, existe um cuidado estético tão grande, que ao invés de despertarem a consciência do grande público e alertarem para a problemática dos


fo to - J o 達o Rober to R i pper

Ri pper dedi cou g ra nd e p a r te d a sua f otog ra f ia a o reg istro d o tra b a lho escra vo no Bra sil, p rinc i pal mente dos car voeiros no M a to Grosso d o Sul

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f ot o - J o ão Ro be r to Ripper J oã o e Olga, uma his tó ri a de am or e coragem . João Ansel mo é cor ta d or, tra b a lha com a m oto -serra , tem 5 1 a nos, corp o f or te, p or te f ísico e l e g a n t e, mas já marc ado pe lo tem po e pel o trabal ho pesado. Sua com p a nheira , Olg a M a ria M a r tins, d e 6 7 a nos, f icou ceg a tra b a lha nd o na s ca r v o a r i a s , a o la do de J o ão . Ele s s ã o o retrato da escravi dão. Há sei s anos nã o receb em d inheiro, tra b a lha m em troca d e com id a .

temas abordados, eles apenas parecem belos aos olhos dos outros, despertam o lado emocional das pessoas e não o lado racional. Para estes críticos, a miséria não deveria ser retratada como algo bonito, pois não há beleza na miséria. Para a professora Rita de Cássia, essa crítica feita à fotografia humanitária não se sustenta e é bastante frágil. “Não vejo porque a forma deveria ser tecnicamente menos elaborada só porque está se tratando de miséria ou de outros dramas humanos. Pelo contrário, a precisão técnica dos trabalhos do Salgado, por exemplo, contribuíram para que outras classes sociais olhassem para aquelas populações

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deslocadas com um olhar mais respeitoso, defende Rita. Além de definir a estética da miséria como uma crítica barata, o fotógrafo João Roberto Ripper costuma usar outro termo para definir a fotografia humanitária: a estética da dignidade. “A gente enxerga a beleza e vê que existe uma resistência. Essa teimosia em ser feliz que eu enxergo tanto nas classes mais pobres: quilombolas, trabalhadores rurais, moradores de favela… Essa dignidade, eu acho fantástico fotografar”. Ripper completa: “As fotos são bonitas sim porque a luz não discrimina onde ela vai. Ela deita pra dormir e acorda lambendo os cabelos da terra, dos telhados, das casas, seja


na Zona Sul do Rio de Janeiro ou seja na maloca lá no interior do Ceará. A luz é para todos”. A fotojornalista paulista Adriana Zehbrauskas, 43 anos, mais de 20 dedicados a fotografia, mora no México desde 2004, quando deixou a redação do jornal Folha de São Paulo. Por ter ingressado na faculdade de jornalismo justamente para poder denunciar os problemas sociais e ser os olhos daqueles que não podem estar perto destes acontecimentos, ela já cobriu diversos temas humanitários. Nestes trabalhos, procurou manter sempre sua técnica muito apurada. “A pobreza sempre vai chocar e a fotografia é visual. Não concordo com a estética da miséria porque dependendo do assunto que você está cobrindo tem que encontrar a melhor maneira de traduzir isso para uma linguagem visual, estética. Quanto melhor eu fizer a minha imagem mais impacto ela vai ter”. Adriana, que já foi assistente do fotógrafo americano James Nachtwey, um dos grandes nomes da fotografia humanitária mundial, sentiu isso na pele quando fotografou o terremoto no Haiti. A catástrofe natural, que aconteceu em janeiro de 2010, matou mais de 200 mil pessoas e deixou o país completamente devastado. “Eu estava lá para chamar a atenção do mundo para que mandassem mais dinheiro, para que os médicos continuassem estando lá para salvar aquelas pessoas. A melhor maneira de fazer o meu trabalho era fazendo uma foto forte, impactante, a melhor foto possível, para que impressionasse as pessoas que não estavam lá”, relata Adriana.

f oto - J oã o Rob er to Rip p er J oã o e Olg a , um a história d e a m or e cora g em . J oã o A nselm o é c o r t a d o r, tra b a lha com a m oto -serra , tem 5 1 a nos, corp o f or te, p or te f ísi c o e l e g a n t e , m a s já m a rca d o p elo tem p o e p elo tra b a lho p esa d o. Sua com p a n h e i r a , Olg a M a ria M a r tins, d e 6 7 a nos, f icou ceg a tra b a lha nd o na s ca r v o a r i a s , a o la d o d e J oã o. E les sã o o retra to d a escra vid ã o. H á seis a nos nã o re c e b e m d inheiro, tra b a lha m em troca d e com id a .

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f ot o - A drian a Ze hbraus kas Por t o Prín c ipe , H aiti, janei ro de 2 0 1 0 : Com um m ês de i dade, menina s g êm ea s f ica m em um a b a ld e d e á g ua enq ua nto a m ã e la v a a ro u pa n o ac ampa m ento da U ni versi dade, no centro de Por to Príncip e, ca p ita l d o H a iti

Fotografar ou ajudar? Foi lá no Haiti que ela se deparou com o questionamento levantado aqui inicialmente, como no caso do sul-africano Kevin Carter, no Sudão, em 1993: ajudar as pessoas ou fotografar? A fotógrafa já havia documentado constantemente os problemas do narcotráfico no México, o caos da gripe H1N1 naquele país e feito pautas para veículos como New York Times, Newsweek, The Guardian e Time, mas no terremoto de 2010 ficou muito chocada com tamanho sofrimento. “Era difícil até dormir, dormíamos por

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causa da exaustão, pois as imagens na cabeça eram muito fortes. Foi uma situação muito difícil”, conta Adriana. Mesmo assim, a fotógrafa paulista conseguiu definir o seu verdadeiro papel naquele lugar. “Eu começava a chorar atrás da câmera e tinha que lembrar o que eu estava fazendo lá, qual era realmente o meu papel. Eu não era nenhuma médica lá, não estava trabalhando para nenhuma ONG. Meu papel era aquele: registrar o momento, trazer a atenção das pessoas para aquela situação”, defende Adriana. O fotógrafo Sebastião Salgado falou algumas vezes sobre isso. Ele conta que já deixou de fazer algumas imagens para ajudar os seus fotografados. “Muitas vezes perdi fotos únicas para


f ot o - A driana Ze hbrauskas C id ade de J u are z, Mé xi co, 3 de novem bro de 2 0 1 0 : Casal é e x ecuta d o d entro d e um ca rro em um p osto d e g a solina . A cid ade de J uare z, na frontei ra com El Paso, é consi derada um a m a is violenta s d o m und o d esd e q ue o g overno m ex ic an o c o me ç o u a guerra contra os car téi s de drogas, em 2 0 0 6

ajudar alguém. Meu primeiro objetivo é manter o nível de dignidade que uma pessoa merece”, relata Salgado. Para a professora Rita de Cássia, esse é o drama de todos os fotógrafos humanitários. “Não tem nenhum que nunca sentiu isso na pele. Acho que é uma escolha que o sujeito faz na hora: ou ajuda ou fotografa. Talvez ele viva com essa angústia durante toda sua vida. Mas, essa escolha é socialmente muito relevante. Por mais que o fotógrafo não tenha ajudado uma criança ou alguém a beira da morte, a gente imagina que essa fotografia reverbere positivamente e impeça que outras situações dessas aconteçam”, acredita Rita. E a reverberação deste tipo de fotografia tem sido cada vez maior. São imagens impactantes

que tem ganhado cada vez mais espaço, principalmente após o surgimento das redes sociais digitais, que potencializaram os movimentos políticos pelo mundo. “A gente vê isso pelo que aconteceu no mundo árabe, na Espanha, no Chile. Esse tipo de fotografia faz parte disso, desta potência política que as redes sociais digitais trouxeram”, defende Rita de Cássia. Além disso, em um mundo cada vez mais imagético, onde as fotografias parecem ter perdido um pouco da sua força mágica, as fotografias humanitárias mantém seu poder de transformação. Como defende João Roberto Ripper “nenhuma fotografia em si muda um contexto social. Mas ela se soma, como se fosse um tijolo, na força conjunta por mudanças”.

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eis outro clรกssico

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RAZAO X POESIA: QUEM GANHA? SE ROLAND BARTHES, AUTOR DE A CAMARA CLARA, FOSSE O JUIZ, DAVA EMPATE. MAS QUE BELA BRIGA!

CLICK LITERÁRIO

Pertencente ao seleto grupo dos que pensam, mas não fazem fotografia, o francês Roland Barthes assume sua ignorância técnica enquanto fotógrafo e nos convida a passear pelos jardins da ciência e da fantasia, do concreto e do abstrato, do sublime e do mecânico. Não era fotógrafo, mas conhecia muito bem a fotografia e sua história, o caro Barthes, e já havia publicado textos importantes como A Mensagem Fotográfica antes de A Câmara Clara, edição póstuma publicada em 1980, ano em que faleceu. Além do autor se propor a esclarecer os encantos da fotografia, vários detalhes tornam esta obra especial. Trata-se de um ensaio, que é um texto não acadêmico, mas bastante erudito, escrito por alguém com propriedade para abordar

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determinado assunto. Barthes, ao escrever esta obra, já havia alcançado reconhecimento intelectual como autor e professor. A partir da perda de um ente querido, recolhe-se e registra, em forma de diário, suas percepções sobre a fotografia, em busca da sua essência. É importante salientar o aspecto ensaístico, pois confere ao autor a liberdade necessária para tratar do assunto sem a necessidade de se prender aos formalismos acadêmicos e técnicos. Ao escrever um ensaio, todo autor se propõe a mesclar suas leituras e reflexões com as suas próprias opiniões e, para isso, deve contar com boa experiência, profundos conhecimentos e alta capacidade crítica, caso contrário sua opinião não teria tanto valor. Fotografia é lembrança, é raridade, é morte; fotografia é meio de comunicação, de comoção, de sensação; fotografia é combustível para a loucura e para o amor, é objeto da ciência e da poesia, é conjunção do homem e da máquina. Foi a partir de pressupostos amplos e complexos como estes que Roland Barthes refletiu. Suas conclusões? Das mais variadas! Pensam com ele tanto os admiradores e pesquisadores da fotografia, como também os próprios fotógrafos. “Em um primeiro tempo, a Fotografia, para surpreender, fotografa o notável; mas logo, por uma inversão conhecida, ela decreta notável aquilo que ela fotografa” (p. 57). Afirmações como esta, genial na sua simplicidade que confunde raciocínios básicos, exige

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reflexão de nós, fotógrafos e leitores. Ou ainda quando o autor analisa certas imagens, questionando-se por que algumas se mostram mais interessantes que outras: “No fundo, a Fotografia é subversiva, não quando aterroriza, perturba ou mesmo estigmatiza, mas quando é pensativa” (p.62). Um dos paradigmas questionados por Barthes nesta obra é a pretensa autoridade do próprio fotógrafo. Já no início do livro, o autor assume-se como um não-fotógrafo e, sendo assim, suas reflexões são as do observador da imagem, pois esta é sua experiência, esta é sua propriedade. Desta forma, ele enfatiza a importância do receptor, suas leituras e suas interpretações. Ao fotógrafo que acha que sua foto é maravilhosa e que o observador é quem não entende, cabe se questionar. É justamente perguntando-se sobre as diferentes forças que atuam sobre o observador que Barthes constroi seus raciocínios. Se em alguns momentos (ou alguns dias, afinal é um diário!) tudo parece esclarecido, em outros surgem becos sem saída que confundem até o atento filósofo. Logo nos primeiros comentários, ao não conseguir expressar seu encanto por uma foto a outro observador (o que, sejamos sinceros, já aconteceu a todos nós), lamenta, com toda a beleza e poesia: “A vida é, assim, feita a golpes de pequenas solidões” (p. 11). Em outro momento (dia!), porém, surge o analista acadêmico que propõe duas chaves para a interpre-


tação das imagens mais interessantes. Chaves, essas, aliás, bastante citadas hoje em dia, mas pouco compreendidas. Como disse um amigo fotógrafo outro dia, ironizando os citadores de plantão: “Não precisei fechar nenhum punctum no diafragma porque fiz esta foto no studium”. Outra qualidade do livro é a exemplificação dos raciocínios do autor com fotos incluídas no texto. Além de tornar mais palpável os conceitos e raciocínios apresentados, prova que Barthes não delira, ao contrário do que pode parecer em alguns trechos. Cabe ressaltar que a proposta inicial do autor – descobrir a essência da fotografia – chega, sim, ao seu fim. Após perceber que a fotografia é inclassificável, que vários são os elementos e indivíduos envolvidos, que aquele momento e aquele espaço são únicos, e que as análises não servem a todas as fotografias, Barthes concluiu por certa obviedade da fotografia, e desculpa-se sentenciando que essa obviedade “pode ser irmã da loucura” (p.168). Muito antes da tecnologia digital, Barthes já introduzia na discussão perguntas que ainda hoje continuam sem resposta, mas dão muito pano pra manga. Também por isso é um clássico, e também por isso merece nossa atenção. Boas leituras e boas viagens!

LEIA TAMBÉM “Quantas histórias guarda uma imagem? Dirigido aos jovens de idade e de espírito, este livro é uma aula primorosa sobre fotografia e sobre o que ela pode nos contar, dada por um time de autores tão variado quanto tarimbado. Escritores e jornalistas foram convidados a eleger uma imagem e, a partir dela, criar um conto ou ensaio que falasse de fotografia, mas também de cultura e história brasileiras. O resultado – esta coleção de textos saborosos e instrutivos sobre cenas consagradas e comuns, feitas por fotógrafos famosos e desconhecidos – mostra que uma imagem pode render bem mais que mil palavras, e que, por trás de cada foto, ainda há muito que descobrir sobre o Brasil e o mundo, seus personagens e lugares. É só ter olho vivo.” Contracapa de “Por trás daquela foto: contos e ensaios a partir de imagens”. Org. Lilia M. Schwarca e Thyago Nogueira. São Paulo: Cia das Letras, 2011.

Professor Marcelo.

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FESTIVAL INTERNACIONAL DE CINEMA

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ensaios fotográficos 62

Barton Street Classics Rafael Peixoto Ferreira

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Confluências Coletivo Parênteses

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Este seu olhar Maíra Soares


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Barton Street Classics Ensaio realizado na Cidade de Hamilton, no Canadá, sobre a Rua Barton, que corta o bairro dos trabalhadores industriais da região. Como na cidade a maioria das indústrias são siderúrgicas, o local ganhou o apelido de “Steel Town” (Cidade do Aço). Devido à diminuição de 80% das indústrias em Hamilton, o bairro, que era uma agitada artéria comercial, cedeu ao abandono, mas agora está renascendo através da arte. Na Rua James, onde vive uma comunidade formada por italianos, portugueses e vietnamitas, acontece todo mês o “James North Art Crawl”, evento em que as galerias de arte lançam as novidades simultaneamente. Em Barton Street Classics, Rafael manteve o foco nas imagens vernaculares e na tipografia presente na cidade.

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Natural de Campinas (SP), Rafael tem 45 anos e começou a fotografar há 4. Formado em Publicidade e Propaganda pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), com Pós-Graduação na mesma área pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), trabalha há 11 anos como Professor no Mohawk College, em Hamilton, Canadá, no curso de Advertising. A paixão pela imagem vem do background com direção de arte, tipografia e cultura popular, de onde emana a maior parte de suas inspirações. Seu trabalho foi premiado pela Chill e Coupe Magazine e sua foto da Ópera de Paris, disponível em seu Flickr, fez parte do cenário do 25º aniversário do Fantasma da Ópera (Phantom of the Opera).

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Confluências No sertão nordestino, a falta de água criou a cultura da seca, da evasão humana para outros lugares do Brasil; no Sul e Sudeste, as chuvas causam enchentes devastadoras. Em todo caso, e de diferentes maneiras, tal elemento interfere na vida humana. Assim como a água, que corta o país em direções diversas, a televisão também é hegemônica e leva informações a muitos lugares simultaneamente. Trata-se de um fluxo: através dele a informação se desloca. Este ensaio busca unir diferentes pontos de alagamento, cheias e correntes de diversos rios do Brasil, inserindo nos lares, através da imagem televisiva, o fluxo contínuo da água. Pensamos o Brasil como um conjunto de culturas que não apenas destoam, mas que também se encontram. Assim como o fluxo das águas, enxergamos um Brasil construído pelo fluxo de culturas.

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O coletivo Parênteses foi formado em São Paulo (SP) durante o segundo semestre de 2009 por Paloma Klein, Rodrigo Antonio e Vicente Martos, com o intuito de trabalhar questões da atualidade através de múltiplas plataformas. Paloma e Rodrigo tem formação em fotografia e Vicente em performance-arte. O coletivo, além da fotografia, desenvolve pesquisas em linguagens artísticas contemporâneas como videoarte, instalação e performance.

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Este seu olhar Ensaio feito a partir de fotografias da mãe da autora registradas pelo seu pai durante o primeiro ano de casamento. Maíra encontrou estas imagens após a morte da mãe, 35 anos mais tarde, e foi como contemplar outra pessoa. A proposta do ensaio é ir ao encontro dela em uma visita ao passado através do olhar de seu pai. “Minha intenção é desvendar seu mundo e seus sentimentos nesse período, enquanto passeio pela memória do meu pai. Ao inverter as cenas capturadas, me aproximo dela, redesenho meu próprio passado e minha identidade”. “Este seu olhar” em breve se transformará em um livro e desde março está exposto no Museu da Universidade de Alicante, na Espanha.

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Maíra Soares é fotógrafa e cantora brasileira, formada em jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Depois de anos trabalhando como fotojornalista e educadora em projetos sociais em São Paulo (SP), mudou-se para Madri, Espanha, em 2011, onde concluiu o Master de Fotografía Concepto y Creación na Escuela de Fotografía Centro de Imagen (EFTI).

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REPRESENTAÇÃO E ESTERIÓTIPOS FOTOGRÁFICOS: A NATIONAL GEOGRAPHIC COMO VITRINE DO ORIENTE MÉDIO por Daniel Meirinho de Souza

Palavras Chaves: Fotojornalismo, Médio-Oriente, National Geographic

O presente trabalho pretende reflectir sobre a função da imagem fotográfica enquanto documento e janela para a descoberta de um mundo ainda desconhecido e novo, repleto de lugares exóticos e povos de costumes singulares. A partir de conceitos fundamentados na teoria da imagem e do fotojornalismo, será traçada uma análise sobre a fotografia enquanto espelho e representação da realidade, os seus processos de reprodução do real. Como estudo de caso, e através de uma análise semiótica e simbólica estruturada, será estudada a representação imagética dos povos médio-orientais na revista National Geographic, editada em Portugal. Alguns conceitos que passam pela antropologia visual serão levantados como base teórica para uma análise empírica das técnicas estéticas e estruturas narrativas da linguagem para-verbal utilizada pela publicação nas imagens referentes as sociedades árabes, muçulmanas e islâmicas.

Daniel Meirinho de Souza é fotógrafo e graduado em jornalismo. É Mestre em Comunicação e Artes pela Faculdade deCiências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (FCSH/UNL) e doutorando em Comunicação e Ciências Sociaisna FCSH/UNL. É pesquisador do Centro de Investigação Media e Jornalismo (CIMJ) e estuda cultura visual e fotografia participativa em Portugal.

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ZEITGENÖSSISCHE STILLLEBEN: MEDITAÇÕES SOBRE A MORTE NA FOTOGRAFIA DE JOEL-PETER WITKIN por Israel Souto Campos

Palavras Chaves: fotografia, natureza morta, tautologia, crença, stillleben.

O presente trabalho tem como objetivo analisar a apropriação das técnicas pictóricas na composição fotográfica contemporânea baseada na “Stillleben”, ou natureza morta europeia dos séculos XVI e XVII, mais precisamente as contidas na obra do fotógrafo estadunidense Joel-Peter Witkin. Para tal fim, trabalha-se com o conceito da inelutável cisão do ver de Georges Didi-Huberman no que tange a evocação da beleza esmaecida, e da corrupção dos objetos através de uma perspectiva tautológica, transcendidos simbolicamente por meio de uma concepção da crença a partir do valor transitório da vida que lhes é atribuído. O artigo busca traçar, não um histórico antropofágico realizado por Witkin no desenvolvimento de suas naturezas mortas, muitas delas compostas por pedaços de cadáveres; mas debate sobre como a correspondência entre as obras de períodos tão distintos servem a construção alegórica da temática na contemporaneidade. Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Universidade Federal do Ceará - UFC –Instituto de Cultura e Arte - ICA. Bolsista FUNCAP – Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Email:israelsc@globo.com.

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ESCRITOS DA CARNE: A FOTOGRAFIA COMO POSSIBILIDADE DE REPENSARO ERÓTICO NA CONTEMPORANEIDADE por Carla Fernanda da Silva

Palavras Chaves: Carla Fernanda da Silva

O que é o erótico? O que é o pornográfico? Segundo o dicionário Houaiss, o erótico são as imagens ou escritos que evocam o desejo, o amor; enquanto o pornográfico expõe a luxúria e a libidinagem. Linha tênue, nublada pelo moralismo que condena o desejo, por negar a sexualidade humana. O avanço da indústria pornográfica também ajudou a banalizar os corpos, a transformar a sexualidade numa mercadoria a ser consumida compulsivamente. Desejo e consumo se confundem. Corpos, pensados e vendidos como perfeitos, tornam-se banais. O erótico, emaranhado na longa exposição de corpos e sexo, perde-se, é esquecido. Doutoranda em História pela Universidade Federal do Paraná – UFPR. Mestre em História Cultural pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. Historiadora e professora do Depto de História da Universidade Regional de Blumenau – FURB. Publicou o livro ‘Grafias da Luz: a narrativa visual sobre a cidade na revista Blumenau em Cadernos’ (Edifurb, 2009). Organizou o livro ‘Clio no Cio: escritos livres sobre o corpo’ (Editora Casa Aberta, 2010).

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Nuestra Mirada Rede

Creative Commons Projeto

Dobras visuais Blog

Rede social de fotojornalistas ibero-americanos com registro aberto unicamente aos profissionais que trabalham na área. O público tem total acesso ao conteúdo do site, inclusive aos portfólios disponibilizados pelos fotojornalistas da rede. Além dos trabalhos, você encontra informações sobre os membros da rede, fórum de discussão, lista de eventos e muito mais. Recomendamos aos fotojornalistas que efetuem seu registro no site e façam parte da rede, é uma ótima oportunidade de fazer novos contatos e divulgar seu trabalho. O conteúdo é em espanhol.

Projeto sem fins lucrativos sobre licenças flexíveis para obras intelectuais. Diferente do Copyright, que veta qualquer tipo de uso da obra sem a autorização do autor, o Creative Commons ajuda você a publicar seu trabalho online e a deixar claro para todos o que exatamente eles podem e não podem fazer com sua obra. Confira as informações do site e se inteire sobre esta nova ideia.

Fotógrafa, professora e pesquisadora do campo da imagem, Lívia Aquino criou o Dobras Visuais para compartilhar seus pensamentos sobre e por imagens. No blog, a autora revela que um de seus desafios é o exercício contínuo de observação e reflexão das ações e do discurso nos diversos meios onde a imagem aparece. Lívia é formada em Psicologia (UFPR), mestre em Multimeios e doutoranda em Artes Visuais (Unicamp).

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ABRIL

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Olhavê Blog

Nova seção do site da revista Foto Grafia, criada com a intenção de divulgar e listar os principais festivais, cursos, concursos, lançamentos e eventos relacionados à fotografia brasileira. Você pode contribuir com o calendário encaminhando releases e imagens de divulgação para nossa equipe através do e-mail contato@revistafotografia. com.br

Documentário lançado em 2001 sobre o trabalho do fotojornalista norte-americano James Nachtwey, enquanto cobria os conflitos de Kosovo, Palestina e Indonésia. O filme foi dirigido pelo diretor suíço Christian Frei, que teve a ideia de acoplar microcâmeras no equipamento de Nachtwey, levando ao espectador a realidade em torno do fotógrafo no momento do registro. War Photographer concorreu ao Oscar de 2002 como melhor documentário e conquistou cinco prêmios em festivais realizados mundo a fora.

Criado em 2007 pelo fotógrafo e jornalista Alexandre Belém, o Olhavê é um blog que propõe diálogos e a discussões sobre fotografia, utilizando a web como ferramenta de apoio à reflexões sobre o entendimento da imagem fotográfica além da técnica. Em 2010, Alexandre entrevistou Rosely Nakagawa, curadora que fez a leitura de portifólio nesta edição.

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