Estórias da Lagoa
A rã feliz
FRANCESCO SMELZO
Tradução de Elizabeth Lemes Dos Santos
Era um agosto quente e abafado na lagoa. Sob o sol escaldante que queima, os habitantes daquele pequeno espelho d’água pareciam mortos. Não se via nem a sombra das barbatanas do grande peixe Lúcio que, armado de dentes terríveis , incutia o pavor até nas patinhas. Não se via nem mesmo a família Rospetti , que habitualmente vinha chafurdar na lama próxima à margem , a caça de insetos . Os peixes que frequentemente saltavam alegres aqui e acolá, pareciam ter feito as malas. Resumindo: Não voava uma mosca...ou melhor, uma mosca na verdade voava e zumbia, batendo as asinhas brilhantes. A mosca Fosca girava e girava, sem se importar com o mormaço. Pousava ora sobre uma folha de loto que flutuava sobre a água, ora sobre um galho de um dos salgueiros que margeava a lagoa. « Para que tanto frenesi?»- perguntou a rã Juliana, escondida à sombra de uma grande folha de uma planta. « Como? Você não sente que está chegando o inverno? Preciso fazer uma provisão de mosquitos até que se possa encontrá-los por aqui !»- respondeu Fosca.
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« Ah...mas o inverno me parece distante. Você não sente o calor que ainda faz? E depois, desculpa, vocês moscas morrem no inverno, para que fazer tanta provisão?» Fosca, indiferente a caçar mosquitos, não estava para prosear com aquela estúpida rã e respondeu enfurecida: « Ufa rã faladeira, não me faça perder um tempo precioso. Você não sabe que a vida de nós moscas é breve?» «Faço provisão para alimentar as minhas larvas que no inverno estarão recolhidas sob a terra quente e na próxima primavera se transformarão em outras tantas moscas.» « Por sua vez se elas também fizerem como eu, ao cabo de quatro ou cinco primaveras nós moscas seremos tão numerosas que toda a lagoa será nossa! E agora deixa-me trabalhar! E a mosca voltou a girar girar...zumbindo zumbindo...com as asinhas brilhantes, à caça de mosquitos, pousando de vez em quando ora sobre uma folha de loto que flutuava sobre a água, ora sobre um galho de um dos salgueiros que margeavam a lagoa. « Linda pretensão!»- continuou ainda a rã Juliana- «conquistar mesmo a lagoa!» «Ahahah»- coaxou a rã- « E ... ainda que fosse possível você estaria morta a um bom tempo! Qual seria o prêmio para tanta canseira?» 2
Aborrecida com tanta insolência, zumbindo ...zumbindo e continuando a sua caçada de mosquitos, Fosca lhe respondeu: « O prêmio? O prêmio seria aquele de saber que um dia nós moscas seremos donas da lagoa e que não teremos mais medo de ninguém, nem mesmo do peixe Lúcio ! Seremos tantas que ninguém poderá nos dar medo. Rã estúpida!» No que a rã espichou as patas pegajosas , emitiu um sonoro Graaaa, que seria a maneira que têm as rãs quando bocejam, e olhando a mosca Fosca , com seu olhinhos redondos e sempre a girar , disse : « Bah...vai compreender as moscas ! Porem, mesmo assim quero lhe ajudar. « Curiosa com esta proposta a mosca, zumbindo e girando sobre a rã, lhe disse: « Ajudar-me e como poderia ajudar-me?» «Tudo bem» – respondeu a rã- « aqui embaixo desta folha que está sobre minha cabeça e me faz sombra, escondidos para que você não possa vê-los, há um belo grupo de gordos mosquitos. Pousa sem fazer barulho e fará uma boa caçada!» Tomada pelo frenesi de fazer uma bela comilança de mosquitos, a mosca Fosca pousou então sobre a folha sob a qual estava a rã. E ...rapidinho...a rã puxando para fora sua longa língua pegajosa, agarrou a mosca de um bocado só.
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Alegre por uma refeição assim tão fácil e suculenta, a rã alongou as patas, emitiu um sonoro Graaaa, seu bocejo peculiar, e exclamou- «Bem, ao menos hoje alguém foi feliz!» E voltou a cochilar à sombra da folha à margem da lagoa. Tradução de Elizabeth Lemes Dos Santos
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