Filippo a pega

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Estórias da Lagoa

Filippo a pega FRANCESCO SMELZO

Tradução de Elizabeth Lemes Dos Santos


Na lagoa havia um belo macho de pega , de penas negras e brilhantes, de nome Filippo. Esperando encontrar uma companheira e gerar uma bela ninhada, Filippo pensou em fazer seu ninho sobre os ramos de um velho carvalho. Começou colhendo os galhinhos secos do campo , misturando-os com a lama do rio. Raminho após raminho havia já construído um belo ninho, grande como um cesto para frutas. “ Acabou aquele ninho?”- perguntavam-lhe os coelhos, quando êle voava sobre a campina e pegava mais um galho. “ Ainda não...quase” – respondia ele. “Quanto falta para você acabar o ninho?” perguntavam-lhe também as patas, quando ele aparecia na margem do riacho para pegar mais lama. “ Ainda um pouquinho...está quase acabado, mas queria fazê-lo um pouco maior”-respondia Filippo. Porem aquelas viagens não acabavam nunca. Filippo não estava contente com o ninho, parecia-lhe sempre pequeno demais ou baixo demais ...ou pouco...resumindo , havia sempre alguma coisa para melhorar. A um certo ponto o ninho tornara-se tão grande para ocupar boa parte da copa do velho carvalho. A pega decidiu então que sim...poderia parar.E pôs-se a andar pelo ninho de um lado para 1


o outro, para cima e para baixo por um longo tempo, pensando : “ Com uma casa assim como esta não me faltarão pretendentes ! Caberiam aqui comodamente vinte ninhadas!” Porem de repente parou para refletir –“ è certo que ... o chão assim irregular com estas galhos assim pontiagudos...os pés dos filhotes poderiam se ferir.” Foi então que pensou de recobrir o piso do ninho com aquelas pedras uniformes e lisas que se encontravam no leito do rio, perto da lagoa ...E recomeçaram as viagens do ninho ao rio e do rio ao ninho. “ Acabou o ninho? “ – perguntavam-lhe os texugos que à noite iam banhar-se no rio. “ Ainda não...quase” – respondia ele. “ Quanto falta para acabar o ninho?” – perguntavam-lhe também os castores que construíam o dique. “ Ainda não...está quase acabado, mas queria fazê-lo ainda mais acolhedor “ –dizia Filippo. Finalmente, muitas e muitas viagens depois, o piso do ninho estava todo coberto de pedras uniformes e lisas, ligadas umas às outras , que pareciam um mosaico. Filippo, todo contente, percorria para frente e para trás o seu magnífico ninho, satisfeito com sua obra.

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Caminhando, pensava :” Nunca se viu um ninho assim entre as pegas! As fêmeas farão fila para estabelecerem -se aqui. Não se exclui que possa tomar como esposa a pega mais bonita da lagoa.” Porem, de repente parou para pensar – “ é claro ...as paredes do ninho estão muito feias assim, nuas e austeras...não agradariam nunca às fêmeas .” E então disse para si que havia apenas uma coisa a fazer : recobrir as paredes do ninho com o gesso branco que havia na colina . E desta vez as viagens foram ainda mais longas, visto que a colina encontrava-se muito mais distante da lagoa. Alem do mais , a viagem não estava livre de riscos: no bosque perto da colina vivia na verdade um grupo de raposas, que não esperavam nada mais que uma bela pega para o almoço. E na verdade , em algumas das idas e vindas Filippo esteve próximo de acabar na barriga de uma raposa. Para salvá-lo houve somente o fato que o peito vermelho das raposas destacava-se com evidência sobre o branco do gesso e então, no último momento, com o canto do olho podia perceber o perigo e erguer-se em vôo. Iniciara agora a primavera, quando Filippo começara a construir seu ninho e estava agora em plena vigor e os dias começavam a esquentar. As cerejeiras e as amendoeiras estavam floridas e havia uma grande animação entre todos os pássaros da lagoa, que formavam os casais que dariam vida às novas ninhadas . 3


Por toda parte podiam-se ouvir os cantos e admirar o balé de corte das tantas espécies de voadores. E assim também acontecia com as pegas : os machos haviam já há um tempo acabado seus ninhos e sobre os ramos floridos faziam as competições, para exibirem seus dotes às fêmeas . Lentamente cada macho de pega encontrava sua companheira à qual , orgulhoso, mostrava o ninho , que logo se enchia com os gritos estridentes dos filhotes famintos. Porem Filippo não percebia o que estava acontecendo.. Após tantas viagens conseguira cobrir com gesso todas as paredes do ninho e agora podia admirar sua obra em todo seu esplendor. E ainda continuou por muito tempo a completar o ninho com decorações que ele julgava essenciais. Finalmente, exausto pelo trabalho, achou que podia agora dar como acabada sua obra. “ Bem, “- pensou Filippo – “agora o que falta fazer? Ah, claro ! Quase já ia me esquecendo...encontrar uma companheira, naturalmente !” Lustrou então suas penas brilhantes, pôs-se diante do seu lindo ninho e começou o canto para atrair as fêmeas.Cantava, cantava , mas nenhuma fêmea dava sinal de vida . Passou assim alguns dias a cantar sobre o ramo, mas sempre sem sucesso. Os animais que tinham ninhos e tocas à volta do velho carvalho não agüentavam mais tal barulho , tanto mais que a primavera já

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passara a um bom tempo e ficara somente aquela pega a agitar as asas, impedindo o soninho da tarde. Em uma reunião para decidir o que fazer foi escolhido, então, o corujão como representante de todos para calar aquela pega . O corujão foi até Filippo e disse-lhe : “ Pode-se saber o que você tem para cantar todo santo dia?” “ Oh meu belo ! Como que coisa tenho? Nunca ouviu o canto de corte de uma pega ?“respondeu ela. “ Certamente que já ouvi ! Mas não em pleno verão ! Não há fêmea de pega que não tenha já encontrado seu companheiro e não tenha sua bela ninhada”! A estas palavras Filippo calou-se, E com grande alívio para seus vizinhos. Tradução de Elizabeth Lemes Dos Santos

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