O peixe feroz

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Estórias da Lagoa

O Peixe Feroz FRANCESCO SMELZO

Tradução de Elizabeth Lemes Dos Santos


Na lagoa vivia um grande e feroz Peixe, o terror dos peixes e dos outros animais aquáticos. O Peixe não era visto frequentemente. Ficava à espreita, quase todo o tempo, escondido sob o canavial. Algumas vezes porem a água explodia de repente, sinal de um ataque a alguma azarada carpa ou a alguma patinha. Nestas ocasiões ,toda a lagoa se recordava ,de repente, da existência do Peixe e os animais escapavam por todos os lados como endoidecidos.Depois do momento inicial do medo , todos os animais pouco a pouco se acalmavam. No começo cada um dedicava um pensamento à vítima : “era uma patinha tão educada...”, “pobre carpa, morrer assim tão jovem...” Depois alguns pensavam : “ e dizer que poderia ser comigo ! Se eu tivesse passado por ali...” Enfim, sempre aos poucos, o susto passava; cada um voltava para seus afazeres e todos se esqueciam novamente do Peixe. Entretanto o Peixe, depois da refeição tão esperada, retirava-se lentamente para o canavial, no leito da lagoa, para tirar uma sonequinha.Até que não sentisse novamente as mordidas da fome e se pôr de novo emboscado, esperando a próxima presa.

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Não distante da lagoa havia uma propriedade dos homens. Estes viviam cultivando trigo sobre as colinas. Raramente eram vistos na lagoa, às vezes passavam perto dali, de carro, para apanhar algum cacho de uva silvestre, mas na maior parte do tempo estavam a trabalhar nos campos. Aquele ano, porem, a colheita foi muito escassa por causa das fortes chuvas de granizo que haviam danificado as espigas. Muitos pássaros estavam contentes porque encontravam por terra e sem esforço a comida, mas os homens da propriedade pareciam não ser da mesma opinião Um texugo que passara por ali contou que a mulher do camponês , chorando, dizia que não teria comida para matar a fome dos seus pequenos e que precisariam ir à cidade a procura de trabalho, se não encontrassem uma maneira de mudar o calendário. Pouco mais tarde também uma raposa, que de vez em quando dava uma voltinha para vigiar as galinhas da propriedade, disse que os homens estavam preparando estranhos bastões com um fio preso. No dia seguinte estas vozes confirmaram-se, quando os animais viram chegar à lagoa um camponês com estas estranhas varas.O homem sentou-se à sombra do velho carvalho, pegou um daqueles estranhos bastões em cuja extremidade pendia um fio que quase não se via, prendeu ao fio um pedaço de ferro 2


retorcido e ali enfiou um pedaço de carne de porco. Então atirou o fio na lagoa e pôs-se a esperar pacientemente. O camponês parecia não prestar atenção àquele seu bastão que fixava de quando em quando. Os animais da lagoa entretanto observavam-no abrigados em seus esconderijos , procurando compreender qual era a intenção dele, porque como se sabe, nos homens nunca se pode confiar. Sob a lagoa, entretanto, a vida continuava como sempre. Bandos de peixinhos faiscavam aqui e ali, seguidos pelos peixes persas. As carpas e as tincas cavavam preguiçosamente o fundo a procura de comida. Aquele era um período magro para o Peixe. No dia anterior tentara dois ataques : um sobre uma grande carpa que porem era velha e esperta demais para não perceber o movimento dos caniços e fugira como um relâmpago; o outro a uma patinha que nadava próxima aos caniços e que voara antes que o Peixe conseguisse agarrá-la. O Peixe ouvia seu estômago resmungar- “preciso encontrar o mais rápido alguma coisa para pôr sob os dentes”- pensava, quando, de repente suas narinas perceberam um cheirinho delicioso. Moveu-se então em direção à origem daquele perfume, guiado por seu nariz e encontrou-se diante de um belo pedaço de carne que balançava sob a água. Com a fome que tinha não se fez 3


perguntas desnecessárias sobre o porquê e como um pedaço de porco acabara mesmo ali e, com um golpe de cauda, caiu sobre a isca do camponês. Os animais viram então uma cena insólita : o camponês agarrado à sua vara toda curva, que parecia de repente ter vida própria. Ao final a aventura ficou clara , quando descobriram que, agarrado ao ferro curvo na ponta do fio havia mesmo o feroz Peixe, que procurava escapar e voltar para seu canavial. Mas o homem era muito forte e depois de uma longa luta conseguiu puxá-lo para fora da lagoa e agora o feroz Peixe jazia sobre a margem da lagoa , com a boca aberta. O camponês, todo feliz e contente, pegou o Peixe, carregou-o para o carro junto às suas varas e tomou o caminho para sua casa. Quando ele foi embora todos os animais saíram das suas tocas. Não podiam acreditar no que seus olhos viram: O Peixe feroz não existia mais. Finalmente estavam livres. Toda a lagoa parecia em festa. Os peixes saltavam alegres fora d’água, as patinhas divertiam-se a passar perto do canavial , gritando _ “ Peixe feroz, agora é você que acabará na barriga de alguém!”

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Depois, lentamente, como sempre, a vida da lagoa voltou à tranqüila normalidade, cada um voltou a seus afazeres e todos se esqueceram do Peixe. Passaram-se porem alguns dias quando , de repente, a água da lagoa explodiu e uma patinha que estava nadando próxima aos caniços desapareceu no nada. Os animais fugiram deseperados , tomados pelo pânico...depois, pouco a pouco, se acalmaram. Primeiro cada um dedicou um pensamento à vítima: “era uma patinha tão gentil...” Depois alguns pensaram : “ e dizer que poderia ser eu!” Enfim , cada um voltou a seus afazeres e todos se esqueceram que na lagoa havia agora um novo Peixe. Tradução de Elizabeth Lemes Dos Santos

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