O rato viajante

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Histórias da Lagoa

O Rato Viajante FRANCESCO SMELZO

Tradução de Elizabeth Lemes Dos Santos


Para o rato Gianni a vida na lagoa, como dizia ele, « estava apertada.» Desde filhote era o mais corajoso explorador entre os ratinhos , tanto que em diversas situações faltou pouco para que acabasse com problemas realmente sérios. Uma vez crescido sua índole não mudou e a todos dizia que um belo dia partiria para rodar o mundo. Repetia isto constantemente também ao velho avô rato , quando ia encontrá-lo na sua toca próxima ao grande Olmo na margem da lagoa «Meu avô, estou inquieto, preciso encontrar um lugar melhor do que esta lagoa para viver » - dizia. O velho avô limitava-se a sorrir, balançando a cabeça, sem dizer nada. Um belo dia o rato Gianni pegou um pouco de provisões na dispensa da família e desapareceu. Os pais e os irmãos o procuraram por muito tempo e por toda parte ao redor da lagoa e mais além, porem dele nem sombra. Logo todos na sua família resignaram-se pensando em uma desgraça. Todos exceto o avô rato que limitava-se a sorrir , balançando a cabeça. Mas ele, sabe-se, era considerado um pouco doido. 1


Passaram-se assim os dias, e os dias tornaram-se meses , e os meses anos. Do rato Gianni perdera -se quase também a lembrança. Foi quando, da estrada que levava à lagoa , alguns ratos que estavam caçando grilos para o jantar, viram um rato todo empoeirado, trôpego e com o pelo desgrenhado. Entre os ratos caçadores havia um dos irmãos de Gianni que, reconhecendo-o, foi ao seu encontro, fazendo-lhe grande festa e conduzindo-o aos velhos pais. Todos na família o abraçaram, perguntando-lhe onde estivera por todo aquele tempo, mas Gianni limitava-se a sorrir, balançando a cabeça. Restaurou-se, lavou-se e depois sempre indiferente às perguntas que todos lhe faziam, perguntou: «o avô ainda está vivo ?» Responderam-lhe que sim e ele , sem dizer nada, ergueu-se e encaminhou-se para o grande Olmo. Chegando à toca do avô o encontrou sentado na entrada a olhar o crepúsculo que caía sobre a lagoa. Notando-o, o avô lhe disse: « Olá Gianni, rodou o mundo?» « Sim avô» - começou a contar o rato Gianni- « primeiro estive em uma grande cidade, cheia de comida e brilhante à noite, com mil luzes.» « E saiu-se bem? 2


« Não, fumaça demais que envenena a respiração, barulho e animais de ferro arriscam-se continuamente a matar ló.» « Depois, atravessei o deserto ardente escondido nos sacos de mercadorias das caravanas». « E saiu-se bem?» « Não , o calor era insuportável e a sede cortava a garganta». « Depois no depósito dos navios sulquei os oceanos junto aos pescadores do Norte.» « E saiu-se bem?» « Não , as ondas negras e altas eram uma ameaça contínua ao frágil navio, a cada momento arriscava-se de acabar nas águas geladas. « Também percorri o céu, voando em pássaros de metal que quase alcançavam o sol, mais alto do que as grandes águias, chegando a países distantes,» « E saiu-se bem?» « Em cada lugar vi coisa lindas e coisas feias « – prosseguiu - « vi a riqueza e a miséria, a bondade e a maldade, a vida e a morte. Mas não encontrei um lugar melhor do que esta lagoa». O avô então lhe perguntou: « Então agora que você rodou o mundo, onde buscará um lugar melhor?» 3


« Em mim mesmo» - respondeu o rato Gianni. E o avô sorriu, desta vez sem sacudir a cabeça e, juntos, sentaram-se em silêncio olhando o crepúsculo sobre a lagoa. Tradução de Elizabeth Lemes Dos Santos

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