Filme “Playtime” (1967) O filme “Playtime” (1967) representa uma crítica ao impacto do modernismo na vida urbana. Os cenários são compostos por repetições e padronizações típicos do movimento moderno. Como pode-se observar no padrão dos cubículos de escritórios que são os mesmos da exposição comercial e dos apartamentos, estes denotam uma ideia de vitrine, como uma diluição dos limites entre vida privada e vida pública. O vidro representa a tecnologia, mas também a transparência e perda do individual. A ideia de que a burguesia fazia suas “tramóias” quando não estava sendo observada, ou seja, a casa burguesa é sinônimo de corrupção. Dessa forma, com a revolução industrial, o uso do vidro serve também para mostrar o que as pessoas estão fazendo e garantir o comportamento humano, porém a burguesia não muda seu comportamento e como consequência, há perda do individualismo. O protagonista, interpretado por Jacques Tati, se desloca como se estivesse perdido na cidade, nada depende dele, ele é conduzido pela narrativa e se relaciona com o espaço sem se identificar, envolvido pela existência que é maior que ele. Praticamente metade do filme se passa na cena do restaurante, onde mostra uma euforia alienada, o comportamento animalesco do ser humano em seu momento de lazer. Toda a lógica da primeira parte parece entrar em crise e se tornar humano, parece que fica melhor. O espaço e o sujeito se desdobram. Quanto mais caótica a situação, melhor eles se comportam. O caos faz com que as pessoas sejam elas mesmas. As cores predominantes são tons de cinza para representar rigidez e concreto. O filme marca uma certa relação de distração, no sentido de que nem tudo precisa ser elaborado todo momento na vida. O homem não mais ocupa o centro das atenções na modernidade. Há uma descentralização, qualquer ponto tem a importância equivalente aos outros na modernidade. O Homem moderno é desenraizado, a vida é dissociada de hábitos burgueses de posses. A sociedade industrial só espera dele o intelecto, outros elementos são considerados um peso, uma carga desnecessária, assim como a ideia de família. O homem poderia se mudar quando quisesse. A vida se resume ao que você consegue levar em uma mochila, mas tudo isso reflete uma pobreza existencial e emocional. A vida é mais que uma repetição, tem relação com o tempo e o lugar. Citando uma frase marcante do professor Francisco Salles: “No desandar do mundo, é que parece que o ser humano ganha espaço.”