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Operation Brazilian Bellows: Brazil’s Contribution to the RAF Operação Brazilian Bellows: As Contribuições Brasileiras para a RAF

Operation Brazilian Bellows: Brazil’s Contribution to the RAF

By Debora R. Pivotto | Fundação Britânica de Beneficência

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Paulo Eugênio Pinotti de Almeida has been passionate about History and Aviation ever since he was a child. With the spirit of a researcher, in the 70s, he read, in a book about World War II, the information that Brazilians and AngloBrazilians had donated money for the purchase of aircraft for the British Royal Air Force (RAF) and was fascinated by the discovery. He spent the following decades searching for more information on the subject in dozens of books, newspaper archives, and study groups as well as in museums such as the Imperial War Museum in London.

All these years of research resulted in the book “Operation Brazilian Bellows - The Brazilian Contribution to the Royal Air Force (RAF)”, launched this year, which narrates the efforts of Brazilians and Britons who lived in Brazil to support Britain during the two great World Wars, especially the Second.

The book tells the exciting story of people who left Brazil to enlist in the British army and thousands of others who mobilised voluntarily to raise money to help buy planes. The commitment of the community had impressive results: 25 planes were donated to the Royal Air Force and another one went to the Brazilian Air Force. And the mobilisation was only possible thanks to the efforts of the Fellowship of the Bellows, an organization created by the British (continued on page 39)

Operação Brazilian Bellows: As Contribuições Brasileiras para a RAF

Por Debora R Pivotto | Fundação Britânica de Beneficente

Paulo Eugênio Pinotti de Almeida é apaixonado por História e Aviação desde criança. Com alma de pesquisador, na década de 70, ele leu num livro sobre a Segunda Guerra Mundial a informação de que brasileiros e anglo-brasileiros haviam doado dinheiro para a compra de aviões para a Força Aérea Real (RAF) britânica e ficou fascinado com a descoberta. Passou as décadas seguintes buscando mais informações sobre o assunto em dezenas de livros, arquivos de jornais, grupos de estudo e em museus como o Imperial War Museum em Londres.

Todos esses anos de pesquisa resultaram no livro “Operação Brazilian Bellows – As Contribuições Brasileiras para a Força Aérea Real (RAF)”, lançado neste ano, que narra os esforços de brasileiros e britânicos que moravam no Brasil para apoiar a Grã-Bretanha durante as duas grandes Guerras Mundiais, especialmente a Segunda.

O livro conta a emocionante história de pessoas que deixaram o Brasil para se alistar no exército inglês e outras milhares que se mobilizaram de forma voluntária na arrecadação de dinheiro para ajudar na compra de aviões. O empenho da comunidade teve resultados impressionantes: 25 aviões foram doados à Força Aérea Real e um outro foi para a Força Aérea Brasileira. E a mobilização só foi possível graças ao empenho da Fraternidade do Fole, uma organização criada pela comunidade britânica da Argentina e que se espalhou por toda a América Latina com o objetivo de arrecadar fundos para ajudar a Grã-Bretanha no combate ao nazismo.

Nesta entrevista exclusiva, o autor conta mais detalhes sobre sua pesquisa e sobre a importante e pouco conhecida participação da comunidade britânica no Brasil para ajudar os ingleses durante os desafiadores anos da Segunda Guerra Mundial.

(continua na página 38)

Hawker Typhoon JP784 with Squadron Leader symbol on engine hood and exhausts. Photo from the Imperial War Museum | Hawker Typhoon JP784 com símbolo de líder de Esquadrão sobre o capô do motor e escapamentos. Foto de Imperial War Museum

Brazilian Bellows

Continuação da página 37

Como surgiu o interesse em pesquisar esse tema?

O meu interesse começou ainda na década de 70, quando li “Spitfire Caçador Implacável”, livro da série “História Ilustrada da Segunda Guerra Mundial” que falava sobre a Fraternidade do Fole e a doação de aviões para Força Aérea Britânica. Vi que alguns aviões haviam sido usados em um ataque contra o general Erwin Von Rommel, um personagem famoso da Segunda Guerra Mundial. A partir daí, comecei a pesquisar e fui encontrando documentos e juntando as informações. No total, foram doados 26 aviões, sendo 16 Spitfires, 9 Typhoons e 1 bombardeio para a Força Aérea Brasileira possibilitada por valores muito significativos de dinheiro arrecadado por todo país. Para se ter uma ideia, cada avião custava em média 5 mil libras esterlinas, então, estamos falando de cerca de 40 milhões de reais que foram arrecadados no boca a boca ou por telefone. Toda essa doação era coordenada por essa organização chamada Fraternidade do Fole.

Isso mostra um grande engajamento por parte de brasileiros e britânicos que moravam aqui no Brasil, certo?

Sim, muito grande. Praticamente todas as capitais e algumas cidades do interior do Brasil, como Pelotas (RS) e outras no Paraná participaram da campanha. A partir de 1940, alguns anglo brasileiros foram pra Inglaterra pra se alistar. E quem ficou, quis colaborar. Havia muita propaganda do governo britânico para que a população fizesse a sua parte, teve doação de panelas de alumínio na Inglaterra pra construção de avião e, por aqui, esse movimento chegou também. A população civil da Inglaterra e britânicos ao redor do mundo foram arrecadar dinheiro para ajudar a Grã-Bretanha a combater o nazismo. A Fraternidade do Fole foi muito forte aqui na América Latina, especialmente na Argentina. No Brasil, a organização começa a crescer principalmente a partir de 1942, quando o país entra oficialmente na guerra, ao lado dos Aliados. Ao final de 1943, houve um grande volume de doações do Brasil para a Força Aérea Britânica.

Esse empenho voluntário era uma forma de apoiar a pátria durante os graves conflitos que aconteciam na Europa naquele momento, né?

(continua na página 40)

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community in Argentina and which has spread throughout Latin America with the objective of raising funds to help Great Britain in the fight against Nazism.

In this exclusive interview, the author tells us more details about his research and about the important and little known participation of the British community in Brazil to help the British during the challenging years of World War II.

How did your interest in researching this subject come about?

My interest began in the 70s, when I read “Spitfire Caçador Implacável”, a book from the series “Illustrated History of World War II” that talked about the Fellowship of the Bellows and the donation of planes to the British Air Force. I saw that some planes had been used in an attack against General Erwin Von Rommel, a famous character of World War II. From then on, I started researching and found documents and put the information together. A total of 26 planes were donated, being 16 Spitfires, 9 Typhoons and 1 bombing for the Brazilian Air Force made possible by very significant amounts of money raised. To give you an idea, each plane cost an average of 5 thousand pounds, so we’re talking about 40 million reais that were collected through word of mouth or by telephone. This entire donation was coordinated by this organisation called Fraternidade do Fole.

This shows a great commitment on the part of Brazilians and British people who lived here in Brazil, right?

Yes, very much so. Practically all capitals and some cities in the interior of Brazil, like Pelotas (RS) and others in Paraná took part in the campaign. From 1940 onwards, some Anglo Brazilians went to England to enlist. And those who stayed wanted to collaborate. There was a lot of propaganda from the British government for the population to do their part, there was the donation of aluminium pans in England for the construction of an aeroplane and, over here, this movement also arrived. The civilian population of England and British people all over the world set out to raise money to help Great Britain fight Nazism. The Bellows Fraternity was very strong here in Latin America, especially in Argentina. In Brazil, the organisation started to grow mainly from 1942,

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Spitfire MK Vb plane, dubbed “O Bandeirante”, serial number EP166, with the Squadron Leader PR Wickham DSO DFC BAR of the RAF 111 Squadron, at Kenley Air Force Base, England, in September 1942. Note the black bar on the RAF side of the plane, unofficial symbol of the Squadron. Photo from the Imperial War Museum. | Avião Spitfire MK Vb, batizado de “O Bandeirante”, número de série EP166, com o Squadron Leader P. R. Wickham DSO D. F. C. BAR do Esquadrão 111 da RAF, na base aérea de Kenley na Inglaterra, em setembro de 1942. Notar a barra preta na lateral do avião, símbolo não oficial do Esquadrão. Foto de Imperial War Museum.

People subscribing to the Fraternity of Bellows. Photo from the Imperial War Museum. | Pessoas inscrevendo-se na Fraternidade do Fole. Foto de Imperial War Museum.

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Sim. No Brasil pouco se fala sobre a Segunda Guerra, parece que era algo muito distante. Mas aqui tinham muitos ingleses, franceses, poloneses, e as pessoas viviam angustiadas. Muitos saíram do Brasil e foram pra Europa combater e morreram em combate, inclusive. Eles não precisavam necessariamente ir, mas atenderam a um chamado de sua pátria e foram.

Como foi fazer a pesquisa sobre o tema aqui no Brasil? O que você encontrou de informação relevante?

Consegui muita coisa nos arquivos dos jornais da época, sobre britânicos que participaram da guerra e sobre os anúncios da Fraternidade do Fole. A partir de 2006, a Biblioteca Nacional digitalizou um acervo muito grande de jornais e a Folha de São Paulo também começou a disponibilizar seu arquivo a partir da década de 40. Então, isso ajudou muito. Depois eu entrevistei duas senhoras aqui em São Paulo: Mrs Gladys E. Sinclair e Mrs Gillian Pepper. E com elas, tive impressões pessoais de quem participou de fato das arrecadações de dinheiro e de todo o movimento das doações que aconteceram no Brasil. No Colégio St. Paul’s, a Carmen Sapsezian me ajudou com informações sobre a arrecadação de fundos para a compra de passagens para que ex-alunos fossem para Inglaterra se alistar nas Forças Armadas Britânicas. E o Robert Beer, da Royal British Legion, me passou muitas informações, inclusive uma lista com mais de 300 britânicos que tinham saído do Brasil para combater na guerra. Outra pessoa que me ajudou foi o Ian Thomas Comber, que foi diretor do Museu da Tam e fez uma reportagem na revista Asas sobre a Fraternidade do Fole. Encontrei bastante coisa por aqui.

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when the country officially entered the war, on the side of the Allies. By the end of 1943, there was a large amount of donations from Brazil for the British Air Force.

This voluntary commitment was a way of supporting the motherland during the serious conflicts taking place in Europe at that time, right?

Yes. In Brazil little was said about World War II, it seemed that it was something very distant. But here there were many English, French, Poles, and people lived in anguish. Many left Brazil and went to Europe to fight and even died in combat. They didn’t necessarily have to go, but they answered a call from their homeland and went.

No livro, você destaca a participação das mulheres nesse movimento. De que forma elas contribuíram?

Foram elas que fizeram uma primeira iniciativa de apoio. Em 1940, a Sra Minnie Smaggasgale, que era enfermeira chefe do Hospital dos Estrangeiros no Rio de Janeiro, já juntava dinheiro pra enviar para fora. E ela fez uma pousada para marinheiros estrangeiros que vinham pro Brasil durante a guerra, era uma pessoa importante na comunidade e fez um grande esforço pra arrecadar dinheiro. Além disso, mulheres como a Miss Gylian e outras, que tinham por volta de 18 e 20 anos na época, eram quem realmente trabalha-

What was it like doing research on the subject here in Brazil? What relevant information did you find?

I found a lot in the newspaper archives of the time, about British people who participated in the war and about the advertisements of the Fellowship of the Bellows. Starting in 2006, the National Library digitalised a very large collection of newspapers and the Folha de São Paulo also began to make available its archives from the 1940s. So, this helped a lot. Then I interviewed two ladies here in São Paulo: Mrs. Gladys E. Sinclair and Mrs. Gillian Pepper. And, with them, I obtained personal impressions of those who actually participated in raising the money and the whole movement of donations that happened in Brazil. At St. Paul’s School, Carmen Sapsezian helped me with information about fundraising to buy tickets for former students to go to England to join the British Armed Forces. And Robert Beer, from the Royal British Legion, gave me a lot of information, including a list of more than 300 British people who had left Brazil to fight in the war. Another person who helped me was Ian Thomas Comber, who was director of the Tam Museum and did an article in the magazine Wings about the Bellows Fraternity. I found quite a lot here.

vam na arrecadação de dinheiro. A direção da Fraternidade do Fole era formada por diretores de empresas, de bancos, e não ficavam no dia a dia correndo atrás das doações e adesões nas campanhas. Eram as mulheres e os rapazes mais jovens que faziam esse importante papel! Eles que saíam a campo, iam nas fábricas, nas empresas e nas casas pra falar com as pessoas e arrecadar as doações. E teve também as jovens que foram pra Grã-Bretanha participar da Força Aérea Auxiliar e serviram transportando aviões da fábrica para as unidades de combate. Tem mulher que tinha mais horas de voo do que muitos pilotos homens de combate, porque elas transportavam os aviões. Tem uma lista grande de mulheres que foram do Brasil pra Inglaterra durante a guerra e no

(continua na página 42) In the book, you highlight the participation of women in this movement. In what way did they contribute?

It was they who had took the first initiative of giving support. In 1940, Mrs. Minnie Smaggasgale, who was the head nurse of the Foreigners’ Hospital in Rio de Janeiro, was already collecting money to send abroad. She built a hostel for foreign sailors who came to Brazil during the war, was an important person in the community and made a great effort to raise money. Also, women like Miss Gylian and others, who were around 18 and 20 years old at the time, were the ones who really worked at raising money. The management of the Fellowship of the Bellow was made up of company directors, bank directors, and they didn’t spend their days running after donations and campaign memberships. It was the women and the younger boys who played this important role! They who went out to the factories, companies and houses to talk to people and collect donations. And there were also young women who went to Great Britain to participate in the Auxiliary Air Force and served in transporting planes from the factory to the combat units. There are women who had more flight hours than many male pilots, because they transpor(continued on page 42)

In front of the Brazil No. V plane, the Wing Commander Cosme Lockwood Gomm DSO DFC, and the WAAF LACW Joan Margaret Clark and LACW Lillian Helene Louise Hodgkiss. Photo from the Imperial War Museum. | A frente do avião Brazil No. V, o Wing Commander Cosme Lockwood Gomm DSO DFC, e as WAAF LACW Joan Margaret Clark e LACW Lillian Helene Louise Hodgkiss. Foto de Imperial War Museum.

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ted the planes. There is a long list of women who went from Brazil to England during the war and in the book I have the photo of two of them: Joan Margaret Clark and Lillian Helene Louise Hodgkiss.

Was there a moment in history or a character that caught your attention the most during your research?

It’s exciting to find information you’re looking for during research, to know what happened to each plane and the people. The Wing Commander Richard A Wellington’s speech in January 1944 in São Paulo is very moving. He went to war at the age of 23 and, when he returned, he came to Brazil to give lectures on the war, at the request of the British Ministry of Foreign Affairs. He wanted to tell Brazilians what was happening in Europe. It is a very beautiful and moving speech, in which he said of the hope of surviving the fighting and seeing his friends and the city where he spent his youth. Miss Gylian told that an Anglo-Brazilian friend who fought in Italy and wore the emblem of the Brazilian Expeditionary Force FEB on his British uniform. These are details and information that are very interesting.

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livro eu trago a foto de duas: Joan Margaret Clark e Lillian Helene Louise Hodgkiss.

Teve algum momento da história ou personagem que te chamou mais atenção durante a sua pesquisa?

É emocionante encontrar informações que você está procurando durante uma pesquisa, saber o que aconteceu com cada avião e com as pessoas. O discurso do Wing Commander Richard Anthony Wellington em janeiro de 1944 feito aqui em São Paulo é muito impactante. Ele foi pra guerra com 23 anos e, quando voltou, veio ao Brasil fazer palestras sobre a guerra, a pedido do ministério das relações exteriores britânico guerra, ministério das relações exteriores britânico. Ele queria contar para os brasileiros o que estava acontecendo na Europa. É um discurso muito bonito e emocionante, em que ele falou da esperança em sobreviver aos combates e rever os amigos e a cidade onde passou a juventude. Miss Gylian contou que um amigo anglo brasileiro que combateu na Itália e usou o emblema da Força Expedicionária Brasileira FEB em seu uniforme britânico. São detalhes e informações que são muito interessantes.

Do you have plans to launch a second edition?

Certainly, especially if I get more stories or more details and material about the Fellowship of the Bellows here in Brazil, mainly photographs of people and events. The pandemic hindered a little the distribution of the books, but soon military aviation events will be held again and we will continue with the work of dissemination. ◼

Você tem planos de lançar uma segunda edição?

Com certeza, principalmente, se eu conseguir mais histórias ou mais detalhes e materiais sobre a Fraternidade do Fole aqui no Brasil, principalmente fotografias das pessoas e eventos realizados. A pandemia prejudicou um pouco a distribuição dos livros, mas em breve voltaremos a ter eventos de aviação militar e vamos continuar com o trabalho de divulgação. ◼

Paulo Eugênio Pinotti de Almeida, author | Paulo Eugênio Pinotti de Almeida, autor

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