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Mark Lacey

Quem melhor do que o responsável de Investimento em Ações de Matérias-Primas de uma gestora internacional para confirmar como a indústria energética a nível global está a viver uma transformação histórica. “Dessas que só se vivem a cada 70 ou 100 anos”, assim o avisa Mark Lacey. As energias renováveis estão a viver o seu amanhecer depois de anos a serem temáticas pouco rentáveis. Agora as coisas mudaram com o triplo impulso da viabilidade do seu negócio, o apoio dos governos e uma onda de investimento bilionária nas próximas décadas. PARTNER NER T PAR

GESTOR DO SCHRODER ISF GLOBAL ENERGY TRANSITION

UM FUNDO LIMPO

É um produto que aspira a ser limpo: não investirá um cêntimo da carteira em combustíveis fósseis ou energia nuclear. O fundo bebe de quatro grandes setores: as energias renováveis, o armazenamento de energia, equipamentos elétricos e distribuição de energia. E dentro de cada um destes há por sua vez múltiplos subsetores.

á três anos, na Schroders começaram a pensar

Hem criar um fundo orientado para a captura da transformação global do setor energético, a semente do que hoje é o Schroder ISF Global Energy Transition. Mas há 10 anos uma temática baseada nas renováveis e na transição energética não era rentável. “Energia solar, eólica, baterias de lítio e a sua aplicação e armazenamento… nada disso tinha retornos positivos sobre o capital investido”, conta Mark Lacey, responsável de Investimento em ações de Matérias-Primas da gestora britânica. Apenas um ano e meio depois dessas primeiras conversas, a indústria deu uma volta profunda. Os perfis de custos dessas empresas baixaram; as empresas de renováveis começaram a ser rentáveis.

E para Lacey, esse é o primeiro motor da temática da transição energética global: que são viáveis em custos. “De uma perspetiva de negócio, as renováveis agora são mais rentáveis do que as turbinas de gás de ciclos combinados e do que o carvão”, afirma. O segundo catalisador está na urgência ambiental e na resposta política a ela. “As emissões de CO2 já chegaram a níveis preocupantes e, se continuarmos a este ritmo, as temperaturas vão elevar-se 4ºC até 2100”, alerta o gestor da estratégia. “Pode parecer muito longínquo algo que vai acontecer daqui a 80 anos, mas os governos já estão a atuar. A política dos países desenvolvidos é reduzir as emissões de CO2 em 33% até 2030. Em apenas 10 anos”, insiste.

E isso leva-nos ao terceiro fator, o que há por detrás desse trabalho intenso de redução de emissões. Porque para chegar aos 33% de descida fará falta um forte investimento no espaço das energias limpas. Segundo uma estimativa da Bloomberg NEF, será necessário um investimento de capital de 100 biliões de dólares entre agora e 2050. “Isto é quatro vezes a taxa de execução do gasto de capital em combustíveis fósseis”, sublinha Lacey. “Com esta quantidade de capital a dirigir-se para um setor eficiente em custos, com o acréscimo do apoio governamental, devemos começar a ver como isto se reflete nas valorizações da indústria”, vaticina.

VERDADEIRAMENTE LIMPO

É essa transição para as energias do futuro o que procuram captar no Schroder ISF Global Energy Transition. E apesar de poder parecer uma temática muito específica, o gestor assegura que isto não implica um universo reduzido. O fundo bebe de quatro grandes setores: as energias renováveis, o armazenamento de energia, equipamentos elétricos e distribuição de energia. Mas cada um deles tem os seus subsetores.

Nas energias renováveis estão as indústrias de equipamentos e as de produção. Dentro das primeiras está o equipamento de energia eólica, solar e outros. Nas segundas inclui-se a geração de energia de desenvolvimento, residencial, solar e outros. No espaço do armazenamento, estão as empresas industriais de baterias e os seus componentes, o armazenamento de energia e soluções de bateria, as dedicadas a eletrolisadores de hidrogénio e células de combustíveis. Na distribuição, falamos de setores tão diferentes como os operadores de rede e utilities, as empresas de cabelagem elétrica, as fabricantes de componentes elétricos, as que geram infraestrutura para o veículo elétrico, as de medição inteligente e as que criam produtos de gestão energética. E apesar de a temática estar a florescer, nem todos são nomes novos. Muitas empresas consolidadas durante décadas, como a Red Eléctrica, Sonova, Samsung ou Schneider.

“Queremos investir em toda a cadeia de produção da energia, desde a sua geração até à chegada nas tomadas de casa”, conta o gestor. Aspira a ser um fundo que verdadeiramente capture a mudança estrutural, que está a viver o

sistema energético. “É uma transformação histórica. Dessas que só se vê a cada 70 a 100 anos. Trata-se de investir onde o dinheiro está a fluir”, insiste.

O fundo procura ser um produto “limpo”, como define Lacey, pelo que não vai investir um cêntimo da carteira em combustíveis fósseis ou energia nuclear. A carteira terá tendência para a diversificação. Agora, com o lançamento, ronda os 30 nomes, mas com o crescimento aspiram a mover-se na faixa das 40-50 ideias, com um peso em torno dos 2%-3%.

O processo de investimento constitui-se sobre dois pilares. Um primeiro, que tem em conta os cash flows descontados baseados em retornos normalizados. Um segundo, com uma filosofia GARP (crescimento a um preço razoável). “Trata-se de analisar as empresas do ponto de vista do cash flow e a sua geração de lucros, tanto pelo seu histórico a dois anos como olhando para os próximos dois exercícios”, explica Lacey. “Porque queremos selecionar as empresas com uma geração de cash sólida atualmente, mas que também sejam capazes de gerar valor a longo prazo”.

“QUEREMOS INVESTIR EM TODA A CADEIA DE PRODUÇÃO DA ENERGIA, DESDE A SUA GERAÇÃO ATÉ ÀQUELA QUE CHEGA NAS TOMADAS DE CASA”

É o principal requisito do gestor para as empresas que entrem na carteira: que estejam orientadas para gerar lucros. “Ficariam surpreendidos com a quantidade de empresas que injetam imenso capital num projeto e nunca são rentáveis. As que só procuram crescer e crescer ou manter a sua quota de mercado às custas das margens”, conta. Para o gestor, o negócio tem de estar claramente encaminhado para a rentabilidade.

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