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Petróleo: Ano de extremos

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Mark Lacey

Mark Lacey

PE TRÓ LEO A distribuição dos retornos mensais do Brent não é normal. Em março desviou-se quase seis vezes da sua média. Algo que deverá ocorrer só uma vez em várias centenas de milhares de anos.

ANO DE EXTREMOS

DISTRIBUIÇÃO DOS RETORNOS MENSAIS DO PETRÓLEO BRENT

MARÇO 2020 NOVEMBRO 2020 MAIO 2020

-55,0% -21,3%

Fonte: Thomson Reuters e Santander Asset Management. 12,4% SUPERIOR

Com uma revalorização de quase 30%, o Brent fechou novembro com uma rentabilidade mensal desviada de mais de 2,6 vezes face à sua média. Se estas rentabilidades seguissem uma distribuição normal, devíamos ter presenciado algo assim só umas três vezes desde os anos 90.

Não obstante, materializaram-se até 10 movimentos mensais do crude com desvios superiores nos últimos 30 anos. Três deles em 2020. De facto, no mês de março, o retorno desviou-se quase seis vezes da sua média, algo que pelos investidores mais tradicionais: o preço spot das matérias-primas tende a depender mais da oferta e procura coincidente e menos das suas expectativas (que influenciam principalmente o formato da curva de futuros).

Com dois terços do mundo a enfrentar algum tipo de restrição de mobilidade, a queda na procura por petróleo (mais de -20% em menos de um mês) foi dificilmente digerível, apesar dos cortes drásticos na produção.

Excesso de oferta/procura, inventários, formato da curva de futuros e preços spot estão fortemente relacio-

deveria apenas ocorrer uma em várias centenas de milhares de anos.

Obviamente, a distribuição dos retornos mensais do Brent não é normal. Mesmo assim, os cálculos anteriores podem servir de exemplo para entender o extremo dos movimentos que vivemos neste ano atípico.

Estas mudanças no preço não são nada mais do que um reflexo da incerteza quanto aos fundamentais. Em abril, o excesso de oferta de crude ultrapassou os 18 milhões de barris por dia, justificando os preços do WTI negativos e demonstrando uma realidade por vezes ignorada

A RENTABILIDADE DOS ATIVOS EM NOVEMBRO DE 2020

30%

OPINIÃO

JOÃO LAMPREIA

Chief Investment Strategist, BiG

A recuperação explosiva do preço do crude, desde os mínimos de novembro (acima de 40%), após a célebre Pfizer Monday (9/ Nov.), que motivou um repricing das expectativas em relação ao crescimento económico e de normalização pandémica, deverá perder algum fulgor. O corte de produção anunciado pela Arábia Saudita (1 mn boe/dia) contribuiu de forma positiva no curto-prazo, ainda que a pressão para cortes adicionais da produção deverá esbater-se no tempo. Em termos globais no que respeita a dinâmica da oferta-p rocura agregada, espera-se um incremento da produção de 3% face a 2020 para 97,13 boe/dia e uma recuperação mais expressiva do consumo em 6% para 97,77 boe/dia, permitindo o gradual escoamento dos inventários. Face à dimensão do rebound do preço do crude desde novembro, acreditamos que uma parte significativa da recuperação cíclica/aumento da procura já estará descontada nos preços atuais, sendo que a correlação inversa com o dólarnorte americano e a celeridade na transição energética serão vectores cruciais na evolução do preço do crude em 2021.

20%

10%

0%

BRENT AÇÕES RÚSSIA AÇÕES ENERGIA CAD/USD NOK/USD S&P 500 HIGH YIELD

Fonte: Thomson Reuters e Santander Asset Management.

nados devido à dinâmica dos custos de armazenamento e convenience yield. Mas quando ocorrem choques como este ano, estas dinâmicas tornam-se mais complicadas, se possível.

A incerteza em todas as variáveis acima tem influência significativa em qualquer expectativa que possamos ter sobre os preços e sobre os seus movimentos, por isso é lógico pensar que a volatilidade, embora diminua, dadas as melhores perspetivas para a economia, deve permanecer elevada em relação aos seus padrões históricos.

Quanto ao movimento de novembro, se havia um argumento contra a narrativa generalizada de que os mercados financeiros e a economia estavam em caminhos muito diferentes em 2020, foi sem dúvida o fraco desempenho dos ativos relacionados com o ciclo. Na verdade, esta realidade reforçou a ideia de uma recuperação em forma de K, com claros vencedores e vencidos.

Assim, por exemplo, a diferença de rentabilidade entre os melhores e os piores setores do S&P 500 (tecnologia e energia, respetivamente) no ano passado aproximou-se dos seus máximos históricos e o Nasdaq acumulou mais de + 25% até outubro,

A OPINIÃO DE

ISABEL DE LINIERS Senior sales, DWS Iberia

A EXPETATIVA DE QUE O CRESCIMENTO ECONÓMICO SE SINCRONIZE DE NOVO COM MENORES DIFERENÇAS ENTRE REGIÕES TEM SIDO UM CATALISADOR POSITIVO PARA AS MATÉRIAS-PRIMAS

em comparação com quase -50% do preço do crude.

Durante o mês de novembro, após as boas notícias sobre as diferentes vacinas que têm aberto o apetite pelo risco dos investidores, o petróleo tem sido um dos principais protagonistas, recuperando parte das quedas. A expectativa de que o crescimento económico será novamente sincronizado com diferenças menores entre as regiões tem sido um catalisador positivo para as commodities, às quais se soma um dólar mais fraco.

Esta recuperação tem afetado significativamente a rentabilidade do setor de energia em ações. Como tal, superou + 25% no mês tanto nos Estados Unidos como na Europa. Também superou o seu beta histórico em comparação com os preços à vista da energia.

Também vimos uma recuperação sensível no crédito high yield e em moedas e ações de países produtores de petróleo (Canadá, Noruega, Rússia, etc.), embora neste caso os betas tenham permanecido mais próximos das suas médias históricas.

O maior beta do setor de energia em ações pode ser justificado - além da recuperação do preço do petróleo bruto e das melhores expectativas sobre a economia - pela rotação em valor, com fluxos de entrada em ETF desse fator dobrando os seus máximos mensais anteriores. De modo geral, a narrativa do mercado mudou drasticamente numa questão de um mês, exatamente quando as coisas pareciam ficar mais difíceis para a economia, dado o contexto de medidas mais restritivas para conter a segunda onda de infeções.

A vacina, embora há muito esperada, deu uma pausa aos ativos relacionados com o ciclo, aumentando o otimismo dos investidores em geral. Isto tem sido palpável numa revisão em alta das expectativas por parte de várias organizações e entidades, em linha com a recuperação apresentada pelos fundamentais quando as medidas de contenção foram flexibilizadas.

No entanto, e apesar de haver dados que convidam ao otimismo, a cautela deve ser mantida. A incerteza permanece alta. No caso do petróleo, o excesso de oferta poderá ser mantido durante a entrada de 2021 e poderemos testemunhar uma recuperação da produção da OPEP em linha com o que já está a ser visto em países não OPEP. O menor risco geopolítico pode-se traduzir na entrada de nova produção e, após os seus últimos cortes, o dólar já não é uma moeda cara (segundo a Paridade do Poder de Compra).

Em conclusão, talvez os principais desenvolvimentos no preço do petróleo bruto sejam na curva de futuros e não tanto no preço à vista.

ALGUNS TIPOS DE OBRIGAÇÕES PODEM-SE TORNAR UMA BOA OPÇÃO

É sabido que o mercado de fixed income exige cada vez mais tácticas. Hoje, para encontrar oportunidades, é necessário entrar num território mais exótico, como mercados emergentes e de high yield. Nós, na DWS acreditamos que esses segmentos podem vir a gerar uma rentabilidade entre 3% e 5% até ao fim do verão de 2021. Isto deverá compensar o fato de assumirmos mais riscos. Um dos principais impulsionadores destes ativos é o impacto das políticas atuais dos bancos centrais, que fazem com que o retorno das obrigações de maior qualidade permaneça próximo de zero. Além disso, a expansão dos programas de compra de obrigações, inclusive de high yield, significa que os bancos centrais estão a injetar mais liquidez nestes segmentos. Na DWS, optamos por obrigações asiáticas, que oferecem oportunidades de investimento particularmente boas. Os países asiáticos têm finanças públicas sólidas e podem beneficiar de preços baixos. Além disso, a Ásia está um passo à frente na recuperação económica, por isso poderá beneficiar tanto de um melhor clima geopolítico como do estabelecimento da Área de Livre Comércio da Ásia. Para investir na Ásia é importante ser seletivo, flexível e contar com uma equipa especializada, como a que gere o DWS Invest Asian Bonds.

PADEL

MAIS DO QUE A ÚLTIMA MODA

Mudou-se a raquete, mas não a vontade. Do solitário ténis ao sociável padel foi um ápice, porque são muitos os motivos para se fidelizar: a facilidade de jogo ou a riqueza estratégica são alguns.

uitas vezes, quando digo

Mque jogo padel, rapidamente me respondem, em jeito de brincadeira, que me converti ao desporto da moda! Percebo a ideia, tendo em conta o crescimento exponencial desta modalidade em Portugal nos últimos anos – a Federação Portuguesa de Padel fala em mais de 100.000 praticantes em Portugal e de um ritmo de crescimento anual de aproximadamente 70%. No entanto, fico sempre com a sensação de que a classificação de moda é uma visão muito redutora do que é, efetivamente, o fenómeno do padel em Portugal. Antes de me iniciar no padel, joguei ténis federado dos 10 até aos 18 anos. Antes de ingressar na faculdade, decidi interromper os treinos de ténis, uma vez que treinava com alguma intensidade (praticamente todos os dias) e que os torneios ocupavam uma parte considerável dos fins-de-semana (sobretudo quando corriam bem!). Talvez também tenha interrompido a prática por alguma saturação, uma vez que o ténis (maioritariamente jogado em singulares e não tanto em duplas) consegue ser um desporto bastante solitário e desgastante psicologicamente. Mas é então com a vinda para Lisboa e com a necessidade (física e mental) de praticar algum desporto que decido experimentar o padel: depois de vários anos de raquete na mão, pensei que teria alguma facilidade em iniciar-me num novo desporto de raquetes, enquanto que o facto de ser sempre jogado em duplas também me entusiasmou.

SOCIÁVEL E NÃO SÓ

Comecei a jogar com amigos… e o vício foi imediato. Entretanto, já lá vão cinco anos de padel, e de momento continuo a jogar cerca de três vezes por semana, sempre que possível, nos vários clubes que Lisboa tem à disposição. Em retros-

O vício foi imediato depois de experimentar.Já lá vão cinco anos desde que começou a jogar, três vezes por semana. Atualmente, Tiago Rabaça inscreve-se nalguns torneios da Federação Portuguesa de Padel.

petiva, identifico algumas razões para o meu vício, assim como para a moda ou fenómeno generalizado em torno do padel; (i) é um desporto relativamente fácil de começar a jogar, sendo numa fase inicial muito menos frustrante que o ténis. Costumo dizer que “quem dá uns toques numas raquetes de praia” facilmente entra num campo de padel com mais três amigos e tem também um jogo divertido (dito isto, em níveis mais avançados, claro que se torna um desporto bastante complexo, e a quem nunca tenha visto convido a pesquisar no YouTube por pontos jogados no World Padel Tour!); (ii) é sempre jogado em duplas (dois contra dois), o que torna a componente social bastante forte - o que nem sempre acontece no ténis; e (iii) é um desporto muito rico em termos estratégicos, o que dá armas importantes mesmo a jogadores que tenham eventualmente menos técnica, levando por vezes a algumas surpresas para os jogadores que pudessem a priori ser considerado favoritos!

Pelo bichinho da competição deixado pelo ténis, desde que comecei a jogar padel que me tenho inscrito também em torneios da Federação Portuguesa de Padel. São certamente menos solitários que os torneios de ténis e a experiência de procurar um objetivo comum com um parceiro ao lado é muito enriquecedora! Umas vezes ganha-se, outras vezes perde-se, mas os amigos feitos na jornada certamente que ficam independentemente do resultado. Os resultados, esses, não são certamente o mais importante quando falamos de um hobbie, mas obviamente que ninguém joga para perder: terminei o ano de 2020 no lugar 227º do Ranking Nacional de Absolutos (em mais de 2.000 classificados) – podia ser melhor, é verdade, mas o foco a tempo inteiro continua e irá continuar nos Mercados Financeiros!

CÓRSEGA

AVENTURA E BELEZA NATURAL

É a coqueluche social de muitos franceses no verão, mas merece uma visita de todos. Uma ilha de chinelo no pé, com muita natureza e descontração, e pintada por cidades pitorescas e gentes amáveis.

Em maio de 2015, durante um churrasco de fim de semana entre amigos, lancei o repto: “E se pegássemos nos Jeeps e fossemos à Córsega em expedição?”. A ideia foi imediatamente bem acolhida e assim começou o planeamento desta aventura de 7.500km: escolher datas, comprar bilhetes de ferry, fazer revisões das viaturas, preparar logística de tendas e afins. Escolhemos os primeiros dez dias de setembro, e lembro-me de arrancarmos de manhã cedo pois ia estar um dia quente, e atravessar Espanha com calor é puxado para as máquinas. Pela hora de almoço estávamos em Madrid, recordo-me de comer uma bem condimentada Fabada, e de estarem 42º. De volta à estrada, e às 21h já tínhamos atravessado a fronteira com a França, onde dormimos em Perpignan. No dia seguinte, de volta à estrada com o nascer do sol, e às 15h chegámos a Toulon onde apanhámos o ferry para Ajaccio. Viagem muito agradável que nos permitiu rever itinerários e atividades previstas para os próximos nove dias, enquanto bebíamos umas Super Bock geladas, que levámos em arcas picnic. Foram assim aqueles nove dias, uma autêntica chatice!

frigoríficas, não fossem as opções locais do néctar de malte revelarem-se desadequadas para o nosso palato!

A Córsega foi italiana até 1768, altura em que a França invadiu a ilha, e desde então é considerada território francês, apesar da extraordinária independência e resiliência dos nativos em relação a esse facto, como atesta o facto de insistirem orgulhosamente no dialeto local, o Corsu. Foi, durante muito tempo, um entreposto de comércio de escravos oriundos do norte de África, e daí vem também, seguramente, o espírito guerreiro e o motto “souvent conquise jamais soumise” – “muitas vezes conquistada, jamais submetida”, numa tradução literal que, claramente fica aquém do espírito daquelas gentes, ou não fosse a terra natal de Napoleão Bonaparte…

Falar da Córsega é falar de férias, natureza e liberdade, ainda para mais numa viagem como a nossa, três Jeeps em expedição à descoberta, com o mínimo de constrangimentos possíveis. Ou seja, se de repente estávamos numa estrada à beira mar e nos apetecia, encostávamos as máquinas, mergulhávamos e eventualmente fazíamos um

RESERVA NATURAL

A gastronomia é rica, mas surpreendentemente pobre em peixe; as frotas pesqueiras arrasaram o Mediterrâneo nas últimas décadas e o peixe desapareceu quase totalmente, o que é instintivamente estranho quando estamos numa ilha, mas se compreende, pois aquele mar é quase um lago gigante com pequenas ligações a outros mares. As famosas Copas (espécie de salpicão com pimenta preta) são absolutamente deliciosas e fazem parte da dieta diária dos locais, bem como saladas variadas e, claro…queijo, beaucoup de fromáge! Dois terços do território são reserva natural, tem montanhas com 1.200 metros de altura, nascentes, cascatas e florestas esplendorosas, o que torna normalíssimos os encontros com todos os tipos de animais a passear pelas estradas do interior: porcos, cabras, vacas e até javalis! Claro que nativos e turistas respeitam totalmente a vida selvagem e não existem pastores, pois todos conhecem os seus animais e ninguém se atreve a roubar uma galinha

Dois terços do território da Ilha são reserva natural; tem montanhas com 1.200 metros de altura, nascentes, cascatas e florestas esplendorosas. As praias são deslumbrantes, mas também há uma cultura riquíssima por descobrir.

quanto mais um porco, (não esquecer que as desavenças com vizinhos tradicionalmente se resolvem com espingardas ou navalhas, o que explica a estranha descontração com o fenómeno). As praias são maravilhosas e recordo-me que a água andava pelos 26ºC, o que nos permitiu banhos pela noite dentro, pois a temperatura durante a noite raramente baixava dos 28ºC e sem vento…autêntico paraíso dos (muitos) mosquitos, pois tinham à sua disposição centenas de milhares de apetitosos turistas para se banquetearem noite dentro. Ajaccio, Bastia, Bonifacio com o seu porto repleto de veleiros. Sarténe no meio das serras… há de tudo, para todos os gostos!

Riquíssima em história e cultura, é um destino que recomendo, especialmente para quem gosta de aventura, férias de havaianas e disfrutar da beleza natural que a ilha tem para oferecer. As cidades são muito pitorescas, refletindo a natureza calorosa e hospitaleira daquele povo, que invariavelmente, entre junho e agosto, é todos os anos invadido pela coqueluche social francesa e de outros países.

Atrevam-se! Vão gostar.

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