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JULHO 2020 | BIMESTRAL | ANO 3 | N.º 11 | DIRETOR: RICARDO SALOMÃO | PREÇO: 0,01€
TRANSPRAIA PARADO MAS NÃO MORTO?
Proprietário e Câmara às Avessas
REPORTAGEM PÁG. 12
HÁ RACISMO EM PORTUGAL
ALMADA E SEMENTES FESTIVAIS DE TEATRO PARA TODOS OS PÚBLICOS
Entrevista a Susana Silvestre
PÁG. 14 e 15
PÁG. 8 e 9
CRÓNICA
INTERNET LIVRE E GRATUITA PARA TODOS
Luisa Costa Gomes
PÁG. 13
REPORTAGEM
ARTE DE PESCA: PAPAGAIO FORA DA LEI PÁG. 5
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HERÓI LOCAL | JULHO 2020 | NOTÍCIAS DA GANDAIA
ORNITOLOGIA DÁ TÍTULO MUNDIAL ENTREVISTA A PAULO SANTOS
Os pássaros são muito bonitos, mas raramente se lhes dá atenção. A não ser quando dão um campeão mundial a Almada. CARLA PEREIRA
realização dos cartazes dessas mesmas exposições anuais. Desde então tenho participado em várias exposições regionais, nacionais e internacionais, conseguindo vários prémios em quase todas e sendo campeão nacional desde o primeiro ano em que participei em várias espécies. Nesta prática vim a descobrir que muitos amigos meus, aqui, da Costa da
predefinido pelas federações nacionais e internacionais, no qual as aves concorrem em sessões próprias, cada uma na sua classe. Essas aves são avaliadas por juízes credenciados pelo um colégio de juízes (CNJ). Todos os anos há um exposição nacional que decorre de Norte a Sul de Portugal, o que não aconteceu este ano devido a realização do Campeonato do Mundo.
O que representa este titulo para si e para a modalidade?
Para mim é chegar a um patamar de excelência, É o ponto mais alto deste desporto. Este ano foi o
Como surgiu o gosto por esta actividade?
Em pequeno a minha mãe teve periquitos e eu sempre ajudei no que podia. Mas depois a vida deu outras voltas e numa altura menos boa da minha vida procurei nas aves algo para ocupar os tempos livres e principalmente ocupar a cabeça com coisas positivas.
Isso aconteceu por que altura?
Em 2013 depois de alguma pesquisa fui a uma loja e comprei dois casais de pássaros exóticos (mandarins e bengalins) os mais baratos e fáceis de criar. Continuei em pesquisas e encontrei um clube da especialidade, o Clube de Ornitologia Almadense) no qual me inscrevi e logo comecei a ajudar na montagem das exposições e até na
Chegamos às mãos dos seus clientes!
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Caparica, se dedicavam a esta actividade, inclusive um deles é sócio fundador do COA.
Para quem não conhece, em que consiste a ornitologia desportiva?
No essencial é um concurso de beleza de aves, que concorrem em exposição, onde têm de se aproximar ao máximo de um padrão
culminar de uma mutação que tenho vindo a trabalhar na espécie diamante mandarim (bico amarelo). Esta mutação é uma mutação pouco vista, onde a principal diferença é a cor do bico e das patas, que muda para amarelo, sendo que, no ancestral, é vermelho vivo no bico. Nesta edição consegui o primeiro lugar em equipa macho e em equipa fêmea, e o segundo em individual na mesma categoria, mais um honroso terceiro lugar em híbridos de fauna europeia, o que provavelmente será uma estreia a nível nacional.
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DIRETOR: Ricardo Salomão EDITOR: Rui Monteiro – Praça da Liberdade, n.º 17-A, 1.º andar – 2825-355 Costa da Caparica REDAÇÃO: Andreia Gama, Carla Pereira – DIREÇÃO DE ARTE: Ausenda Coutinho – COLABORADORES: António Zuzarte, Elizabete Gonçalves e Francisco Silva (Centro de Arqueologia de Almada), Fernando Barreiros, João Xavier, Luísa Costa Gomes, Maria da Conceição Serrenho, Reinaldo Ribeiro, Tiago Rocha, Victor Reis – ESTATUTO EDITORIAL: http://gandaia.info/?page_id=5171 – DEPARTAMENTO COMERCIAL: Ausenda Coutinho – Tlm: 968 050 744 –comercial@gandaia.info JORNAL NOTÍCIAS DA GANDAIA – Registo n.º 126448 na ERC. – PROPRIEDADE: Associação Gandaia – MORADA E SEDE DA REDAÇÃO: Praça da Liberdade, n.º 17-A, 1º andar – Centro Comercial “O Pescador” – 2825-355 Costa da Caparica – NIPC: 510220169 – SECRETARIA: Rua Vitorino José da Silva, n.º 18 – 2825-421 Costa de Caparica – Horário: 09:00 às 13:00 (quartas-feiras também das 16:00 às 19:00) – CONTACTOS: Tlms. 914 416 875 / 967 582 737 – noticias@gandaia.info – www.gandaia.pt – PUBLICIDADE: comercial@gandaia.info – Tlm: 968 050 744 – PERIODICIDADE: Bimestral – TIRAGEM: 10.000 exemplares – IMPRESSÃO: Gráfica Funchalense – Rua Capela Nª Srª da Conceição, n.º 50 Morelena – 2715-029 Pêro Pinheiro – DEPÓSITO LEGAL: 436220/18 – DISTRIBUIÇÃO: Preço: 0,01€
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NOTÍCIAS DA GANDAIA | JULHO 2020 | EDITORIAL
O GRANDE ABANÃO Mas mais que tudo, o desafio da pandemia vem também revelar ainda com mais evidência os efeitos das desigualdades.
RICARDO SALOMÃO
Não, infelizmente não vamos ficar todos bem. Claro que gostávamos de acreditar nisso. E no Pai Natal também. Mas não, como sempre tudo depende do que fizermos. E agora temos mesmo de fazer.
Em traços muito largos, é evidente que os problemas já clássicos ganham agora uma importância gritante. O abanão da pandemia põe à prova as pessoas, as instituições e as sociedades.
Há décadas que em Portugal se criticam os séquitos de “sim senhores” que o poder promove. Agora estranha-se a má qualidade das chefias. Não há milagres.
Teremos a coragem de promover a meritocracia?
Quanto mais precárias são as condições de vida, mais profundamente serão fustigados pela pandemia. Desde logo pela infeção, na sua saúde, na sua vida. Mas também no acesso aos bens mais necessários, desde a alimentação até à escola dos filhos. Sem computadores, como aceder à educação que até è obrigatória? E sem emprego, como ter comida?
A fatura ainda nem sequer está completa e já se sabe assustadora. Até porque já desfilam na avenida os oportunistas que se querem banquetear com a insatisfação, o descontentamento e a injustiça que são simplesmente inevitáveis.
Todos sabemos que a dor e a fome, nunca foram boas conselheiras.
Assistimos a duas formas de encarar o desafio: por um lado, aqueles que elegem a vida humana como o centro das barricadas. Outros acham que “há sempre gente a morrer”, a economia e o consumo
são o mais importante, e abrem filas e filas e filas de sepulturas.
A pergunta é se aqueles cujas vidas foram poupadas irão manter o bom senso quando chegar a fatura dessa política. A pergunta é se é suficiente poder trocar de carro. Uma vez mais.
Este desafio, este abanão a todos nós, implica que tudo vai ter uma prova de resistência. Isto não é a avaliação de um momento, como o presente, é um processo que irá demorar bem mais de um ano.
Não sei se haverá tratamento ou vacina em menos de um ano. Porém, sei que demorará talvez outro ano até chegar às nossas mãos.
Produzir biliões de medicamentos precisa de tempo. E mais uma vez, os ricos terão primeiro e os pobres depois, ou nunca. Porque “há sempre gente a morrer”, lembramse? Gente, assim no vago, somos nós, tu e eu. Só números em estatísticas impessoais.
Isto não fica resolvido assim, de uma assentada. É luta diária, se devemos ir ao café, se devemos partilhar coisas e ideias, se devemos
verificar se os vizinhos precisam de alguma coisa…
Mas também de exigir. De exigir que quando nos dizem que os transportes estão bem quando vemos que estão demasiado cheios, precisamos de exigir que os responsáveis estejam também lá, nos autocarros e comboios das 7 da manhã.
É muito fácil dizer que os transportes públicos estão bem no banco de trás de uma limusine com motorista.
Este abanão também vem questionar-nos sobre a importância das coisas.
Temos assistido a comportamentos de risco que acabam por prejudicar o todo da sociedade. Temos assistido a reprovações em chuveirinho do alto das suas gravatas no telejornal. Que resultado?
Faz falta a rede de proximidade, não é? A rede em que todos se conhecem, com a amizade própria da vizinhança, a voz quase familiar que desde a rua nos desperta e que agora poderia dar o tal sinal tão necessário. O sinal de que estamos MESMO juntos.
Agora faz falta, mas a verdade é que foi sendo paulatinamente destruída em vez de alimentada. E vai fazer cada vez mais falta.
É aqui que a cultura se afirma. Não é a cultura de produção artística extraordinária e única. A cul-
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tura da exceção.
Não, agora precisamos da cultura para pensar duas vezes, a cultura necessária para pensar nos outros, a cultura imprescindível para ter noção do conjunto, de sentir a comunidade como NOSSA. De perceber a vantagem de proteger os outros.
E daqui a meses, quando formos votar, quem vai falar com as pessoas para compreender que a sua dor, os seus problemas, as angústias, não se resolvem com populismos aparentemente fáceis do bota abaixo?
Quem vai explicar calmamente as coisas, ouvindo as pessoas, conhecendo os seus problemas? Em que salas irão acontecer os debates? Quem é reconhecido pelos seus pares?
É esse trabalho humilde, constante, a maior parte das vezes voluntário, que precisa de ser valorizado. Nunca foi tão importante o papel da cultura. A nossa cultura.
A própria vida, agora, precisa dela e das instituições que a promovem.
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ATUAL | JULHO 2020 | NOTÍCIAS DA GANDAIA
TERRAS DA COSTA A Vida dos Bairros Importa
DANIEL MIRANDA
Onde estão as imagens das obras com os moradores? Agilizando com a Associação de Moradores a colocação de eletricidade e dos pontos de água? Seu percurso e intervenção após sucessivas e exaustivas reuniões com as entidades e órgãos competentes?
Onde estão as imagens com os moradores da construção da Cozinha Comunitária e da Escola de Alfabetização das Iniciativas
e programas de projetos culturais e dinamizadores do espaço, do bom senso e das boas práticas e virtudes?
Onde estão as imagens das boas soluções? Onde estão as vacinas sociais?
Como sabem o Bairro das Terras da Costa foi assaltado pelos estilhaços de uma
guerra entre a boa fama e a virose da difamação provocada pelo vírus de caminhos não aconselháveis, colocando no mesmo caldeirão diferente caldeirada.
Os problemas têm rostos e nomes. E uma comunidade não pode ser coletivamente crucificada. Isso é injusto, insultuoso e caluniador. Cada um responde por si pelas suas decisões e responsabilidades.
Um bairro não é uma bomba para detonar cada vez que aparece um rastilho.
apenas seis dessas casas. E ainda para mais termos de ser revistados antes de ir trabalhar. Se fosse na Torre das Argolas teria esta dimensão?
Sem procurar uma vitimização fácil e desculpabilizante, também não podemos deixar de enfrentar a realidade complexa e desafiante do quotidiano nestes territórios que também são parte da nossa sociedade.
Espero que não se tenha de usar máscaras para nos escondermos, mas se as usarmos é para nos proteger das tosses e das gargantas inflamadas e da maledicência proverbial.
Estas e outras calamidades emergentes existem não por falta de distância de segurança, mas sim por falta de proximidade suficiente.
Quem conhece o Bairro das Terras da Costa sabe que não é só aquilo que vimos na televisão, e sabe que não se deixa manipular pela exploração das vulnerabilidades e debilidades do seu contexto.
A dignidade é um sentimento que um indivíduo tem sobre o seu próprio valor social e moral. Aprisionar as pessoas em estereótipos, distorce a imagem que podem ter de si próprias.
O gel desinfeta as mãos, mas não as línguas.
Não é pelas casas serem feias e esteticamente imorais no seu padrão convencional que tem de se presumir que o território seja ameaçador e bulímico. Porque o lugar onde moramos nunca esgotou o perfil de um indivíduo. Não consigo perceber a concentração de 100 militares para 50 casas, tendo como alvo
Esta vacina pode não ser a cura mas pode prevenir futuras contaminações.
Uma vez, perguntei a um miúdo do bairro o que queria ser quando fosse grande. Ele respondeu que queria ser bombeiro de ambulâncias, ou seja, salvar vidas. Um outro queria ser veterinário e outra, professora…
É por tudo isto que a vida dos bairros importa. E nós nos importamos também…
Graça Pinto
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NOTÍCIAS DA GANDAIA | JULHO 2020 | REPORTAGEM
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uma rocha no mar. “Claro que não pesco de dia, era faltar ao respeito à polícia…” Há valores e, mesmo, uma ética.
Por outro lado, para tudo o que é quotidiano, como o tipo de peixe, os tipos de anzóis, os nós, a maneiras como as ondas rebentam, a qualidade do vento… Aí, a classificação é tão mais detalhada e com tantas variantes que para nós, leigos da terra, parece uma língua estrangeira. Tudo especificado, tudo muito claro. Não é só nas palavras que há um “nós” e um “eles”. Perguntamos diretamente, “nós quem?” e, claro, é o “nós pescadores”, como evidência tão crua e natural que nem compreende a justificação da pergunta.
PESCA: PAPAGAIO FORA DA LEI F.S. chega de mansinho, com toda a calma do mundo, preparado para o que vier. Chega à praia e interroga o mar, o céu e, claro o vento. Nada é garantido, tudo é imprevisível. São assim os pescadores.
“Comecei a pescar com oito ou nove anos”, apresenta-se. “Não, não foi começar a aprender”, corrige: “com oito anos comecei a pescar mesmo, sozinho, com o papagaio. Aprender foi antes, nem sei quando… desde que me lembro.”
Explica tudo com cuidado e paciência invulgares. “Sim, claro, pescar com papagaio é ilegal…” E parou, suspendendo as palavras no espaço, no largo espaço entre o mar e as dunas, entre o legal, o ilegal e a vida de todos os dias. Aqui a legalidade não tem tanta importância, pode-se negociar a realidade: “ficou assim quando fizeram a lei para as canas [pesca desportiva com cana], ficámos de fora porque usamos mais anzóis. Eu uso 150.”
Trocamos impressões sobre este número e defende que “esta pesca é incomparavelmente menos agressiva que todas as pescas de rede. E
Seja como for, o “nós”, que neste caso é F.S. e os seus camaradas, fabricam tudo, desde o papagaio, com plástico de sacos do lixo (“dá mesmo jeito, de noite não se vê nada”), caniços e mesmo as chumbadas, mas, o nylon e anzóis, naturalmente, vêm da loja. Retoma-se a descrição: um papagaio bem dimensionado, coisa de um metro por metro e vinte, “não pode ser muito pequeno, nem muito grande. Tem de conseguir levantar cerca de quatro quilos”. Este número suscita a questão, se é só esse o peso, porquê os 150 anzóis? “Não, não é o peso do peixe mas sim o peso do ‘aparelho’. Quem puxa o peixe somos nós, não é o papagaio...”
se é pelo número de peixe pescado, então nem se fala…”
“Além disso”, apressa-se a acrescentar, “quando vejo que o peixe não tem tamanho ou não interessa, devolvo-o logo ao mar. Um pesca-
Explica depois (como se pode ver na imagem) que o papagaio não faz só o serviço de levar os anzóis para depois da rebentação das ondas. “A flutuação que o vento imprime no papagaio transmite-se pelos anzóis e atrai o peixe, ao ver o movimento…”
dor que se preze cuida do peixe, o seu ganha pão”.
Tal como quase toda a pesca de rede, a pesca com papagaio é cega, uma vez que não se vê o que vem, antes de recolher a rede ou linha, e não se sabe qual o peixe que lá está.
Tem dificuldade em aceitar categorias rígidas de coisas que não fazem parte da realidade. Legal ou ilegal é uma etiqueta que nada vale perante a tradição imemorial ou, sobretudo, a natureza. Mas as relações entre pessoas e funções são realidades tão objetivas como
“Isto é uma arte muito complexa, com vários fatores que temos de ter em conta para existir um equilíbrio com o vento e o mar… não pode ser muito, que rasga, nem pouco, que afunda… não pode ficar no alto, que os peixes não voam, nem pode tocar no mar, que se afunda logo…”
Não é por acaso que para os pescadores, tudo o que é usado na pesca se chama “a arte”. RS
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REPORTAGEM | JULHO 2020 | NOTÍCIAS DA GANDAIA a própria residência da família.” No entretanto, “existe relato fotográfico detalhado que, no pós-25 de Abril, este edifício chegou a ser ocupado pela organização LUAR – Liga de Unidade e Acção Revolucionária e funcionou com uma espécie de clínica médica, algo do género.”
SFUAP NO CORAÇÃO DA PIEDADE ANDREIA GAMA
Existe um espaço na Cova da Piedade verdadeiramente impulsionador da história do concelho. E todos lhe conhecem bem o nome. É no Largo 5 de Outubro que a Sociedade Filarmónica União Artística Piedense (SFUAP) tem morada desde que foi criada, pelos seus 15 fundadores e a primeira sede inaugurada a 23 de Outubro de 1889, na chamada “Casa dos Freitas”, ao lado da Capela da Cova da Piedade.
A visita a esta coletividade vem-se a revelar uma experiência com história, e não apenas pelo espólio presente na Sala dos Troféus. As madeiras antigas denunciam bem o peso dos anos e a quantidade de salas existentes parece um labirinto para quem não está habituado ao cenário. Não é o caso de Leonor Silva, chefe de serviços, que nos orienta, e que trabalha na coletividade desde 1975. Também Luís Gonçalves não corre o risco de se perder nesta casa que tão bem conhece e onde abraçou o cargo de presidente há cerca de 16 anos. Licenciado em Direito e dirigente autárquico, Luís Gonçalves equipara a coletividade a “uma média-empresa, com mais de 100 trabalhadores, que representa um orçamento anual de cerca de dois milhões de euros”.
Por ocasião do 130º aniversário da SFUAP, foi publicado o livro Pais Fundadores da Sociedade Filarmónica União Artística Piedense (SFUAP) e do Teatro Garret, da au-
toria de António Policarpo. Para esse efeito, fez-se um levantamento que refere que a SFUAP integra 11700 associados, cerca de 100 trabalhadores e outros colaboradores e 6162 participantes nas suas múltiplas actividades: ginástica (rítmica, acrobática, especial mista e pequenotes), judo, aikido/iaido, natação (desportiva e escolas de natação/actividades aquáticas, pilates, ballet, dança contemporânea, escolas de música (formação musical e formação para a banda), Banda Filarmónica e no Parque de Campismo.
Inúmeras vezes reconhecida pelo seu contributo, a SFUAP acumula, entre outros, o Troféu Olímpico do Comité Olímpico Português, o Troféu de Mérito e Placa de Mérito da Federação de Campismo e Caravanismo de Portugal e a Medalha de Bronze pela Federação Portuguesa de Natação, Medalha de Mérito Desportivo, pela Secretaria de Estado do Desporto
e Medalha de Ouro da Cidade de Almada.
Imprevistos, Mudanças e Incentivos
Serão ainda muitos os que se recordam do incêndio de Dezembro de 1987. “Como consequência, a colectividade ficou sem as instalações sociais e houve oportunidade de utilizar este edifício” onde actualmente é a sede, e para onde se mudaram em 1988.
Casa centenária, era o palácio da família Gomes, numa altura em que a zona da Cova da Piedade era composta por quintas. No âmbito da construção da nova urbanização, nas traseiras da SFUAP, passou a pertencer à Câmara Municipal de Almada. Como o presidente explica, “acabou por dar-se aqui uma ocorrência feliz. A família Gomes esteve na génese e foi sócio benemérito da coletividade e a SFUAP acabou por mais tarde se instalar no local onde fora
Há cerca de cinco anos solicitaram à Câmara, a proprietária, um reforço estrutural, antevendo os problemas que possam surgir das fragilidades dum edifício tão antigo. Como tal, a CMA desenvolveu um projecto de intervenção que prosupunha que “pudéssemos ser deslocalizados temporariamente para infra-estruturas aqui na Cova da Piedade, durante essa intervenção e depois regressaríamos.” Já no actual mandato autárquico do PS foi-lhes comunicado que a intenção seria não ficar apenas pela intervenção estrutural que haviam solicitado, mas fazer um arranjo mais completo do edifício. “Estamos na expectativa de quando é que essa intervenção se fará. Não temos pressionado a CMA, pois a informação que temos é que está encaminhado, e se a autarquia se propõe a fazer mais e melhor, temos estado a aguardar com serenidade.”
“A nossa intenção é iniciar as obras do Teatro Garrett, dar-lhe utilidade e fazer dele um espaço privilegiado para a banda. Ficaria integrado com as restantes instalações, mas mantendo alguma diferenciação e autonomia, sobretudo com o intuito de preservar a memória histórica.”
“Queremos sempre trabalhar no sentido de melhorar. Já me foi dito que o ginásio da SFUAP é dos melhores a nível nacional para a prática da ginástica rítmica, que exige um pé direito alto, para que as meninas possam lançar aparelhos próprios desta modalidade ao ar, sem risco da estrutura do edifício lhes perturbar ou limitar o exercício”. Ainda assim o presidente admite que “no que respeita ao conforto terá com certeza alguns aspetos que não estão ao mesmo nível de qualidade”.
“Obviamente que valorizamos todos os apoios, não somos ingratos, mas temos de admitir que o que recebemos é muito pouco sig-
Tremoceira
nificativo”, assume Luís Gonçalves. “Os professores são pagos, e, para conseguirmos suportar o funcionamento da banda e das escolas de música, com toda a logística associada, em termos orçamentais são ainda valores elevados. Portanto todas estas actividades aqui desenvolvidas são genericamente deficitárias.
“Nós temos conseguido equilibrar as contas com muito esforço e também com uma mais-valia que tem vindo da gestão do nosso Parque de Campismo, na Costa da Caparica. E é isso que nos tem valido, porque sem o parque era impossível mantermos o nível das actividades de cariz cultural e desportivo e da filarmónica.” Neste ponto, o presidente reforça a importância dos parques de campismos da Costa da Caparica, “para muitas famílias que doutra forma não teriam hipótese de ter férias e de proporcionar férias aos seus familiares. Por outro lado, é reconhecido que os parques contribuíram fortemente para o desenvolvimento da Costa, com o movimento permanente gerado pelo campismo durante anos.”
Ao Serviço da Cultura, recreio e Desporto
A Banda Filarmónica foi o propósito da formação da coletividade, que, posteriormente, acabou por ir alargando a sua intervenção ao nível da formação específica das pessoas, que era uma necessidade muito sentida. Foi na SFUAP que funcionou a primeira escola primária da Cova da Piedade, onde se instruía não só crianças mas habitantes de todas as idades, numa altura em que o ensino público era praticamente inexistente. Esta escola funcionou até 1911, ano em que se construiu a Escola Primária António José Gomes.
Em 1947 foi criada a Biblioteca da SFUAP, que durante mais de 40 anos foi enriquecendo o seu espólio, parte do qual se viria a perder no incêndio que destruiu quase totalmente o edifício onde esta se encontrava. Ainda assim muitos livros foram salvos das chamas e a reconstituição da nova biblioteca não tardou. A paixão pelo teatro e a sua expressão cénica é quase tão antiga
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NOTÍCIAS DA GANDAIA | JULHO 2020 | REPORTAGEM estabilidade que conseguem reunir”.
A nova Cova da Piedade
como a própria coletividade. Já a chegada da actividade cinematográfica à SFUAP dá-se em 1943, no Teatro Garrett, que adaptou o palco para receber o grande ecrã. Em 1986, os filmes comerciais saíram de cena com a acumulação de prejuízos para a sociedade, mantendo-se apenas cinema com intuitos culturais.
Por outro lado, a SFUAP ampliou, desde cedo, a sua actuação para a vertente desportiva “onde tem uma evidência muito significativa a nível nacional, tendo tido inclusivamente atletas da SFUAP participação olímpica, quer na natação, quer na halterofilia”, enaltece o seu presidente, tendo aliás a única piscina associa-
tiva do concelho.
”No caso da Banda Filarmónica (que teve o seu último grande momento antes da pandemia no XVIII Concerto de Ano Novo, em Janeiro, no Fórum Romeu Correia), temos a sorte de ter connosco o maestro Carlos Ribeiro, há cerca de 19 anos, que foi maestro da Banda da Marinha e da Banda da Carris. Estamos muito satisfeitos com o reconhecimento que nos tem sido atribuído, o que provavelmente em parte se deve às suas duas escolas de música. A escola de formação musical, com modalidades mais clássicas como o piano, violino e guitarra, e ainda a escola de formação para a Banda Filarmónica, com os instrumentos
típicos, em que a grande parte dos alunos que a frequenta vai integrando a formação.
Se noutros tempos existiu algum tipo de rivalidade entre as coletividades do concelho, ou mesmo entre Almada e Cova da Piedade, com o tempo tudo isso se esbateu, como elogia o Presidente da SFUAP. “Actualmente temos excelentes relações e não sentimos nenhuma espécie de competitividade negativa. Sabemos que há espaço para todos. Há momentos em que conseguimos estar num patamar mais alto e num outro faz-se naturalmente a descida e a recuperação, depende também das condições que cada uma das coletividades tem e da
A Cova da Piedade tem vindo a sofrer várias alterações nos últimos anos, e nos dias que correm a Romeira, antigo bairro industrial, está a impulsionar uma nova dinâmica à freguesia. O presidente da SFUAP considera a mudança benéfica, “são um contributo importante para o lavar da cara desta zona da Cova da Piedade com características muito próprias e peculiares, que tendo uma zona com edifícios recentes, já aqui nas traseiras, ainda assim na generalidade caracteriza-se por prédios antigos e por uma certa desmobilização das pessoas, em que vários factores têm contribuído para tal.”
Luís Gonçalves acredita que estas obras “funcionam também como um marketing positivo” no sentido de levar particulares a recuperar prédios degradados. O presidente refere um aspecto curioso no que a mudanças diz respeito, “a experiência mostra-nos que acontece não poucas vezes, instituições que em determinado momento têm um conjunto de actividades que é significativa e relevante apesar de terem condições
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físicas deficitárias, quando conseguem adquirir condições magníficas, as actividades tendem a decair”. Ainda assim, salvaguarda que “obviamente pugnamos por melhorar as nossas condições, mas aqui a valia, quer na qualidade quer na quantidade das modalidades que praticamos na coletividade, tem estado em patamares muito superiores ao nível dos nossos espaços físicos. Temos a consciência que estes precisam de ser intervencionados, mas sem perderem a sua identidade.”
Identidade essa, que tem no seu ADN as danças de outrora. “Os bailes da SFUAP eram uma tradição forte que está ainda na memória de muita gente. No contexto actual não quer dizer que não possa haver espaço, pontualmente, para uma festa desta natureza, em jeito revivalista, mas jamais duma forma sistemática como ocorreu no passado”, admite.
A SFUAP, a julgar pelo 131º aniversário que aí vem, vai-se adaptando o melhor que pode a todas as solicitações da sua comunidade. Um dia a casa foi abaixo, mas logo se ergueu, é assim que fazem os resistentes. Também Fénix renasceu das próprias cinzas.
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ENTREVISTA | JULHO 2020 | NOTÍCIAS DA GANDAIA
COSTUME COLOSSAL Quando, há tempos, a vice-presidente da associação Costume Colossal interveio numa reunião pública da Câmara Municipal sobre a situação discriminatória que vivem os ciganos em Almada, foi como se um mistério se revelasse. O Notícias da Gandaia quis saber mais sobre esta comunidade.
ENTREVISTA A SUSANA SILVESTRE O que é ser cigano em Portugal?
Eu digo sempre: não existe uma comunidade cigana; existem comunidades ciganas. Como tudo na vida há factores que influenciam cada um de nós, como a educação e, quer queiramos quer não, factores socio-económicos. Por isso não existe uma comunidade. Eu, que não correspondo ao estereótipo, não estou fora do padrão, isto é, estou fora do padrão estereotipado, mas esse um factor que nos é externo e que foi atribuído por ignorância e preconceito. Como eu há mais, mas a verdade é que, para não serem descriminados no acesso ao trabalho ou à habitação, ou mesmo à educação, muitos ciganos são obrigados a esconder a identidade.
O que é a associação Costume Colossal?
Embora dirigida por mulheres a nossa associação é mista, mas gostamos de ter mulheres na direcção…
Porquê?
Porque as mulheres estão, cada vez mais, a ganhar poder. A ser empoderadas, como agora se diz. Mas uma das coisas que mais perguntam é realmente como é que nestas comunidades é a relação entre as mulheres e os homens, em
termos de poder, claro. E a verdade é que cada vez mais a mulher cigana está ao mesmo nível que as mulheres portuguesas. Estamos a emanciparmo-nos e não é por isso que perdemos os nossos valores. Não estamos a perder a qualidade de mães nem a qualidade de esposas nem a qualidade de filhas. Estamos a começar a tirar a cabeça fora de água e, nesse processo a começar a ver que há muitas mulheres ciganas com capacidades enormes. A mulher portuguesa cigana está, com algum atraso, é certo, a seguir o mesmo caminho que as mulheres portuguesas e noutras partes do mundo seguem já há algum tempo. É um caminho que se está a fazer.
E o que pensam disso os homens?
Como já disse não podemos generalizar. Cada pessoa é um indivíduo e, no meu caso, eu vejo os olhos dos meus avós brilharem quando me vêem falar, o meu pai apoia-me imenso, o meu marido igualmente. Há todo um suporte familiar que nos ajuda, e eu tenho esse suporte na minha casa e na minha família. Aliás, se não o tivesse não chegaria aonde cheguei. E isso acontece com muitas mais famílias. No caso de muitas jovens que estudaram e se formaram os pais foram o maior incentivo.
Mas, ainda assim, como os outros homens, é vulgar pensar no homem cigano como machista…
Durante muitos e muitos anos os homens eram o sustento da família. O homem é que ia à fábrica, o homem era quem negociava os lotes. As mulheres, nessa época, estavam mais em casa, cuidando dos filhos, o que tornava mais ou menos natural que fossem os homens a ditar as regras. É como aquele ditado: quem dá o pão, dá o ensino. Não posso, claro, generalizar, mas hoje as coisas são muito diferentes.
Voltemos à vossa associação. Como é que nasceu a Costume Colossal?
A associação, que tem sede no Feijó – embora seja de âmbito nacional e sempre aberta a colaborar com outras organizações do género –, nasceu da necessidade que nós tínhamos de nos fazer ouvir. E porque percebemos que ao criarmos uma estrutura como a nossa associação seríamos olhadas de forma diferente, de uma forma que nos dá maior influência. Se pedirmos uma reunião individualmente encontramos muitos obstáculos. Porém, enquanto estrutura surgimos como uma voz com mais força porque representamos também uma união, o que leva mais pessoas a ouvir-nos e a dialogar.
O vosso foco no entanto é a acção nesta área concreta que é o concelho de Almada?
Sim. Até por sermos uma associação recente, como pouco mais de ano e meio de existência, centramos a nossa actividade no que nos está mais perto e conhecemos melhor. Estamos, sem nos limitarmos, onde podemos ver e perceber melhor as necessidades destas comunidades ciganas. E é nesse sentido que temos trabalhado.
A intervenção da Susana na reunião da Câmara foi no sentido de melhorar a educação…
Exacto, porque a educação é a chave de tudo. É a chave para uma pessoa poder alcançar um trabalho melhor, uma habitação melhor e ter uma vida digna. Enquanto associação acreditamos ser a educação a chave de todas as coisas, e sabemos que enquanto comunidade cigana a educação não chega de forma igual. Nós sabemos que o método de ensino deve ser igual para toda a gente, mas temos também de entender, enquanto sociedade, que nem todos começam do zero. Alguns começam no menos um, e é para esses que nós temos de olhar primeiro, fazer com que esses cheguem ao mesmo patamar e, como todos os outros, possam acompanhar a matéria da mesma maneira. Foi por isso que me dirigi à Câmara, para contratar mediadores que acompanhem as crianças e colmatar essas diferenças.
A educação também é uma forma de massificação. Não receia que esse investimento na educação faça perder pelo menos algumas características próprias da comunidade?
A educação não é cultura. A educação é uma necessidade, enquanto a cultura vem de casa. Quando falo de educação falo de educação a nível literário e científico, porque ser cigano nasce connosco. Os meus filhos sabem que devem respeitar os mais velhos e reconhecem a importância dos mais velhos na nossa comunidade. Ser cigano não é um bicho-de-setecabeças. Não é estar sujeito a uma lei severa e imutável. Não se trata disso. É como ser português. Ser português, como nós também somos, vem com uma cultura.
Mas existem leis ciganas, como às vezes se houve dizer?
Fala-se por exemplo de leis ciganas, ou dos homens ciganos de leis – não sei se já ouviram essa ex-
pressão? –, coisa que não existe. Existem, sim, homens e mulheres, mais velhos, que tiveram uma vida sempre exemplar, que são pessoas íntegras e que quando acontece uma confusão entre uma comunidade e outra, ou mesmo dentro da família, são chamadas essas pessoas, que ouvem as diferentes versões dos acontecimentos que naquele caso concreto estão em causa, para tomarem uma decisão que, no fundo, é uma mediação entre as partes. Uma mediação que, no entanto, e isto é importante, está sempre sujeita à lei portuguesa.
Vamos falar um pouco sobre as acções que a associação tem levado a cabo…
O nosso primeiro evento, o ano passado, em Outubro, chamou-se Portugueses Ciganos, que decorreu na Praça S. João Baptista, em Almada, em parceria com o município. A ideia de fazer este evento ao ar livre foi o de chegar a todas as pessoas. O que deu resultado, pois sendo um local muito movimentado, muitas pessoas que à partida não tinham interesse no assunto, quanto mais não fosse pela curiosidade, por exemplo, de ouvir a nossa música e a nossa dança, puderam igualmente conhecer a história e a cultura ciganas, a gastronomia também, e isso permitiu-nos mostrar a diversidade que existe entre nós. Um exemplo, por ventura desconhecido da maioria, é a existência de uma música evangélica cigana. Não é só flamenco. Muito importantes, embora com uma dimensão mais pequena e mais dirigida, são também as acções educativas nas escolas.
Mas mais recentemente, já em tempo de pandemia, a Costume Colossal teve outra acção relevante que foi a distribuição de bens alimentares…
Sim. Em colaboração com a Fundação Calouste Gulbenkian, que deu apoio financeiro, fizemos pacotes com alguns produtos básicos, e também álcool em gel – que agora é um bem de primeira necessidade –, que foram distribuídos pelas comunidades ciganas. Mas se pessoas não ciganas nos tivessem chegado com pedidos seriam também, dentro das possibilidades, receptoras desse auxílio.
Mudando de assunto, para o aspecto mais geral que é do da
NOTÍCIAS DA GANDAIA | JULHO 2020 | ENTREVISTA
Achas que há maneira de ultrapassar isso?
Eu acho que através do diálogo, não através da guetização das comunidades ciganas. Quando vivemos todos juntos, ciganos e não ciganos, as pessoas dão-se a conhecer, aprendem umas com as outras a ser mais tolerantes. Com a guetização apenas se acentua a discriminação.
Ainda existem comunidades nómadas de ciganos ou é uma coisa, digamos, em extinção?
Ainda existem, sim, em Portugal principalmente no Algarve. Acontece que essas comunidades, às vezes, apenas uma família, são muitas vezes impedidas de pernoitar ou instalar-se num terreno durante alguns dias. E isso acontece
discriminação, a Susana acha que a maior parte dos portugueses são racistas? Acho que sim.
Pode dar-nos exemplos concretos?
Claro. Um exemplo é que quando vamos a um centro comercial, ou mesmo a uma loja de rua,
se for sozinha posso passar despercebida, mas se for com as minhas irmãs e com a minha mãe somos logo vistas como um grupo de ciganas. E o segurança deixa de assegurar a segurança do espaço e passa a fazer-nos segurança a nós, passa a andar atrás de nós, a controlar os nossos movimentos, porque o pensamento generalizado é
que os ciganos andam aí para fazer mal. Alugar uma casa, para dar outro exemplo, assim que sabem que somos ciganos, torna-se quase sempre um problema, que, por vezes, nem é criado pelos proprietários mas sim pelos inquilinos, que não querem ter vizinhos ciganos.
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por puro preconceito. Aliás, basta ouvir o André Ventura, que faz constantemente acusações infundadas contra a comunidade cigana, o que acaba por ampliar o mal-estar contra os ciganos.
Em termos de acção no terreno o que é que a associação pretende fazer nos próximos tempos?
Temos um projecto, que está aprovado e foi financiado pelo Alto Comissariado para as Migrações, Pontes sem Margem, no qual visamos aprofundar o problema da mediação, sobretudo nesta época difícil que estamos a viver, no sentido de integrar as crianças que estão, perante a escola, em situação mais desfavorável, e colmatar algumas diferenças que nascem da discriminação.
10 DESPORTO | JULHO 2020 | NOTÍCIAS DA GANDAIA
LIGA DECIDE DESCIDA E CLUBE RECORRE Cova da Piedade aguarda decisão do Tribunal Arbitral do Desporto de capital chinês, decidiu interpor recurso no Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Futebol e, posteriormente, no Tribunal Arbitral do Desporto (TAD), última instância desportiva.
A Liga de Clubes decidiu, em resultado do desconfinamento do COVID-19, que o campeonato da Liga Pro não tinha condições para ser concluído. Desta forma, a classificação final é a que se registava à 24ª jornada (altura em que a competição foi suspensa), pelo que descem o Cova da Piedade e Casa Pia (penúltimo e último) e sobem à Liga principal o Nacional e Farense (1º e 2º classificados, respectivamente).
A Liga de Clubes decidiu ainda atribuir cerca de 180 mil euros aos 14 clubes da II Liga (os clubes que sobem e as equipas B não são contempladas), por forma a compensar o facto destes não poderem realizar as 10 jornadas em falta para o termo da competição.
A decisão administrativa não foi de todo pacífica, sendo que o Cova da Piedade, treinado por João Alves e gerido por uma SAD
CRONOLOGIA
12 DE MARÇO Face à pandemia, a Liga de Clubes decide suspender todos as competições profissionais, com data de regresso indefinido.
28 DE ABRIL O primeiro-ministro António Costa reúne, em São Bento, com a Federação Portuguesa de Futebol, Liga de Clubes, Benfica, Sporting e FC Porto
Em virtude da decisão da Liga, o Cova da Piedade anunciou a saída da direcção da Liga de clubes, seguindo a decisão do Benfica, convidando Pedro Proença a demitir-se das suas funções. O clube do concelho de Almada fazia parte da direção do organismo juntamente com Benfica, Sporting, FC Porto, Tondela e Gil Vicente, da Primeira Liga, além de Mafra e Leixões, da Segunda.
Deste modo, o futuro do futebol do Cova da Piedade está em suspenso e nas “mãos” do TAD, que se deve pronunciar em breve sobre o processo. Contudo há várias questões que se colocam e, para as quais, não existe, por ora, resposta: caso o TAD mantenha a decisão da Liga de Clubes, será que a SAD chinesa se mantém no clube piedense, uma vez que a equipa disputará o Campeonato de Portugal (não profissional e organizado pelo FPF), não tendo, por consequência, um apoio financeiro substancial comparado com o da Liga? Irá o técnico João Alves manter-se no clube, uma vez que o seu contrato só termina na próxima época?
Ao que o Notícias da Gandaia apurou, a manutenção da SAD chinesa à frente dos destinos do clube é uma incógnita e os respon-
sáveis do Conselho de Administração mantêm-se em silêncio. Quanto a João Alves é certo que se a equipa descer, o treinador não irá continuar no projecto! Recorde-se que o Cova da Pie-
dade SAD tem quatro equipas em competição e, na eventualidade de se confirmar a descida, é provável que o organograma do futebol sénior do clube venha a sofrer profundas alterações.
30 DE ABRIL António Costa, após reunião com o Conselho de Ministros, anuncia que a II Liga não será concluída, por não ter condições para tal, uma das conclusões tiradas após a reunião com responsáveis da Liga, Federação Portuguesa de Futebol, FC Porto, Sporting e Benfica. "Ouvimos a Liga e a Federação e só na I Liga é que há condições de permitir a reabertura do campeonato, com base num protocolo que a Liga preparou", diz.
5 DE MAIO Direção da Liga, liderada por Pedro Proença, aprova conclusão definitiva da Segunda Liga devido à pandemia, promovendo Nacional e Farense à Primeira Liga e despromovendo Cova da Piedade e Casa Pia. 22 DE MAIO Cova da Piedade dá entrada com recurso no Conselho de Justiça (CJ) da Federação Portuguesa de Futebol (FPF)
3 DE JUNHO O CJ declara-se “incompetente” para apreciar o recurso do Cova da Piedade sobre o final antecipado da II Liga e remete o protesto dos piedenses para o Tribunal Arbitral do Desporto (TAD).
Horário: 08:00 - 20:00 Sábado: 08:00 - 13:00
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NOTÍCIAS DA GANDAIA | JULHO 2020 | DESPORTO embora nunca me ficassem a nada, mas ter os salários em dia e algo muito importante numa equipa e no seu staff.
ENTREVISTA JOÃO ALVES zona de despromoção?
Antes da pandemia, o treinador do Cova da Piedade deu uma entrevista ao Notícias da Gandaia. Foi provavelmente a última antes de eventualmente abandonar o clube, caso se confirme a descida de divisão.
João Alves, técnico de 67 anos, chegou ao Cova da Piedade em Janeiro para tentar evitar a descida do clube do concelho de Almada.
A missão não se apresentava fácil, pelo que o experiente e renomado treinador considerava (antes da suspensão do campeonato a 12 de Março) que em caso de manutenção seria o maior desafio da sua já longa carreira.
O que o levou a aceitar o convite para treinar o Cova da Piedade, sabendo-se que a equipa está em
A experiência na Académica (o seu último clube) foi muito boa, mas o “bichinho” do futebol continua cá dentro e quando me foi feito o convite para vir para o Cova da Piedade pensei muito, muito. Estive hesitante… Sabia que era um desafio complicado, talvez o mais complexo da minha carreira, caso consigamos a manutenção. Na Suíça consegui levar o Servette da III Divisão até à Liga Europa, o que também foi algo de muito positivo.
Já falou que o desafio em si, o grau de dificuldade desta “missão” foi algo que o levou a assumir a equipa. Houve também outros factores que o convenceram a vir?
As condições financeiras, ou seja, o facto de os salários serem pagos a tempo e horas é um aspecto que pesou. Já tive situações em que havia salários em atraso,
Que Cova da Piedade é que veio encontrar em termos estruturais?
Vim encontrar um clube que em termos teóricos estava estruturado, mas é necessário que essa estrutura funcione na prática. Noutra vertente, a nível de estruturas, temos de andar com a “casa às costas”. Não podemos treinar sempre no nosso campo. Aliás, quando cheguei até havia algumas restrições da Liga por causa do relvado. Esta não é, obviamente, uma situação satisfatória.
Em termos desportivos, o Cova da Piedade SAD conta com quatro equipas: Sub-19, sub-21, sub-23 e equipa principal… É verdade existem quatro equipas, sendo que já lancei alguns jovens dos sub-23 na equipa principal. Jogaram porque tinham valor para isso… Mas também é importante aproveitar o que há de valor no clube…
O Cova da Piedade tem a SAD (com
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investimento chinês) que gere o futebol e tem o clube. As relações por vezes não são as melhores. Sentiu isso?
Eu já tive oportunidade de conhecer o presidente do clube e só posso dizer que foi muito cordial comigo. Penso que todos devem remar para o mesmo lado, porque aqui o que está em causa e tem de ser sempre preservado é o nome da instituição.
Teme que o Cova da Piedade possa ser um Belenenses versão 2, onde a equipa da SAD não pode jogar no Restelo e o clube tem outra equipa?
O exemplo do Belenenses não é de todo agradável, infelizmente. E não gostaria de modo algum que o Cova da Piedade fosse essa segunda versão do Belenenses!
E se acontecer o pior e a equipa descer?
Cova da Piedade pertence ao concelho de Almada, que é enorme, e merece ter uma equipa na Liga profissional. Disso penso que não há dúvidas. Por tudo que nos envolve, o clube tem de estar na Liga profissional.
ALMADA AC DISPUTA REGRESSO À I DIVISÃO DE ANDEBOL O Almada Atlético Clube vai disputar, em Setembro, o regresso à I Divisão do Andebol, podendo colocar, novamente, a cidade na rota principal da modalidade. Para que tal se concretize, o clube terá de realizar uma liguilha (onde estão os clubes que terminaram as três zonas da fase regular da II Divisão Nacional no primeiro lugar), juntamente com o Póvoa Andebol Clube (Zona Norte) e a Sanjoanense (Zona Centro).
Esta forma de apurar as equipas que sobem foi decidida pela Federação de Andebol de Portugal, devido à pandemia, o que ob-
rigou a soluções diferentes das habituais. Caso os almadenses consigam a subida (são promovidos duas equipas) será um regresso ao cabo de quase três décadas (91/92).
Embora a data e o local deste apuramento ainda não estejam definidos (apenas se sabe que será no fim-de-semana que antecede o início do campeonato), o presidente do Almada Atlético Clube, João Vieira, revela-se optimista e entusiasmado: “É com satisfação que vamos disputar esta liguilha de acesso à I Divisão. É uma oportunidade única que pretendemos agarrar.”
Apesar desta ser uma época atípica (a equipa não compete desde Março) e o regresso aos treinos ainda não estar definido, o líder directivo dos almadenses admite que o plantel, orientado por António Santos, vai “sofrer reajustes em sectores onde é necessário, ou seja, vão ser feitas algumas contratações”.
No entanto, João Vieira garante que o investimento não será substancial, tanto “mais que o Almada é uma equipa amadora, ao contrário de um dos oponentes”. Assim sendo, será já com a equipa reforçada que os almadenses irão dis-
putar o regresso à I Divisão do Andebol.
O regresso à I Divisão tem obviamente custos. Daí, o clube ter começado uma campanha que passa por diversas iniciativas, como explica João Vieira: “Estamos a promover a adesão de novos sócios. Lançámos uma campanha de angariação de fundos e, no dia 23 de Junho, tivemos um concerto, no campo do Pragal, com Rodrigo Leão.”
Mas o apelo aos apoios municipais também não foi esquecido. João Vieira já enviou exposições
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para a Câmara Municipal de Almada, no sentido “de sensibilizar a autarquia sobre a importância de ter o clube na I Divisão, sendo que os jogos serão transmitidos na televisão.” O mesmo repto foi lançado a União de Freguesias Almada, Cacilhas, Pragal e Cova da Piedade.
12 NOTÍCIAS | JULHO 2020 | NOTÍCIAS DA GANDAIA demia e ficou impossibilitado de regressar. “Só pude apanhar o primeiro avião de repatriamento, já em maio.”
Segundo o proprietário, nada tinha sido avançado no processo até à realização de uma reunião em junho. “Agora queriam alugar”, desabafa. Perguntaram-me se podia pô-lo a funcionar este verão, mas como poderia dar?”
FOTO FERNANDO BARREIROS
Explica como antes de cada época se desenrola um trabalho de meses a limpar linhas, manter travessas, revisão de máquinas, rodados, numa manutenção muito rigorosa. “A segurança acima de tudo, claro.”
Relativamente ao pessoal, o proprietário afirma que a Câmara preferia comprar a empresa sem funcionários. “Não houve problemas. Cada um foi à sua vida, pelas suas próprias razões, uns por oportunidades no estrangeiro outros a reforma…”
O TRANSPRAIA PAROU No ano em que faria 60 anos, o Transpraia já não atravessa as praias da Costa da Caparica para Sul, até (quase) à Fonte da Telha. Já foi do centro da vila, agora cidade, até mesmo ao centro da Fonte da Telha
Com a saída do centro da Costa, o Transpraia perdeu visibilidade e viabilidade. O proprietário ameaçou vender, repetidamente.
Cabo Verde e Barcelona, foram dois dos destinos anunciados, mas nunca chegou a levantar o material.
Todos os anos o “comboiozinho”, como lhe chamou o Diário de Notícias na sua viagem inaugural, em 29 de junho de 1960, ligava a praia da Costa da Caparica à Fonte da Telha, num trajeto de cerca de nove quilómetros num percurso que compreende quatro estações e 15 apeadeiros.
Em 2012, perante mais um anúncio de venda, assanharam-se as “forças vivas” da terra, Gandaia incluída. Manifestações e debates, abaixo-assinados e exposições. O Transpraia estava nos corações dos residentes. O proprietário defendia que “só queria voltar ao centro”, acrescentava mesmo que pagaria a obra se o permitissem.
Joaquim Judas (CDU), então presidente da Câmara, aceitou a ideia e publicamente manifestou o seu desejo de trazer o Transpraia para o centro e até mais além. O presidente da Junta de Freguesia da Costa da Caparica, José Ricardo Martins, queria até à Trafaria. Mas ficou tudo na mesma.
O Transpraia são três as máquinas a diesel que puxam composições constituídas por quatro carruagens do tipo imperial, de acesso aberto pelos estribos laterais a sete bancos de quatro lugares corridos. Agulhas, uma laca giratória, necessária para as operações e, claro, carris e travessas, como todas as linhas de todos os comboios. Juntamente com o pessoal, necessariamente sazonal, compõem esta preciosidade.
ao som da Maria da Fonte, para incómodo das autoridades presentes, o Secretário Nacional de Informação e Turismo, Dr. Moreira Baptista, o governador civil de Setúbal.
Casimiro Pinto e Silva, pai dos atuais proprietários, foi o visionário capaz de tamanha empresa, trazendo às dunas da Caparica esta preciosidade turística que figurou em inúmeros filmes, jornais e revistas de incontáveis países.
Além da paisagem, o sistema Decauville, que este comboio usa, com 60 cm de bitola, torna-o uma raridade singular apreciada pelos amantes de comboios, mas não só.
Agora parou. Será este o destino final do Transpraia? Será que este vírus também mata comboios?
Vão longe os dias em que as suas viagens eram animadas por artistas como Paulo de Carvalho, Helena Isabel, Herman José, Vítor de Sousa que apareciam e cantavam.
“A Câmara Faltou à Palavra”
Também desapareceu a Banda dos Pescadores da Costa da Caparica, que inaugurou o Transpraia
António Pinto e Silva (APS), proprietário da Transpraia – Transportes Recreativos da Praia do Sol, Lda, prestou-se “a contar a história toda”.
“Como sabem”, começou, “a Câmara, no ano passado demonstrou interesse em adquirir o Trans-
“Decisão do Proprietário”, Diz a Câmara
praia. Houve negociações entre nós, proprietários e o Ecalma, dirigido pelo Eng. Dimas Pestana”.
Conforme o Notícias da Gandaia havia revelado no nº 8 da edição em papel, os proprietários pediram “Um milhão e 400 mil euros”, disse-nos nessa altura, mas não repetiu agora, adiantando então que a Câmara lhe tinha oferecido só 200 mil euros. Mas agora está no segredo das reuniões.
“Resumindo” continuou agora António Pinto e Silva, “no outono passado, houve de novo reuniões, mas desta vez com a presidente, Inês Medeiros, e o Vereador Miguel Salvado.
Na última reunião, em janeiro ou fevereiro, António Pinto e Silva não sabia precisar, ficou acordado que a Câmara comprava o Transpraia. O negócio foi fechado, mas não foi pago”. Depois, como faz todos os anos, foi “passar uma temporada a Cabo Verde, com o filho…” veio a pan-
Perante a versão do proprietário sobre o entendimento de aquisição pela CMA no outono passado, o Vereador Miguel Salvado confirma que “houve uma negociação entre a ECALMA / Wemob (em representação do Município) e os proprietários não tendo sido finalizada.”
Sobre os recentes desenvolvimentos e a paragem o Transpraia no verão de 2020, Miguel Salvado confirma também a reunião já em junho onde “foram debatidas várias opções visto que o proprietário tinha decidido não colocar o Transpraia ao serviço neste ano de 2020 e não tinham sido tomadas as necessárias ações de manutenção e
limpeza da linha para que o comboio pudesse circular este ano.”
Para já “a CMA está a analisar várias possibilidades de futuro para o Transpraia, mantendo o interesse que o comboio passe para a posse municipal e seja gerido num enquadramento de mobilidade integrada e do acesso às praias.”
NOTÍCIAS DA GANDAIA | JULHO 2020 | CRÓNICA
No lançamento de qualquer negócio, o inventor de qualquer coisa em que a gente possa gastar o nosso dinheiro, pergunta a si próprio: como é que eu ganho mais com isto? É vendendo o produto caro e fica vendido ou vendendo o produto barato e depois esmifrando o cliente na manutenção e nos consumíveis? Por outras palavras, o telemóvel é barato e as
chamadas são caras, a impressora é baratíssima e os cartuchos de tinta estão pela hora da morte, o computador é barato, mas a internet é cara e má. Ou serve para fazer paciências e tudo o que não precise de internet, ou trata-se de uma perversidade sem nome. Dar computadores sem pagar a rede é a mesma coisa que oferecer uma caninha de pesca e mandar o tipo pescar para o meio dos tubarões num bote a remos – a meter água. Não conheço quem não se queixe da qualidade da sua rede. Pode haver. Mas eu não conheço. E isto para não falar de altas moscambilhas dos mamutes do ramo das telecomunicações, das Vodafones, das Meos, das Noses. Conheço, sim, gente que ia tendo ataques cardíacos em discussões ao telefone com inocentes funcionários desses esquemas de esbulhanço, gente que se atira aos gasganetes dos marqueteiros e inocentes funcionários em desespero de causa. A rede não funciona, a rede cai, a rede desaparece, a rede nunca tem a ve-
num mercado liberalizado gerido pelo princípio da concorrência não só não há princípios como não há concorrência. É tudo mais ou menos igual, nos preços e nos serviços, e ninguém nos acode.
NÓS E A NOSSA ÉPOCA
Não tenho o hábito de ler programas de Governo, embora seja leitora costumeira de ficção. Digovos que o que lá está escrito em letras de ouro sobre azul é de uma beleza e de uma dignidade que estarrecem e comovem. É com lágrimas nos olhos que vejo lá pintado um leque de intenções nobres, uma panóplia de estratégias que prioratizam, que efectivizam e implementanzam os mais altos valores humanos. Irra, sim senhor, aquilo é que é um Estado. Ao serviço dos cidadãos, etc. etc. Nem sequer sabia que havia uma ministra da Modernização do Estado e da Administração Pública, mas há. Depois lembrei-me que o primeiro-ministro andou a distribuir outra vez computadores e lá está, no programa, dito pelo próprio em várias ocasiões: a transição para “o digital” é um imperativo categórico, a “protecção social na transição para a sociedade digital” outro imperativo, e isto “sem deixar ninguém para trás”. Todo e mundo e ninguém. É muita areia para uma camioneta só.
LUÍSA COSTA GOMES
Agora com esta nova oportunidade que a pandemia ofereceu ao Governo para avançar com “o digital”, aquilo que era óbvio torna-se doloroso. A desigualdade social, a desvalorização do trabalho, a falta de protecção. Quem trabalha em casa, no famoso teletrabalho, em princípio tem de pagar as despesas do trabalho e há aí muita conferência em zoom e muitas aulas em zoom que estão sempre a cair pela lentidão da rede. Se o marido está a trabalhar no computador, a senhora está em teletrabalho e os meninos na telescola, não há rede para todos, é preciso aumentar a capacidade, quem paga é o trabalhador. Ou então temos as conferências com quadradinhos de pessoas “freezadas” a fazerem boquinhas.
INTERNET LIVRE E GRATUITA PARA TODOS locidade que deve ter. Eles depois dizem, quando nós telefonamos pela quinquagésima vez: “não é 50 Mbps é ATÉ 50 Mbps”. Ah, é “até”, pago 35 euros e até posso ter a internet morta à chegada. Pagamos todos os meses para ter um serviço que às vezes dá outras vezes não e não se pode sair, fica-se preso lá dentro pelo menos dois anos. Com serviço, sem serviço, é o mesmo, paga e pronto. Toda a gente sabe isto. Mas resignamo-nos porque
Não é má ideia, por isso, que o
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que está em ideal dourado no programa do Governo comece a ser prioriticizado e efectivacionado e implementaricizado e o cidadão, em teletrabalho ou em teledesemprego, exija a Internet Livre e Gratuita para Todos e em Todo o Lado (nas casas particulares, como nos parques, nas praças, nas praias, nos transportes, etc.). Mas aqui a palavra “gratuito” não tem o sentido que lhe dão as companhias de telecomunicações actuais. “Gratuito” para, por exemplo, a NOS, significa que se paga a factura do pacote e depois se tem acesso “gratuito” aos serviços, como por exemplo, hotspots. Para a Vodafone, são “gratuitas” as chamadas dentro do pacote pago. Ou seja, para as companhias “gratuito” é o que foi pago e está dentro do serviço que se pagou. O que é, realmente, uma extensão curiosa do sentido. “Gratuito”, em Português e como não me canso de explicar, quer dizer que “não se paga”. É grátis. É à borliú. É de graça. É dado. Não há troca de dinheiros entre parceiros, não há contrapartidas. Não é grátis o wifi que implica ter de gramar anúncios. Não é de graça um serviço que se pagou. É mesmo o contrário de grátis. Mas tenho a convicção de que, no negócio que uma dessas indiferentes companhias de telecomunicações vier a fazer com o Estado ou com os municípios, hãode encontrar um esquema para nos fazerem pagar as redes grátis. É cá um palpite que eu tenho.
CAFÉ QUEIMADO redutora demonstração.
JOÃO XAVIER
Chego à esplanada do café habitual. E peço, tanto ao Deus (em que não confio) como à estimável empregada, que o café não venha queimado. Executo uma dissimulada varredura social à esplanada na procura de cinzeiro, e sentome.
Ultimamente ando cansado e dou prova disso sentando-me de forma exausta e estapafúrdia. Sinto que andamos todos um pouco a precisar de férias.
Há uma histeria omnipresente, e como tal há uma necessidade de afirmação dum estoicismo reprimido. É normal, e transversal a
todas as gerações. Queremos todos ser os nossos próprios heróis. Tomar a decisão certa. Dar o conselho sábio. Ser confiança e segurança. Ter perspectivas apaixonadas sobre o rumo do mundo.
E depois claro, apanhamos alguém que percepcionamos em presunção estar pior que nós, e descarregamos todo um entulho de ideias.
"Se as escolas não abrirem quero ver como vai ser! Ai quero quero!..." oiço, determinado locutor anónimo, a debitar à estimável empregada. E prossegue com uma
típica opinião radical, em que expõe o que faria na possibilidade de ser governante.
É aborrecido e maravilhoso em simultâneo. É isso que sinto. Aborrece-me a ideia, o tom vagamente revolucionário na voz, e a forma como o anónimo locutor se sente único ao debitar o agoiro. Por outro lado, é rico. Há definitivamente ali uma qualquer sumarência para a interpretação. É como uma equação complicada em que o resultado é zero. Entendo perceber que inúmeras variáveis complexas se anulam até à
E é nessa demonstração que mergulho. Assim, de cabeça, penso em: sensacionalismo (incrível como tanta gente pensa que se inventou isso com as redes sociais), elitismo crítico ("quem tiver mais livros na estante atrás de si quando for à televisão, ganha" estabelece o puto gordo ao dirigir-se para a baliza), modas ("o que vais vestir hoje? A camisola da H&M... é a que me fica melhor quando vou partir estátuas" diz uma jovem antes mesmo de ir influenciar outras jovens com uma óptima selfie), radicalismo ("se te faz sentir bem, faz sentido" enaltece o chefe-conselheiro ao inspirar o neo-déspota mundial), empatiainduzida ("não vou comer a côdea da pizza, queres?")... São efectivamente muitas variáveis. É uma pena na escola terem-me formatado tanto para perceber o binómio de Newton, e tão pouco para
perceber a pulsão humana. Quero acreditar que com tempo até seria capaz de fazer a demonstração, da mesma forma que queremos sempre acreditar que é fácil montar móveis do IKEA. Enfim.
Todo este mergulho leva-me a sentir a pressão da profundidade. Ao voltar à superfície dou por mim na decadência de ter fumado o cigarro sem ter, com laivos de intelectual noir, batido a cinza do mesmo. Algures uma nuvem com a cara do Albert Camus deixa cair umas gotinhas de descontentamento.
Chega finalmente o café, com um "desculpe-me a demora, mas parece que agora toda a gente tem ideias..." da parte da estimável empregada incriminando o locutor anónimo.
"Não tem problema" digo sorrindo afavelmente, enquanto inicio o bebericar do café queimado.
14 CULTURA | JULHO 2020 | NOTÍCIAS DA GANDAIA
PORTUGUÊS DOMINA FESTIVAL DE ALMADA Contra ventos e marés e pandemias, o Festival de Almada abriu portas no dia 3, para se prolongar até 26 de Julho, desta vez, a 37ª, com uma programação “quase exclusivamente portuguesa” em virtude das circunstâncias vividas nos últimos meses, tendo, no entanto, sido possível incluir no cartaz três produções internacionais.
dução do escritor brasileiro Carlos Drummond de Andrade, é uma obra em que o autor francês prestou homenagem à commedia dell’arte, centrando a acção em Scapin, que, assim, se inscreve “na vasta galeria de criados astuciosos da literatura europeia. O papel de Scapin é um dos mais cobiçados da dramaturgia francesa, tendo já sido interpretado por actores como Jean-Louis Barrault.”
Sem espectáculos ao ar livre e com a lotação reduzida a metade, o maior festival de teatro em Portugal está distribuído por seis salas em Almada e uma em Lisboa, todas com lugares marcados e obrigatoriedade de uso de máscara pelos espectadores, sendo, em simultâneo, o acontecimento
© JOSE CALDEIRA
Bruscamente no Verão Passado, de Tennessee Williams, com encenação de Carlos Avilez para o Teatro Experimental de Cascais, foi a peça de abertura do festival, logo a seguir ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, se juntar à homenagem ao actor Rui Mendes, a quem atribuiu a Ordem de Mérito.
que marca o regresso aos palcos da criação teatral portuguesa recente depois de quase quatro meses de paragem forçada.
Em cena, nos 17 espectáculos programados, três dos quais em estreia, estão a “juventude, a se-
xualidade, a herança colonial, a gentrificação, a violência de género, a opacidade do mundo financeiro, a intolerância religiosa, o crescimento do populismo e a importância da memória literária.”
A Comuna – Teatro de Pesquisa é a responsável por outra estreia de uma peça nesta edição. As Artimanhas de Scapin, de Molière, com encenação de João Mota e tra-
Cabe à Companhia de Teatro do Algarve a responsabilidade pela terceira estreia do Festival de Almada, com Instruções para Abolir o Natal, da autoria do dramaturgo canadiano Michael Mackenzie e encenação de Isabel Pereira dos Santos, a peça, estreada em Montreal, em 2011, “aborda os efeitos da crise financeira de 2008 na sequência da falência do banco norte-americano Lehman Brothers, tendo sido posteriormente reescrita pelo autor para incluir os efeitos do Brexit na economia europeia.”
Programação completa em www.ctalmada.pt
SEMENTES EM ANO DE BODAS DE PRATA A Mostra Internacional de Artes para o Pequeno Público, isto é, o Festival Sementes tem início marcado para 24 de Julho e final anunciado para 2 de Agosto, apesar de, nestes tempos de pandemia, ter estado à beira do cancelamento.
A 25ª edição, afiança a organização, decorrerá “garantindo toda a segurança do público, artistas e técnicos”, tendo como palcos o Museu da Cidade, em Almada, ao ar livre, e em outras praças e espaços públicos do Laranjeiro e Feijó, e nos municípios da Moita e Montemor-o-Novo, mantendo o seu carácter internacional com a apre-
sentação de duas companhias vindas de Espanha e de Itália, mas também realçando a produção nacional com a participação de oito companhias de Almada, Lisboa, Loulé, Sintra, Matosinhos e Leiria em espectáculos de dança, circo, multidisciplinares, teatro, marionetas, música e palhaços.
Para assinalar os 25 anos desta iniciativa, o festival volta “ao debate e à conversa”, desta vez com António Ângelo Vasconcelos, licenciado em ciências musicais e doutorado em Educação, que se dedicará ao tema: As artes, as crianças e a democracia: 25 anos do Festival Sementes.
Esta mostra internacional de artes dedicada à infância, juventude e público familiar, tem o seu auge na comemoração do Dia Mundial da Criança, 1 de Junho, privilegiando o teatro, mas apresentando também espectáculos de música, circo, dança, marionetas e artes de rua, alguns deles premiados internacionalmente. O evento desenvolvido maioritariamente em Almada, sede do Teatro Extremo, inclui ainda actividades para para bebés, crianças a partir dos 6 anos, jovens a partir dos 12 anos e público familiar, apostando “numa programação eclética a nível de áreas artísticas, linhas
estéticas e níveis de leitura por forma a alcançar todos os públicos independentemente de hábitos de fruição artística, formação académica e estrato socio-económico, numa perspectiva de desenvolvimento de audiências”, que se estende em actividades complementares, como “diversas oficinas artísticas, jogos, exposições e encontros de reflexão teórica.” Entre os espectáculos anunciados destaca-se a equilibrista, pallhaço e bailarina, Xandra Gutiérrez, uma artista “apaixonada pelo mimo e a manipulação de objectos.” Fernando Mota, que desde 2010 “tem vindo a criar uma
série de espectáculos desenvolvendo uma linguagem cénica multidisciplinar e universal, juntando o teatro, a música, a poesia e as artes visuais”, apresenta o seu universo musical como resultado do cruzamento de diversas linguagens, geografias e ferramentas, como o estudo de instrumentos tradicionais de várias culturas, em MAPA, um projecto que engloba duas versões do mesmo espetáculo, Estórias de Mundos Distantes, dedicado o público adulto, e, para os mais pequenos, Contos e Cantos, ambos tendo na sua génese “a pesquisa de histórias de resistência e evasão em países e
NOTÍCIAS DA GANDAIA | JULHO 2020 | CULTURA uma bailarina encontra, pela dança, a criança contando como foi sonhada.”
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territórios em guerra, com especial foco nos universos feminino e infantil, criado a partir de textos originais, de poesia oral de mulheres afegãs, de músicas e sonoridades de várias culturas de África e do Médio Oriente e de outros materiais plásticos e audiovisuais, onde “procura fazer uma reflexão sobre os conceitos de território e fronteira, de pertença e de liberdade.”
A partir do conto tradicional trabalha Francisco de Assis, criando uma peça “onde dois frades aproveitam para relatar passagens divertidas da vida” do autor, que funcionam como autênticos “entremezes no conto tradicional Sopa da Pedra”, construindo marionetas à vista de todos com os materiais ou objectos que encontram no local, que tanto podem ser sapatos ou um jornal. Criada em 2013 por Rita Pelusio e três músicas e comediantes, a pianista Franca Pampaloni, a flautista Nicanor Cancellieri e a soprano Silvia Laniado, esta formação põe em palco “uma senhora idosa, com um passado glorioso como artista de música clássica”, que actua em teatros à volta do mundo com o seu sobrinho, um promissor flautista, “dando concertos espectaculares como um trio... mas quem é
o terceiro artista?” Nada menos que Norma, “cuidadora da velha tia... e é por isso que o duo – cativado pela paixão por ópera que a rapariga tem – vai ter que mudar o seu reportório”, no qual árias famosas de ópera “serão tocadas de forma extraordinariamente divertida e extravagante, com o acompanhamento do piano, flauta e os objectos sem conta que Norma decidirá tocar” num espectáculo que é uma “brincadeira de palhaços, uma comédia cheia de divertimento e actuações virtuosas de música clássica e moderna, com piadas rápidas e efeitos rítmicos de arrepiar.”
Com direcção artística de Manuel Tur, texto de Regina Guimarães, e interpretação de Sara Silva, pode ainda ver-se esta coreografia onde, como escreve a autora do texto, as “bailarinas foram crianças. Cresceram para a dança obrigando o corpo e a cabeça a caberem dentro de um certo molde. O que é que se perde ou se alcança quando se realiza um sonho de dança? Perguntando-se quem sonha a criança que dança,
dobramento da personalidade do autor: o adulto Exupéry”, que, um ano depois, desapareceria quando pilotava o seu avião sobre o Mediterrâneo, “e o rapaz que ele foi, a criatura natural, ainda não corrompida pelo mundo, logo, mais próxima do ser e da sua essência.” Fernando Mota, por sua vez, apresenta Hárvore, espectáculo que “marca o início de uma pesquisa à volta de objectos sonoros e instrumentos musicais experimentais criados a partir de árvores e outros materiais naturais.” E, não esquecer também, no dia seguinte, a apresentação da companhia A Banda às Riscas, grupo musical de animação de eventos, nascido na cidade do Porto, que, há duas décadas tem vindo a animar todo o tipo de eventos em Portugal continental e ilhas e também em Espanha, Suíça, Suécia, Bharain e França “espalhando risos e boa disposição por onde quer que passa”, com a intenção de despertar, na sociedade em que vivemos, o lado mais simples da vida: o sorriso!”
Programa disponível em https://www.teatroextremo.com/sementes/
CENTRO COMERCIAL “O PESCADOR”
JÁ EM DISTRIBUIÇÃO
À beira do encerramento, no dia 1 de Agosto, é dia de ver, por exemplo, a companhia de Leiria O Nariz, que põe em cena O Principezinho, o livro de Antoine de Saint-Exupéry, no qual “um aviador, perdido no deserto, encontra um rapazinho que vem de um distante asteróide, onde vive sozinho com uma única rosa. “Trata-se, antes de mais, do encontro de duas solidões, correspondentes ao des-
EXTREMO REGRESSA COM ASSEMBLEIA
O Teatro Extremo volta à acção, já na próxima sexta-feira, dia 17, com a peça Assembleia, uma criação colectiva com dramaturgia de Sarah Adamopoulos e encenação e direcção de actores de Joana Sabala.
Em cena estarão Afonso Pinto, Alexandra Pereira, Ana Clemente, Carolina Vargas, Cristiana Francisco, Hélder Silva, Íris Pitacas, João Monteiro, Maria Inês Brás, Mariana Semedo e Madalena Raimundo para apresentar esta peça com desenho e operação de luz de Tasso Adamopoulos, elementos cenográficos de Maria Inês Brás e figurinos de Cristiana Francisco.
Nesta encenação, “um grupo reúne-se para apresentar e deliberar sobre diversos assuntos particulares sem aparente interesse público”, lê-se na apresentação, que explicita: “De problemas existenciais a questões familiares, de temas do foro íntimo amoroso a outros de índole menos pessoal, de equações ontológicas a dilemas financeiros, nesta assembleia cabem todas as lamentações, reclamações, dissertações, protestos, anúncios, desabafos, notas de intenção políticas, pequenas performances de trazer por casa, manifestos, denúncias” e ainda “programas particulares de melhoramento do estado do Mundo.”
O seu pequeno GRANDE centro!
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