3.ª edição - Jornal Notícias da Gandaia

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Notícias da www.gandaia.pt

Registo n.º 126448 na ERC

CONCELHO DE ALMADA

Julho 2018 — Ano 1 — N.º 3 — Diretor: Ricardo Salomão

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

16 - 19 AGOSTO

+ 33 ARTISTAS

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4 PALCOS

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ARTE URBANA

REPORTAGEM Alentejo em Almada

p. 11 a 14

A Incrível Filarmónica

INÊS DE MEDEIROS

A PRIORIDADE É COMEÇAR... Entrevista exclusiva p. 7, 8, 9 e 10

A opção mais saudável ...para as suas compras!

p. 4 e 5

CRÓNICA NÓS E A NOSSA ÉPOCA de Luísa Costa Gomes p. 6

A FRESCURA QUE SE SENTE!

Rua Jorge Gomes Vieira, 15 A – Santo António – Costa da Caparica

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NOTÍCIAS | JULHO 2018 Notícias da Gandaia

FESTIVAL DE ALMADA

MARATONA DE TEATRO

ultrapassadas as dificuldades que a redução do financiamento por parte do ministério da Cultura criou, o maior e mais internacional festival de teatro português abre portas no dia 4 de Julho (para encerrar 14 dias depois) com a apresentação de Apre – Melodrama Burlesco.

a peça de Pierre guillois, que recebeu o prémio do público na edição de 2017, é o primeiro de dezenas de espectáculos (que além do teatro incluem dança, música e artes plásticas) agendados para a 35ª edição do Festival de almada. um dia depois é a vez da estreia da primeira peça portuguesa em cartaz, Nada de Mim, de Pedro Jordão a partir de arne lygre, prosseguindo a representação nacional com a reposição de Lulu, de Frank Wedekind, com encenação de nuno Cardoso. Colónia Penal, texto inacabado de Jean genet encenado por antónio Pires, Carmen, homenagem à actriz Carmen Dolores com dramaturgia e encenação de Diogo infante, e a nova criação de elmano sancho, A Última Estação, assim como a reposição de Bonecos de Luz pela Companhia de teatro de almada, com encenação de rodrigo Francisco, completam a representação nacional no certame.

mas há mais, especialmente quando se percorre a lista de espectáculos internacionais marcados para a edição 2018 do Festival de almada, onde se devem destacar obras como Kalakuta Republik, um espectáculo com conceito e coreografia de serge aimé Coulibaly, vindo do burkina Faso e inspirado na vida do compositor e activista nigeriano Fela Kuti, falecido em 1997. outras peças dignas de realce são Final do Amor, pelo mini teater da eslovénia, regresso do encenador croata ivica buljan a almada; Arizona, produção mexicana com encenação de ignacio garcia (o mesmo que o ano passado dirigiu História do Cerco de Lisboa, de José saramago, para a Cta); A Reunificação das Duas Coreias, texto que Joël Pommerat trouxe ao certame em 2014 e este ano é apresentado pela companhia croata teatro gavella com encenação do italiano Paolo magelli; ou O Quarto de Isabella, encenação de Jan lauwers para a companhia belga needcompany com interpretação da veterana Viviane De muynck, são mais alguns dos espectáculos a não perder. Como a não perder é o regresso do criador e actor italiano Pippo Delbono, desta vez com Alegria, ou a nova produção de emmanuel Demarcymota, Estado de Sítio.

Programa completo em

https://ctalmada.pt/35-festival-de-almada/

ALBERTO CHAÍÇA

CAMPEÃO DE ALMADA O Notícias da Gandaia esteve à conversa com Alberto Chaíça sobre a sua belíssima carreira. Para os mais novos, Alberto Chaiça foi o último grande atleta masculino de meio fundo e fundo da geração de ouro do atletismo Português e tem Carlos Lopes como ídolo e referência.

Começou no atletismo com 8/9 anos, como iniciado, só pelo divertimento e sem qualquer influência ou interferência familiar. A primeira competição de que guarda recordação é o Troféu Cidade de Almada, teria os seus 13 anos. A treinar a sério só começou já em sénior. Competiu em todas as provas oficiais do fundo e meio-fundo, dos 800 aos 10 mil metros, em pista. Nos 20 quilómetros, na meia-maratona e na maratona em estrada e, também, no corta mato. Foi na maratona, a sua prova de eleição, que as suas capacidades de atleta extraordinário mais se revelaram.

Ao longo da sua carreira, representou o Sport União Caparica, Sport Almada e Figueirinhas, Grupo Desportivo e Cultural de Almada, Beira-Mar Atlético Clube de Almada, Maratona Clube de Portugal e o Clube Conforlimpa, onde terminou a sua carreira na alta competição. Em 1997 chegou à selecção nacional e venceu colectivamente a Taça dos campeões Europeus de Estrada, feito que repetiria em 98 e 99, ano em que somou à vitória colectiva a vitória individual. Em 2000, recebeu a Medalha de Ouro de Mérito Desportivo da

Câmara Municipal de Almada.

Em 2003 venceu colectivamente o Campeonato da Europa de Meia Maratona, tendo individualmente obtido o 2º lugar. Como pontos altos da sua carreira destaca o 4º lugar na Maratona dos Campeonatos Mundiais de 2003, realizados em Paris onde obteve o seu recorde pessoal de 2h 09’25”, o terceiro lugar colectivo nos mundiais de corta mato de 1999 (foi a última vez que uma selecção Europeia obteve um lugar no pódio) e o 8º lugar na prova da maratona nos jogos Olímpicos de Atenas de 2004 – sendo o 2º melhor atleta masculino Português de sempre na prova de maratona nos jogos Olímpicos, a seguir à medalha de ouro do Carlos Lopes. Detém recordes pessoais de grande valia, nomeadamente: 1500 metros - 3’41”68; 3000 - 7’54”32; 5000 - 13’41”07; 10000 - 28’06”14; 20 quilómetros - 58’11”00; Meia

Maratona - 1h 02’02” e Maratona 2h 09’25”.

Das muitas situações caricatas por que passou durante a sua carreira, recorda um dos primeiros treinos com o seu treinador de sempre Américo Brito, quando questionado por ele, não soube responder qual era o comprimento da pista… sabia que era grande, mas o comprimento exacto não. Vê o futuro do meio-fundo e fundo nacionais com alguma inquietação e culpa os actuais dirigentes federativos pela falta de apoio e incentivo a jovens atletas.

Afastado da alta competição, continua a correr com os amigos só pelo prazer do desporto tendo corrido em finais de Abril a Milha Alberto Chaíça.

A sua actividade profissional actual é a fisioterapia na clínica de que é proprietário, na Charneca da Caparica, e que ostenta o seu nome. | Abel Pinto

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Diretor: Ricardo Salomão – eDitor: Rui Monteiro – reDação: Andreia Gama – Direção De arte: Ausenda Coutinho ColaboraDores: Abel Pinto, António Zuzarte, Francisco Silva e Elizabete Gonçalves (Centro de Arqueologia de Almada), Jorge Gonçalves, Jorge Rocha, Luísa Costa Gomes, Reinaldo Ribeiro, Victor Reis e Olho de Lince. DePartamento ComerCial: Ausenda Coutinho – comercial@gandaia.info – Tlm: 968 050 744

JORNAL NOTÍCIAS DA GANDAIA – Registo n.º 126448 na ERC. – ProPrieDaDe: Associação Gandaia – Praça da Liberdade, 17-A, 1º andar – Centro Comercial “O Pescador” – 2825-355 Costa da Caparica – NIPC: 151022169 – seCretaria: Rua Vitorino José da Silva, 18 – 2825-421 Costa de Caparica – Horário: 10:30 às 12:30 (exceto quartas-feiras: 16:00 – 19:00) – Tlm. 939 903 320 – Tel. 212 903 046 – noticias@gandaia.info – www.gandaia.pt – PubliCiDaDe: comercial@gandaia.info – Tlm: 968 050 744 – PerioDiCiDaDe: Trimestral – tiragem: 8.000 – imPressão: Gráfica Funchalense – Rua Capela Nª Srª da Conceição, nº 50 Morelena – 2715-029 Pêro Pinheiro – DePósito legal: 436220/18 – Distribuição: Gratuita


Notícias da Gandaia JULHO 2018 | EDITORIAL

|Ricardo Salomão Temos ouvido falar frequentemente na pós-verdade, mas muitas vezes sem cuidar do seu verdadeiro significado.

Pós-verdade, escolhida pelo Oxford Dictionaries como palavra do ano em 2016, significa a opinião pública dar mais importância aos apelos emocionais e às crenças subjetivas do que aos factos objetivos. Há uma estratégia política de pós-verdade, baseada no populismo, aqui com este sentido preciso.

O Brexit e a eleição de Donald Trump são frequentemente apon-

CONDENADOS À PÓS-VERDADE?

tenções com que foi difundida. A mentira é o calcanhar de Aquiles da pós-verdade.

tadas como exemplos desta estratégia política.

Não. Há soluções sim, mas não há antídotos mágicos e instantâneos. Temos de ir à luta, batalha a batalha.

Onde havia uma vontade de conhecer os factos e até de conhecer diferentes posições, parece agora que se procura a confirmação das suas opiniões. As grandes plataformas sociais da Internet (Facebook, Twiter, etc.) têm fomentado esta tendência. Aliás, o Facebook de forma muito ativa, alterando o seu algoritmo para aumentar o alcance de mensagens de amigos e familiares, diminuindo o de sites noticiosos, favorecendo a repli-

cação de falsas notícias.

Evidentemente, são os jornais – o jornalismo – quem está em causa, o jornalismo que verifica factos e garante o princípio do contraditório. E a democracia, tal como a entendemos, claro. O princípio do cidadão livre que toma decisões informadas com base em factos.

Podemos concordar que a verdade pode ter características relativas, mas mentira é mentira. Objetivamente, é fácil confirmar que uma afirmação é falsa e que objetivamente são falsas as in-

Mesmo assim, o problema é que muitos dão atenção ao boato e poucos ao desmentido…

Não há forma de evitar isto? Temos de suportar este horror por uma geração ou duas?

A primeira solução é assinar e ler jornais, apoiar o jornalismo. Ninguém é perfeito e erros são cometidos, mas não se pode confundir a árvore com a floresta.

mílias temos. Pessoas que, como nós próprios, têm contradições e anacronismos.

Finalmente, e uma vez mais, conversar com todos à nossa volta. Criar e consolidar os laços das comunidades. Acolher (não é concordar) as opiniões de outros, apresentar as nossas. Esta é uma batalha que se ganha com palavras e sentimentos, pessoa a pessoa. É preciso desmascarar a simplicidade. Vivemos num mundo complexo. A diversidade não é um problema, é uma riqueza. |

A segunda é pensar nas pessoas. Evitar a generalização rápida. Há pessoas objetivas em todas as situações, pessoas com famílias com os mesmos desejos básicos que nós e as nossas fa-

Escritório: 212946190 Telemóvel: 913059533 E-mail : geral@xandite.com

Qualidade e Tradição Praça da Liberdade, n.º 2 2825-370 Costa de Caparica Telefone: 21 290 0016

Praça do MFA, n.º 12 - A 2800-171 Almada Telefone: 21 275 4830 Escritório: 21 276 5988

O MAR MUDA-NOS TODOS OS DIAS

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REPORTAGEM | JULHO 2018 Notícias da Gandaia

ção entre os mais experimentes nestas andanças e os entusiastas mais recentes é essencial, e cabe aos primeiros integrar, até corrigir e ensinar.

A INCRÍVEL BANDA FILARMÓNICA coro polifónico e acolhemos um

Fundada em Outubro de 1848, a Sociedade Filarmónica circo aéreo que participou no Got Talent, elogia Mara Martins. Incrível Almadense, foi das primeiras sociedades populares musicais do país e é a mais antiga do concelho Banda Filarmónica e Escola de Música de Almada. Situada na Rua Capitão Leitão, perto da an- A Banda Filarmónica Incrível Almadense, motivo que hoje nos traz tiga Câmara Municipal, é um ex-libris da cidade. cá, esteve na origem na criação da

C

om a Banda Filarmónica Incrível Almadense a tocar na sala onde ensaia todas as segundas-feiras às nove da noite, o Notícias da Gandaia foi descobrir como a tradição sobrevive há 170 anos e este espaço continua a respirar vida. A verdade é que no decorrer

da sua longa história, a Incrível viu inúmeras vezes reconhecido o seu trabalho em prol da cultura através de várias condecorações. O ensaio de hoje não começa sem Mara Martins, presidente da Sociedade Filarmónica Incrível Almadense, felicitar a banda filarmónica pelo seu desempenho no desfile do 25 de Abril. Natural de Loures, vive em Almada há quase seis dos seus 37 anos de vida e assumiu a presidência no início de 2017, embora já tivesse integrado a direcção anterior.

Cultura local

A presidente considera a Sociedade Filarmónica Incrível Almadense “de extrema importância na divulgação cultural do concelho, devido ao carácter social que as nossas coletividades desempenham”. E explica as razões, “ensinamos música, teatro, fazemos cultura quase a custo zero, e as nossas mensalidades na escola de música não são muito altas, comparando a outro tipo de escolas. Actuamos em bibliotecas, em lares, já estivemos em diversas entidades hospitalares e isto não é só trabalho de carácter social, mas também promover a cultura num país que a coloca abaixo de zero”. Apesar desta perspectiva, admite que “felizmente para o público e para a população, nós podemos constatar que está a 100 por cento porque eles aderem aos espetáculos da comunidade em geral”.

Nesta sociedade com mais de mil sócios, as actividades culturais não se esgotam, “para além da banda filarmónica e da escola de música, temos a oficina de teatro para jovens, o grupo de cavaquinhos, o

Incrível Almadense, como aconteceu com tantas outras sociedades na altura da sua criação.

Jorge Camacho é o maestro desta banda, que conta actualmente com cerca de 20 elementos, na sua maioria masculinos, que variam entre os oito e os 70 anos, “até há bem pouco tempo até aos 90”.

Embora o seu percurso musical tenha começado cedo, aqui mesmo, na Incrível Almadense, Jorge Camacho chega após a regência de 26 maestros, e só pegou na batuta para dar música a este espaço há cerca de quatro meses. “Eu aprendi música nesta banda e para mim é muito especial voltar a casa, passados 30 anos”. A oportunidade surgiu quando o maestro anterior saiu e a Direcção da Sociedade convidou Jorge, pelo seu historial na casa e pelo seu percurso, que ficou “deliciado com o convite”. De um maestro de banda filarmónica exige “qualidade artística acima de tudo, seja um contexto amador ou não, que é onde nós vamos ganhar mais respeito, e também algumas capacidades de liderança”. No contexto da banda, a intera-

Considera como mais valias de integrar uma banda como a da Incrível Almadense, “o falar a mesma linguagem, a interação, lutar pelo mesmo objectivo, a união. Acho que para um jovem a formação numa banda é essencial, e se for em meios sociais mais complicados, ainda se torna mais evidente”. A presidente Mara Martins, por sua vez, acrescenta, “acima de tudo é também entrar para a história da Incrível”.

Jorge Camacho também é director pedagógico da escola de música, que pretende formar novos talentos. Explica como se processa esta aprendizagem: “com um programa que prevê dois anos de ensino, sempre em contexto de orquestra de formação, com banda juvenil, em que desenvolvem as capacidades técnicas e artísticas para que se preparem para ingressar a banda filarmónica, que terá outro nível”. Os instrumentos tocados vão desde os sopros à percussão. Segundo a presidente, “com uma entrada de 17 novos alunos no ano passado, tem-se verificado um crescente número de alunos na escola de música, e espera-se que com este novo método entrem mais”.

O ensino surgiu naturalmente no percurso de Jorge Camacho, que admite que “em Portugal é muito comum os músicos também terem uma carreira de docente”. Desde há 20 anos que vem somando muitas experiências, quer a nível de ensino superior, conservatórios, escolas profissionais. Vê na motivação o principal desafio e reconhece que quanto mais cedo se começa a aprender um instrumento mais facilidade se tem. Uma das suas incursões musicais é o projecto Orquestra Jovem Municipal Geração de Lisboa, que aplica o “método do El Sistema venezuelano, um modelo de ensino de música muito conceituado, que mais tarde foi estendido a toda a Europa, com início em Portugal”.

A música de batuta na mão

Jorge Camacho, natural de Lisboa, cresceu na zona de Almada Velha. Contudo não foi a paixão da música que o levou à carreira que tem hoje. Às vezes o destino escreve certo por atalhos tortos. “Não foi a música de todo, foram mesmo os bilhetes de cinema”, recorda, acrescentando que na altura


Notícias da Gandaia JULHO 2018 | CRÓNICA

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ECOS DA VIDA

U

dos seus 10 anos a Incrível Almadense tinha uma campanha em que as crianças que viessem aprender música, não pagavam o bilhete para as matinés de cinema, e admite que “realmente foi isso que me chamou a atenção”.

Desde 2006 que Jorge é clarinetista solista na Orquestra Metropolitana de Lisboa, no entanto, também este instrumento foi um acaso, “na altura era o instrumento que havia disponível, ou que havia mais necessidade na banda da Incrível, então foi o instrumento que me foi distribuído”. Desde cedo que dirigiu projectos, mas só depois de se formar como instrumentista e integrar a OML, estudou Direção de Orquestra na Academia Nacional Superior de Orquestra. Dirige, para além dos já referidos projectos, a Banda dos Bombeiros de Loures, e ainda alguns estágios de orquestra e festivais de forma mais pontual. “A base de todos os meus projectos, que são bem diferentes, desde a Orquestra Metropolitana a uma Banda Filarmónica passando pelos miúdos da Geração, é terem algo em comum, que é a linguagem da música. É o que em fascina e faz estar em todos eles. E depois são tão diferentes, temos o lado social, temos o lado da coletividade e amadorismo e o alto nível musical, isto tudo unido pela lin-

guagem e pela vontade de fazer música.”

Voltando a Mara Martins, além de presidente, é também a mais nova no grupo de cavaquinhos, onde toca pandeireta e para o qual procuram actualmente um acordeonista. Os ensaios deste grupo, assim como os do coro polifónico, decorrem no segundo andar da sede da Incrível Almadense. Para quem é mais dado a outras artes, “o grupo de teatro está aberto para qualquer pessoa, os ensaios são às 21h30, e não é preciso ter experiência em teatro porque a nossa encenadora faz a integração”. Aqui as idades variam entre os nove e os 86 anos, “o senhor Francisco Gonçalves, que é o nosso avô cénico, curiosamente é quem decora os textos mais rápido. É o que nós chamamos um monstro do palco”. A oficina de teatro acontece no salão de festas, que precisa duma requalificação, projecto que está para aprovação da Câmara.

Espera-se que a banda filarmónica se continue a mostrar e a fazer ouvir pela cidade, em arruadas, concertos e encontros de bandas. Espera-se que a Sociedade Filarmónica Incrível Almadense, espaço cultural, palco de tantos eventos que nos ficam na memória, o possa vir a ser também para gerações futuras. Que volte a celebrar mais uns tantos 170 anos. |

E SE TUDO FOSSE ASSIM…

m texto para a Gandaia? Sim, mas o quê? Procurar, procurar, remexer e encontrar. Dizer, depois. Assim tentarei fazer, se a tanto me ajudar “o engenho e a arte”. Corresponderei ao convite. Não podia deixar de o fazer. Ah, o tema? Livre, naturalmente. Sem censura. Sulcarei, como gosto, territórios e memórias. Seguirei ao sabor da pena e… veremos o que acontece. Percorro, quase sempre, o caminho da reflexão, a partir da emoção. Toda a gente assim faz, creio. Tão fácil acontecer aqui, com o mar aos pés, os trinados das gaivotas, os passos mais ou menos sincronizados de animais, bicicletas e dos transeuntes, no paredão. Cheiro a maresia misturado, às vezes, com o das caldeiradas. E, sobretudo a peculiar visão de belos corpos longilíneos, contidos, a custo, em apertados fatos de borracha, que por aqui se movimentam. Seguem, mar dentro, para o embate com as ondas e se perdem na espuma branca, que rola na areia, (que quase não há, dizem). Gente quase sempre nova e muito bela. A força das ondas a impedir as arremetidas humanas. Como bons aventureiros os surfistas seguem, respal dados por pranchas. Técnica, movimento, colorido, quedas bailadas… vozes e imagens únicas. Luta titânica. Beleza e contraste. A natureza na sua plenitude. É assim a Caparica.

Ao fim da tarde, no horizonte entre mar e céu, mais à frente, um pôr de sol, único e radioso a abrirse em anéis laranja e vermelho, que se prolongam e estendem e… rápido se esfumam. O Bugio envergonhado, a anunciar caminho, sente que ali, agora, não faz nada. Não é a sua vez. Lá, mais além, rodopia no ar, em bando, densa nuvem de gaivotas, que rápido se aproximam, preparando-se para o banquete. Chamam, umas pelas outras, para que nenhuma fique de fora. Máquinas e homens, pousados na areia avançam, agora, na água. Nas redes puxadas por cordas, saltitam peixes desesperados, muitos e diversos, cúmplices do mesmo destino, com desconforto e, muito, muito medo, por chegarem à terra. Tentam, ainda, fugir, mas sem êxito… Compradores esperam. Do mar para a mesa, para um delicioso repasto. Este ambiente mágico só tarde foi por mim desvendado, em mais

|Conceição Couvaneiro profundidade, pelo meu olhar forasteiro. Algumas décadas antes, na infância, a cem quilómetros de distância, vizinha, eu, também, de outro mar, corria a notícia de que algo de perverso se passava por estas bandas. Próximo, um Meco desnudado, onde gente se desnudava, anunciava-se proibitivo, pouco cristão e de atentado ao pudor. Próprio de gente de maus costumes. Quem sabe se obra de corruptores de fora. Dos que há muito deixaram o Éden, para entrarem noutros paraísos. Foi talvez daí que Eva viu o mal, a tentação e se sentiu envergonhada. Fora expulsa, para sempre, do Paraíso. Tinha, afinal, corpo e sentia. Condenação mesmo se deveria passar, ai, na Meca do Meco.

Passou tempo e com ele, a procura de mais verdade. O desejo de entender melhor. A compreensão da natureza pode ajudar a derrubar tabus. A ser mais autêntico, menos dono da verdade, do bem e, porque não (?), mais humilde. O conhecimento ajuda a entender melhor. O dito nudismo, se o é, só por si, não tem qualquer interesse. Mais tarde deu lugar ao conhecimento de uma filosofia própria, o Naturismo. Fonte da Telha, Adiça, Dezanove, Bela Vista e outras mais que se lhe seguem e seguirão. Afinal estar, sem roupa, pode ser mais angelical e até menos luxuriante, do que o modo como são usados alguns trajos. Tudo depende da atitude. O naturismo, quando se expressa na relação simbiótica com a natureza, e onde tal for aceite, começa a ser muito generalizado e defendido. Mostra a liberdade dos peixes no mar, a dançar nas ondas, ou das gaivotas a planarem o céu e a descerem a pique, em voos rasantes e pios sensuais. Exprime uma tentativa de ligação, entre homens e natureza. Revela, sem pejo e com respeito, a diversidade. A aceitação do corpo que se tem, sem rodeios. Sem fixar zonas eró-

genas que, por convenção, é necessário tapar. Obedecer ao que pode desvirtuar, as relações humanas. Expor-se como se é. Talvez mesmo o desprezo pela categorização social, exibindo apenas a pele que cada um tem, sem que se evidencie a cor. Só por que se é pessoa. Natureza integrada, sem o peso do estatuto que o diferencia e distingue. Ser naturista, no lugar próprio: campismo, praia e que não ofenda e desrespeite, quem o mesmo não aceite. Naturismo pode não ser perversidade. Não é possível, que o seja. Tem que ser um sinal de liberdade, de harmonia, de saúde e de bem-estar. De auto-estima. De respeito por si, pelo outro e pela natureza. Pode ser a aceitação de uma pertença universal. O naturismo, em expansão, cada vez mais aceite, e com forte expressão nesta área geográfica pode ter um outro olhar, sobre a vida e a condição humana. Pode não ser visto como algo de mau e pecaminoso, mas uma filosofia própria, destinada a ligar num espaço de convicções comuns, onde se esbatem estereótipos e se desmorona a estigmatização social. Talvez uma forma de ser autêntico. Pode não ter nada de perverso nem exibir nele, alguma forma de erotismo que diminui e instrumentaliza. Será uma ligação, mais profunda, à natureza. O respeito por si e pelo outro. Mais consequente com esta pertença universal que a todos une, de forma muito singela e igualitária. Distingue, menos, deste espaço-tempo, que a todos liga.

Afinal a Caparica é esta terra magnífica, de mistérios e significados a descobrir. Uma natureza privilegiada que, sendo tão bela, integra, seduz, faz ser e ficar melhor. Onde o sagrado se liga ao místico. Ao natural. A Gandaia sabe que há aqui, muitos tesouros a descobrir. A fazer brilhar. Juro que eu, que digo isto, não sou, (tenho pena), naturista. Muitos há, que o são, da minha idade. Mas gosto muito de pensar, se possível, sem preconceitos. De manter uma mente limpa e expectante. E gosto muito desta terra. Deste mar tão lindo, do céu tão azul, dos pores de Sol únicos. Dos Jovens belos, dos pescadores laboriosos de tez torrada pelo sol e pelo ar marinho. De gente TÃO BOA. |


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CRÓNICA | JULHO 2018 Notícias da Gandaia

NÓS E A NOSSA ÉPOCA Senhora do Monte Agência Funerária Gerência de: António Brás e Sérgio Brás

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Os Prazeres dos Jogos de Vídeo

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|Luísa Costa Gomes

s professores deviam ser obrigados a jogar qualquer coisa online: pode ser uma coisa de guerra com tiros e sangue a jorrar, mas também pode ser o Candy Crush ou outra balela qualquer que esteja ao nível do desenvolvimento mental de uma criança de três anos. No meu caso, é o Fruits Mania, e é coisa recente. O Fruits Mania é fácil mesmo quando é difícil. Percebe bem a psicologia do fracasso e do sucesso. Quando se fica no mesmo nível muito tempo a tentar passar, o génio que programou este jogo dá-nos uns bónus e deixa-nos subir de nível. Sabe que ninguém aguenta demasiada frustração e se não passa, desinteressa-se e vai jogar a outra coisa. O interesse do programador e de quem lhe comprou o produto é que o jogo se torne um hábito, ou como se dizia no meu tempo de moralistas, um vício. Um bom hábito é um hábito, um mau hábito é um vício. O jogo nunca acaba, porque o que o jogador quer é continuar a jogar, mas não estar a jogar sempre no mesmo patamar. Quer ter a ilusão permanente de ganhar, de estar a caminhar para qualquer lado, preferencialmente para cima. De facto, no caso do Fruits Mania, o jogo é mais ou menos sempre igual, mudando a fruta que se consegue ir destruindo espectacularmente. Os gráficos são excelentes, com explosões e volatilizações e esborrachamentos. Não tem qualquer mistério, é só preciso alinhar três maçãs ou três morangos. Ou quatro, ou cinco. Mas aprende-se rapidamente como fazer e depois tornamonos cada vez melhores a alinhar frutas. No princípio, conseguia estar umas três horas seguidas nesta patetice, sem qualquer culpabilidade. Agora que já vou no nível setecentos mil e qualquer coisa, o tédio começa a ser um problema. Ainda controlável. A verdade é que já sou mais que doutorada

21 272 23 60 91 959 24 75 • 91 726 74 01

O que me dana é isto: se é possível uma criança, ou um adulto, estar horas e horas absolutamente concentrado num jogo que tem por vezes algumas dificuldades, abandonando tudo e todos, incomunicável, sem comer e sem beber, porque não se consegue viciar o mesmo menino em matérias escolares? Porque não se faz com que fique agarrado à Matemática, aos poetas maneiristas, à Astrofísica? Porque será que as tecnologias, cujo potencial para o bem-fazer é reconhecidamente infinito, são sempre desbaratadas na crueldade ou na idiotia? Aquilo que se aprende na dinâmica motivacional do jogo é que ela não tem a ver com o conteúdo, mas com a forma – fragmentar o conhecimento em pequenas unidades, organizá-las numa sequência, dar uma recompensa no final de cada unidade. Pode ser um torrão de açúcar em tratando-se de cavalos. No caso dos jogos, a recompensa é pontos virtuais, quer dizer, ter a possibilidade de continuar em jogo. Mas esta recompensa tem de ser justa: não posso esperar passar de nível só com bónus. A minha auto-estima não é assim tão baixa. Dizem-me os intelectuais que a vida não é um jogo, que a verdadeira aprendizagem não é a da competência que nos ensina a passar de nível como um cão amestrado, que as faculdades da linguagem, da abstracção e da inteligência não se desenvolvem com acções mecânicas. A verdade é que o nosso cérebro se aborrece cada vez mais com exposições de vinte minutos, que digo?, com exposições de dois minutos. Já estamos a brincar no telemóvel e a pensar em mudar de canal. Isto é que não vai mudar. Como aprender então a brincar com coisas sérias? Esse é que é, como se costuma dizer, um desafio com futuro. |

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em Fruits Mania e ainda não percebi como raio se faz para ter uma estrelinha.

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Notícias da Gandaia JULHO 2018 | ENTREVISTA

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INÊS DE MEDEIROS UMA VISÃO PARA ALMADA

Eleita ainda há poucos meses, a nova, para muitos surpreendentemente, Presidente da Câmara Municipal de Almada, fala ao Notícias da Gandaia sobre o presente e o futuro do concelho. E deixa em aberto a possibilidade de se recandidatar a novo mandato. Já me foi enviado um primeiro esboço do relatório sobre a consulta púbica para, a seguir, finalizarmos o processo do Plano de Pormenor. Uma vez este processo terminado é lançar de imediato o plano de urbanização, que, espero, seja o mais rapidamente possível, resolvidos que sejam alguns pormenores ainda pendentes para podermos avançar com o promotor e o detentor da maioria dos terrenos no arranque das obras. O arranque das obras terá de ser iniciado com a criação de infra-estruturas, mas também com a solidificação daquele que é já o edificado. O que me agrada no Plano de Pormenor que está agora em discussão é o princípio de preservação daqueles armazéns, que sabemos terem um grande valor histórico e emocional, procedendo à sua reabilitação. Já em relação à Margueira, devo dizer que não dependia apenas do município, mas felizmente este governo e, aliás, com grande empenho do primeiro-ministro, decidiu que era um projecto prioritário, não só para a área metropolitana mas igualmente a nível nacional, e conseguiu resolver-se, por fim, a questão da titularidade dos terrenos, que vai passar para a Baía do Tejo para poder prosseguir a elaboração do resto do projecto.

|Ricardo Salomão |Rui Monteiro Como vê Almada no fim do seu mandato?

Há vários níveis. Um deles é que gostaria de ver Almada mais limpa, o que acho que já estamos a conseguir investindo muito na questão da limpeza. Gostava de ver Almada

um concelho mais inclusivo, com um plano de acessibilidades não só aprovado mas também sendo posto em prática, e obviamente gostava de ver uma Almada onde há muitas situações de degradação do edificado, zonas abandonadas, a serem reabilitadas a vários níveis. Em alguns casos obviamente com mais habitação, que contemple uma resposta mais justa e eficaz às necessidades de habitação social;

naturalmente com o caso das barracas, senão erradicadas pelo menos em via de resolução. E de uma maneira mais geral gostava de ver uma Almada confiante. Confiante no futuro, confiante na sua capacidade de iniciativa e muito segura da sua centralidade e da sua importância estratégica, e até no seu poder de intervenção e decisão na maior área metropolitana do país.

Em relação às grandes obras que estão pendentes: o Ginjal, a Margueira – Cidade da Água e até o Costapolis, que deve terminar, para aí pela décima vez, este ano…

Vamos por partes. O Ginjal, como sabem, foi feito e apresentado ao público o Plano de Pormenor, e agora estamos a finalizar as coisas.

Por fim, Costapolis. Eu aproveito para dizer que havia a ilusão de ser possível manter ainda o Costapolis, mas o fim das várias “polis” é um dado adquirido. Agora, resta saber em que condições será extinto e, sobretudo, estamos a falar, outra vez, da maneira como será feita a redistribuição dos territórios e das competências que pertenciam à Costapolis. Infelizmente, e isso tem sido transmitido a todos os intervenientes no processo, o Estado, o Tesouro, a APA, o Ambiente e o município, que está totalmente


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ENTREVISTA | JULHO 2018 Notícias da Gandaia

aberto a sentarmo-nos à mesa – e também gostaríamos de ver envolvido o Turismo – para que, extinta a Costapolis, possa dali nascer um projecto para a Costa da Caparica. Como sabem, temos um compromisso anunciado, o programa Costa Todo o Ano, que tem a vertente turística, mas de maneira nenhuma numa lógica de turismo de massas. Pelo contrário. O que queremos é fazer na Costa da Caparica um programa que possa valorizar e alterar o perfil da Caparica, que foi construída numa lógica de turismo para as massas muito concentrado no tempo de Verão, e que hoje em dia tem de ser encarada numa lógica de turismo todo o ano onde se possa sempre praticar surf e todo o tipo de desporto ao ar livre. Por outro lado, queremos abandonar a ideia de ver a área protegida da Costa como um impedimento ao desenvolvimento. Nós não consideramos que é um impedimento, consideramos que é uma mais-valia. E isso significa termos aqui um acordo e estabelecermos um plano de desenvolvimento e de reabilitação com as instituições que defen-

dem, e bem, o ambiente. Existem igualmente outras vertentes, como a agricultura. A Costa da Caparica tem terrenos muito importantes e muitos desses terrenos estão ainda na dependência do Costapolis. O município tem algumas ideias para o que é preciso fazer, não está é disponível para resolver os problemas que o Costapolis não resolveu e, em alguns casos, até piorou. O que interessa é saber o que se constrói a seguir, e sabemos que não pode nem deve ser o município a fazê-lo sozinho…

Pensa que vai conseguir reunir estas sensibilidades muitas vezes contraditórias…

Permita-me que faça referência a uma coisa que o actual primeiroministro nos ensinou. Para começar a resolver problemas a melhor maneira é sentarmo-nos à mesa e começar a falar deles.

E é possível sentar toda a gente…

Sentar é possível. Mas também acho que há aqui uma mudança de atitude, isto é, sair de uma posição de recriminação mútua para uma posição de fazer, agora. Ou seja: ver, perante um problema, qual é a melhor maneira de o resolver.

Estes projectos de que falou podem fixar pessoas em Almada, que até está a beneficiar da gentrificação de Lisboa com a vinda de novos habitantes. Como é que pensa acolher esta gente, que são, provavelmente, um tipo de pessoas com mais, digamos, necessidades, quer culturais, quer sociais, de transportes… Mais exigentes?

Sim, mais exigentes…

Não é segredo para ninguém que eu sou e venho de Lisboa. Por isso posso ser franca e a verdade é que não me sinto longe da capital quando estou em Almada. Isto não é A Cidade e as Serras, não é o Eça do Queiroz. O que me espanta é um certo posicionamento de Almada que se via a si própria como se fosse um concelho do Interior, longe de tudo. Não estamos longe de tudo e, reafirmo, Almada tem de assumir a sua centralidade. É claro que em matérias como os transportes, ou o ambiente, por exemplo, creio que toda a gente já aceita que é mais importante para municípios vizinhos terem uma abordagem metropolitana mais do que uma política concelhia. Agora a sua questão é de facto pertinente. Com é que vamos fazer, como é que vamos reagir em função de uma eventual, e que em certa medida já está a acontecer, gentrificação de Almada. Devo dizer que a população de Almada sempre foi uma população onde a classe média está em grande maioria, e não é por acaso que o concelho tem tantos louros ao nível cultural e da formação, por exemplo…

Mas está em desvantagem em relação à Margem Norte. Na prática, através da portagem na ponte, pagamos um imposto para entrar em Lisboa, os transportes são, como se costuma dizer, uma miséria…

Ah! Isso estou de acordo, mas já lá vamos. Agora só estava a falar da gentrificação. E neste aspecto, não acho que Almada seja como o bairro de Alfama, onde aí, sim, houve uma gentrificação – e de que maneira –, onde de repente houve um corte gigantesco. Felizmente, pelos dados que temos, e isso é também um problema porque temos muito poucos dados credíveis e não temos mecanismos eficazes para medir. Por exemplo: ao nível da habitação social não há nada. Não há dados sobre quem lá está, quem lá mora… Nada. É preciso começar do zero, ao contrário dos municípios da Margem Norte que já o fazem há muito tempo. Havia aqui uma opção em que – palavras do anterior presidente no único debate eleitoral realizado – a habitação não era considerada uma questão da autarquia. Dos poucos dados que temos, para já estas novas populações que estão a chegar não estão propriamente a tirar alojamento às pessoas de Almada. Estão em grande parte a reabilitar o que estava abandonado, o que é muito positivo. Ou então estão a repovoar zonas, nomeadamente urbanas, que já esta-

vam a ficar despovoadas. Ainda não chegámos à situação de Lisboa que está a expulsar os locais para dar lugar a uma nova população, mas temos de estar atentos. Relativamente à exigência dos novos habitantes, bem, por princípio, acho que a exigência é sempre uma boa coisa.

Também é verdade que acho que o direito constitucional de livre circulação não se aplica à Margem Sul, porque neste momento é preciso ir a Vila Franca para poder ter o direito de atravessar o rio sem pagar. Aliás, eu, que ainda sou do tempo do buzinão, continuo espantada como é que aquilo não deu em nada. Por isso é que insistimos tanto em ter como uma das nossas prioridades a mobilidade em Almada. Neste caso, também, adoraria ter tomado posse e ter um longo trabalho feito para preparar os novos contratos de concessão, planos para a mobilidade no concelho já estudados, já feitos, ou pelo menos já pensados. Mas nada estava feito e, aqui, também tenho de agradecer aos serviços, que estão a ser sujeitos a uma grande pressão, porque temos de aproveitar o tempo perdido. Dou-

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Notícias da Gandaia JULHO 2018 | ENTREVISTA em causa os outros projectos, mas esta atitude, que é um bocadinho portuguesa, de pensarmos que apesar de um grande projecto as coisas ficam como estão, não pode ser porque as necessidades das pessoas são agora…

Deixe-me colocar já outra pergunta. Qual o futuro do porto de contentores na Trafaria?

Essa possibilidade está posta de parte e tanto quanto sei será no Barreiro. Neste momento isso não está sequer na nossa ideia, e digo-lhe sinceramente que não me parece que o desenvolvimento que esse projecto pudesse trazer fosse no sentido do desenvolvimento que o concelho quer ter.

-lhes um exemplo: os TST já demonstraram nos termos do contrato de concessão uma alteração das respostas actualmente dadas pelos transportes públicos.

De que maneira é que pensa posicionar-se relativamente a esse desenvolvimento possível de um aeroporto no Montijo?

Em princípio a decisão está tomada e vai haver um aeroporto no Montijo. Há muito que sou a favor da existência de um segundo aeroporto pois a necessidade é evidente. Todos os dias somos confrontados com informações que dizem que o aeroporto em Lisboa atingiu o seu limite, ou já o ultrapassou. O facto indesmentível, e que era previsível, e sobre o qual devíamos ter tido a coragem de não ser demagógicos, é a necessidade absoluta, para o desenvolvimento económico, não apenas turístico, mas económico da área metropolitana, estudar a possibilidade de um segundo aeroporto, que é uma necessidade urgente.

Mas há a necessidade de Almada fazer parte dessa estratégia. Estou a lembrar-me do metro, que está planeado ir até ao Montijo…

O que é essencial, a todos os níveis é, mais uma vez, não termos projectos. É evidente que com um novo aeroporto temos de pensar em todas as ligações possíveis. Portanto, relativamente ao metro, há duas coisas que me parecem muito importantes, e aproveito para relembrar que já temos a questão de o metro chegar à Costa da Caparica. Parece-me evidente que havendo aeroporto temos de olhar bem e ver como é que, não pondo em causa projectos a longo prazo, como é que vamos responder. A curto prazo, porque o aeroporto é suposto ser feito a curto prazo, é preciso dar respostas a isso. Eu tenho defendido que passa muito pelo transporte fluvial, que é a solução mais rápida, mais eficaz e pode estar pronta a responder à necessidade agora. Isso, claro, não põe em causa a necessidade do metro ir até ao Montijo, não põe

vale a pena estarmos em conflito permanente por causa da Fonte da Telha e das Terras da Costa como se a vida daquelas pessoas não fosse uma realidade. Mas, também, já percebemos, que o desenvolvimento sustentável daquele território é uma necessidade. E mais, no caso da Fonte da Telha nem sequer estamos a falar de desenvolvimento sustentável, estamos a falar da própria segurança daquelas pessoas. E nós sabemos que estamos a passar por um período de alterações climáticas, com fenómenos extremos cada vez maiores que põem em perigo quem ali vive. Por isso, repito, a solução passa pelo envolvimento e consciencialização das populações envolvidas.

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E a Fonte da Telha. Ficou suspensa a questão do realojamento e reordenamento…

Não foi só isso que ficou suspenso, acho que foi mesmo todo o plano que ficou suspenso…

Mas qual é a sua ideia para aquela localidade?

Mais uma vez vou dizer uma coisa geral, mas há princípios gerais que têm de ser ditos e que as nossas acções depois têm de respeitar. A Fonte da Telha é um daqueles casos em que temos de definir uma estratégia com todas as partes envolvidas para toda a zona da Costa da Caparica. Pois se de um lado estão os defensores da natureza, do outro estão os habitantes. Há habitantes a tempo inteiro e habitantes ocasionais e, neste caso, a minha posição é muito simples: eu defendo aqueles que habitam na Fonte da Telha, mas também considero que não devem aumentar. Os que têm casas de férias já é outra questão. Mas agora, para mim, o que é importante, é que nunca pode haver uma solução que não seja acordada com aqueles que ali residem há várias gerações e que têm ali, não só as suas raízes, mas todos os seus bens, toda a sua vida. Não

Isso é outra questão. Existe um plano, mas existem igualmente, relativamente a esse plano, vários impedimentos, nomeadamente a necessidade de algumas expropriações. É um projecto que tem muitos aspectos válidos, no entanto é preciso garantir a sua operacionalização. Dito isto, já estamos a desenvolver, embora para este Verão já não seja possível, em conjunto com as Estradas de Portugal, um projecto para toda a parte final do IC20, ou seja, a partir dos semáforos haver uma reabilitação total daquela zona, com a construção inclusivamente de duas rotundas. Isto está a ser pensado para desde já fazer fluir o trânsito, principalmente agora, no Verão, que é quando o problema é mais sentido.

A propósito, e voltando à Costa da Caparica, existem sucessivas queixas sobre a falta de areia. Como é que a Câmara vai atacar o problema imediato que é, ainda por cima, recorrente?

Agora, no imediato, é encher de areia. E nesse sentido já tivemos uma reunião com o ministro do Ambiente que nos garantiu para breve o reinício das operações de reposição de areia. Há muitos estu-

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10 ENTREVISTA | JULHO 2018 Notícias da Gandaia

o seu condomínio em boas mãos

dos sobre as possíveis consequências e também sobre as possíveis soluções. Eu, que não tenho ambição de rivalizar com cientistas, o que acho que é muitíssimo importante – e volto à mesma questão – é como tudo isto vai dar a este grupo que precisa de tomar decisões a longo prazo para a Costa da Caparica.

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Mudando de assunto, e a propósito do que é público e do que é privado. A privatização dos SMAS…

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Gostava agora de mudar para outro assunto e falar do Festival de Almada, depois de recentes acontecimentos – o corte de 110 mil euros no financiamento do Estado à Companhia de Teatro de Almada – terem posto em causa a sua realização…

Permitam-me aqui fazer, de forma até um pouco egoísta, mas que acho ser a mais justa, com todo o respeito pelas companhias que ficaram de fora dos financiamentos e que têm de enfrentar um momento muitíssimo difícil, que põe em causa até a sua sobrevivência, mas nenhum outro exemplo é sequer comparável ao festival. Po-

dendo pôr em causa alguns dos critérios que levaram à aprovação ou não destes apoios às artes, confesso que não consigo perceber esta lógica, nomeadamente no que diz respeito à valorização do factor de atracção de público que o festival tem, acho absurdo para alguém na área cultural que esse critério não seja sequer contabilizado. Tenho muitas dúvidas sobre os critérios aplicados neste concurso, mas a questão que está agora em cima da mesa já nem sequer é a dos critérios. A questão é como é que é possível comparar de forma igualitária o que não é comparável. Não é comparável uma candidatura que inclui uma programação intensa de uma companhia de teatro com quatro novas criações, o que é muito para qualquer estrutura, e nove reposições de obras estreadas em anos anteriores, e que tem ainda programado um dos maiores eventos culturais do país, que é, simultaneamente, uma referência internacional, com companhias que apresentam apenas a sua programação.

Estamos a falar de um evento particularmente caro. É bom que as pessoas tenham a consciência de que um festival internacional de teatro implica contratar companhias, portuguesas, naturalmente, mas principalmente estrangeiras, que são no plano internacional companhias e criadores de grande importância, com tudo o que isso implica em termos de logística, ao longo de duas semanas, por exemplo em viagens e em alojamentos. Não estamos a falar de um concerto em que os músicos vêm, tocam e vão-se embora, às vezes

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no mesmo dia. O Festival de Almada é muito maior que isso e é um esforço muito grande e é esforço que tem dado frutos maravilhosos, além de ser um instrumento essencial para a internacionalização… Como é que a Direcção-Geral das Artes vai agora fazer o discurso de dar prioridade à internacionalização da cultura portuguesa depois de ter feito o corte que fez à Companhia de Teatro de Almada e ao seu festival internacional… Como? Com base no quê? Porque o Festival de Almada não se limita à cidade ou ao concelho, vai muito mais além. A mim, o que me choca nesta questão, é parecer que querem fazer deste festival um acontecimento meramente concelhio. O município é quem mais contribui e vai continuar a contribuir para o festival, mas este acontecimento merece um reconhecimento a nível da política cultural pela importância estratégica e estruturante que tem para a cultura do país. E o Ministério da Cultura e a D.G. Artes não se podem demitir desta maneira do maior evento teatral português.

Ao longo desta entrevista a Presidente apresentou uma visão bastante clara sobre o que deseja para o futuro do concelho. Acha que vai conseguir cumprir os seus desejos ou vai precisar de se recandidatar?

Uma coisa tenho a certeza: enquanto não se começa não se acaba. Para já, a prioridade é começar… |


Notícias da Gandaia JULHO 2018 | REPORTAGEM 11

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ALENTEJO E ALMADA DE MÃOS DADAS Ao que parece a quinta-feira é um bom dia para cantar o... Alentejo! O Notícias da Gandaia quis dar voz à tradição e visitou os ensaios de dois grupos corais alentejanos, um feminino, o outro masculino, no concelho de Almada: a Associação Grupo Coral e Etnográfico Amigos do Alentejo do Feijó e a Associação das Cantadeiras de Essência Alentejana.

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12 REPORTAGEM | JULHO 2018 Notícias da Gandaia ou menos directa, todos têm raízes alentejanas.

O traje etnográfico veste 17 figurinos, os ceifeiros em maior número, “porque é o traje mais barato” brincam. O pastor, o cabreiro, o moço do monte são algumas das representações, cada elemento tem o seu figurino e não o troca. No Inverno juntam-lhe o capote, claro está. “Em 33 anos de grupo coral, temos 1268 actuações, entre as quais o Centro Cultural de Belém e a Casa da Música, no Porto” onde foram o primeiro coro alentejano a cantar, orgulha-se José Pereira, Presidente do Conselho Fiscal. Natural do Redondo, tem 77 anos, canta no grupo há 29 anos, e entende esta herança musical como “a paixão do povo alentejano”.

No passado dia 2 actuaram no 31º Encontro de Cantares Alentejanos do concelho de Almada, junto ao Complexo Municipal de Desportos do Feijó, com outros grupos corais. Uns dias antes, ainda na rua, a caminho de mais um ensaio, no Clube Recreativo do Feijó, já vão a cantar. É aqui que todas as quintas-feiras, das 21h00 às 22h30, se reúnem os 30 elementos do Grupo Coral e Etnográfico Amigos do Alentejo do Feijó.

Ó

|Andreia Gama Águia que Vais tão Alta, Que Inveja Tens Tu das Rosas, ou É na Cidade de Almada, são algumas das modas ensaiadas aqui, hoje, e que podem ser ouvidas no CD/DVD do grupo, Alentejo e Almada de Mãos Dadas. A maior parte são modas do cancioneiro alentejano, embora já tenham sete originais da autoria de um dos membros, José Borralho. “Foi na cidade de Almada / que encontrei, minha guarida / Eu chamei a minha amada / e refiz a minha vida”, canta o coro em uníssono, orientados por Manuel Goilão, de 59 anos, natural de São

Matias, em Beja. Sempre na linha da frente, é ele quem dirige as três fases da moda, que começa com o ponto, a seguir entra o alto e por fim o coro. Voltou há seis meses como ensaiador do grupo e reconhece: “estes gajos cantam bem, homêm!”. Antes de escutarmos a pujança das vozes masculinas, que se fazem ouvir até do exterior do clube, conversámos com três dos elementos responsáveis pela existência e continuidade deste grupo etnográfico, que faz um elogio à cultura do povo alentejano. José Ramos, 68 anos, natural de Serpa, é o Presidente da Direcção. Integra o grupo coral há 32 anos, 20 dos quais como mestre/ensaia-

dor, função que delegou a outra pessoa, pois pretende “desempenhar a tarefa da presidência da melhor maneira.” Embora o Grupo Coral e Etnográfico Amigos do Alentejo do Feijó, que antes pertencia ao Grupo Recreativo do Feijó, exista há 33 anos, como Associação leva apenas 11 primaveras. Matias Martins, 65 anos, natural da serra de Serpa, fundador do grupo explica-nos o porquê desta mudança: “Embora pertencêssemos ao Clube, toda a estrutura organizada era nossa, como sempre tem sido. A dada altura, como os subsídios da C.M.A. vinham para aqui e não chegavam ao nosso destino à velocidade dese-

O Grupo Coral e Etnográfico Amigos do Alentejo do Feijó tem, em média, entre 36 a 43 actuações anuais, onde se apresentam ao público com cerca cinco modas no máximo, embora haja excepções, como aquela vez no Fórum Municipal Romeu Correia, onde cantaram 18. “O nosso grupo acaba por ter prestígio porque nós cantamos há 33 anos, de forma que as solicitações são bastantes, mas não podemos ir a todas”, admite o fundador.

jada, a forma que nós encontrámos foi transformarmo-nos em associação.” O presidente completa, “agora estamos aqui e pagamos a nossa quota como se fossemos autónomos”.

Cantar o Alentejo

Com uma média etária que ronda os 67 anos, o grupo coral tem idades que vão dos 35 aos 88 do elemento mais antigo, também ele sócio-fundador. De forma mais

Para se fazerem ouvir pelo país, precisam do apoio da Câmara Municipal de Almada. “A nossa falta de dinheiro é que faz com que tenhamos de andar sempre a mendigar o transporte, que é o nosso grande problema”, confessa Matias. Para se ter noção, o Presidente dá um exemplo “em 14 transportes solicitados na C.M.A. o ano passado, só nos facultaram quatro, por isso gastámos cerca de 3700 euros em deslocações”. E, para as actuações de Junho, em Barrancos e na Granja, foram mais de 500 euros pelo autocarro que os levou a cada destino. Até agora as verbas ainda têm aparecido, mas sem a ajuda da C.M.A., vêem-se obrigados a recusar algumas.

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Notícias da Gandaia JULHO 2018 | REPORTAGEM 13 “Estamos em crer que se vier mais algum convite, temos de parar”, no entanto, garante, “temos feito das tripas coração para satisfazer sempre os pedidos que nos têm feito”.

Divulgar o cante

O presidente admite que a Associação Grupo Coral e Etnográfico Amigos do Alentejo do Feijó não teve até hoje qualquer benefício com a classificação do cante alentejano como Património Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO “Em termos monetários ou logísticos não nos veio fornecer nada, mas nós continuamos a contribuir em reuniões e com o nosso cante”. Filiados n’A Moda – Associação do Cante Alentejano, que integra cerca de 60 grupos corais, vão sempre havendo eventos onde fazem “esse intercâmbio cultural do cante alentejano, a que nós também chamamos a salvaguarda do cante alentejano”, explica o Presidente José Ramos. “Este espaço já começa a ser pequeno para nós, temos aqui um museu farto de peças, o nosso desejo era que estivesse exposto ao público e não encaixotado como está, porque assim não tem visibilidade nenhuma”, confessa José Ramos. Esperam que esta situação se altere. “Há uma ideia, já estamos a trabalhar nela em conjunto com a C.M.A., e as coisas estavam bem encaminhadas até sair o antigo executivo, pelo que agora é só dar continuidade. Vamos ver quanto tempo vai demorar”. A Sala de Chá, na Biblioteca e Centro Cívico Feijó seria o espaço pretendido para fazer a Oficina de Cante. “Aquele espaço tanto seria para nós como para as turmas do 2º, 3º e 4º ano, que já aprendem o cante em várias escolas do concelho.” Para Matias Martins, o grande objectivo da oficina do cante é que “além de melhorarmos a nossa condição, seria também dar uma melhor

continuidade às coisas no tempo, criar algumas dinâmicas a ver se outras pessoas ganhavam entusiasmo”. O fundador que define o cante alentejano como “o cante da planície”, lembra como tudo começou. “Foi um piquenique anual dos amigos da serra de Serpa que esteve na origem do grupo, com a procura de uma ‘malta para cantar’ na ocasião. Com palco improvisado numa carrinha de caixa aberta, assim começaram, ainda como grupo misto, e gostaram tanto do resultado que fizeram a proposta ao clube do Feijó. “Quando o grupo começou a ensaiar a sério passou a ser só de cavalheiros”, não foi uma posição tomada, “não quer dizer que mais tarde não fosse mais fácil angariar senhoras, mas nós já estávamos talhados para ser assim”. O último a ingressar este grupo foi o senhor Valentim. “Precisamos cantadores”, apela o Presidente. Caso o leitor seja um potencial interessado, é só deslocar-se à sede do grupo e fazer uma audição. “Canta uma moda, Eu Ouvi o Passarinho ou Ó Rama, ó que Linda Rama, em frente dos restantes elementos, para ver se tem alguma afinação, que é a coisa mais importante”. O mais importante é também não deixar morrer tradições, pois “as raízes são tão profundas que nós estamos aqui, uns a 300, outros a 400 quilómetros da terra e não deixámos que este ‘bichinho’ morresse”, reforça o Presidente. E pode-se dizer que estes amigos fazem por cultivar as suas, à boa moda alentejana! |

CANTO DE MULHER ALENTEJANA

M

andei a saudade embora, mandei-a pela janela, vou lá fora buscá-la, já tenho saudades dela, é um verso da moda Lindo Ramo Verde Escuro que fica no ouvido. Mas a entrega de quem a canta só chega momentos depois de se dar início ao ensaio semanal da Associação das Cantadeiras de Essência Alentejana. O grupo coral reúne-se todas as quintas-feiras das 18h00 às 20h00, na sua sede no edifício do Centro Comercial Rainha Santa Isabel, nas Barrocas, Cova da Piedade. Aqui o cante alentejano tem unicamente voz feminina, através das 20 mulheres que o constituem. A música, que tem o poder de nos transportar por memórias e emoções, neste caso é também indissociável das raízes do Baixo e Alto Alentejo, e das origens de cada

cantadeira. E neste grupo coral as memórias viajam entre os 54 e 75 anos. Embora três destas mulheres não tenham raízes alentejanas, sentem igualmente o Alentejo no cante. Alzira Paiva, o elemento mais antigo do coro, admite: “Sou de Lisboa, não tenho família alentejana, não canto com sotaque, mas se arrastam a voz eu arrasto também”. Veio há cinco anos pela primeira vez, por intermédio duma amiga, e aqui espera continuar outros tantos.

Menos um ano tem Nazaré Avó, a coordenadora do grupo coral. Com uns encantadores olhos claros, não deixa transparecer a idade, apesar de já ser avó e bisavó. Talvez por isso tenha sido escolhida para participar no vídeo Era Eu, dos D.A.M.A, com o seu marido, como personagens principais de uma história de amor. A sua relação com o cante vem “desde sempre”, apesar de ser natural

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14 REPORTAGEM | JULHO 2018 Notícias da Gandaia

de Borba, zona mais dada à cultura das Saias, dança típica do Alto Alentejo, que considera menos indolentes que o cante. “As raízes do nosso Alentejo, a saudade, a paz” fazem suspirar Nazaré. Residente em Almada há 55 anos, foi sócia-fundadora da Alma Alentejana, centro cívico no Laranjeiro, onde, em 2005, foi criado o grupo Cantadeiras da Alma Alentejana. “Como havia muita mulher alentejana que sabia cantar, nós começámos a pensar e formámos o grupo”. Há cerca de quatro anos, sentiram necessidade de se formar como associação e constituíram a Associação das Cantadeiras de Essência Alentejana.

Nas actuações, é com o traje de passeio que se apresentam. Cantam entre cinco a sete modas, mais que isso já se torna aborrecido para o público, admite Nazaré. Têm algumas modas dançadas, como Trigueira de Raça, que hoje aqui ensaiam, balançando o ligeiramente o corpo para marcar compasso, Ceifeira de Canudos de Cana, moda de que não prescindem, e Canto da Mulher Alentejana, que versa assim: “ao ouvido lhe parece que a vida tem mais beleza”, também integram o reportório de hoje.

Quando o cante alentejano foi classificado como Património Cultural e Imaterial da Humanidade, pela UNESCO, em 2014, a coorde-

nadora do grupo coral garante que “foi com muita alegria que fomos ao aeroporto de Lisboa receber os cantadores que representaram o cante em Paris”.

A Associação das Cantadeiras de Essência Alentejana desenvolve, semanalmente, uma oficina de cante na Escola Feliciano Oleiro, em Almada. Para além disso, “três dias por semana temos as turmas das professoras que aderiram ao cante e temos ensaio com meninos de todas as turmas da mesma escola”. A recepção dos mais novos é positiva, acredita Nazaré Avó. Nestas alturas vestem os trajes de trabalho, como ceifeira, aguadeira, azeitoneira, mondadeira, “e como somos só mulheres, muitas vezes também nos vestimos de pastor, isto é também uma maneira mais didática de os incentivar a gostar do Alentejo”.

Há cerca de dois meses que o grupo coral recorre a uma técnica, Irina Grelha, que assiste aos ensaios e ajuda na colocação de voz. Com três CD gravados, em Novembro deste ano pretendem lançar um CD/DVD a que darão o título Essência. Em Junho actua-

no regresso”.

ram no Solar dos Zagallos, na Sobreda, na Rua Cândido dos Reis, em Cacilhas, e no Centro Paroquial da Costa da Caparica. Nas apresentações que fazem no concelho têm o cuidado de não repetir o reportório para o público ouvir modas diferentes. Castro Verde e Castelo de Vide também estão marcados na agenda para este mês. Se espetáculos não lhes faltam, animação também não. Quando o grupo participa em actividades e eventos culturais fora do concelho, Nazaré garante que “a festa está sempre feita, faz-se no caminho e

“Não queremos homens em cima do palco”, brinca Nazaré Avó. Apesar de aqui só as mulheres terem voz, os maridos das cantadeiras acompanham-nas sempre que podem em festas e feiras. Joaquim Avó, marido de Nazaré, faz parte da direção do grupo e trata das questões de agendamento e logística das actuações. O ano passado contaram com o apoio da Câmara Municipal de Almada, através de subsídio para o traje e divulgação do cante por este grupo coral que tem como objectivo promover e preservar esta identidade cultural e o cancioneiro alentejano, por todo o país. O ensaio de hoje termina com toda a gente à volta duma mesa recheada de pão, queijos e vinhos alentejanos, entre outros petiscos, por ocasião do aniversário da dona Chica, uma das cantadeiras. Contagiados pela essência alentejana que aqui se respira, parte-se com a sensação que apesar de estarmos em plena Almada, o Alentejo veio até nós. |

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Notícias da Gandaia JULHO 2018 | AGENDA 15

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tica e Cultural

de Almada

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Prelúdio do Saber

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Compassos de Dança Marisa Caeiro

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ƵĚŝƚſƌŝŽ ŽƐƚĂ ĚĂ ĂƉĂƌŝĐĂ Com o apoio

> QUINTA 12, 20H30 mÚsiCa

Concerto Final de Ano

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apresenta:

Christiane de Maced

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ILDE ALMEIDA, FILOMENA E, ARMINDA SANTOS, CREM RICARDO CARDO. RODRIGUES, ANTÓNIO NOBR NABAIS, NUNO RAMOS, ALBERTO OLIVEIRA, ANA – OLGA NUNES, HENRIQUE

15 JUN > 21:30 SEXTA FEIRA 15 JUL > 17:00 DOMINGO 22 JUL > 17:00 DOMINGO

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16 EDITORIAL | JULHO 2018 Notícias da Gandaia


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