Notícias da Registo n.º 126448 na ERC
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Julho 2019 — Bimestral — Ano 2 — N.º 8 — Diretor: Ricardo Salomão
HERÓI LOCAL
ENTREVISTA
Pescadores sobem de divisão com vitória merecida
Joana Mortágua
SOL DA CAPARICA EM AGOSTO
Bloco de Esquerda revela tática para Almada
pág. 10 e 11
pág. 2
CRÓNICA Luísa Costa Gomes pág. 13
TUDO A BANHOS CÂMARA QUER O TRANSPRAIA
REPORTAGEM pág. 5 a 9
Foto: José Figueira
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HERÓI LOCAL | JULHO 2019 Notícias da Gandaia
PESCADORES SOBEM DE DIVISÃO dade do clube em termos desportivos. Algo que todos ansiávamos: representar dignamente a terra em que estamos inseridos. Como vê a história do treinador, Nuno Ferreira, outrora um jovem formado pelo GDPCC?
|João Xavier
Foi um feito: o Grupo Desportivo dos Pescadores da Costa de Caparica sobe à 1º Divisão Distrital da Associação de Futebol de Setúbal. ou seja: após uma vitória, por 1-0, sobre o Almada Atlético Clube, o clube da Costa consegue assim alcançar o objetivo traçado e subir de divisão.
Aconteceu em tarde de feriado de Corpo de Cristo, com o jogo a começar às 17:10 quando a afluência no estádio do Pescadores indicava bem a importância do desafio, estando ambas as bancadas no máximo da sua capacidade. À última jornada e na necessidade de uma vitória ou de uma combinação de resultados satisfatórios, embora improváveis, o Pescadores impôs o seu jogo sobre o Almada, a quem a vitória também garantia a subida ao escalão superior. Para António Martins, presidente do clube, o que representa esta conquista?
Este é o caminho de recuperação que tínhamos traçado para o clube. Estamos a recuperar a credibilidade, o nosso lugar, e esta vitória representa a nossa ambição nesse sentido. Ansiávamos por isto, colocar o clube na 1ª Divisão distrital. A aposta na formação é também para cimentar isto.
Em termos de sucesso desportivo, há algum plano a longo prazo onde idealize os Pescadores? Algum patamar?
o patamar importante do clube é: ter uma formação com muitas equipas a disputar o Nacional; a equipa de futebol feminina a disputar o Nacional; e que as pessoas se identifiquem com o clube e coloquem aqui os filhos, para daqui nasçam os indivíduos de amanhã. Queremos muito criá-los, nutri-los de valores, formá-los, mesmo aqueles que não têm possibilidades. Nós estamos cá para isso, é para isso que este projeto foi criado. Claro que atrás disto é muito bom ter uma equipa de seniores num patamar que pretendemos. o clube ainda tem certas dificuldades e, portanto, pretendemos ter os pés assentes na terra ao projetar o amanhã.
Em termos de representatividade da Costa da Caparica, como vê esta vitória? Tendo em conta que muitos destes jovens aspiram a representar este clube? Vejo isto como uma vitória da terra. Esta vitória é do clube e da terra em que se insere. É uma vitória de todos. Esta vitória trará a Costa uma maior representativi-
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o Nuno é uma pessoa que se identifica muito com o clube. o Nuno é dos nossos. o Nuno aceitou este projeto, acreditou nesta equipa diretiva, acreditou no nosso trabalho. o Nuno acreditou no nosso trabalho e nós acreditámos muito no trabalho dele. Nós sabíamos que ele podia conseguir
isto, e isto é um grande exemplo de envolvimento para as restantes pessoas da terra, para que voltem ao clube, que se relacionem e identifiquem com ele. É algo de muito satisfatório ter as pessoas aqui da terra a voltarem a relacionarem-se com o clube e ajudarem o clube. Posso desde já aqui adiantar em primeira-mão que, mesmo antes deste jogo, nós, com base na crença no Nuno e no seu trabalho, renovámos contrato com ele, para lhe dar também confiança. Foi um jogo de nervos. Valeu a pena?
o que vale é as pessoas acreditarem neste projeto e no nosso trabalho. Este é um trabalho de voluntariado, com muita entrega. Conhecem-nos, nós somos Costa da Caparica. Este clube é uma tradição, não pode acabar. Porque estamos a revitalizar o clube e o clube está bem e recomenda-se. Esta direção tudo fará para que o clube continue a crescer e a honrar a terra as pessoas que fazem e venham a fazer parte dele. Queremos que as pessoas se envolvam, porque vale a pena. |
O HOMEM DA TÁTICA Fundamental para a estratégia de vitória e de subida de divisão foi o trabalho do treinador, Nuno Ferreira, que não podia deixar de ser ouvido pelo Notícias da Gandaia.
O Pescadores apresentou-se muito concentrado e com boas jogadas de entendimento, sobre um Almada a precisar de forma idêntica de obter um resultado positivo. Do ponto de vista tático podemos dizer que as coisas correram conforme o previsto?
Sem dúvida. Temos tendência par dizer que quando ganhamos tudo corre bem. Não é verdade. No entanto a táctica que havíamos montado funcionou praticamente na perfeição. Entrámos fortes no jogo, com qualidade de posse e a assumirmos ataques rápidos sempre que o jogo o permitia. Na segunda parte, com o Almada a precisar de ganhar aproximou-se mais da nossa baliza e aí fomos obrigados a baixar um pouco as nossas linhas e a guardar o melhor possível a nossa baliza.
Ao longo da época, e como demonstra a tabela classificativa, houve um grande equilíbrio competitivo. Que tipo de trabalho tático e mental foi necessário para vingar perante tal competição?
A nossa realidade é bastante amadora. os jogadores são amadores, mas a exigência é exactamente igual caso fossem profissionais. Quando isso acontece, o resultado é o que se viu. Tínhamos um grupo de homens
maravilhoso e que concretizou em resultados o grupo que eram.
Quais os momentos-chave ao longo da época?
Foram vários ao longo do ano, no entanto refiro alguns que tiveram um peso maior. Em primeiro lugar o fato de na passagem da quarta jornada da primeira fase termos apenas cinco pontos, fez-nos andar sempre atrás dos outros. Depois o empate que tivemos com o Brejos de Azeitão, à sétima jornada, quando aos 70 minutos ganhávamos por 3-0. Uma expulsão e uma lesão (sem substituição disponível) em simultâneo, sofremos o 3-1 e descarrilámos nesse momento. Foi uma grande aprendizagem! A partir dessa jornada apenas perdemos um jogo. À entrada da fase final fizemos dois empates, o que nos fez mais uma vez correr atrás dos outros. Estabilizámos o nosso trabalho e depois de ganharmos em casa ao campeão, perdemos dois jogos importantes e colocamos em causa todo o trabalho feito durante a época. Talvez aí surja o melhor momento da nossa época... As duas vitórias nas duas últimas jornadas quando éramos obrigados a ganhar.
Renovar pelo Pescadores, antes do último jogo da época, é revelador de reconhecimento do seu trabalho. Como vê o projeto da direção para o Pescadores?
o momento definido pela direção para apresentar a proposta para o novo ano é reveladora de toda a con-
fiança que existe no grupo de trabalho. o projeto da atual da direção é muito bom. As pessoas que lideram o clube querem efetivamente o melhor para o clube e isso nem sempre é uma realidade noutros sítios. Pés bem assentes no chão e conscientes das dificuldades do passado, enquanto caparicano acredito que este é o rumo certo. Na qualidade de treinador ao longo de todo o mandato desta direção sinto-me inteiramente identificado com o foco e objetivo do clube. Trabalhamos em parceria diariamente e os resultados foram conseguidos.
É conhecido o seu passado ligado ao clube. Em termos, emocionais, o que significa para si voltar aos Pescadores onde deu os primeiros passos no mundo do futebol?
As emoções estão muitas vezes à frente da razão na minha forma de estar na vida. Assim sendo, não poderia estar mais contente com o resultado atingido. Comecei nos Pescadores aos oito anos e, agora, com 31, consegui liderar a equipa à subida de divisão. os Pescadores estão claramente no bom caminho. As pessoas estavam desligadas do clube devido às péssimas gestões do passado. Mas, neste momento o clube trabalha bem e é honesto. |
DiRETOR: Ricardo Salomão EDiTOR: Rui Monteiro – Praça da Liberdade, n.º 17-A, 1.º andar – 2825-355 Costa da Caparica REDAçãO: Andreia Gama DiREçãO DE ARTE: Ausenda Coutinho COlAbORADOREs: Abel Pinto, António Zuzarte, Elizabete Gonçalves e Francisco Silva (Centro de Arqueologia de Almada), Fernando Barreiros, João Xavier, Luísa Costa Gomes, Maria da Conceição Serrenho, Reinaldo Ribeiro, Tiago Rocha, Victor Reis CRUZADisMO: Jorge Manuel Barata dos Santos EsTATUTO EDiTORiAl: http://gandaia.info/?page_id=5171 DEPARTAMENTO COMERCiAl: Ausenda Coutinho – Tlm: 968 050 744 – comercial@gandaia.info JORNAL NOTÍCIAS DA GANDAIA – Registo n.º 126448 na ERC. – PROPRiEDADE: Associação Gandaia MORADA E sEDE DA REDAçãO: Praça da Liberdade, n.º 17-A, 1º andar – Centro Comercial “o Pescador” – 2825-355 Costa da Caparica – NIPC: 510220169 sECRETARiA: Rua Vitorino José da Silva, n.º 18 – 2825-421 Costa de Caparica – Horário: 10:30 às 12:30 (exceto quartas-feiras: 16:00 – 19:00) CONTACTOs: Tlms. 914 416 875 / 967 582 737 – noticias@gandaia.info – www.gandaia.pt – PUbliCiDADE: comercial@gandaia.info – Tlm: 968 050 744 PERiODiCiDADE: Bimestral TiRAGEM: 10.000 exemplares iMPREssãO: Gráfica Funchalense – Rua Capela Nª Srª da Conceição, n.º 50 Morelena – 2715-029 Pêro Pinheiro DEPósiTO lEGAl: 436220/18 DisTRibUiçãO: Preço: 0,01€
Notícias da Gandaia JULHO 2019 | EDITORIAL
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EDITORIAL EM TRÊS ANDAMENTOS CADA VEZ MAIS LENTOS O MAR OS M U D A -N TODOS OS DIAS |Ricardo Salomão Allegro: Ir a Banhos de Mar é coisa fina, coisa saudável e coisa recente. Nem todos podem, mas nós, em Almada, podemos: é já aqui.
Pode ser coisa recente, mas já faz parte de nós, está na nossa cultura e está no nosso território.
Uma das características curiosas desta situação é que nos parece tão natural como beber água e tão natural como, ao fim do dia, ir para a cama dormir. Mesmo sabendo que nem sempre foi assim e que se trata de um hábito que só nos anos de 1900 se generalizou.
Esta perceção enganadora de naturalidade esquece que o descanso é o fruto de uma longa batalha do trabalho, que a semana francesa, descansar dois dias, só chegou depois do 25 de abril e mesmo antes, a semana inglesa, trabalhar o sábado de manhã e descansar à tarde e no domingo, era para muito poucos. o mês inteiro de férias, pago como se estivéssemos a trabalhar, é outra das conquistas de abril e pode-se dizer que não se encontram muitos países fora da Europa a praticá-lo. Resumindo, fins de semana e férias supimpas, é luxo mesmo e foi difícil chegar aqui. Há que saboreá-lo. E lutar para não o perder.
Depois, isto da praia cresceu e ficou complexo. Tem rituais, tem moda, tem realidades sociais intrincadas. Toda uma nova encenação que se adiciona às outras que já vinham dos tempos remotos, a persona profissional, a noturna… Na praia, a linguagem é minimal. Nos últimos anos acrescentou-se a tatuagem à imagem pessoal explicada em muito poucas palavras. Em algumas das nossas praias, mesmo sem palavras nenhumas.
Adagio: Por outro lado, a praia, é a nossa praia. Mesmo que esteja diferente todos os dias, mesmo que a areia tenha desaparecido, ou milagrosamente seja multiplicada, como este ano irá acontecer. Mesmo que seja invadida semanalmente por milhões de lisboetas, é sempre a nossa praia, confortavelmente familiar, que orgulhosamente partilhamos. Mesmo que abanquem a 7 centímetros de nós.
A praia é uma excelente metáfora da realidade. Vemos aquilo que queremos. Em qualquer uma das nossas praias, aquelas que julgamos conhecer tão bem, cruzam-se realidades muito distintas, interpenetramse, moldam-se e interagem, transformamse e evoluem sem parar. Sendo sempre a “nossa” praia. Mesmo quando olhamos e não vemos.
Neste número do Notícias da Gandaia apresentamos algumas formas muito diferentes de viver as nossas praias. Anunciamos possíveis alterações profundas no comboio que, esperamos, irá continuar a ser o comboiozinho da nossa praia.
Grave. Finalmente, num número dedicado a praias, não podia deixar de assinalar – de agradecer – a mão solidária da ajuda nacional que pagou mais um reforço de areia na nossa frente atlântica.
Mesmo os portugueses que nunca foram à praia ajudaram a que a nossa defesa natural mais eficaz – as dunas – fossem reforçadas. Que a prática de surf, que tanto contribui para a nossa economia, seja reforçada e também, o nosso lazer, o nosso prazer, seja reforçado. Se fossemos só nós, contribuintes de Almada, a suportar a despesa, seria possível resistir aos avanços do mar? |
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Shaping the future
Houve boatos, anúncios contraditórios, há segredos eventualmente por revelar sobre o fim de um contrato e a realização de outro com uma entidade diferente, mas entre 15 e 18 de Agosto o Sol da Caparica estará no lugar do costume. Agora com Twenty Fingers a abrir e Boss AC a fechar o programa de concertos pelo meio animado por Anselmo Ralph, Seu Jorge, ou David Carreira, Mayra Andrade e Mariza. É longa, e variada, a lista de artistas destinada a passar pelo palco instalado no Parque Urbano da Costa da Caparica entre quinta-feira, 15, e domingo 18. E nela encontra-se de tudo. Por exemplo, sem falar dos já referidos, há concertos de Richie Campbell, Plutonio e Mishlawi, ou de Benjamim, Carlão, Capitão Fausto, Linda Martini, e ainda Luís Represas, Luísa Sobral e Gabriel o Pensador. ou ainda os menos conhecidos mas nem por isso menos potencialmente interessantes, quem sabe até se por ali não se encontre uma revelação, Mary N, The Happy Mess, Diana Lima e Lookalike, sem esquecer Trueskey. Além de, não esquecer também, o último dia é dedicado a infantes e juvenis e que para eles estão reservados espectáculos como Mão Verde, o Recreio da Anita e Porbatuka. |R.M.
70 ANOS DE FREGUESIA A freguesia da Costa da Caparica foi criada há 70 anos dividindo assim o território da Trafaria. Uma exposição promovida pelo Arquivo Histórico de Almada, junto ao Posto de Turísmo, no acesso à praia do Tarquínio, patente ao público a qualquer hora do dia (e da noite) até setembro.
GERÊNCIA DE:
A exposição está montada numa estrutura de madeira em forma de corredor nela se apresentando alguns documentos originais sobre a origem da cidade, incluíndo cartazes turísticos.
Um complemento a um dia de praia - que têm andado tão arredados - permitindo conhecer um pouco melhor esta cidade que palpita para além da estreita faixa de areia que toda a gente julga conhecer.
António Brás e Sérgio Brás
ou então... investigar aqui por que raio a Costa é “da”, enquanto Monte e Charneca são “de” Caparica.
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Notícias da Gandaia JULHO 2019 | REPORTAGEM
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A PRAIA É UM MAR DE POSSIBILIDADES |Ricardo Salomão Almada tem as suas praias e ir à praia faz parte do ADN do concelho. Mas as praias de Almada são as praias de muita gente de ambas as margens do Tejo. O extenso areal que constitui a nossa frente atlântica, tão familiar para todos nós, na verdade é vivido, e mesmo visto, de forma muito diferente conforme a relação que estabelecemos com a praia. Sem abordagens antropológicas, o Notícias recolheu alguns testemunhos reais e diretos de pessoas que vivem a praia de formas muito diversas, profissionais, que quando olham para a praia veem coisas diferentes. Mário Figueiredo, pescador, vê os fundos, conhece as pedras, prevê o peixe. Miguel Gomes, surfista e associativista, vê as ondas resignado com o mar “flat” de verão. Marco Antunes, o humorado nadador-salvador, vigia as pessoas, especialmente as que estão no mar. Pinto Silva vê dois carris estendidos pelo areal fora. Há inúmeras possibilidades para aquilo que é “a nossa praia”. E para a vasta maioria que inunda as praias no verão, os banhistas, tantos de nós, que vemos a praia como areia e mar, preferencialmente com sol, para simplesmente mergulhar e deitar na areia, vendo e ouvindo tantos outros em banhos e a apanhar sol. E mesmo para os banhistas, a praia é deliciosamente diferente para uns e outros. Tanto dá para o garrafão como para a moda, do discreto ao exuberante, do familiar ao sensual.
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REPORTAGEM | JULHO 2019 Notícias da Gandaia
A MINHA PRAIA
É O FUNDO DO MAR Mário Martins Figueiredo nasceu e mora na Fonte da Telha, onde fez e criou três filhos, um dos quais é pescador como ele.
“A praia? Nós nascemos a olhar para a praia!” Vive na mesma praia há 72 anos, atravessou as grandes mudanças das últimas décadas: motores, tratores, novos materiais, novos tipos de barcos, novas redes... mas menos peixe e mais lucro nos intermediários. Mário, quando olha para o mar, vê peixe. A maneira como o mar se apresenta é interpretada segundo o peixe que há ou não há, e as for-
mas de o apanhar: “conheço o fundo do mar todo, até à Lagoa de Albufeira. Sei a fundura dos locais, as pedras… são muitos anos…” Mas não era tudo, “ainda há a fezada, a fé de que ali ou acolá anda peixe, E pronto, lá vamos nós”.
Na Fonte da Telha, agora, só há três companhas de Arte-Xávega, com cerca de 20 pessoas cada. “Começamos em março, abril e paramos em outubro, dependendo de cada ano, do mar que está e do peixe que vai havendo.” A Xávega, uma técnica de pesca milenar, é uma herança cultural
preciosa nas nossas praias. Conhecida como Arte, no Norte, da Vieira até Espinho, e como Xávega, no Algarve, ficou Arte-Xávega para todos.
História e cultura à parte, o dia a dia é uma batalha dura para ganhar o pão quotidiano, que tem de chegar à mesa todos os dias. “Quando não podemos pescar com a Arte-Xávega, usamos as redes de tresmalho, ou a rede de um pano.”
Somando à dificuldade da pesca, do mar e das agruras do clima, acresce “o maior problema é o das
vendas. Agora estamos a vender a cavala muito bem. Muito barata, mas vende-se oito toneladas. Mas se eles deixarem de a comprar…”. “Eles” são os espanhóis, que compram a cavala por atacado para alimentar os seus intensos viveiros de atum. O sushi, e não só, depende deles e, claro, das nossas praias também.
Infelizmente, “há cada vez menos peixe. Cavala não, agora até parece haver mais. “Sardinha? Este ano há muita, mas nós não podemos pescá-la, só as traineiras é que têm quota, quando apanhamos, temos de jogá-la fora, nem sequer para isco podemos vender.”
Quanto à relação com os banhistas, não há problemas a registar. Nas zonas concessionadas só pescam depois das 18:30 e é um espetáculo que muitos gostam de ver, especialmente com a nuvem de gaivotas que sempre acompanha a faina. “Antigamente, havia banhistas que vinham no verão para ajudar e ficavam por aí”. A pesca mudou muito. De pu-
xada à mão, com a força de muitas pessoas a remar e alar as redes, para agora, com motores nos barcos e tratores a puxar.
Mário Figueiredo foi determinante na transformação da ArteXávega. Quando viu tratores na praia, percebeu que tinha de existir outra forma: “fui a Espinho ver como eles estavam a fazer com um sistema muito diferente. Foi lá que tive a ideia de fazer os aladores de tambor que puxassem a corda e também as redes. Depois de os verem, todos começaram a usar esse sistema aqui.”
Quanto ao elegante barco tradicional, o ícone das nossas praias, o “Meia-Lua”, está condenado: “é difícil adaptá-lo ao motor. É muito estreito atrás. Em Vieira de Leiria, Mira e Espinho ainda usam porque os barcos deles são muito grandes e mais largos cá atrás, aguentam muito melhor o motor”.
Mário não é filho de pescadores, mas o seu filho já é pescador e o seu neto, prestes a nascer, será também? “Eu não dava esse conselho”, confessa. |
CAMPISTAS NÃO VÃO PODER DORMIR (DESCANSADOS) NA PRAIA Incendiada pela infeliz vítima no incêndio de um parque de campismo, a polémica reacendeu-se sobre as condições existentes e as suas localizações. Cinco alvéolos arderam na sua totalidade e três parcialmente. O dispositivo de socorro contou com 16 veículos e 37 operacionais para resolver o incidente em 30 minutos.
A notícia, proveniente de uma conferência de imprensa dada às televisões no local com Francisca Parreira, vereadora da Câmara Municipal de Almada, acompanhada por José Ricardo Martins, presidente da Junta de Freguesia da Costa da Caparica, assumiram três coisas fundamentais e, parafraseando Francisca Parreira, “com clareza e frontalidade.”
A primeira é que há parques que não cumprem as regras de segurança. A segunda é que caso esta situação não seja corrigida, serão encerrados. A terceira é que existe neste executivo a intenção de transferir os parques para outro local e que já o tinham informado às direções dos parques. “É um processo longo, de diálogo, que
já iniciámos. Relativamente a questões de segurança, elas são prioritárias e as regras têm que ser cumpridas. A Câmara está pronta a ajudar em tudo o que for necessário para a implantação das transformações que sejam necessárias, mas as regras de segurança são para cumprir rigorosamente”.
Há muito que são comentadas infrações, especialmente nas distâncias entre equipamentos e na largura dos acessos, mas foi a vereadora quem confirmou terse realizado uma inspeção, que incluiu a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, que detetou irregularidades, tendo já notificado os parques.
Relativamente à transferência dos parques, a sua obrigatoriadade é ditada pela aprovação do Plano de Ordenamento da Orla Costeira, que dita a necessidade de recuar pessoas e bens da linha do litoral. No entanto, em 2018, a resistência do INATEL e do Clube de Campismo de Lisboa contra o processo de desocupação dos parques, aprovados desde 2010 pela CostaPolis, ainda se arrastava em tribunal,.
Campismo ou segunda habitação?
O campismo é uma presença constante em todas as praias nacionais, mas quando está próximo de zonas urbanas é frequente ser segunda habitação. Mesmo quando não são no litoral.
Na Costa da Caparica existem presentemente sete parques de campismo: quatro a norte: INATEL, CCL, GNR, PNEC (Escotismo) e três a sul, CCC Almada, CCLisboa e Piedense, da SFUAP. E não é preciso recuar mais de 50 anos para ver a explosão do campismo por todo o lado, na praia, nas matas, à beira da estrada… apesar dos parques já existentes.
A verdade é que os campistas estão nas primeiras linhas dos amantes da natureza e, naturalmente, da praia. Frequentam as nossas praias desde o alvor daquela prática em Portugal e não admira a sua presença tão clara nas nossas praias. Já há muito tempo que, além do campista da natureza, multiplicou-se o campista de conveniência, explorando uma forma
mais barata de alojamento, mas ainda assim cómoda – e próxima da natureza.
Esse crescimento leva alguns especialistas a considerar que a grande maioria dos parques aqui existentes não são de campismo, mas de segunda habitação. As implicações são profundas. Os parques têm raízes na perceção do campismo como um desporto, uma atividade saudável, que leva o Estado a ceder terrenos para a sua prática, numa época em que o campismo e a própria praia eram pouco procurados.
Por outro lado, era pública a preocupação dos executivos anteriores ao direito de acesso à praia pela população economicamente menos favorecida.
O CostaPolis, cortou a direito e planeou a remoção de quatro parques associativos para uma única zona junto à Aroeira, o Pinhal do Inglês. Acabou tudo em tribunal e acabou com o CostaPolis, que contava com o capital de vendas e concessões para financiar o resto das obras. |
Notícias da Gandaia JULHO 2019 | REPORTAGEM
APANHAR A ONDA sócios federados para um total de mais de mil associados. Somos um dos maiores clubes de surf nacionais, o mais premiado da Costa, com vários campeões nacionais.”
Miguel Gomes continua a olhar o mar chão com o indisfarçável ar de desapontamento, o mesmo com que um pescador olha o mar bravo, como se fossem um reverso das expectativas do mar. Miguel Gomes, presidente da Associação de Surf da Costa de Caparica, 49 anos e com um filho já nas competições, tem visto o surf crescer na sua vida acabando por se tornar central, apesar de não ser a sua profissão. “Isto começou em 1986, como um grupo de amigos que se reuniam na
Praia do Marcelino para fazer surf” explica, relatando a evolução da ASM, Associação de Surfistas do Marcelino, que já organizava competições entre sócios e outros locais, para a formalização como Associação de Surf da Costa da Caparica em 1994. “Presentemente com cerca de 200
“Mas eu também sou pescador”, atalha MG, para depois esclarecer que para o surf “a época alta é de setembro a maio. No verão, no equinócio, há algumas ondas… mas o verão é isto que estamos a ver agora, flat.”
Quando interrogado sobre os melhoramentos a fazer, não hesita em prevenir que tem ideias muito claras sobre o assunto: “é preciso fazer o
trabalho de casa”, diz Miguel Gomes. “Claro que é muito importante termos QS, Campeonatos do Mundo 3000, 6000, atrair pessoas para a praia e os holofotes estarem virados para nós; é muito importante termos escolas de surf, mas tudo tem que ter um enquadramento e um seguimento. Primeiro, a regulamentação nas escolas barrar a ocupação selvagem do areal que prejudica aqueles que legalmente desenvolvem a sua atividade ao longo de todo o ano. Depois, tem que haver aqui um Centro de Estágio, instalações que permitam formar os atletas locais, receber seleções, incrementar os intercâmbios… Se olharmos em redor, há centros em Carcavelos, Peniche, Ericeira, Viana do Castelo…” |
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REPORTAGEM | JULHO 2019 Notícias da Gandaia
Notícias da Gandaia JULHO 2019 | REPORTAGEM
TRANSPRAIA
para cada grupo, por exemplo, as zonas onde a ondulação é mais fraca e, por isso, mais aconselhadas a banhos, são reservadas para os banhistas, nas zonas de ondulação mais forte são permitidos os desportos como o surf, windsurf, kitesurf, enquanto o arrasto das artes de xávega é permitida antes das 10:00 horas e depois das 18:00.
VENDA? SERÁ DESTA?
A Câmara quer, mas…
DINHEIRO DIVIDE CÂMARA E PROPRIETÁRIOS Vai voltar ao centro da Costa e, quem sabe, um dia chegará à Trafaria. Mas há muitos “mas” e “ses” neste processo em que a Câmara Municipal de Almada está compradora do Transpraia, contudo sem ainda ter encontrado um entendimento com os proprietários.
“O comboiozinho” celebrou, nos finais deste junho, 59 primaveras (e verões) a percorrer os oito quilómetros de praias da Costa da Caparica à Fonte da Telha.
António Pinto Silva, proprietário do Transpraia, é sensível à nostalgia do tal período áureo em que reinava nos areais, ligando a Fonte da Telha ao centro da Costa da Caparica, servindo os densos parques de campismo. “Era a forma natural de ir à Costa, às ‘compras’.”
Em 2009 o CostaPolis empurrou o Transpraia para perto da Praia Nova, bastante a Sul dos Bombeiros, cortando a relação do transporte com o centro da cidade. O projeto previa construir nesse local o interface de todos os transportes, incluindo o Metro, a TST e também o Transpraia. No entanto, como é sa-
bido, o CostaPolis colapsou, tendo o governo de Pedro Passos Coelho, pela mão do Ministério do Ambiente, então dirigido por Assunção Cristas, decidido a liquidação da sociedade até 2014, com apenas dois dos sete Planos de Pormenor terminados. Uma das heranças deste descalabro foi o impacto no comboio, amputado da ligação ao centro e com o terminal desgarrado e escondido que, conforme se queixa Pinto Silva, “não se vê; muita gente pensa até que acabou, que já não há comboio…”
“Desde 2009 o negócio caiu para um terço do seu volume”, revela o proprietário. É a partir desta data que têm surgido regularmente notícias da possível venda do Transpraia, seja para o estrangeiro (Barcelona, Cabo Verde) seja para outros destinos em território nacional. Já em 2012, perante as notícias alarman-
tes da venda e remoção do “comboiozinho”, gerou-se o movimento público “Salvar o Transpraia”, ao qual a Gandaia esteve associada. Fez-se uma Assembleia Popular, no Auditório Costa da Caparica, um abaixo assinado, uma exposição fotográfica… Exigiu-se o regresso do Transpraia ao centro da Costa. Todas as forças políticas do concelho concordaram na necessidade de “salvar o Transpraia” e Joaquim Judas, que um ano depois seria eleito Presidente da Câmara de Almada, manifestou publicamente o seu apoio e envolvimento, prometendo o regresso do terminal ao centro. Na altura foram também confirmadas negociações com a CarrisTour, porém tudo continuou na mesma.
Todavia, em todas as épocas balneares, o Transpraia volta ao seu percurso, oferecendo uma
experiência única de transporte pela beira mar, uma originalidade flagrantemente desperdiçada pelo turismo local, mas assinalada no TripAdvisor. Curiosamente, há anos que anuncia sempre o mesmo percurso, que mantém a partida no antigo Terminal, desativado, no centro, mesmo ao fim da Rua dos Pescadores, e ainda a inexplicável indicação de paragem onde se lê “Teleférico da Aroeira – Paragem Inexistente”, até chegar ao remanso da Fonte da Telha por 8,50€ ida e volta.
800 mil euros atrapalham venda
A negociação entre a Câmara e os proprietários do Transpaia iniciou-se, soube o Notícias da Gandaia, pouco depois deste executivo tomar posse. Diz António Pinto Silva: “Reunimos, projeta-
ram-se obras de melhoramento, muitos planos foram explicados, mas acabaram por me pedir para apresentar uma proposta. Eu achei estranho, costumam ser os compradores a fazer uma proposta e os proprietários aceitam ou não. Falei com a família e apresentámos o nosso número: um milhão e 400 mil euros.”
Pinto Silva respira fundo depois de revelar a quantia, e acrescenta: “o Transpraia é muita coisa, máquinas, carris, a marca… muita coisa. Foi esse o número a que chegámos e foi isso que apresentámos.” A CMA não aceitou, “e também não fez as obras de melhoramentos que tinha referido na reunião inicial”, queixa-se. “Houve outra reunião, desta vez com a ECALMA. Eu convoquei os meus familiares para falarmos sobre este assunto e a contraproposta da Câmara era de 200 mil euros. Claro que recusá-
A ECALMA, que segundo o proprietário tem conduzido as negociações, questionada pelo Notícias da Gandaia sobre os passos dados no sentido da aquisição, afirma de forma clara e inequívoca, embora não respondendo à pergunta, “Mantemos, no cumprimento da missão que nos foi atribuída, conversações constantes com os vários operadores de transportes do Concelho de Almada. O diálogo permanente visa a promoção de uma nova mobilidade, mais amiga do ambiente e mais eficaz no serviço à população.” Apesar do silêncio da empresa, fontes conhecedoras do pro-
cesso disseram ao nosso jornal que a CMA está de facto interessada em comprar o Transpraia, mas que nunca irá chegar aos valores “estratosféricos” apresentados. E enquanto as negociações decorrem, foram solicitados pareceres para avaliar o valor real da empresa. Certo é, de acordo com todas as fontes consultadas pelo Notícias da Gandaia, o desejo e a vontade de integrar ”o comboiozinho” no sistema de transportes da Área Metropolitana de Lisboa, assim integrando a rede coberta pelo Passe Único. Aliás, todos os testemunhos coincidem, não só no regresso ao centro da Costa, como na sua expansão até à Trafaria. E certo é que caso a compra pela autarquia se concretize, todo o Transpraia irá ser revisto, especialmente numa rigorosa e necessária adequação ambiental, que ofereça sustentabilidade e segurança.|
Problemas e carências
BANHOS SEGUROS
|Abel Pinto
O socorro aos banhistas nas praias da Costa da Caparica teve o seu começo logo no início do século XX. Em 1913, o primeiro comandante dos Bombeiros Voluntários de Cacilhas, António Feio, decidiu enviar um grupo de bombeiros para passar o fim-desemana na Costa de Caparica. E os bombeiros de Cacilhas lá foram, de tenda de lona às costas, acompanhados da família, passar o fimde-semana nas praias, prestando ajuda a quem necessitasse.
Para conhecer o dispositivo que está montado para assegurar a segurança e o socorro dos frequentadores das praias do concelho, o Notícias da Gandaia contactou a Capitania do Porto de Lisboa, a Autoridade Marítima, o ISN – Instituto de Socorro a Náufragos, os Bombeiros (Cacilhas e Trafaria) e a GNR, para poder informar sobre o dispositivo implementado nas praias do concelho de forma a assegurar a segurança e a protecção de todos os frequentadores das praias.
A GNR não respondeu de forma positiva. Os Bombeiros da Trafaria, na pessoa do comandante Afonso Rocha, responderam a informar que só integram o dispositivo nas praias no período que antecipa a época balnear. Já nos Bombeiros Voluntários de Cacilhas, foi o segundo comandante, Jorge Cardoso, a descrever-nos os meios de que dispõe para o socorro e o patrulhamento das praias entre os meses de Setembro a Junho. Isto é: 12 nadadores salvadores, sete socorristas, seis mergulhadores, duas motos de água, duas embarcações pneumáticas e um par de viaturas 4x4.
Os comandantes João Coelho Gil e o Rodrigues Barroso receberam-nos na delegação marítima da Trafaria onde nos deram a conhecer o dispositivo de salvamento que está implementado no concelho de Almada e a forma como os vários organismos “dividem” as responsabilidades entre si. O ISN tem, no essencial, competências administrativas, como por exem-
plo: definição dos programas de formação dos nadadores salvadores (NS), definição das características técnicas dos meios de salvamento (bóias, kits de primeiros socorros…), não tendo competências operacionais. Pela nova lei de competências municipais, são os municípios que têm de assegurar a assistência aos banhistas, a qual é assegurada através de contrato com os concessionários, passando para estes a obrigação de contratar os NS necessários à correcta vigilância da área da concessão. Pertencendo à capitania a missão de coordenar e integrar todos os meios, humanos e materiais, que existem nas praias.
O dispositivo de salvamento implementado nas praias do concelho é composto por cinco Planos Integrados de Salvamento (PIS), os quais se distribuem geograficamente pelas seguintes praias: Cova do Vapor e São João da Caparica, Frente Urbana da Costa da Caparica, Saúde e da Mata, da Mata até à praia da Bela Vista e finalmente as praias da Fonte da Telha. Nos cinco PIS estão previstos 95 nadadores salvadores, quatro motos de água, duas moto 4, duas viaturas 4x4, 5 desfibrilhadores automáticos externos, 54 meios de comunicação e um kit de oxigenoterapia. Em complemento aos PIS, a autoridade marítima local/capitania do porto de Lisboa (AML/CPL) e a Câmara de Almada disponibilizam recursos a serem utilizados maioritariamente nas praias não concessionadas e para apoio ao dispositivo implementado nas áreas vigiadas. A AML/CPL disponibiliza quatro militares NS e duas militares para vigilância apeada, um par de viaturas 4x4, duas moto 4, quatro kits de oxigenoterapia, quatro desfibrilhadores automáticos externos e seis meios de comunicação. A CMA disponibiliza sete NS, sendo a capitania ainda responsável por licenciar e fiscalizar a venda ambulante no areal e por prevenir e mitigar conflitos entre banhistas, surfistas e pescadores. Para prevenir os conflitos, são definidas zonas prioritárias
Os principais problemas apontados pelo comande João Coelho Gil são a extensão das praias e a quantidade de gente que as frequenta, a falta de estacionamento e, principalmente, os comportamentos de risco que as pessoas, apesar dos avisos e das coimas, teimam em praticar. Já Jorge Cardoso, segundo comandante dos Bombeiros de Cacilhas aponta a falta de apoios oficiais como o principal problema sentido pela corporação.
Coelho Gil aponta a formação da população como a área onde seria importante efectuar uma aposta séria de forma a evitar os comportamentos de risco. Por exemplo: para passar os seus tempos livres á beira-mar de forma mais segura e aprazível, tenha em conta os seguintes conselhos: cumpra as indicações das autoridades marítimas e dos NS, preste atenção aos sinais das bandeiras e respeite-os, tome banho em praias vigiadas e nas áreas indicadas como zona de banhos, tome banho acompanhado e, mesmo que seja bom nadador, dê as suas braçadas paralelamente à praia e em locais sem correntes. Finalmente, não esquecer que após demorada exposição ao sol deve entrar na água lentamente, que depois de comer deve aguardar três horas antes de entrar na água. Já se não sabe nadar, o melhor é não deixar a água passar a cintura, ou se der saltos ou mergulhos procure locais que conheça e salte de pés. Mais importante: se sentir dificuldades, peça socorro sem hesitação. |
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G as tr on om ia
restaurantes PUB.
CACILHAS
O Mirrita
Sugestões: Bife à Lagareiro. VENCEDOR 1.º PRÉMIO de cozinha tradicional portuguesa na categoria prato principal na XVI Festa da Gastronomia de Cacilhas 2018.
969 635 759 - 21 080 9075 R. Cândido dos Reis, 111 Cacilhas, 2800-270 Almada Encerra à terça-feira.
Solar Beirão
Restaurante / Marisqueira
Sugestões: Mariscadas, Caldeirada, Emparrilhadas, Ensopado de Enguias, Comida Tradicional
21 276 6019 R. Cândido dos Reis, 17 Cacilhas 2800-677 Almada www.solarbeirao.pai.pt Encerra à Segunda
RESTAURANTE
O Verdadeiro Rodízio
21 296 31 21 - 96 460 43 69 RODÍZIO DE CARNE E PIZZA Música ao Vivo
TODAS AS NOITES - SÁBADOS E DOMINGOS AO ALMOÇO
PIZZAS EM FORNO DE LENHA TODA A VARIEDADE DE CARNES BUFFET (QUENTES E FRIOS) RODÍZIO (CARNES E PIZZAS)
Rua das Quintinhas, Quinta do Américo
Charneca de Caparica
Restaurante Livorno
mos.” O que justifica com os custos, o material…, as agruras do negócio, atalhando logo de seguida dizendo que tem mantido negociações para venda, incluindo para o estrangeiro, o que implica a remoção e deslocação dos carris, composições, máquinas, etc. “Na verdade, essa hipótese ainda não está descartada”, confidencia António Pinto Silva, “quer para outro local em Portugal, quer para o estrangeiro, tenho propostas em cima da mesa.”
geral.livorno@hotmail.com
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REPORTAGEM | JULHO 2019 Notícias da Gandaia
Notícias da Gandaia JULHO 2019 | REPORTAGEM
TRANSPRAIA
para cada grupo, por exemplo, as zonas onde a ondulação é mais fraca e, por isso, mais aconselhadas a banhos, são reservadas para os banhistas, nas zonas de ondulação mais forte são permitidos os desportos como o surf, windsurf, kitesurf, enquanto o arrasto das artes de xávega é permitida antes das 10:00 horas e depois das 18:00.
VENDA? SERÁ DESTA?
A Câmara quer, mas…
DINHEIRO DIVIDE CÂMARA E PROPRIETÁRIOS Vai voltar ao centro da Costa e, quem sabe, um dia chegará à Trafaria. Mas há muitos “mas” e “ses” neste processo em que a Câmara Municipal de Almada está compradora do Transpraia, contudo sem ainda ter encontrado um entendimento com os proprietários.
“O comboiozinho” celebrou, nos finais deste junho, 59 primaveras (e verões) a percorrer os oito quilómetros de praias da Costa da Caparica à Fonte da Telha.
António Pinto Silva, proprietário do Transpraia, é sensível à nostalgia do tal período áureo em que reinava nos areais, ligando a Fonte da Telha ao centro da Costa da Caparica, servindo os densos parques de campismo. “Era a forma natural de ir à Costa, às ‘compras’.”
Em 2009 o CostaPolis empurrou o Transpraia para perto da Praia Nova, bastante a Sul dos Bombeiros, cortando a relação do transporte com o centro da cidade. O projeto previa construir nesse local o interface de todos os transportes, incluindo o Metro, a TST e também o Transpraia. No entanto, como é sa-
bido, o CostaPolis colapsou, tendo o governo de Pedro Passos Coelho, pela mão do Ministério do Ambiente, então dirigido por Assunção Cristas, decidido a liquidação da sociedade até 2014, com apenas dois dos sete Planos de Pormenor terminados. Uma das heranças deste descalabro foi o impacto no comboio, amputado da ligação ao centro e com o terminal desgarrado e escondido que, conforme se queixa Pinto Silva, “não se vê; muita gente pensa até que acabou, que já não há comboio…”
“Desde 2009 o negócio caiu para um terço do seu volume”, revela o proprietário. É a partir desta data que têm surgido regularmente notícias da possível venda do Transpraia, seja para o estrangeiro (Barcelona, Cabo Verde) seja para outros destinos em território nacional. Já em 2012, perante as notícias alarman-
tes da venda e remoção do “comboiozinho”, gerou-se o movimento público “Salvar o Transpraia”, ao qual a Gandaia esteve associada. Fez-se uma Assembleia Popular, no Auditório Costa da Caparica, um abaixo assinado, uma exposição fotográfica… Exigiu-se o regresso do Transpraia ao centro da Costa. Todas as forças políticas do concelho concordaram na necessidade de “salvar o Transpraia” e Joaquim Judas, que um ano depois seria eleito Presidente da Câmara de Almada, manifestou publicamente o seu apoio e envolvimento, prometendo o regresso do terminal ao centro. Na altura foram também confirmadas negociações com a CarrisTour, porém tudo continuou na mesma.
Todavia, em todas as épocas balneares, o Transpraia volta ao seu percurso, oferecendo uma
experiência única de transporte pela beira mar, uma originalidade flagrantemente desperdiçada pelo turismo local, mas assinalada no TripAdvisor. Curiosamente, há anos que anuncia sempre o mesmo percurso, que mantém a partida no antigo Terminal, desativado, no centro, mesmo ao fim da Rua dos Pescadores, e ainda a inexplicável indicação de paragem onde se lê “Teleférico da Aroeira – Paragem Inexistente”, até chegar ao remanso da Fonte da Telha por 8,50€ ida e volta.
800 mil euros atrapalham venda
A negociação entre a Câmara e os proprietários do Transpaia iniciou-se, soube o Notícias da Gandaia, pouco depois deste executivo tomar posse. Diz António Pinto Silva: “Reunimos, projeta-
ram-se obras de melhoramento, muitos planos foram explicados, mas acabaram por me pedir para apresentar uma proposta. Eu achei estranho, costumam ser os compradores a fazer uma proposta e os proprietários aceitam ou não. Falei com a família e apresentámos o nosso número: um milhão e 400 mil euros.”
Pinto Silva respira fundo depois de revelar a quantia, e acrescenta: “o Transpraia é muita coisa, máquinas, carris, a marca… muita coisa. Foi esse o número a que chegámos e foi isso que apresentámos.” A CMA não aceitou, “e também não fez as obras de melhoramentos que tinha referido na reunião inicial”, queixa-se. “Houve outra reunião, desta vez com a ECALMA. Eu convoquei os meus familiares para falarmos sobre este assunto e a contraproposta da Câmara era de 200 mil euros. Claro que recusá-
A ECALMA, que segundo o proprietário tem conduzido as negociações, questionada pelo Notícias da Gandaia sobre os passos dados no sentido da aquisição, afirma de forma clara e inequívoca, embora não respondendo à pergunta, “Mantemos, no cumprimento da missão que nos foi atribuída, conversações constantes com os vários operadores de transportes do Concelho de Almada. O diálogo permanente visa a promoção de uma nova mobilidade, mais amiga do ambiente e mais eficaz no serviço à população.” Apesar do silêncio da empresa, fontes conhecedoras do pro-
cesso disseram ao nosso jornal que a CMA está de facto interessada em comprar o Transpraia, mas que nunca irá chegar aos valores “estratosféricos” apresentados. E enquanto as negociações decorrem, foram solicitados pareceres para avaliar o valor real da empresa. Certo é, de acordo com todas as fontes consultadas pelo Notícias da Gandaia, o desejo e a vontade de integrar ”o comboiozinho” no sistema de transportes da Área Metropolitana de Lisboa, assim integrando a rede coberta pelo Passe Único. Aliás, todos os testemunhos coincidem, não só no regresso ao centro da Costa, como na sua expansão até à Trafaria. E certo é que caso a compra pela autarquia se concretize, todo o Transpraia irá ser revisto, especialmente numa rigorosa e necessária adequação ambiental, que ofereça sustentabilidade e segurança.|
Problemas e carências
BANHOS SEGUROS
|Abel Pinto
O socorro aos banhistas nas praias da Costa da Caparica teve o seu começo logo no início do século XX. Em 1913, o primeiro comandante dos Bombeiros Voluntários de Cacilhas, António Feio, decidiu enviar um grupo de bombeiros para passar o fim-desemana na Costa de Caparica. E os bombeiros de Cacilhas lá foram, de tenda de lona às costas, acompanhados da família, passar o fimde-semana nas praias, prestando ajuda a quem necessitasse.
Para conhecer o dispositivo que está montado para assegurar a segurança e o socorro dos frequentadores das praias do concelho, o Notícias da Gandaia contactou a Capitania do Porto de Lisboa, a Autoridade Marítima, o ISN – Instituto de Socorro a Náufragos, os Bombeiros (Cacilhas e Trafaria) e a GNR, para poder informar sobre o dispositivo implementado nas praias do concelho de forma a assegurar a segurança e a protecção de todos os frequentadores das praias.
A GNR não respondeu de forma positiva. Os Bombeiros da Trafaria, na pessoa do comandante Afonso Rocha, responderam a informar que só integram o dispositivo nas praias no período que antecipa a época balnear. Já nos Bombeiros Voluntários de Cacilhas, foi o segundo comandante, Jorge Cardoso, a descrever-nos os meios de que dispõe para o socorro e o patrulhamento das praias entre os meses de Setembro a Junho. Isto é: 12 nadadores salvadores, sete socorristas, seis mergulhadores, duas motos de água, duas embarcações pneumáticas e um par de viaturas 4x4.
Os comandantes João Coelho Gil e o Rodrigues Barroso receberam-nos na delegação marítima da Trafaria onde nos deram a conhecer o dispositivo de salvamento que está implementado no concelho de Almada e a forma como os vários organismos “dividem” as responsabilidades entre si. O ISN tem, no essencial, competências administrativas, como por exem-
plo: definição dos programas de formação dos nadadores salvadores (NS), definição das características técnicas dos meios de salvamento (bóias, kits de primeiros socorros…), não tendo competências operacionais. Pela nova lei de competências municipais, são os municípios que têm de assegurar a assistência aos banhistas, a qual é assegurada através de contrato com os concessionários, passando para estes a obrigação de contratar os NS necessários à correcta vigilância da área da concessão. Pertencendo à capitania a missão de coordenar e integrar todos os meios, humanos e materiais, que existem nas praias.
O dispositivo de salvamento implementado nas praias do concelho é composto por cinco Planos Integrados de Salvamento (PIS), os quais se distribuem geograficamente pelas seguintes praias: Cova do Vapor e São João da Caparica, Frente Urbana da Costa da Caparica, Saúde e da Mata, da Mata até à praia da Bela Vista e finalmente as praias da Fonte da Telha. Nos cinco PIS estão previstos 95 nadadores salvadores, quatro motos de água, duas moto 4, duas viaturas 4x4, 5 desfibrilhadores automáticos externos, 54 meios de comunicação e um kit de oxigenoterapia. Em complemento aos PIS, a autoridade marítima local/capitania do porto de Lisboa (AML/CPL) e a Câmara de Almada disponibilizam recursos a serem utilizados maioritariamente nas praias não concessionadas e para apoio ao dispositivo implementado nas áreas vigiadas. A AML/CPL disponibiliza quatro militares NS e duas militares para vigilância apeada, um par de viaturas 4x4, duas moto 4, quatro kits de oxigenoterapia, quatro desfibrilhadores automáticos externos e seis meios de comunicação. A CMA disponibiliza sete NS, sendo a capitania ainda responsável por licenciar e fiscalizar a venda ambulante no areal e por prevenir e mitigar conflitos entre banhistas, surfistas e pescadores. Para prevenir os conflitos, são definidas zonas prioritárias
Os principais problemas apontados pelo comande João Coelho Gil são a extensão das praias e a quantidade de gente que as frequenta, a falta de estacionamento e, principalmente, os comportamentos de risco que as pessoas, apesar dos avisos e das coimas, teimam em praticar. Já Jorge Cardoso, segundo comandante dos Bombeiros de Cacilhas aponta a falta de apoios oficiais como o principal problema sentido pela corporação.
Coelho Gil aponta a formação da população como a área onde seria importante efectuar uma aposta séria de forma a evitar os comportamentos de risco. Por exemplo: para passar os seus tempos livres á beira-mar de forma mais segura e aprazível, tenha em conta os seguintes conselhos: cumpra as indicações das autoridades marítimas e dos NS, preste atenção aos sinais das bandeiras e respeite-os, tome banho em praias vigiadas e nas áreas indicadas como zona de banhos, tome banho acompanhado e, mesmo que seja bom nadador, dê as suas braçadas paralelamente à praia e em locais sem correntes. Finalmente, não esquecer que após demorada exposição ao sol deve entrar na água lentamente, que depois de comer deve aguardar três horas antes de entrar na água. Já se não sabe nadar, o melhor é não deixar a água passar a cintura, ou se der saltos ou mergulhos procure locais que conheça e salte de pés. Mais importante: se sentir dificuldades, peça socorro sem hesitação. |
9
G as tr on om ia
restaurantes PUB.
CACILHAS
O Mirrita
Sugestões: Bife à Lagareiro. VENCEDOR 1.º PRÉMIO de cozinha tradicional portuguesa na categoria prato principal na XVI Festa da Gastronomia de Cacilhas 2018.
969 635 759 - 21 080 9075 R. Cândido dos Reis, 111 Cacilhas, 2800-270 Almada Encerra à terça-feira.
Solar Beirão
Restaurante / Marisqueira
Sugestões: Mariscadas, Caldeirada, Emparrilhadas, Ensopado de Enguias, Comida Tradicional
21 276 6019 R. Cândido dos Reis, 17 Cacilhas 2800-677 Almada www.solarbeirao.pai.pt Encerra à Segunda
RESTAURANTE
O Verdadeiro Rodízio
21 296 31 21 - 96 460 43 69 RODÍZIO DE CARNE E PIZZA Música ao Vivo
TODAS AS NOITES - SÁBADOS E DOMINGOS AO ALMOÇO
PIZZAS EM FORNO DE LENHA TODA A VARIEDADE DE CARNES BUFFET (QUENTES E FRIOS) RODÍZIO (CARNES E PIZZAS)
Rua das Quintinhas, Quinta do Américo
Charneca de Caparica
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geral.livorno@hotmail.com
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10 ENTREVISTA | JULHO 2019 Notícias da Gandaia
Vereadora da oposição, a responsável do Bloco de Esquerda em Almada é uma voz crítica determinada a fazer ouvir o seu programa e torná-lo um pauzinho na engrenagem, principalmente no que diz respeito à habitação e aos transportes. A vereadora nas instalações do Gandaia Clube
JOANA MORTÁGUA (BE)
|Ricardo Salomão/ Rui Monteiro Desculpe se entro um bocadinho de chofre, mas qual é a acção do Bloco nesta vereação? Pergunto-lhe porque, visto de fora, tirando uma declaração ou outra, é quase como se o partido não existisse, como se não estivesse na oposição.
Pelo contrário. É verdade que o nosso sistema autárquico determina a existência de vereadores da oposição e não é fácil ser oposição em Almada. Nunca foi. É sempre um papel difícil de desempenhar pois não é fácil ter acesso a uma série de informações e de mecanismos internos… Quer dizer: se pedir uma informação aos serviços não lha dão?
Claro que me dão. Mas o funcionamento interno de uma autarquia beneficia sempre quem já lá esteve. Aliás, se perguntar à presidente ela vai dizer exactamente o mesmo, embora com certeza por razões diferentes. Portanto, quem nunca foi vereador com funções executivas – como é o meu caso – tem sempre mais dificuldade em entrar nos mecanismos próprios da Câmara…
Esses são contratempos próprios de quem chega, mas já passou algum tempo desde a tomada de posse e, como oposição, o Bloco… Deixe-me continuar. O Bloco de Esquerda tem prioridades em Almada. Prioridades estabelecidas durante a campanha eleitoral e
que permanecem actuais. E essas prioridades são, entre outras, resolver o problema da habitação em Almada. A esse propósito, foi a partir de uma proposta do Bloco que se criou um grupo de acompanhamento da estratégia municipal de habitação para os vereadores saberem o que estava a ser feito. Não só a nível político, mas principalmente ao nível dos serviços de forma a aumentar a transparência e a discussão política em torno daquilo que considero ser um dos maiores problemas do concelho. E propostas concretas?
Entre as que já apresentámos encontram-se o cumprimento da promessa eleitoral que foi a redução do IMI, chumbado pelo executivo na votação do orçamento. Outra foi a introdução de uma cláusula de combate à precariedade em todos os contratos e protocolos que a Câmara assume…
Está a falar das condições de trabalho em empresas contratadas pela Câmara para um determinado trabalho?
Exactamente. Há duas maneiras de se manter ou alimentar a precariedade através dos dinheiros públicos. Uma, claro, é directamente, que, neste caso, têm vindo a ser resolvidos. Outra é através de protocolos, muito frequentes sobretudo na área da educação com associações de pais, escolas superiores de educação (no nosso caso o Instituto Piaget, por exemplo), etc. Protocolos esses que servem
para a contratação de animadores, assistentes operacionais, professores que acompanham as crianças fora do horário das aulas… É uma massa de pessoas que trabalha nisto há 10 ou 15 anos e que não tem um contrato. E embora não seja a Câmara a contratá-los directamente, a Câmara alimenta este sistema porque sabe que está a pagar protocolos muitas vezes sem saber se esses trabalhadores, que realizam um trabalho permanente, têm um vínculo real às entidades protocoladas. No Piaget havia pessoas com salários em atraso… Mas há outros temas no programa do Bloco de Esquerda para Almada…
Claro. A habitação e os transportes são um assunto crucial para o Bloco...
Porém, quando o executivo apresentou o seu plano para a habitação, a vereadora não votou contra…
Nós abstivemo-nos na proposta da Câmara… E fizeram uma declaração de voto…
Sim. E apresentámos essa declaração por duas razões, ambas coerentes com aquilo que defendemos. Para nós, Almada é, se não “o”, um dos maiores municípios da Área Metropolitana de Lisboa com mais problemas na área habitacional. O que, na nossa perspectiva, é um caos, uma situação de
emergência social estarem identificadas oito mil pessoas que precisam de realojamento – o que não acontecia nos anos 90 –, estarem identificadas mais duas mil pessoas que vivem em barracas ou em bairros tão degradados que se assemelham às condições das barracas. É uma coisa que não imaginava-mos ver no século XXI, mas que sabemos ser consequência do falhanço das políticas públicas de habitação no concelho, com responsabilidades quer dos governos quer dos municípios, que, voltando a Almada, durante 40 anos construiu muitos bairros, mas não fez tudo o que podia. Tanto não fez que existe o 2º Torrão, as Terras da Costa…
Está a esquecer-se da habitação municipal, que tem suprido alguns desses problemas?
Dizer que a habitação municipal está degradada é pouco. São para cima de duas mil casas, ou seja, há mais habitação municipal do que habitação criada por iniciativa governamental, que estão num estado absolutamente deplorável e sem que seja público – atenção – nenhum instrumento de gestão da habitação municipal, nenhum regulamento de atribuição de habitação, nem nenhuma forma de levantamento sobre o estado das casas; quem as habita, que rendas são pagas, não se sabe. A nossa declaração de voto foi no sentido de recearmos que se tente criar uma política de habitação municipal com base no despejo dessas pessoas, pessoas que ali estão porque as deixaram estar ao longo de décadas. Falar em despejos é uma acusação grave…
Veja, a estratégia anunciada pela Câmara não estabelece metas, calendários ou prazos… Embora de
acordo com muitas daquelas medidas, a verdade é que só uma está quantificada, que é a que deriva da gestão do património municipal e em que se prevê, a cada três anos, libertar 500 fogos, na prática esperando que as pessoas que os habitam agora saiam das casas para outras as virem a ocupar. Ora, das duas uma, ou a Câmara é muito optimista em relação às políticas públicas sociais e ao desenvolvimento económico do país, e acredita que de três em três anos há 500 pessoas em condições de deixarem de viver em habitação social e passarem para o mercado de habitação privado, ou então há aqui qualquer coisa que nós não entendemos. E por não entendermos não quisemos caucionar o que poderá vir a ser uma política de promoção de despejos. Pela nossa parte receamos que não seja possível resolver o problema da habitação em Almada sem construção pública nova. Portugal tem esse problema. Tem muito pouca habitação pública e a que tem está muito degradada, pertence a uma “geração de Jamaicas”. E nós não queremos Jamaicas. Queremos habitação pública condigna e que tenha uma função social, primeiro para responder a estas necessidades de emergência, e, depois, para controlar o próprio mercado de habitação privado. E que tenha em conta riscos futuros… Riscos futuros?
Como sabem, de acordo com as notícias, Almada está na linha da frente da – para pôr isto de forma simples – chegada dos furacões. Nós, no concelho, temos riscos ambientais brutais na frente ribeirinha. Já existe um plano para a orla costeira, ele é polémico, mas principalmente é preciso fazer um
Notícias da Gandaia JULHO 2019 | ENTREVISTA 11
debate muito sério, e não é só no município mas nacional, porque é preciso entender que esse debate vai ter consequências para as políticas de habitação de Almada, porque eventualmente vai ser preciso deslocar populações e a primeira é o 2º Torrão. Cada vez que há uma tempestade ficamos todos de coração na boca temendo o que ali pode acontecer. Foi, aliás, por razões desta ordem que o Bloco de Esquerda apresentou uma moção para que fosse declarado o estado de urgência climática, o que significaria, se fosse aprovada, que o Estado tem de ter políticas públicas em relação às alterações climáticas, portanto tem de existir investimento público.
Ainda não falámos dos transportes?
Tem razão. Coisas muito concretas: é um drama que Almada não tenha um único operador público de transportes à excepção da Transtejo/ Softlusa. Responsáveis por isto? O governo. Os sucessivos governos que privatizaram tudo o que havia para privatizar, que concessionaram o comboio à Fertagus. Não é verdade que o município não tenha uma palavra a dizer. O Bloco, porque a concessão acaba durante este mandato, levou uma proposta â Câmara para que o executivo se pronunciasse a favor do retorno da Fertagus para a esfera pública, por ser uma PPP muito cara, que já custou milhões ao erário público. Mas a Câmara não se quis pronunciar a favor… Assim como não se quis pronunciar sobre a criação de um operador público único capaz de operar eficazmente dentro do concelho e em articulação com os outros municípios à nossa volta. Mudando de assunto. O Bloco, no concelho, duplicou a votação
de 2013 para 2017, no entanto só obtém metade dos votos daqueles que tem nas legislativas. O eleitorado não acredita numa gestão ou na liderança do Bloco?
É uma dinâmica nacional. Em Almada até tivemos um resultado que ultrapassou a média nacional do Bloco. Nós temos uma dúzia de vereadores eleitos no país inteiro. É um caminho que estamos a percorrer e acho que nos estamos a afirmar com sustentabilidade. Agora, as pessoas ainda não nos conhecem pelo trabalho autárquico por sermos um partido muito recente, apesar de muitos dos seus militantes terem experiência autárquica muito anterior é um caminho que se faz caminhando. É preciso compreender que em Almada, todas as votações, de todos os partidos, à excepção da CDU, são sempre mais baixas nas autárquicas do que nas legislativas. Mas isto são as dinâmicas próprias de cada cidade…
Já agora como explica a derrota, que surpreendeu toda a gente, da CDU após 40 anos no poder?
A minha avaliação é de responsabilidade própria… Da CDU?
Sim. Há obviamente uma dinâmica que é desfavorável para a CDU, há uma dinâmica vencedora do PS, que não foi só aqui. Há também uma avaliação da população de Almada relativamente à gestão da CDU nestes quatro anos de mandato e uma vontade de mudança que acabe com a persistência de problemas, que se podem chamar históricos e nunca parecem ter solução à vista. É o caso da habitação, dos transportes, do permanente empurrar os problemas para o futuro ou para o go-
da comunicação social, de que vocês são uma excepção mas de resto é praticamente inexistente em Almada, é difícil chegar às pessoas do concelho com as nossas posições. No entanto os autarcas do Bloco estão presentes, são conhecidos. Se for à Trafaria perguntar pelo Chalana toda a gente sabe quem é. Como não há ninguém na Cova da Piedade que não conheça o Luís Filipe, ou, no Laranjeiro, que não conheça o Pedro Oliveira. São pessoas que foram operários, sindicalistas, autarcas… As pessoas são conhecidas, têm a sua comunidade, mas o trabalho dos autarcas é esse. É um trabalho de formiguinha, um trabalho muito difícil e muitas vezes ingrato. Foto: Paula Nunes / Esquerda.Net Sempre que há movimentações sociais, lutas que são desencadeadas, como nos verno ou para outra entidade qual- TST, que estiveram em greve, ou quer. Há muita coisa por explicar se há um problema no bairro da naquele último mandato, uma in- Rua Catarina Eufémia, que era da compreensão em relação à estra- Fidelidade e depois foi vendido, tégia da CDU para o concelho. As vendido, vendido e há ali um risco pessoas sentem isso. Quando há de despejo, nós estamos lá, falaprojecto, há projecto. As pessoas mos com as pessoas, levamos o sentiam que a presidente Maria problema à Câmara. Há um acomEmília tinha de facto um projecto panhamento efectivo do que para Almada; sabem que deixou acontece. Gostava que tivéssemos um património, que é inegável, e mais tempo, mais braços e mais que seria completamente injusto pernas, mas as coisas não são esquecer. Passados estes anos há assim. uma falta de transparência, há O Bloco tem a ambição de diriuma falta de participação, há um gir a Câmara? projecto que não se conhece, que Quando nos candidatamos, canestá ausente ou que perdeu o rumo e, ao mesmo tempo, co- didatamo-nos sempre com a conmeça a haver dificuldades de ges- vicção de querermos ser poder… tão diária e chega-se à gota de Essa é uma posição de princípio. água. A gota de água foi o lixo. Todos os partidos querem o poQuando a Câmara, em cima de der. Mas agora realisticamente… tudo isto, não consegue garantir Realisticamente propusemo-nos que o lixo é recolhido, que as ruas contribuir para uma maioria transsão limpas e que há um mínimo de formadora de esquerda na Câmara iluminação pública e pavimenta- Municipal de Almada… ção, a avaliação deixa de ser de E porque não foi isso possível? falta de estratégia para se tornar em falta de capacidade de gestão Porque considerámos que não diária. Essa avaliação foi feita e as existe a possibilidade de criar uma pessoas quiseram mudar. maioria transformadora com o Sem querer ser provocador, há PSD, de quem, em alternativa à muitas pessoas que vêem o Bloco CDU, o PS precisava para govercomo um produto político televi- nar. sivo, porque não se vê uma acção, uma visibilidade do trabalho do partido, nas freguesias, por exemplo? Isso é um cliché…
Não quer dizer que não seja verdadeiro…
Não é verdadeiro em Almada nem é verdadeiro em muitos sítios. É verdade que o Bloco tem a dimensão que tem e não tem ninguém em nenhum executivo e, por isso, a visibilidade de um partido que está na oposição e não no executivo, tendo em conta – sobretudo e também – a realidade
Mas o PS ofereceu pelouros a todas as forças políticas…
É verdade. Porém o Bloco de Esquerda não determinava nada, não fazia maioria com ninguém. Infelizmente. E estaríamos condenados a governar com a política de uma outra maioria, isto é, a gerir a aplicação concreta da política do PS e do PSD. De qualquer maneira, estamos sempre abertos a convergências com outras forças políticas para resolver problemas concretos, no entanto sabemos que nestas circunstâncias essa convergência é difícil. |
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12 CRÓNICA | JULHO 2019 Notícias da Gandaia
A COVA DO VAPOR E O NAUFRÁGIO DO TONECAS |Francisco Silva
Em plena estação balnear, ensombrada pelas alterações climáticas e consequente subida do nível médio da água do mar, vem a propósito lembrar que na história de Almada existem vários episódios climáticos extremos que trouxeram o concelho às páginas dos jornais. Os galgamentos marítimos atingiram com alguma regularidade a frente atlântica, sendo referidos na imprensa nacional com maior incidência a partir da década de quarenta do século passado. Podemos associar o efeito desses episódios a duas causas imediatas: a geodinâmica natural da foz do rio Tejo e a intervenção humana sobre o território, quer através da
|António José Zuzarte Comemorei, neste Agosto passado, meio século… Foi a primeira vez que, descendo a estrada estreita, que serpenteia pelas encostas da arriba fóssil, atingi a Costa da Caparica. Era a estrada antiga para chegar a estas paragens vindo do ardente Alentejo. A convite de amigos de Évora, que tinham as suas casas nesta praia, para mim desconhecida, passei aqui uns quinze dias desse Agosto de há meio século. A minha primeira mulher e a minha filha, que ainda não tinha completado um ano de vida, acompanharam-me nestes dias de descanso e recuperação. Um acidente, ocorrido na arena do Campo Pequeno, obrigava-me a ter a perna direita toda
remoção de areias, quer pela construção de edifícios em zonas até então preteridas pelas comunidades locais conhecedoras da dinâmica marítima.
Historicamente podemos constatar, a partir da cartografia, as profundas transformações ocorridas desde o início do século XIX nos bancos de areia existentes na margem esquerda da foz do Tejo. São comuns as memórias que referem a possibilidade de, na maré baixa, ir a pé ao Farol do Bugio. No entanto, não se encontra nenhuma referência à existência de qualquer aglomerado populacional nos areais entre a Trafaria e a
Costa da Caparica até aos anos 30 do século XX. As condições que proporcionaram o surgimento da povoação da Cova do Vapor, bem como da já desaparecida LisboaPraia, devem-se principalmente à acção humana, mais precisamente à dragagem de areias. Conforme testemunhos orais corroborados pela imprensa, a partir do início da década de 1930 foram extraídas grandes quantidades de areia destinadas aos aterros necessários à construção do Porto de Lisboa, da envolvente da Torre de Belém e para alimentação das praias do Estoril. A extração de areia deu origem a uma Cova que, acumulando grande volume de água, deixou permanentemente emersa uma restinga de areia que até então era submersa na maré cheia. Estavam assim criadas as condições para instalação de barracas de madeira onde um cada vez maior número de banhistas procurava um lugar propício para umas férias na praia, próximo da capital. Esclarecida a origem da palavra Cova no topónimo da actual povoação, importa explicar que a extracção de areia, por sucção, era feita por navio a vapor, popular-
mente designado por Chupadora.
Lamentavelmente, as curvas da história relacionam a Cova do Vapor com uma tragédia. Descrita pelo saudoso publicista Victor Aparício no livro: Tonecas, a tragédia que enlutou Almada, conhecem-se os pormenores e contingências do trágico acidente. Tonecas era o nome de um cacilheiro que fazia a ligação Cais do Sodré – Cacilhas. Na noite de 19 de dezembro de 1938, frente ao Cais das Colunas, o Tonecas foi abalroado pela draga Finalmarina, que realizava a sua 2000ª viagem transportando areia da Cova do Vapor. O acidente vitimou dezenas de pessoas entre tripulantes e passageiros, mortos e desaparecidos, ficando gravado na memória de muitas famílias almadenses.
desaparecimento do lugar chamado Lisboa-Praia, povoação de casas de madeira construídas na restinga existente entre a Cova do Vapor e o Bugio. Segundo a imprensa da época, terá acontecido no inverno de 1958, em virtude do rompimento do cordão dunar fragilizado pela continuada extracção de areias no local.
Apesar dos riscos, das contingências e da ausência de ordenamento, a Cova do Vapor é uma referência na história de Almada, um exemplo do que é, e do que foi, o ir a banhos, mas também testemunho de criatividade, resistência e organização popular. A Cova do Vapor, também é linda! |
Trágico, embora sem perda de vidas humanas, foi igualmente o
CAPARICA,1964… A PRIMEIRA VEZ imobilizada e, devido ao gesso, não podia mergulhar nas águas transparentes deste oceano… mas havia o convívio, o estar entre amigos, o cimentar de amizades, que ficaram pela vida fora até aos dias de hoje.
Como era diferente a Costa nesses anos distantes!!! Um dos edifícios mais altos era a Estalagem Rosa dos Ventos e, a casa onde ficávamos, era uma vivenda encostada a ela. Na praia não havia espigões para segurar as areias, nem paredão, nem restaurantes à beira mar… só um imenso areal que o mar lambia com as suas ondas, mais ou menos violentas… não havia surfistas, nem aqui, nem
noutro lugar… só mar azul e alguns barcos de pescadores e, na maré baixa, muitas, mas muitas, conquilhas.
Os poucos, que vinham para estas paragens, acabavam por ser todos conhecidos. O acesso a Lisboa só se fazia de barco. Não havia pontes para atravessar o grande Tejo e escoar o trânsito. Só os cacilheiros, e outros barcos, que saiam da Trafaria e de Porto Brandão, permitiam a ligação à capital e ao norte do Tejo. Um mundo tão diferente do cosmopolitismo e massificação que hoje encontramos.
Esta foi de facto a primeira vez que por aqui passei férias e pisei estas praias… mais tarde, nos
anos setenta e oitenta, voltei aqui de novo, esporadicamente, para passar um ou outro dia de praia. Só a partir de 1992, já no fim da época balnear, na última semana de Setembro, aqui voltei para ficar… o coração falou mais alto e passei a ser um caparicano, de fins de semana e de férias de Verão. Só, há cerca de sete anos, comecei a passar a maior parte do meu tempo por estas paragens, a conhecer as suas gentes e a viver esta cidade.
Há amor para repartir, vidas a crescer, tempo para sonhar, novas amizades para partilhar e recordar aquele já distante 1964, quando ao lado do meu grande amigo Eduardo Soares Arimatea, alentejano como eu, mas da vila do Vimieiro, fomos fotografados, junto ao seu MG descapotável, para recordar agora, aquela primeira vez, há sempre uma primeira vez, que o Sol da Caparica, incidiu sobre o meu corpo branco de alentejano do sequeiro…|
Notícias da Gandaia JULHO 2019 | CRÓNICA 13
O PLASTICUM
|Luísa Costa Gomes Olhe, desculpe, faz favor, olhe, deixou cair o papel do gelado. Aquele ali. Não é seu? Como é que sabe que não é seu, está assinado? Bordou-lhe o monograma? É seu, sim, que eu bem o vi atirar o papel do gelado para o chão. E o pauzinho. E a embalagem do iogurte. E o pacote do sumo. E a lata da cerveja. Nem foi para o chão, foi para o ar, para trás das costas. Não fez uma covinha discreta no entre pernas para sepultar o seu lixo. Isso era capaz de demonstrar alguma consciência da sua pouca-vergonha. Já viu que a Câmara teve o cuidado de encher a praia de caixotões verde-tropa, brutos, mal jeitosos, postados ali e ali e ali até ao infinito, de três em três passos? Não é artilharia de costa, não é instalação de algum artista de intervenção. A Câmara desfeou um dos mais belos areais da país por sua causa e o senhor não lhe corresponde com o mesmo afecto?! À ida, no caminho para o automóvel
familiar, é só estender o braço e largar o lixo no caixote. Não tem de se desviar da sua rota. Admito que abrir a tampa pode dar trabalho para quem já vai cansado de tanto divertimento, a Câmara aqui errou, esteve mal, os caixotes deviam ter uma tampa automática, como essas luzes que se acendem à nossa passagem. Já estou a maçá-lo com esta história do papelinho e do pauzinho? Enjeita a responsabilidade do pauzinho e do papel do gelado? Aceita a da lata de cerveja? A lata de alumínio vai demorar duzentos anos a desaparecer! Vai andar para aqui de praia em praia, de maré em maré, acaba incrustada no gelo de algum círculo polar. Muito bem, não se enerve. E a casca de banana, também não lhe pertence? Claro que foi o menino, mas o menino não é seu? Não reconhece a paternidade ao menino por causa do lixo do menino que é tão seu como se fosse feito por si? Ele é pequenino, ainda não sabe, embora provavel-
mente aprenda mais depressa do que o senhor que a praia não é nossa, nem é vossa, é um dom que já aqui estava muito antes de nós nascermos e muito antes de termos tido a ideia de vir sujá-la. Estamos de acordo, a casca de banana é orgânica, não discuto. Mas também suja.
E nisto, perante o meu espanto, o que eu imaginara ser um porcalhão poluidor e inconsciente ergueu-se numa voz de tempestade e fez-me o Sermão da Areia, que foi mais ou menos assim: “Cresci ecologista ferrenho e ando a pregar a reciclagem desde que tirei os cueiros. Os plásticos biodegradáveis aparentemente levam mais tempo que os outros a degradarse! Sabe quantos milhões de toneladas de resíduos plásticos são produzidos anualmente na Europa? São vinte e sete milhões. E lixo descartável? Tem presentes os números? Duzentos e cinquenta milhões de copos de café,
quarenta milhões de embalagens de plástico de comida para fora, mil milhões de palhinhas, dez mil milhões de beatas, setecentos e vinte e um milhões de garrafas de plástico. Cada garrafinha demora quatrocentos e cinquenta anos em média a desparecer. Todo esse plástico anda no mar e chega às nossas praias vindo da Turquia e da Espanha. Eu não atiro o lixo para o chão por inconsciência, nem por falta de vergonha. Aqui onde me vê sou um ecologista desiludido, batido pela vida, esmagado pelo gigantismo da tarefa que temos pela frente. Repare que as pessoas em geral, desde que tenham dois dedos de testa e olhos na cara, estão alarmadas porque têm consciência da catástrofe ecológica e climática que vivemos, enquanto os governantes conversam entre si e estudam formas de ir encanando a perna à rã com paninhos quentes. O mais que se pode fazer é responsabilizar o comum dos mortais pela pa-
lhinha e pela embalagem de plástico que o comum dos mortais, aliás, não criou! Mas as empresas globalmente mais poluidoras, a Coca-Cola, a Pepsi Cola, a Nestlé, a Danone e a Mondelez International (Nabisco, Oreo, Ritz, etc,) quem é que lhes deita a mão? Não parecem preocupadas em mudar os seus esquemas. Como as pessoas, por mais conscientes e activistas que sejam, não podem desistir completamente dos seus padrões de consumo sem enlouquecer, deixar crescer umas barbas e ir pregar para o deserto a comer gafanhotos, eu atiro para o chão, sim, em sinal de protesto nihilista! É menos de uma gota no oceano! Quando quiserem conversar sobre a mudança de paradigma do descartável para o sustentável, podemos conversar.” E eu, que nem sabia que ainda havia nihilistas, apanhei o lixo dele e fui pôr no caixote, claro, o que é que eu havia de fazer? |
14 CRÓNICA | JULHO 2019 Notícias da Gandaia
PRAIA, SOL, ENCANTO. VIDA |Maria da Conceição Serrenho
Tempo quente. O verão no seu melhor. As praias a encherem. O habitual regresso dos emigrantes para as merecidas férias. O movimento da deslocação seja dos que vêm de fora de locais longínquos ou, apenas, de outras regiões do país, à procura de repouso, de praia e de Sol. As oscilações climáticas ou a variabilidade da temperatura, não parece ser nada que preocupe muito quem tem como objetivo gozar o tão almejado descanso. Voltar, ainda que por tempo determinado e curto, é sempre um recomeço. Uma reconciliação. Regressar a locais de origem, familiares e aprazíveis, tanto melhor. A Caparica com as suas magníficas praias e extensa zona de Costa, é o local por excelência, a apelar ao sossego e à tranquilidade.
Aqui, a oito quilómetros, no décimo andar, em seus trinados e voos rasantes, observam-se, inquietas, as gaivotas, como que a acordar a vizinhança, para um novo dia. A chamar antes que a multidão de gente e de carros encham os acessos ou ainda mesmo que o espaço, no areal, vá ficando muito ocupado, a maré vá subindo, reduzindo, mais, o espaço para estender a toalha e usufruir da brisa e do Sol que, aos poucos, vai escaldando. Não há tempo a perder. O brilho do Sol e a temperatura da água marcam a excelência
desta incomparável zona de praia. E que belo e inigualável é o sol a desaparecer, depois, ao fim da tarde, no horizonte, para além do Bugio.
A Costa de Caparica, na sua ascendente densidade populacional, desde os anos de 1950 até aos nossos dias, quintuplicou a sua população e tornou-se território do multiculturalismo. Uma extensão de populações oriundas de outros continentes, nomeadamente de África. As condições de subsistência: agricultura, pesca, relações de proximidade e clima, terão contribuído para tal. Outras formas de estar e a tradição a fazerem-se sentir. Espetáculo magnífico e ancestral tem o seu epíteto, na Arte-Xávega. Com a existência de 300 anos tem o colorido e o mapeamento dos rostos tisnados dos pescadores na sua genuinidade. Pouco mudou, ainda hoje. Apenas o apoio técnico dos tratores a puxarem as redes. Os peixes, que especialmente abundam, são os mesmos: carapau e cavala que, ao chegarem à terra na ânsia de se libertarem, procuram deixar as redes, sem êxito. As multidões de gaivotas enchem o espaço e anunciam, antecipadamente, a chegada das redes. Ninguém pode ficar indiferente à beleza de tal espetáculo. O céu a cobrir-se de asas esvoaçantes, a dominarem um império que é seu.
suas escolas o anúncio dos tempos novos. Surfa-se fazem-se concursos internacionais como foi o Surf Fest. É uma nova dimensão que torna a Caparica o espaço do universalismo, contemplado tanto pela fixação de novas populações, como zona de desporto que se afirma na qualidade e extensão das suas ondas e que surge como memorial de qualidade e do universalismo. Mudanças e diversidade de cariz social que se fazem sentir não perdem, contudo, a sua identidade. A prová-lo está um dos poucos festivais, de bandas por-
tuguesas, que se realiza no mês de Agosto e que, adequadamente, se designa por Sol da Caparica.
E o Sol da Caparica na Caparica de Sol continuará a afirmar-se neste espaço magnífico. As arribas fósseis que ainda a envolvem tornam o espaço mágico, protegido pelos deuses. Ao cimo, o local mítico dos Capuchos, palco de eventos culturais e de espraiar de eternidades. Como é bela a Costa da Caparica. |
Mas a Costa da Caparica tem vindo a mudar de cenário e as transformações fazem-se sentir. Aberta ao mundo e à inovação tem na associação de surf e nas
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Notícias da Gandaia JULHO 2019 | AGENDA 15
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