1.ª edição - Jornal Notícias da Gandaia

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REPORTAGEM 4-6

O (des)alojamento dá à Costa Quem passa no antigo Bairro dos Bacalhoeiros, na rua Catarina Eufémia, na Costa da Caparica, e pensa nele como um lugar privilegiado para viver, provavelmente tem razão. Mas…

Notícias da Registo n.º 126448 na ERC

Janeiro 2018 — Ano 1 — N.º 1 — Diretor: Ricardo Salomão

www.gandaia.pt

CONCELHO DE ALMADA DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

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CENTRO COMERCIAL

“O PESCADOR”


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EDITORIAL

Ricardo Salomão

“O MAR MUDA-NOS TODOS OS DIAS”

O QUE FAZER DO GINJAL?

NOTÍCIAS DA GANDAIA, O JORNAL DO CONCELHO DE

ALMADA Aqui estamos, agora em papel. O Notícias da Gandaia assume o propósito de ser o órgão de comunicação social do Concelho de Almada. O Notícias da Gandaia nasceu na Costa da Caparica em 2011, num formato digital (gandaia.pt), com um Boletim semanal enviado por email e de subscrição gratuita. Porém, a sua matriz não começou por ser caracterizada como comunicação social, mas sim como comunicação comunitária, tal como definido pela UNESCO. Esta não é uma questão de pormenor. Nascemos com uma vocação clara de dar voz aos cidadãos, de criar diálogo entre a comunidade, de debater os grandes temas fundamentais da nossa região, cimentando a sua cultura, a sua forma de viver, dinamizando a interação entre as pessoas e delas com o território que habitam. Depois, por razões conjunturais, por necessidade de legalização, fizemos o percurso de registo na ERC e passamos a ostentar – com orgulho – o emblema da Comunicação Social. E assumimos toda a sua responsabilidade. Foram estes os nossos motivos, e continuam a constituir o nosso norte. O nosso lema: “o mar muda-nos todos os dias”, sublinha a contínua mudança que o tempo (e o mar) traz na vida de cada um e de todos nós, especialmente evidente nas comunidades marítimas, litorais, que abraçam intensamente a fluidez e a flexibilidade com que se negoceia diariamente com a natureza. As mudanças e transformações nas dinâmicas do nosso concelho fizeram do Notícias da Gandaia o último dos jornais de Almada. Mais uma vez, uma perda, por todos quantos desapareceram, mas também uma oportunidade para nós, que so-

brevivemos, e que temos um projeto a propor à comunidade do nosso Concelho. O nosso jornal, como tantas outras coisas na vida, será aquilo que quisermos que seja. Todos nós, aqueles que o fazemos agora, aqueles que o quiserem fazer no futuro, aqueles que o leem, aqueles que o contam a outros. Todos juntos forjamos uma comunidade. Acreditamos fazê-la uma comunidade mais forte, mais esclarecida, mais comunicante, mais debatida, graças a estas folhas que tem nas mãos.

FOTOS: O MELHOR BLOG DO MUNDO

O período de discussão pública do Plano de Pormenor do Cais do Ginjal irá terminar no próximo dia 19 de fevereiro. A proposta de Plano e toda a documentação com ele relacionada estará disponível para consulta, na internet (www.malmada.pt/consulta), na Direção Municipal de Obras, (Av. D. Nuno Álvares Pereira, nº 67) ou na Junta de Freguesia da Cacilhas, na Rua Liberato Teles, nº 6-A,. O Cais do Ginjal, que compreende uma frente ribeirinha

superior a 80 mil m2, possui uma área de 1 km de extensão de ligação ao Tejo. A sua localização, entre o Jardim do Rio, em Almada, e o terminal fluvial de Cacilhas, apresenta uma vista única para o rio Tejo e para Lisboa. Através deste plano pretende-se reabilitar o cais ribeirinho e criar habitação, hotelaria, comércio, serviços, apartamentos turísticos, espaços públicos – mercados das artes e diversos equipamentos de apoio.

Muitas vezes, são simples as coisas importantes da nossa vida. Tão simples como uma ideia. Uma daquelas que não nos deixa dormir, que nos faz dar voltas na cama e que tem a vitalidade de se propagar aos outros. Um jornal é uma incubadora de ideias, de projetos, e é também um meio da sua propagação. É simplesmente isso que queremos ser. Abertos à colaboração de quem nos queira contar do seu mundo, abertos às notícias de todas as freguesias e de todos os fregueses e munícipes, abertos às atividades que se planeiam, que se cumprem. Dar aqui notícia delas para que todos participem. É simplesmente isso que queremos fazer. O Notícias da Gandaia é um Jornal de Almada e para Almada. É o jornal que quisermos e conseguirmos fazer. A nossa porta está, desde já, aberta. O nosso projeto é começarmos por sair quatro vezes neste ano de 2018. Porém, assim que garantirmos a sustentabilidade, esperamos atingir um ritmo mensal. E é assim, e por isto que expliquei, que aqui estamos.

QUER SER NOSSO CORRESPONDENTE? noticias@gandaia.info www.gandaia.pt DIRETOR: Ricardo Salomão – EDITOR: Rui Monteiro – REDAÇÃO: Andreia Gama – DIREÇÃO DE ARTE: Ausenda Coutinho – COLABORADORES: António Zuzarte, Francisco Silva (Centro de Arqueologia de Almada), Jorge Gonçalves, Jorge Rocha, Reinaldo Ribeiro e Victor Reis (Olho de Lince) - DEPARTAMENTO COMERCIAL: Ausenda Coutinho JORNAL NOTÍCIAS DA GANDAIA – Registo n.º 126448 na ERC. – PROPRIEDADE: Associação Gandaia – Praça da Liberdade, 17-A, 1º andar – Centro Comercial “O Pescador” – 2825-355 Costa da Caparica – NIPC: 151022169 – Horário da Secretaria (das 10:30 às 12:30) Tlm. 939 903 320 – Tel. 212 903 046 – noticias@gandaia.info – Publicidade: comercial@gandaia.info – Tlm: 968 050 744 – www.gandaia.pt – PERIODICIDADE: Trimestral TIRAGEM: 5.000 – IMPRESSÃO: Gráfica Funchalense – Rua Capela Nª Srª da Conceição, nº 50 Morelena – 2715-029 Pêro Pinheiro – DEPÓSITO LEGAL: 436220/18 – DISTRIBUIÇÃO: Gratuita


HISTÓRIA

Origem e Fundação da

PARÓQUIA DA CAPARICA

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ara enquadrar a fundação da paróquia de Nossa Senhora do Monte de Caparica devemos recuar ao século XII e à tomada de Almada pelas hostes ao serviço de D. Afonso Henriques, em 1147, e à instituição da primeira paróquia na vila de Almada, cuja igreja matriz foi provavelmente consagrada sobre a antiga mesquita islâmica. A primeira referência a uma Igreja em Almada data de 1173, 26 anos após a conquista de Lisboa e Almada. Tratava-se certamente da Igreja de Santa Maria de Almada, também designada Santa Maria do Castelo, visto localizar-se dentro das muralhas do Castelo de Almada, e que constituiria a sede paroquial da vila e termo de Almada. Segundo Francisco Mendes na obra – O Nascimento da Margem Sul, Paróquias, Concelhos e Comendas (1147-1385), a primeira divisão paroquial deste território data do período entre 1204 e 1214. Nessa altura terá sido criada uma nova paróquia, da qual a igreja matriz é erigida fora das muralhas do Castelo e dedicada a Santiago Matamouros. Dividia grosso modo, no

sentido Norte-Sul, o território de cada uma das paróquias. A Oeste ficou a paróquia de Santa Maria de Almada, onde se integra a Caparica, e a Este a nova paróquia de Santiago. Ambas as paróquias eram então de padroado real, isto é, cabia ao rei o direito de nomear os párocos e receber parte dos bens e proveitos administrados pela paróquia na vila e seu termo. No contexto da política de Reconquista seguida por D. Afonso III, de consolidação e povoamento do território que chega ao Algarve durante o seu reinado, o monarca entrega, a partir de 1255, à Ordem Religiosa Militar de Santiago de Espada, os direitos sobre a cobrança de impostos e administração do território, bem como o padroado das paróquias da Vila de Termo de Almada. Com a estabilidade militar, o aumento demográfico e o progressivo incremento da atividade económica, em 1297, D. Dinis “troca” com a Ordem de Santiago os direitos administrativos que esta Ordem religiosa detinha no concelho de Almada,

Francisco Silva pelas vilas de Almodôvar e Ourique e os castelos de Marachique e Aljezur. A Ordem manteve contudo o direito de padroado das igrejas de Almada (cf. Alexandre M. Flores, Almada na Carta de Escambo entre D. Dinis e os Espatários em 1287, Almada, edição de autor, 1986, p. 8). Através da Bula Apostólica do Papa Sisto IV datada de 1472, que está na origem da fundação da Paróquia, sabemos que terá existido uma cruz junto da qual se sepultavam os mortos que “… por inundações continuas de água e ruins caminhos, principalmente no tempo de inverno e de peste, não podiam levar os corpos dos seus defuntos a sepultar à igreja ou cemitério da dita vila [de Almada], e levando-os não eram lá recebidos.” O mesmo documento refere que 1442 foi erigida pelos moradores uma ermida dedicada a Santa Maria do Monte. Assim importa acentuar a data de 1472 como o ano da criação da Paróquia da Caparica, durante o reinado de D. Afonso V, em território até então integrado na paróquia de Santa

Maria do Castelo. A Bula apostólica, acima referida, faz menção das razões que assistem à necessidade de criação da nova paróquia. Importa ainda referir que essa pretensão chegou ao conhecimento do pontífice através de Isabel Gomes, viúva de Pedro Gonçalves Malafaya, que fora conselheiro de D. João I, Vedor da Fazenda (equivalente ao actual ministro das Finanças) e Capitão de Ceuta. Consideramos que a criação da paróquia, para além de facilitar às populações o acesso aos sacramentos da Igreja, responde também aos anseios dos moradores, proprietários e da nobreza da Caparica em afirmar a autonomia face à sede do concelho e à Ordem de Santiago, que exercia o direito de padroado sobre as paróquias. Durante a segunda metade do século XV, a quando do início das primeiras conquistas no norte de África promovidas por D. Afonso V, que estão na génese da expansão portuguesa, o território de Almada, e em particular os terrenos férteis da Caparica, dada a sua localização no estuário do Tejo e proximidade da cidade de Lisboa, constituem um importante recurso no abastecimento da capital e das frotas marítimas que estacionam no Tejo. A existência de portos naturais, encaixados na arriba ao longo da margem virada a norte, favorecia o transporte dos produtos destinados ao mercado de Lisboa. Destacava-se então Porto Brandão, principal ponto de ligação entre as margens devido à proximidade entre ambas, que já constituiria um importante ponto atravessamento do Tejo no período de presença romana no território.

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A criação da paróquia vai ainda contribuir para uma nova centralidade em torno do Monte, onde se encontra a Igreja matriz, sagrada a 24 de Maio de 1482, sendo que até então o principal aglomerado habitacional estava situado na Fonte Santa. A fundação de uma nova paróquia no território de Almada enquadra-se num contexto da História de Portugal diretamente ligado à expansão marítima. A par do abastecimento das armadas, é na Caparica que se ensaia o modelo de fortificação costeira que vai ser replicada pelos portugueses em várias partes do globo: a Torre de S. Sebastião (Torre Velha), no reinado de D. João II, em 1481. Por outro lado, a proximidade da capital trouxe à margem sul a nobreza ligada à coroa, que procura estar na proximidade da corte, num contexto de cada vez maior centralização do poder na pessoa do rei. Estas famílias vão estabelecer-se na Caparica fundando as sedes dos seus morgadios nas propriedades que possuíam na zona norte do concelho de Almada, onde os solos são mais férteis. A presença das elites na Caparica está bem patente na possibilidade de apresentarem as suas pretensões junto da Cúria Romana. Uma memória, lamentavelmente muito degradada, deste período encontra-se nas ruínas da antiga Quinta da Torre, propriedade de D. Gonçalo Coutinho (conselheiro de D. Manuel I), na qual, em 1569, D. Tomás de Noronha (enviado por D. João III ao Concílio de Trento) institui um morgado de capela tendo como orago São Tomás de Aquino.

Com este texto inicia-se uma colaboração que o Centro de Arqueologia de Almada espera regular com o jornal Notícias da Gandaia, propondo-se publicar pequenos artigos, assinados pelos respectivos autores, em torno da história local e das principais e mais antigas povoações do concelho.


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REPORTAGEM

O (des)alojamento dá à Costa Quem passa no antigo Bairro dos Bacalhoeiros, na rua Catarina Eufémia, na Costa da Caparica, e pensa nele como um lugar privilegiado para viver, provavelmente tem razão. Mas… Andreia Gama

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ocalizado numa zona central, encontra-se pertíssimo das praias do paredão, do famoso Barbas, e tem um enorme espaço verde na Alameda Cidade da Costa da Caparica.

No entanto, os seus moradores vêem-se agora numa luta que pensavam já não ter de travar, tendo em conta as suas idades e os anos de permanência no bairro. Este bairro, que se situa nas ruas Catarina Eufémia, Rua Manuel Agro Ferreira e Rua Mestre Romualdo, é composto por 28 casas térreas, 24 das quais se encontram habitadas, as restantes estão devolutas. Os habitantes destas casas que tinham como senhorio a companhia Seguradoras Unidas S.A. viram-se recentemente sem saber a quem pagar a renda, uma vez que a entidade responsável pela gestão do bairro foi alterada sem sequer os informar. Em 28 de Setembro de 2017, os moradores receberam uma carta da Seguradoras Unidas S.A., no sentido de exercerem o direito legal de preferência conferido ao arrendatário,

com prazo de oito dias. Contudo, era imposta uma condição: a obrigação de compra da totalidade das 28 casas, o que se traduz no montante total de 1.150.000 euros. “Recebemos uma carta da seguradora para exercermos o nosso direito de preferência, porque eles tinham um comprador, uma tal de Quandrantábilis, e nós respondemos que queríamos exercer os nossos direitos, mas proporcional à nossa própria área”, explica um dos moradores do bairro, “Foi-nos dito que tínhamos de exercer o nosso direito pela totalidade, ou seja a compra de todas as casas”. De forma a proteger os moradores e as suas habitações, foi criada a 29 de Outubro de 2017, a primeira Comissão de Moradores da Rua Catarina Eufémia. Por considerarem injusto e não existirem condições financeiras por parte dos inquilinos para a situação proposta, a comissão alerta para a situação social dos cerca de 100 moradores do bairro, invocando a Constituição Portuguesa: “Todo o ser humano tem direito à habitação”.


Só no passado 13 de Dezembro, os moradores foram informados da venda dos prédios urbanos registados na Conservatória do Registo Predial de Almada sob os números 1969 a 1983 com uma comunicação de novo senhorio e indicação de forma de pagamento. A escritura pública de compra e venda foi celebrada a 16 de Novembro de 2017 e os prédios acima referidos, pertencentes à Seguradoras Unidas S.A., foram adquiridos pela sociedade Quandratábilis Unipessoal Lda. Por sua própria iniciativa, a comissão de moradores já investigara e chegou à conclusão que existiu uma opção de compra da Quandrantábilis Unipessoal Lda., actual proprietária do espaço, sem que fosse dado conhecimento aos moradores desta alteração atempada-

mente. Esta empresa, criada a 24 de Agosto de 2017, com o objectivo de compra e venda de imóveis, tem como gerente Matthew Aaron Walker. “Aí começámos a sentir que por detrás disto havia uma especulação imobiliária, de certeza absoluta, bem orquestrada”, suspeita o morador do bairro, “o grave foi um grupo económico que comprou um lote, um terreno, e foi uma situação em que foi vendido sem dar conhecimento aos moradores, é um negócio estranho”. A Quandrantábilis, com sede em Cascais, e capital social de 1.000.000 de euros, tem como accionista maioritária a empresa MKV Landsbergerstrasse Limited, sediada em Londres e criada em 2014. Esta é uma pequena empresa de imobiliário que nunca fez transacções. O director de ambas é a mesma pessoa, Matthew Aaron Walker, que comprou a empresa Quandrantábilis, em Agosto de 2017, através dum escritório de advogados. “Os escri-

“TODO O SER HUMANO TEM DIREITO À HABITAÇÃO”.

tórios de advogados têm sempre estas empresas operacionais para os clientes quando necessitam de fazer uma transacção, e para não serem eles a aparecer, é sempre uma Unipessoal. Para mim o problema grave que existe aqui, é que não nos foi dado o direito de preferência”, alerta o presidente da comissão de moradores, Francisco Santos. Embora a comissão ainda não iniciado contactos com a dita empresa e novo senhorio, estamos provavelmente perante mais um caso de gentrificação, sob a forma de “hostel”, acredita quem vive no bairro. Gentrificação, que vem sendo uma palavra bastante familiar hoje em dia, consiste no processo de valorização imobiliária de uma zona urbana, geralmente acompanhada da deslocação dos residentes com menor poder económico para outro local e da entrada de residentes com maior poder económico. A comissão pretende que a Junta de Freguesia, assim como a Câmara Municipal de Almada, dê a atenção devida a esta situação com a maior brevidade possível.

REPORTAGEM O Notícias da Gandaia foi ao encontro de alguns elementos da comissão de moradores, entre eles, Francisco Santos e Henrique Almeida, numa reunião em que estavam presentes ainda dois elementos representantes do Bloco de Esquerda do Grupo Municipal da Câmara, que estão a acompanhar esta situação, de forma a salvaguardar os habitantes do bairro.

Poder Local Já foram realizadas Assembleias Municipais com a Câmara Municipal de Almada, onde se discutiu o assunto. “A Câmara tem poderes para poder solucionar isto, não é caso único, já vários casos existiram, é uma questão de vontade política, na realidade, a C.M.A. entender o que é social”, explica um dos moradores deste bairro que prefere não ser identificado por razões pessoais. “Nós temos os nossos objectivos, tivemos de sensibilizar a Câmara para esta si-

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tuação urgente social que vivemos, pois esta pode actuar em defesa dos mais necessitados”. “Temos de saber qual é a posição do senhorio. A situação é criar uma estratégia que passa pelo apoio do departamento jurídico da CMA entrar em contacto com o senhorio. O próximo passo da comissão, será “fazer uma acção contra Seguradoras Unidas S.A. e este novo senhorio, a Quandrantábilis, para que nos seja dado pelo tribunal o direito de preferência, porque nós achamos que cada um tem direito a exercer o seu direito à propriedade parcial e não total.“ Francisco Santos, que sempre viveu na Costa da Caparica, mudou-se para o bairro há cerca de 43 anos. Embora esteja reformado, continua a ir para o mar e a ter na arte xávega mais uma forma de sustento. É ainda o director da Associação de

Francisco Santos e Henrique Almeida


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REPORTAGEM

Pesca Artesanal e costeira e apoio social aos pescadores. E alerta para o facto de que mesmo que quisessem adquirir a sua parte, “existem também os que não têm hipótese de comprar e aí entra talvez a colaboração da Câmara. A C.M.A. pode muito bem proporcionar um apoio, de maneira a que as pessoas possam adquirir as

casas, tendo para isso uma renda mensal de x”. Outro dos moradores completa a ideia, “A C.M.A. pode criar um tipo de financiamento para cada uma das pessoas, de acordo com a capacidade financeira que tenham, com pagamento a uma, duas ou três gerações. Em Lisboa já fizeram isso em habitações de política social.”

Viagem histórica pelo bairro Como forma de contextualizar o que está a ser posto em causa na realidade de quem aqui mora, é importante recuar às origens do bairro. Com cerca de 60 anos, o bairro nasce com a Mútua dos Navios Bacalhoeiros, uma companhia de seguros dos bacalhoeiros. A Câmara Municipal de Almada, de forma a desenvolver o turismo nesta área da Costa da Caparica, ofereceu os terrenos ao Mútuo Grémio dos Bacalhoeiros e construiu as casas. Estas funcionavam como segundas habitações, consideradas de veraneio e tinham rendas elevadas. Há cerca de 43 anos, após o 25 de Abril, a existência Mútua dos Navios Bacalhoeiros deixou de fazer sentido. Nessa altura, foi criada uma comissão de moradores para ocupação destas vivendas como situação social, por pessoas necessitadas. Esta transição foi um processo complicado, tendo havido inclusive intervenção militar para obrigar os moradores a desocuparem as casas, de forma a serem instalados novos inquilinos. “Pessoas necessitadas que viviam mal, em barracas, juntaram-se e fizeram uma ocupação a este bairro. No mesmo dia veio uma força dos fuzileiros e negociou com o pessoal que tinha ocupado as casas. Entretanto a Comissão Administrativa da Junta de Freguesia da Costa da Caparica e a Força de Fuzileiros do Continente uniram-se e abriram inscrições públicas na freguesia para pessoas que quisessem concorrer a uma destas casas. Feita a avaliação por estas forças, a C.M.A. também teve um representante a avaliar as situações mais necessitadas para

atribuição das casas”, recorda o presidente da comissão, Francisco Santos. “Na altura foram salvaguardadas duas situações de moradores que faziam desta casa habitação principal e viviam cá todo o ano.” Assim, as pessoas que já viviam no bairro acabaram por manter as suas habitações, com alguns novos inquilinos foram feitos novos contratos de arrendamento. Todas as intervenções que as casas sofreram foram responsabilidade dos moradores, nenhum dos senhorios que por aqui passou, Mútua dos Navios Bacalhoeiros, Ocidental, Açoreana e Seguradoras Unidas, assegurou qualquer custo das obras que foram sendo necessárias ao longo dos anos. As casas, por não serem consideradas habitação permanente, não asseguravam certas condições. As casas de banho, por exemplo, foram alteradas para terem água quente, tiveram de ser repostos telhados e renovado o sistema eléctrico. “Tudo o que existe nas casas e a razão pela qual casas estão em pé, fomos nós que fomos sempre mantendo e fazendo obras”, lembra um dos moradores. O problema foi comum entre os habitantes do bairro. “Como as casas não têm alicerces, são só a estrutura exterior, estão em cima de areia e por conseguinte de água, a parte interior, como não tem sustentação, não tem base e abria rachas na parede, pelo que teve de ser feita uma sapata de cimento para sustentar novamente as paredes” explica o mesmo morador, que por razões pessoais prefere não ser identificado.

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Futuro incerto Apesar de todos estes obstáculos, é a este bairro que chamam casa e é aqui que pretendem continuar a morar. Existem casas onde vivem famílias numerosas, com várias gerações, pais, filhos e netos, que se vêem agora nesta incerteza do que estará para acontecer. A maior parte dos moradores são pessoas reformadas, com dificuldades económicas e alguns com problemas de saúde. Sem idade para grandes mudanças e energia para grandes lutas, apenas desejam manter o que é seu, o que sempre conheceram como seu lar. O que está em causa, segundo um dos moradores, resume-se a, “de um lado temos indivíduos com capacidade financeira a tentarem fazer um negócio de capitalização através de especulação imobiliária e do outro lado estão cerca de 100 pessoas que estão protegidas”. Outro reforça a ideia, “a maior parte das pessoas não têm para onde ir mesmo”, prosseguindo,

“nós estamos a defender a posição de cada um, mas também estamos a defender a posição de todos”, afirma um dos moradores do bairro, “Se a câmara não autorizar nenhum projecto para aqui eles não nos podem pôr fora”. Para já, aguardam a reunião que têm com a C.M.A. ainda este mês, “a ver se arrancamos com esta acção jurídica directamente, para ver se nos dão o direito de preferência”. Apesar de terem seis meses para pôr a acção em tribunal, pretendem resolver a questão o quanto antes, porque admitem que venha a ser um longo processo. Não é caso único nos dias de hoje, em que cada vez mais são noticiados casos idênticos, principalmente em Lisboa e no Porto, onde o alojamento local é uma espécie de bomba relógio para alguns que, ao expulsar os seus moradores de sempre, abala a história em nome da evolução. A Gandaia tentou entrar em contacto com a Seguradoras Unidas S.A., mas até ao fecho desta edição não obteve qualquer resposta.

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3º FESTIVAL DE FADO

ERCÍLIA COSTA 2018 E, com esta que este ano decorre em 27 e 28 de Janeiro, vão três edições do Festival de Fado Ercília Costa no Auditório Costa da Caparica. Sem vaidade: é obra. Obra em que, mais uma vez, a Gandaia apresenta um elenco de grande qualidade, como aliás é devido ao exigente público da Costa da Caparica. Pedro Moutinho é, evidentemente, cabeça de um cartaz recheado de nomes consagrados, onde se realça o papel dos fadistas locais, alguns definitivamente no caminho de uma carreira. Por isso, senhoras e senhores, madames e cavalheiros, o palco está a postos, a postos estão Sandro Costa, na guitarra portuguesa, e Ivan Cardoso, na viola de fado, prontos para acompanhar Tânia Oleiro, Sofia Ramos, Nélson Lemos, Luís Carlos, Raquel Peters, Miguel Ramos, Cristiano de Sousa, Sara Paixão, Luís Carvalhas, Ana Leal e Rúben Morais.


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FESTIVAL

FESTIVAL DE FADO ERCÍLIA COSTA .º

Pedro Moutinho UM FADISTA À MANEIRA Rui Monteiro

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oucos se lembram de Pedro Moutinho nos Ministars, mas foi aí, nessa formação juvenil criada a partir do Coro de Santo Amaro de Oeiras, que um dos mais importantes e activos fadistas pisou um palco, foi posto perante as câmaras e, pela primeira vez, enfrentou a maquinaria de um estúdio de gravação. Pelo currículo inicial, ninguém diria que, de certo modo, ainda

antes dos Ministars, ainda antes das suas primeiras actuações informais, aí pelos 11 anos, o destino do rapaz estava traçado. É o que dá nascer em família onde se transpira fado. O que, a bem dizer, foi outra dificuldade, pois não é decerto fácil sair da sombra de Hélder Moutinho e do melhor fadista da actualidade, Camané, seus irmãos e concorrentes na carreira. Porém, a prova foi superada, comprovada pela edição de seis álbuns e a participação numa boa meia dúzia de colectâneas, para nem falar no ror de espectáculos que protagonizou, e demonstrado como Pedro Moutinho é um ar-

tista por direito e esforço próprios. Direito que vem de uma voz dedicada e precisa e de um reportório cuidadosamente escolhido, capaz de emocionar e admirar sem nunca recorrer aos fogos de artifício vocais com que tantos fadistas procuram emular o que lhes vai na alma. Pedro Moutinho bem pode dizer “o que eu andei para aqui chegar”, como diz o outro na canção, pois o caminho até ao topo é longo e nunca uma autoestrada de facilidades. O seu, já adulto determinado a tornar-se fadista e ser levado a sério, começou em 1995, primeiro no Clube do Fado, e, pouco mais

tarde, no icónico Café Luso. Depois, o amadurecimento de muitas noites de frente para o público a notar-se, chegou a vez do prestigiado Quinteto de Fados de Lisboa, em 2000, precisamente três anos antes de gravar o seu primeiro disco a solo, Primeiro Fado, produzido por Ricardo Dias e Nuno Faria, onde fados tradicionais casam com a recriação de diversos temas. O Prémio Revelação 2003 da Casa da Imprensa provou que escolhera o caminho certo. O caminho que o levou a gravar com cantores tão distintos como Carlos do Carmo e Mayra Andrade; a ter canções compos-

tas por Amélia Muge, Tiago Bettencourt, Aldina Duarte, Rodrigo Leão, Fausto Bordalo Dias, Manuela de Freitas, Tereza Tarouca ou Tiago Torres da Silva; a participar em Fados, o filme de Carlos Saura; e praticamente, a cada novo conjunto de canções, a ser premiado, nomeadamente com o apetecível Prémio Amália, que recebeu por Encontro, em 2006. Álbum do qual, decerto, sairá um outro tema do reportório alinhado por Pedro Moutinho para esta sua estreia no Festival de Fado Ercília Costa, apesar do destaque pertencer com certeza às canções mais recentes de O Amor Não Pode Esperar e O Fado Em Nós.


UM DESAFIO DE ESTILOS E VOZES

Tânia Oleiro Vencer, aos 10 anos, a Grande Noite do Fado de Setúbal, foi um sinal claro de que o fado de Tânia Oleiro era precisamente o fado. O que vinha da infância, que a atraiu por ouvir sua mãe cantar, aquele fado das vozes que admira, aquele que desde então vem desenvolvendo. Com o amor e a dedicação que a fazem conciliar a profissão de professora com a de fadista, em 2012 vendo a sua voz incluída na colectânea Urbanas, de Diogo Clemente, actualmente preparando o seu primeiro álbum, súmula cronológica do reportório que tem vindo a desenvolver ao longo dos últimos 11 anos.

Nelson Lemos Nascer no bairro da Graça é já incluir no ADN uma molécula fadista. Talvez por isso, quando Nelson Lemos cantou, pela primeira vez, em jeito de brincadeira, no

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restaurante típico Cabacinha, encontrou-se um fadista. Um cantor, depois, no início do século, a voltar ao fado, retomando as origens, aos poucos ganhando, como se costuma dizer, um nome. É fácil encontrá-lo, conhecer a sua voz e o seu estilo, pois muitas e muitas foram as noites pelas casas cultoras do género de Alfama e do Bairro Alto, espécie de Olimpo da canção de Lisboa. Agora canta para os lados da Sé, onde a exigência também é muita. E aqui, claro, neste festival.

Cristiano de Sousa

Miguel Ramos

Raquel Peters Uma década de estudos musicais de canto, piano e formação musical, nos Conservatórios de Música de Faro e de Albufeira, no Algarve, mostram como estranhos, mas nem por isso menos ricos são os caminhos que levam ao fado. E que tornaram Raquel Peters uma artista (apesar de desempenhar funções como directora clínica na delegação de Olhão da Cruz Vermelha Portuguesa) consagrada entre os seus, viajando com as suas canções ao Brasil e à Austrália e a Cabo Verde e a França e a Espanha. Enchendo com a sua voz o Panteão Nacional, em 2004, no programa especial que a RTP1 dedicou a Amália Rodrigues. Participando, com Ana Laíns, Ana Moura, Ana Sofia Varela, Cristina Branco, Katia Guerreiro e Mísia na compilação Divas do Fado Novo. Mais coisa menos coisa, um ano antes de vencer, aos 21 anos, a Grande Noite do Fado tradicionalmente organizada pela Casa da Imprensa no Coliseu dos Recreios.

Miguel Ramos nasceu em Lisboa a 18 de Março de 1976, no seio de uma família de fadistas. Ora, como filho de peixe costuma saber nadar, e como desde muito novo acompanhou o pai, Vitor Ramos, nas suas digressões cantando por tantas das casas dedicadas ao fado em Lisboa, deixar a voz voar no Santos Futebol Clube, um certo dia dos seus oito anos, foi de todo natural, para nem dizer inevitável. Como aos 14 anos foi entrar para o elenco de Os Ferreiras, casa onde reinava na sua humildade o inesquecível Fernando Maurício. E por aí foi, muitas casas de fado afora, muitos festivais vencidos; a França, a Holanda, a Bélgica, os Estados Unidos percorridos a mostrar o som de Portugal. Até ao elenco de Amália, teatro musical de Filipe La Feria, cujo elenco integrou durante dois anos, ou a peça de teatro Casa de Fados, criação do letrista e encenador Tiago Torres da Silva, onde contracenou com Maria João Quadros, Ana Sofia Varela, Pilar Homem de Melo, António Vasco, Carlos Gonçalves, Bernardo Couto, Dinis Lavos, Vasco Sousa e João Penedo antes ainda de Jorge Fernando o convidar para o alinhamento do álbum 100 anos de Fado. Isto como fadista, pois como músico acompanhou profissionais como Camané, Aldina Duarte, Pedro Moutinho, Lenita Gentil, António Rocha, Anita Guerreiro, Carlos do Carmo, Fernanda Baptista, Ada de Castro Ana Sofia Varela, Maria da Fé, ou Maria Amélia Proença.

Dele diz o sítio World Music no Bairro Alto: “aos 34 anos, Cristiano de Sousa é uma das novas vozes do fado a ter atenção.” Sinal para ter na devida conta este sobrinho do fadista Dionísio de Sousa, uma das suas grandes referências, que depois de passar pelo restaurante Timpanas se estabelece agora o elenco do lendário Café Luso. Isto, porque o fado entrou cedo na sua vida, e cedo influenciou e se reflecte na sua forma de cantar, traduzida por um “timbre delicado e um fraseamento impecável”, acompanhado por um “estilar requintado e cuidadoso, contrariando as tendências exibicionistas em que muitos fadistas da ‘nova geração’ caem facilmente.” E está dito.

Luís Carlos (FADISTINHA)

A dança é a inovação que o jovem caparicano Luís Carlos, membro do elenco do restaurante Viela do Fado, em Alfama, traz ao género através da colaboração de Diana Fernandes que o acompanha em palco.


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não era só fado que cantava, mas também modinhas, sambas e música do folclore tradicional português.

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Senhora duma rara sensibilidade foi ela que de júri escolheu Amália num concurso em que esta entrou. Tinha uma fotografia lindíssima dela com a Amália e a Hermínia Silva em que parecia a mais nova das três, sendo ela, de facto, bem mais velha que as outras.

A Ercília Botelho Farinha de seu nome completo – nome artístico Ercília Costa – era natural da Costa de Caparica, filha de pescador, e de mãe também da Costa, quase como toda a gente. Foi uma grande senhora do fado na sua época, cantava com um estilo único, com um fio de voz que chegava a ser comovente e penetrava na alma das pessoas. Cantava muito ereta, qual estátua, com os olhos em alvo, parecia uma imagem de igreja e exatamente por isso passou a ser conhecida como a santa do fado.

Quando se afundou “O Pensativo”, o naufrágio mais lembrado e comentado aqui na Costa, em que morreram vários pescadores, a Ercília andou a cantar por Lisboa com os restos do barco que deu à Costa, a favor das famílias dos náufragos.

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Foi a primeira artista portuguesa a cantar em Hollywood. E, no Brasil, onde foi várias vezes, teve um êxito tamanho que até lhe pediram para cantar um famoso samba brasileiro, A Falsa Baiana, com muito sucesso. Era normal as companhias regressarem e ela ainda ficar lá a pedido.

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A Ercília Costa era celestial a cantar.

Mulher simples e muito agradável tinha ar e era senhora fina, com uma pele muito bonita, falava com voz pousada e com um charme que apetecia ouvi-la sem nunca nos cansarmos.

A Ercília dizia-me que tinha exatamente a mesma voz de antes só que lhe faltavam as forças. Faltar a força na voz é realmente sinal de velhice.

Um dia, a mim, queixou-se das pessoas da Costa. Quando foi para Lisboa cantar foi aqui o maior falatório. Isto entristeceu-a muito. Já era velhinha mas nunca se esqueceu. A mãe dela sofreu, também muito e logo aqui, na Costa, na terra delas, que fosse tão censurada só por ir para Lisboa cantar o fado, que afinal

Morreu velhinha com muita dignidade, o carinho da família, sem lhe faltar nada.

Santos, Augusto Emílio Gonçalves dos. (2017). Histórias de Amor e de Mar – estórias da história da Costa de Caparica. Costa da Caparica: Gandaia Edições. Pp 43-44.

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NOTÍCIAS

2018: Ano de

“DUPLA LUA AZUL”

Nos meses de Fevereiro, mesmo dos anos bissextos é impossível a ocorrência de duas Luas Cheias pois o tempo de calendário é inferior ao período de lunação. De 35 em 35 anos ocorre duas “Luas Azul” no mesmo ano – nos meses de Janeiro e de Março – não havendo nesse ano Lua Cheia no mês de Fevereiro.

O “Ano de Lua Azul” é a designação comummente dada ao ano em que se verifica a ocorrência de duas Luas Cheias num mesmo mês, sendo um mito urbano que nesses anos a Lua apresente tonalidades azuladas. É um fenómeno que embora apresente um grau de

raridade reduzido – verifica-se a cada dois anos e meio – é muito curioso e sobre ele se debruçam os cientistas… e também os poetas. A ocorrência da “Lua Azul” tem origem no facto do ciclo lunar ser de 29,5 dias e o calendário actual comportar meses com

Muito mais do que uma Loja

dias variáveis entre 28 e 31 dias (ou 29 e 31 dias nos anos bissextos). Os dias que sobram entre os dias de calendário e os dias de lunação vão sendo acumulados e ao atingir os 29,5 dias consubstancia-se numa nova Lua Cheia.

A designação de “Lua Azul” nasce, segundo alguns documentos existentes, de uma discussão verificada em pleno século XVI em que uns afirmavam ser a Lua azul e outros, cinzenta. Porque azul nunca poderia ser, passou a ter o significado de “alguma coisa difícil”. O significado de “nunca” ou “raro” passou com ligeireza para a raridade de duas luas cheias no mesmo mês. Outra teoria sobre o “nascimento” da designação de “Lua Azul” baseia-se no facto de que o ano solar iniciado no dia do solstício de Inverno conter doze

Victor Reis luas, três em cada estação do ano, sendo cada uma baptizada com um nome próprio. Nos anos de 13 luas cheias a décima terceira, a quarta da estação do ano em que se verificava, recebia o nome de “Lua Azul”. Hoje em dia popularizou-se chamar “Lua Azul” à segunda Lua Cheia do mesmo mês, atendendo a cada vez menor importância dada pela civilização actual aos ciclos da Natureza, embora historicamente “Lua Azul” fosse a quarta Lua Cheia de uma estação do ano, no respeito pelos solstícios e pelos equinócios.

O ANO DE 2018 É UM ANO DE “DUPLA LUA AZUL”, A PRIMEIRA A 31 DE JANEIRO ÀS 13H 25M UTC+1 (A 2ª LUA CHEIA DE JANEIRO) E A SEGUNDA A 31 DE MARÇO ÀS 13H 37M UTC+1 (A 2ª LUA CHEIA DE MARÇO). EM FEVEREIRO NÃO HÁ LUA CHEIA. ESTE FENÓMENO SOMENTE SE VERIFICA DE 35 EM 35 ANOS. ® [Victor Reis, 2017] [Oficina das Ideias, 2017]

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A MAGIA DA ROMÃ

CRÓNICA 13

A Maça de Roma ou a tradição de comer bagos de romã no Dia de Reis

A ARRÁBIDA DE

SEBASTIÃO DA GAMA…

Victor Reis António José Zuzarte A romã é um fruto envolto em muita fantasia, desde os tempos imemoriais, dizendo-se da magia que nos protege e dá felicidade, tendo cada um dos seus componentes um efeito especial. Desde as varas da romãzeira, árvore das romãs, até aos bagos do fruto, passando pelas flores e pela sua casca, todos os elementos representam na tradição popular fontes de magia e de encantamento. A romãzeira é uma árvore, normalmente, de porte reduzido mas muito vistosa, donde pendem os frutos cuja Natureza lhe concedeu um terminal em formato de coroa real. Não é estranho, pois, que à volta de este fruto muitas lendas e tradições se tenham criado com o passar do tempo. Conta a tradição que a romã era utilizada pelas bruxas para controlarem os seus fogosos cavalos. Também os druidas queimavam varas da romãzeira nos seus ritos de adivinhação para que os espíritos do saber respondessem às suas perguntas, esclarecessem suas dúvidas. A romã e a romãzeira são usadas na sua totalidade em benefício do ser humano. O chá preparado com a casca do fruto é usado em gargarejos para curar aftas. As folhas da romãzeira cozidas dão um excelente colírio para lavar os olhos quando inflamados. As flores em infusão usam-se para aliviar cólicas intestinais e para combater inflamações nas gengivas. Na magia branca, a casca da romã deve ser comida para aumentar a fertilidade. Se for seca, pode ser adicionada ao incenso para atracção de riqueza e de dinheiro. Nas artes da adivinhação os “especialistas” conseguem “ler” nas bagas da romã. O suco da romã substitui o sangue ou a tinta mágica nos rituais de iniciação.

A romã é considerada o fruto mágico da sorte, muito utilizada, hoje em dia, nas festividades de final de ano. É costume formular-se um desejo antes de comermos cada uma dessas sete bagas (sempre sete!) para que sejam satisfeitos o ano que se vai iniciar. Mas dizem os iniciados de que a romã tem 631 bagos (que são sementes), curiosamente um número primo, correspondentes aos mandamentos do “Tora” judaico. Da romã se obtém, então, 90 doses de sorte, sobrando um bago… o menor número primo. Dá fortuna e bem-estar guardar de ano para ano um pequeno saco de linho com uma coroa da romã, um pedaço de pão e uma moeda de meio-tostão, agora uma moeda de 1 cêntimo, a mais pequena de todas. Ao “cancioneiro popular” fomos buscar esta toada:

Fui colher uma romã Estava madura no ramo Fui encontrar no jardim Fui encontrar no jardim Aquela mulher que amo. Àquela mulher que amo Dei-lhe um aperto de mão Estava madura no ramo Estava madura no ramo E o ramo caiu ao chão. E para concluir… És amor, fecundidade Fruto eleito de Afrodite No ciclo da novidade Representas eternidade A paixão como limite

E hás-de contar-me histórias velhas / de Marinheiros…/ Histórias de Sereias e de Luas / que se perderam por ti…, Sebastião da Gama (1924/1952).

No fim dos anos 60, tinha a minha residência na vila ribatejana de Coruche, aproveitei um dos dias de Carnaval para ir em passeio até à maravilhosa Serra da Arrábida… o local mais próximo, junto ao mar, que encontrava para me deslocar. A família foi também e o fotografado fui eu em plena Arrábida, antes de descer até à Praia do Portinho, onde aproveitámos para pisar a areia fina e branca, naquele dia ainda de Inverno, mas com Sol radioso. Habituei-me assim a gostar destes lugares e a admirar esta Natureza, onde Sebastião da Gama nasceu e viveu parte da sua curta Vida, que repartiu também por Estremoz, onde foi professor…daí o seu nome ser atribuído à Escola Secundária da cidade alentejana, concelho de muitas das minhas raízes. A esta Serra, com uma flora e uma fauna importante, chega uma borboleta, que atravessa o Atlântico, para vir desovar nos seus zimbros. São os golfinhos que saltam nas suas águas cristalinas, o Portinho, a Pedra da Anicha, Galápos e a bela Figueirinha, onde ficaram tantas recordações da minha juventude, hoje Reserva Natural. Sebastião da Gama pediu em 1947 a defesa desse património e que foi concedido anos mais tarde. Preservar aqueles montes que se espelham no azul do Sado, o rio sereno,

que nasce e banha tanto Alentejo, foi mais do que justo. Em muitas ocasiões, já o calor apertava, vinha até à Praia da Figueirinha, onde em 1963 passei, em Junho, as minhas primeiras férias de 15 dias, e percorria as pequenas praias de Coelhos e Galápos e ajudava os pescadores a puxar as suas redes nas suas fainas de pesca. Que paisagens belas podemos admirar lá do alto, olhando o Sado e a sua entrada no imenso Atlântico. As belezas raras destes lugares e de Tróia, lá na outra margem do rio, que nestes anos atrás era somente uma língua de areia branca. Há tanto Mundo, tanto lugar distante, tantos que se deslocam para o conhecer, e esquecem este paraíso, ainda selvagem e protegido, onde podem ver o rio azul, admirar o brilho do Sol e o poente no horizonte, sobre as águas deste Mar Português. E o silêncio que podemos escutar, só interrompido pelo cantar das aves ou pelo ruído de algum animal a passar, envolvidos de Natureza . Só por isso é paraíso. Não posso jamais esquecer esta Serra, este lugar onde a poesia nasce, onde Sebastião da Gama a sonhou, a viveu e a escreveu para nós.


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TEATRO

TEATRO JOAQUIM BENITE APRESENTA PROGRAMAÇÃO

Senhora do Monte Agência Funerária

Andreia Gama

Gerência de: António Brás e Sérgio Brás

LOJA PRAGAL: Rua Direita do Pragal, 98 A – Pragal 2800-546 ALMADA Tel. 21 272 23 60 • Fax: 21 272 23 69 (em frente à Colectividade do Pragal)

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A programação do Teatro Municipal Joaquim Benite para 2018 foi apresentada a 6 de Janeiro pela Companhia de Teatro de Almada. E o público pode contar com 46 espectáculos, entre os quais 26 peças de teatro, 6 espectáculos de dança e 14 concertos de música, além de 20 conversas com o púbico e 16 oficinas para a infância. Após Nathan, o Sábio, de Gotthold Ephraim Lessing, com encenação de Rodrigo Francisco, em cena até 28 de Janeiro, a programação do TMJB entra em Fevereiro em grande. Nos dias 2 e 3, apresenta-se O Libertino Passeia por Braga, a Idolátrica, o seu Esplendor, com texto de Luiz Pacheco e encenação de António Olaio, e vem a propósito dizer que, na altura de se pronunciar sobre esta que é uma das suas obras de referência, Luiz Pacheco limitou-se a recordá-la como “um dia de maluqueira”. André Louro transforma o texto escrito, em 1961, num monólogo que sobrepõe a figura do escritor à do libertino que tenta seduzir lolitas e magalas na cidade dos arcebispos. Dias depois, a 7 de Fevereiro, é a vez de A Flauta Mágica, ópera de Wolfgang Amadeus Mozart, com direcção musical de Pedro Amaral. O enredo acompanha as aventuras do príncipe Tamino e do seu escudeiro Papageno que, para resgatarem a bela Pamina, devem superar um conjunto de obstáculos carregados de simbolismo. A obra foi escrita na recta final da vida de Mozart, numa altura

em que o dinheiro e a saúde começavam a faltar ao compositor. Incentivado pelo seu amigo Emanuel Schikaneder, o génio austríaco compôs uma ópera que, sem desprezar a feição cómica tão cara ao gosto vienense, depressa se tornou numa das obras mais representativas dos ideais iluministas do século XVIII. Macbeth, a famosa peça de William Shakespeare, estará em cena nos dias 17 e 18 de Março, com a encenação de Nuno Carinhas. Nesta tragédia do dramaturgo inglês, bruxas abrem a peça, profetizando que Macbeth subirá em breve ao trono da Escócia. A ambição começa então a consumir o general: depois de assassinar o seu principal rival, o rei Duncan, sucessivos crimes hão-de alimentar a sua loucura e as suas mãos jamais deixarão de estar sujas de sangue. A música estará também bem representada com 14 concertos, a começar, já em Fevereiro, com os espectáculos de Lello Minsk e o Pianista de Boite, nos dias 16 e 23, Aldina Duarte, a 17, e a Orquestra Gulbenkian, no dia 24. Já em Março, dão-nos música Samuel Úria, dia 2, e Remexido, nos dias 2 e 9. Na ocasião, foi ainda inaugurada a exposição CTA: 40 anos em Almada Parte I (1971 – 1987), que corresponde ao período que vai desde a fundação da companhia, em Campolide, até ao momento em que saiu da Academia Almadense e se transferiu para o actual teatro municipal. A exposição está dividida em quatro períodos, sendo a II Parte inaugurada em Março, e está patente nos vários espaços do TMJB. Para mais informações consultar http://www.ctalmada.pt


ALMADA REVISITADA

vam no céu num bailado surpreendente. Algumas pousavam livremente no barco e eu olhava-as com um enlevo indizível e tentava tocar-lhes esticando a minha mão infantil. Aquele foi o primeiro dia de muitos anos de vida na margem esquerda do Tejo, em Almada, a dois passos de Cacilhas e do rio. Mas eu ainda não o sabia.

Reinaldo Ribeiro

As recordações da minha aldeia foram-se esfumando lentamente ao longo da infância. Porém, jamais esquecerei aquele dia distante em que eu, pela primeira vez, entrei num caci-

lheiro, no Terreiro do Paço, em direcção a Cacilhas, e vi a grandiosidade do Tejo. Era Verão, os raios do sol reverberavam sobre as águas e uma brisa morna ondulava-as levemente. As gaivotas voltea-

A adolescência, sempre impulsiva e imprevisível, fez-me conhecer o vibrante meio cultural da Margem Sul existente na época e, logo depois, abriume as portas para o Mundo. Vieram anos de descoberta e de vida nas latitudes mais díspares. Algures, num dia de saudade mais forte, regressei mentalmente a Almada e escrevi este poema simples:

CRÓNICA 15 Aqui sentado à beira do entardecer Entre o Tejo matizado e o sonho Vejo a vida refluir Lentamente. No balanço suave Das ondas do rio Chegam barcos, partem barcos Que sempre estiveram aqui Voam gaivotas alegres As mesmas que sempre vi. Vêm cheiros, vêm sons Vêm paisagens antigas De tempos que já vivi Vejo marinheiros e ardinas Engraxadores e varinas Cegos com concertinas E eu, eu sempre aqui, Sentado à beira da noite No Tejo que vive em mim.

PARA A COSTA PASSAVAM

POR DEBAIXO DA MINHA JANELA

Vem isto a propósito de tomar as pessoalíssimas e remotas lembranças da Costa de Caparica como tema de crónica para o primeiro número do novo jornal da Gandaia. Nado e criado a meia dúzia de quilómetros, numa época tão distante que a Costa parecia tão longe quanto hoje nos é uma ida ao Porto ou ao Algarve. Terá sido um dos benefícios das mudanças a que os seniores assistiram nos últimos 60 anos: a transição da carroça, puxada por mulas, para o automóvel, não só acelerou o ritmo a

Jorge Rocha que vivemos, como encurtou o espaço em que nos movimentamos. O Monte da Caparica em que nasci era uma pequena aldeia com duas ruas principais: a de Cima, ou Direita, e a de Baixo, que se tinha então nome foi daqueles pormenores há muito apagados dos neurónios. A partir dessas duas ruas derivavam outras, na maioria azinhagas de terra batida, que ladeavam hortas e campos de trigo, e acabavam em pequenos aglomerados futuramente ampliados até a

condição de bairros periféricos. A Banática, a Granja, o Joinal, o Serrado, o Ginjal, o Campo da Bola, e ainda mais afastados do adro da Igreja, então pólo central da urbe, a Torrinha, as Casas Velhas, a Fonte Santa irradiavam a partir de um outro núcleo, digamos que secundário, o da Torre. Porque dali divergiam as carreiras da Piedense, ora direcionadas para o Porto Brandão, ora para a Trafaria, ora para a Costa, e mais tarde, para a Charneca, quando tinha uma casa aqui, outra acolá, porque era lugar de quintas de reminiscências persistentes na atual toponímia. Até aos cinco anos a família não teve carro. O primeiro foi uma furgoneta já muito batida em quilómetros, imprescindível para que o meu pai, um dos primeiros técnicos de televisão do concelho, alargasse a atividade, complementando o emprego fixo com a visita aos seus clientes depois das horas de trabalho. Desconfio que não terei

Então, como quando era criança, tudo eu olhava com curiosidade, tudo me enternecia, tudo me trazia recordações, e os meus olhos toldavam-se com as emoções que as paisagens da infância me provocavam. E elas eram belas e eu ainda continuava sensível ao seu esplendor. Nasci na margem direita do Tejo, mas foi aqui, em Almada, localizada na sua margem esquerda, que o meu coração criou as mais profundas raízes.

a tese materna era ali mais barata do que nas lojas da Baixa lisboeta! – e implicava a satisfação de se comer um daqueles pastéis que, meio século depois, vi descrito por um turista francês à esposa como sendo “la vraie patisserie”.

QUANDO AS CAMIONETAS

Pudéssemo-nos fiar nas memórias! Mas elas são falíveis, senão mesmo traiçoeiras. Às vezes julgamos ter vivido isto ou aquilo e, afinal, cuidámos de lhes inocular momentos idealizados sem coincidência com a realidade. Por isso, dizem os cientistas, que a fronteira entre a memória e a imaginação é muito fluida, sendo difícil perceber onde acaba uma e começa a outra.

Num certo dia, eu regressei de vez!

deparado com a vastidão oceânica perspetivada a partir da praia do Tarquínio, do Paraíso ou do Dragão Vermelho antes desse momento de viragem na mobilidade familiar. Nesses primeiros anos as deslocações mais morosas resumiam-se a meia dúzia de pontos de referência: o Castelo Picão, onde ficava a quinta principal do meu avô; Montenhoso, a outra quinta entregue aos cuidados do tio Calisto; Pêra, onde vivia uma tia Hortense particularmente afetuosa; a Rua Heliodoro Salgado na Trafaria onde morava a D. Alda, oficiosa madrinha da minha mãe; Cacilhas, onde um outro tio, o Joaquim, tinha uma casa de pasto; a Rua de São José, ao Coliseu, onde se iam buscar as válvulas, as resistências, os condensadores e os transformadores, para repor o stock das peças aplicadas nos dias anteriores. Raramente ia-se a Belém para comprar roupa – segundo

Ficaria bem e daria da minha pessoa a ideia de, desde muito cedo, ter sabido o que queria. Mas não se trataria senão de uma grande mentira, porque nem me recordo de quando isso aconteceu pela primeira vez, nem das seguintes. O oceano, ali bem perto, tornou-se presença circunstancial à medida, que fui crescendo, com a naturalidade de todas as outras realidades que me formatavam como caparicano nesses anos anteriores ao 25 de abril. Nesses anos era na Trafaria, que passava muitos dos dias de verão, vivenciando-os no areal ainda razoavelmente extenso, enquanto a minha mãe cuidava da já idosa e adoentada madrinha. A Costa só se tornaria realidade tangível, quando num ou noutro domingo de verão o meu pai interrompia o labor constante de repor normalidade nas caixas de imagens dos clientes, e nos levava, a mim e à minha irmã, a essa praia para onde afluíam carreiras cada vez mais frequentes de autocarros, que passavam debaixo da janela da casa onde vivíamos.



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