2.ª edição - Jornal Notícias da Gandaia

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REPORTAGEM p. 4 e 5

TORRE VELHA AO ABANDONO Património em terra de ninguém

Notícias da www.gandaia.pt

Registo n.º 126448 na ERC

Março 2018 — Ano 1 — N.º 2 — Diretor: Ricardo Salomão

CONCELHO DE ALMADA DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

ENTREVISTA p. 10 e 11

O FUTURO DO GINJAL

A PORTA DE ALMADA

Contributos para um debate p. 7, 8 e 9

A banda desta banda ou como partilhar o nosso mundo sem limites

ATUAL

p. 12

Tempestades: O desafio do clima

Nós e a nossa época CRÓNICA DE LUÍSA COSTA GOMES p. 13 www.charnecamotor.pt

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NOTÍCIAS | MARÇO 2018 Notícias da Gandaia

Ondas e Música no Surf Fest Mil surfistas e outros atletas, umas 50 provas de várias modalidades, pessoal de todo o país e de mais 25 nacionalidades, 24 artistas e DJ em palco, noites de hip-hop, rock, música africana, soul… Tudo na Costa da Caparica, e tudo entre os dias 22 e 31 de Março. O Caparica Surf Fest, além de incluir “provas e exibições para todos os níveis e tipos de praticantes, desde o simples amador, ao desportista em evolução, seja ele vindo do desporto escolar ou já uma esperança do desporto regional ou nacional”, diz António Miguel Guimarães, director do evento, aposta “claramente na diversidade, na inclusão e na actualidade das propostas e modalidades oferecidas”, que fazem do mar da Costa “o maior campeonato de ondas do país.” A estas actividades juntam-se “45 stands com marcas, clubes e associações desportivas e culturais prontas a receber as dezenas de milhar de pessoas” esperadas por estes dias. Tudo indica que a competição estará ao rubro, com provas de longboard, surf e juniores da World Surf League, e ainda com a presença de quase todos os circuitos nacionais da Federação Portuguesa de Surf. Na edição de 2018, será possível assistir às provas Caparica Longboard Pro, Caparica Junior Pro e ainda duas provas do circuito mundial de qualificação de surf, o Caparica Pro. Inscritos já estão o ex-campeão nacional, Pedro Henrique, e o surfista e blogger, João Kopke. Na disciplina de bodyboard, David Rafachinho, Rodrigo Carrajola e o caparicano Hugo Pinheiro são os convidados a competir nas provas Nacional Bodyboard Dropknee, Circuito Nacional Bodyboard Open e Europeu Bodyboard Open, respectivamente. Mas há mais desportos e competições para ver durante o Caparica Primavera Surf Fest. Entre bodysurf, skim, kayaksurf, kitesurf, windsurf e stand up paddle, existem desportos de ondas para todos os gostos. Para nem falar na música que ocupa as noites do festival, com o palco preenchido por actuações, entre outros, dos almadenses TNT e Carlão, que actuam dia 30. Mas, também, os não menos importantes HMB, Slow J, Valete, Dead Combo, Sara Tavares, Orelha Negra, Quatro e Meia e Sam the Kid & Big, para nem falar da mão-cheia de DJ que vai animar o resto das noites destes 10 dias de festa.

Caldeirada à Pescador só na Costa O último mês de Inverno é também um mês em que os apreciadores de peixe sabem onde devem rumar. Costa da Caparica, claro, pois este é o lugar do Concurso da Caldeirada à Pescador. Até 1 de Abril, através de 14 restaurantes, organizado pela Junta de Freguesia local, a Costa apresenta a sua especialidade culinária ao almoço de sábado e domingo, sabendo, os locais e os visitantes, que neste prato apenas são utilizados peixe fresco e produtos hortícolas locais. Este concurso, agora na sua 14ª edição, pretende avaliar a melhor caldeirada da região (nas categorias Melhor Caldeirada, Melhor Sobremesa e Melhor Serviço) e homenagear o trabalho dos homens do mar e da terra. Para tal, os membros do júri visitam os restaurantes concorrentes de forma aleatória, garantindo que uma boa caldeirada não se faz só de bom peixe mas também da qualidade dos produtos agrícolas na região, nomeadamente tomate, pimento, batata e cebola, únicos devido às características das terras da Costa que beneficiam da proximidade marítima.

PROJECTO READ MORE

APRENDER A GOSTAR DE LER Segundo a OCDE, a leitura é uma das principais competências que os jovens necessitam de dominar numa sociedade em constante mudança. A equipa directiva do Agrupamento de Escolas Carlos Gargaté, consciente da necessidade de estimular os alunos para a leitura, aderiu ao projecto Europeu READ ON. O projecto READ ON começou na Noruega, com o objectivo de disseminar a paixão pela leitura nos jovens europeus com idades entre os 12 e os 19 anos. É apoiado pela EACEA’s Creative Europe Community Program, tem uma duração prevista de quatro anos, de Junho de 2017 a Maio de 2021 e conta com sete parceiros internacionais, incluindo escolas, festivais e centros de promoção cultural de seis países, nomeadamente: Noruega, Itália, Reino Unido, Espanha, Irlanda e Portugal. Embora o público-alvo seja os jovens estudantes, o projecto envolve igualmente professores, educadores e outros agentes culturais (escritores, por exemplo),

no desenvolvimento de ferramentas e boas práticas que promovam o gosto pela leitura.

sala de aula, independentemente da disciplina que esteja a ser leccionada.

O projecto está organizado numa série de acções coordenadas, com um mesmo foco – a promoção da leitura – em várias vertentes, nomeadamente: enraizar hábitos de leitura, estimular a energia criativa dos jovens através da edição de antologias colaborativas e a produção de podcasts (uma forma emergente de contar histórias), a criação de uma oficina permanente para fãs de ficção, uma competição para autores de banda desenhada, encontros entre escritores e jovens leitores e oficinas de autores que envolvem jovens na criação de histórias.

Outra actividade é a biblioteca itinerante, instalada numa antiga cabine telefónica no átrio da escala. Esta biblioteca, complementar à biblioteca da escola, tem livros, revistas e jornais, que os alunos, professores e restantes funcionários podem requisitar, em regime de autocontrolo, ou seja, levam o que desejam anotando num impresso a data, hora e título do objecto requisitado e ao devolver, anotam a sua devolução.

O Agrupamento de Escolas Carlos Gargaté envolveu todos os seus alunos no projecto através de actividades como os 10 minutos de leitura onde, todos os dias, entre as 10.00 e as 10.10, cada aluno tem dez minutos para ler um texto à sua escolha, de um livro, revista, jornal..., dentro da

Este projecto premeia os alunos que se destaquem através da exposição dos trabalhos na página do projecto, a edição de colectâneas de textos, produção de poscasts nos estúdios da RFM, viagens, tablets e livros. A escola beneficia do financiamento europeu para suportar as actividades deste projecto e, dessa forma, prosseguir o seu objectivo último de bem formar os nossos jovens. | Abel Pinto

DIRETOR: Ricardo Salomão – EDITOR: Rui Monteiro – REDAÇÃO: Andreia Gama – DIREÇÃO DE ARTE: Ausenda Coutinho COLABORADORES: Abel Pinto, António Zuzarte, Francisco Silva e Elizabete Gonçalves (Centro de Arqueologia de Almada), Jorge Gonçalves, Jorge Rocha, Luísa Costa Gomes, Reinaldo Ribeiro, Victor Reis e Olho de Lince. DEPARTAMENTO COMERCIAL: Ausenda Coutinho – comercial@gandaia.info – Tlm: 968 050 744 JORNAL NOTÍCIAS DA GANDAIA – Registo n.º 126448 na ERC. – PROPRIEDADE: Associação Gandaia – Praça da Liberdade, 17-A, 1º andar – Centro Comercial “O Pescador” – 2825-355 Costa da Caparica – NIPC: 151022169 – Horário da Secretaria (das 10:30 às 12:30) Tlm. 939 903 320 – Tel. 212 903 046 – noticias@gandaia.info – www.gandaia.pt – PUBLICIDADE: comercial@gandaia.info Tlm: 968 050 744 – PERIODICIDADE: Trimestral – TIRAGEM: 5.000 – IMPRESSÃO: Gráfica Funchalense – Rua Capela Nª Srª da Conceição, nº 50 Morelena – 2715-029 Pêro Pinheiro – DEPÓSITO LEGAL: 436220/18 – DISTRIBUIÇÃO: Gratuita


Notícias da Gandaia MARÇO 2018 | EDITORIAL

|Ricardo Salomão Nas redes informáticas há uma configuração – em estrela – em que cada estação está ligada diretamente ao servidor central, sem estarem ligadas umas às outras. Só através do centro a comunicação é possível. Esta imagem reflete, também, o desafio da suburbanidade, no qual todas as comunidades ficam ofuscadas pelo poderio da oferta da capital e se esquecem delas próprias. Almada também sofre deste problema. Primeiro, ainda não interiorizou que a sua identidade se compõe de diferenças, que é um concelho e não uma cidade.

VIRADOS PARA LISBOA, DE COSTAS PARA NÓS No concelho até existe outra cidade, mas existem também muitas realidades e a identidade de Almada tem de passar por todas. Não ver isto é um problema, mas assumi-lo é uma riqueza. Para que esta identidade concelhia se fortaleça é fundamental, entre outras coisas, a comunicação, a interação, o conhecimento e interligação entre as pessoas e delas com o território. Mas não chega. É essencial ultrapassar as recriminações e “a guerra das culpas”, para passar à identificação dos problemas e suas soluções. É preciso pensar a forma como queremos viver em Almada. E vive-se de muitas maneiras, e ainda bem. É para este objetivo que este jornal quer contribuir. Essa é a

“cartilha” da Associação Gandaia: apontar ao diálogo, ao reforço dos laços comunitários, à partilha de vivências e tradições. Apesar de ter apenas seis anos, a Associação impôs-se pelo seu trabalho – voluntário – e pelo prazer e cuidado com que desenvolve as suas ações. É um caso de iniciativa cidadã, de munícipes que fizeram um diagnóstico dos pro- blemas e se uniram para construir soluções. Há muita coisa para fazer e todos não somos demais.

rência, Humildade e Respeito. Com estas cinco simples ideias, temos conseguido colaborar, tendo cada um a sua orientação política. Até conseguimos construir laços de amizade… A bola fica, agora, do seu lado leitor. Colabore, comunique, abra a sua atenção para todos nós

O que nos caracterizou desde o primeiro dia não foram ideologias políticas. Temos militantes e simpatizantes de vários partidos, e ainda bem. Porém, o que nos move e nos une são valores: Autenticidade, Franqueza, Transpa-

Escritório: 212946190 Telemóvel: 913059533 E-mail : geral@xandite.com

Qualidade e Tradição Praça da Liberdade, n.º 2 2825-370 Costa de Caparica Telefone: 21 290 0016

Praça do MFA, n.º 12 - A 2800-171 Almada Telefone: 21 275 4830 Escritório: 21 276 5988

“O MAR MUDA-NOS TODOS OS DIAS” que partilhamos este tempo, este espaço e construímos esta comunidade e chame a atenção de todos para aquilo que considera importante. São estas coisas que fazem a vida interessante. |

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REPORTAGEM | MARÇO 2018 Notícias da Gandaia

TORRE DE SÃO SEBASTIÃO PATRIMÓNIO HISTÓRICO AO ABANDONO

A linha verde marca a propriedade do Porto de Lisboa (junto ao rio) onde se encontra a Torre. | Fonte: Porto de Lisboa

público, e que quem tivesse interesse em visitar o monumento o pudesse fazer livremente. No entanto, tal não é possível por duas razões: a falta de informação sobre a entidade responsável pelo monumento e o elevado estado de degradação em que a Torre se encontra atualmente.

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e braços abertos para o Tejo e Lisboa, o Cristo Rei saúda quem chega à cidade de Almada via ponte 25 de Abril. Inaugurado em 1959, e construído como agradecimento por Portugal não ter entrado na II Guerra Mundial, é um dos principais monumentos nacionais. O que a maior parte dos moradores desconhece é que existe um outro monumento considerado património nacional no concelho, a Torre de São Sebastião, no Porto Brandão, na freguesia da Caparica. A praia, na zona lateral poente, é agora ocupada por depósitos de combustível, o que acaba por ter um impacto ambiental e estrutural prejudicial para a Torre. No entanto, a vista privilegiada sobre o rio Tejo e a natureza envolvente aliadas ao factor histórico são motivos suficientes para despertar alguma curiosidade acerca deste local. Ainda assim, não deixa de

ser estranho como passa despercebido a tanta gente, mesmo aos residentes do concelho. A Torre de S. Sebastião, também designada Fortaleza da Torre Velha, foi classificada como monumento nacional a 29 de Maio de 2012, através do Decreto n.º 11/2012 de 29 de Maio, da Presidência do Conselho de Ministros, publicado em Diário da República. Destacamos um excerto desse documento, como ponto de partida, “A proteção e salvaguarda da Fortaleza, através da classificação, favorecem o seu usufruto pela população, porquanto possui um elevado potencial do ponto de vista monumental e patrimonial, determinando que a área onde se localiza venha a tornar-se, cada vez mais, uma zona de valorização patrimonial.” Posto isto seria de esperar que, sendo património nacional, fosse

Terra de ninguém? O que devia ser uma reportagem a um monumento de interesse local transformou-se numa investigação jornalística à terra de ninguém. E esse descuido/negligência pelo que é nosso, pelo que é nacional, parece ser tão relevante como a impossível visita, pelo que que faria todo o sentido abordar o tema, ainda assim. O Notícias da Gandaia contactou a Direção Geral de Património Cultural (DGPC), que informou que a entidade responsável pelos proprietários de imóveis, classificados ou não, públicos ou privados, é a Direção-Geral do Tesouro e Finanças. Na tentativa de chegar à actual proprietária da Torre de São Sebastião, contactámos esta última, de quem, até ao momento de fecho desta edição, não obtivemos qualquer resposta.

A Estamo, Participações Imobiliárias, S.A., também foi apontada como possível proprietária da Torre, no entanto nada tem a ver com este património, conforme nos esclareceu. Segundo fonte da Estamo, “o imóvel foi vendido em Outubro de 2010, à Diraniproject V – Projectos Imobiliários, SA. O que foi transmitido pelo Estado à Estamo e por esta revendido foi um imóvel contíguo à mencionada Torre de São Sebastião e denominado de Lazareto. A dita Torre de São Sebastião nunca foi vendida (ou revendida) à Estamo, devendo, provavelmente, continuar nas mãos do Estado.” Segundo o Notícias da Gandaia apurou, a entidade responsável pela Torre de São Sebastião é actualmente a Administração do Porto de Lisboa (APL). Uma fonte da gestão dominial da APL, confirmou-nos que a Torre de São Sebastião se encontra supostamente na jurisdição do Porto de Lisboa. Este supostamente não é por acaso, foi assim mesmo que nos foi dito, pois parece que a situação não é tão objectiva quanto seria de esperar. No entanto lamentamos para já não poder avançar com mais informação acerca deste património local, que parece destinado a sucumbir no tempo, perdendo-se assim a oportunidade de valorizar o seu tempo na história.

Na sequência da solicitação de uma declaração oficial do Porto de Lisboa acerca deste assunto, e após inúmeros contactos, e com a garantia que iriam encaminhar o nosso pedido, não nos foi dada uma resposta objetiva até ao fecho desta edição. Ficou assim por justificar o porquê da Torre de São Sebastião não poder ser visitada de momento e se está planeada alguma recuperação/reabilitação da mesma, para que no futuro possa vir a ser um local de interesse público. Quando, em Janeiro de 2016, o Notícias da Gandaia teve acesso à Torre de São Sebastião, referiu “a aura de encanto e mistério que costuma caracterizar os lugares abandonados”, mas também já na altura terminou a reportagem com um alerta: “Na Torre de São Sebastião da Caparica, a história manifesta-se ao longo do tempo e em cada pormenor. Seria realmente um desperdício de potencial se deste património nada mais restar senão ruínas.” Dois anos mais tarde, sem qualquer tipo de preservação deste património, com a vegetação a irromper selvagem no seu curso natural, o cenário parece ter piorado drasticamente, de tal forma que nos foi impossível aceder ao local em questão. A própria Administração do Porto de Lisboa, que não autorizou a visita a Torre, até justificou que numa visita recente ao local, um colega seu da Proteção Civil comentou: “eu punha o pé sem saber o que tinha por baixo”. O cenário fica à imaginação de cada um.

Património em causa O que o futuro lhe reserva ainda é uma incógnita, mas a história que respira é incontornável. Considerada a mais antiga fortificação portuguesa destinada à defesa marítima, a Torre de São Sebastião, ou Fortaleza da Torre Velha, é uma das componentes de um sistema de três torres da barra do Tejo. As outras duas são a Torre de Santo António de Cascais e a Torre de São Vicente de Belém. Esta última, bastante mais conhecida, encontra-se alinhada com o forte, na margem oposta do rio. A distância entre estas torres não permitia o alcance total do rio, daí a existência de uma nau no centro do Tejo, para reforço de


O LAZARETO NA PERSPETIVA DE EXCURSIONISTAS DE HÁ 75 ANOS Notícias da Gandaia MARÇO 2018 | CRÓNICA

tiro das baterias que não alcançavam a distância pretendida. A Torre de São Sebastião, através deste sistema de artilharia de defesa da barra de Tejo e da cidade de Lisboa, está portanto ligada à génese da «expansão marítima» portuguesa. Para além da sua função de defesa, esta fortaleza é ainda um dos mais importantes exemplos da arquitectura militar renascentista do país, tendo em conta a modernidade dos dispositivos que possui, bem como a originalidade da sua implantação. Mandada construir por D. João II nos finais do século XV, e reedificada em 1570 por D. Sebastião, serviu enquanto estrutura militar de defesa até 1859. A partir de 1815, parte da Torre passou de fortaleza a Lazareto. Em 1869, foi construído um novo, local destinado a albergar, em quarentena, todos os tripulantes dos navios que chegavam com suspeita de epidemias, provenientes de países assolados por doenças infecto-contagiosas. De grandes dimensões, apresenta uma planta em forma de ferradura, semicircular, com saída para vários edifícios, cada um destinado a um tipo de maleita diferente. A entrada para o Lazareto era feita pelo rio. Quando já se encontrava fora de funções, em 1919, durante a revolta monárquica do Norte, foi utilizado como presídio. No pós 25 de Abril, o Lazareto do Forte de São Sebastião passou a ser baptizado como Asilo 28 de Maio, albergando então retornados das ex-colónias. Na área pertencente ao forte, um tesouro natural resiste. Um dragoeiro, de 150 anos, árvore que deve o seu nome à sua seiva vermelha, que era comercializada com o nome de sangue-de-dragão. No seu tronco e ramos encontram-se inscrições de antigos militares. O valor histórico, patrimonial e cultural da Torre de São Sebastião, que devia ser uma herança preservada entre gerações, vai-se perdendo assim no tempo. Sorte a dos que a puderam visitar no passado e testemunhar a sua importância ao vivo e a cores. Afinal, trata-se de um património classificado como monumento nacional, que o parece ser só em papel. Destino diferente teve a sua “companheira” da frente, a Torre de Belém, ponto de grande interesse turístico, que está longe de cair no esquecimento. | Andreia Gama

|Jorge Rocha

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consulta às hemerotecas pode ser bastante interessante, sobretudo, quando se descobrem textos cuja existência desconhecíamos e são alheios aos que íamos previamente procurar. Foi o que me sucedeu duas atrás quando consultava uma edição do Diário de Lisboa de 5 de Dezembro de 1942 e dei com um título sugestivo: “Visita ao Lazareto onde ficavam de quarentena os passageiros chegados ao Tejo.” Assinava-o Gabriela Castelo Branco, que presumo ser uma das integrantes do Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas, organização fundada por Adelaide Cabete em 1914 e que Salazar proibiria a partir de 1947. A curiosidade que esse documento suscita tem várias razões a fundamentarem-na. Por um lado não podemos esquecer que se viviam então momentos particularmente dramáticos além-fronteiras com Hitler a ver a campanha da Rússia travada em Leninegrado e, sobretudo, em Estalinegrado, prenunciando-se a viragem de uma guerra, que se saldaria com a sua derrota. Mas, numa época em que o turismo ainda não existia como indústria, tem alguma piada o pioneirismo dos passeios a sítios considerados de interesse pelos diletantes, que não perdiam o ensejo de, para o efeito, contratarem guias habilitados. Na peça jornalística Gabriela Castelo Branco começa por descrever o acesso à margem sul a partir de Belém: “Tomámos o pequeno vapor da carreira para Porto Brandão eram quase onze e meia da manhã. Gente humilde à nossa volta na lida de todos os dias, transportando canastras com sardinha, hortaliças, sacos, fardos pesados e falando, comentando, gesticulando.”

Numa época em que era obrigatória a descrição da paisagem em que se evoluía, Gabriela Castelo Branco é bastante detalhada no que vê: “pousávamos a vista sobre o panorama do rio, verdeseco e agitado pelo vento agreste que soprava. Gaivotas donairosas e brancas traçavam no firmamento arabescos diversos e flutuavam sobre as águas revoltas. Barcos à vela, aqui e além, um vapor de carga atracado e outros mais pequenos, atravessando o rio para cá e para lá. Junto ao Bom Sucesso um hidroavião solitário parecia perdido e esquecido do mundo… Junto do nosso barco uma chata com dois homens andrajosos, que lançavam uma rede para pescarem alguma coisa.” Deixando para trás a cidade, onde a autora referencia os pavilhões sobreviventes da Exposição de 1940, passa para a visita do edifício onde, em tempos, funcionara o Lazareto, que descreve como sítio de internamento dos doentes “atacados de moléstias pestilenciais, como cólera, peste e febre amarela, e passageiros vindos de portos onde grassavam essas epidemias, ou que, a bordo, haviam estado em contacto com aqueles enfermos.”. O sítio era – e continua a ser ainda hoje em dia – beneficiado por paisagem encantatória: “fica situado num morro, de onde se desfruta panorama soberbo por sobre o rio. A capital resplandece olhada daquele alto. E tudo ali à volta respira uma quietude que se presta à meditação.” Segue-se a sua história: “existe do lado de lá do rio um velho forte, datando talvez do século XVII, conhecido pelo Forte de S. Sebastião (ou Torre Velha). Duma certa altura em diante para lá iam parar as pessoas atacadas de doenças pestilenciais que desembarcavam em Lisboa e os passageiros que ficavam em quarentena. Verificando-se, porém, a necessidade de melhores acomodações para estes, porque a navegação aumentara e o número de desembarcados era maior, a meio do século XIX deu-se início ao grande edifício do Lazareto e em 1884 ficou concluído.

Era formado por cinco quarentenas (ou setores) todos ligados entre si, mas onde as pessoas se encontravam numa completa separação. Cada setor – de três pavimentos – possuía os seus quartos, a sua cozinha, a sua sala de jantar, as suas instalações higiénicas, a sua entrada. Uma capela grande – duma disposição original porque estava inteiramente isolada das quarentenas, mas fronteira a estas, e cheia de janelas que se abriam para que os internados assistissem à missa sem terem de penetrar nela – permitia o culto religioso.” Prosseguindo com a mesma preocupação de rigor com os factos, Gabriela Castelo Branco conta que a preocupação em evitar o contacto dos internados com o exterior era tal que recebia-se a comida a partir de uma roda e existiam diversos barracões para a desinfeção das roupas e das mercadorias, a acomodação das bagagens e para os serviços aduaneiros. Os excursionistas, que acompanhavam a repórter, também usufruíram das informações prestadas por Gonçalves Braga, ex-inspetor geral da Sanidade Marítima, sobre o início da prática das quarentenas em Veneza ou em Marselha antes do século XVII, que serviram de referência para a publicação do “Regimento do posto de Belém” em 20 de Dezembro de 1695, pelo qual se instituía o primeiro lazareto na Trafaria. A transferência para a Torre Velha ocorrera em 1815, sendo aí criado o Hospital de Isolamento, definitivamente desafetado em 1918. Perdendo a função original, o Lazareto servira de quartel até 1927 e tornara-se Asilo de educandas de três instituições: o de Manuel Pinto da Fonseca, o da Almirante Reis e o da Ajuda, que se congregaram no que passou a ser o Asilo 28 de Maio. Quando Ga-

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briela Castelo Branco e os demais excursionistas do passeio visitaram as instalações andavam por lá 300 raparigas com idades entre os sete e os 12 anos. “ A diretora, Fernanda de Sousa Carvalho, inteira-nos sobre a educação que recebem. Instrução elementar, música, ginástica, trabalhos domésticos, não lhes faltando amparo moral e religioso.” Ou seja, uma instituição do Estado Novo no seu esplendor… O último doente do Lazareto ali estivera até 1912, atacado de febre-amarela contraída no Brasil de onde proviera. Mas figuras consideradas ilustres ali haviam passado alguns dias, nomeadamente D. Pedro II, imperador do Brasil, e o caricaturista Rafael Bordallo Pinheiro. É da autoria deste o conjunto de ilustrações, que acompanham este artigo, porquanto o notável artista não perdeu a oportunidade para reportar pelo desenho o tipo de experiência por que estava a passar. Para quem viveu na Caparica nas décadas mais recentes o Lazareto significou diferentes ciclos controversos: do tal asilo para raparigas desvalidas tornou-se num espaço abandonado depressa apossado por quem não tinha um teto e ali se acoitou. Mas depressa ganhou péssima fama por ser tido como foco de diversos tipos de delinquência. Quando as autoridades transferiram os seus ocupantes para um dos bairros sociais situados entre o Monte e vedaram o acesso a quem tivesse a curiosidade de visitar a antiga Fortaleza, deram ensejo ao negócio imobiliário, que transformou o lazareto num investimento, que não parece passar das intenções. Ninguém duvida, porém, que cuidando de reabilitar toda a área entre a Torre e o Porto Brandão, o antigo Lazareto tem o potencial de ali se criar um polo turístico de assinalável interesse para quem o vier a usufruir. |


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TEATRO | MARÇO 2018 Notícias da Gandaia

UM NOVO DIÁLOGO NA GANDAIA O que a motivou a vir para Portugal? Um belo país. A mesma língua. A curiosidade de conhecer o cenário artístico, a possibilidade de conviver com artistas portugueses, numa busca de diálogos estéticos e troca de experiências, de saber com o corpo todo como se pensa a Arte aqui.

É louvável o esforço que os diversos agentes culturais têm vindo a desenvolver – muitas vezes “contra ventos e marés” – para promover uma maior ligação entre as pessoas e a Cultura. Entre as várias actividades artísticas existentes na Margem Sul do Tejo, o teatro tem tido um importante lugar de destaque. São inúmeras as companhias, amadoras e profissionais, que a ela se dedicam. A Associação Gandaia, no seu empenho de divulgação da cultura entre as populações abriu uma nova valência ao criar um novo grupo de teatro. Para o efeito passou a contar com a colaboração da actriz e encenadora brasileira Christiane de Macedo, actriz premiada no Brasil, encenadora e dramaturga, que está a desenvolver um projecto de formação de actores, bem como a montagem da peça O Segredo de Quem Somos para o Teatro da Gandaia.

Poderia falar-nos sobre Christiane de Macedo? Sou brasileira (espantada com o atual momento que vive meu país…). Nasci no Rio Grande do Sul, na ponta do mapa, e cresci em Curitiba – Paraná. Aos 14 anos ingressei num grupo de teatro amador. Aos 16 anos entrei na Escola de Teatro e, desde lá, minha vida foi toda dedicada à Arte Dramática. Trabalhei com inúmeros encenadores brasileiros o que me levou a conhecer todo o Brasil, convivendo com suas várias e diferentes culturas. Uma vida itinerante, de experiências importantes e significativas. Através do convívio intenso com o artista plástico e cenógrafo Marcelo Scalzo entendi que o palco é mais que um espaço de representação, mas que constrói pequenos universos e, assim, dilata o espaço a ponto de criar um mundo que serve à representação.

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Tudo começou quando encenei fragmentos de Os Lusíadas, de Camões, em 2007. Também a poesia de Fernando Pessoa sempre me encantou. Em Lisboa, através do Centro Intercultura Cidade, juntamente com os colegas da Cia Radicalidade, Octávio Camargo e Chiris Gomes, apresentamos fragmentos da poesia portuguesa, entre os quais Cabaret Pessoa, Sidónio Muralha e Camões. Conheci várias associações de cultura, fiz amigos, trocamos informações e, se antes tinha motivos para estar aqui, agora eles se intensificaram fortemente. Tenho assistido a algumas montagens de grupos locais de teatro e identifico fortemente o fascínio que o teatro desperta e envolve esses artistas. Para mim, isso é muito estimulante, pois tenho percebido

a busca por uma linguagem autoral. Além disso, tenho me comovido com a grandeza de alma que tem a gente desta terra.

Pelo seu currículo, sabemos que tem representado bastantes peças clássicas e de forte conteúdo filosófico, isto é uma opção? Como frequentei a Escola de Arte Dramática visitei os autores clássicos, com o tempo necessário para absorver a riqueza desta escritura; atuo e sou integrante da Companhia Ilíada Homero, em Curitiba, onde os 24 cantos da Ilíada e Odisseia foram erguidos e são repre- sentados na íntegra e ditos de memória (sem o papel na mão) dirigidos por Octávio Camargo. Atuei em peças de Arthur Miller, Brecht, Molière, Sartre, entre tantos, mas hoje me interesso pela produção de textos autorais, e não que seja uma escritora, claro que não. Mas é a partir da subjectividade de cada ator para dizer o que os inquieta que me move especialmente. Gosto de passear pela alma humana. Tudo já foi escrito pelos grandes mestres do teatro. O que me atrai neste momento é visitar o que de mais ín-

timo cada um tem como depoimento.

O que tem feito Christiane actualmente em Portugal? Em Setembro do ano passado apresentei um monólogo À Beira do escrito, encenado e representado por mim no Auditório da Associação Gandaia, no Teatro Cinearte, de A Barraca, no Centro Intercultura Cidade, no Fórum Lisboa, na Associação José Afonso, no Teatro A Bruxa, em Évora, e em Pernes. A direção da Associação Gandaia fez-me um convite para criar um núcleo de Teatro que culminaria com uma montagem teatral. Muito honrada, aceitei prontamente, e estamos trabalhando muito motivados. Iremos trazer à cena uma peça que será o resultado deste encontro artístico entre mim e os integrantes deste processo. São atores principiantes e outros experientes. Essa mistura está nos enriquecendo a todos. A partir da criação das personagens escrevi textos para cada ator que irão compor este trabalho O Segredo de Quem Somos. | Reinaldo Ribeiro


O FUTURO DO GINJAL

A PORTA DE ALMADA

O projeto foi apresentado, a discussão pública fez o seu caminho, mas o Ginjal continua uma incógnita a que não é alheia alguma controvérsia. Para continuar a discussão de um empreendimento fundamental para o desenvolvimento do concelho de Almada, o Notícias da Gandaia apresenta nesta edição a história da criação e desenvolvimento do cais. Convidámos os partidos representados na Câmara a apresentarem a sua visão desta obra estruturante. Todos responderam, infelizmente o texto de Joana Mortágua, do Bloco de Esquerda, não chegou à nossa redação. (Fotografia de Luís Eme)

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HISTÓRIA | MARÇO 2018 Notícias da Gandaia

BREVE SÍNTESE HISTÓRICA DO CAIS DO GINJAL

pelos rodoviários através da Ponte sobre o Tejo; as nascentes de água secaram, porventura devido às obras da Lisnave que interferiram com a dinâmica freática; os armazéns de vinho enfrentaram a concorrência das adegas cooperativas; as tanoarias foram confrontadas com a substituição do vasilhame de madeira pelo de vidro; a pesca do bacalhau como empresa nacional foi desmantelada. Pode considerar-se para o Ginjal uma fase de vida económica intensa com cerca de um século. Durante esse período passaram por ali produtos das mais diversas origens e com inúmeros destinos. Por exemplo, madeira italiana para o fabrico de barris, lula do Cabo Branco para a pesca do bacalhau na Gronelândia, carne de vaca argentina para alimentar esses pescadores, vinho português com destino a todos os continentes, conservas e estanho para o norte da Europa, navios de muitos mares e muitos barcos do rio.

|Elisabete Gonçalves

Centro de Arqueologia de Almada

E

ntre 1997 e 2002, o Centro de Arqueologia de Almada desenvolveu o projeto Ginjalma, para estudar e divulgar o Cais do Ginjal, numa altura em que se previa para breve a sua reabilitação urbana. Nesse âmbito foi publicada a monografia Memórias do Ginjal e concebeuse a exposição Ginjalma, as Memórias e o Espaço, que esteve patente num armazém do cais e foi visitada por quatro mil pessoas. Hoje o Cais do Ginjal volta à ordem do dia porque há um Plano de Pormenor em processo de decisão que visa a transformação daquele espaço. O conhecimento do passado do Ginjal continua a ser fundamental para desenhar o seu futuro, sobretudo se queremos que o valor patrimonial seja um fator determinante na nova urbe projetada. O registo mais antigo do Ginjal data de 1767 e diz respeito a uma Quinta – a Quinta do Ginjal – referenciada pelo historiador Rui Mendes. No século XVIII também já havia armazéns de vinho, que beneficiavam da proximidade de Lisboa, da facilidade de acesso fluvial e das características naturais do local: frio, porque está virado a norte na base da arriba; e abundância de água.

Aos poucos, o Ginjal ficou abandonado e os edifícios foram caindo nas mãos de credores. Em 1992 o consórcio de proprietários elaborou um Programa Preliminar para a reabilitação urbana daquele espaço. O projeto previa um porto de recreio, um ecomuseu, habitação, espaços de lazer e o alargamento do cais (os estudos efectuados pela Proambio e o Programa completo pode ser consultado no CAA). Essas obras nunca arrancaram e o Ginjal foi ficando cada vez mais parecido com aquilo que Romeu Correia vaticinara para o sítio onde cresceu: “Um cadáver que permanece sem sepultura”.

Os terrenos ribeirinhos entraram na posse da Câmara Municipal de Almada em 1860. A partir daí, a autarquia começou a aforar (ceder sob pagamento) lotes de praia. Os foreiros que queriam construir edifícios ficavam obrigados a fazer a respetiva parcela de cais. Dessa forma se foi resolvendo o problema do acesso a Cacilhas, reivindicado pelos ocupantes mais antigos. Muitas das amplas instalações que foram construídas tiveram vários usos ao longo do tempo. Houve uma destilaria, uma tinturaria, uma oficina de fusão de sebo, uma latoaria, várias tanoarias, fábricas de conservas de peixe, carne e fruta, uma fábrica de estanho… No caso dos armazéns, destacaram-se os de vinho, vinagre e azeite da família Teotónio Pereira. Foi ele o primeiro foreiro e teve ali habitação, quintal com horta, pomar e jardim, além de três armazéns diferentes. Outra atividade a salientar é o estaleiro de construção naval de Hugo Parry. Este caldeireiro inglês foi contratado pela marinha portuguesa e depressa se estabeleceu por conta própria. Aforou a praia do Cubal (o local onde mais tarde foi cimentada uma parcela da Arriba) onde construiu, entre muitos outros, alguns navios famosos como a canhoeira Chaimite, adquirida por subscrição pública para enfrentar o ultimato inglês de 1890. A partir de 1939, uma grande

área foi ocupada por estruturas de apoio à frota bacalhoeira nacional. Tinha duas fábricas de redes, uma fábrica de gelo que o despejava diretamente nos navios atracados, câmaras frigoríficas, oficinas de serralharia outras reparações navais, armazéns de todo o tipo de aprestos, refeitório e escritórios. No cimo da Arriba, a fábrica de óleo de fígado de bacalhau refinava e distribuía o produto, como complemento alimentar, a todas as escolas primárias do país. No mesmo local tinha existido a fábrica de cortiça do inglês Smington, uma das várias desse setor que houve em Almada no século XIX. Ainda existem vestígios do tapete rolante que vencia o declive para transportar a cortiça desde o cais.

gar aos mercados africano e americano. As conservas de peixe da fábrica La Paloma abasteciam o exército alemão. Quanto ao estanho, extraído dos desperdícios de lata, era exportado para suprir a necessidade de metal dos países envolvidos na guerra.

Durante a II Guerra Mundial os negócios do Ginjal foram favorecidos. Por exemplo, o comércio de vinho perdeu parte da concorrência da Itália e França e pôde alar-

A partir dos anos de 1960 começou a verificar-se a decadência das atividades do Ginjal. Para isso contribuíram vários fatores: os transportes fluviais foram substituídos

Os anos quarenta foram também um período alto para os restaurantes e tabernas. Os lisboetas vinham passear ao domingo, contemplavam a paisagem e petiscavam. Havia mulheres a vender ostras grelhadas ao longo do cais e cantava-se o fado em tascas mais escondidas, onde se cantava, por exemplo, Vinha um copo de vinho/ uma ostra de primeira/ A malta alargava o cinto/ lá na tasca do Bágueira (refrão do Fado do Ginjal, de Fernando Barão)

Em 2008 a Câmara aprovou o Estudo de Enquadramento Estratégico do Almaraz/ Ginjal e no ano seguinte estabeleceu um protocolo com a Tejal – Empreendimentos imobiliários, para a elaboração do Plano de Pormenor do Cais. Foi este documento que esteve em consulta pública até 19 de fevereiro de 2018. O futuro próximo do Ginjal dependerá da sua implementação. O escasso enquadramento histórico produzido no âmbito deste Plano é em nossa opinião uma fragilidade a apontar. Por outro lado, não adota uma linha condutora que mantenha as memórias espaciais do existente. Antes pelo contrário, o modelo urbano proposto visa a demolição quase integral, desenhando duas linhas de edifícios novos, sendo a primeira linha a contar do rio uma espécie de recriação do antigo que dará a ilusão de uma porção de cidade reabilitada, através da manutenção de algumas fachadas. |


Notícias da Gandaia MARÇO 2018 | OPINIÃO

Adotando uma metodologia de trabalho que proporcionou um sistema de acompanhamento e participação pública alargada a todos os interessados, seja através de organizações de carácter social, económico e cultural, seja pelo acompanhamento que teve por parte de entidades públicas, o processo tentou encontrar as melhores soluções para o território e foi concluído em 19/3/2008 e aprovado em reunião de Câmara.

foi-se abatendo nessas paragens. Um incompreensível imobilismo foi tomando conta desse lugar. Esquecidos, os seus velhos edifícios degradaramse completamente. Durante um tempo demasiadamente longo, a decadência e a ruína apoderaram-se desse espaço.

|João Couvaneiro (PS)

REGENERAR E REVITALIZAR O GINJAL O Plano de Pormenor é uma ferramenta de desenho urbano que permite projetar o futuro de uma determinada parcela do território. Os objetivos são definidos pela Câmara Municipal, mas cabe à Assembleia Municipal aprová-los, antecedendo a sua publicação em Diário da República, para depois entrar em vigor. Toda a situação da faixa urbana ribeirinha do Ginjal é singular. Encaixada entre a arriba e o Tejo, com acessos apenas a partir do Largo de Cacilhas (a nascente) e do Jardim do Rio e escadaria da Boca do Vento (a poente), tem sido muito limitada a relação entre esta frente ribeirinha e o resto da cidade. Num passado já remoto, os edifícios que se debruçam sobre o Tejo foram testemunhas de uma intensa vitalidade económica. As privilegiadas margens urbanizadas da zona do Ginjal fervilhavam de vida. Porém, nas últimas décadas, um pesado abandono e uma triste ruína

Elaborado o Plano de Pormenor procedeu-se à recolha de opiniões de todos interessados, em fase de consulta pública, que agora se conclui. Consideradas as diversas propostas, nesta fase final dos trabalhos será estabilizado o desenho da frente urbana ribeirinha que, explorando com imaginação o potencial da área, devolverá o rio à cidade. O Plano de Pormenor prevê a reconstrução e alargamento do cais a uma cota mais elevada, mais resiliente a cheias e à subida do nível do mar; a regeneração do cais e a criação de um arruamento paralelo; a reconfiguração do espaço público que será tratado para garantir novas possibilidades de fruição e de acesso; a renovação da utilização do espaço, onde a habitação conviverá com novas atividades compatíveis com o lugar e com a economia do nosso tempo, com turismo e atividades de lazer. Aprovado que seja o Plano de Pormenor, seguir-se-ão os projetos de execução e outras matérias que continuarão a merecer atenção pública e o debate que se deseja de uma cidade ativa e participada. No quadro das suas atribuições, o executivo camarário está empenhado em contribuir para tornar célere a regeneração e revitalização do Ginjal. Acreditamos que por essa via será possível recuperar a dignidade desse magnifico território, captar investimento, criar postos de trabalho, gerar riqueza e devolver o rio à cidade.

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|Maria Amélia Pardal (CDU)

REFERÊNCIA NA HISTÓRIA DE ALMADA O Cais do Ginjal constituiu-se como referência na história de Almada e da região, nomeadamente pelo seu desempenho ao nível das atividades económicas e pelo seu papel de abastecimento a Lisboa. A dimensão, centralidade, posicionamento e a sua história foram considerados relevantes para constituir um processo integrado de revitalização de uma área mais abrangente que incluía o casco urbano mais antigo de Cacilhas a Almada. Neste contexto, foi fundamental a iniciativa da CMA de adquirir a Quinta do Almaraz. Em 1999 a CMA submeteu parte deste território – Almaraz, Cais do Ginjal e Castelo de Almada – a um concurso internacional promovido pela federação EUROPAN (organização que se dedica à promoção de oportunidades de intercâmbio para jovens arquitetos na Europa e de reflexão sobre os temas da cidade e do habitat). Na sequência dos resultados deste concurso a CMA iniciou a elaboração do Estudo de Enquadramento Estratégico do Almaraz/ Ginjal, com o objetivo de constituir um instrumento técnico com as bases de orientação necessárias à elaboração de Instrumentos de Gestão Territorial a desenvolver para a área em causa.

A 29 de Julho de 2009, foi assinado um Protocolo, entre o Município de Almada e Tejal – empreendimentos imobiliários Lda., empresa proprietária da quase totalidade do Cais do Ginjal, que visava o desenvolvimento urbanístico sustentável, preservando e valorizando as características sociais e os valores naturais do território, ficando decidida a elaboração do Plano de Pormenor do Cais do Ginjal. Iniciado em Setembro de 2009, teve como base o incremento de usos motores de desenvolvimento local associado às Indústrias criativas, aprovado no Estudo de Enquadramento Estratégico Almaraz/Ginjal, que permitem a revitalização e a reutilização do património industrial edificado adaptando-se às características/escala do lugar e usos associados, como a habitação, hotelaria, comércio/serviços, apartamentos turísticos/residências e espaço público. Um longo processo de elaboração, complexo pelos valores naturais em presença, pela história e pelo património, pelo acompanhamento das entidades da administração central, pela participação pública, por uma legislação complexa em matéria de ordenamento do território, por ter atravessado uma forte crise financeira, o Plano de Pormenor do Cais do Ginjal foi submetido, por decisão da Câmara Municipal de Almada, a discussão pública entre Agosto de 2017 e dia 19 de Fevereiro de 2018. Agora começa o tempo de intervir e transformar o Cais do Ginjal, devolvendo-o aos almadenses e a quem nos visita, proporcionando uma das mais belas vistas de Almada sobre Lisboa. É o tempo de dar vida a um novo território requalificado e recriado, onde se possa viver, trabalhar, fruir…

UMA NOVA FACE PARA A NOSSA TERRA

|Nuno Matias (PSD) Almada tem tudo para ter tudo. Tem uma frente atlântica de excelência, uma localização privilegiada, uma relação próxima da Capital que devia permitir que a sinergia potenciasse a atração de investimento, a captação de novas atividades empresariais, um clima de confiança que torne a nossa terra a melhor para investir, para visitar, para trabalhar ou morar.

O concelho de Almada tem este potencial todo, mas ao fim de 41 anos do mesmo poder local democrático, muitas destas potencialidades transformaram-se em oportunidades perdidas. É por isso que o resultado das últimas eleições autárquicas deve ser entendido como um tempo em que entramos todos numa fase nova da nossa vida coletiva e onde a proximidade com as pessoas, o respeito pela sua vivência e a defesa da sua qualidade de vida deve estar no radar de atenção dos atuais responsáveis autárquicos, mas ao mesmo tempo, deve motivar-nos para, juntos, rasgarmos o medo, abrirmos o desejo de arriscar na transformação de um território que pode passar a ser um verdadeiro motor de desenvolvimento regional e nacional.

Um exemplo paradigmático é o estado da nossa frente ribeirinha, que liga Cacilhas à Trafaria, onde muitos locais únicos – Ginjal, Olho de Boi, Arealva, Porto Brandão, Trafaria – foram desfiando memórias ao mesmo tempo que se desfaziam as suas condições estruturais e de usufruto pela população. Ao fim de 41 anos, a ligação ao rio não está revitalizada e o nosso código genético que nos devia enraizar na vivência de uma margem que devia ser a melhor que abraça o Tejo ainda não se concretizou.

como uma ameaça. No Ginjal, com o fim do período de consulta pública sobre o Plano de Pormenor para a sua revitalização, entramos numa fase em que os investidores poderão avançar mais rapidamente assim encontrem na nossa Câmara Municipal uma indutora de vontades e que saberá gerir os tempos de decisão com a noção que o interesse público e a criação de valor não estão disponíveis para esperar mais do que o estritamente necessário e de forma a que não se perca a oportunidade.

No entanto, há novos sinais de que os investidores estão a olhar para Almada com mais interesse, na razão direta que percebem que podem, agora, encontrar uma Autarquia que olha para o investimento como uma oportunidade e não mais

Essa é a confiança que hoje renovo na capacidade de Almada mostrar que vai construir um futuro muito melhor. A maioria que hoje governa a Autarquia tem procurado criar um clima de confiança, energia e motivação que envolvam todos os

empreendedores que desejem acrescentar valor que depois permita reinvestir nas pessoas. No Ginjal, esperamos começar a ver nascer algo de novo nos próximos 24 meses. No concelho, queremos desde já construir um Futuro assente no Trabalho, na Ambição e no espírito de Conquista, que será mais forte, porque vai ser feito muito perto das pessoas, com proximidade com todos, e dando a cara por aquilo que pode dar uma nova face à nossa Terra e mais qualidade de vida às nossas gentes. Espero que possam juntar-se a nós numa viagem desafiante que é não deixar que o Futuro continue adiado. Por mim, quero convidar todos a abraçá-lo porque, juntos, vamos dar tudo por Almada!


10 MÚSICA | MARÇO 2018 Notícias da Gandaia

UM OLHAR DA MARGEM SUL

João Lima, João Dacosta e Carlos Ribeiro são os Remexido. E uma festa em palco. A prova? É esperar, ver e ouvir o concerto marcado para a noite de 5 de Maio no Auditório da Gandaia, na Costa da Caparica. Um dia João Lima (que fora guitarrista dos Oquestrada e compositor) encontra-se com João Dacosta (músico, actor e compositor) e os dois começaram por criar um universo cinematográfico e teatral capaz de ganhar forma em obra inspirada no conceito de viagem. Depois chegou a percussão, isto é, o multi-instrumentista Carlos Ribeiro. E com ele encontrou-se a base da banda, pronta para incluir no seu universo musical a nostalgia, a sedução e a dança. Reúnem, no disco que editaram, e mais ainda nos seus espectáculos, estilos tão diferentes como o fado, o tango ou o rock. Mas não esquecem o som do Mediterrâneo. É disso tudo que fala João Lima nesta entrevista em exclusivo ao Notícias da Gandaia.

Antes dos Remexido já tinhas uma carreira. Podes falar um pouco sobre esse teu passado musical? Todos nós em Remexido tínhamos e ainda temos outros projectos em várias áreas. No meu caso, tenho percorrido palcos um pouco por todo o lado em Portugal e lá fora com Oquestrada, mas também com outros artistas. Nesse aspecto, os músicos são uns privilegiados uma vez que no nosso trabalho temos também o prazer de um convívio muito intenso, principalmente na estrada. Com Remexido, prefiro considerar-nos como uma família, uma vez que os laços que nos unem são fortes e as nossas diferenças fortalecem a singularidade do projecto. Todos os músicos de Remexido possuem uma bagagem de outras experiências extremamente enriquecedoras, que a meu ver, constituem a essência criativa e o âmago da nossa ligação. Somos plurais, mas temos a noção de que

a diversidade das nossas origens é algo que nos torna singulares.

Em que altura, e porquê, pensaste que era altura de mudar? Não considero Remexido como uma mudança ou ruptura. Prefiro sentir que este trio procura trazer uma certa frescura ao panorama musical português. Acredito que

estamos a abrir janelas e a “arejar a casa”, pensamos por nós próprios, não temos ilusões quanto a estilos ou formas de nos projectarmos para o nosso público, temos a convicção de que a nossa música se destina a ele, dandonos um prazer imenso partilhar o nosso mundo sem limites. Há muito tempo que tinha o desafio de cantar e, em simultâneo, tocar


Notícias da Gandaia MARÇO 2018 | MÚSICA 11 um paralelo com o estaleiro da Lisnave, com o qual eu cresci e vivi a sua imponente presença. A ele chegavam os maiores navios, dele saíam de cara lavada depois de imenso trabalho. Iam para todo o mundo, vinham de todo o lado. Isso é Remexido. Quanto a sermos gente diferente, preferimos considerar-nos “Gente”, que como todos tem de pagar portagem, suportar filas intermináveis para ir trabalhar, que tem barco apenas até uma certa hora, mas que possui um extraordinário brio e orgulho em residir nesta margem por vezes ignorada. A perspectiva que temos de Lisboa vista do Ginjal é fantástica e bastante inspiradora. Preferimos ver deste lado.

guitarra portuguesa, encontrar motivos para expressar a voz de um povo que não gosta apenas de fado, que se encontra noutras “esquinas” para além dos festivais e da televisão. Portugal mudou muito mais do que por vezes pensamos e tal facto não tem sido devidamente acompanhado pelas pessoas que decidem a indústria musical, pois as fórmulas anteriores parecem esgotadas. Respondendo directamente à questão, é altura de mudar mentalidades, de seguir a nossa própria cabeça e evitar fórmulas fáceis.

Como é que essa mudança se traduziu em termos estéticos e criativos? O facto de sermos um trio obrigou-nos a ser absolutamente cri-

teriosos nas nossas escolhas estéticas, nas composições, na produção e até na linguagem que utilizamos. Por vezes temos dificuldade em enquadrarmo-nos num único estilo. Somos quase obrigados a inventar palavras para explicar o que criamos. Isso representa um grande desafio. As pessoas procuram numa música algo que seja claro e definido, que as preencha, que não seja um mistério ou um enigma. O nosso trabalho consiste em estabelecer uma ligação absolutamente evidente com elas, sem truques nem fintas. Por outro lado, sinto-me muito mais maduro. Os 40 bateram e ainda bem.

Qual foi a contribuição dos músicos que, digamos, recrutaste para a banda na definição desta identidade musical? Ou os Remexido são um projecto pessoal?

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Toda a família Remexido conta já com bastante experiência e um percurso mais que suficiente para se afirmar como tal. Esta partilha de experiências, de vidas, de visões, tem-nos ensinado que para se conceber um determinado universo musical, é preciso criar laços sólidos e ir à luta. Isso é fundamental. Assumimos ser uma caldeirada nada “gourmet”, como tanto está na moda agora. Preferimos o petisco, desejamos a simplicidade que nos caracteriza enquanto povo.

dade o que as pessoas procuram é uma espécie de “banda sonora” para as suas vidas. Por vezes, apetece-nos expressar inquietude, outras vezes amor, paixão, outras vezes a procura livre do argumento. O nosso repertório tem todos esses ingredientes e fazemos questão de saboreá-lo antes de partilhar com o público.

Ouvir a música que fazem é a prova de que é possível. Mas, na prática, como é que se consegue harmonizar estilos tão diferentes numa canção?

A fotografia dos Remexido no Cais do Ginjal, que é uma espécie de retrato oficial da banda, parece implicar simbolicamente a afirmação de uma ligação a Cacilhas, a Almada, à Margem Sul. Como quem diz: nós somos deste lado, não somos de Lisboa, somos gente diferente. Há alguma coisa de verdade nisto, ou estou só a especular sem razão?

Música é música. É isso mesmo. Os géneros, estilos, linguagem, líricas podem variar, mas na ver-

A nossa identidade é almadense, fazemos questão de o afirmar. No entanto, posso estabelecer

O vosso álbum já foi gravado e editado há algum tempo, rodado em concertos… A tua relação com as canções ainda é a mesma? Nos espectáculos sentes necessidade de mudar alguma coisa que gostarias, na altura da gravação, de ter feito de outra maneira? O nosso álbum tem alguma coisa de filigrana. Foi minuciosamente concebido, sem qualquer tipo de apoio institucional. O nosso produtor, Jorge Lopes Fernandes (Soundscapes), foi delineando etapas e fechando os vários processos e, em simultâneo, fomos rodando os temas ao vivo. O “feedback” do público foi bastante enriquecedor para fechar as canções em Estúdio. Agira, se gostaríamos de mudar algo… Sempre!

Já agora, como imaginas o próximo álbum? Creio que será um álbum mais estilizado. Possivelmente abarcará sonoridades um pouco diferentes, mas enfim… o melhor é ir já trabalhando para que tal aconteça. | Rui Monteiro

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12 ATUAL | MARÇO 2018 Notícias da Gandaia

AS TEMPESTADES E A COSTA Mapa do índice de perigosidade ao galgamento costeiro e consequente inundação na área de estudo, Costa da Caparica, (com o gráfico com as áreas (ha) e percentagens de cada classe de perigosidade)

cias são bem visíveis com a recente destruição de paredões e habitações na Cova do Vapor e 2º Torrão, erosão acentuada nas dunas da praia de São João e galgamentos na frente urbana da Costa da Caparica.

O autor é especialista em gestão do risco em áreas costeiras e ordenamento de base ecológica. Professor da FCT NOVA – Universidade Nova de Lisboa e investigador do MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (polo NOVA).

O período de tempestades que estamos a viver coloca em evidência as fragilidades da zona costeira, nomeadamente da planície costeira entre a Cova do Vapor e a Fonte da Telha, uma costa baixa e arenosa muito vulnerável aos fenómenos associados às alterações climáticas, nomeadamente às consequências das tempestades e temporais, aos fenómenos de erosão, à subida do nível médio do mar que tem originado um recuo acentuado da linha de costa com avanço do mar que coloca em risco a cidade da Costa da Caparica. As consequên-

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Todos os Invernos rigorosos ocorre-nos sempre a mesma questão, o que fazer? Num quadro em que as alterações climáticas são um dado adquirido com as consequências que vivemos hoje, colocam-se assim várias soluções: a) Manter e reforçar o processo de artificialização, ou seja manter e reforçar os paredões e os esporões. Continuar a alimentação de praias e dunas com areias por forma a manter ou ganhar território ao mar. b) Solução de base ecológica, restauro de ecossistemas e recuo das áreas de maior risco: reforçar a alimentação artificial de praias e dunas com areias, retirar progressivamente os paredões e os pontões, retirar a ocupação das áreas de maior risco e criar áreas de amortecimento ao galgamento e inundação de origem marinha. c) Recuo, retirada programada e relocalização: desocupação imediata das áreas de maior risco, programar a retirada da restante área com relocalização. Deixar o mar avançar. De imediato, devido às consequências diretas e indiretas das alterações climáticas e a falta de sedimentos no sistema litoral, o que tem sido feito é responder à necessidade de restabelecer o equilíbrio sedimentar com alimentações artificias de praias e restauro de sistemas dunares, por forma a reduzir a vulnerabilidade aos galgamentos e inundações costeiras. Esta solução de base ecológica só resultará se, conjuntamente, forem tomadas medidas de ordenamento do território que

respeitem as vulnerabilidades ambientais e os riscos de galgamento e inundação. A estratégia de intervenção, as ações e investimentos na Costa da Caparica tem sido realizadas reactivamente e não de forma planeada. Nos últimos anos têm sido feitas alimentações artificias de praias e reparação e redimensionamento dos esporões ou reparações do paredão, mas sempre após um Inverno rigoroso. Relembra-se que a construção de defesas costeiras “pedadas”, ou seja, paredões e esporões (pontões) deverão ser medidas de emergência e temporárias, pois a sua manutenção é dispendiosa e tem consequências negativas para o sistema litoral, para a qualidade da paisagem e equilíbrio sedimentar. Constata-se que não tem existido uma política e uma cultura de prevenção e redução de risco. Exemplo da dificuldade em gerir um território tão complexo é o estado em que se encontram a Fonte da Telha e os parques de campismo desde São João até à praia da Saúde. Uma situação que exemplifica esta dificuldade é a recente instalação de várias casas pré-fabricadas no CCL – Clube de Campismo de Lisboa na primeira linha de praias, em pleno Domínio Público Hídrico e em área de risco e galgamento. Outra situação está relacionada com a necessidade de implementar sistemas cada vez mais eficientes e robustos para a redução do risco. Recentemente o LNEC – Laboratório Nacional de Engenharia Civil, a Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa (Almada) e a Uni-

versidade dos Açores (Angra do Heroísmo), desenvolveram um protótipo de aviso e alerta a galgamentos destinados às entidades competentes e à população. Um sistema de aviso e alerta testado na Costa da Caparica e Porto da Vitória, eficiente e de baixo custo com recurso a um simulador que combina vários métodos de previsão e uma plataforma internet, adaptada a vários dispositivos fixos e móveis que emite e envia avisos e alertas. O HIDRALERTA poderá ser um poderoso aliado para a proteção civil, mas até agora não passou de um protótipo financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia porque nenhuma entidade mostrou interesse em o implementar. Por fim, a questão da governância para uma gestão territorial sustentável e eficiente. A gestão do litoral numa área complexa e de elevada vulnerabilidade como a Costa da Caparica, passa pela implementação de um sistema de gestão integrada onde as entidades locais tem cada vez mais responsabilidade na cogestão de um território tradicionalmente gerido pelo estado, e onde os cidadãos são chamados a participar ativamente. Caso não sejam tomadas medidas de gestão sustentável e ordenamento de base ecológica de acordo com a vulnerabilidade e risco existentes iremos ter uma cidade e um território natural, cada vez mais em risco, com investimentos cada vez mais avultados para manter a linha de costa atual. | José Carlos Fer-

nandes

Fonte: Ferreira, José C. (2016) - Ordenamento Ambiental de Frentes Urbanas Litorais em Áreas Baixas de Elevado Risco e Vulnerabilidade ao Galgamento Costeiro. As Infraestruturas Verdes como Estratégia de Resiliência para as Comunidades Costeiras. Dissertação para obtenção do Grau de Doutor em Ambiente e Sustentabilidade, Especialidade de Engenharia do Ambiente e Sustentabilidade. Universidade Nova de Lisboa, Caparica, 613p.

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Notícias da Gandaia MARÇO 2018 | CRÓNICA 13

|Luísa Costa Gomes

NÓS E A NOSSA ÉPOCA

Esta crónica divide-se em duas partes. Ponho a primeira mais adiante e começo já pela segunda. Nunca fui pessoa paciente. Ou antes: vinha no carro a ouvir o Presidente da República a falar sobre qualquer coisa e disse de mim para mim (ultimamente isto tem andado fraco de diálogos) que uma pessoa que consegue falar sobre o que quer que seja, a quem quer que seja, onde quer que seja, nasceu para um cargo de responsabilidade. E coisas acertadas, ponderadas, justas, como se deve. Nanja eu. Tartamudeio, tergiverso, hesito, divirjo, duvido, acabo por me remeter ao silêncio. Falar em frases completas à la Guterres não é para todas as bocas. Mas também, verdade seja dita, não sou o Presidente da República. Aqueles de nós que atravessaram várias épocas não têm alternativa senão passar à fase seguinte. Mas quantos de nós são contemporâneos de si próprios? Todos unos e consistentes nas emoções e nas ideias? Desde o nosso cérebro mais antigo, que nos dá intuições e alertas de subtis alterações na atmosfera, das coisas que não chegam à consciência e a determinam, ao smartphone que nos liga ao mundo e nos torna inteligentes à força, contemos todas as idades do mundo. Quantas das nossas ideias são medievais? Quantas das nossas células são novas em folha, desta manhã mesmo? A ponta da unha, a ponta da franja? Essa co-presença

de aspectos e facetas dá complexidade aos complexos, surpresas aos simples. O materialismo dialéctico chamava-lhe “contradição”, à falta de melhor análise. Mas na sua maioria, arriscaria dizer, não se trata de contradições, mas de sobreposições, diversões, contiguidades, sobressaltos atómicos, dispersões, disparidades, coabitação de etapas diversas de evolução. Numa palavra, caprichos. A própria ideia de que o Homem evolui, que é infinitamente melhorável, ideia-eixo do positivismo novecentista, é ela própria arcaica. Vem tudo isto a propósito, já o adivinhavam, do dramaturgo siciliano Luigi Pirandello, prémio Nobel da Literatura em 1934 e autor de Seis Personagens à Procura de Autor ou O Defunto Mathias Pascal, entre muitas outras obras de referência do modernismo europeu. Pirandello foi, na sua escrita, pioneiro e experimentalista, causando muito escândalo e desconforto e, na sua vida pública, fascista assumido e de papel passado, humilíssimo servo de Mussolini, como se declarou num telegrama que lhe fez chegar e acabou parangona de jornais. A oportunidade do telegrama foi também expressiva, pois o deputado socialista Matteotti tinha acabado de ser raptado e assassinado por uma milícia fascista a mando do Duce e o fascismo precisava de apoios mais que nunca. Estavam em 1924. Convocado por este enigma do fascismo de um autor de grande comédia como Luigi Pirandello, um amigo teve a feliz exclamação: “Há assim pessoas que ficam encalhadas numas esquinas do tempo!”. Oh, quem dera que fosse assim tão simples! Não são bem esquinas, são curvas, são as convocações mais extremas da emoção política, que se enraízam sabe-se lá onde. Em Pirandello, imagino que o seu fascismo venha, entre muitas outras coisas, de um pai garibaldiano e viciado no Ressurgimento, na fantasia da Itália grande, forte e una, dirigida por um chefe carismático, em direcção a um futuro que se pareça o mais possível com um passado imaginário. O que me parece impossível é que Pirandello, o dramaturgo, não tenha sido seduzido pela encenação do Duce, personagem histriónica, ubuesca, modesto orador, animal de palco, excelente no berro e na paranóia, optimista brutal, quase fantoche de cachaporra. E uma dessas esquinas do seu eu ali encalhou. Pode ter sido, assim, o espírito de comédia a perdê-lo, ou foram todos os outros seus espíritos que não conseguiram salvá-lo. |

M. Graça S. Pinto

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14 CRÓNICA | MARÇO 2018 Notícias da Gandaia

NATUREZA

RENOVADA…

|António José Zuzarte O cardo-marítimo (Erygium maritimum L.) com as suas flores azul-vivo, minúsculas mas reunidas em capítulos, as folhas de cor verde-água ou cinzentoazulado, cobertas pelos seus espinhos aguçados, lá continuam a povoar as brancas dunas. Os insectos procuram nas suas flores o pólen para se alimentarem. Há Vida nestas areias. Mesmo com a presença do Homem, lado a lado, elas estão cuidadas neste início do Verão. Passa-se isto na praia das Palmeiras – em São João, na Costa da Caparica. Os lírios brancos das dunas estão agora a florir nos seus habitats que, a pouco e pouco, se vão consolidando. No ano passado era um lírio solitário. Espalhou as suas sementes. Novas plantas nasceram e o solitário já tem novos filhos a crescer e a florir à sua volta. É bom saber olhar, comparar, viver. Escutar a terra. Os silêncios das plantas. Vê-las crescer. Não vivemos só para queimar a pele ao Sol, ganhar bronzeado para o Inverno, beber e acompanhar conversas mundanas, mas procuramos algo mais… Um prazer mais simples

que nos dê motivos, razões fortes, para continuarmos vivendo. O Sol brilha durante o dia e a maresia da noite ajuda e mantém vivo este ecossistema, complexo, frágil, mas tão necessário na consolidação das dunas, da Vida, da Natureza.

EXPLICAÇÕES 1.º CICLO AO ENSINO SUPERIOR PREPARAÇÃO PARA EXAMES NACIONAIS

À sombra desta vegetação rasteira, junto ao caule das plantas, vive uma fauna bastante interessante de pequenos seres. No mundo maravilhoso e vastíssimo dos insectos, pode-se encontrar o grande Scarites e os pequenos Erodius, estes com o seu corpo arredondado, não param de correr pelas areias das praias e das dunas, buscando alimento. É a espécie mais visível nestas paragens num conjunto de muitas centenas delas.

Tel.: 215 842 813 • 912 874 084 Rua Manuel Parada n.º11 A – 2800-700 ALMADA – PRAGAL almada@davinci.edu.pt www.ginasiosdavinci.com/almada

Numa tarde de praia, em 25 de Abril de 2011, a pequena Leonor, já próxima dos seus três anos, apareceu junto de mim com a mãozinha fechada, cheia de areia, e disse-me: “Avô, tenho aqui um bicho para

si”. Quando abriu a mão vi espantado um coleóptero negro, com cerca de um centímetro, que nunca tinha encontrado. Vim a saber posteriormente que se tratava de um Zabrus (Euryzabrus) pinguis Dejean, 1831,que se encontra na costa portuguesa, sendo este lugar da Costa da Caparica, o local mais a Sul, onde até hoje foi encontrado. Ela e o irmão Afonso, quando

encontram algum “bicho” chamam sempre o avô António para ver… Como já fazia, há 25 anos, a Inês, a minha primeira neta. É bom que aprendam, logo em pequenos, que além dos Homens, existem muitos outros seres vivos – plantas e animais – que devem ser protegidos. Mas, para melhor proteger, é necessário, primeiro que tudo, conhecer e amar a Natureza.

RESTAURANTE

O Verdadeiro Rodízio

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PIZZAS EM FORNO DE LENHA TODA A VARIEDADE DE CARNES BUFFET (QUENTES E FRIOS) RODÍZIO (CARNES E PIZZAS)

Rua das Quintinhas, Quinta do Américo

Charneca de Caparica

Restaurante Livorno

geral.livorno@hotmail.com

21 296 31 21 - 96 460 43 69 Horário: 08:00 – 20:00 Sábado: 08:00 às 13:00

Avenida da República 6 Costa de Caparica geral@santamafalda.pt www.santamafalda.pt 212 901785 / 932 901 785


Notícias da Gandaia MARÇO 2018 | AGENDA 15

ABRIL

MAIO

> SÁBADO 21, 16H00

> SÁBADO 5, 21H30

TEATRO

MÚSICA

Ponto Largo e Miudinho

Remexido

Ponto Largo e Miudinho aproxima-se da estrutura do café teatro e está a ser mais um desafio para os actores do Proscenium, encenado por Jorge Falé, com interpretação de Alda Neto, Anabela de Macedo, Diogo Reis, Eugénia Luís, Helena Reis, Julieta Martins, Lucinda Esteves, Olga Sousa e Silvana Palma, desenho de luz e som de João Reis.

> DOMINGO 20, 15H00

> TERÇA 24, 21H30

inóquio

TEATRO INFANTIL

Pinóquio

CENTRO COMERCIAL O PESCADOR

Abril Cantado Espetáculo intimista que pretende abordar alguns dos temas que mais marcaram a revolução de Abril. Com uma formação de três músicos, Nuno Ramos na voz e viola, Nuno Tavares no Piano e Diogo Santana na Percussão, Abril Cantado será um espetáculo que nos levará a viajar pelos temas de Abril. A Entrada é Gratuita!

CINECLUBE: Todas as quintas feiras, 21H00

REUNIÃO ABERTA: Primeira terça feira de cada mês, 21H30

RES PÚBLICA: Tertúlia sócio política, terceira terça feira de cada mês, 21H30

LAL – Livros, Autores e Leitores: Última quarta feira de cada mês, 21H30 Consultar programação em

www.gandaia.pt

CENTRO COMERCIAL

“O PESCADOR”

COSTA DA CAPARICA

> SÁBADO 26, 21H30 TEATRO

20 MAIO 15H

BILHETES VALOR ÚNICO 6Φ | A PARTIR DOS 2 ANOS (INCLUSIVE) | GARANTA O SEU LUGAR! RESERVAS WWW.TICKETLINE.PT | 932 965 484 | 916122132 | reservas.protagonizamagia@gmail.com

À Beira Do… acessível e divertida. Em cada um desses momentos estão reveladas as pessoas da vida de todos nós: a mãe, a tia, as irmãs, os amores, os amigos. Tudo com vários momentos de reflexão sobre o mundo em que vivemos e as relações íntimas que travamos em nosso caminho.

A atriz Christiane de Macedo apresenta, dia 26 de Maio, o espectáculo À Beira Do..., no Auditório Costa da Caparica.

À Beira Do... é um monólogo (nada monótono) inspirado no universo de Clarice Lispector. A peça é realizada numa parceria entre o Centro InterculturaCidade, a Companhia Íliada Homero e a Associação Gandaia. Este espetáculo organiza-se como um desfile com 14 cenas, onde a atriz revela estados diferentes de humor, e formas variadas de contar estórias de sua memória, de forma

Um espetáculo para quebrar a monotonia! Teatro internacional no Auditório Costa da Caparica na Praça da Liberdade 17-A, Centro Comercial O Pescador, mesmo em frente do mercado.

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16 EDITORIAL | MARÇO 2018 Notícias da Gandaia


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