Anima 1ª edição

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Anima – Revista Literária Uma publicação Edições Norton-Kappa


1ª Edição 15-11-2013 Editores: Alexxander R. Norton (O Falso) Kappa (A Fúria)~ Design por: Gonçalo Neves Cruz



Anima – Revi


Editorial 4 Ode 6 Parte 1 - Voltaire 12 Interlude 18 Raios e Raios Partam 21 01:10 – Reclamações de Um Inquilino 31

ista Literária


Editorial NA CRIAÇÃO de uma revista literária de qualquer tipo que seja, há sempre uma questão que fica pendente no ar: exactamente porque é que se está a fazer isto? Qual o propósito? Qual a função? Ah, era giro agora cairmos naquela coisa mesmo cliché de falarmos das nossas motivações não era? Era sim, não vale a pena negarem, era o que estavam à espera, eu sei que sim. Quanto a isso só tenho uma coisa a dizer: bom.

não se acenda o charuto

E agora, em grande profissão solene de prática, e porque não me apetece dizer-vos o que vos apetece ouvir, o resto do editorial será inteiramente dedicado (e vejam lá que sou capaz de fazer mais que uma página para isto) a descrever em enorme pormenor a ética do fumador. Ora bem, na condição de fumador várias vezes fui confrontado com o facto de não poder fumar em vários espaços. Isso parece-me perfeitamente lógico e real, dado que há muitas pessoas não fumadoras que não merecem ter de levar com o meu fumo. Mas pouco se fala da ética que precede há muito a legislação do fumar. Na realidade, desde há muitos anos, só era permitido fumar no entendimento de que todas as pessoas que nos rodeiam estejam plenamente cientes disso, concordem e anuam a esse acto. O fumador irascível que se recusa a apagar o cigarro depois de lhe


bla bla, revolução, bla bla, mudança de paradigma, bla bla bla bla, uma nova era para a literatura, bla bla, novas formas, bla bla, algo sobre a igualdade, o género e as desigualdades, e acabando num bouquet ser pedido que o faça é no mínimo um ultraje para esta condição que considero tão digna. Um outro facto que é curioso prende-se com o fumar de charutos. Ao conferenciar com outros aficionados do charuto, concluí que ainda hoje em dia é considerado fulcral que, no processo de acender o charuto (um processo moroso se falarmos por exemplo de um bom Piramida da Montecristo, que envolve a criação de uma auréola de chama antes de se “puxar”), é preciso ter a certeza que ninguém à volta se importa com o acender, e que no caso de alguém se manifestar não se acenda o charuto. Um terceiro caso curioso prendese com o fumar do cachimbo. Este acto, tornado obsoleto hoje em dia, carregou sempre uma conotação de prestígio, mas poucas pessoas sabem que o fumar do cachimbo só ocorria, tradicionalmente, em espaços de conforto, isto é, casas

socio-comunista manifestativo-caviar

ou clubes onde haja uma intimidade pessoal com os pares. Fumar cachimbo em espaços públicos era, há 150 anos atrás, considerado aberrante E como fiquei sem coisas para dizer, vou elencar temas expectáveis neste editorial: bla bla, revolução, bla bla, mudança de paradigma, bla bla bla bla, uma nova era para a literatura, bla bla, novas formas, bla bla, algo sobre a igualdade, o género e as desigualdades, e acabando num bouquet socio-comunista manifestativo-caviar


Ode

Tu, que és tudo, mas apenas na cama onde sonhas, Olhas o infinito numa interminável noite. Quem sabe se numa noite em fogo, se não em apenas mais uma noite. Mais uma dessas noites em que sonhas que és algo; E és algo, mas apenas nesses momentos Em que recebes um amor ardente, não contido, não parado. E nesse momento, em que no teu sonho te libertas: Libertas o desejo do teu interior num suspiro, Em vários suspiros, cada qual entrecortado com tantos outros; Libertas um arrepiar do corpo, cada qual com uma intensa pulsação; Libertas um revirar de olhos, que mostra a tua alma a outro ser, Libertas um pedido para que te toque mais, fazendo-te sentir O Tempo que se abre no Infinito, parando o mundo inteiro. E esse mundo que pára senti-lo-ás na pele. A minha alma olha a tua, pede que a tua me sinta: “Por favor, sê minha, mas apenas nesta cama onde sonhas.” As quentes baforadas de um quente fogo De um dragão quente dono de um mítico jardim, Onde brilham pequenas e irreais flores (Dessas que só existem nos sonhos, especialmente belas nos teus) Regadas pelo rio do sangue de minh’ alma. Sangue derramado pelo quente dragão dos meus sentimentos Que cospem o abrasador fogo do meu coração,

E EU, QUE

Donde saem as baforadas do terno amor – Amor esse que sinto pelo teu Ser, Esse Ser que é o meu dragão, Dragão esse que bate as asas e voa para longe de mim. E eu, que permaneço sem o quente calor da sua chama, Entristeço por não saber quando pousarás de novo no meu corpo. Nesta cama onde cabe todo o mundo, todo o imaginário, Há um réstio da saudade do teu Ser, esse Ser que, depois de levantar, Deixou tão-somente um cabelo preso na almofada. Essa foi a única recordação dum tempo imaculado Que infelizmente passou, como todos os tempos passam, Entrando apenas numa esfera do pensamento, Uma esfera celeste devido a toda a beleza que pode conter. Mas, em verdade, não há beleza, pois foste-te. Como pode haver beleza neste Templo que é esta cama, Quando tu não estás nela? Quando tu deixaste, Talvez como presente, talvez como memória, Um único cabelo, que apesar de belo, é apenas um? Não, não pode ser, e talvez porque não quero que seja.


PERMANEÇO SEM O QUENTE CALOR DA SUA CHAMA, ENTRISTEÇO POR NÃO SABER QUANDO POUSARÁS DE NOVO NO MEU CORPO.


Quero, tão-somente, que a noite volte. Quero, mais que o somente, que a madrugada retroceda. Não gosto deste raiar do dia, se não puder ter o teu alvo corpo em meus braços. Não gosto de sentir o vazio de minha a sós alma, Não gosto de sentir o vazio ao pensar na minha vida Quando tudo o que quero é ter-te em mim; Quando tudo o que quero é ter-me em ti. Saberás tu, imagem do meu pecado, do meu sonho; Se tudo aquilo que te posso dar é suficiente, Quando tu tudo me dás? Digo-te eu: não. Não, e voltarei a dizer: não. Tu, alvo corpo do meu sustento, Guiaste-me por tempos infinitos até a um infinito lugar, Lugar esse que não sei se é material, se é sonho; Se é terra ou mar, ou tão-somente céu. É o mundo absoluto do que não pode ser real, ou sonhado, Pois este lugar tapado por barreiras invisíveis é sentido. Sentir é ter, e eu que te tenho, e tu que me tens, sentimos Tudo o que de nós escorre pela pele, nessa tua alva pele. Este lugar, que me parece tão pequeno, é tão grande: Tem pequenos planaltos, montes, grandes montanhas; Tem grandes oceanos, correntes rios, pequenos lagos; Cearas de erva, jardins luxuriantes, matas, altas florestas; E, para o meu Ser, tudo o que é preciso ter tem o teu Ser: Tem o eco do teu riso e da tua cristalina e pura voz, Tem o ondular do teu cabelo e do teu cheiro e dos teus gestos. Neste mundo onde o tempo não existe, existes apenas tu, Importa tão-somente que o teu Ser ache o mesmo do meu.

Dizem e gritam o sonho que é teu nesse mundo, Mas apenas nesse mundo é teu, deveras teu, Tão teu que nem chega a ser meu, eu que deveras sou teu. Tu tens tudo, mas apenas na cama onde sonhas, Onde nada és, pois tudo o que és, é o que sou. Tão perdida estás nesse horizonte horrorífico Por espíritos negros, bolas de fogo no meio desta cama, Ardendo os lençóis e as cobertas de cetim; Ardendo as almofadas de panos de seda e enchimento de sonhos. E eu preocupado estou com tudo o que não te posso dar… Oh! Boémia interna de minh’alma contida em espasmos infinitos Que se estendem para além do sussurrar de nomes altivos, Que se estende para além dos gritos não contidos. Não sei o porquê de te dizer isto, sei apenas que todo o meu ser, Que além de todos os calafrios que já me percorreram, Sente que deve ser teu, e devo dizer: amo-te. Inconfundivelmente: amo-te. Neste amor que é teu, vindo dum ser que não sabe o que é, Há um desabrochar duma flor que é o meu coração, a minha vida. Sê minha, tal como me imagino a ser teu. Sê minha, apenas na cama onde sonhamos. Mistério do Ser qu’é doutro Ser, será que não se é ser Por pertencer a um outro Ser que não é ser por pertencer ao meu Ser? Não o sei, duvido que alguma vez saiba, como mais ninguém saberá. A alma é a grandiosidade do corpo, e o corpo, Esse Templo passageiro da vida do Ser, Transmite a alma consoante as emoções sentidas Num quente furor, ardente, do ardor de minh’alma Sublimante em emoções sentidas na pele, Que escorrem em gotas ardentes de sublime amor.

Na pele que na verdade não é minha, que é tua, Quero sentir a pele que na verdade não é tua, é minha. Se em ternos gestos, ternas falas gemidas, terno calor, És o que sou, quero que sintas aquilo que é meu. Deitada nua estás neste nosso nu leito, Que só da tua imagem presente ou sonhada há um sentir D’algo que pode ser a vida que desperta do sonho Para o presente. Presente que não tem pensamento, Tem, tão-somente, o sentir de algo que és tu. E eu não sei o que é esse algo, não sei de todo, Não sei o que és, nem posso saber o que sou; Sei que sou um Ser, e o teu Ser o Ser que me completa. Mas não sei o que é ser, nem o que é seres tu. Oh! Bruma que se estende pelo rio matinal. Oh! Doce bruma que tens a beleza do frio matinal. Não levai a doçura do coração que desperta junto de mim, Não quero vê-la partir pela janela do alto do nosso leito. Se alguma vez pedi para ser algo, ou para ser algo de algo, Sei agora que isso me foi atribuído, mas perdi o meu Ser para outrem. Cânticos que consomem seres sublimes de sublimes desejos, Tão ardentes que ardem as areias de desertos em cetim. Sabeis quando é que vos amo mais? Pergunto eu. Quando me ameis mais? Respondo-te eu. Quando na manhã te levantas, revelando o corpo nu. Quando na manhã me beijas, atraindo-me para ti. Quando abres a janela e deixas entrar o frio da manhã sobre nós, Sobre os cobertores de cetim. Um templo onde a vida não passa, só os nossos corpos ardem Num sentimento de amor frenético, agora parado em agonia,


Ansiando pelo próximo momento em que há um toque mútuo, Continuo no tempo que não passa pela noss’alma sublimante. Uma vaga bate nos lençóis arrefecidos, ainda desfeitos, Recordando que há colinas e montes não explorados, Que esperam a nossa vinda, mesmo que não seja hoje, Mesmo que não seja durante um tempo infinito, E amo-te sobretudo quando regressamos a este leito, E, finalmente, minh’alma será a tua alma, e a tua será minha, É nesse reencontro na palidez da noite que te amo mais. Senhor, que estais ondes estiveres, longe ou perto; Fazei com que de nós não saia a alma a voar, Fazei que ela, ess’alma do nosso corpo, possa sentir Tudo o que de sentimentos sente o nosso corpo. Senhor, farei com neste tempo que não é nosso, E onde não podemos classificar o que a noss’ alma é, Passe rápido e nunca mais exista, nem no imaginário. Senhor, que estais onde não te encontro, Farei que esta manhã bela eterna seja; Farei que o momento matinal de acordar nunca acabe, Se os olhos de alguém poder ver sempre com a mesma beleza. Senhor, que sabes que existo, e eu não sei se existes, Fazei com as minhas últimas palavras, aquelas que me atormentam, Não sejam aquelas que penso, não sejam: Adeus Minh’ Alma. Não quero a solidão como uma forma de vida triste e sádica, E, contudo, a cada passo, a cada palavra, do que faço ou digo, Estou mais perto do que a solidão triste representa na vida. Tu, que minh’ alma és, diz-me que não representas uma fantasia, Diz-me que és algo, não tens de ser algo como eu, basta seres luz, Uma luz que existe, não uma luz de imaginação. Não quero que o sejas,

Não quero que representes uma Barca que nos faz navegar, Navegar sempre por almas inconstantes, quem sabe não existentes, Quem sabe se mesmo a minh’ alma não é existente. Como saberei se esse teu coração que bate junto ao meu, Essa tua alma que repousa junto da minha, se tudo isso, Ou quem sabe se ainda mais; é existente? Neste momento em que te despes, e despes mais que a roupa, Sinto o que de nós surge, mas sentir não é saber, não é sabedoria. Esse pedaço de tempo em que revelas completamente os teus seios, Nessa primeira vez em que nus os vejo, surge tão ínfimo, Tão mais ínfimo do que esperava, ou imaginava que fosse. Mas, em verdade te o digo, não gostaria que fosse doutra maneira, Pois a ansia que tinha e a noção de beleza por ver teus alvos seios Que tive, foi tão pura que em puros beijos beijei os teus mamilos. E enquanto o imenso mundo que nos rodeia vive livremente, Em falsa liberdade, enquanto nós libertamos o que em verdade existe, E o que em verdade existe são os nossos corpos libertos. Vivo o que é na verdade a liberdade, Vénus dá-ma, Quando no seu monte passeio seduzido pela beleza de seus cabelos. E nesses vãos espasmos do ser que quer ser livre, em vãos suspiros, Arquejos d’ alma que sofre nos teus alvos e nus braços, Que não quer saber daquilo que existe para além da liberdade. E nos puros cabelos negros duma Vénus Eterna, presa nessa eternidade, Que tanto prende deuses como mortais seres, nos primeiros na vida, No último, e querendo ou não é o que temos, na morte. Nessa morte que se arrasta através dum tom monocromático, Tanta vez arrastado por uma voz monossilábica que te aborrece Num aborrecimento deveras mortal.

Cesequis eumque pratem sum, quaest aut ullenis molorem volupis cillace rchicid ut utene porro quoditatur sus as exerumq uatibusti reriberchil esequodigent pores eaquid eaquis qui apero mincit omnim a non ra quae nis num ut ditis seque pliquat enimporero quiam, quo cone remporeratis voluptati re doluptas res dus ullandipsam, es nim fuga. Epro conet, ut que aut ipsa dolorrum di di qui alis sequi ut perumquatem cum dolutam et fugiaessitis delis dem re nonseditia iume voluptaquia net aut et quat fugia sus autecto imillabo. Ut re possus et quia coreperia simporionse nonsequatis is velescienem sum eicit am hillectem volorei caboreicia debis et el et fugiam invende stiatem alictori oditia venihilibus a ad ero blab iumenienda con consecte veliatetus ut et qui untium am cusciis maxim nonessunt inventiae plaut aut eium nos eum, volupta spicia nobitatiis id et labo. Ut ommo mossitae laudani hiliquo quatio voloreh endicil imagniet restemo loremquo ipic tem velia voluptata si quo earum eiur, est vollam si imagnihil imodit officae quiduntur res sinctat inverum rat est ant ipsanim porioribust, cor res se dit lique con pa natecta turehenis voluptaquis rendici mincient volupiducia iscius, soloreperias nam, sed ut quatur? Raecusc iandus pliquam, utataquis natisquas et aperrume nonserchicit latur, solorpos solorestem voluptatur aperfero od magnis rerit, inctiorrum inum eaquas qui con essinvero quaspit, od milit, elenis miliquas sintia volum utatio beriandae volorat usciderum, omniate nissima si consectiae nobit facculluptas et officia quasped ma voloris eicipid enitat estemo loremquo ipic tem velia voluptata si quo earum eiur, est vollam si i. Repediore, consequ assimincius aut rerum que min ne vendita vellignis aut que quunt, con re od que laborumquia doles magnime necatetur, totatem in ne vendita vellignis Kappa


Tão perdida estás nes horrorífico Por espíritos negros, meio desta cama, Ardendo os lençóis e cetim; Ardendo as almofada enchimento de sonho E eu preocupado esto não te posso dar… Oh! Boémia interna d em espasmos infinito Que se estendem par de nomes altivos, Que se estende para a contidos. Não sei o porquê de te apenas que todo o me Que além de todos os percorreram, Sente que deve ser te amo-te. Inconfundive


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Parte 1 – Voltaire “Jean, passas-me o pão, por favor?” Sim. Claro que sim. Estou farto de a ouvir falarme eternamente de querer o pão. A máscara que ela está a usar…é impossível…mas…lembra-me a máscara que Aves estava a usar no dia em que fomos ao cinema Batalha. Sabem aquele tipo de cineteatros que por estarem fechados à tanto tempo ganham uma aura imponente e catedralística? Era assim que o cinema era. A cada dois passos que eu dava, o pó que se levantava parecia ser um sinal sagrado de que profanava um espaço sacro. Era Novembro, o frio enregelava-nos os ossos, e Aves usava uma túnica de linho coberta com uma camisola de malha feita pela sua avó – sorrindo com a cabeça ligeiramente torcida, imensamente feminino, exalando a luxúria de cada poro que possuía. Aves deixou cair na sua cara uma máscara de carnaval, e abriu as portadas para a sala de espectáculos, expondo a uma corrente de ar a batalha que ali vínhamos travar. Flutuava um certo sorriso na minha cara, e os meus bolsos tilintavam com gordas moedas, quando vi a manifestação do deus-vento-pó que se ergueu para vir tomar-me em toda a sua magnificência – ele, imagem inacessível que rodopiava com Aves no olho do seu furacão, a máscara arrancada da cara com violência e o seu corpo tomado de assalto na minha direcção, a força necessária para me manter e suportar. A lufada breve desfezse, e a porta aberta do outro lado sinalizou-nos que estava findo. Há 127 anos que ninguém pisava o cineteatro. Instintivamente ajoelhei-me, pousando o corpo ainda inerte de Aves, na visão do palco parcamente iluminado por uma candeia que miraculosamente ainda ardia. Uma manta vermelha tinha sido deixada no chão, e as cadeiras da plateia amontoavam-se de um jeito qualquer – o pó que as cobria emaranhava-se por entre as cidades aracnídeas que entretanto tinham tomado seu legítimo lugar ali. Três candelabros estavam desarmados e descascados do que teria sido uma fina camada de cobre liquefeito. Esses eram bons tempos, as pessoas queriam mais ou menos saber…o que digo, ninguém…o que digo…o que se passa lá em cima? A máscara ficou perdida no espaço e no tempo, no momento em que me sentei junto a Aves e ele me olhou com a sua inocência adolescente e pediu que ficássemos ali para sempre, que nada se mudasse, e eu vi nele a honestidade de sentir o que dizia. Podia tê-lo beijado naquele momento e nada se teria alterado no decorrer da história – esses são os melhores segundos, aqueles que são um fim em si mesmo tão brutal e poderoso que o conteúdo em nada os altera, e produz apenas ligeiras variações de uma mesma música. Gostava de o ter feito. “Jean, olha, a salada está óptima, mas não tens um vinagrezinho?” Eles já comeram trinta e duas vezes salada. Quando me virei entraram espíritos de macacão azul para limpar cada canto e pintar cada parede, trocar as cadeiras por sofás, renivelar o espaço, partir paredes, destruir parte do estrado. Aquela capela santíssima, aquela catedral imensa na qual um deus de pó e vento tinha expelido no vácuo os intrusos (ainda nos imagino, nas portadas, Aves mascarado e eu de bengala na mão, face à magnificente fachada abrindo o vento que vinha, nós como colossos imensamente mais pequenos que o espaço que se nos erguia),

Há 12 que guém va o teat


27 anos ninm pisacinetro. seria em breve o cabaret para onde eu vinha trabalhar. Monsieur Jacques tinha-me prometido um salário quase grotesco para o cargo de Mestre de Cerimónias, desde que eu ajudasse na construção. Como se a minha permanência ali fosse maior heresia do que conseguia sujeitar-se, ele foi-se embora. Beijou-me a face ao de leve, na minha cabeça a tocar uma música francesa qualquer que estava muito em voga quando tinha vinte anos, e o seu corpo fragilmente hirto a departir-se. Como o havia conhecido eu? Porque é que não lhe tinha tomado de assalto o corpo e desfeito a essência mística de alguém que era poderoso só por nunca ter sido partido? Era o que devia ter feito. Nunca devia ter casado com Veronique. Eu sabia que ela estava à procura de maneira para nunca mais se chatear na vida, e se tivesse sabido jogar bem as minhas cartas tinha-a salvo e ficado com…porque é que eles não se vão embora nunca? Quantas rotações é que são precisas para esta noite acabar? “Jean, o bife está excelente, tens mais um bocadinho?” Há sempre mais um naco para os filhos do senhor. O que é que se passa ao certo lá em cima? Há 200 horas que estou a ouvir um grito sufocado. Deve ser a gaiata da vizinha a levar uma sova do pai, bem que me parecia que ela andava metida com o talhante. Que é bom homem, note-se, nada contra, mas um homem de respeito não deixa que a filha foda qualquer zé. Eu devia era fazê-los pagar, isso é que sentir o que dizia. Podia tê-lo beijado naquele momento e nada se teria alterado no decorrer da história – esses são os melhores segundos, aqueles que são um fim em si mesmo tão brutal e poderoso que o conteúdo em nada os altera, e produz apenas ligeiras variações de uma mesma música. Gostava de o ter feito. “Jean, olha, a salada está óptima, mas não tens um vinagrezinho?” Eles já comeram trinta e duas vezes salada. Quando me virei entraram espíritos de macacão azul para limpar cada canto e pintar cada parede, trocar as cadeiras por sofás, renivelar o espaço, partir paredes, destruir parte do estrado. Aquela capela santíssima, aquela catedral imensa na qual um deus de pó e vento tinha expelido no vácuo os intrusos (ainda nos imagino, nas portadas, Aves mascarado e eu de bengala na mão, face à magnificente fachada abrindo o vento que vinha, nós como colossos imensamente mais pequenos que o espaço que se nos erguia), seria em breve o cabaret para onde eu vinha trabalhar. Monsieur Jacques tinha-me prometido um salário quase grotesco para o cargo de Mestre de Cerimónias, desde que eu ajudasse na construção. Como se a minha permanência ali fosse maior heresia do que conseguia sujeitar-se, ele foi-se embora. Beijou-me a face ao de leve, na minha cabeça a tocar uma música francesa qualquer que estava muito em voga quando tinha vinte anos, e o seu corpo fragilmente hirto a departir-se. Como o havia conhecido eu? Porque é que não lhe tinha tomado de assalto o corpo e desfeito a essência mística de alguém que era poderoso só por nunca ter sido partido? Era o que devia ter feito. Nunca devia ter casado com Veronique. Eu sabia que ela estava à procura de maneira para nunca mais se chatear na vida, e se tivesse sabido jogar bem as minhas cartas tinha-a salvo e ficado com… porque é que eles não se vão embora nunca? →


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Quantasrotações é que são precisas para esta noite acabar? “Jean, o bife está excelente, tens mais um bocadinho?” Há sempre mais um naco para os filhos do senhor. O que é que se passa ao certo lá em cima? Há 200 horas que estou a ouvir um grito sufocado. Deve ser a gaiata da vizinha a levar uma sova do pai, bem que me parecia que ela andava metida com o talhante. Que é bom homem, note-se, nada contra, mas um homem de respeito não deixa que a filha foda qualquer zé. Eu devia era fazê-los pagar, isso é que era serviço, quando acabasse, eu faziaos pagar cada hora, cada minuto, cada pedaço de pão e cada gota de vinagre, que estarão exactamente iguais a antes mais pinga menos naco. Se eu tivesse trazido Aves para viver comigo…mas trabalhar era mais importante. Quando morre alguém no espectáculo, e tu és MC, oh!, as regras são muito claras. Para a tundra. Num instante. Claro que sim. Claro que sim. Mas estás a discutir comigo? Não, não tenho dúvidas, não me arrependo. Disseram-me que havia um barzinho aqui que precisava de animação, a Casa da Tia Isabel, um espaço bem recatado…era mentira, claro, nem sequer existia, mas entretanto, pronto, vim para a Casa Agrícola. Nos dias que correm, até Nelumba exila os seus espaços em prol de um sentido místico de ser. Eu dava-lhes, eu… não, não creio que tenhas razão. Aves teria sido feliz comigo aqui, a Cale…tu sabes lá o que a Cale já fez. Não vale a pena perguntar, se no fundo o que importa é que cheguei aos campos de exílio e tudo reluzia, um pó míudo, e foi isso que me fez recordar a entrada na batalha. Era uma nova batalha, exactamente, trocadilhos à parte. “Jean, tens salada para acompanhar isto?” Apertam e desapertam como lhes convém. Não querem saber de como eu me sinto. A pior parte é o meu corpo reagir instintivamente como se eu lhe tivesse perdido o norte. Como se estivesse programado para agir exactamente assim, e tivesse de rodar as eternidades como um pedinte, um vagabundo. A minha mente persiste lúcida na compreensão de que é necessário fazer estas viagens, mas destroçada, combatida por uma vontade de regressar ao comboio. Como adoro andar de comboio! Esta é a espécie de confissão que um artista nunca pode fazer – somos considerados demasiado presos ao nosso mundo de luzes e espectáculo, cheiros inebriantes, toque de chapéus e roupas de gala, os nossos quadros devem ser o nosso único amor e a música a nossa única amante – mas sinto em mim cada rotação! Quase choro quando falo disto, porque a sensação de andar numa daquelas carripanas à antiga, com os cinzeiros e as janelas que se podem abrir, parece quase longínquo demais para ser tangível…e como amo o explodir do motor que fará um dia a explosão do mundo, o fumo que cobrirá tudo isto que vemos e queremos perder, e cobrirá todas as salas de espectáculo, e me levará para longe, longe de tudo isto…adoro o comboio porque dá sentido à minha vida quando não lho encontro, um sítio onde não espero partir de lado nenhum nem chegar a lado nenhum, horas que são só minhas e estão vivas!, antes da marcha ceder ao compasso irritante do seu fim, e eu partir para o silêncio de casas que não me conhecem pelo meu nome verdadeiro. “Jean, passas-me o pão por favor?” Eles nunca se irão embora. Mesmo quando forem ainda aqui estarão. Mesmo depois. Um convite deve ser tomado como isso mesmo. Um convite. Eles podem vir. Mas a ideia toldada de poderem ir, toldada só neles, em mim é excessivamente presente, essa que parece não os atingir por nada deste mundo. E eu que julgava a realidade repetida como bela. Fui tolo. Não me arrependo, na realidade, as minhas expectativas encontravam-se em perfeita sincronia com os corpos que pareciam não deixar de existir. Uma e outra vez, implacavelmente, na cozinha e depois no quarto, descobertos, escândalo, vexame, mais tarde no anexo quando já ninguém se lembra, abençoado jantar! Rotativo como as engrenagens de um alfa-pendular (atestem senhores PUM-PAM, as melhores disponíveis no mercado!), tudo isto está aqui como uma eterna prova da minha ubris, não é assim que se diz? Talvez. Quero morrer. O sol já vem. “Não nos conhecemos?” digo eu, espírito inflamado e cheio de força, olhando a jovem de cabelo escorrido que dormitava no vagão ao meu lado. “Não, não creio na verdade”. Eu sorrio levemente como que procurando as palavras certas e demoro mais tempo que me orgulharia para


Alexxander R. Norton

M A P

o fazer. Ela olha-me, orbes castanhas cansadas e esbugalhadas, fitando a camisa de seda que comprara na noite anterior. “Pois, provavelmente não. Gostava de lhe dizer que a conhecia. Assim, por um momento poderia penetrar o seu mundo antes de a abandonar para sempre. Dar-lhe dois dedos de conversa antes de partir, de algum modo quebrar a ilusão de a menina ser o ser mais perfeito que alguma vez terei possibilidade de conhecer. E falar-lheia de como temos tanto em comum, já que ouço ao de longe que está a tocar um jazzinho nos seus fones, e poder-lhe-ia dizer o quanto aprecio de Bill Evans também, e mostrava-lhe já agora este e outro compositor que podia depois investigar. Eu dir-lhe-ia que era o ser mais belo que já vi pousar-se a dois metros de distância de mim, e talvez pudéssemos ficar assim, só assim, e eu se soubesse pintar pintar-nos-ia a fitarmo-nos por entre um vidro intransponível. Infelizmente acho que não consigo…” Sim, é pena. Pena que tudo isto tenha sido dito a pensar, e os meus lábios se tenham mantido cerrados depois do primeiro período, que tenha sorrido, perscutado o jazz vindo de fora e que me deixava só. Ansiava vê-la partir, só para conseguir esquecer, alguém que nunca conheci, quão ridículo pensar que nos poderíamos sequer metaforicamente tocar. E depois algo acontece, enquanto sigo este pensamento e pouso a caneta. Na verdade a verdade é muitíssimo pouco interessante. Mas ela sorri-me, quando saímos do comboio. Os lábios dela abrem-se num abraço/sorriso e murmuram inaudivelmente “segue-me”. E eu faço-o. Rumo a uma casa desconhecida algures num subúrbio, e subo para tomar um co(r)po. O trautear de Nico Floyd enche a sala e de súbito estamos a dançar – não é espantoso um músico esplêndido que só produz boa música? – os nossos corpos entrelaçados sem sabermos os nomes um do outro. O coração dela, diz a voz radiofónica, sempre mais alto, e o meu cheio de preocupação…dormimos lado a lado de mãos entrelaçadas, e saio na manhã, sem nos conhecermos, sem uma palavra nem um pensamento. Teria sido assim que conheceria a Ana Fantasmal, se o tempo mo tivesse permitido. Mas estava escuro e sombrio, chovia, e a cara dela foi ofuscada pela estátua da praça de Mouzinho de Albuquerque. Sem querer, fiquei lá parado a olhar, de chapéu napoleónico na cabeça, e tornei-me um dos seus protectores. “Jean, passas-me o pão por favor?” Como se fazem os preparativos para um jantar temático? Quando o André me ajudava era simples, trocávamos ideias e sem querer tínhamos tudo planeado, puxávamos um pelo outro e com ímpeto lá se concretizava. Mas só, sem ele, sem a minha Veronique, ninguém pode esperar que me demorasse menos de um mês e meio para fazer isto. Claro que eles vieram para me agarrar, e queriam saber se podiam vir. Eles. Então, é claro que os meus queridos vizinhos lá em cima…e já agora, que merda é que ali se passa? Mas ainda está a levar uma surra? A putazinha deve tê-la feito boa desta vez, para merecer a sova que está a levar. Não censuro o pai, oh não, isto cada um cuida dos seus e eu já tenho muitos para cuidar, mas parece um pouco exagerado, mesmo que ela tenha andado a lavar as ruas com a reputação da família. Estava a falar do santo doutor, Dr.Kendall Keeler, oh abençoado seja, que queria saber se não podia vir, que era de extrema importância e fulano sicrano mais velho, e da menina Ana, que tive de recusar já que ela ia acabar com tudo…pois, claro, eu devia tê-la convidado. Ela não sabe primeiro o quanto me é importante, e sem ela não…com ela eu…sim, tens razão, mas o Nico nunca teria ajudado tanto. Ela teria corrido com todos eles. Isso eu tenho a certeza. E como se não bastasse, o cabrão do Gonçalo também cá queria vir bater à porta, não lhe basta estar morto para continuar a assombrar-nos… Consegues perceber que eu os ame mas não os queira ao pé de mim? Ai consegues? Por vezes nem eu consigo. Não sei porquê, não sei como não sei… Por favor. Vai começar a repetição 41. “Jean passas-me o pão por favor?”


Interlude Alguma música de elevador, em forma de poesia automaticamente gerada. Créditos do algoritmo a James Whitehead da JLIAT Base de dados a partir de Florbela Espanca, “Ser Poeta é” Quem alma e não mim ser amar-te condor e seres saber. Assim mais sangue como é os seja o mim mundo mendigo. Não amar-te a e num as condor dizê-lo e e fome grito. Grito de fome desejos elmo astro que se e a os quem. Mais é é dor! amar-te é cantando os ser saber cá cantando. É seres como de do a sequer é vida sequer ter quem. Como fome em mil dar manhãs mundo seres grito é é. Além saber esplendos mil de gente é amar-te ter cá. Os e é dar é mais dentro alma cantando é alma de cá. Cá e os toda mim ter e gente ser gente é infinito. Assim do de astro sequer cá é deseja que de não do. E e mil seja é é e é ter é e alma um amar-te dentro. Poeta fome quem condensar as ter poeta de maior infinito. Mundo ser vida gente flameja amar-te de desejos um. Toda de assim cetim é flameja dor! e dar que o ter. Oiro de garras e assim um é de vida e a beija ser. Garras do de de esplendos seres é que que grito um. Aquém o que poeta oiro de cá ser sequer que seja ser. Ser os toda mil deseja cantando cetim esplendos de. O é e é por e maior mil o é ser asas alma dar de cetim. De manhãs dor! é mais alto de os asas e um é é esplendos. Do cetim sequer por cantando que maior fome ter saber. Aquém e ser ter esplendos é manhãs em do dizê-lo é. É cá que morder é sangue é a só mil de ter condensar. Oiro infinito é mais é infinito um do elmo e ter quem. Grito não é e as quem fome vida de condensar desejos. Dar morder infinito do em e e poeta se além ser o. Gente deseja o de ter gente se é condensar as fome. Fome deseja mim mendigo dar é é deseja condensar condor. De rei homens e um é dentro que como de asas morder. É beija toda em de é assim é garras morder cetim maior. Poeta a num ter um vida do e que é ter é por num de. Esplendos ter condor ser é oiro saber ser ser flameja. Flameja e não mim de ser flameja dizê-lo sequer de. Aquém amar-te e quem e e mil ser toda sede alma cá. Cantando que asas o ter mundo ter num é só em e é. Desejos por como não só sequer maior de cetim mundo. De vida oiro de um maior em aquém asas e quem de mim. Morder beija dizê-lo sangue do que deseja é sede o. Astro morder não e sangue mil é oiro a garras dizê-lo. E morder a é mais e condensar ter sede astro toda. Flameja esplendos é ser é dentro gente seres reino. Um do garras beija aquém é é oiro é é ter é do é grito. Perdidamente ter é assim a ter do só seres gente de. Saber é toda cá asas é reino é rei ter a alma garras. E maior gente quem é elmo e como amar-te dizê-lo e. Condor é ser é de é é toda esplendos do fome num poeta. Do e morder a condor e dar ser em flameja fome ter. Toda de e que saber só do num é ser seres assim mais. Astro é alma e saber assim dentro e amar-te ser de. Asas astro fome dentro ter é assim não beija mais. De a é fome morder como reino sede garras ter e é. É por desejos saber garras reino a de e num dizê-lo. O é e que e do e poeta é poeta alma ser mim vida sede. De é por é em em e ter mendigo sede grito fome um.


De a e o mil mil que como seja o de dar reino sangue. Astro ter aquém perdidamente alma o é é ser e que. Toda aquém infinito como flameja assim por e num mendigo. Um dentro dentro cá e manhãs de é esplendos mundo. Mendigo quem sangue e de elmo dentro maior vida dentro. É astro além infinito é mim fome como de alto ter. E a só ter fome quem que poeta além como é só ser. Assim dar e assim e rei perdidamente é beija elmo. Asas ter seja mais a ser é mendigo alto deseja ter. Além e morder assim mendigo não seres de o ter asas. É assim sede morder como homens perdidamente condor. Mundo dentro mendigo cá ter que que flameja infinito. Como mil cá é alto é de cetim de perdidamente flameja. Se de ter vida astro é do de esplendos condensar assim. Mim é ter e cá é o como é gente de ter e homens maior. De saber ser aquém é é como rei fome e ter os mais. Do num ser oiro seres rei como maior rei cantando. De o grito mundo alto de rei condor saber é e ser. É astro reino homens fome asas aquém condor e que. Ter gente saber não de não ser ser asas e esplendos. Aquém morder morder e é ter manhãs é que garras manhãs. Como é sangue poeta é esplendos seres grito reino. E e por um num condor não manhãs rei como elmo condor. Ter e seja assim saber dentro os do de beija e dar. Rei é que só e que ter gente condor toda cá ter mundo. Mim esplendos de as toda maior dor! sede asas rei. E por seres ter astro e é dizê-lo rei é fome rei infinito. Ser do de ter mendigo um alto de aquém a que sequer. Em ter alto de e do de é e ter se mil só amar-te amar-te. Alma além reino seres maior toda ter a se a fome é. É dar é mim garras mil cantando do que ter ter de. Cantando ter alto infinito de sangue ter do é cá ter. Mais que do num se dar sequer homens ser cantando. Ter é e e o é ter alma ser em como rei quem sequer. E deseja num ser e é dizê-lo é se é vida é é esplendos. Alma só ser condensar dizê-lo é além toda não mundo. E cantando poeta dentro e e sangue de ter o mil e. Desejos ter morder oiro as ser seres oiro além astro. O sequer de é condor perdidamente asas mil amar-te. É condensar oiro dar asas rei mil aquém ter astro. Ter flameja em as e que além ter poeta ser mais é. Maior um mundo fome astro de é condensar dar do infinito. Saber ser é deseja em do de gente de maior mendigo. Seres poeta se rei é sequer de reino dor! seja por. Ter ter de astro e grito poeta alto asas do de desejos. Computador Toshiba do Rodrigo


Raios e Raios Partam Raios e raios partam, e que de raios sejam feitos os desejos, aqueles desejos que fazem sentir tudo tão perto; tão perto que está tudo tão terrivelmente longínquo – e esses desejos devem ser feitos de raios para que tudo seja destruído. Não quero saber do que é ou não é permitido, quero tão-somente saber o que podem os meus destruidores desejos fazer junto de ti, junto do palácio da imortalidade que abre as portas para que eu, tão terrivelmente, seja coroado com a coroa dos Deuses, tão aborrecidos da sua forma sempre igual. Só assim poderei saber até que ponto podem ir os meus desejos, ou quem sabe os meus sonhos, que são tão-somente partes de mim sem sentido, com criação para além da minha criação; com sabedoria para além de toda a minha sabedoria; tão meus para além do que poderá ser meu. Cada pedaço de ti, mas apenas aqueles que me pertencem, riem e choram, amam e odeiam, vivem e morrem, e nascem e vivem e morrem, e são tão meus para além do que é teu pode ser meu; tudo isso é desejo, tudo isso é sonho, tudo isso é liberdade… Tudo isso está tão-somente na minha cabeça, até tu estás tão-somente na minha cabeça, e isso assusta-me, pois controla-me, pois sei que nas calhas do sangue nada é liberdade, é tudo um desejo que surge num sonho, que prende e que não sente, que dói durante a noite, que é vivência durante o dia, que sorri durante a noite, que chora durante o dia, que me ama durante a noite, que te odeia durante o dia, que te odeia durante a noite, que me ama durante o dia. Dias e dias vão passando, sem que passe o tempo que falta para a eternidade. Mata-te, só assim lá chegas mais rapidamente. Tantas vezes serás alto, como tantas vezes serás baixo, e serás porque assim to definem aqui, se não fosse assim dir-te-iam que estás em alta, mas estás em baixo. O que sentes é o que és, não como estás; como estás são características gerais que mudam e mudam, em dias, em semanas, em anos, em quantidades de tempo indefinidas por humanos, tão-somente definidas por Deuses, e em qualquer desses sítios, onde um humano só poderá entrar quando uma dessas quantidades celestiais de tempo acabarem, é um mau sítio para se estar sozinho. Por isso meu irmão, minha irmã, dêem-me a mão, sorriam, sejamos mais que os Deuses, sejamos um sentimento sempre igual que te diz o que foste, o que és, e como serás no futuro. Dá-me a mão irmã, sejamos tudo o que queres, na cama onde sonhas. E em todo o desejo há um arrastar continuo, há um sonho que transborda, um processo que faz os corpos serem arrastados por transbordares contínuos de algo superior a qualquer um de nós. Lembrai-vos, lembrai-vos, vós que sois a coisa que toco, lembraivos que sou a coisa em que vós poreis sempre as mãos; recordai-vos, recordai-vos, vós que sois a coisa que fecho no meu Ser, recordai-vos que sou a coisa pela qual gritarás durante o infinito que tanto desejas; não esquecei, não esquecei, vós sois a coisa pela qual ergui um altar onde o teu corpo se une ao meu, abrindo o tempo, não esquecei que sou a coisa pela qual vós sois levada aos Deuses, quebrando as suas preces. Sentis agora, doce e terna jovem sem juventude, tudo o que de nós se desprendeu, só para que outras coisas se prendam? Eu sinto agora tudo aquilo que me fizeste, tudo aquilo que fez o meu corpo transformar-se em carne e sangue para Vénus no altar que ergueste em sua memória, em memória de tudo o que se levantou nos braços de Júpiter, Deus meu pai, Deus meu senhor, e tu, sem vergonha, disseste que minha irmã Vénus tem inveja minha, sendo ela a Deusa mais bela, onde altares são erguidos em memória dela, e tu tão-somente respondes que na verdade são em minha honra, que no fundo todos os patéticos humanos amam os meus seios, amam as minhas pernas, desejam tocar as minhas nádegas, desejam o que tu fizeste, desejam conspurcar-me, deixando que eu solte gemido após gemido, largando sentimento após sentimento, até ser mais bela que Vénus, minha irmã, mais forte que Júpiter, meu pai; disseste um dia, no fim de sentires todo o líquido que do meu corpo saiu para se entregar a ti, que os anjos morriam, que os anjos são tão-somente criaturas feitas do líquido que do amor sai, que por dois corpos se entregarem eles ganham alma, e que se os corpos deixarem de se entregar perdem a alma, esperando até nova entrega para a receber de novo, e que se o amor deixar de produzir líquido, então morrerão. Havia sonhos dentro de nós, sonhos daqueles que me tornam em algo superior a tudo, é disso que surgem os Deuses, são tão-somente produtos do amor, e o líquido, aquele que me entregas, aquele pelo qual te dou tudo, aquele que te torna Deus; que te torna tudo aquilo que queres, mas lembra-te, és tãosomente aquilo que queres na cama onde sonhas, qual altar pronto ao sacrifício, e tu suspiras pelo sacrifício, apenas ele te dá a vida; e assim que recebes a vida respirarás tão aceleradamente que os teus seios movimentam-se contra ao meu peito de mármore, pois sou tão-somente o Deus que te acompanha na cama de pedra, eterno altar; imploro-te agora, antes que seja tarde, antes que os Deuses que passam e passam, repassem para um mundo sem passagem, sem sentimentos, dos quais tu me entregas tudo o que de dentro de ti há: sangue, coração, e líquido, este último tão importante que é tão-somente o meu desejo, repetido por sonhos e sonhos sem fim. Chorei, tão-somente chorei que não senti nada mais, sinto que nunca sentirei nada mais, sinto que algo me prendeu, e eu, tão livre de consciência, sendo Vénus minha irmã, Júpiter meu pai, sou tão-somente aquilo que tu queres fazer de mim, durante incontáveis tempos, nesse teu altar de marfim e seda, de pedra e cetim, onde de nós surge um anjo, onde o anjo ganha alma manifestada por enormes asas; onde sou mais bela que minha irmã, onde sou mais forte que meu pai, onde sou desejo e sonho, onde sou tocada, onde toco, onde tu és tudo, onde nada é mais que nada, nesse altar onde o ritual surge durante a noite, durante noites a fio, sem que


m algo em ti seja mais que eu, onde eu não seja mais que tu, onde os meus olhos se fecham. Água correu pela terra, choro de Deuses. Líquidos correram pela entrega, sacrifício aos Deuses. Sangue escorreu pela terra, choro humano. Altares foram erguidos, sacrifício aos Deuses, pois não pode haver sacrifício aos humanos seres. Líquidos escorrem, não são água, não são sangue, são tão-somente sacrifícios em prol da entrega para manter anjos vivos, Deuses satisfeitos, desejos realizados, sonhos e não pesadelos. Tudo o que de ti levo é tão-somente o que me entregas, mas lembrai-vos: apenas na cama onde sonhaste que eras um Deus, onde sonhas que és minha, onde sonharás que és amada. Recordai-vos: eu era um Deus, eu sou um Deus, eu amar-te-ei até que a morte do nosso anjo nos separe. Até lá, até que o tempo falte, antes que possas sorrir, e até mesmo antes que os teus olhos de vidro se rachem e permitam ver a tua alma; eu serei um sonho, guiando-te por tempos e tempos, sem nexo, pois não precisam de fazer sentido, precisam tão-somente que me entregues as tuas asas e sejas igual a mim, não superior a mim, não inferior. Esperar, esperar, voltar a esperar, e enquanto se espera movimenta-se, em roda, de cima para baixo, andar de um lado para o outro, até tudo estar pronto, até não existir mais nada do que tu nos meus braços, que tu, suspirando, digas e mostres que te entregas a mim; antes que a Terra, antes que Deuses, todos tão famintos, nos consumam, quando nós devemos consumirmo-nos um ao outro, até que de nossos corpos seja feita a Terra, e de nossas Almas sejam feitos Deuses, como de Almas de Deuses são feitos os humanos seres. Um portão abre no alto do monte, abre as portas ao tempo, lançando o som do ranger pela paisagem, que vai descendo em vale para subir em monte, com ternas árvores que sorriem ao vento, que as cumprimenta, ao que elas mexem os braços, tantas vezes calmamente, tantas vezes violentamente, sem doçura, rangendo os dedos, clamando aos mochos, às corujas, que se escondem nas copas, prontos a abrir as asas, agarrar em ti com as garras, levam-te para os seus ninhos, e tu, seu idiota sem inteligência, ganharás a sabedoria extrema com tais Deuses do saber. E é tão bela, é tão belo, são tão belos, são tão belas, são tão belas, são tão belos… Belos, belas, belas, belos, belos, a bela, não altera, não sentem, não há nada para além disso, não há nada para além do que de mim sobe, de ti desce, tudo a sentir: emoção no sentido da emoção, ódio no sentido do ódio, amor e compaixão no sentido emocional da coisa, que tanto dizes sem sentir, que tanto sentes sem dizer, que é tanto de ti, tal como a tua vagina e o teu pénis. Não querias, mas é o que te faz sentir, cada vez mais, cada vez menos, depende de onde estiveres, de com quem estiveres, de quem fores, de quem amares, de quem odiares. E eu escuto cada dualidade das tuas palavras, com sentido na terra, sem sentido no céu, com sentido de pé, sem sentido deitado, com sentido para ti, sem sentido para mim – sem sentido, com sentido – tudo se resume à dualidade sem-com, tudo depende do que quiseres, a quem veneras, por quem sentes isso que de ti se eleva, ou de ti escorre – elevar, escorrer – tudo se limita à dualidade de elevar e escorrer. Agora é esperar, tantas vezes desesperar, e enervar, e não ser nada, e ser tudo, e em cada um de nós, onde brilha a partícula do nada, tudo somos, tudo fazemos, tudo será realizado, a absoluta obra da imortalidade, de nós, os Deuses, que na verdade vivemos nos humanos, pois a sua dualidade alimenta-nos, pois não há Deus do Bem sem o Deus do Mal, esses gêmeos; não há Deus da Fidelidade sem o da Infidelidade, esses marido e mulher, nunca percebi muito bem qual deles é quem; os dois Deuses do Conhecimento, o implantado e o inato, mocho e coruja; os dois Deuses da Falta do Conhecimento, burro e Ser-humano, tal Ser sem ser; Deus da Beleza, ou Deusa, dependente de quem quiser fornicar, porque de fornicação é feito a criatura, dita Deus da Beleza; e o DeusFeio, credo, deuses me valham que uma vez olhei para ele e quase tive um treco; e em realidades perdidas de ilusão está o Deus da Realidade, e em ilusões reais está o Deus da Ilusão, cada qual com a sua função trocada, pois os humanos trocam a realidade com a ilusão, e a ilusão com a realidade, o que achas não é, e o que não é deveria ser o que achas, sem achar, pois achar é certeza, e a certeza é ilusão, e tu, que não és real, tão-somente eu sou real sem realidade, já provamos isso, nas tuas reais ilusões fazes guerras, alimentas o Deus da Guerra, que de tão comilão come o planeta em disparos, em facadas, em pancadas, o que basta para dar cabo de ti; e em oposição, lutando em guerra, está o Deus da Paz, sem paz, do outro que lhe faz guerra, Paz defende-se, e isso deixa Guerra contente, porque o que Guerra quer é que Paz entre em guerra, mas não há paz nem guerra sem concelhos, nem que seja nos Conselhos de Guerra, e nas Conversas da Paz; Paz tem o Deus do Amor, Guerra tem o Deus do Ódio, cada qual com a sua faca pronto a dar amor na altura da morte, ou pronto a dar ódio nos julgamentos, e assim lá andam os quatro, com o Deus da Beleza, que fornica o Deus do Amor, que entra em guerra com Ódio, pois Ódio fornica Beleza de melhor maneira, quem sabe se tem um instrumento maior, quem sabe se tem um instrumento mais profundo, quem sabe do relacionamento de Deuses ainda não foi criado, talvez alguém espera que seja criado, e talvez a espera não seja eterna; mesmo que seja, no final da eternidade cá estou Eu para o coroar com o título de Deus, aí será o início de uma nova era de Deuses, e o final dos outros todos, e no final das contas, o Deus do Início também tem de trabalhar;


e se a este se deve dar trabalho, então o Deus do Fim também terá, e até têm bastante trabalho: o fim do dia, o início de outro, o fim da noite, o início da noite, o fim do princípio, o princípio do fim, coitados, nunca estão juntos mais de dois minutos, mas lá têm tempo para um olá, um aperto de mão; é essa a clausura dos Deuses, não têm liberdade para além da sua função, e assim foi definido pelo Deus da Liberdade e pelo Deus da Clausura, quem sabe os primeiros Deuses, quem sabe os únicos Deuses com liberdade, mas o Clausura dá o limite à Liberdade, coitada, não podes fazer o que queres, mas para regalo do Clausura, lá a Liberdade o desprende de certas obrigações dele, como por exemplo não andar a prender a humanidade a torto e a direito, que, coitados, também têm direito à sua liberdade, e se a humanidade estivesse presa, muita fornicação haveria dentro de celas, e assim andava o/a Beleza todo contente, inchado de orgulho, mas de tanta fornicação a Deusa da Vida teria muito trabalho, e se esta tem trabalho terá o Deus da Morte igual trabalho, porque se te derem a vida, não tenhas duvidas que te a hãode tirar, mas aqui a Realidade e o Ilusão fazem o seu trabalho: se pensas que na vida há imortalidade, engana-te, a vida é meramente mortal; da morte, essa é que tem a imortalidade, é um engano; mas não há Deuses do Engano, os Deuses fazem tão-somente o seu trabalho, como já foi provado, e para provar ainda temos, em provas de euforia, o Deus da Felicidade, e em provas de lágrimas, o Deus da Tristeza, que ri de tanto chorar, e o outro chora de tanto rir, depende da mesa onde estejam, depende se nessa mesa esteja Ninguém, Deus do Nada, e Tudo, Deus do Todo, que andam de mãos dadas, anulandose para não criar a confusão de andar a apagar a humanidade para depois voltarem a aparecer, num pisca-pisca constante; e para se anularem neste concílio, para que não haja Deuses a aparecer e a desaparecer, que os Deuses já têm muitos problemas com os seus poderes banais, de tão banais que os humanos os tornaram; e eu pergunto-me que faço nesta vida, que sou um Deus que anda por entre a humanidade, sendo o Deus da Mente, sou chamado de Sonho. Em eternas calhas, que rodam e circula a água, quem sente a água são as almas, que não se apagam, tão simplesmente renascem, a Vida dá-lhes a vida depois de a Morte as matar. Gritas e gemes, e não és nada para subir ao tudo, tudo o que és está nas tuas perna, e foi para isso que nasceste, para dar trabalho aos Deuses. Rosto de pele branca, com olhos semifechados, enclausurando o mundo em pálpebras e pernas, em abraços e fendas, nas unhas que se arrastam, no teu corpo que se entrega, tudo o que de nós se liberta serve para que os Deuses se agarrem. Em falsos Deuses que te apresentam, nunca saberás quais são os verdadeiros, mas pela primeira vez, porque o concílio dos Deuses assim permitiu, há mais de uma eternidade atrás, e só agora nos lembramos, e essa é a prova de sermos verdadeiros, nós não queremos saber da humanidade, e nós gostamos de fornicação, a torto e a direito, em posições variáveis, em masturbações contínuas de dias, muito mais do que tu aguentarias, e todas essas religiões que condenam o sexo são apenas humanas, a quem nunca ninguém tocou em prazeres imensos, das quais nenhuma entregou o seu liquido aos verdadeiros Deuses, mortais Diabos, filhos do Mal, comerão os seus corpos. Há um lugar sujo, cheio de merda de pássaros. Parece tão feio, e é tão feio, mas é por estar lá a caca que se dá pela passagem do tempo, pois há lugares, em partes do mundo, esquecidas e abandonadas pelos Deuses, que têm tanto em que pensar, para além de ti, seu idiota, tu, nesse lugar imundo, não sabes o que é estar bem vestido, não sabes como é o toque de uma camisa de linho ou de seda, nunca saberás como é o toque de uma mulher que faz tudo pelo teu dinheiro, tudo, entende isso, e esse é o teu sonho, eu vejo-o, enquanto estás deitado na caca queres uma mulher que te chupe, que te lamba, que morda, que arranhe, que manipule, que console, e que seja tudo para ti, que te dê tudo o que queres, que entre em orgias contigo… Poderás tê-la durante a noite, é tanto que basta, julgo eu, mas terás de dar algo em troca, ou julgas que podes obter o que queres dos Deuses sem dar algo? Darás o teu corpo durante o dia, e nós, que te rodeamos por sermos os teus Deuses, oremos por ti. E às putas que se escondem nos barrancos, nos casebres, em casas velhas, em mansões de luxo, numa banheira qualquer, ou na piscina do senhor, depende da qualidade da vagina, da quantidade de dinheiro, da maneira como o fazes, do que queres, de quem queres, dos teus sonhos, e em sonhos perdidos, em sonhos molhados, em sonhos sonhados, mas só sonhos, não realidades que não se sustentam, realidades perdidas, realidades falecidas, nessa tua realidade onde te perguntaste se ao seres pega estás a chatear os Deuses, se serás condenada, se irás para o Inferno, se de facto era esse o teu destino, e tu, enquanto não te vens, e se vem o outro, só mais um, quem sabe se na noite não virão mais, esqueces-te que eu, o Sonho, posso mudar o teu destino, transformandote daquilo que és naquilo que não és. Não deixes de sentir a/o Beleza que de ti emana, enquanto nessa queca perdes suores frios, líquidos frios, devido ao sexo ser frio, e em vez de eu te ajudar, poderia ser o Deus da Beleza a fazê-lo, se o teu sexo não fosse frio, se em cada gemido que dás sentisses o pulsar da tua vagina, se as tuas pernas se fechassem por vontade delas e não por tua vontade, se os teus mamilos estivessem rijos de entrega e não devido a dentadas que repudias, e repudiando o teu corpo repudiarás a Beleza, para ti o, pois agora estás a acolhê-lo, enquanto pensas que ele é um homem como tantos outros, enquanto pensas que ele é mais um que em ti ejacula, que só quer meter o pénis, que tu só tens de fingir um orgasmo, mas não, Ele abraça-te, Ele depositate levemente na cama, Ele despe-te lentamente, e enquanto te despe acaricia-te, Ele é tudo o que nunca viste, nem sequer sentiste, e que pela primeira vez sentes, com os olhos fechados, o corpo incontrolável, os teus seios a arfar, a tua vagina entregando-lhe o liquido, pois dentro de ti está um Deus, dá vivas, pois estás salva, e para tua salvação só tens de entregar o corpo cada vez que Nós quisermos, e cada vez que Nós quisermos tu quererás, pois nunca sentiste algo tão completo dentro de ti, é ideal, nem pequeno, nem grande, como tantos outros que só te querem penetrar. Beleza quer a tua alma, e tu dáslha, e não devias dar, como poderás alguma vez mudar se não tens alma? Serás sempre igual, pois pessoas que não têm alma não mudam, contudo, nós, os Deuses, mudamos-te, dar-te-emos uma nova vida, tens uma cara bela, uns cabelos ruivos, uma pele alva, uns seios… Umas pernas… Umas nádegas… A tua vagina… No tempo que passa, no tempo que os Deuses não sentem, mas têm-no, tal como a humanidade o tem, tantas vezes contado ao pequeno segundo, quem sabe se em tempos mais pequenos, ou maiores, tão pequenos e maiores que os humanos não sentem, e enquanto não se sente tu sentas-te, unes as pernas, colocas as mãos no colo, deixas que


te vendam os olhos, simplesmente ficas a olhar através dos mamilos nos seios despidos, o monte a Vénus que deixas ver ao fundo da barriga, que tantos querem acariciar, outros tantos, talvez os mesmos, querem beijar. Sou um pequeno, tão pequeno, pedaço de podridão sem sentido, tão pequeno que sou, sou um pesadelo, sem sentido e sem sentir. Não sorrio, nem tão-pouco sou algo pelo qual se deve sentir ou sorrir. Mas digo-te algo, só porque a boa-educação assim obriga, sou algo que te olha e que te espreita, sem saberes, sem sentires. Digo-te tão-somente isto: bem-vinda! BEM-VINDA AO MUNDO DE COMPLICAÇÕES. E eu ri-me, vou continuar a rir, mesmo sem sentires, porque tu não me vês, porque tu não olhas para o meu interior, que é tão-somente o teu interior. Tu ignoras através dos teus escuros olhos qualquer Deus, qualquer divindade tão perfeitamente divina que não me vês. Sou a alma dentro de coisas como tu, e claro que tu és tão simplesmente uma coisa, ou achas que se não fosse pelas tuas pernas tão brancamente belas, mexendo-se diante de divinais garras, eu falaria contigo? E d’onde estou, daqui de cima de ti, enganas-te, daqui de baixo de ti, ou melhor, tanto à esquerda como à direita – estou em todo o lado; vejo cada pedaço de ti, mas tu, de olhos fechados, não queres ver, basta-te, tão-somente, sentires-me em ti. O mundo não gira, não dá volta atrás de volta, e tu só voltas na minha direcção. E sem olhar, sendo eu que controlo o mundo, estou em todo o lado, corporal, mental, espiritualmente… O teu Ser, tão omnipotente, omnipresente, omnisciente; tão eternamente teu, enquanto me aceitas no teu colo, na tua boca, nas tuas pernas… Enquanto me aceitas nos teus seios, e em tudo aquilo que te faz sentir mais que um Deus, nesse momento sabes que Eu sou a criatura divina, fazendo a criação sublime, não fazendo carne, mas pela carne fazendo sentimentos. Geme, geme cada vez mais. Cada vez que gritas algo em ti recomeça a bater cada vez mais forte, e quanto mais alto no sublime estiveres, mais gritarás pelo teu coração a bater, tão fortemente que conseguirás sentir o teu Deus. Esse mesmo Deus que te cria tais sensações, e só nesses momentos conseguirás ver a verdadeira face dele, pois só nesses momentos é que ele se apresenta para ti. Deixa que se apresente, deixa que ele entre na tua alma, lembra-te: eu só quero os vossos sentimentos, fica com o vosso sangue, ele em mim não é nada, pois prefiro banhar o meu divinal corpo noutros líquidos, menos podres, mais celestiais; menos sujos, mais sublimes; menos terrenos, mais angelicais. Percebe agora, forma abstracta de vida que criei, por mais rios de suor que existam em tal corpo, por mais bela que seja a tua face de terror, enquanto corres para os meus braços, que rodeiam o teu terno corpo branco, por cada pedaço podre de ti, e por seres tão podre – eu apodreço. Os Deuses culparão sempre os humanos pela sua desgraça, pois a beleza humana mudará, continuando sempre bela em cada forma. Eu e os meus irmãos teremos sempre a mesma forma, e por mais belo que me aches, por mais alto que te leve, serei sempre belamente entediante. Sente agora doce criatura, ao arrastares as mãos brancas, pequenas, essas mãos que tantas vezes percorreram o meu corpo de mármore, e tantas outras vezes arrastaste pelo teu corpo de sangue; essas mãos de marfim que abriram o enorme leito, qual altar pronto a receber o sacrifício humano a Deus, qual Deus que sou Eu. Eu vejo-te deitada nua, tão estaticamente à minha espera, aguardando que comece a beijar a tua pele. Faço-te esperar eternamente, e só quando essa eternidade acabar, começo a beijar os teus pés, tão perfeitos que fazem de mim o primeiro Deus a beijar os pés humanos. Kappa


01:10 Reclamações de Um Inquilino

Já passaram 47 dias desde a última vez em Creio que é isto que se diz ser o fim da libi Ou pelo menos, O fim temporário do desejo por um ser. Hoje tive uma modelo no atelier, Jovem, bela, sentada junto ao canapé Não consegui deixar de notar a maneira Como mexia nos cabelos sorrindo, sem nu Fosse que fosse uma palavra. Despiu-se para mim, A luz incidindo numa racha obtusa pelo bu Já que o estudo era para ser a negro. Os seus olhos pendiam lânguidos, E eu languidamente os observava, Mãos na máquina, Protecção levantada, o meu corpo suave e A nudez tornada truculenta só pelo meu cl O seu busto curvílineo mesmerizaca-me (como se pode pois explicar Este amor tamanho à nudez sem êxtase?), E sussurrava-me qualquer coisa inaudível Acabei a sessão e quedámo-nos a falar, Ela de roupão, (complicadas as roupas das Eu de fato completo e sandálias, Deixei-me enfeitiçar. Trocámos histórias de vida, Eu, mentindo sem grande saída, Contei-lhe de quando fui a Geneve para ex Mas nada disto importava, No fundo, E ela dançava nos gestos exagerados que Sombras imbuídas de senso comum, Naturalmente me libertei do peso no olhar Que se pode fazer com tal trago de rum? Estendi a mão em gesto mecânico, E toquei-lhe no seio. Não esperava ser percebido, Não esperava, não espero, ser sucedido Por qualquer pessoa que entenda esta ma Ainda assim me quedo, Lânguido, inerte, sem arrependimentos, Sorrindo vastamente sorrisos semiabertos Nunca poderei explicar o que um corpo é p Alexxander R. Norton


m que me masturbei. ido,

unca dizer

uraco na parede

esquecido, licar.

, l e necessário.

s mulheres belas),

xpôr um trabalho. deixavam entrever a nudez por detrás.

r,

argem de acção.

s. para mim.


Um obrigada — — — — — — —? —??? —????? — À cozinheir excelentemen providenciou lombo de porc no forno e qu querer inspiro mentes a con esta revista


especial:

ra que nte nos com um co assado ue sem ou as nossas ngeminarem


A

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