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A CONFRARIA DO REQUINTE E DO RÚSTICO

Fotos: Luara Baggi Foto: Bruno Cavalcanti

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INFLUENTE FORA DO PAÍS PELO HANDMADE REPLETO DE BRASILIDADE, ARTISTA PLÁSTICA TORNA-SE ARTESÃ E CELEBRA DUAS DÉCADAS DE FASHIONISMO E CONSCIÊNCIA AMBIENTAL POR MARINA ADORNO

Dizem que o amor move montanhas. Por mais poético que a possa ser, as coisas do coração resumem a trajetória de Ana Paula Ávila, artista plástica à frente da Confraria. Fundada em Belo Horizonte, em 1998, a marca veio parar no quadradinho em nome do sentimento nobre. “Eu me apaixonei por um brasiliense. Aí não tinha mais como ficar lá, né? Três anos mais tarde, estava aqui. Coloquei tudo no caminhão, peguei dois funcionários e vim”, relembra.

O mesmo sentimento que a trouxe até Brasília é o que impulsiona Ana Paula. Nascida em Almenara (MG), ela conta que aos nove anos fazia bolsas com papel e papelão. “Aos 12, eu já ganhava dinheiro pintando painéis pela cidade. Sinto que nasci artista”, diz. Poucos anos mais tarde, vieram as roupas e, aos 15, ela desenvolvia até mesmo sapatos.

À medida que ela crescia, ficava mais claro qual caminho queria seguir. Cursou Artes Plásticas na Fundação Mineira de Arte (FUMA), atualmente Escola de Design do Estado de Minas Gerais. A primeira experiência profissional foi dentro da loja e, posteriormente, na fábrica da Gipsy. Parece familiar? Não? Talvez você conheça pelo nome que veio alguns anos mais tarde: Grupo Arezzo.

Os primeiros passos rumo à independência vieram ao acaso. E foi o couro, a mais trabalhosa matéria-prima, a eleita por Ana Paula para trilhar seu sucesso. “Artesania em couro não é para quem quer. Tem que ter talento, e isso sempre me fascinou”, valoriza. “Não me considero estilista, muito menos empresária. Eu sou artesã”, define.

Foi em um quartinho na rua Savassi, em Belo Horizonte, que ela deu início à produção das bolsas Confraria. Foram cem peças. Hoje, orgulha-se ao dizer que tem 130 pontos de venda no Brasil e pelo menos nove pontos ativos no exterior sob gestão de clientes leais na Suíça, França, Ásia e Estados Unidos. A produção mensal gira em torno das 600 peças. “Tem bolsa que demora vinte dias para ficar pronta”, exemplifica.

Na fábrica instalada no Park Way, 21 funcionários se dividem entre os nove processos produtivos que separam os materiais brutos do refinado resultado final. Todos executados de maneira artesanal e sustentável pela equipe treinada pela artista com olhos de águia. O atual ponto de venda fica na charmosa loja na QI 5, comércio local no Lago Sul.

ARTESANIA PURA

Durante uma viagem por Roma, há cerca de 24 anos, Ana Paula se impressionou com o volume de acessórios criados com vime que avistava. De imediato, decidiu que buscaria material similar no Brasil. Assim surgiram as peças em junco – fibra vegetal originária da floresta amazônica.

A empresária defende que os parâmetros ambientais são uma das principais preocupações da marca em toda a sua cadeia produtiva. O couro animal, alvo de polêmicas, é retirado apenas de bois abatidos para consumo da carne pela indústria alimentícia. “Trabalho com o couro vachette. Ele tem tratamento vegetal e é livre de cromo (chrome free), por isso você enxerga algumas imperfeições do animal, como marcas de carrapatos. Isso legitima a qualidade do material e garante que ele não é sintético”, valoriza.

Já a linha exótica, que inclui pele de píton, pirarucu e crocodilo, é importada da Malásia. Todos estes couros têm certificado de origem do CITES (órgão internacional que controla o comércio de fauna e flora) e, no Brasil, o Ibama é o responsável por supervisionar as licenças.

Não foi um processo tranquilo fazer os lojistas entenderem a sofisticação do trabalho artesanal. Muitos desmereciam e até o comparavam a uma bolsa de palha comum. “Agora, tempos depois, o junco tornou-se sinônimo de nobreza, mas foram anos tentando fazer o brasileiro valorizar seu produto de origem”, defende. Hoje, além de bolsas, o portfólio inclui sapatos e objetos de decoração. Durante a pandemia, a marca cresceu 40%.

LEGENDA

Ana Paula uniu forças com a GPS|Foundation. O resultado foi uma coleção de tote bags pensadas para acompanhar a seleta e filantropa clientela nos dias de praia. Confeccionadas em tecido off-white, com alças de couro e frases líricas estampadas. “Eu sempre quis desenvolver trabalho solidário. Este projeto me trouxe a injeção de ânimo que eu precisava”, conclui

Cruzando rios além do Planalto Central, a marca mantém um endereço fixo no Quadrado, em Trancoso. “Eu tinha esse desejo e a oportunidade de concretizá-lo surgiu no último verão. Tem sido importante para o nosso branding”, afirma. Muito em breve, outra novidade da artista, artesã e empreendedora: uma franquia em solo carioca para alegria das garotas de Ipanema.

@confrariastudio www.confrariastudio.com.br

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