Revista GPS Brasília 16

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PLANALTINA

A MÃE DE BRASÍLIA COMPLETA 158 ANOS ANO 6 « Nº 16 « 2017

EMBAIXADA

RÚSSIA, UM CZAR NO CERRADO

W3

A babilônica avenida quer renascer

SIRON FRANCO O ARTISTA CELEBRA 50 ANOS DE CARREIRA

ISABELLA SANTONI

A BELEZA ESTONTEANTE DA ATRIZ QUE REPRESENTA A NOVA GERAÇÃO DE JOVENS ENGAJADOS








Diretora de redação Paula Santana Coordenadora de jornalismo Mariana Rosa Reportagem Andressa Furtado, Larissa Duarte, Marcella Oliveira, Pedro Lira, Raquel Jones Editora de criação Chica Magalhães Editor de fotografia Celso Junior Fotografia Sérgio Lima Produção e Projetos Karine Moreira Lima Colaboradores Chico Neto, Clarissa Jurumenha, Conceição Freitas, Duda Portella Amorim, Fernando Veler, Flávia Medeiros, Luara Baggi, Maria Thereza Laudares, Maurício Lima, Patrícia Justino Vaz

GPS|BRASÍLIA EDITORA LTDA.

Revisão Jorge Avelino de Souza

SÓCIOS-DIRETORES

Marketing e Relacionamento Guilherme Siqueira Comercial e Administrativo Rafael Badra Contato Publicitário Adriana Chaves Tiragem 30 mil exemplares Circulação e Distribuição EDPRESS Transporte e Logística

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RAFAEL BADRA rafaelbadra@gpsbrasilia.com.br PAULA SANTANA paulasantana@gpsbrasilia.com.br GUILHERME SIQUEIRA guilhermesiqueira@gpsbrasilia.com.br SHIS QI 05, bloco F, sala 122 Centro Comercial Gilberto Salomão CEP: 71615-560 Fone: (61) 3364-4512



EQUIPE

Chica Magalhães

Mariana Rosa

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Marcella Oliveira

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Andressa Furtado

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Pedro Lira

Sergio Lima

COLABORADORES

Alê Duprat

Chico Neto

Fernando Veler

10 « GPSBrasília

Clarissa Jurumenha

Flávia Medeiros

Luara Baggi

Everson Rocha

Conceição Freitas

Ricardo Penna



ANO 6 – Nº 16 – FEV MAR ABRL 2017

Isabella Santoni fotografada por Ricardo Penna com styling de Alê Duprat e beleza de Everson Rocha. Ela veste Burberry e joias D'Or

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W3, A BABILÔNICA AVENIDA

68 FUN+FUNK+ORQUESTRA

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UMA PITADA DE TRADIÇÃO

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HABEMUS ÓPERA

29

CINEMEMÓRIA, UM MUSEU NA W3

78

GOIÁS EM PROSA E VERSO

32

VIDA DE INTERIOR, POR QUE NÃO?

82

DONA ANINHA

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BRASÍLIA VAI PARAR

86

À NOSSA VELHA INFÂNCIA

43

UMA CIDADE INTEIRA

88

SIRON FRANCO

53

UM CZAR NO CERRADO

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ELE TRANSCENDE

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SERGEY, UM EMBAIXADOR APAIXONADO

100 A MÃE DE BRASÍLIA

A controversa rua e suas nuances O mercado municipal do distrito Cineasta Vladimir Carvalho abre sua casa O artista Ralph Gehre e suas andanças Trânsito preocupa em horário de pico Aeroporto Internacional é o melhor do País Embaixada da Rússia e sua herança cultural

O representante conciliador no Brasil

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É IMPRESSIONANTE

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LAVA JATO, A HISTÓRIA POR TRÁS DOS FATOS

Moscou e St. Petersburgo, as cidades russas

Filme retrata a operação sob a ótica policial

Banda que reúne os estilos ganha fama Nova geração de músicos resgata o gênero A cidade de arte, religiosidade e gastronomia Cora Coralina e seu legado para o País Jornalista Cristiana Lôbo e sua essência goiana Artista plástico celebra 50 anos de carreira Marcelo Solá, expressionista da nova geração A cidade de Planaltina em 158 anos de história

108 O GRANDE NEGOCIADOR

Roberto Azevêdo é reeleito na OMC

112 UM GESTOR NO FURACÃO

Leonardo Gadelha à frente do INSS



116 NEGÓCIO DE FAMÍLIA

192 PISA FIRME

118 MUITO ALÉM DA ESTÉTICA

194 ESCULTURAS ARTESANAIS

122 FARMACOFOBIA

196 MAIS QUE PERFEITO

124 IDENTIDADE E DESIGN

198 OLHAR

Casal paranaense funda a Pneuline Erick Carpaneda recompõe vidas Flávio Cadegiani e as dúvidas de consultório Gabriela Gontijo, novo talento da arquitetura

126 UMA LUZ SOBRE O SEU TRABALHO

A importância da iluminação no escritório

128 LAVÔ, TÁ NOVO

Aplicativo brasiliense faz sucesso e fama

130 A REVELAÇÃO

Rodolfo De Santis e a paixão por culinária

134 COZINHAR COM ARTE

Dolce&Gabbana cria eletrodomésticos

138 SOCIAL

Os melhores eventos e festas da temporada

160 ISABELLA SANTONI

Jovem atriz elenca nova geração de atores

As botas ganham várias versões no inverno A alta-joalheria e suas inovações de design As joias assinadas que são obras de arte Duda Portella Amorim e as dicas de lifestyle

200 PASSARELA

Principais tendências das semanas de moda

204 JUNTO E MISTURADO

Cores e geometria dão ar cool à roupa

206 Ô LOUCO, BICHO!

Desenhos de animais impressos nas roupas

208 COM EFEITO

Os metalizados ganham força nos desfiles

210 É DE HOMEM OU DE MULHER?

Movimento agênero ganha força e adeptos

212 ENTRE NÓS

Patrícia Justino circula e traz novidades

172 FRANCISCO COSTA

216 O MUNDO QUE VIU O PERNAMBUCANO

176 MOEMA LEÃO

222 CARTAS PARA O PAI

Aclamado designer amplia sua atuação pós Calvin Klein A mulher que representa a sociedade de Brasília

182 DEXTRUIDORA KI ARRASA

Dragqueen, Aretuza Lovi é porta-voz da causa LGBT

186 ENSAIOS SOBRE A LUZ

Bruno Fioravanti cria projeto em rede social

188 TETÊ COM ESTILO

Colunista revela sua experiência na Holanda

190 RED HOT

O vermelho como bandeira do empoderamento

A obra de Cícero Dias em turnê mundo afora Sylvia Dias e os poemas para seu mentor

224 MESTRES DA LUZ

Fortaleza inaugura o Museu da Fotografia

230 O HOMEM DE SEIS MILHÕES DE LEGO

Nathan Sawaya vem ao Brasil com sua obra

234 ARTE

Maurício Lima fala de Valéria Pena-Costa

236 ILHA DA FANTASIA

St. Barth, a melhor ilha do Caribe



EDITORIAL

Paula Santana

Guilherme Siqueira Rafael Badra

HISTÓRIAS PARA CONTAR

N

ós que admiramos tanto Brasília já paramos para pensar em sua origem? Quem a cerca? É curioso pensar que a primeira cidade do Distrito Federal, Planaltina, tem 158 anos e muitos moradores ainda vivem aquela atmosfera aprazível de interior. E se ressentem, dizendo que “Planaltina é a mãe que foi abandonada pela filha Brasília”. Pois fomos até Goiás, a “dona da terra”, para entender a alma do brasiliense. Falam sobre isso a jornalista Cristiana Lôbo e Moema Leão. Mesmo com a influência de inúmeros estados e seus costumes particulares, não há como negar a essência goiana na nossa rotina. Vale a imersão nesse universo. Para ilustrá-lo, estivemos com o seu maior representante, o artista plástico Siron Franco. E também com o talentoso Marcelo Solá. Ainda sobre a Capital da República, fomos atrás de sua verve e chegamos à W3, a avenida babilônica que gera controvérsia no coração do morador. Os intelectuais Vladimir Carvalho e Ralph Gehre a defendem com veemência. E ainda nas andanças, analisamos o trânsito local. Afinal, ele existe ou não? Conhecemos os bastidores do Aeroporto Internacional, o melhor do Brasil, que recebe um pouso a cada minuto. Falando de pluralidade, conseguimos, num ges-

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to inédito, acesso exclusivo às dependências da Embaixada da Rússia, local que abriga história, mistérios e uma forte herança cultural. Para falar de atualidade, fomos beber da fonte de um jovem brasiliense, Leonardo Gadelha, presidente do INSS. Ele defende a polêmica Reforma da Previdência. E também com o brasiliense de coração, Roberto Azevêdo, reeleito para mais um mandato à frente da Organização Mundial do Comércio. É muito assunto… E a capa? Quem nos representará nesse trimestre? Elegemos a lindinha Isabella Santoni. Aliás, a lindíssima. Buscávamos um rosto novo, fresh, cool. Mas não apenas isso. Uma jovem com convicções e que tivesse algo concreto a dizer aos seus mais de cinco milhões de seguidores e uma carreira ascendente na TV Globo, no teatro e no cinema. Uma millenial. Para ambientá-la, desembarcamos no sensacional Gran Meliá Nacional, no Rio de Janeiro. Um hotel reativado há poucos meses, que tem arquitetura de Oscar Niemeyer e jardins de Burle Marx. Um esplendoroso pedaço de Brasília no meio do mar. Esperamos que apreciem!



CIDADE

W3 NÃO É UM NOME QUE SE PREZE, MAIS PARECE PARTE DE UMA FÓRMULA MATEMÁTICA OU O SÍMBOLO DE UM ELEMENTO QUÍMICO. MAS, COMO TUDO EM BRASÍLIA GANHA NOVOS SENTIDOS, W3 É A AVENIDA MAIS DEMOCRÁTICA DA CIDADE. SEUS 6,2 QUILÔMETROS SUBVERTEM O PROJETO DE LUCIO COSTA, TIRAM DELE A RIGOROSA SETORIZAÇÃO E CARNAVALIZAM A CIDADE. NENHUM OUTRO LUGAR DO PLANO PILOTO É TÃO MISTURADO, NEM MESMO A RODOVIÁRIA, CRUZAMENTO DE EIXOS E TRANÇADO DE DESTINOS. POR CONCEIÇÃO FREITAS « FOTOS SERGIO LIMA

A

W3 não nasceu para ser W3. Ela saltou do plano original e inventou a própria identidade. No projeto de Lucio Costa, ela aparece como uma via de serviços para o trânsito de caminhões, instalação de garagens, oficiais, depósitos, tudo para atender às superquadras 300 e 100. E, do outro lado, as 700, previstas para acolher hortas, pomares, floriculturas. Essa W3 ficou no papel. Ainda em 1958, as 700 passaram a abrigar 500 casas populares destinadas aos primeiros servidores públicos a virem para Brasília. (Há daquelas que ainda mantêm as linhas originais, com poucas alterações, em geral, grades de segurança. Uma vila de casinhas de um pavimento, de frente para a W3, na 710, é um desses nichos originais).

A BABILÔNICA AVENIDA 18 « GPSBrasília


No mesmo 1958, começaram a surgir, do outro lado das 700, pequenos comércios e serviços para atender aos moradores das proximidades. Vieram a padaria, o armazém, o açougue, a farmácia, o bar, o restaurante, a boate. A W3 virou uma Cidade Livre autorizada, um centro comercial em linha reta, rente ao chão, aberto para o sol, com estacionamento colado na calçada. Era um bulevar (sim, a palavra foi aportuguesada), para usar um termo da época; ou um shopping horizontal, para aplicar a terminologia mais recente. A memória afetiva da cidade guarda nomes familiares: Bibabô, Fofi, Casas da Banha, Pernambucanas. Pelo menos um deles está lá até hoje, heroicamente, o restaurante Roma. “Desde 1960”. O inventor não gostou muito de ver a criatura tendo vida própria. Em resposta a indagações da Revista do Clube de Engenharia, em 1970, Lucio Costa reage: a W3 “adquiriu falsa importância porque o centro da cidade não existia. Agora, com a construção simultânea, ao longo da plataforma rodoviária, dos setores norte e sul deste centro, ela perderá essa indevida evidência”. (Manuscrito datado de 29/03/70, www.jobim.org, Acervo Lucio Costa). E a W3 foi perdendo a “indevida evidência”. A bem da verdade, doutor Lucio nunca deu bola para a W3, nem Oscar Niemeyer – a avenida indesejada. Uma pausa: avenida é uma via urbana mais larga que uma rua. É a versão rica da rua. E rua é aquilo que falta a Brasília: via urbana ladeada de casas, comércio, serviços, prédios, tudo junto e misturado. Talvez por isso, Lucio Costa nunca tenha dado bola para a W3. Avenidas não estavam nos seus planos. O urbanismo moderno odeia ruas. Preferia vias, quadras, eixos. Tudo saído das pranchetas. Mas o arquiteto José Zanine Caldas (1919/2001) fez para a W3 as primeiras árvores de Natal com plantas do cerrado, inspirado nas tradições populares de secar as flores para decorar as casinhas caiadas das profundezas de Goiás. Foram duas décadas de glória, os anos 1960 e 1970, até que o Conjunto Nacional chegou e a W3 ficou démodé, ou, pra ser mais moderna, deixou de ser point, não “causava” mais. Desde então, a avenida mais igualitária de Brasília foi definhando, definhando... Enquanto isso, governos mobilizaram arquitetos, dissecaram, planejaram, fizeram projetos, concursos, prometeram... GPSBrasília « 19


ixo, o os. Aba orizad to na 703 rb a o ã re co es s bosqu riorano do te s e os s praça e ao clima in a , 0 0 Nas 7 ontrapõe-s c grafite

que nomo ô t u a as to vimen ioria d o a m m a W3. êm um ausenta. N rém, t com a e o s p m i o , s s d s do sta dade sido a enida v m de o E a e As ci n t a o o c i o ã n m tória, mas n o, a ú um ru da his ótico, lorios o a g ç impõe c e o o d o om indo, , é rum os do perí . No c a está reag r e d vezes n n e 0a agor rnos. urpre dos 4 osta e ta a s s gove l C o o Passa d o v i a c o i ados u c Pilot paixon o de L gligên t a e e n j s o Plano e à r r , p iros te do rteu o prime eende samen r s o p o r d a m g e subve , va , de 3. Um rreira iosa e raW ge Fe itárias l r a o o p s J silenc u i c a s o o B r a af tiva aram dele o venid Inicia ç a e o ã a m S n o rs ,c 2013. uas po mento i d rasília m t , e s B 9 e r o 0 v t o r p a in l, na 5 rais e e, mo trever iliens nicipa , cultu ue s u s a a r M c b a se a i o n d ite lar q uitetô Merca da no assina es arq e õ 6, e o o rei l ç 0 a n 5 V e . a do de rv do ia, n , ao la as inte o e mistura a s v o Brasíl a r t o s m po W3. nt as e a rjão a ra da a do ju o o J d d i . e n 1 tentos h e l 0 av W3 co em 20 ra e a nova ias na u o i a d m g a ê r r g o u e e b ia s uconhec ão agr Brasíl do po ara co vocaç p o t a i o n o Bar r e , r p eu do ca a des o Abr escer inho, Álvar d z r o a s g i c vai. O eva É pre quem do, d e n d i g o r e as de em su as cas m vem tal. e d n u e e q , que v m s e d s). na iai gover W3, o omerc om trê c c o a s s n e t o a s n c h idame fites), is lado , dos predin Hà do advert os gra 0 n 0 i m 7 s o s a c a os, m 0eod fundir letreir s (algu n o e o t d c n e o o das 50 d e vim (nã rdena ndent ois pa ações contu o deso s a s um e d 3 das pich i e n c c e ên ex re decad , emp Na W as, do a a d r í d d o a r , s s des qu chada lçada tivida a em a a a f r c , d s s s a a a a u d o d de q menurban andon ouco, istosa nções p v e , v a r do ab m e o e t g n , pouc s. Sur icos, i adora brotam arquitetôn t n a c tos sas en dimen surpre , s a r do inova 20 « GPSBrasília


andas gr s a s n itido, is ime latera o perm s a e d u a q h ções. m fac ior do picha cobre to ma i s e e r à a u o b q a d on rmado eg fites p a d a a ( r r o t g t 0 n , e 0 r o te as 7 conc mena se c asas d acaba urban um de e e d o t r des c e m s A o c . itefa ntes, ve-se) tá em a arqu e l s t a o e o s p s e m e o u s r ear c ifício cas, q ro, na da, lin be. Há out Há ed as geométri a r o v l l e e c oA ra de es jan e o re uitetu como u q q r o a c e grand n d à na ra muito 16. B da cid e o ba z 7 i s o d a a n r n g i o i e ã to n a. D as cad a de design rédio odern as du o. O p a v tur d o tura m a n r eral ent ém assina b e e t d m n a o Fed l e t t l i d , a r i t 5 h v s i 1 e o 5 sn , têm s no D instituições ia, ma adeira Banco m s rês o Brasíl m d e 3, o enos t ido, ação r i m p c o o l m e na W s e o s m P i A r . p 3 co c A 0 s e. o, na 5 têm agência alidad io nov ) de qu c o í f c i . s d e e t e-se à um e e Brad teligen oferec n ú i , a t a é i I ocupa r , s á a B cos eg s, ban rias (B ente, m cólica e gr a u d r a g ç n l bancá u inco as, ca via de cia, b arece as é a racinh potên s p e e , r que p d s p e r o sa a qu su tip traves os bos ra das a Outro o o a d ã d a s a t : ç n im , a cal s enca e-jard ntada A mai e cidad . m a W4. i 0 é v 0 t o 7 a dos e m s 3 a o d uit aW grama n M e s . d u 3 do fim o r b 1 7 ha ôni as com tre na mpan M to de o n . c o a a p v e pedes a -s eo ue os esper a, faz a desd ções q rto o não alçad i u l c c quadr o u a s L , s e ela essa, s boa por c Toda s. Por udia a nção, a a e t l asl v p u n a i d te, 700 p ua sa n s e s r e a a o d m v a r a s r á atic ho, à s casa am pa emocr trabal de da r o ontrav e a c v ele, d r n i a e e a e a ár li par ienses ver qu sitam por a brasil m e s z suária de . an feli lar é u imida que tr p x o ficaria s m r o e p a bém as a ex servir e tam iços d u alçad v q c r a e a sou a s d s ad s uas ou ao a par destre com s a m e l , u p o 3 n c s s o W e s da ra do oria d Desce ônibu tivo. uitetu A mai e e q l r d o a c s a o d te ado nt nspor Mach mplos Os po e . o x a n e i n r b o do tra s a ã ode lhado eto S icas, s rife m arquit s espa onôm e c l o tem g e e d e d a retas á 158 . Obr 2. asília linhas 61. H r 9 reB 1 e na L e m 3 d e W o a em co ç d a e a a n t s m e e n j o t r c i pro se pe ois, a ior pa so, fo ia não iga. P , a ma l t í o n s t a Barro a o l r i B W3 ade lano P Só na sa em e cid n . d e o t , p r e pelo P o or do se interi Gervá tem c e o t o d e d Quan t a i n s u u coi do m o arq uído reto é 4, é d constr rnista 0 e e 7 d / o o to. Co 3 d a 70 por sm projet o da tinha e mai i , d e o s a e F e l d t . i e c an md Filho to que estud ês. U liveira rquite a era a O d , n são tr e i s a d e .O o ev rdoso rasília ervási ro Est B G u a o m N d sio Ca e an so eyer 65 qu odero Niem r a em 19 ntão todo-p c s O oe e de chefe equip a a v da coman


o coletiv sco do trânsito te n a e ig d g grafite m os sinais ra nte ao em fre artistas aleg m a c n uanto as bri Crianç na 708, enq DF Zulu

ena, uma p e é e u d a. O q sque tificad l – com bo n e d do. i a não cuid ráve o a i d r m a o e t b a em au mboso e acinh rtento /706 t aça, e ma pr r o 5 u p p 0 e r 7 õ o e 8, p z da hã 07/70 bia fa 7 manc le com a a e s a r e o n a c u n , r s e porq mode ais um adulta ismo Há m s n . e a r s b i o r e v u coár o sív impos ia. No e que r d s . ó l t o a i i s r i v z Pro ela h de Ab em va os mo uma b oltas ça 21 lizou v i a r n m b e e P o t ã a a m s r 3 s o e ,n da W a. Mi cidad l hinho d l i a a r e n t d e m n l a v r a ce na ve de um teiro s na m jor , n e u r a a , o d c v 0 a r c 6 O á 9 li sem stente comp nos 1 lantas o insi dos a mais ã p o ç é ç a e e h 3 u q r as m ic evora para 0, a W mada de p d 0 s e 5 e u r o g o d e rad . A ca m ela cons No la adora rida. e c p n o m v s o u a r c uma m p a. das n bana, i cação d r i i v u l l n p o a e s r v a m a re tu co Sul. N bem lônica a aven i 0 s a b 1 t a a l 5 d b u a a dific fach adra lar na des d na qu ovida s com tos para o i E n a . i s s c a o r o cab id come e mer e obje de tec d s s e a a u ç j Casas q u o etros de lo o de l O esto m pol (150 m gens. e loja u a d s r a n á r j a e h o r f l , g e s dra ho da ojas d a qua aman o de l t al o mesm o p o a fach um dad , m , e u l t e . n ) i v m 3 segu reditá entro 11, co 2àW é inac rias, c da W a da 5 á s , o v s a i o m r s d o o a d ive. za (c ol stica inclus os, va ), esc l á d , a n a 3 i c r i g t d W r s de ve qua se na queno mias rdim Moras a pe . o Acade orra um ja o d c a i l n j desti g cató onde oppin es são r h o s om i da de r e e sup reja D nda g a s I o b t a m n l e de u ar pe ais de pavim . começ s vitr s dos inetes o A o t l t i . i e u 3 u b q sa, W M s e rtugue s mai de na entos o o a p m d r i a l a a t i r r a t s c d e en apa de pe reparo e apr é d onum e d a m s e d e á t p a H Osdas ( 2. An a calç s graú o). Obra de na 70 chão: a , o m o r c a o s r f s nuBo pa es de ço mo dá ac ular, , olhe a e g a p i u n s l i í q e s s a Bra esmo outro enho greja Sul é m des s de m us à i j 8 o u 0 h r e 3 n m i z o e d c fa u a), a de pre eform s para a Parq r l o e t t o n c n m s u e e j ( n es, aE urg no co a Sall Russo eyer, i r i a o m e s t e r s a i o e n r e car N ição M ral R se sob Cultu Conce l que a a o t d ç n a e a m Esp Mari ho. O ativa taman a Demonstr tec Biblio 22 « GPSBrasília


a paelicad d a m u etam 1 (com Sesc compl o r e m te do de nú tauran e Saú s d e o R r t absul. o o Cen 500 S reciso gós), e p s o a b É d o . l c e ha leza nta eninin rede d nume s, a be u o e q õ m e ç p a o h junt toda a ona e as pic o con tuam grand ndo d n é u o f p 3 o e a u uma , AW ra ver tigas q registro de a n p a r s a a rt ser olh o, iquári das po o para t trair o t s n n a a o i r r e p quad ças d esma do ali, das es 00. Pe dela m au, tu 5 e a v o r o d u n t a l ol 3àa da art W3 n uícios uma W q r s o e p r , m am do o época para c ontinu nde. c e o 0 c o s 7 d e 9 a pre r a 1 restau 1960/ que el ue sem q s s o o o r n t i u a e o m tes do j s dos lar be e dos quase as loja xemp d u e o s , , a m t c i u m i ra tét o Mu aé pre fo uspin ial sin m r d e e n t s I a e a u om m azul d jeito q feito c alcão o b i r O á i . bém l i foram o mob a, tam ud b o m d a a s S rv 970. ória, noite/ conse , hist anos 1 uela a i s q a/ c o a a d N r x a ei os r: “ moc a cois h e d e d o B t / m as unca blioSe te Nicol que n rede da Bi . De o a d i / s 3 e o pa u és W tem p mais numa 09: “T 5 o a t a v i r d a est ot. A tá esc lçada zana De Br na ca e 2”, es , d L u , e ” O d o os to a. u par ou nã cheia trativ E s / m s n a a o r i c em u fi a, que teca D u, poeta/T etern é e E / u e q cidad strou es. emon d rnant á e j v o g W3 s o ores e criad

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ESPECIARIAS

NÃO É NO CENTRO, MAS ENCONTRA-SE NA TUMULTUADA AVENIDA QUE CORTA UMA ASA DO PLANO PILOTO O AUTÊNTICO ATACADÃO DE ESPECIARIAS QUE TODA METRÓPOLE CULTIVA. POIS FOI NA W3 QUE FIXOU RESIDÊNCIA O NOSSO MERCADO MUNICIPAL POR LARISSA DUARTE « FOTOS FERNANDO VELER

Lucas Ferreira administra o negócio deixado pelo pai, Jorge

UMA PITADA DE TRADIÇÃO E

ntrar no complexo do Mercado Municipal de Brasília é uma experiência sensorial. Às margens da W3 Sul, a mistura do aroma de especiarias, o portento da arquitetura e das obras de arte, o som do chorinho ao vivo, a textura dos produtos faz despertar um pouco de cada um dos cinco sentidos. Inspirado na originalidade e tradição dos centenários mercadões populares do Brasil e do mundo, o empresário Jorge Ferreira decidiu trazer a es-

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sência desses locais para a Capital Federal há onze anos. Também confiante e empolgado com a revitalização – mesmo que apenas na promessa – de umas das vias mais movimentadas da cidade, foi ali mesmo, na 509 Sul, que Ferreira inaugurou o Mercado Municipal de Brasília, no dia 7 de setembro de 2006. A partir daí, Brasília passou a ter um mercadão para chamar de seu. Atualmente, por dia, 400 pessoas passam pelo local.


Lembrado como grande promotor da cultura brasiliense e apaixonado pela alma sempre jovem da cidade, Jorjão, como era carinhosamente chamado pelos amigos, faleceu em julho de 2013. Ele estava todos os dias no Mercado. Combinava o trabalho com regozijo. Deixou como legado boas histórias e espaços que reúnem gastronomia e arte, como os icônicos Feitiço Mineiro, Bar Brasília e Bar do Ferreira. Hoje, após quatro anos da morte do patriarca, a administração continua familiar. “O Mercado Municipal foi o grande objetivo de vida do meu pai. Quando eu era GPSBrasília « 25


Iguarias, obras pela parede e quitutes compõem a alma do local

criança, em todas as cidades que visitávamos ele precisava conhecer o mercado mais tradicional do local, onde o esquema era sempre popular e artesanal. Ele lamentava não ter um desses em Brasília”, lembra o filho Lucas, 25 anos. A história da via W3 Sul foi o que motivou a escolha do local. O que foi uma das mais valorizadas ruas da cidade, em inúmeros locais, virou cenário de abandono. Jorge acreditava no revigoramento do espaço e chegou a participar de vários projetos com este objetivo. No local, a presença do fundador permanece por meio de visitas diária de familiares e antigos amigos. Reúnem-se no mezanino, no espaço Cervejaria do Mercado, para colocar o papo em dia, como Jorge adorava fazer. “Eu fui criado aqui dentro, então, me sinto em casa. Se, para mim, que fico a trabalho, é prazeroso e divertido, imagina para os clientes que frequentam o local”, afirma Lucas.

CHARMOSO Logo pela fachada pode-se ver que o complexo do Mercado tem decoração cinematográfica e ambiente mais do que convidativo. Não dá para passar em frente ao local sem ao menos dar uma espiadinha para ver o que tem dentro. Planejada pelo arquiteto Álvaro Abreu e pelo próprio Jorge, a cenografia traz artigos centenários, como os belíssimos lustres e referências fortes à arte visual, por meio de obras penduradas nas paredes. Os corredores são elencados por produtos nacionais e internacionais, que variam desde os secos aos molhados. Para ter noção da diversidade nas prateleiras, o Mercado conta com mais de 85 tipos e marcas diferentes de quei26 « GPSBrasília

jo. Você encontra de tudo: grana padano, brie, camembert, maasdam, queijos de cabra e búfala, minas, frescal, provolone, parmesão, gouda, ricotas, entre muitos outros. Nos presuntos, opções como parma italiano e jamóns espanhóis são os mais pedidos. Entre os azeites, são mais de 50 marcas. Têm trufados espanhóis, italianos, portugueses, gregos e chilenos, condimentados e a granel. Na sessão de vinhos, mais de 150 rótulos nacionais e importados, além de espumantes. Dentre outros expositores, o local ainda conta com espaço para os doces artesanais, a Padaria do Guille e a Peixaria do Guará. Apesar de serem os grandes queridinhos da clientela, nem só dos deliciosos pastel de bacalhau e sanduíche de mortadela vive o Bar do Mercado. No menu, complementado com ilustrações do cartunista Jaguar, tem bacalhau preparado de tudo quanto é jeito, filés, frangos, arroz especial, massas, frutos do mar e peixes. Entre os mais pedidos está o prato Ragu do Jaguar, com rabada, alcaparras, vinho tinto e azeitonas pretas.

FICA A DICA

Que tal tomar um chopp geladinho ou apreciar um bom vinho à beira da W3 Sul? Pois bem, de segunda-feira a quinta-feira, o Bar do Mercado enaltece o melhor da culinária brasileira, com almoços executivos que combinam com a bebida. Na lista de opções, receitas como rabada com agrião e polenta na panela de barro, contrafilé com arroz de banana da terra e batata corada com queijo. Além do famoso e cobiçado chopp, o cliente pode escolher um dos vinhos nacionais ou internacionais disponíveis no Mercado e harmonizar com os pratos do Bar. Mercado Municipal Quadra 509, bloco C, loja 21 – Via W3 Sul (61) 3442-4514


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ACERVO

O

lhando de longe até parece mais uma “casa geminada” comum na W3 Sul. Porém, analisando com um pouquinho mais de atenção, as particularidades da residência na 703 começam a aparecer. O portão lembra um fotograma, aquela impressão fotográfica de um filme. As janelas são redondas como rolos de negativos. Ao adentrar o local e ser recebido pelo anfitrião, fica evidente que tais formatos não estão ali por acaso. Tudo foi pensado pela mente cinéfila de Vladimir Carvalho. O paraibano de 82 anos é honrado como um dos mais importantes cineastas e documentaristas do Brasil. Vladimir desembarcou na Capital em 1969 a convite da Universidade de Brasília para participar do núcleo de documentários do curso de Cinema. O rasante, que duraria dois meses, acabou estendendo-se por 47 anos. Nesse tempo, Vladimir sempre morou na Asa Sul. Perambulou pelas quadras 300, 400, 100, 200... Até que há 22 anos se instalou de vez na 703 Sul. O motivo principal da escolha do local foi a proximidade com a W3. “Eu vivi uma fase muito gostosa nessa via. Apesar de ‘estar como está’, a W3 é inspiradora para mim. Eu acredito e torço muito para que ela volte a ser uma via mais agradável. Morar aqui é uma militância, não saio por nada”, confessa. Para o cineasta, a movimentada rua tinha tudo para ser a “via das artes de Brasília”. “Acredito que a minha casa faz uma espécie de coadjuvação na W3, porque, tempos atrás, tudo por aqui era cultura. Havia cineclubes em todos os cantos, o extinto Centro Cultural Cassiano Nunes, teatros, sedes de emissoras de televisão. Era para a região ser arte viva até hoje”, afirma.

CASA ABERTA A HISTÓRIA DO CINEMA BRASILIENSE É VIVA E SE MANTÉM LATENTE, GRAÇAS À PAIXÃO VISCERAL QUE VLADIMIR CARVALHO CULTIVA POR TAL ARTE. E É EM CASA QUE O CINEASTA DIVIDE COM A COMUNIDADE AMBOS OS AMORES: A AVENIDA E A TELONA POR LARISSA DUARTE « FOTOS SERGIO LIMA

Para qualquer visitante que recebe em casa, Vladimir faz questão de ser o guia turístico. A residência com 260m2 e com cerca de dez cômodos – número aproximado, porque os cômodos se misturam – é um museu do qual se orgulha de ter construído por mérito próprio. É, ao mesmo tempo, autointitulado morador e zelador. Até o futuro do local está planejado. Quando Vladimir já não puder cuidar de tudo que guarda ali, ele doará para a Universidade de Brasília. “Para que a instituição mantenha viva e preservada a história que eu ajudei


CINEMEMÓRIA, UM MUSEU NA W3 GPSBrasília « 29


Portas e janelas inspiradas no design de um fotograma anunciam que essa é uma casa especial

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a construir”, A visita começa pela garagem. O espaço que comportaria dois carros é ocupado por fileiras de vitrinas com documentos que mantêm vivo os primeiros passos do cinema brasiliense, bem como os altos e baixos do cinema nacional. Tudo impecavelmente bem cuidado: documentos plastificados, livros enfileirados em estantes, vitrinas protegidas com vidros, equipamentos cobertos por panos para evitar a poeira... Diferentemente da maioria dos vizinhos, que substituíram a grama por cimento, Vladimir optou por manter a natureza do pequeno quintal. Ao pisar dentro da casa é como se entrássemos num túnel do tempo. Não à toa Vladimir batizou o lugar de Fundação Cinememória. Nos primeiros expositores, guardam-se tesouros do segmento, como revistas de cinema de 1940, carteirinhas de sócios do Clube de Cinema de Brasília da década de 1980, o projeto original de criação do curso de graduação em Cinema da UnB e até certificados de censura de filmes dos anos 1970. Pendurados, cartazes dos primeiros festivais da cidade e de obras autorais, como o memorável O País de São Saruê de 1971, que ficou retido pela censura durante os anos da ditadura militar. Completada a primeira parte do tour pela casa-museu, mais lembranças chamam a atenção no curto corredor que conecta a garagem à sala. Em um buraco construído na parede desse corredor, uma homenagem ao falecido Heinz Forthmann – importante fotógrafo e professor da UnB na década de 1970. Um rústico equipamento de cinema, uma espécie de moviola, que pertenceu ao artista, é exposto ali. Ao lado, uma porta com uma simpática placa escrita Salinha anuncia o pequeno cômodo – ocupado por apenas uma poltrona rodeada de livros. O local é uma extensão da biblioteca principal, equipada com centenas de títulos sobre cinema. Na sequência da visita, se não fosse pela geladeira, quase camuflada em meio a pôsteres e livros, não diríamos que o cômodo da porta da direita do corredor é, de fato, uma cozinha. Estantes e mais estantes de livros invadem o cômodo até chegar à área de serviço. Voltando ao corredor, seguindo reto para a sala, uma exposição fotográfica relativa ao cinema de Brasília, e em parte o cinema nacional, decora as paredes brancas. Com tom sempre empolgado e olhares nostálgicos, Vladimir relembra cada quadro de fotos, dos cem expostos. “É gostoso ter tudo isso fisicamente. Meus primeiros alunos da UnB, os primeiros filmes, visitas ilustres, meus grandes amigos e incríveis profissionais que já se foram... Aqui posso reviver tudo”, confessa. Em uma das fotos, Vladimir e sua equipe gravam as cenas do filme Vestibular

70, de 1970, que registra a preparação dos alunos para a primeira prova de vestibular da UnB. Um dos cantos que merece destaque é dedicado cem por cento a Glauber Rocha, considerado o maior cineasta brasileiro. Neste espaço, fotos emolduradas e quadros que eternizaram momentos de Vladimir ao lado de Rocha. No chão, mais vitrines com objetos cinematográficos quase centenários, como câmeras, refletores, moviolas, mesas de montagens, além das dezenas de troféus. Da sala, um portão branco dá acesso ao jardim verde, adornado com dois grandes vasos – ou formas, como se diz no Nordeste – em referência ao filme Aruanda, de 1960, um curta-metragem sobre o artesanato de barro. O roteiro continua voltando à garagem e pegando as escadas. “Não satisfeito em ocupar o andar de baixo, também coloquei cinema no andar de cima”, brinca Vladimir. Trinta poltronas idênticas voltadas para uma grande parede branca formam o auditório. Ou melhor, formam uma sala de cinema onde são exibidos filmes para grupos de alunos ou destinado a diretores interessados em exibir suas produções para um público específico. No fim do ano, como tradição, o espaço transforma-se em salão de festas para confraternizações. No restante do andar, cômodos ocupados por caixas de equipamentos e documentos, que não entram no roteiro de visitação. Apenas um cômodo de toda a casa conta com uma cama para o cineasta passar a noite. Voltando à garagem, caixas e mais caixas de equipamentos cinematográficos em fila de espera para serem abertas. É lá que elas ficam guardadas enquanto Vladimir calcula se ainda há espaço para exibir mais recordações e relíquias. Atualmente, Vladimir administra os compromissos para se dedicar ao seu próximo projeto. O diretor trabalha em um filme sobre a transposição do Rio São Francisco. Porém, ainda é cedo para sugerir uma data para o lançamento. Até lá, uma visita ao Cinememória fica como dica de programa aos cinéfilos de plantão da Capital. Entre as obras mais prestigiadas de Vladimir Carvalho estão: • Cabra Marcado para Morrer (1984), ao lado do documentarista Eduardo CoutinhoConterrâneos Velhos de Guerra (1991) • Barra 68 – Sem Perder a Ternura (2000) • O Engenheiro de Zé Lins (2006) • Rock Brasília – Era de Ouro (2011) • Cícero Dias, o Compadre de Picasso (2016) Fundação Cinememória de Vladimir Carvalho SHIGS 703 Bloco G Casa 73 – Asa Sul – Fone: 3225-8680 Visitas agendadas

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RETRANCA ATELIÊ

VIDA DE INTERIOR, POR QUE NÃO?

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A CADA CAMINHADA, AINDA UMA DESCOBERTA. CARRO, NEM PENSAR. O FRENESI URBANO NÃO INCOMODA O ARTISTA PLÁSTICO RALPH GEHRE, QUE ELEGEU A W3 PARA VIVER BRASÍLIA EM SUA PLENITUDE E ESSÊNCIA. NAS DEPENDÊNCIAS DA VIA, ELE DESFRUTA DA VERDADEIRA DINÂMICA DO PLANO DE LÚCIO COSTA POR LARISSA DUARTE « SERGIO LIMA

“V

ida de vizinhança”. É assim que o artista plástico Ralph Gehre define o sentimento de morar na W3 Sul. Com a vista voltada exclusivamente para a rua, separada do asfalto apenas por alguns metros de verde, a casa na 709 recicla todos os elementos da movimentada via, como o som dos veículos e a leve brisa. Na garagem, o carro do artista fica parado por dois, três dias, sem fazer a menor falta. “Morar na W3 muda a sua relação com o espaço. Por aqui, nem parece que é uma cidade que exige o uso de automóveis. Caminho, subo e desço as quadras tranquilamente”. Ao seu alcance, serviços como bancos e supermercados instalados no longo comércio tornam prática a vivência por ali. “Dirigir por Brasília pode ser uma fria”, brinca Ralph. Para ele, e para grande parte os moradores da Capital, trânsitos e estacionamentos lotados não são nada encorajadores para sair de casa. A opção “ir a pé” é sempre a primeira de Ralph. Se o destino for mais distante, agradece por ter a parada de ônibus a poucos metros da porta de casa. Mas, dependendo do destino, não se preocupa em descer até o metrô da 108 Sul para buscar outra alternativa de locomoção. Andar por Brasília não é o menor problema para o artista, muito pelo contrário, é um prazer compartilhado. Gosta de visitar amigos durante as caminhadas. Vai até a 103 Sul, às vezes, um pouco mais distante, na outra ponta da Asa, na 113. Durante o percurso, uma pausa para tomar açaí em alguma entrequadra ou até mesmo uma sessão de filme no Cine Brasília, na 105. “Apesar da falta de cuidado com as calçadas, são muitos caminhos fáceis. Compartilhar esse dia a dia prático é quase uma curiosidade, uma “surpresinha”, para quem acha que só se anda em Brasília de carro”, confessa.

ENTRE QUADRAS MINI BIOGRAFIA Ralph Gehre nasceu em 1952, em Três Lagoas, Mato Grosso do Sul. Iniciou a carreira de artista plástico em 1980 com a exposição individual na Galeria B da Fundação Cultural do DF. Trabalha com diversas mídias gráficas, além da pintura e da fotografia. Por ser exímio desenhista, o desenho é a base de seu trabalho. Gosta de conectar sua arte entre a imagem e a palavra, bem inspirado na literatura. Atualmente, ministra ativamente cursos e palestras sobre fotografia e produção de projetos, além de fazer a curadoria de exposições de arte. Instagram: @ralphtadeugehre

Nascido no Mato Grosso do Sul, Ralph chegou à Capital com a família em 1962, quando tinha apenas 10 anos. Nesse momento de consolidação da cidade, o primeiro endereço em que residiu foi na 308 Sul – quando ainda nem havia o paisagismo de Burle Marx. “Era muito comum andar a pé por aqui naquela época. Um hábito que as pessoas que chegavam de fora traziam para Brasília”, lembra. Após estudar na Escola Classe da superquadra, trocou de colégio. Subiu para o La Salle, na 906, para continuar os estudos. “Adorava o caminho da 308 até a 906. Andava por dentro das quadras, admirando cada nova construção.

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Era uma delícia”, conta. Quando mais adolescente, entre 1972 e 1980, frequentava a Universidade de Brasília, onde cursou Desenho e Plástica e Arquitetura e Urbanismo. Durante a vida em Brasília, morou na Asa Norte, em outras quadras da Asa Sul, na Octogonal, no Guará… Até, finalmente, em 2011, mudar-se para as margens da W3. “Cada lugar em que morei tem um olhar próprio, que influenciou meu trabalho. O percurso do cotidiano, os hábitos, o estilo de vida. Tudo refletia na minha arte”, afirma. A casa da 709 foi um presente do pai, quem viveu por lá desde 1971 até o fim da vida. Ralph logo reformou o local, que, segundo ele, ainda segue em construção. Mas, casa de artista é assim mesmo. Um dia a mesa de criação está encostada na parede, outro dia pode estar no centro da sala. É mutável. Lá, vive com o filho Lucas Gehre, 37 anos, quadrinista e designer gráfico. Dentro de casa, um grande cômodo divide-se em ateliê, sala de estar, biblioteca, sala de jantar e cozinha. Há livros e desenhos por todos os cantos. Todos mesmo. Sobre as mesas, em baixo delas, em estantes, atrás do sofá, empilhados, dentro das gavetas e até na parede da cozinha. Nos quase cem quadros pendurados nas paredes, obras de Elder Rocha, Ana Vaz, Athos Bulcão, Renato Rios, para citar alguns. Entre os livros, nomes respeitados, como Peter Pál Pelbart e Yve-Alain Bois, confirmam a paixão de Ralph pelas artes, seja expressa em literatura, poesia e até filosofia. “Os livros têm muita importância na minha vida. Eu leio todos os dias”, comenta. Entre o ateliê e o jardim, uma pequena e aconchegante varanda apontada por Ralph como seu canto preferido da casa. Com parede de cobogó, mesa e cadeiras, é ali que o artista senta, deleita e contempla o momento, seja por meio de uma leitura, de um cafezinho com as visitas – “puro e sem açúcar, por favor” – ou apenas para passar o tempo mesmo. E quando chove lá fora… então, pronto. Está completa a tranquilidade de Ralph. 34 « GPSBrasília



URBANO

EM OITAVO LUGAR NO RANKING NACIONAL DE CAPITAIS ENGARRAFADAS, O TRÂNSITO NO DF CAMINHA PARA O CAOS EM TRÊS ANOS. FORMATADA PARA UM VEÍCULO A CADA QUATRO HABITANTES, HOJE, A MÉDIA É DE 1,7 CARRO PARA DUAS PESSOAS. EM HORÁRIO DE PICO, TRAFEGA-SE A 12KM/H. E AGORA? POR MARIANA ROSA E PEDRO LIRA « FOTOS SERGIO LIMA

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BRASÍLIA VAI PARAR

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Q

uando Renato Russo compôs a música Travessia do Eixão, os versos “Nossa Senhora do Cerrado, protetora dos pedestres que atravessam o Eixão às seis horas da tarde” virou mantra para quem cruza a movimentada via da Capital. Entretanto, se Nossa Senhora do Cerrado protege o pedestre, quem protege os motoristas? Para os católicos, São Cristóvão. Diz a lenda que o santo ajudou Cristo no trajeto por um perigoso rio. Por isso, ele é o protetor dos viajantes. Pouco importa o tamanho da distância. Com o trânsito cada vez mais agitado, a bênção de todos os santos é bem-vinda. Por aqui, não é lenda, é realidade. Brasília tem um trânsito para chamar de seu. Segundo o Departamento de Trânsito do Distrito Federal, Detran/DF, em agosto de 2016, precisamente 1.654.557 veículos circulavam pelas vias do DF. Se o crescimento é de 3% ao ano, em 2017 chegaremos a 1.704.193,71. Isso nos leva à média de 1,7 carro para cada dois habitantes da Capital. O problema é que a cidade foi planejada para ter um carro para cada quatro pessoas. Mais do que isso, era para abrigar apenas 500 mil habitantes. Hoje, temos mais de 2,9 milhões.

Muita gente, muito carro, pouco tempo, pouca paciência. Brasília vai mal, mas poderia ser pior. No Brasil, a cidade é a oitava com o trânsito mais caótico. No mundo, ocupa o 141º lugar nesse quesito, segundo a empresa holandesa de GPS Tom Tom. O pior período para enfrentá-lo é no fim do expediente. Das 17h30 às 19h30, uma viagem que demoraria 1h em tempo normal leva 48 minutos a mais. O segundo pior horário é pela manhã, das 6h30 às 9h, a viagem fica 32 minutos mais longa, em média. Nessas horas, haja imaginação para passar o tempo. O rádio continua firme e forte entretendo motoristas. Dirigir ouvindo música, cantar e gritar a canção favorita. Quem nunca? Conectar o viva voz do celular ao Bluetooth, nunca foi tão útil. Mesmo proibido por lei, tem gente que aproveita o engarrafamento para colocar conversas e mensagens em dia. Falando em contravenções, o tempo a mais no engarrafamento coincide com alguns episódio das séries na Netflix. Adivinha como aquele amigo super ocupado zerou todas as temporadas de House of Cards? Estamos de olho. Dentro do Plano Piloto, os carros mantêm velocidade média de 12 km/h nos horários de pico. Ou seja, o trânsito anda. Lentamente, mas anda. Tanto congestionamento é fruto da grande quantidade de veículos, os vários semáforos e os pontos de afunilamento das pistas. Como diz o ditado, é melhor pingar do que secar. Tem outra particularidade aqui. Em Brasília, evitamos buzinar. Desde já, agradecemos à gentileza.

“BRASÍLIA É O ÚNICO LUGAR EM QUE É POSSÍVEL ESTACIONAR NO CENTRO DA CIDADE SEM PAGAR NADA” Hartmut Gunther “O NOSSO SISTEMA VIÁRIO É MUITO MELHOR DO QUE DE OUTRAS CIDADES” Paulo César Marques 38 « GPSBrasília


O RUSH Por outro lado, nem São Cristóvão consegue dar um jeito no Setor Policial. É a via mais movimentada do Plano Piloto. Cerca de 32 mil veículos passam por lá diariamente, segundo o Detran/DF. O Eixo Monumental perde por pouco. É o segundo, com 25 mil carros todos os dias. Pelo menos, no Monumental, o próprio nome avisa: a via é monumental. Na volta para casa, o motorista dá de cara com aquele pôr do sol laranjado-rosa-avermelhado, que só Brasília tem. Dá pra ver Juscelino Kubitschek dando tchauzinho em cima do Memorial JK. Parece até irônico. O presidente que tinha como meta avançar 50 anos em 5 precisa ser copiado. Urgentemente. Estudos apontam que, daqui a menos de três anos, Brasília vai parar. A simulação do Plano Diretor de Transporte Urbano (PDTU), da Secretaria de Transportes, aponta que as principais vias de ligação ao Plano Piloto estarão saturadas. O trecho da BR-020, entre o Balão do Torto e o Balão do Colorado; a BR-040; a Estrada Parque Guará (EPGU); a Estrada Parque Núcleo Bandeirante (EPNB), a Estrada Parque Taguatinga (EPTG) – principalmente ao redor do Viaduto Israel Pinheiro – estão sujeitas a ficarem quase 100% paradas em 2020. Todavia, nada de pânico. A Lei Complementar de Uso e Ocupação do Solo em Brasília é muito mais rígida do que em outras cidades, pelo fato de a Capital ser tombada pela

Unesco. “Mesmo que o nosso congestionamento aumente, não chegará à situação de São Paulo, porque não teremos tantas pessoas morando aqui”, explica o doutor em Estudos em Transportes da Universidade de Brasília (UnB), Paulo César Marques. “Além disso, o nosso sistema viário é melhor do que de outras cidades. Se compararmos a EPTG com a Marginal Tietê, por exemplo, estamos no céu!”, brinca. Falando em céu, na Capital Federal, dizer “vou pegar a ponte” normalmente significa que a pessoa vai chegar atrasada. Antigamente, passar por uma ponte era cortar caminho. Hoje, temos dúvidas se realmente vale a pena passar por uma delas. Pelo menos, essa desculpa para o atraso é a mais aceita na cidade. “Estou na ponte. Tudo parado aqui”. A outra pessoa entende, lamenta, torce para não ser acidente grave e deseja boa sorte ao motorista. Mas, atenção, se vai usar essa desculpa, fica a dica para atentar-se ao horário de pico. Fora dele o trânsito nas pontes tende a fluir na velocidade da via, 60km/h nas que ligam Lago Sul e Norte às demais satélites e 80 km/h nas via periféricas. “Podia ser sempre assim”. Essa frase é o clássico do brasiliense nos meses de férias escolares e nos órgãos públicos. Em dezembro e janeiro, um pouco em julho, o trânsito fica tão calmo, as ruas parecem tão largas, as pessoas ficam mais calmas e até pontuais. É a Brasília sem rush. O bem-estar dos brasilienses é a especialidade do doutor em Psicologia Social, Hartmut Gunther, da UnB. “Quanto mais denso o trânsito, menor a qualidade de vida. Presas no carro, as pessoas perdem um tempo que poderia ser gasto com lazer. Isso gera cansaço, estresse, poluição”, explica.

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Celso Junior

Pela manhã, de 6h30 às 9h é o horário mais movimentado na Ponte JK

A LOGÍSTICA A fórmula básica para ilustrar como funciona o transporte é que uma pessoa precisa locomover-se do ponto A ao ponto B com rapidez e qualidade. Quanto mais distantes os dois pontos estiverem, pior será para o cidadão. A solução é diminuir a distância entre A e B. “Em vez de levar o filho para uma escola do outro lado da cidade, o bom seria ter um colégio de qualidade na vizinhança”, explica Hartmut. “Assim como viver e trabalhar perto facilitaria a vida das pessoas e diminuiria o fluxo para o Centro. O mesmo deveria acontecer com os setores de entretenimento, cinema, restaurantes, ter tudo perto de casa seria melhor”. No entanto, os dois especialistas da UnB concordam que a solução para o problema do trânsito não é apenas investir em transporte público. É necessária uma ação paralela, em que o poder público compense o uso de 40 « GPSBrasília

carro. “Brasília é o único lugar em que é possível estacionar no centro da cidade sem pagar nada. As pessoas dirigem de forma privilegiada e acham que é obrigação do governo dar estacionamento gratuito”, critica o professor Paulo. “Você não pode sair de casa e ir para o centro da cidade sem pagar nada. Se o estacionamento fosse tarifado, você cogitaria ir de ônibus ou de metrô”, concorda Hartmut. De fato, em março de 2017, o governador do DF, Rodrigo Rollemberg, autorizou o lançamento do edital de chamamento público para convocar empresas interessadas no sistema Zona Azul. Após 15 anos de debates, será que o brasiliense, enfim, começará a pagar para estacionar em vias públicas? Nesse momento, é mais válido clamar a São Cristóvão do que cantar Renato Russo. Se bem que, da Legião Urbana, cabe aquela outra música famosa, sabe qual? Que indaga sobre o País...



U C I T 42 « GPSBrasília

M I N E R

A D I A


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EMPREENDIMENTO

PREVISTO PARA SE TRANSFORMAR EM UM COMPLEXO TURÍSTICO EM DOIS ANOS, O AEROPORTO INTERNACIONAL DE BRASÍLIA JUSCELINO KUBITSCHEK ATUALMENTE É O MELHOR DO PAÍS. COM FLUXO DE 85 MIL PESSOAS POR DIA, OPERA UM VOO POR MINUTO COM POUSO E DECOLAGEM SIMULTÂNEOS. PARA OPERACIONALIZAR, STAFF DE 12 MIL PESSOAS POR ANDRESSA FURTADO « FOTOS SERGIO LIMA

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O principal acesso para a área do check in

Divulgação Inframerica

oucos minutos para o abraço de despedida. Um reencontro com o amado. Ou o saudoso amigo. O familiar que não vê há tempo. Um parceiro de negócio. A espera da vinda, o adeus da ida. O café entre uma escala e outra. A conexão interminável. Um simples local de passagem. Uma ferramenta de trabalho, um elemento da rotina. Mas para a grande maioria, o lugar de chegadas e partidas vem carregado de ansiedade e emoção. Numa das minhas visitas a esse portal que atravessa fronteiras, observei taxistas compenetrados à espera de passageiros. Balcões de check-in lotados, filas imensas. Passageiros sem tempo, tristes e felizes. Vivenciei uma briga de casal, uma mãe enlouquecida atrás do filho, dois idosos sentados lendo o jornal tranquilamente – e eles nem iam embarcar. Vi a moça da limpeza ouvindo música. Teve um beijo apaixonado. Pois bem, dessa vez, você não viajará num céu azul com nuvens brancas. A viagem de hoje é dentro do Aeroporto Internacional de Brasília Juscelino Kubitschek, considerado o melhor do País na categoria acima de 15 milhões de passageiros. O local recebe em torno de 50 mil pessoas diariamente, com fluxo de até 85 mil. Dirija-se ao portão de embarque. Última chamada. Documento, por favor. Bilhete em mãos. Vamos à nossa viagem ao Terminal que completa seis décadas este ano. O aeroporto é dividido entre Píer Norte e Píer Sul. O primeiro, com oito pontes de embarque. E o segundo, com dez. Duas salas VIPs, uma doméstica de 1,5 mil metros quadrados – em operação desde março de 2014 – e uma internacional – concluída em 2015. São 29 fingers e 3,3 mil vagas de estacionamento.

A Torre de Controle que monitora pouso e decolagem


Com área maior, aumento na quantidade de voos e pontos comerciais, a mão de obra do Terminal cresceu. Para que sejam processados 500 pousos e decolagens diários e garantir a operação 24h, 12 mil pessoas trabalham no sítio aeroportuário entre escalas diversas. Por ser um local de segurança máxima da Aviação Civil, todos os funcionários passam por um rígido processo de ingresso. Apresentam documentos de nada consta de órgãos públicos, submetem-se a exames médicos, recebem vacinas obrigatórias e passam por cursos de gerenciamento de segurança operacional ministrados por funcionários da Inframerica. Toda a operação é monitorada pelo Centro de Controle Operacional (CCO), por meio de 1,5 mil câmeras. Eles também organizam e determinam a posição de estacionamento de cada avião no pátio de aeronaves. Atualizam os painéis com informações de voos e portões de embarque e acionam equipes de manutenção e engenharia, quando necessário. O Centro de Operações Especiais (COE) atua em conjunto com o CCO. Essa é a equipe que aciona os militares da Força Aérea – que trabalham na torre de controle – em eventuais situações de risco relatadas pelos pilotos ou quando algum passageiro passa mal. Já a Seção Contra Incêndio (SCI) fica localizada no pátio de aeronaves e conta com bombeiros civis contratados e preparados pela Inframerica. Quando um avião pousa, os fiscais de pátio estão prontos para atender o piloto, guiando o avião até a posição de parada – movimento chamado follow me. São eles que sinalizam para o comandante o ponto de parada exata da aeronave e acoplam a ponte de embarque ao avião. Para finalizar o voo, os profissionais de handling retiram as bagagens do avião e as colocam nas esteiras. Ao mesmo tempo, outros profissionais chegam à aeronave para dar prosseguimento ao voo seguinte. Fazem abastecimento com combustível, entrega de alimentos, limpeza, checagem dos dados e informações do avião. Na área interna do local, também atuam profissionais nas mais de cem opções de alimentação e varejo espalhados pelo terminal aéreo e salas VIPs. Além disso, o posto médico do Aeroporto funciona 24h, com duas ambulâncias e profissionais de saúde disponíveis para eventuais acidentes. Quando um avião se prepara para decolar, os fiscais de pátio vigiam o procedimento de push back. Esse é o momento em que o avião segue para a área de manobra, taxiways e acesso à pista. Esse procedimento é orientado tanto pelos profissionais do aeroporto quanto pela Torre de Controle. Quando um avião parte, em pouquíssimo tempo outro chega, 24h por dia, todos os dias da semana. GPSBrasília « 45


A CONCESSÃO A Corporación América S/A detém 51% de participação na concessão para operar, reformar e ampliar o sítio aeroportuário brasiliense por 25 anos. “Quando iniciamos os estudos para a obra de ampliação, buscamos entender o perfil dos passageiros e suas necessidades. Vimos que o número de pessoas em conexão é alto e que a média de permanência no Terminal é de três horas. A partir daí elaboramos salas de embarque amplas e confortáveis. Construímos quatro Salas

A HISTÓRIA Cinco anos antes da inauguração da Capital do País, em 1955, o aeroporto já existia. Nomeado de Vera Cruz, ficava localizado onde, hoje, encontra-se a antiga Rodoferroviária. Três anos depois, foi transferido para o Lago Sul, endereço atual. O terminal de passageiros foi construído em madeira e serviu à cidade até 1971. Naquela época, recebeu toda a comitiva de Oscar Niemeyer e Juscelino Kubitschek, além dos candangos e dos fundadores da cidade. Era lugar comum para os pioneiros com família em outros estados. Foi assim para o trio Sylvio Schoellkopf, Carlos Elias e César Barney, integrantes da equipe do arquiteto que construiu Brasília. “O avião era de hélice e a poeira era grande”, relembra Sylvio. A primeira pessoa a sobrevoar o aeroporto foi Ada Rogato, pioneira na Aviação Civil brasileira. O avião B707 da Varig, vindo de Nova York, estreou a pista de pouso. Mas foi em 1990 que o aeródromo ganhou a forma atual com um corpo central e dois satélites para embarque e desembarque de passageiros. A primeira etapa, inaugurada em 1992, incluiu a construção do viaduto de acesso ao terminal de passageiros e a cobertura metálica, totalizando 11.726 metros quadrados. O satélite, edifício circular para áreas de embarque e desembarque, foi inaugurado em 1994, juntamente com nove pontes de embarque. 46 « GPSBrasília

VIPs e diversificamos a quantidade e a qualidade dos pontos comerciais”, explica o presidente do aeroporto, Daniel Ketchibachian. As expansões do Terminal aéreo e do pátio de aeronaves possibilitaram a acomodação de mais passageiros e o aumento na capacidade da pista para 60 voos por hora – a maior de pousos e decolagens do País. Nos horários de alta movimentação, é possível operar um voo por minuto. Inclusive, é o único da América do Sul a operar com pistas simultâneas e independentes. Ou seja, só aqui em Brasília aviões podem decolar e pousar ao mesmo tempo. Além disso, a capacidade de pista, a pontualidade praticada e a localização privilegiada fazem do Aeroporto de Brasília importante hub doméstico. Por ano, 46% do total de passageiros do País passam por aqui.


passageiro pode degustar vinhos tintos, brancos, rosés e espumantes de vinícolas como Emiliana, Cono Sur e Torrevento. Além de saborear finger foods preparados com os produtos Seleção La Pastina. “Acho que Brasília e o Aeroporto Juscelino Kubitschek mereciam um espaço enogastronômico como este”, afirma Liliane Rosa La Pastina, gerente de marketing do espaço. Outra dica interessante é o programa de fidelidade Win Club. A ideia é que os usuários, por meio de um cartão virtual baixado no aplicativo do terminal, possam ter direito a descontos de até 20% nas lojas participantes. Poucos sabem e valem a pena.

COMER, BEBER E RELAXAR Imagine chegar de viagem e ainda levar um pão quentinho para casa? Isso é possível. Localizada no piso de desembarque, Vitória é a primeira padaria inaugurada dentro de um aeroporto no País. Desde a expansão, a oferta de serviços aumentou 500%. Atualmente, são mais de cem opções entre gastronomia, varejo e serviços à disposição dos passageiros. “Fizemos pesquisas para entender o perfil comercial dos passageiros para melhorar o mix de produtos. Para este final de ano e início do ano que vem estamos atraindo novos pontos comerciais para o Terminal. Esperamos agradar nossos passageiros com mais ofertas”, conta Ketchibachian. Também foram inauguradas três lojas da franquia brasiliense Capital Steak House. O Mercado 153 já funciona na praça de alimentação. O tradicional Grão Café, em operação há quatro anos no Aeroporto, mudará para uma loja com dois andares. Outras marcas conhecidas do público chegaram ao terminal aéreo brasiliense. São elas: Delta Café, Juice Bar, Amor aos Pedaços, Wine Bar, Expresso Mineiro, Chopp Bar, Frau Bondan e Giraffas. A Dunkin’ Donuts abriu duas lojas e será a primeira operação da marca em um aeroporto brasileiro. Dica para os leitores é o quiosque da Wine & Co, no lounge de embarque da companhia aérea TAM. Nele, enquanto espera-se o próximo voo, o

O Red Lobster, marca americana de frutos do mar que tem a lagosta como carro-chefe, e a Hudson News, loja de conveniência conhecida nos Estados Unidos, iniciaram a operação em Brasília pelo Terminal aéreo. A Dufry inovou com o formato de venda em walk throught. Ou seja, para chegar ao portão de embarque o passageiro passa por dentro do estabelecimento, um modelo até então inexistente no País. Aos que querem relaxar, os sócios Pedro Ribeiro e Vinícius Santana inauguraram o AeroSPA. “Temos como foco pessoas que viajam com frequência. Como o aeroporto ainda tem poucas opções para passar o tempo, os passageiros preferem vir aqui relaxar”, analisa Pedro, com SPA localizado no mezanino, perto do portão 20. Entre os serviços massagens, corte de cabelo, manicure, pedicure. GPSBrasília « 47


Em Brasília, os aviões podem decolar e pousar ao mesmo tempo

TRATAMENTO VIP

DE OLHO

Que tal tomar uma ducha entre um voo e outro e até tirar aquela soneca entre longas conexões? A Sala VIP doméstica proporciona isso. “Realizamos uma pesquisa com sete mil passageiros para identificar os principais desejos de quem viaja. A Sala VIP foi planejada com base nestas informações e tendo o aeroporto de Dubai como inspiração”, conta o presidente. Foram criadas cabines privativas de tevê com pacotes de canais a cabo e banheiros com duchas. Além de salas de reuniões equipadas com conference calls, business center equipado com iMacs e computadores HP de última geração e até um minicinema. Para comer e beber, buffet à vontade. Além de Espaço Kids e internet Wi-fi. Tudo incluso na tarifa de acesso. Os funcionários? Todos bilíngues, auxiliam na circulação média de 400 pessoas por dia. Como ficam localizadas no meio do aeródromo, outras duas salas Express foram construídas, uma em cada extremidade, para maior comodidade dos passageiros. Os ambientes funcionam todos os dias, incluindo feriados, de 6h a 0h. Na mesma linha, a Sala VIP Internacional possui 315 m² e fica localizada no piso inferior do satélite. Recebe até 81 passageiros ao mesmo tempo. Oferece os mesmo serviços da área doméstica, enquanto espera a reforma programada para este ano.

Lançado recentemente, a Receita Federal implementou o Sistema de Reconhecimento Facial (SRF), cujo objetivo é coibir crimes aduaneiros. O passageiro faz o check-in no exterior e, assim que o avião decola, a companhia aérea envia seus dados para a Receita Federal, que efetua o cruzamento dessas informações com o banco de dados – renda declarada, ocupação, frequência e natureza das viagens realizadas, entre outros. Um sistema de gerenciamento de riscos analisa o perfil da pessoa. Na hora da inspeção, o viajante, se suspeito for, é encaminhado para a verificação aduaneira pela Receita Federal. O programa também permite a integração com bancos de dados de outros órgãos de controle de fronteira e segurança, como Polícia Federal, Interpol e Agência Brasileira de Inteligência. “Com esse sistema, o objetivo da Receita Federal é identificar passageiros com potencial de praticar irregularidades aduaneiras, assim como tornar mais eficaz a fiscalização contra os crimes de contrabando, lavagem de dinheiro, descaminho e tráfico internacional de drogas”, explica o auditor fiscal Felipe Mendes Moraes, da divisão de Controles Aduaneiros Especiais.

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Divulgação Inframerica

Presidente da Inframerica, Daniel Ketchibachian, anuncia reformas que deixarão o local com mais opções de lazer

O TERMINAL JK Em entrevista, o presidente da Inframerica Daniel Ketchibachian anuncia nova estrutura, que comportará 280 lojas, oito restaurantes de alto padrão, quatro mil vagas de estacionamento, dois hotéis, dois edifícios de escritórios, cinema e academia O Aeroporto será transformado em um complexo turístico. Qual a previsão para a conclusão da reforma e quais novidades teremos? A primeira etapa do projeto terá início no segundo semestre deste ano. No primeiro momento serão realizadas as obras no Terminal Internacional e no Terminal JK. O primeiro será conectado ao satélite e ampliado em uma área de nove mil metros quadrados, aumentando a quantidade de pontes de embarque de quatro para oito. Do total, 1,5 mil m2 será destinado a serviço e gastronomia. Com as obras, o aeródromo passa a ter capacidade para receber até 1,5 milhão de passageiros internacionais por ano, 130% a mais do que o comportado atualmente. Já o Terminal JK, como será chamada a nova infraestrutura, terá 303 mil metros quadrados e comportará 280 lojas, 30 opções de fast food e oito restaurantes de alto padrão. Além disso, estão no projeto um edifício garagem com capacidade para quatro mil vagas

de estacionamento, dois hotéis, dois edifícios de escritórios, cinema, academia e áreas destinadas ao descanso. Qual a expectativa da Inframerica após a conclusão da reforma? Prevemos um período de dois anos para a conclusão das obras. Ao final, o que realmente nos interessa é aprimorar a experiência do passageiro, seja por causa do conforto proporcionado, seja pelas novas opções de compras e alimentação propostas. Qual o posicionamento da Inframerica sobre o aumento do trânsito e impacto urbano no bairro onde o aeroporto encontra-se? Desde as etapas de planejamento para viabilidade do projeto, o Aeroporto de Brasília está em contato com os órgãos competentes. Pretendemos trazer benefícios aos moradores da região e melhorias, como aumentar o acesso ao sítio aeroportuário. Quantos empregos serão gerados e qual a importância de um projeto desse porte para a economia local? As obras empregarão mais de dez mil operários. Após a conclusão, ofertará mais de 13 mil novos empregos. Um empreendimento como esse gerará novos serviços e opções culturais e comerciais aos brasilienses. GPSBrasília « 49




EXTERIOR

O embaixador russo Sergey Akopov e sua mulher, Luybov Akopova, são encantados com o Brasil

Arcos dourados separam os salões principais

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Mural do artista Zurab Tsereteli da capital Moscou


O prédio é o lar do casal embaixador, dos funcionários e de 35 crianças

UM CZAR NO CERRADO O MAIOR PAÍS DO MUNDO TEM SUA IMPONÊNCIA HISTÓRICA REPRESENTADA NO PLANALTO CENTRAL. DESDE 1974, A EMBAIXADA DA RÚSSIA MOVIMENTA O CORPO DIPLOMÁTICO COM ENCONTROS POLÍTICOS E CULTURAIS POR PEDRO LIRA « FOTOS CELSO JÚNIOR

M

atrioscas nas prateleiras anunciam: estamos em território russo. Ironicamente, estamos em Brasília também. Com exclusividade, nossa equipe conheceu a Embaixada Russa na Capital Federal. Inaugurada em 1974, o local é o lar doce lar para cem russos da delegação na cidade, incluindo o embaixador Sergey Akopov e a embaixatriz Lyubov Akopova. O local preserva com afinco a cultura do maior país do mundo em extensão, 17 milhões de km², com a nona maior população: 142 milhões de habitantes. Em seu em seu perímetro – na quadra 801 da Asa Sul – área residencial, duas piscinas, jardins, sala de cinema e até escola para as 35 crian-

ças que vivem no local. Na área verde, atividades ao ar livre, como ioga e pilates, fazem parte da rotina da comunidade. Logo na entrada do prédio, os visitantes são recebidos por uma enorme escadaria redonda de mármore. A decoração minimalista é luxuosa nos detalhes, a começar pelos imponentes lustres pendurados no teto de madeira. No segundo andar, o salão nobre recebe, nos grandes eventos, até 500 pessoas. É claro e arejado. O local é circundado pela sacada, que percorre toda a lateral do espaço, com vista para os jardins. A embaixada é conhecida na comunidade internacional por receber visitas de figuras importantes, incluindo os presidentes Vladimir Putin, José Mujica do Uruguai e Cirilo I, cardeal da igreja Ortodoxa Russa – principal religião do país. À frente de todos os eventos e recepções está a embaixatriz Lyubov Akopova. Anfiriã zelosa e dedicada, a começar pelo próprio nome. Lyubov significa amor em russo. Com afinco, participa das ações no Grupo de Cônjuges e Chefes de Missão (GCCM), composto por mulheres de embaixadores. Elas são responsáveis, por exemplo, pela Feira das Embaixadas. Na edição de 2016, a Rússia trouxe à Capital Federal o grupo de escola do Teatro Bolshoi, de Santa Catarina, com fortes apresentações de dança folclórica russa e balé clássico. GPSBrasília « 53


Escadaria de mármore leva os visitantes aos luxuosos salões

IMPONÊNCIA Dois painéis de cobre do artista russo Zurab Tsereteli decoram cada qual um ponto do salão principal. O primeiro exibe, em um só enquadramento, os principais pontos turísticos da capital Moscou. Entre eles, Kremlin, Museu Histórico, Catedral de São Basílio, Hermitage. O segundo quadro mostra o poderoso sol russo, bem ao centro da obra, esquentando e nutrindo todas as outras repúblicas soviéticas representadas ao redor. Na época em que a embaixada foi construída em Brasília, início da década de 1970, Zurab era jovem e pouco conhecido. Hoje, aos 83 anos, o artista é famoso mundialmente, além disso, é professor e diretor da Academia de Artes da Rússia, desde 1997. Entre os trabalhos grandiosos, assina na praça de Moscou a oitava maior estátua do mundo, com 93 metros, de Pedro, o Grande – czar e imperador russo.. No segundo grande salão são realizados os três maiores eventos da embaixada. O Dia da Rússia, comemorado em 12 de junho, é o principal evento do local. Recebe não apenas os integrantes da embaixada, mas conterrâneos e simpatizantes russos. A segunda maior celebração é a Festa da Grande Vitória na Guerra Patriótica, em 9 de maio, quando a vitória contra o nazismo, durante a Segunda Guerra Mundial, é relembrada. O terceiro grande evento que enche o espaço é o Dia do Defensor da Pátria, celebra54 « GPSBrasília

Sala de cinema recebe festivais russos

do em 23 de fevereiro, busca honrar e agradecer os feitos dos homens da nação, principalmente durante as guerras. Além destas, coquetéis menores festejam o Ano Novo, o Natal ortodoxo (7 de janeiro), e até um pequeno festival de Maslenitsa, em que a população recebe a primavera e tem como tradição comer uma espécie de panqueca feita de ovo, leite e manteiga. A produção cultural também é fomentada. Em eventos mais informais, a casa promove mostras de filmes russos e participação forte na anual Feira das Embaixadas. Os dois salões principais – o maior e o menor – são são separados por portas emolduradas por arcos dourados. Na


Sala de reuniões é palco de importantes encontros como os do bloco BRICS

Simpáticas matrioskas decoram o local

armação, decalques apresentam a cultura russa, como a balalaica – popular instrumento musical do país –, criaturas místicas da cultura folclórica, pratos típicos e representações de costumes, como beber chá em família.

TEMPLO DE REUNIÕES No térreo, o clima é sério, porém sofisticado. As três salas de reuniões possuem decoração minimalista. Uma matrioska aqui, outra acolá, pequenas bandeiras, gzhels – jogos de chá em cerâmica pintadas à mão – e khokhlo-

mas (peças de madeira) enfeitam os poucos aparadores do ambiente. A numerosa tapeçaria está por todos os cômodos. Conta a história que, na década de 1960, camponeses mudaram-se para apartamentos de baixo custo nas cidades. Como as paredes dos prédios eram finas, a solução encontrada por eles foi pendurar tapetes de lã nas paredes como forma de isolamento térmico e acústico. Hoje, além de manter a tradição, é sinal de status social. A sala de reuniões para assuntos mais simples é a primeira. Apenas com a decoração básica. No ambiente seguinte, as maiores decisões políticas são tomadas. Por exemplo, a mesa de 22 lugares recebeu em 2014 as reuniões bilaterais dos BRICS, o bloco econômico que inclui Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Nessa reunião, o presidente Vladimir Putin movimentou a rotina da Embaixada, que teve seu salão superior tomado pela imprensa internacional. A terceira sala funciona como um ambiente reserva, caso as outras salas não estejam disponíveis. Possui uma mesa menor e teto em formatos quadrados, populares em casas do interior russo.

VISTO

Brasil e a Rússia possuem um acordo de isenção de vistos de curta duração desde 2010. Tanto russos quanto brasileiros podem permanecer no país do outro por período não superior a 90 dias, a cada intervalo de 180 dias.

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ENTREVISTA

POR PEDRO LIRA « CELSO JÚNIOR

P

ela terceira vez em missão no Brasil, o embaixador Sergey Akopov é apaixonado pelo País. Há sete anos em Brasília, não pretende tão cedo pegar outra missão. Atualmente, Sergey passa a semana na Embaixada. Nos finais de semana e feriados vai para sua casa no Lago Norte. Casado com a embaixatriz Lyubov Akopova, possuem duas filhas adultas que vivem na Rússia. Anualmente, uma vez de férias e outra para o encontro de embaixadores, o casal viaja ao país de origem para matar a saudade.

Em sua terceira missão no Brasil, o que mais o atrai no País? Sou apaixonado pelo Brasil. Gosto de tudo aqui. É difícil escolher apenas uma coisa. No entanto, destaco as pessoas. A atitude do brasileiro de ajudar, a receptividade, a alma aberta. Existe aquele ditado que diz que o brasileiro tira a própria camisa para ajudar o próximo e eu vi muito disso aqui. Acho que nesse aspecto os nossos povos são parecidos.

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Celso Junior

O senhor gosta da expressão “o Brasil é uma Rússia tropical”? A primeira vez que ouvi essa expressão foi do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em 2001. Na véspera de sua viagem à Rússia, ele deu uma entrevista e disse isso. Eu não poderia concordar mais. São países parecidos em tamanho, população, recursos naturais e até nas grandes florestas. A diferença é que a Rússia é fria e o Brasil está na faixa tropical.

SERGEY, UM EMBAIXADOR APAIXONADO


“QUANTO MAIS OS POVOS SE CONHECEM, MAIS SE CRIA A ATMOSFERA DE PAZ. É BASICAMENTE ESSE O TRABALHO DE UM EMBAIXADOR, INTERMEDIAR CULTURAS” Sergey Akopov, embaixador da Rússia em Brasília

O que acha de Brasília? Adoro a vida aqui. A cidade é especial e posso garantir que não conheço outra capital no mundo que seja assim. É um excelente lugar para viver em família, o ambiente é limpo, seguro e tranquilo, além de uma natureza linda ao redor. É a única capital do mundo em que você acorda e consegue ouvir o canto dos pássaros. Admiro muito o Parque da Cidade. Eu adoro ir àquele lugar e ver como as pessoas gostam de praticar esportes. Eu, sempre que possível, caminho por lá. A cidade mudou muito de 1983 para cá. Naquela época, quando chegava o final de semana, as pessoas voltavam para Rio e São Paulo, principalmente. Hoje não. Existe uma geração que vê Brasília como um lar, investe na cultura e no modo de vida próprio, como nós da embaixada. Além de Brasília, conhece outras regiões do País? Gosto muito de viajar de carro. Já visitei grande parte do Brasil pelas estradas. Conheço grande parte da região Sul, mas, também adoro as praias do Nordeste. Nessas experiências, percebi como o País é multicultural. Existem vários “brasis”. Na Rússia também é assim, diferentes sotaques e costumes. Somos muito ricos em diversidade. O senhor sente falta da Rússia? Lógico. Sinto falta de várias coisas, detalhes da vida russa. Por exemplo, o trigo sarraceno, muito comum na nossa terra, simplesmente não existe por aqui. Outra coisa

é o pão preto. O de vocês é bom, mas, não é a mesma coisa do nosso. Saindo da gastronomia, a neve. Sinto falta de sair de casa em um dia com o sol fresco e ver tudo coberto pelo branco da neve, é lindo. Dá muita saudade. Quanto à saudade das pessoas, essa é mais fácil. As novas tecnologias nos permitem conversar com amigos e familiares do outro lado do mundo como se estivessem no quarto ao lado. O Brasil recebeu a última edição da Copa do Mundo. A próxima, de 2018, será na Rússia. O que acha desse mega evento no seu país? Do ponto de vista econômico é muito positivo. Turistas movimentam grande quantidade de dinheiro. Além disso, é uma oportunidade para a infraestrutura esportiva melhorar e o esporte tornar-se prioridade. Muitos estádios serão construídos ou revitalizados. Foi o que aconteceu com o Brasil e também está acontecendo com a Rússia. Entretanto, nesses eventos o país tem a chance de mostrar para o mundo a sua cultura e costumes. Os turistas vão conhecer outras pessoas, fazer amigos. Isso é importante para a paz mundial. Quanto mais os povos se conhecem, mais se cria a atmosfera de paz. É basicamente esse o trabalho de um embaixador, intermediar culturas. Sobre a atmosfera de paz mundial, como o senhor analisa o novo cenário político, considerando a relação entre os presidentes Vladimir Putin e Donald Trump? A Rússia está sempre pronta para trabalhar com qualquer governo que o povo dos Estados Unidos eleger. Nós, como governo, não temos simpatia nem por um e nem por outro político. A expectativa é que o novo presidente faça esforços para melhorar as relações bilaterais com todos os países. A Rússia irá cooperar e trabalhar com o novo governo sempre partindo do respeito mútuo e da posição de igualdade. Essa posição aplica-se ao novo presidente do Brasil, Michel Temer? No Brasil, nossas relações são de caráter estatal, independente de um ou outro partido político no poder. Os dois presidentes tiveram contato proveitoso na última reunião do BRICS. Temos um mecanismo montado de relações bilaterais, criado em anos anteriores, que continua funcionando. Mantemos a esperança de que tudo continuará bem e abriremos mais as possibilidades de cooperação econômica, política e tecnológica. Assim, Brasil e Rússia têm um contato muito bom e, como Temer já anunciou, continuaremos desenvolvendo nossa relação. GPSBrasília « 57


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DESTINO

Vilarejo Sergiev Posad

É IMPRESSIONANTE O PAÍS DA COPA DO MUNDO EM 2018 TEM DUAS DENTRE AS MAIS PORTENTOSAS METRÓPOLES DO GLOBO, AS IMPERIAIS MOSCOU E SÃO PETERSBURGO. VAMOS DESVENDÁ-LAS EM DETALHES COM A CONSULTANT PAÔLA MANSUR FLECHA DE LIMA POR PEDRO LIRA

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Rússia chama a atenção do mundo por sua imensidão geográfica e diversidade cultural. Arquitetura, clima, costumes, história… Quase tudo é novidade para os ocidentais. São mais de 160 diferentes grupos étnicos e povos indígenas no país, como eslavos ou turcomanos. Na religião, há ortodoxos e pagãos. Um verdadeiro deleite aos curiosos. Em especial, duas cidades valem a visita: a capital, Moscou, e a metrópole São Petersburgo. Para orientar a visita ao país asiático, a consultora no turismo de luxo, Paôla Mansur Flecha de Lima, catalogou dicas imperdíveis aos leitores da GPS|Brasília. Apaixonada por viagens, o hobby da jovem foi herdado dos avós. “Desde os cin-

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co anos, eu viajo pelo mundo. Eles me levavam para todos os lugares”, relembra. Sempre atenta às novidades do setor, há dois anos, Paôla integra o time de independent consultants da Teresa Perez Tours, agência especializada em viagens premium. Paôla começa as dicas pela capital Moscou. A cidade é o centro político, econômico, cultural, científico, religioso, financeiro e educacional da Rússia e do continente asiático. No extremo norte do globo terrestre, a temperatura varia de -25°C a 0°C. Por outro lado, no verão, o clima ameno oscila entre 15°C e 30°C. Por isso, a dica ao turista é visitar o país em setembro, no outono.


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Catedral de São Basílio

CAPITAL PARA AMAR

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Galeria Tretiakov

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O coração de Moscou é a Praça Vermelha. Os principais pontos turísticos da cidade ficam ao redor dela. Entre as atrações, o grandioso Kremlin é o must go. Os principais escritórios do governo russo ficam no prédio, incluindo a sala Diamond Fund, onde é possível conferir as magníficas joias da coroa russa. A Gum – maior rede de lojas de luxo do país asiático – e o Museu Central da História Contemporânea da Rússia, conhecido como Museu da Revolução Russa também curcundam a praça. Outro cartão-postal da capital é a Catedral de São Basílio. Colorida com suas capelas abauladas, a construção data do século XVI. É o grande centro religioso da Igreja Ortodoxa Russa.

Teatro Bolshoi

CULTURA PARA ENCANTAR Programação imperdível para quem visita a capital russa é assistir algum espetáculo no Teatro Bolshoi – que em russo significa O Grande Teatro. Com bilheteria sempre lotada, é imprescindível comprar os tíquetes com antecedência. Desde a Idade Média, a arte circense foi uma das expressões artísticas favoritas do povo russo. Por isso, boa pedida é visitar o Circo de Moscou. Os espetáculos misturam humor, apresentações de malabares e espetáculos com animais selvagens. A Galeria Tretyakov é referência em arte russa. O prédio com 62 salas distribuídas em dois andares abriga mais de 170 mil trabalhos. Os artistas russos contam a história do país, passeiam por pinturas, desenhos e esculturas, desde o século Xl até a contemporaneidade.

Circo de Moscou

Para fechar o tour cultural, uma visita à Maquete do Mosteiro Novodevichy – antigo convento no qual mulheres nobres moraram. O local lembra o Complexo de Kremlin e possui uma das mais lindas catedrais ortodoxas dedicada à Nossa Senhora de Smolensk. O passeio ainda pode render bons insights. A construção fica ao lado do lago que inspirou Tchaikovsky a compor a música O Lago dos Cisnes. GPSBrasília « 59


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Divulgação

Ritz Carlton

PALADAR PARA AGUÇAR A gastronomia tem como prato típico algo bem familiar aos brasileiros: estrogonofe. A história do prato data de quando era difícil conseguir pedaços grandes de carne. Um homem, de sobrenome Stroganov, cortou o alimento em pedacinhos e adicionou molho, para render. Acompanhado de batatas, o prato é encontrado facilmente em restaurantes russos. No caso de uma experiência única, O2 Lounge é um restaurante em estilo descolado e com gastronomia japonesa. Está localizado no topo do hotel Ritz-Carlton, no melhor estilo rooftop. Na hora do café, o Vogue Cafe é famoso por receber celebridades e grandes nomes da moda. O forte são os macarons para sobremesa. Outro café interessante é Puchkin. Tradicional em Moscou, é possível ficar em um lounge com os amigos, um espaço reservado para jantares românticos ou até curtir uma noite agradável de verão na sacada. A dica é pedir o russian degustacion, Em Moscou, o melhor meio de locomoção opção com os cinco é o metrô. Chamadas Palácios para o Povo ou Papratos mais tradilácios Subterrâneos, a arquitetura das 196 estações é cionais russos. considerada ponto turístico da capital, tamanha a beleza. Para quem quer O líder soviético Josef Stalin queria relembrar aos usuáalgo mais animado rios que o Partido Comunista estava fazendo algo para a na vida noturna, população. Ordenou que arquitetos e artistas criassem a pedida é o Soho cima ou no de baixo. Essa é a casa mais algo fabuloso. Curiosamente, algumas estações Rooms. O ideal é repopular de Moscou e virou ponto de enconchegam a 65 metros de profundidade. Foram servar mesas, por volta tro de celebridades e dos milionários russos. construídas para servirem como abrigo das 22h30 e após o jantar O restaurante é cinco estrelas e a boate é concontra ataques aéreos em tempos ir para a balada no andar de siderada uma das melhores do mundo. de guerra.

METRÔ PARA ADMIRAR

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Tsar Restaurante Grand Hotel Europa

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Fotos: Divulgaçã

Restaurante Teplo

PRATICIDADES Kupetzeliseevs Store

PETERS PARA GLAMORIZAR

Rublo é a moeda usada na Rússia. Atualmente, USD 1 corresponde a RUB 58. A recomendação é viajar com cartão de crédito ou dólar e fazer o câmbio por lá. Pode levar Euro, mas a aceitação do dólar é maior. Para se ter uma ideia de valores, ir ao cinema em Moscou custa, em média, 900 rublos e mais uns 800 para a pipoca. Não à toa a capital russa é uma das cidades mais caras do mundo.

O idioma falado é o russo mesmo. Quase Terrasa Restaurante ninguém fala inglês, a não ser os mais jovens, que começam a se interessar por outras São Petersburgo, Peters línguas por causa da Internet. Por isso, ou Veneza do Norte, a segunda se você não fala russo, um guia mimos que o torna ainda mais agradável maior cidade da Rússia, é uma das turístico cai bem.

mais populares do país. Cortada pelo rio Neva – o terceiro maior rio europeu em termos de volume de água, após o Volga, na Rússia, e o Danúbio, na Alemanha – é suntuosa, grande e cheia de palácios dourados. Transpira o imperialismo russo e tem a assinatura dos grandes czares em cada uma das construções. A metrópole foi erguida no tempo em que o país buscava assemelhar-se aos admirados vizinhos europeus, como França e Inglaterra. Sob o comando de czares poderosos e vaidosos, São Petersburgo foi erguida para ser uma janela da Rússia para a Europa. A intenção era fazer dos costumes, da arquitetura e do modo de vida mais finos, requintados e luxuosos do que no restante do país. Entre as dicas de Paôla Mansur, para curtir a cidade de tanto luxo, ficar hospedado no Grand Hotel Europa é como sentir-se um dos próprios imperadores. Conhecido como Hotel Evropeiskaya durante o período soviético, é um dos três mais luxuosos em São Petersburgo. Um dos

é o brunch farto e saboroso, acompanhado pelo ritmo de um piano de calda . Na parte do turismo gastronômico, Peters não fica atrás em relação à Moscou. Terrassa é um restaurante que não pode ficar fora do roteiro. Com uma incrível vista da cidade, ar alegre e descontraído, serve pratos da culinária local e internacional. O restaurante Teplo destaca-se pelo requinte da alta gastronomia. O ambiente moderno e descolado é ponto de encontro de locais e turistas. No entanto, se a pedida for uma refeição mais elaborada para ocasiões especiais, a dica é o restaurante Tsar, um dos mais chiques da cidade. A comida é inesquecível e o clima representa bem a finesse de São Peters. Para refinar o dia, a inigualável Kupetzeliseevs Store, doceria e loja gourmet que encanta até os mais entendidos da gastronomia. Com uma enorme variedade de macarons, cookies, carnes especiais, doces, queijos e pães, tem ares de café e é movimentada a qualquer hora do dia.

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Museu Hermitage

Celso Junior

Palácio de verão da Catarina Chiakto / Shutter

PALÁCIOS PARA OSTENTAR Entre as construções mais ricas e importantes do mundo – comparada ao Taj Mahal da Índia, por causa da imponência – está o Palácio de Verão da Catarina ll, construído em 1717, em estilo rococó. A primeira OBRA DE mulher a governar a Rússia, em 1725, ARTE mandou construir palácios apenas para descansar e exibir ao mundo Diz a lenda que um carpinteiro russo sentia-se muito sozinho. Por isso, decidiu a enorme riqueza do país. Outra esculpir uma boneca num belo pedaço de construção de destaque ordenada madeira. Todos os dias, ele conversava com sua por ela é o Palácio de Pavlovsk, Matrioska – diminutivo de matrona – até que ela o Símbolo de fertilidade: as matrioskas respondeu dizendo que gostaria de ter um filho. presente dado ao seu filho Paulo l. Em sequência, todas as outras bonecas também Foi uma das principais residências queriam filhos. Depois de seis exemplares, da Família Imperial da Rússia e exidecidiu que a última seria um homem. Dessa forma, desde 1890, é tradição familiar as be com magnitude o estilo de vida de Considerado um dos melhores mumães presentearem as filhas com governantes tão ostentadores. seus do mundo, o Hermitage, possui boneca russa, símbolo de fertilidade. Sua filha, Isabel, seguiu os passos da mais de três milhões de peças no acervo, mãe. Não apenas ordenava a construção dos de diferentes momentos da história mundial. palácios, como adorava cobri-los com pedras preciosas. Além das obras, o palácio é uma obra de arte viva. O Apenas o Palácio de Verão da família recebeu mais de cem complexo de 10 prédios ao longo do rio Neva foi construído quilos de ouro revestindo esculturas e estátuas incorporadas ao em 1754. O objetivo da imperatriz Elizabeth Petrovna era prédio na parte interna e externa. ofuscar todos os outros museus da Europa. Entre os prédios Outro czar marcante na história russa, Pedro, o Grando local, destaque para o Palácio de Inverno, morada dos de, construiu o Peterhof, complexo de palácios e jardins principais czares russos por mais de 150 anos. Incluindo erguido no século XVlll. A pouco mais de um hora e meia Catarina, a Grande, e a famosa família Romanov. do centro de São Petersburgo, e passeio para passar o dia, Inclusive, a Casa Romanov governou o Império Russo o local é comumente conhecido como Versailles Russo – por oito gerações entre 1613 e 1762. Foi a dinastia mais em referência ao palácio francês. importante do país, que criou e consolidou o Império RusNa parte cultural, é obrigatória uma parada no teatro so, transformando-o em um Estado poderosíssimo. Entre Teatro Mariinsky – conhecido como Ballet Kirov, durante 1762 e 1917, a Rússia foi governada por uma ramificação o período soviético. Erguido no século XIX, é palco para da Casa de Oldenburgo, que manteve o sobrenome Romanov. Até hoje o nome é utilizado por seus descendentes. espetáculos de ópera e balé consagrados. 62 « GPSBrasília

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Fotos: Ique Esteve

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CINEMA

LAVA JATO

A HISTÓRIA POR TRÁS DOS FATOS A MAIOR OPERAÇÃO QUE A HISTÓRIA DO PAÍS JÁ VIVEU SERÁ UMA TRILOGIA COM ÓTICA INÉDITA, CONDUZINDO O ESPECTADOR POR DENTRO DA ROTINA POLICIAL. O ROTEIRO RELATA A INVESTIGAÇÃO COM ANGÚSTIAS E MEDOS DE QUEM VIVE OS BASTIDORES DESSA GRANDE TRAMA DA VIDA REAL POR FLAVIA MEDEIROS

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m thriller policial sem viés político e com fortes emoções. É assim que Tomislav Blazic, produtor do filme Polícia Federal – A lei é para todos, define sua obra, com estreia prevista para 7 de Setembro, dia da Independência do Brasil. O que muitos talvez não saibam é que Blazic não pensava em fazer um filme sobre a operação. “Estava preparando algo sobre tráfico de drogas e armas quando começou a Lava Jato, que foi ganhando

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vulto e se tornou a maior operação de combate à corrupção do mundo. Precisava contar essa história”, revela. A película é baseada no livro que está sendo finalizado pelos jornalistas Carlos Graieb, ex-editor da revista Veja, e Ana Maria dos Santos, que conta os bastidores da Lava Jato sob o ponto de vista da Polícia Federal, em forma de romance. Contudo, “o filme não tem viés político. Trilhamos o caminho investigativo, inspirado em como os americanos pro-


Marcelo Serrado

Leonardo Medeiros e Bruce Gomlevsky

CONVERSA DE BASTIDOR

Bruce Gomlevsky

Flávia Alessandra

duzem roteiros sobre o FBI”, ressalta Blazic. Orçada em R$ 15 milhões, a produção mantém em sigilo os investidores, limitando-se a dizer que não houve uso de verba pública. O filme começa com a apreensão da PF a um caminhão carregado de palmito e 697 kg de cocaína, na Operação Bidone, em 2013. Essa investigação paralela chegou a Alberto Youssef. Preso, o doleiro revelou o esquema que deu origem à Lava Jato. O final da película será marcada pela 24ª fase da operação, que culminou no depoimento coercitivo do ex-presidente Lula à Polícia Federal, quatro meses antes de o político virar réu. Para Tomislav Blaziac, uma das maiores dificuldades encontradas no sentido da produção é gravar um longa-metragem sobre uma história que ainda está acontecendo, sem desfecho sinalizado. “É um desafio e, ao mesmo tempo, é instigante”, diz. Ele adianta que o filme – com 2 horas e 10 minutos de duração – será o primeiro de uma trilogia. “São muitos acontecimentos e não teríamos como contar tudo de uma vez só. Já iniciamos a fase de pesquisa para a continuação”, sinaliza.

Muito do que o público conhece sobre a Lava Jato vem das notícias divulgadas pela imprensa. Normalmente, logo depois que alguma prova aparece ou alguém é preso. A ideia do filme, segundo os produtores, é trazer uma ótica inédita, conduzindo o espectador por dentro da operação, lado a lado com o grupo de investigadores, compartilhando os temores e as angústias deles. “Ao final, o público verá que descobriu uma série de detalhes que desconhecia sobre a Lava Jato”, alerta o diretor Marcelo Antunez, que também dirigiu as comédias Até que a Sorte nos Separe 3: A Falência Final e Um Suburbano Sortudo. Para garantir o tom investigativo, a PF atuou como fonte primária nas informações. “Entrevistamos os investigadores várias vezes para tentar extrair a linha de raciocínio deles, o sentimento que tinham a cada descoberta. Quais foram as hipóteses formuladas em cada momento. Os medos, as angústias, os conflitos internos”, diz Antunez. “Conversamos com cada delegado presente nas principais operações, que nos relataram em detalhes tudo que aconteceu”, completa. Para o diretor, mais do que duas horas de entretenimento, a obra é uma oportunidade de manter vivo o debate sobre questões políticas, com foco no respeito às leis – de modo que sejam aplicadas a todos, sem distinção. “Vivemos muito tempo sem conversar sobre política. É hora de mudar isso e debatermos o assunto à exaustão. Precisamos exigir que todas as instituições existam para promover o bem do povo e não o contrário”, defende, deixando clara a mensagem do filme. Se a ideia é promover o debate, a película cumpre esse papel antes mesmo de estrear no cinema. Isso porque a operação Lava Jato toma conta dos jornais e gera reflexos imediatos no público e no meio político a todo instante. Com o longa-metragem não foi diferente. Nesse ponto, Antunez foi enfático: “O público parece muito envolvido, dada a repercussão que o filme tem tido na mídia. Quanto aos políticos… estes não parecem estar tão interessados assim”.

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Fotos: Ique Esteve

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Diretor Marcelo Antunez no set de gravação. Ao lado, Marcelo Serrado na pele do juiz Sérgio Moro

NOVE SEMANAS E GRANDE ELENCO Ary Fontoura faz o papel do ex-presidente Lula na trama. Flávia Alessandra é a delegada Erika Marena e Antonio Calloni o delegado Ivan Romano. Rainer Cadete interpreta Deltan Dallagnol, procurador da força-tarefa da Lava Jato, e Marcelo Serrado vive o juiz Sérgio Moro. O elenco com mais de 70 atores, entre principais e coadjuvantes, teve cerca de dois meses para a preparação dos personagens. As filmagens ocorreram em Curitiba, em São Paulo e no Rio de Janeiro. “Procuramos espaços que remetessem visualmente aos locais reais”, conta o diretor Marcelo Antunez. As filmagens do exterior da Superintendência da Polícia Federal ocorreram em Curitiba, que é o epicentro da operação. As duas cenas que estavam previstas para serem gravadas em Brasília foram transferidas para São Paulo, por conta dos custos de produção e da logística envolvendo o transporte de equipamentos. Em São Paulo, foram feitas cenas externas nas avenidas Paulista e Brigadeiro Faria Lima, endereços representativos do poder financeiro, alvos da 7ª fase da operação. A principal locação na capital paulista foi o Pavilhão das Autoridades no Aeroporto de Congonhas, local real onde ocorreu o depoimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. As demais filmagens se deram no Rio de Janeiro, por conta da facilidade de produção junto à produtora carioca New Group Cine & TV Ltda. As gravações começaram em outubro de 2016. Pararam entre as festas de final de ano e retornaram após o Réveillon, encerrando-se no início de março. “Foram nove semanas de filmagem”, conta o diretor.

“O MORO É UMA GRANDE FIGURA” MARCELO SERRADO, o juiz No filme Polícia Federal – A lei é para todos, o ator Marcelo Serrado interpreta o juiz Sérgio Moro. Para os leitores do GPS|Brasília, o ator contou como foi a preparação para o papel. Com relações próximas na

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Capital Federal, Serrado foi casado com a atriz Rafaela Mandelli, brasiliense, com quem tem uma filha, além de tios e primos que residem na cidade. Como foi representar o juiz Sérgio Moro, uma pessoa que, de certa forma, mudou a história política do País? Muito bom. A meu ver é uma pessoa comum que está tentando fazer o trabalho dele da melhor forma possível. O que mais lhe chamou atenção ao interpretar o personagem? Chegou a sofrer alguma retaliação? Na verdade, o Moro aparece pouco no filme. Os personagens principais são os investigadores. O desafio foi tentar me aproximar de algo real, vivo, de quem todo mundo conhece o rosto e os trejeitos. Tentei ser o mais simples possível. Não sofri nenhuma retaliação, só recebi apoio. Como foi a pesquisa para compor o personagem, conversou com o juiz? Tentei chegar o mais próximo do jeito dele. Mas, o meu maior desafio foi não imitá-lo e me tornar um personagem caricato. Tivemos um almoço em Curitiba, onde conversamos bastante. Ele é uma grande figura. Você irá participar dos três filmes? Ainda não sei. Vamos esperar o lançamento do primeiro para ver como será a repercussão e, assim, ver como serão os outros filmes.



SONORIDADE

FUN + FUNK + ORQUESTRA A MÚSICA ERUDITA UNIU-SE AO SOM POPULAR EM ARRANJOS DELICIOSAMENTE ENVOLVENTES. ESSA É A FÓRMULA INOVADORA QUE UM GRUPO DE MÚSICOS CRIOU PARA FAZER A MOÇADA CURTIR O CLÁSSICO, DANÇANDO COMO SE FOSSE POP POR CLARISSA JURUMENHA « FOTO SÉRGIO LIMA 68 « GPSBrasília


Da esquerda para direita, Westonny Rodrigues (trompete), Felipe Togawa (teclados), Yuri Dantas (Sax Barítono), Bruno Gafanhoto (bateria), Pedrinho Augusto (bateria), Danilo Pereira (guitarra), Samuel Dantas (sax tenor) formam a banda brasiliense

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uem é convidado para um show de música instrumental, se for apaixonado pela sonoridade erudita, pode torcer o nariz para novidades. Entretanto, se o show for da banda Funqquestra, a chance da primeira impressão mudar é grande. Nele, o público vai encontrar oito jovens adultos, entre 25 e 30 anos, se divertindo com o batuque da mistura entre instrumentos clássicos e populares. São duas baterias, um teclado, uma guitarra, um baixo tocando em perfeita harmonia com trompete, sax tenor e sax barítono. O primeiro contato da banda com a música pode parecer estranho. Não tem letra, não tem canto. Por outro lado,

tem melodia, tem ritmo. O som dos garotos é dançante. Mistura reggae, funk, rock, música clássica, MPB, bossa nova. “Não é como se estivéssemos inventado a lâmpada, sabe? O nosso jeito de tocar já existe, mas reinventamos a maneira de fazer a música”, afirma o líder, criador da banda e baterista, Bruno Gafanhoto. A Funqquestra é a consolidação do desejo pessoal de Bruno de ter uma orquestra contemporânea. Há cinco anos o sonho tornou-se real. O sucesso foi imediato. Digno de esgotar ingressos em três dias seguidos de apresentações no Clube do Choro de Brasília, logo no início da carreira em 2013.

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No aplicativo Spotify, o único disco lançado faz sucesso com mais de dez mil saves apenas com a música Não Enche. No YouTube, a versão da música Happy do cantor Pharrell Williams ultrapassa vinte mil visualizações.

ORIGEM Bruno Gafanhoto começou a Funqquestra ainda fora do Brasil, em 2011, quando fazia mestrado na Universidade de Louisville em Kentucky, Estados Unidos. Estudava música instrumental e, na hora de escolher as matérias, pegou aulas de arranjo e composição. As duas cadeiras levaram-no a questionar-se sobre a proximidade da música instrumental à contemporânea – e até alternativa – das canções populares. “Por que não arranjos mais ousados aliados a composições menos rebuscadas?”, questionava-se. Com o pensamento provocado, no ano seguinte, de férias no Brasil, o músico reuniu-se com alguns amigos e criou a primeira formação da Funqquestra. O nome vem de fun do inglês alegria, misturado com fun do funk. Uma letra “q” vem do som da palavra funk e a outra da palavra orquestra. Pronuncia-se tudo junto, ignorando-se o som de um “q”. Um pouco confuso, mas dá para entender o trocadilho engraçadinho proposto pelo grupo. Quando voltava para os Estados Unidos, Bruno produzia arranjos, criava melodias, buscava possibilidades sonoras aqui outras acolá. De férias na faculdade, retornava para o Brasil com os arranjos prontos. Os outros sete membros ajustavam-se ao som conforme o conhecimento em cada instrumento, sugeriam mudanças, treinavam e, quando menos esperavam, lá estava mais uma música. Agora era só ensaiar e partir para os shows. “Vivi um namoro à distância. Um verdadeiro relacionamento. Era necessário tempo, disposição, paixão para não deixar a peteca cair”, confessa o baterista.

AMIZADE Desde então, outros 70 músicos passaram pelo grupo. O número é alto, mas, para fazer parte do coletivo, é preciso entrar no ritmo da galera para não desviar a fundamental sintonia positiva, elemento que os une. “Mantemos os ‘titulares’, mas temos sempre alguém na reserva, esperando para ser chamado e disposto a participar, ler as partituras e entrar na vibe da banda”, explica o segundo baterista, Pedrinho Augusto. Pedrinho, aliás, aceitou o desafio de ser a segunda ba-

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A Funqquestra é formada por: • • • • • • • •

Filipe Togawa – Teclados Westonny Rodrigues – Trompete Pedrinho Augusto – Bateria Bruno Gafanhoto – Bateria Samuel Daniel – Sax Tenor Lucas Rodrigues – Baixo Yuri Dantas – Sax Barítono Danilo Pereira – Guitarra

teria na Funqquestra. Há aproximadamente um ano e meio sua presença foi requisitada pelo amigo. “Fico assim, até lisonjeado ao lembrar que o Bruno me disse ‘cara, se não for você, eu sinceramente não sei quem vai preencher esse espaço’”, contou aos tímidos risos. Quem também quase não acreditou quando o telefone tocou com o convite para integrar a banda foi o tecladista Filipe Togawa. Meio calado e bastante talentoso, Togawa formou-se em Comunicação Social, mas, sempre quis viver de música. “Antes de participar do coletivo, eu ouvia o som deles e pensava ‘Caracas, imagina que irado fazer parte de um grupo desses?’. Num belo dia o Bruno me ligou. Não pensei duas vezes, topei na mesma hora”, orgulha-se. Enquanto isso, curiando a entrevista, o fundador Bruno sorria meio de lado, quase engolindo o orgulho por ter membros tão dedicados. É preciso entender que a convivência constante de oito cabeças pensantes e com espírito de artista pode parecer conflituosa. “Não somos a primeira banda com muitos integrantes. Existem outras tão populares e divertidas como a nossa. Tem Los Hermanos, Móveis Coloniais de Acajú, além de uma orquestra possuir muitos integrantes. Elencar uma equipe na mesma vibe requer muito trabalho”, completa.


CONEXÃO BSB-USA Em dezembro de 2016, a banda levou o som para território norte-americano. Pelos contatos formados por Bruno, os jovens conseguiram espaço em um festival universitário de Kentucky. Fizeram contatos e ganharam uma semana inteira de shows pelas redondezas da universidade. Em uma van, todos os instrumentos dividiam espaço com os meninos. “Se desse para fechar o porta-malas do carro, pronto. Ninguém respirava, ninguém se mexia e seguíamos viagem”, contou Filipe Togawa, aos risos. As universidades de Ohio e West Virginia também os receberam de braços abertos. Segundo eles, nunca se sentiram tão acolhidos em tantos shows. A rotina foi corrida: cinco apresentações em sete dias de Estados Unidos. “Meu corpo aguentou exatamente uma semana de batidão. No último dia, adoeci”, conta Pedrinho. Até agora, essa foi a primeira e única turnê internacional. “Quando subimos no palco, pedimos para o público ser tão ativo quanto nós. A falta da música cantada às vezes incomoda, deixa a pessoa meio desconcertada. Mas, quando você se entrega ao som, percebe que está ali para se divertir”, afirma Bruno. Muito mais do que fazer música, o objetivo dos rapazes é levar um som popular, diferente, aos ouvidos de quem se dispõe a ouvi-los. “Estamos tentando explorar a música de verdade, sabe? Como se ela se materializasse e conversasse com a gente”, completa Togawa.

PALCOS

Com tal estilo, o grupo tenta mudar a visão carregada de preconceitos de que a música clássica e instrumental são elitistas ou chatas. No show da Funqquestra, a batucada vira dança, a falta de letras não incomoda, o espectador é tão importante quanto quem está no palco. A troca de energia é contagiante e, quando menos se espera, o espectador percebe-se dançando com os solos de Yuri Dantas (sax barítono) e Samuel Daniel (sax tenor). Manter a qualidade é um desafio. Já passaram por momentos em que chegaram para tocar e o local não tinha uma mesa para comportar os instrumentos. “A falta de estrutura não é empecilho. Vamos lá, nos viramos e fazemos acontecer. É um desafio e o adoramos”, conta Pedrinho.

A ideia do coletivo nasceu na gringa, mas sua execução é toda brasiliense. Apesar de nem ser da cidade, o líder da banda enfatiza veementemente a origem da Funqquestra: “Somos nascidos no quadradinho. A capital, taxada de séria, chata e cinza conta com um bocado de arte que vêm sendo descoberta pouco a pouco”. Por hora, vão continuar levando o som às casas de show, pubs e espaços musicais de Brasília. O objetivo é quebrar as fronteiras da Capital. Até porque os maiores seguidores estão em São Paulo. “Apesar de nos conhecerem, nunca fizemos show por lá”, conta o líder da banda. No que depender dos garotos, esse nunca se tornará passado muito em breve porque desejam tocar em SP. Até lá, seguem vendendo o CD pelo site. Para 2017, podem se preparar: vem disco novo por aí. E os arranjos já estão no forno. www.funqquestra.com

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LIRISMO

HABEMUS ÓPERA L

a Traviata de Verdi, Carmen de Bizet, Il Barbieri Di Siviglia de Rossini... Pois bem, vamos falar sobre ópera italiana? Não, vamos falar sobre ópera brasiliense. Isso mesmo. Aos que desconhecem, ou sabem pouco sobre o assunto, uma pequena declaração: habemus ópera em Brasília. Mas, isso não é novidade por aqui. Não mesmo. Quando falamos nesse gênero artístico teatral, automaticamente nos vêm à mente a imagem clássica de uma grand opera, com produção luxuosa, orquestra, cenário espetacular, cachê escandaloso e muito glamour. Levando tal pensamento em consideração, é difícil desmistificar a ópera como arte elitista. Porém, independentemente das diversas visões acerca desta definição, não há como negar que o gênero vem ganhando nova roupagem, seja nos países da Europa, onde houve sua eclosão, seja na Capital Federal do Brasil. A história desse gênero artístico, união perfeita entre música e teatro, tem boa bagagem em Brasília. Vale um breve flashback. Bom, na década de 1970, a bailarina Asta Rose-Alcaide, falecida em novembro de 2016, criou a Associação Ópera Brasília e comandou 18 produções. Em 1978, a Associação produziu o primeiro espetáculo na Capital

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A DRAMATICIDADE PARA SE MANTER VIVO DESDE OS ANOS 70 NÃO IMPEDIU QUE O GÊNERO MUSICAL SE MANTIVESSE NA CENA ARTÍSTICA LOCAL, AGORA RETOMANDO SUA PERFORMANCE COM TURNÊS E NOVA GERAÇÃO DE ARTISTAS POR LARISSA DUARTE « FOTOS SERGIO LIMA

em parceria com a Escola de Música de Brasília. Batizado de Amahl e os Visitantes da Noite, contou com a regência do maestro Cláudio Santoro, além de figurinos e objetos de cena assinados pelo saudoso Athos Bulcão. No coral, o mais antigo e tradicional coro da cidade: o Madrigal de Brasília, preparado pelo maestro Emílio César. A partir destes primeiros passos, foi erguido o movimento operístico em Brasília. No ano de 1981, quando Emílio César assumiu a Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional como maestro e diretor artístico, o cenário ganhou mais força. “Foram os melhores anos da ópera no Distrito Federal, era fantástico”, afirma a cantora lírica Janette Dornellas. Inclusive, Janette colaborou para o movimento de revitalização do gênero na cidade com a criação do Fórum de Ópera do Distrito Federal. A artista – amiga e parceira musical de Cássia Eller e também da banda Plebe Rude – convive 24 horas por dia com a arte. Sua residência atual é a Casa da Cultura, na Asa Norte. O local é dedicado à comunidade, com salas para sublocação de ensaios, aulas, palestras, vernissages, entre outros interesses culturais de professores e artistas. No local, trabalham na próxima ópera a ser encenada na cidade, La Clemenza De Tito, a última composta por Mozart. O espetáculo transporta o público para a Roma antiga, com a intenção de desvendar um complô para matar o imperador Leopoldo II no final do século 18.

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DIAS DE LUTA, DIAS DE GLÓRIA Por ser dependente de patrocínio, ópera no País só consegue “fazer e acontecer” com patrocínio público. No DF, o gênero tem dificuldade em formar público público por falta de regularidade nas apresentações. Consequentemente, o fato acarreta menos investimento no setor e menor interesse de patrocinadores. Inconformados com o status negativo do movimento, a classe uniu-se completamente. E assim produtores culturais e cantores líricos da cidade fundaram o Fórum de Ópera do Distrito Federal. Determinados a gladiar por mais produções, Janette Dornellas conta que os integrantes do Fórum buscaram apoio com o Fundo de Apoio à Cultura (FAC), do Governo do Distrito Federal. O objetivo inicial foi solicitar uma rubrica própria para a ópera, ou seja, uma classificação nos editais exclusivos para o gênero. “Antes disso, nossas produções concorriam com todos os projetos de Música, não havendo especificidades na avaliação. Ou seja, disputávamos com grandes shows, gravações de CD e todo tipo de manifestação cultural”, lembra. Finalmente, no ano de 2011, o Fórum foi escutado pela FAC durante as reuniões de consulta pública com a comunidade. “Mostramos para a Secretaria de Cultura a demanda reprimida da nossa área e a aprovação do público com os espetáculos de ópera”, conta Janette. Prova disso, quem confirma é o barítono Francisco Frias, professor da Escola de Música de Brasília, considerado um dos melhores profissionais de canto lírico do Brasil. “Os saudosos Festivais de Ópera da Orquestra Sinfônica, produzidos entre 2011 e 2014 – criados pelo diretor artístico Claudio Cohen – geravam filas que davam voltas no Teatro Nacional”, rememora. Credibilidade confirmada, o edital de 2011 da FAC foi publicado. Nele, uma surpresa. A classificação destinada à ópera abrangia também a classe dos musicais. “Entre os critérios de avaliação para os dois estilos, estava ‘contemporaneidade na proposta’. Mas, como podíamos ser contemporâneos numa ópera que trazia títulos compostos há mais de séculos? Não fazia sentido”, questionava Janette. Inconformados, os produtores do gênero optaram por uma saída criativa. Adaptaram as óperas para a atualidade. Assim, cenários do século 18, por exemplo, foram trazidos para contextos mais modernos e brasilienses, com prédios, iluminação e objetos característicos. 74 « GPSBrasília

Produção operísticas em Brasília está entre as mais fortes do País

Neste desenrolar, as óperas tornaram-se mais acessíveis e compreensíveis ao público. “Algumas cenas foram traduzidas para o português e muitas vezes eram faladas, em vez de cantadas. A plateia entendia o enredo e a boa recepção era evidente”, afirma Janette. Apenas no edital de 2016 a seleção de obras para o Fundo de Apoio à Cultura do DF separou a ópera e o musical como modalidades. Para os integrantes do Fórum de Ópera, o apoio financeiro da FAC auxiliou notavelmente na fomentação das produções operísticas em Brasília. Entretanto, não chega a viabilizar a produção de grandes eventos. “Pensamos os espetáculos com muita criatividade e sendo seletivos para a produção caber no orçamento enxuto”, opina o renomado produtor musical Hugo Lemos.


tal estrutura, o estilo foi fortemente abalado pela desativação do local. “Conquistar um espaço apropriado para as apresentações é outro grande desafio, além de conquistar mais recursos financeiros. Se fizermos uma ópera com 80 músicos, por exemplo, precisamos de um palco grande. Somente a Sala Villa-Lobos oferecia tal estrutura”, afirma o produtor. Uma obra pequena conta com pouco mais de 60 pessoas envolvidas, entre músicos, solistas, coral e direção. Uma ópera de médio para grande porte envolve cem pessoas, no mínimo. O auditório da Escola de Música de Brasília comporta uma orquestra de 30 músicos. Fora isso, os demais palcos teatrais da Capital carecem de espaço para orquestra. “Os espaços alternativos que temos na cidade são ótimos para concertos e teatros, por exemplo, mas não foram pensados para ópera. Temos que repensar a obra para garantir a qualidade do espetáculo”, conta o maestro Deyvison Miranda. Apesar de todos os percalços, o ponto positivo no atual mercado de ópera é o interesse das novas gerações pelo gênero. “Mais do que nunca, jovens estão repletos de oportunidades no cenário operístico com boas produções. Seja no canto ou na parte técnica. É um pessoal que chegou para fortalecer e manter o movimento na cidade”, finaliza Janette Dornellas.

CENÁRIO

SEM ESPAÇO PARA OPERAR Em fevereiro de 2014, o fechamento do Teatro Nacional Cláudio Santoro desestabilizou a classe. O conjunto arquitetônico projetado por Oscar Niemeyer foi interditado por recomendação do Corpo de Bombeiros e do Ministério Público. O local oferecia riscos estruturais pela falta de manutenção. Ou seja, Brasília perdeu o seu maior palco de espetáculo. As óperas demandam estruturas específicas para funcionar, como o fosso para a orquestra e estruturas para montagens de cenários, e apenas o Teatro oferecia

Em Brasília, de 2011 a meados de 2016, cerca de 20 óperas baseadas em livros e lendas foram executadas na cidade. Temos diversos coletivos e movimentos trabalhando com ópera. Entre eles: • Confraria da Ópera, de Janette Dornellas e Francisco Frias. Criada em 1998, é o grupo de ópera mais antigo da Capital. • Cia. de Cantores Líricos de Brasília, criado por Renata Dourado. • Cia. Ópera Brasília, de Vilma Bittencourt e Henriqueta Mattos.

FIQUE POR DENTRO Para acompanhar os espetáculos de óperas em Brasília, vale curtir a página /toibrasilia no Facebook ou acompanhar pelo site toibrasilia.com.br Escola de Música de Brasília SGAS 602 – Módulo D – Projeção A – Asa Sul Fone: (61) 3901-6589 Casa da Cultura SHCGN 703 – Bloco H, Casa 12 – Asa Norte Fone: (61) 3034-3013

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uas de pedras serpenteiam entre casas de pau a pique e igrejas coloridas de azul e branco, as cores do Divino Espírito Santo. Uma carroça passa e crianças brincam de bola próximas a idosos. Concentrados, alguns jogam dominó enquanto outros comentam as últimas novidades. Tudo isso na praça central, decorada com árvores e bancos de cimento. A cena parece retirada de novela de época do interior brasileiro, mas é apenas a rotina mansa e intocada pelo tempo na Cidade de Goiás, comumente conhecida por Goiás Velho. Considerada Patrimônio Histórico e Cultural Mundial pela Unesco, Goiás Velho conserva mais de 90% da arquitetura barroca colonial original do século XVIII. Erguida há 289 anos ao sopé da Serra Dourada e cortada pelo Rio

Vermelho, é terra rica em manifestações religiosas, gastronomia, museus e casas centenárias. O bandeirante Bartolomeu Bueno da Silva foi o responsável pela construção do então Arraial de Sant’Anna, durante a corrida do ouro, por volta do ano 1736. Mesmo tão antiga, as casas e o pouco comércio conservam as pinturas e a manutenção das estruturas. Orgulhosos de sua história, os moradores mantêm firmes a essência da cidade. Goiás Velho recusou-se a mudar o estilo de vida, conservando tradições e arquitetura simples. Segundo os turistas, a cidade é ideal para fugir da rotina frenética das capitais.

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ROTEIRO HISTÓRICO

RELIGIOSIDADE, ARTE E GASTRONOMIA COMPÕEM O ENREDO DE UM DOS MUNICÍPIOS MAIS CHARMOSOS E INTACTOS DOS ÚLTIMOS TRÊS SÉCULOS. COM 25 MIL HABITANTES, A CIDADE DE GOIÁS É REFÚGIO DO TEMPO E PATRIMÔNIO MUNDIAL DA UNESCO POR PEDRO LIRA

Logo na chegada é possível ver que o forte daquelas simpáticas ruas são as construções antigas. Quem recebe os visitantes é a alta torre gótica da Igreja do Rosário. Nos jardins, perfeitos para esticar as pernas após algumas horas na estrada, realiza-se uma feira de artesanatos aos fins de semana que reforça os detalhes da cidade. O mimo mais popular são as almofadas com poemas de Cora Coralina costuradas à mão. Entre a gama de museus e igrejas seculares espalhados por Goiás Velho, o mais popular é o Museu Casa de Cora Coralina, chamado pelos íntimos de Casa Velha da Ponte. Às margens do Rio Vermelho, na residência, viveu a filha mais ilustre da cidade e uma das mais importantes poetisas do Brasil, Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, a nossa Cora Coralina. Outro must to go é o Espaço Cultural Goiandira do Couto. A prima de Cora Coralina é conhecida por sua técnica

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TERRA SANTA Goiás Velho ergueu-se como reduto de Portugal. A presença da igreja católica é sentida nos artesanatos de santos, terços e orações advindos dos colonizadores. A cidade respira religiosidade com paróquias, obras de arte sacras e os eventos religiosos. Destaque para a internacionalmente conhecida Procissão do Fogaréu. Tradição em Goiás Velho desde 1745, a procissão marca o início da Semana Santa. Introduzida pelo padre espanhol Perestrelo de Vasconcelos, ainda no século XVIII, o evento reúne fiéis de todo o Brasil e até estrangeiros, tendo recebido, em 2016, mais de 20 mil pessoas. À meia-noite da quinta-feira após o Carnaval, as luzes da cidade são apagadas. Quarenta farricocos – personagens vestidos de túnicas coloridas e capuzes pontiagudos – começam a marchar com tochas de fogo apontadas para cima e entoando cantos em latim. Representam os soldados romanos durante a perseguição de Jesus Cristo. Concentram-se em frente à Igreja da Nossa Senhora da Boa Morte, na praça principal da cidade e partem à procura do messias. A busca termina 2,5 km depois, em frente à Igreja de São Francisco, ilustrando o Monte das Oliveiras. Neste mo-

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Fotos: Si

singular de pintura com areias em mais de 500 tonalidades. Na pequena galeria, o visitante encanta-se com as representações realistas da cidade feitas com cores singulares. Já na parte política, a dica é o Palácio Conde dos Arcos, primeira sede do governo do estado de Goiás, em 1751. A casa com mais de 30 cômodos em estilo português atende como museu ao esbanjar o acervo mobiliário e as peças antigas. O mais interessante do Palácio é que em todo aniversário da cidade, em julho, ele volta a ser por alguns dias a sede administrativa do estado de Goiás. Um dos orgulhos dos moradores da pequena vila.

A Procissão

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mento, um dos mais emocionantes da noite, é erguido um estandarte com a imagem de Cristo. O melancólico toque do clarim anuncia a prisão de Jesus, que é lamentada com um minuto de silêncio. Depois disso, é celebrada uma missa. Porém, mesmo fora da Semana Santa, o roteiro pelas igrejas vale a visita. No giro pelos espaços religiosos, apesar de simples, a igreja de Santa Bárbara é o melhor spot para curtir o pôr do sol em Goiás Velho. Com vista privilegiada da cidade, é o point dos turistas e casais apaixonados. Entretanto, para chegar até lá, é preciso disposição. O caminho inclui a subida de 100 degraus da escadaria de Santa Bárbara.

PEQUI, DOCES E FOGÃO A LENHA A culinária goiana é presença marcante. Restaurantes caseiros povoam as ruas com galinhada com pequi; empadão goiano recheado com queijo, guariroba (palmito amargo), linguiça ou frango; bolinhos de arroz; biscoitos e enroladinhos de queijo. Para a sobremesa, clássicos, como as deliciosas flores de coco, limõezinhos-galegos recheados com doce de leite, frutas cristalizadas e compotas de doces. Todas essas delícias ficam espalhadas pela cidade, mas a dica é a Praça do Coreto, no Centro Histórico. Vida noturna animada e gente bonita encontram-se ali. Um achado da cidade é a casa de gelatos embaixo do Coreto. Os picolés são conhecidos desde 1951 pelos sabores diferentes de frutas do Cerrado. Tem pequi, cajá, murici... Por lá também fica a Igreja da Matriz, o Museu de Arte Sacra da Boa Morte, em grande parte, dedicado à obra do escultor Veiga Valle e uma variedade de lojas de artesanatos. Entre imagens de santos de barro e palha, bolsas de couro, vasos, imãs de geladeira e as famosas Marias


ESTRADA: UM SHOW À PARTE A 320 km de Brasília, a opção de viagem mais indicada a Goiás Velho é de carro. Trajeto médio de 4h30 saindo da Capital Federal. Para quem vai encarar esse percurso, o guia turístico Denilson Matteucci sugere fugir do caminho tradicional, que seria pegando a GO-070. “A via está sendo asfaltada, então, o percurso está ruim”, explica. A melhor opção é ir por Jaraguá. Nesse trajeto os viajantes saem por Cocalzinho de Goiás. Cortada por vários córregos e rios, a vila abriga cachoeiras, montanhas, serras, grutas e até uma vinícola. Perfeito para fotos. De lá, a estrada leva a Pirenópolis. “Vale a parada para curtir o almoço ou mais cachoeiras”, explica Denilson. Seguindo viagem, pegue a BR-153, Jaraguá, Itaberaí e, enfim, Goiás Velho. Essa opção é 360 km, mais longa, porém, a estrada é melhor e sem complicações com mapa. “É quase impossível se perder”, garante.

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Namoradeiras, esculturas de barro que posicionam-se com graça nas janelas das casas. É inclusive na Praça do Coreto que se realiza, desde 1999, o FICA – Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental. A mostra competitiva é a maior do estado e uma dos mais importantes do mundo cinematográfico. Movimenta mais de R$ 240 mil em premiações. Quanto à hospedagem, as pousadas cumprem a missão de aconchegar o visitante com atenção. A Pousada do Ipê fica no Centro Histórico e possui uma vasta área de pomar, jardins, piscina e área de lazer. Para quem procura uma estrutura maior, a melhor opção é o Hotel Fazenda ManduZanzan. Fica mais distante, mas tem ótima estrutura de lazer.

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Igreja do Rosário

CINCO DICAS IMPERDÍVEIS 1º – Quando for curtir a Praça do Coreto, a dica é visitar a Pizzaria Ouro Fino. O pizzaiolo morou na Itália por anos e trouxe o estilo das massas de lá; 2º – Quem quer relaxar e centrar-se, o Santuário Ecológico Poço do Sucuri é a melhor pedida. Em contato com a natureza, tem um clima agradável, tranquilo. Perfeito para acalmar os nervos. 3º – Almoço no final de semana é preciso conhecer o Hotel Fazenda ManduZanzan, local de encontro dos córregos Mandu e Zanzan. Não é preciso ser hóspede para almoçar numa das melhores cozinhas do Goiás. Tudo no fogão à lenha. 4º – Para os aventureiros, o Parque Cachoeira das Andorinhas possui 700 metros de trilha com dificuldade moderada e que termina em uma das cachoeiras mais legais da região. 5º – Claro que os doces de Goiás Velho não poderiam ficar de fora. A dica é a renomada doceria das Irmãs Martins. Logo na entrada da cidade é possível encontrar sua lojinha com os carros-chefes: flor-de-coco, pastelinho e frutas cristalizadas.

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RETRANCA

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MINHA CIDADE Goiás, minha cidade... Eu sou aquela amorosa de tuas ruas estreitas, curtas, indecisas, entrando, saindo uma das outras. Eu sou aquela menina feia da ponte da Lapa. Eu sou Aninha. Eu sou aquela mulher que ficou velha, esquecida, nos teus larguinhos e nos teus becos tristes, contando estórias, fazendo adivinhação. Cantando teu passado. Cantando teu futuro. Eu vivo nas tuas igrejas e sobrados e telhados e paredes. Eu sou a menina feia da ponte da Lapa. Eu sou Aninha.

DONA ANINHA, MAS PODE CHAMÁ-LA DE CORA CORALINA 82 « GPSBrasília


TODAS AS VIDAS Vive dentro de mim a lavadeira do Rio Vermelho. Seu cheiro gostoso d’água e sabão. Rodilha de pano. Trouxa de roupa, pedra de anil. Sua coroa verde de são-caetano. Vive dentro de mim a mulher cozinheira. Pimenta e cebola. Quitute bem feito. Panela de barro. Taipa de lenha. Cozinha antiga toda pretinha. Bem cacheada de picumã. Pedra pontuda. Cumbuco de coco. Pisando alho-sal. Vive dentro de mim a mulher do povo. Bem proletária. Bem linguaruda, desabusada, sem preconceitos, de casca-grossa, de chinelinha, e filharada. Todas as vidas dentro de mim: Na minha vida – a vida mera das obscuras. Mulher da vida Mulher da Vida, Minha irmã. De todos os tempos. De todos os povos. De todas as latitudes. Ela vem do fundo imemorial das idades e carrega a carga pesada dos mais torpes sinônimos, apelidos e ápodos: Mulher da zona, Mulher da rua, Mulher perdida, Mulher à toa. Mulher da vida, Minha irmã. Assim eu vejo a vida A vida tem duas faces: Positiva e negativa O passado foi duro mas deixou o seu legado Saber viver é a grande sabedoria Que eu possa dignificar Minha condição de mulher, Aceitar suas limitações E me fazer pedra de segurança dos valores que vão desmoronando. Nasci em tempos rudes Aceitei contradições lutas e pedras como lições de vida e delas me sirvo Aprendi a viver.

DE TEMPERAMENTO FORTE, POUCA GRAMÁTICA E MÃOS AFEITAS AOS DOCES, A POETISA FOI DESCOBERTA PELO BRASIL AOS 75 ANOS, POR UM ADMIRADOR: CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE. EM GOIÁS SEU IMENSO LEGADO SE MANTÉM INCÓLUME POR PEDRO LIRA

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ma das poetisas mais sensíveis do Brasil nasceu na Cidade de Goiás. Cora Coralina encontrou inspiração na rotina pacata dos goianos interioranos para escrever poemas sobre o cotidiano. Leonina – nasceu em 20 de agosto de 1889 –, guerreira, apaixonada, foi mãe de seis filhos de seis filhos: Paraguaçu, Eneas, Cantídio, Jacyntha, Ísis e Vicência. Ísis e Eneas morreram logo após o nascimento. Antes de embarcar no sucesso com os versos, a goiana era conhecida pela habilidade em preparar doces. Os de frutas cristalizadas eram os mais famosos. Transformou em literatura o mesmo amor e jeito simples de quem adoçava a boca dos conterrâneos. A partir de então, a poesia passou a açucarar os corações. Alheia aos estudos e modismos da literatura da época, produziu uma obra que descrevia com ar poético a vida cotidiana do interior brasileiro. O primeiro livro, Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais, foi publicado em 1965, quando Cora tinha 75 anos. Onze anos após o primeiro lançamento, compilou o Meu Livro de Cordel. A terceira obra, Vintém de Cobre – Meias Confissões de Aninha, foi lançada em 1983, aos 94 anos. Mais de 30 anos após sua morte – em 10 de abril de 1985, por complicações de uma pneumonia – Cora ainda vive na Cidade de Goiás. Ou melhor, a sua memória está por todos os lugares. A Casa Velha da Ponte, como ficou conheGPSBrasília « 83


“DESISTIR… EU JÁ PENSEI SERIAMENTE NISSO, MAS NUNCA ME LEVEI REALMENTE A SÉRIO; É QUE TEM MAIS CHÃO NOS MEUS OLHOS DO QUE O CANSAÇO NAS MINHAS PERNAS, MAIS ESPERANÇA NOS MEUS PASSOS, DO QUE TRISTEZA NOS MEUS OMBROS, MAIS ESTRADA NO MEU CORAÇÃO DO QUE MEDO NA MINHA CABEÇA.”

Tachos de cobre no fogão à lenha e vestidos coloridos fazem companhia às muletas no Museu

Fotos: Marcello

Casal Jr. / Agênc

ia Brasil

cido seu lar, abriga um dos museus mais populares do estado. Seus vestidos floridos ainda estão pendurados na parede. Na cozinha, tachos de cobre descansam sobre o fogão à lenha, esperando por mais uma leva de frutas cristalizadas. A antiga bengala, companheira fiel nos últimos dias de vida, divide espaço com a poltrona de couro marrom e os poemas, espalhados nas paredes. São 12 ambientes na casa. A construção foi uma das primeiras da cidade e fica às margens do Rio Vermelho. No local, o acervo com dez mil documentos é preservado. Da janela do casarão, uma estátua de dona Coralina observa o movimento lento e pacífico das ruas de Goiás Velho.

INSPIRADORA Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas – filha de Francisco de Paula Lins dos Guimarães Peixoto, desembargador nomeado por D. Pedro II, e da dona de casa Jacinta Luísa do Couto Brandão – assumiu o pseudônimo Cora Coralina aos 14 anos. Mesmo com baixa escolaridade e pouco conhecimento gramatical, começou a escrever nova e já publicava algumas palavras nos jornais locais. Os textos brincavam com sonhos e felicidade. Aos 22 anos de idade, a poetisa abandonou a vida conservadora em Goiás e fugiu para o interior de São Paulo com o amado, Cantídio Tolentino de Figueiredo Bretas. O chefe de polícia era casado e duas décadas mais velho do que ela. Como não havia divórcio na época, só puderam 84 « GPSBrasília

O museu Casa Velha da Ponte fica à beira do Rio Vermelho


Fazendo valer a fama de ousada e de personalidade forte, Cora pegou o seu livro Poemas dos Becos de Goiás, alguns dos melhores doces que produzia e mandou para o saudoso escritor Carlos Drummond de Andrade, no Rio de Janeiro, por intermédio da Universidade Federal de Goiás. Não deu outra. O poeta mineiro encantou-se e respondeu em carta endereçada à UFG:

Jr. / Agência Bra sil Fotos: Marcello Casal

PARCERIA

“Cora Coralina, Não tenho o seu endereço, lanço estas palavras ao vento, na esperança de que ele as deposite em suas mãos. Admiro e amo você como alguém que vive em estado de graça com a poesia. Seu livro é um encanto, seu verso é água corrente, seu lirismo tem a força e a delicadeza das coisas naturais. Ah, você me dá saudades de Minas, tão irmã do teu Goiás! Dá alegria na gente saber que existe bem no coração do Brasil um ser chamado Cora Coralina. Todo o carinho, toda a admiração do seu.” Carlos Drummond de Andrade, Rio de Janeiro, 14 de julho de 1979 Assim, Drummond adotou Cora. Por muitos anos, os dois cultivaram a amizade por meio de cartas. Muitas publicadas no Jornal do Brasil, aumentando a credibilidade da escritora em nível nacional. Dessa forma, a poetisa conquistou o País. Os gênios dos versos nunca se conheceram pessoalmente.

A máquina de escrever dividia a atenção com a de costura. Hoje, a escritora é representada por uma Maria Namoradeira

oficializar a união 14 anos depois, quando ele ficou viúvo. Na época, Cora fugiu grávida de gêmeos. Mal falada pelo romance proibido, respondeu às críticas com poesia pura e densa: “Ajuntei todas as pedras que vieram sobre mim. Levantei uma escada muito alta e no alto subi”. Cantídio faleceu em 1934. Cora e os filhos mudaram-se para São Paulo capital. Na cidade, colaborou com o jornal O Estado de S. Paulo e trabalhou como vendedora da livraria José Olympio. Com dificuldades, voltou para o interior, Penápolis (SP), onde passou a produzir e vender linguiça caseira e banha de porco, preparar doces e até mesmo trabalhar na trabalhar na agricultura para sustentar a família. Quarenta e cinco anos depois da fuga com o amado, a poetisa voltou a Goiás. Por volta dos 50 anos de idade, dona Aninha relatou ter passado por uma profunda transformação. Mais tarde chamou de “perda do medo”. Foi nessa fase que assumiu de vez o pseudônimo Cora Coralina e tornou-se a poetisa oficial de Goiás Velho. Não à toa escrevia frases como esta: “recria tua vida, sempre, sempre. Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.” GPSBrasília « 85


MEMÓRIAS

UMA DAS MAIORES EMBAIXADORAS DA CIDADE DE GOIÁS, A JORNALISTA CRISTIANA LÔBO É NETA DE POETISA GOIANA, COMIA FRUTAS NO POMAR DE CORA CORALINA E AINDA HOJE FREQUENTA A MODA DE VIOLA DO MERCADO LOCAL

Praça do Coreto

À NOSSA VELHA INFÂNCIA 86 « GPSBrasília

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POR PEDRO LIRA « FOTOS CELSO JÚNIOR

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conversa não precisa ir muito longe para sentir o amor de Cristiana Lôbo pela Cidade de Goiás. Saudosista, relembra aventuras da infância vividas pelas ruelas e casas de pau a pique do vilarejo. Picolés para adoçar, rio para refrescar e árvores para subir fizeram parte das brincadeiras de criança da goiana, referência em jornalismo político do canal de TV Globo News. Cris era uma garotinha apaixonada pelos encantos da pequena cidade histórica. Seus pais e avós nasceram na cidade interiorana, enquanto ela e a irmã Suzy são frutos da jovem Goiânia, a capital do estado. “Nós crescemos na cidade grande, mas íamos com frequência a Goiás Velho”, lembra. Pelo menos uma vez por ano, no dia 15 de março, toda a família era intimada para o aniversário do patriarca. “Era a única data em que podíamos faltar aula com consentimento”, brinca.


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A casa da jornalista passa por uma reforma, mas irá manter o estilo colonial de Goiás Velho

Visitar a Cidade de Goiás é programa frequente na família Lôbo. A agenda apertada da cobertura política em Brasília dificulta os passeios, mas a viagem é sempre um descanso da vida agitada. “A Cidade é para mim um lugar de muitas memórias boas, mas também de renovação”, explica. Com dois filhos e dois netos – além de alguns primos –, pegam a estrada para relaxar e conviver com amigos. “Ano Novo, Carnaval, Semana Santa ou até finais de semana prolongados, juntamos os amigos e partimos para lá”, conta. Cris e a família herdaram duas casas. A principal, bem próxima do Centro Histórico, é o segundo lar da jornalista – o primeiro é a casa no Lago Sul, em Brasília. Por lá, a terra é fértil e cultiva um pequeno pomar no quintal. O gosto pelas frutas da cidade, frescas ou cristalizadas, também vem da infância. Entre as memórias mais marcantes está “brincar pelas ruas e pegar as frutas direto do pé. Tínhamos a época das mangas, das pinhas e do caju”, relembra. Uma de suas aventuras era visitar com frequência o pomar de Cora Coralina. No quintal da poetisa, frutas de todos os tipos faziam a alegria das crianças. “Lembro-me de um rapaz que vendia pinhas nas ruas. Anos depois descobrimos que ele roubava as pinhas do quintal da Cora”, lembra em meio a risadas. Entretanto, não foi só pelas frutas que a escritora marcou a vida de Cris. A avó, dona Josefina Pinheiro Mendes, era poetisa e amiga pessoal de Cora. As duas trocavam mensagens escritas em versos, feitas em qualquer material que fosse. “Já li trechos de vovó escritos em papel de saco de pão. Dava para ver que era espontâneo”, diz. Na lista de programas favoritos na Cidade de Goiás, a primeira opção é andar pelas ruas, conversar com antigos amigos e visitar a Igreja de São Francisco – a mais bonita para a jornalista. Quanto à gastronomia, não tem para onde fugir: pequi, bolo de arroz, pamonha e pastel do mercado são lanches que não podem faltar. Inclusive, no Mercado da Cidade, todos

A CRIS NA TEVÊ Aos 22 anos, Cristiana Lôbo mudou-se para Brasília. Já formada pela Universidade Federal de Goiás (UFG), trabalhou no jornal O Globo e seis anos no Estadão. Nesta época, cobria saúde e principalmente o Exército Militar Brasileiro. Foi apenas por volta de 1984 que entrou para a política e acompanhou as eleições diretas de Tancredo Neves. São mais de 30 anos na editoria. No final de 1997 a Globo News surgiu e contratou os maiores colunistas da época, recebendo Cristiana Lôbo em uma nova empreitada: telejornal. “Nunca me imaginei e nem acredito que levo jeito para a televisão, mas deu certo”, comenta.

os sábados, os conterrâneos acompanham apresentações de cantiga de viola. Na sacola, as imperdíveis bananas-maçã, que, garante, não são como as da cidade grande. “A culinária na minha casa é muito goiana e vem tudo da região. Nas festas, nós trazemos os doces, principalmente a pasta de caju, que sempre tinha na casa do meu avô”, revela. No caso da iguaria mais amada do estado, o pequi, quando tem, é dia de festa em casa. “A gente liga para todo mundo e fala: ‘vem que tem pequi’”, brinca. Na parte cultural, além dos poemas de Cora, admira as obras de Goiandira do Couto. As pinturas da artista com as cores das areias são as favoritas de Cristiana. “Quando criança, escutava que ela sempre vencia o concurso de fantasias de Carnaval”, conta. Inclusive, relembra a história contada pelos pais do Carnaval mais lindo que a cidade teve. Em 1937, quando a capital foi transferida da Cidade de Goiás para Goiânia, cada família tradicional – Teixeira, Caiado, Bastos e tantas outras – organizou um bloco de Carnaval de rua para despedir-se da antiga capital. GPSBrasília « 87


UNIVERSAL

AOS 70 ANOS E CINQUENTA DE CARREIRA, ELE É UM DOS ARTISTAS PLÁSTICOS VIVOS MAIS RECONHECIDO INTERNACIONALMENTE. PREPARA NOVA EXPOSIÇÃO: CUIDADO, FRÁGIL, COM TURNÊ EUROPEIA INICIADA PELA ESPANHA. MESMO EM CONSTANTE RENOVAÇÃO, SUA OBRA AINDA SE AMPARA NA CRUEZA E NA FRAGILIDADE DA VIDA

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Renato Conte / A Redação

É EM HIDROLÂNDIA, MUNICÍPIO DE GOIÁS, QUE A OBRA DE MARCELO SOLÁ GANHA LIBERDADE PARA ATUAR ENTRE A PINTURA, A SERIGRAFIA E O DESENHO. CONSIDERADO UM EXPRESSIONISTA ABSTRATO, MAS NÃO NA SUA TOTALIDADE, O GOIANO É NOME PRESENTE NA CARTELA DE COLECIONADORES POR LARISSA DUARTE

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Fotos: Divulgação


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omeça com um risco aqui, outro rabisco acolá. Por meio de um objeto mágico – também conhecido como lápis – constroem-se representações gráficas reais e imaginárias. Esses primeiros desenhos foram o início da carreira do goiano Marcelo Solá. Desde a infância, o artista plástico apegou-se à arte como forma de expressão. Hoje, aos 46 anos, a técnica é parte integrante de sua vida, algo tão comum como vestir-se. “Desenhar para mim é uma festa, extensão da minha vida. Quando estou no processo de criação, contemplo a história da arte. Posso pintar qualquer coisa. Eu me coloco como Marcelo e apenas me expresso, literalmente”, confessa. Ele se autodefine como um desenhista obsessivo, inquieto e curioso, características que se refletem diretamente no processo criativo. Usa o preto em suas obras, uma cor difícil de ser trabalhada devido à vasta significação. Mesmo com toda a sapiência, Solá é tímido. Evita fotos, gosta do silêncio, prefere a tranquilidade às grandes badalações. Para a galerista Luciana Caravella, que trabalha com o artista há 15 anos, Solá possui um trabalho de alta qualidade e uma liberdade rara de encontrar-se. “Marcelo é um artista espontâneo, sem prender-se a um estilo, o que acabou consolidando a sua marca. Talvez seria um expressionista abstrato, mas não se enquadra totalmente”, opina a marchand da galeria de nome homônimo, no Rio de Janeiro. Desenho ou pintura? Essa é uma das primeiras questões que vêm à mente quando se admira a obra de Solá. O trabalho com o espaço da tela também chama a atenção do observador. Consegue trabalhar em detalhes que preenchem ou não ou não o espaço do quadro, criando harmonia entre os traços. “Tenho um pouco da característica da pintura devido à multiplicidade

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de materiais que uso em uma só obra. Parece que ela salta do papel”, explica. Além do desenho, a serigrafia é outra técnica muito usada pelo artista. A tela impressa vira pano de fundo para criar os desenhos por cima. Ele sempre mexe em seis, sete ou oito obras ao mesmo tempo. Dá pause em uma, vai para a outra, acrescenta um desenho, volta à primeira e, assim, dá forma à obra. “Com a serigrafia, a exclusividade da peça eleva-se, então, faço poucos exemplares a partir dessa técnica muito antiga. Mas, eu tento encaixar em um contexto contemporâneo”, explica. Em trabalhos para bienais, por exemplo, Solá fez desenhos-instalações, obras que são feitas diretamente na parede de uma galeria. Nelas, impossível deixar de imaginar os signos gráficos presentes no desenho. “Para mim, a escrita é uma forma de desenhar. A letra é um símbolo e está ali para ser lida realmente, não é apenas um efeito visual”, afirma. Para ele, escrever faz parte do processo de leitura da obra como um todo, completando o sentido do desenho.

REFÚGIO No momento de criar, concentra-se no ateliê de 400m², em uma chácara no município de Hidrolândia (GO), “escondido no meio do mato”, brinca. É ali onde recebe os amigos, conta histórias, cria obras e acrescenta pontos na memória da arte. Em plena atividade, Solá prepara coisa nova, “ainda em gestação, por isso leva um pouco de tempo, mas, ainda para esse ano”, levanta o suspense. Para a GPS|Brasília, contou que trabalha em duas frentes, no momento, em obras inéditas para exposições individuais e na criação de um livro sobre os 15 anos de sua trajetória. “Os lugares


por onde passei, o que vou fazer no futuro… Tudo está ligado à minha biografia, pois é meu jeito de ver o mundo e eu não vou ignorar isso”, explica.

MEMÓRIAS Aos 13 anos de idade, as aventuras de Solá no meio artístico ficaram sérias. Os pais do jovem o matricularam na escola de desenho do Museu de Arte de Goiânia. Após sete anos de estudos, trocou a sala de aula pelo grafite de rua. “Eu e meus amigos fazíamos parte de um grupo de grafiteiros. Toda noite saíamos para deixar nossa marca pela cidade. Era a pura manifestação da rebeldia adolescente”, brinca. Até que o grafite deixou de sustentar a ânsia artística de Solá. Em busca de algo que transcendesse essa linguagem, mudou-se de Goiânia para São Paulo. “Passei a estudar e visitar os ateliês de artistas plásticos, como Fernando Costa Filho e Roos. Fui muito incentivado por eles a continuar na área”, relembra. Ao seguir os passos dos mentores, o crescimento e a visibilidade de Solá como artista aconteceram naturalmente. “Experiência vai, experiência vem e, quando vi, eu já estava elencado para algumas exposições. Fui pego de surpresa”, conta o artista.

RECONHECIMENTO No final da década de 1980, expunha em mostras coletivas goianas. Ganhou a primeira bolsa do Museu de Arte de Brasília, em 1990. Passou um ano sendo financiado pela a academia e, no final, fez uma bela exposição no local. Entretanto, um importante vértice em sua carreira foi a participação no projeto Antarctica Artes com a Folha de S.

Paulo, em 1997. “Ali eu notei como meu trabalho cresceu. As pessoas começaram a me notar e os convites para exposições chegaram”. Nessa hora, Solá teve certeza de que “seria um artista plástico para toda a vida. Estava tudo bem encaminhado”. Enfim, desta forma, a primeira exposição aconteceu em 2001, na Galeria Casa Triângulo, em São Paulo. Todo o talento do artista goiano é fruto das experiências diárias acumuladas ao longo da vida. Entretanto, outras áreas o inspiram, entre elas, literatura e cinema. Nas artes plásticas, Joan Miró está entre os mais admirados. Nas letras, Solá destaca a poetisa marginal Ana Cristina César como um nome de presença na sua carreira. Um pouco apartado desse universo, mas, não menos importante, está a ligação com a arquitetura. “Se não fosse artista, com certeza, seria arquiteto. São evidentes as referências da arquitetura nos meus desenhos em um nível onírico, focada no improvável”. MOSTRAS • Drawing Center – Nova York • Festival de Cultura – Bélgica • Instituto Tomie Ohtake – São Paulo • 25ª Bienal de Artes de São Paulo • Centro Cultural de São Paulo • Museus de Arte Moderna – Rio de Janeiro e São Paulo • Funarte – Brasília HONRARIAS • Bolsa de Apoio a Pesquisa e Criação Artística, da Secretaria de Cultura do Estado do Rio de Janeiro; • Prêmio Projéteis de Arte Contemporânea, duas vezes pela Funarte; • Indicado ao PIPA 2010; • Residências artísticas no Canadá, na Holanda e nos Estados Unidos. Marcelo Solá marcelosola@hotmail.com Luciana Caravello Arte Contemporânea www.lucianacaravello.com.br Arquivo Contemporâneo www.arquivocontemporaneo.com.br/brasilia/

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HISTÓRIA

A MÃE DE BRASÍLIA DESBRAVADA ANTES MESMO DA CHEGADA DA FAMÍLIA REAL AO BRASIL, PLANALTINA É A MAIS ANTIGA CIDADE DO DF. AOS 158 ANOS, ABRIGA MANANCIAIS, FESTAS RELIGIOSAS E TENTA PRESERVAR OS COSTUMES DE CIDADE PACATA DE INTERIOR POR MARCELLA OLIVEIRA « FOTOS CELSO JUNIOR

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azul típico de Brasília se mistura ao dourado forte do sol da manhã. O caminho pela BR-020, na saída norte do Distrito Federal, é tranquilo. O movimento é intenso, mas só para quem desce no sentido Plano Piloto. Para quem sobe, 40 quilômetros depois do centro brasiliense, chega-se a Planaltina. A primeira parada obrigatória é no Morro do Centenário, a mais de mil metros de altitude. Lá de cima, a Pedra Fundamental da Futura Capital Federal dos Estados Unidos do Brasil – como nosso País era chamado – compartilha, desde 7 de setembro de 1922, uma vista extraordinária. A mais antiga cidade do DF, prestes a completar 158 anos, é conhecida pela tradição da Via-Sacra no Morro da Capelinha, pela vasta área de conservação ambiental, pelo Vale do Amanhecer e com muito mais a ser desbravada. Planaltina não parece região administrativa do DF, tem cara de município, de cidade de interior. Talvez pelas raízes goianas ainda muito presentes. Talvez pelas bicicletas que transportam os moradores pelas ruas. Ou seria por causa das praças arborizadas ocupadas por jovens leitores, namorados apaixonados ou adultos se exercitando? Ali, até o canto dos pássaros acompanha o ritmo interiorano, mais tranquilo e sossegado. E a tradicional feira no domingo, o dia de encontrar a comunidade – afinal, ali, todos se conhecem. Tudo consolida o ar pacato da região. O passeio continua pelo Centro Histórico. É só parar e perguntar que todos indicam onde fica a Igrejinha de São Sebastião. Uma pequena construção branca, com detalhes em madeira azul, erguida em 1811. O silêncio toma conta

da estrutura, com pé direito alto, bancos de madeira, um piano e imagens de Jesus e Nossa Senhora. Em 1982 foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Do lado de fora, um mourão com cabeça em forma de diamante, de 1881, chama atenção. Planaltina ainda tem um pelourinho, aquele local onde os escravos eram presos. Está desativado, é claro. Na principal praça da cidade, chamada de Praça do Museu, alguns casarões centenários, em estilo colonial, compõem o que parece ser um cenário de novela. Alguns estão abandonados, outros conservados. Tudo bem diferente dos prédios modernos e da arquitetura de Oscar Niemeyer que estamos acostumados a ver em Brasília. O morador logo conta a história de uma das muitas árvores no local. Um pé de jenipapo, centenário, onde os escravos eram amarrados. Em frente a ele, o hotel O Casarão, uma construção de 1978. Uma das ruas que corta a praça, a Avenida Goiás, leva à Igreja Matriz. O principal ponto turístico é o Museu Histórico e Artístico de Planaltina, criado em abril de 1974. O casarão de médio porte abriga mobiliário no estilo colonial, um piano que navegou em navio da Europa para Goiás e um telefone antigo. Além disso, os cômodos recebem mostras artísticas itinerantes e eventos culturais. O museu foi restaurado em 2007 e reaberto em janeiro de 2008. Vale cada detalhe. Uma das coisas mais interessantes é ver o entusiasmo de alguns moradores para manter viva a história da cidade. Não dá para passar sem conhecer a Simone Macedo, presidente da Associação Amigos do Centro

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Histórico de Planaltina. O grupo foi criado há 11 anos com o objetivo de promover o que eles chamam de educação patrimonial. “Só ama quem conhece. As pessoas precisam entender porque não podem colocar um toldo na praça, que é uma área tombada. É um trabalho de formiguinha, de conscientização. Eu me considero uma educadora popular”, afirma Simone. O objetivo dessas lideranças comunitárias é contar que Planaltina é a mãe de todas as cidades, a mais antiga, e que tudo começou antes mesmo de Juscelino Kubitschek chegar aqui. “Queremos mostrar que Brasília não é só as estruturas sinuosas de Niemeyer. É também o colonial e o antigo de Planaltina. A meu ver, a desvalorização começa na Missão Cruls, que tinha técnicos, botânicos, químicos, mas não tinha ninguém que observasse os hábitos e costumes de quem já vivia aqui. A cultura goiana prevalece subvertida à cultura do DF”, acredita Leonio Matos, historiador, professor e morador da cidade. “Planaltina é vista como a saída norte, a cidade satélite de Sobradinho, a zona rural de Formosa. E ela não é nada disso, temos uma rica história. Antes de JK pensar em construir Brasília, já tínhamos a Pedra Fundamental aqui. Isso não pode ser esquecido”, defende o professor.

A ORIGEM A região de Planaltina começou a ser desbravada antes mesmo da chegada de Dom Pedro e da família real portuguesa ao Brasil. Bandeirantes descobriram as riquezas da região e foram construindo a estrada do Brasil Colonial, indicada por sinais geográficos, como rios e montes. A comunidade foi se instalando em fazendas e, em 1731, surgiu o Arraial de Mestre D’Armas – batizado assim por conta de um português que tinha habilidade em manusear o ferro. A história de que a Nova Capital seria construída, aliás, é contada por um dos primeiros moradores da região, Aécio Campos, que nasceu na fazenda da família em 1940, e hoje está com 77 anos muito bem vividos. Ele conta que essa história não passava de lenda urbana. Até que, mais de 30 anos depois da instalação da Pedra Fundamental, a notícia veio pelo rádio: o Presidente eleito Juscelino Kubitschek iria realmente trazer a Capital para o centro do Brasil. Aécio era um adolescente curioso e viu chegar a comitiva que demarcou a área retangular de 5.814km² no meio do Estado de Goiás, onde seria o Distrito Federal, em 1955. “Era muita gente, autoridades e povo. Ninguém 102 « GPSBrasília

A Igrejinha de São Sebastião foi erguida em 1811

acreditava que a Capital viria mesmo para cá. Os moradores não gostaram muito da ideia na época”, lembra o professor e morador do Setor Tradicional da cidade. Com a nova conjuntura, metade de Planaltina ficou em Goiás, popularmente chamada de Brasilinha, e a outra passou a fazer parte do DF. A cidade distante do centro do Poder perdeu autonomia política e financeira, passou a ser uma cidade satélite de Brasília. Hoje, é uma região administrativa, com administrador nomeado pelo governador do DF.

CRESCIMENTO Na década de 60, passou por um boom populacional. O Setor Tradicional cresceu. E, com as invasões, nasceram outros setores, como o Jardim Roriz, Vila Vicentina, Vila Buritis I, II e III. Surgiram problemas de cidade grande, como falta de infraestrutura, segurança, transporte, saúde e serviços básicos. “Vimos a cidade se transformar. Tínhamos uma vida sossegada que não temos mais. Ainda tem um pouquinho da característica de cidade do interior aqui no Setor Tradicional. Mas de um modo geral, mudou muito”, lamenta o professor Aécio. Com o grande crescimento populacional, entrou nas estatísticas negativas por conta da violência. Entretan-


Simone Macedo preside a Associação dos Amigos do Centro Histórico

Professor Aécio, 77 anos: filho de Planaltina

to, de acordo com a Secretaria de Segurança Pública, os registros de homicídios e roubos caíram mais da metade desse o ano passado. Com o tempo, a característica de cidade dormitório foi mudando. Segundo pesquisa da Codeplan, cerca de 38% da população trabalha por lá, principalmente no comércio, e quase que a totalidade dos domicílios têm abastecimento de água e energia elétrica. Os moradores destacam também a presença de consultórios médicos, serviços de advocacia, agência de turismo, Detran e Secretaria de Fazenda. De acordo com o secretário das Cidades, Marcos Dantas, pequenas ações estão sendo feitas na cidade, como troca de lâmpadas, construção do Centro Olímpico, obras de acessibilidade no hospital, reforma da rodoviária, além da limpeza e preservação. “Toda essa importância patrimonial que Planaltina tem faz com que a gente queira cuidar dela como cuidamos da nossa casa. Queremos acabar com esse dogma de ser uma cidade esquecida, abandonada, longínqua, insegura”, afirma Dantas. Assim como o secretário, o professor Aécio ama a cidade e faz um pedido. “Planaltina é a mãe de Brasília, mas uma mãe abandonada pela filha. Precisamos que todos olhem para nós, governo e os moradores do DF”. GPSBrasília « 103


Interior do Museu Histórico, criado em 1974

As casas do Setor Tradicional são as mais antigas

PLANALTINA PELO TEMPO • Final do Século XIX – Não há documentos que datam o início da região, mas fala-se que foi por volta de 1790. Até então, funcionava como ponto de passagem da Estrada Real. A região foi batizada inicialmente de Mestre D’armas, por conta de um ferreiro português especialista na arte de consertar e manejar armas. • 1859 – O território pertencia a Vila de Santa Luzia, hoje Luziânia, depois foi transferido para Julgado de Couros (Formosa), em 1837. Em 19 de agosto de 1859, cria-se o distrito de Mestre D’Armas, pertencente a Formosa (GO). • 1891 – Dom Pedro II criou uma comissão que seguiu de trem e de mula para o interior do Brasil. Na chefia, o astrônomo belga Luiz Cruls, por isso a expedição foi denominada Missão Cruls. Eles fizeram os primeiros estudos e delimitaram geograficamente a Nova Capital. Eram astrônomos, médicos, geólogos e botânicos.

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A Pedra Fundamental da futura Capital , em 1922

• 1917 – Passa a denominar-se Planaltina, diminutivo de Planalto. • 1922 – Em 7 de setembro, instala-se a Pedra Fundamental da Futura Capital Federal dos Estados Unidos do Brasil. Ela está no Morro do Centenário, na Serra da Independência, situada a 9km da cidade de Planaltina. • 1953 – O Presidente Getúlio Vargas sanciona a lei que determinava estudos definitivos para a implantação da Capital. • 1955 – Foi delimitado o quadrilátero do DF, com uma área de 5.814 Km². Planaltina foi dividida entre Goiás e DF. • 1974 – É criado o Museu Histórico e Artístico de Planaltina. • 2008 – A Via-Sacra no Morro da Capelinha foi decretada como Patrimônio Imaterial do DF. • 2017 – Hoje, são mais de 200 mil habitantes, dos quais 50% já são nascidos na região. Dos imigrantes, a maioriade Goiás, Minas Gerais, Maranhão, Bahia e Piauí.


RIQUEZAS VIA SACRA

Há 44 anos, o Morro da Capelinha recebe uma das mais bonitas encenações da Paixão de Cristo. Tudo começou em 1973, quando o Padre Aleixo Susin reuniu fiéis para reproduzirem o caminho percorrido por Jesus Cristo, do Tribunal de Pilatos até o Monte Calvário. Tinham apenas 500 pessoas. A cada ano a celebração ganha mais devotos e curiosos – hoje, 60% da população é católica. O cenário passou a ser fixo, com a construção de muralhas e palácios. O caminho ficou mais acessível. Neste ano, atraiu 60 mil pessoas. Um grande orgulho da comunidade, uma festa genuinamente de Planaltina. Os organizadores e atores são todos da cidade, e ainda contabiliza quase dois mil voluntários. A importância é tamanha que, em 2008, foi decretado como Patrimônio Imaterial do DF. E a vista lá de cima é de tirar o fôlego.

FESTA DO DIVINO

Outra grande festa católica em Planaltina é a tradicional Festa em Louvor do Divino Espírito Santo, realizada 50 dias após o domingo de Páscoa, há mais de cem anos, antes mesmo da inauguração de Brasília. O evento comemora a descida do Espírito Santo sobre os apóstolos, o chamado Pentecostes. Começa em um encontro em frente à igreja Matriz de São Sebastião, em um encontro das bandeiras. Uma verdadeira onda vermelha e branca toma conta da cidade, reunindo gente de todas as idades. Por dias, um grupo de fiéis montados a cavalo percorre fazendas da região, carregando a bandeira do Divino, a imagem de Nossa Senhora e a pomba, representando o Espírito Santo. É a chamada Folia da Roça.

VALE DO AMANHECER

A comunidade de 22 mil habitantes chama a atenção pelas indumentárias com as quais circulam pelo local. Um cenário diferente para quem não conhece, mas que mostra o dia a dia da Ordem Espiritualista Cristã do Vale do Amanhecer. É uma das maiores comunidades esotéricas do mundo. Foi criada pela médium Tia Neiva, que se instalou na região em 1969. Hoje, tem milhares de seguidores por todo o mundo e mais de 600 templos espalhados no Brasil e no exterior. O Templo Mãe fica no Vale e recebe, em média, 300 pessoas por dia em busca de atendimento espiritual. As pousadas da região estão sempre lotadas e não é difícil encontrar um gringo por ali. A grande celebração da religião ocorre, todos os anos, no dia 1º de maio, quando é comemorado o Dia do Doutrinador. A festa começa antes do nascer do Sol e reúne cerca de 40 mil pessoas. É como uma renovação das forças, uma espécie de ano novo para os seguidores.

Fotos: Agência Brasília

BELEZAS NATURAIS

Planaltina tem uma rica beleza natural, parques, rios e cachoeiras, muito exploradas pelo turismo rural, com muitos hotéis fazenda e passeios pela região. A cidade é abastecida pelos pequenos córregos Pipiripau, Mestre D’armas, Quinze, Corguinho, Brejinho, Paranoazinho e Fumal. É uma região rica em áreas de preservação. São nove parques ecológicos e a Estação Ecológica de Águas Emendadas (ESECAE), a grande maravilha da região. Totalizam 13.251 hectares de área protegida por unidades de conservação, segundo o instituto Brasília Ambiental (Ibram). As Águas Emendadas passou a ser conhecida pelo seu potencial hídrico e, em 1968, foi criada a Reserva Biológica de Águas Emendadas. Vinte anos depois, foi elevada à condição de Estação Ecológica.

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O brasileiro Roberto Azevêdo promove comercialização entre 164 países-membros

O GRANDE NEGOCIADOR À FRENTE DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO (OMC), O BRASILEIRO ROBERTO AZEVÊDO, EM FATO INÉDITO, É REELEITO POR MAIS QUATRO ANOS PARA O CARGO COM APOIO DOS 164 PAÍSES-MEMBROS. SUA MISSÃO É ALINHAR INTERESSES NO SISTEMA MULTILATERAL EM MEIO À CRISE MUNDIAL POR MARCELLA OLIVEIRA

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e há alguma tensão no trabalho de chefiar a Organização Mundial do Comércio (OMC), não é pela voz serena nem pelo tom tranquilo do seu diretor-geral Roberto Azevêdo, 59 anos, que isso se faz transparecer. A missão é árdua. Sobre os ombros do diplomata brasileiro, pela segunda vez, está a responsabilidade de comandar a OMC e aquecer o comércio mundial, mesmo com o cenário de incertezas. A saída da Inglaterra da Zona do Euro e as dúvidas sobre os modos com que Donald Trump negociará com o resto do mundo são apenas alguns dos desafios. Soteropolitano e brasiliense de coração, Azevêdo reúne todas as características para transformar esse ambiente nebuloso em novas e importantes conquistas. Azevêdo nasceu em Salvador, mas passou boa parte da adolescência e vida adulta na Capital da República.

360b / Shutterstock

ECONOMIA


Azevêdo é o primeiro latino-americano a chefiar a OMC

Estudou Engenharia Elétrica na Universidade de Brasília (UnB) e cursou o Instituto Rio Branco. Ingressou em 1983 no Itamaraty e seguiu a carreira diplomática, passando pelas embaixadas do Brasil em Washington e Montevidéu. As habilidades como negociador foram desenvolvidas quando integrou a missão do Brasil junto à OMC, pela primeira vez entre 1997 e 2001. A organização é responsável por negociar acordos comerciais entre seus 164 países-membros, o que significa, muitas vezes, resolver conflitos. Ele ainda dirigiu a Coordenação-Geral de Contenciosos do Itamaraty, em Brasília, órgão responsável pelos litígios comerciais do Brasil na OMC. E foi Subsecretário-Geral para Assuntos Econômicos no Ministério das Relações Exteriores. A boa desenvoltura em solução de disputas comerciais o levou a ser Embaixador do Brasil junto à OMC em 2008. Continuou até 2013, ano da seleção como diretor-geral. Em fevereiro deste ano, foi reeleito para o segundo mandato de quatro anos, que começa em setembro de 2017. Azevêdo é o primeiro latino-americano a chefiar a Organização. “O comércio é uma das ferramentas mais eficazes em prol do crescimento dos países. Podemos fazer mais para que os benefícios do comércio alcancem mais pessoas”, diz o diplomata.

Fotos: © WTO. Cortesia Admedia Communication.

Elegante, para o trabalho está sempre de terno Ermenegildo Zegna e gravata Ferragamo. Já nas horas vagas mantém o visual clássico com calça jeans, camisa polo e mocassim. Em entrevista exclusiva à revista GPS|Brasília, Roberto Azevêdo contou dos quatro primeiros anos na Organização, dos planos para o segundo mandato e da relação com Brasília. Qual a influência da OMC no nosso dia a dia? O comércio internacional é mais do que a concorrência entre os produtos locais com os importados. Ele permite, por exemplo, que um brasileiro compre uma passagem aérea pela Expedia ou um produto no eBay. A Organização oferece um conjunto de regras para o relacionamento comercial entre os países, criando um ambiente favorável para os negócios atravessarem fronteiras. Qual a importância de ter um brasileiro na direção-geral da Organização? O Brasil é um dos fundadores da OMC e uma voz atuante nos debates comerciais. No atual cargo, atuo de forma independente e neutra. Sou o diretor-geral de todos os membros. Isso é fundamental para o meu trabalho, para a credibilidade dos meus esforços, sobretudo ao buscar aproximar países de interesses diferentes. O comércio internacional não se resume à entidade. Entendo que a política comercial esteja sendo objeto de uma reflexão importante no Brasil e isso inclui avanços em outras frentes de negociação, com acordos regionais ou bilaterais. Quais conquistas o senhor destacaria do seu primeiro mandato? Acho que a maior conquista foi mostrar que a OMC é capaz de finalizar relações comerciais importantes. Em 2013, concluímos o Acordo de Facilitação de Comércio, o primeiro de âmbito global da história da OMC, com a participação de todos os membros. Este Acordo simplifica e harmoniza procedimentos aduaneiros em todo o mundo e pode reduzir os custos das transações comerciais em até 13,5%. Além disso, em 2015, eliminamos os subsídios às exportações agrícolas. No mesmo ano, um grupo de países da OMC concluiu um acordo para eliminar o imposto de importação de produtos de tecnologia da informação, como microprocessadores de última geração, aparelhos de GPS, telas touch-screen etc. Esse acordo cobre um comércio de USD 1,3 trilhão por ano. Como o senhor avalia a OMC em 2013, quando você assumiu a diretoria-geral, e agora, após ser reeleito? Acho que hoje, a OMC voltou ao radar e a reconquistar a credibilidade como foro negociador. Quando assumi,

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Roberto Azevêdo vive na Suíça há uma década com a mulher, a embaixadora Maria Nazareth Farani de Azevêdo, que hoje é titular da Missão do Brasil junto às Nações Unidas, em Genebra. São casados há 35 anos. Mesmo com uma agenda profissional apertada, que inclui viagens semanais pelo mundo, Roberto tem uma vida social pacata. Adora um papo com os amigos apreciando um bom vinho e assistir às partidas de futebol do Fluminense. Por ser um homem extremamente família, a internet é sua aliada para se fazer presente. Sempre com um smartphone na mão, Whatsapp e e-mail são as melhores formas de entrar em contato com ele. Apesar de baiano, sua maior relação no Brasil é com Brasília. Aqui moram as duas filhas, a designer de moda Luisa Farani, 30 anos, e a advogada Paula Farani, 34, além das três netas. “Também vivem na Capital minha mãe, meu irmão e a família da minha mulher. Meu coração está sempre perto deles”, afirma. Mesmo circulando naturalmente pelos cinco continentes, os acontecimentos na terra natal são sua maior referência. “Sou e serei sempre brasileiro”.

muitos duvidavam que fosse possível fechar um acordo comercial com mais de 160 países. Atualmente, o crescimento do comércio internacional está baixo. Como isso afeta a relação entre os países? O crescimento baixo do comércio tem a ver com o ritmo lento de expansão da economia mundial. Nossas estimativas apontam para um maior crescimento do comércio em 2017, mas ainda há taxas moderadas, bem abaixo das médias históricas pré 2008. De toda forma, o cenário internacional de hoje é bastante incerto. É extremamente importante que os países evitem cair na tentação de criar novas barreiras ao comércio. Ações unilaterais provocam reação em cadeia, e todos saem perdendo. Qual a expectativa para reunião em Buenos Aires, no final do ano? No momento, há diversos temas sobre a mesa. Por exemplo, agricultura, subsídios à pesca, facilitação

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© WTO/Studio Casagrande

É DO BRASIL

de investimentos e de serviços, comércio eletrônico e apoio a pequenas e médias empresas. No meu cargo, posso facilitar o diálogo, mas cabe aos membros avançar o trabalho, trazer propostas e ver onde é possível chegar a um entendimento. Nas últimas duas conferências ministeriais conseguimos avanços importantes para o comércio mundial. Devemos nos inspirar nessas conquistas para seguir avançando. Pessoalmente, como viu a sua reeleição? Vi como um sinal de que estamos no caminho certo, mas de que há muito mais a fazer. Obtivemos vitórias importantes nos últimos anos. Ao mesmo tempo, há bastante instabilidade no cenário internacional e o comércio está no centro do debate político em muitos países. A OMC é mais importante que nunca num mundo como o de hoje. Quais são os desafios para o próximo mandato? Vivemos um momento de grandes incertezas no cenário econômico global. Muitos apontam o comércio como a causa de vários problemas, como o aumento no desemprego, quando, na verdade, outros fatores, como os avanços tecnológicos, mudaram o mercado e têm um impacto bem maior na economia. Diante desse quadro, acho que um desafio importante para a OMC é fazer mais para que os benefícios do comércio sejam mais inclusivos e alcancem mais pessoas por meio de novas reformas às regras globais. Vamos seguir trabalhando nessa frente.



TRABALHO

UM GESTOR NO FURACÃO O JOVEM BRASILIENSE LEONARDO GADELHA É O RESPONSÁVEL POR OPERACIONALIZAR A REFORMA DA PREVIDÊNCIA. NA PRESIDÊNCIA DO INSS, ESPERA O COMANDO PARA EXECUTÁ-LA E PROMETE MODERNIZAR A INSTITUIÇÃO COM A IMPLEMENTAÇÃO DO E-GOVERNMENT POR MARIANA ROSA « FOTOS SERGIO LIMA

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presidente do Instituto Nacional da Seguridade Social é um jovem de 41 anos. Leonardo de Melo Gadelha é o cara com conhecimento técnico e político que fala sobre o assunto mais polêmico dos últimos meses no País, a reforma de Previdência. Na verdade, ele é extremamente enfático ao frisar que o Instituto é o operador da pasta, o responsável por executar as ações previdenciárias. O órgão competente para fazer as regras sobre o assunto é a Secretaria de Previdência Social – que tem como chefe Marcelo Caetano – e está vinculada ao Ministério da Fazenda. Eles fazem a proposta, submetem-na ao Congresso Nacional, que envia ao presidente. Só então, “o INSS aparece para fazer aquilo que o Executivo estabelece. Eu faço sempre essa ressalva. Um opera o dia a dia e outro formula a política. Se você puder fazer essa ressalva é bom, porque esse é um tema sensível dentro do governo”. Ressalva feita, mesmo assim, devido a relevância e falta de esclarecimento do assunto, Gadelha fala sobre a pauta controversa. “A previdência e o INSS talvez sejam os temas mais democráticos do Brasil, porque todo mundo tem algum interesse nele. A pre112 « GPSBrasília

vidência é um seguro, não é um investimento”, reforça. Durante a entrevista, Gadelha assume a responsabilidade do Instituto nas falhas operacionais, enaltece a competência dos servidores e esclarece a importância de ser assegurado. Enquanto isso, conta da trajetória pessoal nos concursos públicos e dos planos para o futuro. Por que devemos pagar a previdência social? Por uma questão muito simples: não existe nenhum outro seguro que possa ser ofertado pela iniciativa privada que seja tão abrangente, fácil de obter e barato quanto o seguro social brasileiro. A principal razão para eu defender que um jovem contribua com a previdência é que o seguro é abrangente, acessível e confiável. O governo não vai deixar de pagá-lo. Por que as leis previdenciárias precisam ser modificadas? A minha opinião está alinhada com a da Secretaria de Previdência, por isso posso responder essa pergunta. As pessoas viverão mais, graças a Deus, e usufruirão da aposentadoria por mais tempo. Na outra ponta, as famílias têm menos filhos. O


“ESTAMOS ALINHANDO NOSSA LEGISLAÇÃO E SISTEMA ÀS MELHORES PRÁTICAS EXISTENTES NO MUNDO”

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TRAJETÓRIA

que significa menos integrantes no mercado de trabalho. No sistema brasileiro, quem trabalha hoje contribui para manter o benefício de quem está jubilado. Ora, se no futuro nós teremos menos pessoas no mercado de trabalho e mais pessoas vivendo por mais tempo, é uma questão matemática, a conta não fecha. Então, estamos alinhando nossa legislação e sistema às melhores práticas existentes no mundo. O IBGE divulga a expectativa de vida ao nascer de 76 anos. Quando passamos à infância e à adolescência, a idade aumenta para 84 anos. Ou seja, mesmo que o Congresso aprove a idade mínima de 65 anos para a aposentadoria, as pessoas vão auferir o benefício por muito tempo. Algumas pessoas preferem garantir a aposentadoria investindo em previdência privada... Eu não tenho nada contra. Eu também faço previdência privada para complementar a renda. Mas, é isso, uma complementação. Eu acho o governo mais confiável do que uma empresa privada. Falamos muito mal do Brasil e esquecemos nossos pontos positivos. Por exemplo, o filme que ganhou a Palma de Ouro em Cannes em 2016 se chama Eu, Daniel Blake, retrata as dificuldades de um 114 « GPSBrasília

Leonardo de Melo Gadelha nasceu em Brasília. É Administrador de Empresas pela Universidade de Brasília e ex-deputado federal pela Paraíba. O gestor é pós-graduado em Administração de Empresas pela Universidade da Califórnia, em Berkeley (EUA), e em Gestão Financeira pela Fundação Getúlio Vargas, além de mestre em Gestão pela UNB. Gadelha é filiado ao Partido Social Cristão (PSC) desde 2009. Na Legislatura 2011-2015, assumiu como suplente o mandato de deputado federal. Em 2014, tornou-se consultor legislativo do Senado Federal. Nas eleições de 2014, concorreu como candidato a vice-presidente da República, junto com o Pastor Everaldo. Tomou posse no INSS em 13 de julho de 2016 aos 41 anos.

serralheiro inglês com grave doença no coração que luta para conseguir o auxílio-doença. O filme mostra como o processo é burocratizado na Grã-Bretanha. O que o ajuste na previdência traz de positivo para a economia brasileira? Não tenho dúvidas de que a sustentabilidade da previdência é positiva para a economia. Estudos mostram que em mais de dois terços dos municípios brasileiros os repasses da previdência são a principal fonte de riqueza da cidade e do financiamento econômico. Mais do que a soma de todos os tributos municipais.


“SE TEREMOS MENOS PESSOAS NO MERCADO DE TRABALHO E MAIS PESSOAS VIVENDO POR MAIS TEMPO, É UMA QUESTÃO MATEMÁTICA, A CONTA NÃO FECHA” Se isso acontece com os municípios, o que acontece com o País? Cada município contribui para o crescimento do País como um todo. Tem outra coisa também. A previdência colabora com repasses sociais. São benefícios muito defensáveis do ponto de vista moral. Acho que ninguém será contra o Benefício de Prestação Continuada (BPC), ofertado para quem tem necessidades especiais severas e para idosos em situação de vulnerabilidade. Além de contribuir com o seguro, a previdência faz o papel de assistente social, que é muito importante para o País. Como reage às brincadeiras de que o brasileiro não irá se aposentar nunca? O brasileiro é, por natureza, bem-humorado, as brincadeiras não são nenhum demérito, pelo contrário. Percebo que o corpo técnico do INSS é especialmente qualificado. Acho até que existe um descompasso entre a percepção da sociedade e aquilo que se produz aqui dentro. O instituto evoluiu muito na última década e isso deve-se à qualificação dos seus servidores. O que o INSS tem feito para agilizar o processo de requisição do benefício? Existem várias iniciativas para agilizar o processo. Uma delas já está no ar, é o Meu INSS. Hoje, 1,7 mil agências no País atendem, em média, 3,6 milhões pessoas. Desses, 34.837 atendimentos são feitos em sete agências em Brasília. Do total, cerca de um terço do público vai ao local apenas para fazer saber a sua situação perante o sistema, não estão ali para requerer benefícios​. Por intermédio da central de serviços do INSS, permitimos que as pessoas façam isso remotamente, por meio digital, evitando a necessidade de ir a uma agência do INSS. Outras novidades positivas estão por vir? Sim. Eu estava com o pessoal da Dataprev – Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência Social – discutin-

do exatamente sobre isso. O outro projeto é o mais audacioso de todos. O mundo inteiro está caminhado para o E-government. O cidadão poderá fazer a submissão do requerimento eletronicamente por meio de um certificado de autenticação, enquanto o servidor, em qualquer estado brasileiro, também fará a análise do processo de forma remota. Como ficam os funcionários públicos após a reforma? Quem ingressou no serviço público depois de 2012, já segue as regras do serviço geral da previdência social. Precisamos considerar o seguinte, as pessoas que ingressaram no serviço público antes de 2012 fizeram contribuições de R$ 3 mil durante muitos anos, enquanto hoje, para você auferir o teto, deve pagar cerca de R$ 500. Então, o governo está propondo regras de transição para que elas não sejam prejudicadas. O mesmo acontecerá com você, consultor do Senado? Sim, é o meu caso. O meu teto, quando eu me aposentar, será o mesmo de um celetista, que hoje está em torno de R$ 5,4 mil. Inclusive, eu tenho uma história muito particular com esse concurso. Em 2008, eu fiz a prova para consultor do Senado na área de Economia. Cheguei à última fase das provas de tradução de espanhol e inglês. Fui eliminado porque fiz a tradução da prova de inglês na folha de espanhol e a de espanhol na folha de inglês. Foi algo que me frustrou muito. Em 2010, disputei o mandato para deputado federal na Paraíba, mas fiquei como primeiro suplente. Logo fiquei sabendo que haveria novo concurso em 2012. Voltei para Brasília, me inscrevi em três cursinhos, passei o ano de 2011 todo estudando. No final de dezembro de 2011, assumi em caráter temporário o cargo de deputado e a prova foi em fevereiro de 2012. Graças a Deus, dessa vez deu tudo certo. Como é o dia a dia do presidente do INSS? Tenho muitos amigos de infância aqui em Brasília, estudei no Marista. Mas sou muito caseiro, saio pouco, quando saio é mais para jantar. Moro no Sudoeste e fico por ali mesmo. Antes, eu sempre corria no Parque da Cidade, mas, com o trabalho no INSS, não tenho mais tempo. O projeto do Museu do INSS está para sair? Queremos fazer um museu maior. Temos um acervo no Brasil inteiro de valor histórico e artístico muito relevante. Estamos fazendo um trabalho de catalogação para efetivar o projeto. Já procuramos o Ministério da Cultura para saber o que podemos fazer nesse assunto. GPSBrasília « 115


GPS ESPECIAL

NEGÓCIO DE FAMÍLIA

Pais e filhos: Rocky, Lourdes, Flávio e Ciro

GESTÃO E TRADIÇÃO SE ENCONTRAM NA PNEULINE, A EMPRESA FAMILIAR QUE HÁ TRÊS DÉCADAS ATUA COM MAESTRIA NO MERCADO LOCAL E LIDERA O RANKING DE A MAIOR DO CENTRO-OESTE. NO COMANDO, UM CASAL VISIONÁRIO DE PARANAENSES POR PEDRO LIRA « FOTOS LUARA BAGGI

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uando Rocky e Lourdes Oliveira deixaram família e amigos em Curitiba, no ano de 1984, não poderiam imaginar que viriam para Brasília construir um império. Com três filhos adolescentes, os paranaenses apostaram nos negócios prósperos da recém-Capital para uma nova vida. E acertaram. Rocky e Lourdes investiram seus esforços na primeira Pneuline, a maior rede de lojas de serviços automotivos e pneus do Distrito Federal. Com 18 unidades e 350 funcionários, a empresa atende mais de seis mil clientes por mês. O segredo de tanto sucesso? O engajamento de toda a família nos negócios. “Desde sempre, os meninos abraçaram a causa. Somos o que somos hoje pelo interesse de toda a família”, conta Lourdes. Almoços de família, reunião de negócios e até viagens 116 « GPSBrasília

de férias. A relação dos Oliveira nunca se abalou pelos negócios. “Sempre nos demos muito bem e conseguimos comandar a empresa com harmonia”, conta Lourdes. A matriarca preza pela união dos filhos independentemente do mundo do business. “Os meninos são amigos. Flávio e Ciro, inclusive, passam as férias juntos”, conta orgulhosa. Os Oliveira chegaram a Brasília com certo conhecimento no mundo do empreendimento. Lá em Curitiba administravam uma pequena empresa de turismo. “Viemos para a Capital e eu achei que trabalhar com automóveis seria um bom negócio”, relembra Rocky. A primeira unidade, em Taguatinga, começou com venda de peças para motor. Quatro anos depois, tornou-se um autocentro, expandido-se para o resto da Capital.


Hoje, são 18 lojas divididas entre Brasília, Taguatinga, Ceilândia, SIA, Samambaia, São Sebastião, Planaltina e Sobradinho, ocupando a liderança na venda de pneus na região Centro-Oeste. Desde 1998, é revendedora exclusiva da marca Pirelli, líder no mercado de pneus no Brasil. Sua rede conta ainda com venda de rodas esportivas, serviços de suspensão, freios, troca de óleo, injeção eletrônica, alinhamento, balanceamento e reforma de rodas. Para manter a organização, as funções são divididas. “Temos que trabalhar com o que gostamos. Eu tenho aptidão e paixão pelas oficinas. Meus outros irmãos participam no conselho e trabalham também em outros projetos”, conta Flávio Oliveira, segundo filho do casal e atual CEO da marca. A família também é dona da oficina Piquet Pneus e da delicatéssen L’Amour Du Pain, gerenciados pelos outros herdeiros. Porém não se engane, a paixão por carros sempre fez parte de todos os Oliveira. “Eu e minha mulher, nossos filhos e sete netos. Todos entendemos de carros e somos apaixonados por esse universo”, conta Rocky.

EXPECTATIVAS Flávio explica que o sucesso da empresa é definido pelos clientes. “Você pode ter a maior força de vontade do mundo, se os clientes não gostarem do serviço, a empresa não prospera”, defende. Foi com esse pensamento que o administrador investiu em atendimento e mão de obra, surgindo contra a fama negativa de mecânicos. “A fama dos mecânicos é que são sujos e querem sempre passar a perna no cliente. Por isso, eu treino muito meus funcionários para que eles passem confiança e profissionalismo”, explica. Formado em Administração de Empresas e com pós-graduação na Dom Cabral, uma das melhores fundações de ensino do país. “Aprendi na prática e na teoria. A experiência que eu e meus irmãos tivemos desde jovens e os estudos voltados para gestão nos tornaram profissionais aptos”, defende. Com experiência no exterior, Flávio já geriu uma oficina em Orlando, na Flórida. “Foram quatro anos de muito estudo. Trouxe para o Brasil inúmeras lições de lá, muita novidade e aprendizado”, conta. E não se engane, a fama ruim do segmento é mundial. “No segundo dia de funcionamento nos Estados Unidos, um cliente me abordou e comentou que conhecia mecânicos ruins e não queria ser enganado”, relembra Flávio.

PARA O FUTURO Ainda este ano, os Oliveira pretendem abrir três novas unidades da Pneuline. No Guará, Extra Parque e Sudoeste. “Nós apostamos na melhoria do mercado econômico. Apesar da crise e da queda nos negócios, a reversão da taxa de juros está melhorando e já começamos a sentir isso nas lojas”, conta o empresário. No último ano, a empresa teve um crescimento de 30%, o que são números ótimos, considerando a situação econômica do País. “Mesmo com o consumidor economizando, ainda mantivemos um número bom de clientes”, diz. “Conseguimos fidelização por meio de atendimento e parte técnica. O cliente pode gastar R$ 100 ou R$ 1 mil. A satisfação independente do valor. Se o serviço for bom, transparente, bom atendimento, ele sairá satisfeito e fidelizado. Esses mil reais virarão R$ 10 mil”. Constantes investimentos em qualificação de pessoal e em programas de qualidade garantiram à Pneuline em 2005, 2009, 2010, 2011, 2012, 2014 e 2016 o prêmio Top of Mind, de empresa mais lembrada do segmento pelos consumidores do Distrito Federal.

NOVA GERAÇÃO A família, que está na terceira geração, começa a preparar os mais novos para o futuro da empresa. Rocky e Lourdes possuem sete netos, que, assim como os filhos, trabalham na empresa desde cedo. No entanto, Flávio enfatiza: “Questão de sucessão é mérito, e não linhagem”. Para o futuro dos jovens, muito estudo e preparação. “É preciso não apenas gostar, como também estar disponível. A Pneuline é grande e gerir isso tudo é complexo. Nós estamos preparando meus filhos e sobrinhos para, no futuro, se não forem administradores, façam parte do conselho administrativo da marca”, explica. Os anciões participam ativamente dos negócios, mas com a experiência. “Meus pais trabalham em um ritmo tranquilo. A participação fundamental deles é com a sabedoria. Toda escolha que preciso tomar converso com os dois e uso e abuso da experiência que eles têm nos negócios”, conta Flávio, que “atua para que o legado familiar continue”, conta Rocky. Pneuline www.pneuline.com.br

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TRANSGÊNEROS

MUITO ALÉM DA ESTÉTICA À MARGEM DO PRECONCEITO DA TRANSEXUALIZAÇÃO, O JOVEM ERICK CARPANEDA É UM DOS POUCOS CIRURGIÕES PLÁSTICOS QUE REALIZA MASTECTOMIA MASCULINIZADORA. PACIENTES DESEMBARCAM EM SEU CONSULTÓRIO EM BUSCA DA VERDADEIRA IDENTIDADE POR FLAVIA MEDEIROS « FOTOS CELSO JUNIOR

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asce mulher, mas enxerga-se homem, ou o contrário. Nasce homem e identifica-se como mulher. O drama vivido pelos transgêneros no Brasil, apesar de ainda ser um tabu na sociedade, ganha espaço nos jornais, nos programas de televisão, no cinema, nas novelas. “Trazer o debate para a sociedade é mais do que falar sobre gênero, é uma questão de postura social. Não há o que questionar se a pessoa está certa ou errada”, defende o cirurgião plástico Erick Carpaneda, há quatro anos referência nacional em operação de mastectomia masculinizadora – retirada completa dos seios – em pacientes transgêneros. Apaixonado por laboratórios e estudos do corpo humano desde criança, Erick passou no vestibular de medicina da Universidade de Brasília (UnB) aos 17 anos. Formou-se em 2006, aos 23 anos. Apesar de ser filho do renomado cirurgião plástico Carlos Augusto Carpaneda, ele deixa claro que nunca houve pressão do pai para que seguisse os mesmos passos. “Meu pai acabou me influenciando, porque me levava desde novo para os laboratórios de pesquisa da UnB, logo, meu interesse foi inevitável”, pontua. Por outro lado, Erick atribui à mãe, Isabella Carpaneda – escritora de livros de alfabetização – a inspiração para resgatar o lado social da cirurgia plástica, no intuito de ajudar as pessoas a viverem melhor. “Minha mãe tornou-se escritora para iluminar o olhar de quem não sabe ler e escrever. A escolha de me tornar médico, uma profissão que tem em seu cerne o próprio ser humano, foi inspirada nela”, emociona-se. Hoje, reconhecido como

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um ícone da cirurgia plástica em Brasília, o cirurgião faz um relato sobre o caminho que escolheu trilhar. “A realização profissional é um sonho para quase todos. É muito bom deitar no travesseiro à noite e saber que sua vida está sendo construída com alegria e com honestidade”. Comparada à cirurgia plástica mais realizada no País – colocação de prótese de silicone –, a mastectomia nos pacientes transgêneros é mais complicada. Além da retirada da mama, há redução do tamanho do mamilo e seu reposicionamento para uma posição mais lateral e inferior do peitoral. “Existem pouquíssimos médicos que se arriscam a fazer esse procedimento no Brasil. Não existe especialização na área e, em geral, aprendemos com a prática”, pontua. A primeira experiência de Erick Carpaneda nesse tipo de cirurgia foi por acaso, há quatro anos. “Um dia, um menino chegou ao meu consultório chorando, dizendo

que não tinha razão para viver se não conseguisse tirar a mama. Ele tinha uns 20 anos”, lembra. “Me sensibilizei. Nunca tinha feito o procedimento nem visto ninguém fazer, mas sabia que tinha plena capacidade de resolver aquele problema e deixá-lo feliz”, conta. A cirurgia correu bem, mas foram necessários pequenos ajustes. “Quando tirei o curativo, ele chorou de alegria. Em seguida perguntou se poderia reduzir um pouco o mamilo, para ficar mais parecido com o de um homem. Fizemos e o resultado ficou perfeito”, orgulha-se. Hoje, com cerca de 500 pacientes operados, Carpaneda afirma que a experiência o auxiliou a aprimorar a técnica das cirurgias, chegando o mais perto possível da imagem de um peitoral masculino. Segundo ele, os casos mais difíceis envolvem pacientes que estão acima do peso, pois há muita quantidade de gordura e pele na mama. Mesmo

Erick realiza sonhos com a cirurgia masculinizadora

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RETRANCA

Erick Carpaneda em seu consultório no Lago Sul

assim, isso não impede a operação. “É muito difícil solicitar a um paciente com 110 kg que chegue aos 70 kg, sendo que ele não consegue fazer exercício, porque tem vergonha de se expor”, explica. O médico realiza, em média, três cirurgias por semana e os pacientes vêm de todo Brasil.

BRASÍLIA: REFERÊNCIA A transexualização é um processo longo e irreversível. Antes de ir para a mesa de cirurgia é necessário acompanhamento psicológico por, pelo menos, dois anos, para que o paciente tenha segurança e certeza da sua vontade. Em ambos os gêneros, a idade mínima para procedimentos ambulatoriais – como consultas e tratamento hormonal – é de 18 anos. Para procedimentos cirúrgicos, a idade mínima é 21 anos. Após a cirurgia, deve ser realizado mais um ano de acompanhamento pós-cirúrgico. 120 « GPSBrasília

Na Capital Federal, Erick Carpaneda fez do Instituto de Cirurgia do Lago, onde atua, um centro de referência em cirurgia de mastectomia masculinizadora. As cirurgias custam entre R$ 7 mil e R$ 10 mil. Na consulta pré-operatória, o médico solicita o laudo psicológico. Um cuidado necessário para que uma pessoa com distúrbio psiquiátrico não venha a ser operada. “Tenho que operar um transgênero e preciso ter certeza disso”, esclarece. O tempo entre a consulta e a cirurgia dura, em média, uma semana, mas os dois procedimentos podem acontecer no mesmo dia, dependendo do caso. A cirurgia dura aproximadamente três horas e a recuperação é rápida. “O paciente pode retomar às atividades quase imediatamente”, frisa o médico. A única indicação é para que os recém-operados fiquem em Brasília por cinco dias. É bom estar perto do médico caso aconteça alguma complicação, como hematoma ou


“MINHA MÃE TORNOU-SE ESCRITORA PARA ILUMINAR O OLHAR DE QUEM NÃO SABE LER E ESCREVER. A ESCOLHA DE ME TORNAR MÉDICO, UMA PROFISSÃO QUE TEM EM SEU CERNE O PRÓPRIO SER HUMANO, FOI INSPIRADA NELA”

acúmulo de líquido na região operada. “Infecções são muito raras, porque a mama é vascularizada e não tem prótese”, explica Carpaneda.

A PODEROSA MÍDIA SOCIAL Bastante acessível, é por meio das redes sociais que os pacientes fazem os primeiros contatos com o Carpaneda, tiram dúvidas e realizam o acompanhamento pós-operatório. Um exemplo é o jovem Paulo Vaz, de Belo Horizonte, que encontrou o cirurgião plástico pela internet. “Eu estava pesquisando os resultados obtidos por diversos cirurgiões e, para mim, os do Erick foram os melhores”, revela. “Procurei-o no Facebook e ele me passou todos os detalhes do procedimento. O contato foi respeitoso, objetivo e esclarecedor. Ele e a equipe são bem preparados para nos atender e respeitam nossa condição e nome social”, enfatiza. Paulo recorda que só descobriu a possibilidade de se transexualizar em 2009, quando estava com 25 anos. Foi então que começou a pesquisar na internet sobre o tema. “A vontade de adaptar o meu corpo à minha mente surgiu em meados de 2010 e a cirurgia foi em 2016. Foram seis anos de muita ansiedade. Passei por psicólogo, psiquiatra e, por fim, pelo endócrino. Todos aprovaram a cirurgia”. Um ano após a cirurgia, Paulo atua como modelo. A ideia de compartilhar a intimidade de um homem trans por meio de cliques profissionais veio do amigo fotógrafo Lucas Ávila. Hoje, o perfil de Paulo no Instagram (@ popo_vaz) reúne mais de quatro mil seguidores. “Sinto que estou vivendo plenamente e em paz”, diz, e descarta outros procedimentos cirúrgicos: “não pretendo fazer a cirurgia de redesignação sexual, estou bem assim”.

EM PAUTA Se a ideia é fomentar o debate sobre questões de gênero na sociedade, a televisão está começando a fazer o seu papel. A transexualidade é tema da novela das 21h da Rede Globo, A Força do Querer, de Glória Perez. A autora veio este ano a Brasília para conversar com o Erick Carpaneda, no intuito de buscar subsídios para compor uma personagem da trama. Ele também concedeu entrevista para um episódio da série Quem sou eu?, produzida pelo Fantástico. Deu a opinião profissional sobre uma cirurgia de mastectomia em um paciente transgênero. Para a psicóloga Sandra Sposito, do Conselho Federal de Psicologia (CFP), dar visibilidade à população trans na mídia é importante porque ajuda a desconstruir visões preconceituosas. “Reconhecer que o gênero é uma identidade constituída nas relações sociais e vivências singulares ajudaria bastante na diminuição do preconceito e da visão patológica”, estima. “Nosso caminho é promover o reconhecimento e aceitação de todas as identidades nos espaços sociais”, reforça. Grupos de apoio e associações também são peças-chave para promover o debate sobre os transgêneros. No Brasil, diversas entidades atuam em prol da causa, entre elas a ONG Grupo Dignidade, a Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transsexuais (ABGLT) e a Associação Brasileira de Homens Trans.

REDE PÚBLICA Desde 2008, o SUS oferece procedimentos para mudança de sexo, incluindo cirurgias de redesignação sexual, mastectomia, plástica mamária reconstrutiva (incluindo próteses de silicone) e cirurgia de tireoplastia (troca de timbre de voz). Entre 2008 e 2016, ao todo, foram realizados 349 procedimentos hospitalares e 13.863 procedimentos ambulatoriais relacionados ao processo transexualizador. Por conta da demanda, a espera pela cirurgia pode chegar a dez anos. Somente cinco hospitais públicos no Brasil oferecem procedimentos ambulatoriais e hospitalares de mudança de sexo: Hospital de Clínicas de Porto Alegre; Hospital Universitário Pedro Ernesto, da Universidade Federal do Rio de Janeiro; Hospital de Clínicas da Faculdade de Medicina da USP; Hospital das Clínicas de Goiânia; Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco. Clínica Carpaneda de Cirurgia Plástica – Centro Clínico do Lago Tel: (61) 3364-3301 e (61) 3344-0044

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ARTIGO FLÁVIO A. CADEGIANI*

Médico Endocrinologista e Metabologista (RQE 12.397)

FARMACOFOBIA, HORMONOFOBIA E OUTRAS FOBIAS NA CLÍNICA DIÁRIA DE UM ENDOCRINOLOGISTA

Imaginem quatro cenários durante a consulta com um endocrinologista: 1. "Doutor, comentaram comigo que o remédio que estou tomando faz mal e reganha o dobro depois que eu parar. É verdade?" 2. "Minha prima disse que é um crime eu usar hormônio, porque hormônio mata." 3. "Fui ao pronto-socorro com quadro de sinusite e o médico disse que a culpa era dos ‘remédios de emagrecer’. Tem alguma relação?" 4. “Li no Google que o medicamento X é para diabetes e quem o toma sem diabetes vai virar diabético além de dar câncer de pâncreas." Essas são situações corriqueiras e esperadas no consultório médico. Palavras vindas de "especialistas", julgando o paciente que bem ou mal conhecem, e que em nada disso interessa se tenha sido prescrito por um médico especialista após uma avaliação minuciosa do paciente. É meu papel passar o dia inteiro corrigindo esses preconceitos que tendem a ser um desserviço. O preconceito, hoje mais mal do que bem usado, foi um mecanismo que ajudou a espécie humana a evoluir, ao fazer julgamentos constantes do quê e em quem confiar. Dele criam-se estereótipos. Vamos às situações: Situação 1: Provavelmente seu conhecido comprou aquelas "fórmulas milagrosas", perdeu peso rápido e depois que parou reganhou o dobro, além de ter ficado muito irritada e com coração palpitando enquanto tomava. Primeiro, eu en122 « GPSBrasília

tendo perfeitamente o estigma que circunda o tratamento da obesidade ou a farmacofobia da obesidade. A obesidade, por sofrer muito preconceito, sempre foi mal vista, por isso, mal tratada clinicamente. O preconceito com a doença crônica ­– que é metabólica, química, inflamatória, psicológica, psiquiátrica e hormonal, mas vista como fraqueza e frescura, inclusive pela comunidade médica – inibe tratamentos adequados. Como toda doença crônica e complexa, precisa ser tratada por um período mais longo. Raramente o apetite em si é a causa – vejam que apetite e vontade de comer são completamente diferentes. Hoje em dia, os medicamentos que ajudam na perda de peso precisam comprovar ausência de riscos e perfil de segurança maiores do que para outras doenças. Por isso eu digo, o risco está no excesso de peso, não no medicamento. Situação 2: Aqui encontramos um caso típico de hormonofobia. Possivelmente a médica da prima da paciente disse que hormônio não deve ser receitado em hipótese alguma para ninguém, mesmo que o hormônio esteja associado mais a benefícios do que a riscos. Não cabe aqui discutir os fundamentos da hormonofobia e os interesses por trás disso. Cabe ressaltar que essa fobia gera um grande problema: se o paciente vier a ter alguma doença, a chance de alguém comentar que a "culpa é do hormônio", mesmo que a pessoa tenha algum problema hormonal, gerará um remorso tão grande, que o medo prévio de ter qualquer problema, anulará os benefícios que o uso de determinado hormônio traria. Ainda pior, poderá aumentar riscos reais de doenças por não usá-lo.


Bohbeh/Shutterstock

Situação 3: Provavelmente o profissional da saúde tem noção do que o paciente usa. Aqui, eu dou um conselho bem claro: desconfie do médico que "manda parar tudo". Provavelmente ele não faz ideia se e qual dos remédios está, supostamente, fazendo mal. Afinal, nem hormônios nem medicamentos para obesidade tratam doenças, já que ambos são tratamentos de "frescurites" Neste caso, oriento o paciente a questionar o médico em que exatamente está se embasando para passar a orientação. Só não espere uma resposta. Situação 4: Aqui entrou o Dr. Google. O conhecimento médico deixou de ser exclusivo da comunidade médica e passou a ser aberto a todos. O compartilhamento do conhecimento é uma realidade irreversível e deve ser vista da melhor forma possível. No caso em voga, obriga o médico a ser coerente e embasado no que faz, como uma exigência implícita dos pacientes, ao ser questionado. Quando o médico é seguro, esclarece todos os pontos. Eu, particularmente, adoro quando o paciente se interessa e pesquisa sobre o assunto. O problema é que, principalmente na en-

docrinologia, o percentual de fontes realmente adequadas de informação é muito pequena. No caso do medicamento X, ao contrário do que se imagina, ele não leva ao diabetes, e, sim, o previne. A prevenção ocorre pela perda de peso e por mecanismos inerentes ao medicamento. E, não. Ele não causa câncer de pâncreas e nem pancreatite. "Ah! Mas eu conheci uma pessoa que...". Vamos lá: existe uma incidência normal desses eventos. Pelo número de pessoas que usa o medicamento é esperado, dentro da incidência normal, que venham a aparecer alguns casos. Trabalhos com dezenas de pessoas mostraram que esses riscos não existem em absoluto. Essa é a prática do dia a dia. É como matar um leão por vez. É como abrir barreiras no matagal com um facão. É uma missão. E existem aqueles que estão dispostos a isso, pelo bem de todos. * Especialista em Endocrinologia e Metabologia pela Society of Endocrinology and Metabolism . Mestre e Doutorando em Endocrinologia Clínica pela Universidade Federal de São Paulo / Escola Paulista de Medicina (Unifesp/EPM)

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VOCAÇÃO

O apart-hotel no Golden Tulip é um dos destaques de Gabriela Gontijo

NOVO TALENTO DA ARQUITETURA E DÉCOR, GABRIELA GONTIJO, POSICIONA-SE NO MERCADO LOCAL, ATUANDO COM EQUIPE JOVEM E APLICANDO EM SEUS PROJETOS O STATEMENT DO MODO CONTEMPORÂNEO DE VIVER POR PEDRO LIRA « FOTOS EDGAR CÉSAR

IDENTIDADE E DESIGN COMO NEGÓCIO

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om apenas 28 anos, Gabriela Gontijo tem roubado a cena no mercado de arquitetura e decoração de Brasília. A jovem e talentosa é uma das colaboradoras do Núcleo Brasília de Decoração, NBD. A associação fomenta a produção e o mercado de arquitetura na cidade por meio da união de 13 empresas do setor. Nascida e criada na Capital, Gabriela viveu no Lago Sul por toda a infância. Depois de adulta, mudou-se para a Asa Sul, onde dirige o próprio escritório de arquitetura. “Abri o Gabriela Gontijo Arquitetura e Inte124 « GPSBrasília

riores pouco depois de me formar, em 2015. Ainda sou jovem na carreira”, comenta modesta. Na vida acadêmica, antes de tornar-se arquiteta, estudou Administração no UniCeub. Uma maneira de pensar na criação como negócio. “Eu sempre quis ser empresária, só não sabia em qual área investir”, brinca. Após descobrir a paixão pela Arquitetura, apenas uniu o útil ao agradável. Desde pequena, envolvida em construções, Gabriela foi influenciada pelos familiares, empresários da construção civil. “A rotina de construtoras fez parte da minha


quem vai morar ali e entender que a casa não é minha, mas do cliente”, diz. Segundo a arquiteta, alguns lares levam até um ano e meio para ficarem prontos. “É preciso repensar, refazer, recriar”. Entre suas experiências residenciais, assinou apart-hotéis, coberturas, flats, apartamentos e casas, não só em Brasília. A arquiteta tem projetos também em Goiânia e São Paulo. Entre os planos para o futuro, a expansão do escritório está no topo da lista. A aspiração tem tudo para dar certo. “Acredito que esse é um momento muito bom para os novos nomes. O mercado está se renovando, jovens talentos têm roubado a cena”, defende.

FORMATO COLABORATIVO vida. Inclusive, meu pai queria que eu cursasse Engenharia Civil”, conta. Mas não teve jeito, o chamado de Gabi foi para a arquitetura. “Eu não apenas construo algo, penso no projeto, no conceito, na funcionalidade e em quem vai passar por aquele lugar”, diz.

ESTILO PESSOAL Com estilo contemporâneo, Gabriela mistura o moderno e o rústico. “Adoro usar madeira, pedras, linhas retas. Tudo isso sempre pensando na funcionalidade”, ressalta. “Não existe beleza e estética separado de algo funcional”. Algumas das inspirações são os arquitetos Bernardes, Marcio Kogan, Jacobsen, David Bastos e principalmente, Frank Lloyd Wright. “Me identifico e busco inspiração no trabalho deles”, explica. No currículo, possui experiência em projetos comerciais de peso, como o restaurante Taco Pepe, no shopping Pier 21, as lojas espalhadas por Brasília da franquia Bio Mundo e o novo bistrô que promete agitar a Asa Norte, chamado Enquanto Isso. “Minha experiência no comercial é vasta, agora, quero me voltar um pouco mais para projetos residenciais”, adianta. Questionada se prefere projetos comerciais ou residenciais, Gabriela não consegue escolher. “Projetos comerciais são mais conceituais, pedem ideias. É preciso diferenciar-se dos concorrentes, criar uma identidade que agrade aos clientes”, explica. “Além disso são obras mais rápidas do que planejar casas”. Já na hora de assinar residências, Gabi admite que a exigência dos clientes é maior. “Preciso pensar em

A casa de Gabiela tem, na essência, os toques da arquiteta. “O problema de arquiteto é que toda vez que surge uma nova tendência, eu quero reformar”, brinca. Para não fazer obras a cada estação, prefere investir na decoração. “Gosto de trocar móveis, sempre mexer nos detalhes”. A integrante do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do DF é apaixonada por trabalho em equipe. Divide a rotina no escritório com mais seis profissionais. “Acredito que todos algo a acrescentar. Gosto que deem ideias, tenham a própria assinatura, falem e pensem juntos”, conta. “Essa é uma qualidade de um escritório jovem”.

PROJETO ESPECIAL Entre os projetos de maior destaque de Gabriela está o apart-hotel Golden Tulip, dentro do complexo hoteleiro Royal Tulip. Sempre pensando na funcionalidade, a arquiteta teve que transformar 56m² em uma residência e em um escritório. “O espaço era bem pequeno e tinha que render. Essa é a tendência da atualidade, fazer muito com pouco”, conta. A tática foi criar painéis para separar a parte íntima do escritório. “Com as divisórias foi possível reservar o quarto e a cozinha e deixar a sala como ambiente de trabalho”, explica. Outro ponto alto foram os espelhos, que refletiam o Lago Paranoá. “O cliente era apaixonado por praia, então, usamos vários espelhos nos armários para refletir a luz e trazer o Lago para dentro do apartamento”, conta. “Foi a forma de trazer o mar para ele”. Estúdio Gabriela Gontijo Arquitetura e Interiores Fone: (61) 3879-7929 www.gabrielagontijo.com.br

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ARTIGO POR SÉRGIO BORGES

Arquiteto pela UnB, especialista em arquitetura corporativa e colunista da BandNewsFM Brasília

Instagram: @atiwa_arquitetura_corporativa

UMA LUZ SOBRE O SEU TRABALHO ESSENCIAL NA VALORIZAÇÃO DO PROJETO DO SEU ESCRITÓRIO, A ILUMINAÇÃO MERECE CUIDADO

U

m erro comum é o usuário espalhar luminárias pelo escritório sem um estudo prévio, pensando apenas em “iluminar” o espaço. Um ambiente mal iluminado dificulta o trabalho, provocando cansaço físico e mental, afetando inclusive a sua visão. Não é só uma questão de arquitetura corporativa, é uma questão de saúde. Temos livros técnicos diversos sobre iluminação em ambientes de trabalho, aqui não é o lugar para nos aprofundarmos no assunto, vamos a um resumo, pois quem tem que dominar os detalhes técnicos somos nós, arquitetos. Lembre-se, lâmpadas quentes, com tons amarelados, proporcionam maior relaxamento, enquanto as lâmpadas frias são estimulantes. Por isso, na recepção, circulações, áreas de descanso, destaques em detalhes de decoração, utilize luz amarela, e nas estações de trabalho e salas de reunião sempre luz branca. Durante o trabalho, luz demais ou de menos atrapalha, força a sua visão, gerando tensão ocular e cansaço. Uma referência para desenvolver o projeto de iluminação do seu escritório é a intensidade ideal da luz para cada ambiente, que chamamos de luminância, e é medida por meio da unidade chamada LUX. Existe um equipamento chamado Luxímetro, que pode ser colocado em cima da sua mesa de trabalho e irá marcar a quantidade de LUX que está incidindo sobre aquele local. Claro que você não tem que andar com um equipamento sofisticado desses por aí. Isso é com o seu arquiteto. Alguns aplicativos em smartphones

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já oferecem essa medição da intensidade da luz, mas não é a mesma coisa do equipamento profissional. Só para registrar, a ABNT tem uma tabela de referência com a quantidade ideal de LUX para cada ambiente, então anote aí: • Recepção, circulação, copa e áreas para refeição entre 300 e 500 LUX; • Área de trabalho, salas de reunião e Call Center entre 500 e 1000 LUX; • Peça para o seu arquiteto ficar atento a essas referências na hora de fazer o seu projeto de iluminação. Se você puder instalar dimmers e outros métodos para controlar o brilho e a intensidade da luz, será capaz de ajustar a iluminação conforme as mudanças de luz natural do dia e você ainda pagará menos pela conta de luz. Hoje, já temos no mercado sistemas automatizados, que controlam a intensidade da iluminação de acordo com as mudanças da luz natural durante o dia. Quanto mais controle, melhor. Outra dica: procure usar luminárias pendentes nas áreas de trabalho, juntando eficiência e estética, deixando o ambiente mais iluminado e direcionando a luz de maneira mais suave. Um bom reforço ainda seria uma luminária de mesa, que vai te ajudar nas tarefas de maior concentração. Por último, por mais óbvio que seja, lembre-se iluminação tem que ser de LED, muitas vezes mais econômica e durável do que as outras opções do mercado.



GPS ESPECIAL

Fotos: Divulgação

LAVÔ, TÁ NOVO APLICATIVO CRIADO POR BRASILIENSE CAI NAS GRAÇAS DO CONSUMIDOR E VELOZMENTE ABRE MERCADO EM DIVERSOS ESTADOS BRASILEIROS. PELO SMARTPHONE, SOLICITA-SE A LAVAGEM DE VEÍCULOS IN LOCO COM PRODUTOS 100% ECOLÓGICOS POR PEDRO LIRA

E

m tempos tão corridos, com agendas cheias e rotina apertada, quase não há tempo livre. Com o que sobra, evita-se gastá-lo com obrigações cotidianas, como enfrentar filas no comércio, esperar demasiadamente em consultórios, aguardar a vez para lavar o carro no posto. Esses dispêndios de horas estão fora de moda. A tendência é otimizar a rotina. Nesse contexto, a tecnologia é uma enorme aliada. Dentre tantos aplicativos bem-sucedidos nessa missão utilitária, que tal agendar pelo smartphone uma empresa para ir até você lavar e encerar o seu carro? Em qualquer lugar, em poucos minutos. Pelas mãos do empresário Ricardo Pereira o aplicativo Lavô chega a Brasília. A novidade é destinada a lavagem 100% ecológicas em automóveis, que incluem carros de passeia e caminhonetes. Funciona assim: o usuário baixa o aplicativo, realiza o cadastro do carro e solicita os serviços de lavagem de sua preferência. Os lavadores treinados e avaliados vão até veículo independentemente de dia e horário. O pagamento pode ser nos cartões de débito ou crédito. O projeto é resultado de uma ideia pensada nas ruas de Nova York, há um ano. “Eu morei em NY por alguns 128 « GPSBrasília

meses e existia um profissional que ia até você lavar o seu carro. Era só chamá-lo pelo Whatsapp”, relembra. “Pensei sobre esse plano e me dei conta de que o serviço dentro de um aplicativo seria muito mais funcional”, conta Ricardo. Outro ponto positivo da marca é que a Lavô é eco-friendly. A lavagem dos carros é feita com um produto especial, ecológico, que não necessita de água. “O profissional vai até o veículo e com apenas um pano e os produtos certos deixa o carro limpo, da lataria às rodas”, explica Ricardo. As opções de serviços vão de limpezas básicas a mais profundas, com cinco categorias de lavagem: Slim, Regular, Plus, Master e Over. Diferenciando-se pelo tipo de serviço prestado, que incluem lavagem externa completa a seco com cera de carnaúba, limpeza das rodas, limpeza interna, aspiração, antiembaçante de vidro, higienização do ar-condicionado, limpa para-brisas, hidratação dos bancos de couro ou higienização dos bancos de tecido, cristalizador de vidros, neutralizador de odores de cigarro, hidratação e aplicação de protetor de painel contra raios UV. “O forte da Lavô é a facilidade que o aplicativo oferece, mas, além disso, os produtos são de qualidade e o valor é 30% mais em conta que em lava jatos comuns”, conta Ricardo. Por possuir cinco categorias, os preços variam entre R$ 30 e R$ 145. O aplicativo surgiu em Brasília, mas ganha adeptos em todo o País. Além da Capital, o Lavô já possui parceiros e clientes em Belo Horizonte, Natal, João Pessoa, Recife, Goiânia, Vitória, Anápolis e Uberlândia. Em poucos meses, a adesão foi surpreendente. Lavô: www.lavo.online/ @lavoonline



TALENTO o

Fotos: Divulgaçã

A REVELAÇÃO O ITALIANO RODOLFO DE SANTIS DESEMBARCOU NO BRASIL HÁ SEIS ANOS. DE ALMA INQUIETA E CORAÇÃO AFLITO, ELE AFIRMA QUE SÓ COZINHA ONDE HÁ PAIXÃO PELA CULINÁRIA POR ANDRESSA FURTADO

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O

sotaque ainda tem resquícios da língua-mãe, porém, o português é tão claro que, algumas vezes, nem parece que ele é estrangeiro. Rodolfo De Santis é assim, meio brasileiro, meio italiano. Gosta de ingredientes locais, apesar de ainda não os usar na elaboração dos seus pratos. Mora em São Paulo, vive intensamente o vício do trabalho. Pensou em voltar para casa, em Púglia, na Itália, mas depois desistiu. E que bom que assim o fez. É que, ano passado, foi eleito chef revelação de uma importante premiação na capital paulista. Reconhecido por uma longa jornada construída com muitos percalços, o chef tem apenas 30 anos, iniciou os estudos na escola Alberghiera, em Brescia, e desenvolveu as habilidades passando por cozinhas estreladas, como o Le Cine Four Season, de Paris, que possui duas estrelas Michelin, e o La Pergola, em Roma, de três estrelas Mi-


Entretanto, sua passagem por lá foi meteórica. O motivo? Saudade da Europa. Rodolfo recebeu a proposta para trabalhar num hotel da rede Four Seasons em Moscou. Aceitou sem titubear. Prestes a embarcar, surgiu outra oportunidade de trabalho. O desafio, desta vez, era comandar a Tappo Trattoria, em São Paulo. “Percebi que no Tappo eu poderia fazer tudo aquilo que tinha sonhado. Isso me deu certeza para tomar minha decisão. Eles me deram carta branca”, detalha. O sucesso da chegada do chef foi tanto que a casa chegava a atender 850 pessoas por semana, com apenas 25 lugares. O troca-troca de restaurantes não deixou Rodolfo inseguro. “Sei que não é bom para o profissional mudar de emprego o tempo todo, mas eu tenho paixão pelo que faço. Quando não me sinto bem ou não tenho liberdade para trabalhar, não tenho motivos para ficar”, analisa. E esse foi um dos motivos pelo qual deixou o Tappo, após dez meses. “Eu precisava evoluir e lá eu não conseguia”, emenda.

NINO CUCINA

chelin. E para quem acha que trabalhar com gastronomia é vida boa, Rodolfo prova que não é nada disso. “Comecei como ajudante de cozinheiro na cozinha de um restaurante francês, sem falar nada da língua deles. Foi um desafio”, relembra. Desembarcou no Brasil, em outubro de 2010, para trabalhar no já extinto Biondi, em São Paulo. “Não foi nada fácil minha chegada aqui. Financeiramente falando, passei por muita dificuldade até me estabelecer. O mercado da gastronomia é cruel. Não é possível errar. Se isso acontece, você é descartado”, desabafa. Do Biondi, casa onde ficou pouco mais de dois anos, foi para o Domenico, onde se associou ao empresário Domenico Mira. Com novo fôlego e cheio de criatividade, De Santis criou o conceito da casa, o menu e ainda chefiava a cozinha. Até que o relacionamento se desgastou. Foram apenas seis meses na casa, até o restaurante fechar as portas. Entretanto, não ficou muito tempo sem um fogão para chamar de seu. Procurou Paulo Barroso de Barros, responsável pelas cozinhas do Grupo Egeu – entenda-se Kaá, Italy, Girarrosto e Mozza Bar, além da rede de hamburguerias General Prime Burger –, e pediu uma chance. Em pouco tempo, estava comandando a cozinha do Italy.

Foi, então, que o Nino Cucina apareceu em sua vida. Ao que tudo indica, agora De Santis vai acalmar seu coração e fincar raízes de vez num lugar só. Chegou o esperado momento de lançar carreira solo. O restaurante foi aberto em agosto de 2015, no mesmo local onde funcionou o charmoso e extinto bistrô Le Marais. Ao seu lado na sociedade, está o goiano Renato Calixto e um sócio investidor, que prefere não ser identificado. No quesito conceito, a casa reproduz um cantinho da Itália. “Em meio ao concreto, jardins. Lugar intimista, aconchegante, descontraído. Cenário para inesquecíveis encontros e aquelas conversas que nos fazem esquecer o mundo por alguns instantes, onde a sala, o bar e a cozinha se misturam… Pois quando se cozinha entre amigos, o bom é ficarmos todos juntos”. Essa é a definição exata do restaurante no site oficial. “A área de espera é decorada por uma lareira e uma estante com alguns livros. Queremos que as pessoas tenham uma experiência gastronômica”, afirma Rodolfo. São apenas 40 lugares, mas, não se preocupe. Tudo faz parte da experiência que o chef quer passar aos clientes. Logo na fila de espera, é possível beber boas taças de vinho e pedir entradinhas. Falando nelas, peça a Polenta com gema caipira e quattro formaggi ou o Crudo di Tonno, feito com atum burrata, GPSBrasília « 131


Os pratos do chef são uma experiência gastronômica

tangerina e rúcula. Na parte de pratos principais, há inúmeras massas clássicas, como o Carbonara e o Amatriciana. Para quem prefere uma proteína, o Tagliata e o Parmiggiana são ótimas opções. Para finalizar, que tal um Tiramisù?

NOVO HOTSPOT Além do Nino, o jovem chef entrou numa parceria com Enio Gonzalez no buffet Balsâmico. E acaba de abrir um bar chamado Peppino, a menos de 100 metros do Nino Cucina. “É um bar mais maluco, bem diferente, com vários drinks clássicos italianos, mas, com misturas instigantes. Tem um de tequila, limão e tomate, por exemplo”, diz. Em pouco tempo, o bar já se tornou o novo hotspot da turma cool paulistana. Nele, a formalidade passa longe. Você entra, vai até o bar, pega um drink e senta numa mesa compartilhada. A decoração, assinada por Elisete Borim, trouxe referências de bares de Barcelona, onde existem muitos lugares para comer no balcão, sem frescura. No menu, pratos para dividir e opções como Hambúrguer de parmegiana, Lobster Roll, Arancini de linguiça, entre outros. Segundo Rodolfo, não tem nada de bruschetta com tomate. O cardápio é mais autoral, com “um cheirinho de Itália”.

BRASIL & ITÁLIA Ainda hoje, o chef usa o molho de tomate que aprendeu com a mãe, Rossana, para incrementar as receitas. Sua relação com a comida tem a ver com a família. O avô, que também se chamava Rodolfo, produzia conservas de tomate, geleias, azeite e, sua mãe, trabalhava em uma peixaria. 132 « GPSBrasília

Perto de casa, havia uma vinícola. Não faltaram elementos gastronômicos para despertar seu interesse pela cozinha. O primeiro emprego no ramo, aos 14 anos, foi numa pizzaria. Em casa, o italiano comia massas caseiras tradicionais, tinha prazer em preparar os ingredientes antes de cozinhar e reunir-se com a família para degustar. “Na Itália, estamos acostumados a sentar e comer. Aqui não temos tempo para isso. Sinto falta das comidas da minha mãe e da minha avó e, do lugar, da atmosfera em volta do prato. É o lugar que faz a diferença. Em termos de produtos, São Paulo tem comida italiana muito benfeita”, afirma. Um dos pratos que mais sente falta é o orechiette com brócolis e pimenta, uma massa do Sul da Itália. “Minhas duas avós preparavam muito essa receita. Aqui no Brasil, eu faço como um prato de domingo”, conta. Para o chef, decidir morar em São Paulo não foi uma escolha fácil. Na época, estava namorando uma brasileira, com quem se casou, mas se separou um ano depois. Após o desembarque no Brasil, só voltou para casa duas vezes. A história de Rodolfo tem muitas idas e vindas. Para compreendê-lo é preciso estar por perto. É que sua cozinha criativa fervilha de ideias e não é fácil acompanhar a sua energia. Porém, seu amadurecimento tem o tornado um chef cada vez mais respeitado no cenário gastronômico. Se a Itália exporta bons chefs, sorte a nossa que os acolhemos. Nino Cucina Rua Jerônimo da Veiga, 30, Jardim Europa, São Paulo (SP) www.ninocucina.com.br @ninocucina Peppino Bar Rua João Cachoeira, 175, Vila Nova Conceição, São Paulo (SP) http://www.peppinobar.com.br/ @peppinobar



COLEÇÃO

COZINHAR COM ARTE

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Mais uma vez juntos numa parceria bem-sucedida, Dolce & Gabbana e Smeg nessa temporada voltam a celebrar a Sicília, com a criação da linha de eletrodomésticos, cuja maior homenagem se faz à cultura e aos costumes da terra natal dos criadores da label. Depois do refrigerador, é a vez de torradeiras, espremedores, máquinas de café, chaleiras, liquidificadores, misturadores de pé… decorados com limões de ouro, frutas cítricas, peras espinhosas e cerejas vermelhas brilhantes. Todos elementos típicos das decorações sicilianas, emolduradas em crocchi, motivos florais inspirados nas costas e paisagens do sul da Itália e em imagens do Monte. Como acabamento, frisos ornamentais, pitorescas ruínas do templo grego de Castor e Pollux no Vale dos Templos e estilizadas folhas de acanto. O lançamento foi no Salone del Mobile di Milano e em breve deve começar a circular nas cozinhas mais célebres do mundo.





SOCIAL

Bruno Astuto, Donata Meirelles, Silvia Rogar, Daniela Falcão e Frederic Kachar

ALTO ASTRAL Lala Rudge

LADY ZODIAC FOI O TEMA DO BAILE DA VOGUE APRESENTADO POR TATÁ WERNECK E SABRINA SATO. O COLUNISTA BRUNO ASTUTO FOI O HOST DO EVENTO, ANIMADO POR ANITTA, DURVAL LÉLYS, BARBARA FIALHO E A ESCOLA DE SAMBA ACADÊMICOS DO GRANDE RIO. A TOP ALESSANDRA AMBRÓSIO FEZ PARTICIPAÇÃO ESPECIAL COM A DJ MARINA DINIZ. O DECÓR DE WADO GONÇALVEZ, INSPIRADO NA ASTROLOGIA, FECHOU COM A PRODUÇÃO CENOGRÁFICA DA EMPRESA MCHECON. TUDO PRODUZIDO PELA AGÊNCIA BFERRAZ

Yan Acioli

Anitta

FOTOS: LU PREZIA, ALEXANDRE VIRGILIO E CLEIBY TREVISAN /DIVULGAÇÃO VOGUE

Duda Portella

Sabrina Sato

Eduardo Scarpa e Carol Celico

Marcelo Araújo

Sophia Abrahão e Sergio Malheiros

Ximenes 138 « Mariana GPSBrasília

Fernanda Motta



SOCIAL

Com o marido Rodrigo Gazen

Patrícia Gazen

ALEGRIA, ALEGRIA Patrícia e sua irmã Fabiane Deconto

PATRÍCIA GAZEN CELEBROU O NÍVER EM SUA CASA, DECORADO POR KELY PINHEIRO E CATERING DA UMAMI. DOCES BOLO DA IVONE, LAS PITANGAS E CAROL TÁVORA. GUGA CAMAFEU E AS DUPLAS HENRIQUE E RUAN E GABRIEL CORREA E LUCAS FERNANDES ANIMARAM A NOITE

Com a mãe Marlene Deconto

FOTOS: RODRIGO ZAGO

Andrea Andreis, Paula Lopes e Nathália Diniz Carina Teixeira e Maria Gurgel Luciana Virgílio, Silva Seabra, Liliam Resende e Calene Dias

A aniversariante entre Guga Camafeu e Gabriel Corrêa

Mel Cavalcante, Thiago Malva e Nathalie Maia Poliana Coelho



Leonardo Daher e Isadora Trevizoli

ISADORA E LEONARDO

NA DOM BOSCO, O CASAL FOI ABENÇOADO PELO PADRE ABDON. ELA VESTIA MARCELO QUADROS E BELEZA BY GIGI E NEY LIMA. OS CONVIDADOS ENCONTRARAM-SE NA HÍPICA HALL, DECORADA POR GEORGE ZARDO. RICHESSE CUIDOU DOS DOCES, SWEET CAKE DO BUFFET E FUNNY BAR DOS DRINKS. NA MÚSICA, BANDA CAMAFEU, DJS GUGA GUIZELINI E LUIGI CASTAGNARO. CERIMONIAL DE CÉSAR SERRA FOTOS LUARA BAGGI

O casal entre Elisa de Carvalho e José Eduardo Trevizoli

142 « GPSBrasília

Os noivos com Thaís e José Carlos Daher


Lethicia Mesquita, Patrick Weinketz e Mariana Mergulhão

Gabriela Rocha e Maria Vitória Mazão

Isabela Carballal e Mariana Miziara Juliana Marques e Daniela de Paiva

Silvio Ferreira e Rosangela Santini Ferreira

Angélica Maçaneiro e Ronnie Moura

Henrique Nascimento e Ana Paula Faria

Gilberto e Selma Mazão Lara Rego e Pedro Almeida Alexandre e Candice Jobim

Cosete Gebrim

Jane Godoy Priscila Diniz e Darc Sarkis

Luís Octávio Mascarenhas e Isabella Bueno

Fred e Rogy Bonincontro

GPSBrasília 143 Covre Amanda Guerra « e Sandro


SOCIAL

NOITE ENCANTADA REBECCA TAVARES COMEMOROU 15 ANOS NO CLUBE NAVAL ORNADO POR MARISTELA BORELA E MARIA YVONE LOBO. VESTIDOS FERNADO PEIXOTO E JOVANI. EQUIPE HÉLIO DIFF E LÁZARO RESENDE CUIDARAM DA BEAUTY. DJ FABINHO ANIMOU OS CONVIDADOS E MARCELO PIMENTA ORGANIZOU A FESTA FOTOS LINCOLN IFF E CESAR REBOUÇAS

Rebecca Tavares

Rebecca recebe anel do pai Luiz Guede ao lado da mãe e dos avós

Valsa com o primo João Vitor Tavares Rebecca com seus amigos

A aniversariante com Domingos Tavares e seus pais Elena Tavares e Luiz Guede Luiza Vilela e Camilla de Paula

e Jocimar Lopes 144 Rebecca « GPSBrasília



SOCIAL

Laura Valadão e Fabio Faria

TROCA DE ALIANÇAS

Os noivos entre Guilherme Sanches eElisabeth Barillo, Lilia e Marcos Valadão

LAURA VALADÃO E FÁBIO FARIA UNIRAM-SE NO DÚNIA CITY HALL. A NOIVA ASSINOU O VESTIDO E LUIZ CARLOS CUIDOU DA BELEZA. NO JANTAR, ADRIANA BUFFET E NA DOCERIA MARIA AMÉLIA COMPLETARAM A NOITE CERIMONIADA POR FELIPE CARVALHO FOTOS LUARA BAGGI

Os noivos com os padrinhos

Matheus Guimarães e Mariana Frota

A noiva com as madrinhas Ana Victória Machado e Bruno Bueno

Diego Figueiredo, Rebecca Ferreira, Luísa Foizer e Caio Caputo

Bruna Lóssio, Tatiana Valença e Isabella de Oliveira

Rafael Tavera e Flávia Del Negro



RETRANCA

Marcela Castilho e Vagner Araújo

CASAMENTO ABENÇOADO

As madrinhas

148 « GPSBrasília

VAGNER ARAÚJO E MARCELA CASTILHO UNIRAM-SE NA CATEDRAL DE BRASÍLIA. A MANSÃO FLAMBOYANT, ORNADA POR VALÉRIA LEÃO, RECEBEU 300 CONVIDADOS. ELA USAVA VESTIDO LUCAS ANDERI ENQUANTO O JAZZ DO QUINTETO DA TOCCATA E O CANTOR WAGNER SIMÃO ANIMAVAM A NOITE. FOTOS: LUARA BAGGI


Os noivos entre Regine, Vasco Rodrigues da Cunha, Zilda Guimarães e Samuel Araújo

Os noivos Marcela Castilho e Vagner Araújo

Elisabete e Priscilla Bueno

Ana Victória Correia Machado e Bruno Bueno

Marcela Castilho e Vagner Araújo

Wagner Simão e banda Luisa Peleja Amanda Domingues, Giovanna Paronetto e Tatiane Difforene

Daniel Rodrigues e Marília Fregonesi

Helyn Sarkis e Tallytha Roriz

Camila Nereu, Vanessa Lemos e Marina Saback

GPSBrasília « 149


RETRANCA

Rangel, Isadora, Luíza e Caroline Borges

Caroline Borges

ESTRELA DA NOITE CAROLINE BORGES CELEBROU 40 ANOS NO UNIQUE PALACE, TRANSFORMADO EM PRAIA POR RICARDO AZEVEDO. OS CONVIDADOS FORAM ANIMADOS PELOS DJS BOLA E RENATINHO, BANDA FUSION, CANTORAS ADRIANA SAMARTINI E CARLA VISI, E A DUPLA RONI E RICARDO

Eliana e Almyr Barros

FOTOS: LUARA BAGGI

Talita Gonçalves, Aline Braconi e Patricia Pohl Lina Goulart, Débora Villas Boas e Mariana Leal

Gabriela Mazza, Yelane Ferreira e Beth Mattos

Francisco Martins e Benigna Venâncio

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Renata Foresti, Flávia Toledo e Patrícia Lyrio



RETRANCA

Charles Krell e Tania Tápias

Sandro Cunha e Marcelo Strufaldi

ARTE LEGO

A EXPOSIÇÃO THE ART OF THE BRICK CHEGOU À CAPITAL EM AVANT-PREMIÈRE NO IGUATEMI SHOPPING. A ATRIZ MARIA PAULA FIDALGO CONDUZIU A VIDEOCONFERÊNCIA COM O ARTISTA NATHAN SAWAYA

Gabriela Maximiano, Larissa Albuquerque, Andrea Maximiano e Juliana Sabino

FOTOS: LUARA BAGGI E FERNANDO VELER

Cecile, Caroline e Celine Collor Gilberto Evangelista, Sanagê e Vinícius Vieira Lúcia, Nicolau e Silvana Homsi

Marcos Atayde, Mariana Ramalho, Marco Garzin e Augusto Brandão

152 « GPSBrasília

Icaro Rollemberg

Paulo Octavio



RETRANCA

TARDE EUROPEIA BRUNCH GPS, NO RESTAURANTE OLIVER, AGITOU BRASÍLIA COM A MÚSICA DE BELL LINS E ADRIANA SAMARTINI, DJS NANDO CUNHA, PAULO CHAVES, SÉRGIO BLAKE E BANDA SURF SESSIONS. DRINKS MOVE BAR E AMBIENTAÇÃO +FLOR HARMONIZARAM-SE COM COMIDINHAS DOS CHEFS DANIEL GUERRERO, ROSENILSON FAVACHO, P AULO TARSO E DOCES BY AGUIMAR FERREIRA FOTOS: FERNANDO VELER E LUARA BAGGI

Rafael Badra, Paula Santana e Rodrigo Freire

Adriana Samartini Julia Bastos e Micaella Galletti

Rafael e Lucila Pena

Pedro Guimarães e Victoria Melo


Agenor Neto, Clayton Camargos, Celso Junior e Caio Mendonça

Camila Nereu Sarkis e Emmanuel Sarkis Patrícia Justino, Leandro Vaz, Paula Santana e Felipe Nasr

Dj Paulo Chaves

Gabriel Corrêa e Janaína Oliveira Rogério Venâncio e Marconde Lobo

Eduardo Safe e Monnike Falcão

Marcus Barozzi, Adriana Chaves e Daniel Adjuto Dan Moreira e Bella Souza

Nara Emediato, Gabriela Dechiqui e Tayana Ribeiro

Eduardo e Alexandre Coelho

GPSBrasília Bell Lins e a banda Surf Sessions

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Os noivos Paula Fittipaldi e Carlos de Faria

BENÇÃO AO CASAL

PAULA FITTIPALDI E CARLOS DE FARIA TROCARAM ALIANÇAS NA IGREJA SÃO PEDRO, NO LAGO SUL. APÓS A BÊNÇÃO, RECEBERAM OS CUMPRIMENTOS NA VILLA RIZZA, DECORADA EM VERDE E BRANCO, RITMADOS PELO DJ SONY. RICARDO MAIA E EQUIPE CUIDARAM DA NOIVA, QUE OPTOU POR MODELO BY MARIA VIRGÍNIA. GULOSEIMAS FICARAM POR CONTA DA CIRÔNIA DOCES E O BOLO DA MÁRCIA VASCONCELOS. TUDO ORGANIZADO POR GABRIELLA MIZIARA.

Os noivos entre Lúcia e Márcio Ladeira, Benedita e Irany de Faria

Maria Victoria Salomão

FOTOS: GHIVA

Mônica Haddad e Cláudia Salomão

Paula Fittipaldi

Paula Fittipaldi e Carlos de Faria

Valentina Salomão

Karine Câmara, Rodrigo Fittipaldi e Antônio

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Crescia Moraes e Benedita Faria





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ELA É A JUVENTUDE MILLENIAL QUE TRAZ A VONTADE DE CONTRIBUIR. TEM SENSO DE JUSTIÇA E QUER SER RECONHECIDA POR SUAS CONQUISTAS REAIS. SOBRE A VIDA? TEM QUE EXPERIMENTAR PARA SABER

sabella Santoni TUDO POR AMOR TEXTO PAULA SANTANA FOTOS RICARDO PENNA STYLING ALÊ DUPRAT

Rio de Janeiro – Quem adolesceu em Brasília entre os anos 70 e 80 tem claro em mente e coração uma canção autobiográfica de Oswaldo Montenegro, que iniciou um rito de mudança entre os jovens brasilienses que cresciam “no centro de um Planalto vazio”, e, mesmo esmagados pela ditadura militar, lutavam para viver de arte. A música chama-se Léo e Bia. Sucesso estrondoso na telinha e nos palcos desde 1983, a história fala de dois jovens que sonhavam em viver do teatro, mas se confrontavam com a repressão política e social. De volta aos palcos três décadas depois, a doce Bia é interpretada por uma das atrizes expoentes da nova geração, Isabella Santoni. Apaixonada pelo teatro, pelo elenco, pela companhia Os Insubmissos, seus olhos brilham quando lhe perguntam sobre a peça. “Eu estou amando muito. Queria poder rodar o Brasil contando essa emocionante história”, diz, empolgada, no dia em que foi fotografada para este editorial. Dirigida por Leonardo Talarico, quando


Vestido Luisa Farani


questionada, ela explica que tem aprendido muito sobre o teatro minimalista, que vivencia a ambiência e o pertencimento. “Eu quero muito ir a Brasília. Ir aos lugares onde essa trupe viveu tudo isso. Conhecer o Beirute”. De tão envolvida, Isabella, resolveu celebrar seu aniversário, dia 6 de maio, na Chapada dos Veadeiros. Aos 22 anos, Isabella se revela um furacão no ofício, confirmando que a ascensão é fruto de trabalho extremo, combinado com disciplina, determinação e uma dose considerável de ansiedade. “Começando pela minha impaciência, queria diminuir um pouco a pressa de viver também. Ter mais calma”, pontua. Mas não é o que tem acontecido. Em três anos, sua carreira deu uma guinada. Tudo começou em 2013. Fez um filme publicitário para O Boticário, e no canal GNT conseguiu papel na minissérie As Canalhas. Mas ela estava focada e, após tantas negativas, finalmente entrou para o elenco da novela Malhação, interpretando Karina, uma lutadora de Muay thai. Para tal, teve que cortar quase um metro de seu cabelão. Ela nem hesitou. Passou a tesoura. Um ano depois, viria o início de seu estrelato, em 2016. Um papel na novela das nove, A Lei do Amor, e com ele mais um desafio: emagrecer sete quilos para viver Letícia, jovem vitimada pela leucemia. Dessa vez, Isabella raspou o cabelo. Ah, em 2015, gravou a primeira fase da minissérie Ligações Perigosas, dando vida a sua primeira vilã, Isabel, na fase adulta, Patrícia Pillar. Menina acelerada, não? Sem contar que antes de Léo e Bia, ela estreou no palco com a peça Cinco Júlias. Este ano, ela será vista na telona com o filme Visceral, filmado em 2013. A trama pesada relata a jornada de Bel, uma menina aliciada quando jovem e que passa a gravidez em cativeiro. Temporariamente em férias, ela distribui bem o seu tempo. Um dia antes da sessão fotográfica, havia ido a uma cachoeira relaxar. No dia seguinte, o compromisso era no mar, iniciando aulas de surf. Estudos? Sempre. Atualmente cursa Teatro na UniRio. Dieta? “Nenhuma no momento. Me dediquei muito a Letícia, agora estou sendo feliz, comendo de tudo”. Inclusive no nosso encontro ela recusou o almoço light, pois havia saboreado o “escondidinho da minha mãe”. Aliás, a mãe, Ana Cristina, é uma grande inspiração e referência. Quem a conhece confidencia que é tão linda quanto a filha. Isabella diz com seu sotaque carioca, doce e pausado: “sou mega apegada a ela e minha irmã. Tô muito feliz que estamos todas morando juntas de novo” – no Recreio. Nascida em Nilópolis, município da Baixada Fluminense, sua vida, amplamente contada em diversas entrevistas, relata que, disposta a fazer o curso na

Casa de Artes Laranjeiras, na Zona Sul, aos 15 anos, teve que trocar a escola particular pela pública, o que foi um choque. E morar na casa de um tio, em Botafogo. “Mas tive infância e adolescência muito boas. Fui criada por mãe e avó, que são duas guerreiras. Venho de uma família de mulheres fortes. Não foi uma vida de luxo, mas não posso me queixar. Nunca me faltou nada”. Bella, como todos a chamam, parece que tem um imã. Ela atrai. Certamente porque se diz muito ligada em energia. Todos a querem. E ela não se altera, tampouco se afeta. Calma, segura, observadora, elegante e educada. Talvez por isso o universo do lifestyle se encontre nela. Ela tem uma nova postura. É uma millenial autêntica. Integra o grupo de jovens que quer contribuir para a sociedade, que não aceita o preconceito e tem na diversidade a sua maior força. Apesar de seus quase seis milhões de seguidores, ela prefere ser reconhecida por suas conquistas reais. “Eu estou inteiramente entregue para contar histórias, para viver personagens”, diz. “Eu só preciso estar em paz comigo mesma. Ter tempo para cuidar de mim, ficar em silêncio”, complementa. Quando vem a pergunta sobre autodefinição, ela frisa: “É tão limitado se definir. Até mesmo porque eu estou em constante transformação. Acho que viver experiências tem a ver com ser jovem, com descobrir o mundo, se conhecer”, pondera. Isso mesmo, brava menina. Assim como os sábios, Isabella parece caminhar para o destino certo: ser uma eterna aprendiz.


Camisa Diesel Vestido Louis Vuitton Sandália acervo pessoal Brincos D'or Anel Antonio Henrique

GPSBrasília « 163


Beleza Everson Rocha Produção de moda Marcella Klimovicz Produção executiva Karine Lima

Camisa e short Letícia Gonzaga Sapato Marcela B Anéis D'or Anel Grifith



Qual foi a sua maior dificuldade na tentativa de tornar-se atriz? Viver de arte não é uma tarefa fácil, essa é a verdade. E acredito que é preciso trabalhar, persistir. É preciso ter bastante certeza do que você quer. A maior dificuldade sem dúvida é essa, não desistir. Você se programou ou fez planos objetivos para conquistar essa meta tão difícil que é entrar para o elenco da TV Globo? O que eu gosto é de atuar. Trabalhar na televisão foi e é mais uma forma de exercitar aquilo que me realiza, assim como estar no palco ou fazer um filme. Eu me dedico, estudo, sou bastante determinada quando quero algo. E se depender de mim, eu quero estar na tevê, no teatro e no cinema. Você é uma nova voz que surge no universo jovem. Seus atos refletirão diretamente em pessoas que te admiram. Essa responsabilidade é um peso? Não vejo como um peso. Não mesmo! Gosto muito da relação que construí com os meus fãs. E é muito mais uma relação de troca. É bom saber que eu os inspiro, mas eles também são fonte de inspiração o tempo inteiro. E se eu puder usar esse espaço que eu tenho para dar voz a quem não tem, por que não? Quais são os seus sonhos? Muitos. Mas o principal deles eu estou realizando, que é o meu trabalho. Vivo o meu sonho diariamente e sei o quanto que eu sou abençoada. O que pensa sobre o momento pelo qual o País atravessa com tantas denúncias? Penso que é preciso ter uma investigação séria e, se forem comprovadas todas as irregularidades cometidas por políticos, que a justiça seja feita. Acredito que estamos mudando e tenho fé que a situação do nosso País irá melhorar. Você cresceu com a dinâmica das mídias sociais e da ascendência do “parecer” em detrimento do “ser”. Não faço nada para aparecer. O que o público vê nas minhas redes sociais é quem eu sou. Então essa é uma questão que não faz parte da minha vida. Parecer ser alguém só mesmo quando é uma personagem, um trabalho. Muitas barreiras foram vencidas ao longo dos anos em relação ao comportamento humano. Aborto, homossexualidade, machismo, virgindade… hoje se discute muito a polêmica dos agêneros. Sou a favor da liberdade. Acredito que ninguém pode interferir ou impedir a felicidade do outro.

O que te move, te anima, te faz querer mais? Novos desafios, seja de trabalho ou até mesmo uma superação pessoal. Ser bonita ao extremo também causa desconforto? Primeiramente, obrigada pelo elogio (risos). Mas nunca parei para pensar assim. A beleza é algo que está nos olhos dos outros. Defina esse quarteto… Família: é a base e a mola propulsora de tudo. A coisa mais importante da minha vida. Amigos: tenho poucos e sou muito leal. Sei que posso contar com eles e eles comigo. Trabalho: uma paixão que eu quero exercitar ao longo da vida. Amor: ser amor sempre, espalhar amor. O mundo está precisando.

RAPIDINHAS • • • • • • • • • • • • • • •

Uma tristeza: a violência que piora a cada dia Uma alegria: viver de arte Um medo: não conseguir viver de arte Um arrependimento: não ter ido surfar antes Um segredo: é secreto (risos) Um sonho prestes a se realizar: conhecer a Chapada dos veadeiros Um livro: O Retrato de Dorian Gray, Oscar Wilde Um set list: sou eclética, vou das clássicas ao funk Um ídolo: Fernanda Montenegro Deus: uma força maior Mania: beber água Casamento: algo que ainda não está nos meus planos Prazer: atuar Lazer: estar com a família e amigos Viagem: conhecer a Grécia


Camisa Ortiga Calça Prada Colar Miranda Castro ChapÊu Diesel


Vestido Dolce & Gabbana Bolsa Gucci Sapato Marcela B Joias Carla Amorim


Blusa e calรงa Gig Couture para Quadra Sandรกlia acervo pessoal Joias Carla Amorim


Blusa Prada Brincos Carla Amorim


Vestido Priscilla Franรงa Joias Grifith


MODA

FRANCISCO COSTA M ACLAMADO COMO UM DOS MELHORES DESIGNERS DO MUNDO, O BRASILEIRO DA ZONA DA MATA DE MINAS GERAIS AMPLIA SUA ATUAÇÃO PARA ALÉM DOS ESTÚDIOS DE MODA, APÓS ELEVAR A CALVIN KLEIN À CATEGORIA DE UMA DAS GRIFES MAIS RENTÁVEIS DO MUNDO POR CHICO NETO

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agistral na sintonia com tudo que diz respeito ao bem vestir, Francisco Costa é hoje um nome obrigatório no dicionário fashion. No dossiê, não faltam referências à sua genialidade, como, entre algumas premiações de nível mundial, a façanha de ganhar duas vezes (2006 e 2008) o CFDA, honraria do Council of Fashion Designers of America, considerado o Oscar da Moda. Definitivamente, Costa não passa despercebido. Seu caminho inclui passagens marcantes pelo He-Ro Group, em Nova York, entre 1990 e 1991; pelo estúdio de Oscar de La Renta, também em Nova York (1991 a 1998); pela Gucci, em Londres (1998-2002); e, entre 2002 e 2016, uma vitoriosa atuação na Calvin Klein, marca que dispensa apresentações. “Francisco é um esteta que trabalha com precisão cada detalhe de uma peça, com inovações importantes no que diz respeito a tecidos e materiais”, define a jornalista Lilian Pacce, coordenadora do GNT Fashion e uma das maiores autoridades de moda no Brasil. “Assumiu o difícil papel de suceder Calvin Klein em sua marca, uma tarefa complexa que soube desempenhar com muito sucesso”. Aos olhares do fashion business, Costa já teria conquistado o topo de sua carreira no ano passado, quando, ao sair da Calvin Klein, cravou o mérito de elevar o patrimônio da grife norte-americana de USD 700 mil, valor cotado à época em que entrou na empresa, para USD 8 bilhões. “Foi uma trajetória árdua, de


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FashionStock.com/Shutterstock

muito trabalho e viagens promovendo a marca”, avalia. Mas, para o taurino de gestos harmoniosos, charme inato e poucas palavras – ele é imune à exacerbação –, esse trajeto vitorioso está longe de ter chegado ao ápice. Costa é até hoje chamado Dedé pelos conterrâneos de sua Guarani, cidadezinha da maior simpatia encravada na Zona da Mata mineira. Entre os verbos que podem definir sua performance, a trilogia construir-multiplicar-compartilhar fala mais alto. Herança da mãe, Lita, costureira de mão cheia, responsável não só pela autoria de vestidos de noiva famosos na região e por uma fábrica de confecções que empregou muita gente, mas por uma atuação ampla no contexto da pacata cidade.

“Ela exercia uma função social que eu considero ainda mais importante do que o valor dela no desenvolvimento de coleções”, rememora. “Não deixou a cidade parar no tempo, tinha uma energia contagiante e fazia coisas incríveis, como montar uma creche e ajudar na construção do asilo local. Lembro-me dos retalhos que saíam da fábrica e viravam colchas. À vezes, chegávamos em casa depois da escola, por volta do meio-dia, e encontrávamos quinze pessoas almoçando. O amor da minha mãe pela carreira, pela cidade, pelas crianças, pelas pessoas, como isso não influenciaria o meu trabalho?”, questiona. Tais influências fazem de Costa um cidadão atuante em outras frentes, além da moda. Em janeiro do ano passado, ele fez uma viajem inadiável ao Brasil. Foi direto para Minas Gerais, poucas semanas após o desastre ambiental que destruiu a cidade Bento Rodrigues, distrito de Mariana (MG). Quis ver os estragos de perto. Tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, expôs a indignação perante a calamidade que, em termos práticos, pode ser enquadrada na categoria de crime. A repercussão foi grande. “Meus momentos de criação foram sendo substituídos por responsabilidades cooperativas”, explica.


CAUSA MAIOR A caminho dos 53 anos, o homem de sorriso firme e olhar atento gosta de investir no que resulta em bem compartilhável. Mesmo suas peças de maior destaque, assinadas como exclusivas ao longo de mais de 37 anos dedicados à moda, devem parte de seu sucesso ao fato de terem vida própria. Quem chama a atenção para esse diferencial de Francisco Costa é Sean Patterson, agente de celebridades singulares como Cher, Fergie e o modelo Alex Lundqvist, entre outras: “Ele nunca se olhou como estrela. Sempre quis que as roupas que criava falassem por si mesmas”. Em setembro do ano passado, poucos meses depois de deixar a Calvin Klein, Francisco veio ao Brasil e marcou presença no Rio de Janeiro, durante as Paraolimpíadas. Foi dele a assinatura das roupas das oito crianças selecionadas para abrir o evento ao lado dos pais – que também trajavam criações de sua autoria. Mesmo durante o tempo de dedicação integral à Calvin Klein, ele já atuava em frentes de abrangência mais ampla. Há anos é membro do conselho da Aids Community Research Initiative of America (Acria), organização que, desde 1991, investe na pesquisa e no incentivo a programas internacionais de educação e saúde sobre tratamentos contra o HIV. Após a saída da CK, esse approach continua. “É uma dinâmica diferente. Sempre fui muito curioso, ativo e determinado. Redescobri novos valores que haviam desaparecido de minha agenda. Graças a Deus, a separação da grife provocou meu espírito empreendedor e inovador.”

CONEXÃO BRASIL Tão logo consolidou o fim do contrato com a CK, Francisco envolveu-se em um projeto de raízes culturais essencialmente brasileiras: uma pequena temporada no Acre, acompanhando o dia a dia da tribo Yanawana. A visita resultou em estreitamento de laços e, claro, em uma teia de ideias concebidas a partir da riqueza da flora daquela região. Foi o pontapé inicial para um novo way of life. “Está sendo um ótimo aprendizado iniciar todo um novo processo como empreendedor e não como empregado”, comemora. “Depois de mais de 30 anos de trabalho e vivência nos EUA e na Europa, ter esse tempo para mim está sendo fundamental para eu me reestruturar e resgatar tantos elos esquecidos, mas não perdidos”, resume. A escolha pela Amazônia não foi aleatória. Autocentrado, ele intuiu como vital um mergulho nas matrizes da exótica e ameaçada natureza brasileira. “Há muito venho me preocupando com reflorestamento, controle climático e 174 « GPSBrasília

Com índios no Acre

Lupita Nyong'o Anne Hathaway

aquecimento global. Já era fascinado por compreender nossa identidade e ter uma ideia geral da fauna e da flora. Minha viagem ao Brasil foi o máximo e minha passagem pelo Acre, inesquecível”. A qualquer momento, a expedição resultará em alguma coleção inspirada nessa experiência, com novos padrões e cores. No Brasil, suas conexões com trabalhos que repercutem em transformação cultural e social estão cada vez mais amplas. Exemplo mais recente é a parceria com Burt Sun, artista multimídia taiwanês radicado nos EUA e referência mundial no campo das think tanks – organizações que atuam com uma gama de temas estratégicos, visando influenciar transformações sociais. Em São Paulo, onde tem escritório, Burt e seu partner brasileiro, o empreendedor cultural Guil Macedo, desenvolvem com Francisco Costa dois trabalhos distintos: uma exposição em museus de arte de Minas Gerais e um projeto de colaboração com grupos


CEREJAS o

Fotos: Divulgaçã

Ellsworth Kelly

Gisele Bundchen

• Favoritas – “Gisele Bündchen, que é maravilhosa; Raquel Zimmermann, Isabeli Fontana... Essas meninas levaram uma imagem brasileira para o mundo, reconquistaram um mercado que estava ficando obsoleto. Também gosto do estilo de Vanessa Trainor, Amanda Brooks, Malu Barreto, Coco Brandolini e Georgina Brandolini, Dree Hemingway, Alix Duvernoy, todas ecléticas e interessantes; Juliana Romano, Lenny Niemeyer”. • Referências – “Oscar de La Renta, com quem fiz meu primeiro trabalho oficial na alta moda. Aprendi com ele a entender um pouco mais de cor; como entender de uma roupa bem cortada, com tecidos bons, estampa. Também é uma referência para mim Tom Ford, que me deu abertura para trabalhar com o Calvin Klein. Ele via tudo como big picture; cada coleção era como se fizesse um filme. Outra pessoa que eu amo é Camilla Nickerson, editora da Vogue. No Brasil, adoro a Lilian Pacce, que faz um trabalho autêntico, diversificado e surpreendente. Regina Guerreiro e Camila Yahn, que me deram suporte na campanha da C&A, também são fantásticas”.

Julia Goldani Telles

Com Amanda Brooks e Dree Hemingway

Kendall Jenner

comunitários de favelas paulistanas. Sobre essas novas frentes, em breve teremos mais notícias. O que se pode comemorar, como sempre em nível de compartilhamento universal, é que seguem em plena atividade tanto o estilista, que a qualquer momento surge com uma nova coleção, quanto o ativista sociocultural. “Apesar de todo sucesso e reconhecimento internacional que alcançou, Francisco Costa manteve o espírito mineirinho, que acolhe e recebe com simpatia os clientes, a imprensa e, acima de tudo, os amigos de sempre”, reforça Lilian Pacce. O Oscar de pessoa humana pode estar contido no que, sobre ele, resume Sean Patterson: “O que eu acho mais notável em relação ao Francisco é que ele é uma das pessoas mais humildes que você jamais conhecerá”. @costafrancisco

• Hall da fama – Entre as celebridades que desfilaram suas criações, destacam-se Gwyneth Paltrow, Jennifer Lorenz, Anne Hathaway, Dree Hemingway (sua amiga pessoal) e Amanda Brooks. No Oscar 2015, Lupita Nyong’o estrelou o top da mídia ao entrar em cena com um vestido branco todo confeccionado em pérolas, criado por Francisco. A peça foi roubada e posteriormente encontrada no hotel de Los Angeles, onde a atriz se hospedara.

• Saia justa – “Criei um vestido para uma atriz cujo nome não vou citar e fizemos sete provas. No dia anterior ao Oscar, ela me perguntou: ‘Você acha que minhas costas estão queimadinhas, que estou bem?’. Eu disse: ‘Você está ótima, está linda’. Era um vestido branco para o qual eu tinha pedido para fazer um cinto de brilhantes que custava algo em torno de USD 1,5 milhão. Saí do hotel tipo 1h da manhã. Às 4h da tarde, ela aparece com outro vestido de outra pessoa, um vestido vintage. Foi uma lição. Aí comecei a entender, como profissional, que precisava fazer um contrato por escrito com aquelas pessoas”. • Francisco Costa veste – “Tranquilo. Estou optando por calças pretas japonesas, de preferência da Comme des Garçons, e camisetas brancas tipo Brooks Brothers”, grife clássica norte-americana para camisas brancas e camisetas personalizadas. • Agenda alternativa – “Adoro visitar galerias de arte, ateliês de artistas, caminhar por ruas desconhecidas à procura de algo inesperado; ser meu chef predileto, adoro cozinhar; jardinagem, que me faz feliz; e livros, livros e mais livros – são como se estivesse de férias quando mergulho nas páginas. Também voltei a praticar equitação, o que está sendo ótimo”. • Chique – “É ser autêntico, não se exaltar, ser simples”.

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PODER

MOEMA LEÃO

A LOCOMOTIVA SOCIAL A GOIANA QUE FEZ NASCER A ALTA SOCIEDADE DE 1970 CRIOU O IMENSO SEGMENTO DE FESTAS LOCAIS NA DÉCADA DE 80 E RECOMEÇOU A VIDA NOS ANOS 90, É HOJE A PERSONIFICAÇÃO DE MULHERES QUE MARCARAM A HISTÓRIA DE BRASÍLIA POR LARISSA DUARTE « FOTO CELSO JUNIOR

“M

oema é tapete vermelho”, definem amigos. “Uma estrela. Ela brilha”. É isso mesmo. Simplesmente, não se ignora Moema Leão. Ela jamais passará despercebida. O sorriso é farto. A risada contagia. O tom de voz peculiar carrega a identidade goiana. Os naturais gestos elegantes se harmonizam com a postura expansiva. Ela adora gente. Em seu coração, não cabe preconceito ou julgamento. Moema é vida. A alegria se externa nas roupas de tons vibrantes ou na estampa preferida de leopardo ou onça. “Tanto faz, gente, eu adoro esse bicho”. Claro. Os óculos escuros imponentes são o charme à parte e a marca registrada de seu estilo, que não se encaixa necessariamente em nenhuma das mil e umas vertentes da moda. Joia? que nada! “Bijuteria com cara de bijuteria”. Grande, portentosa. Moema Leão é original. “Ela está a anos luz de nós”, complementam. Ela honra o passado, não planeja o futuro e vive plenamente o presente. A matriarca da família Leão aceita de braços abertos o que vier. Nem mesmo o choque da notícia de um câncer, descoberto no início do ano, foi capaz de lhe abalar sua autoestima. “Sempre fiz do limão, uma limonada”, confirma. “O que for preciso fazer para ficar boa, eu vou fazer. Eu quero sarar logo, gente”, emenda, com vitalidade. “Ah, quer saber… todo mundo diz: ‘ihhh, o dia se176 « GPSBrasília

guinte à quimioterapia você vai estar péssima, se prepara’. Eu hein? Não senti nada, cê pode acreditar num trem desse?”, diz num goianês sonoro. “Só Moema mesmo”, diriam os amigos que a conhecem bem.

DA FAZENDA AO INTERNATO Moema passou a infância ao lado dos quatro irmãos mais novos no interior de Goiás, em Rio Verde, onde nasceu, em 1946. Nessa fase, a intensa relação com o pai Valeriano ajudou-a a construir a forte personalidade. Fazendeiro de largas terras no interior, seu Valeriano amava festa. Seu aniversário integrava o calendário da pequena cidade. Não havia convite. A porteira ficava aberta, aguardando ônibus de convidados vindos em comboio de cidades vizinhas. “Era um caminhão de cerveja. E um, dois, três bois no rolete”, relembra. Ele, claro, via-se em Moema, “uma menina à frente do seu tempo”, como costumava dizer. “Eu já nasci com espontaneidade no sangue, mas foi meu pai quem me deu segurança para continuar assim”, conta. Em vez de afagos, abraços, a relação foi construída com conversas, conselhos, olhares de consentimento ou reprovação. “Meu pai me ensinou a não ter medo de enfrentar as coisas ruins da vida. É difícil alguma coisa me incomodar”, confessa.


Moema na janela de sua casa

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Recorte de retratos de família que Moema transformou em quadro

Os estudos do ensino fundamental foram iniciados na escola pública da região. Mas, como era esperado, Moema não se adaptou muito bem. Estava fora da realidade social dos demais colegas. Era o alvo preferido de piadas entre eles. Não que isso desestruturasse sua autoestima, de jeito nenhum, achava graça até, mas seus pais e a escola deliberaram que ali não seria o melhor local para o seu desenvolvimento. “Moema não cabe em Rio Verde”. A escolha, então, foi mandá-la para um colégio interno em Goiânia aos 12 anos. Diferentemente da maioria das alunas do Colégio Assunção, escola rigorosíssima onde a sociedade goiana estudava e aprendia também religião e boas maneiras, a ideia a encantou. Preocupados com a acomodação da filha no novo ambiente, seus pais fizeram questão de garantir o mesmo conforto que tinha em casa. Assim, itens para a hospedagem da moça chegaram ao internato antes dela, comprados nas melhores lojas da capital. Numerosas caixas marcadas com o nome da nova aluna desembarcavam de caminhões e despertaram curiosidade nas freiras, que recebiam o material abismadas. As estudantes, então, mal podiam esperar para saber quem era a menina do interior que antes mesmo de chegar já estava causando 178 « GPSBrasília

uma revolução na escola. “Tinha até colchão de mola, a grande novidade da época”, conta Moema, aos risos. Quando finalmente deu-se o grande dia do início das aulas, ela foi anunciada aos gritos pelas alunas: ”A Moema chegou! A Moema chegou!”. Foi uma correria. Adentrou os corredores da escola como se fosse passarela, com todos os olhares voltados para ela. Depois disso, nunca mais saiu dos holofotes do colégio. Tornou-se a garota mais popular. Moema adorava a vida lá dentro, mas gostava mesmo era de sair para desbravar a cidade aos finais de semana. Às vezes, nem esperava o sábado. “Eu arranjava tanta confusão para as freiras. Deixava elas doidinhas. Sempre tinha uma desculpa para sair da escola. Arrumava dor de dente, marcava médico. Eu queria mesmo era ir para rua”, lembra, gargalhando. Ela queria ver coisas novas. “Era impressionante, uma coisa, mas eu sabia de tudo”.

A MUDANÇA Aos 17 anos, Moema deixou o internato para casar-se com Flávio de Souza, empresário e um dos donos da construtora Encol, a maior do País até o final dos anos 1990. Eles


se conheceram durante as férias escolares, em Rio Verde. Por coincidência, Flávio também estava por lá a trabalho. Assim que o viu, ficou encantada com sua pele bronzeada, o cabelo alourado. “Fiquei doida nele e ele doido comigo”. Namoraram por um ano e oficializaram a união. Moema brinca que o dia do seu casamento foi “a coisa mais desorganizada que se pode imaginar”. Armaram uma festança daquelas na casa de seus pais, na cidade. Era gente… Para o jantar, nada de buffet, muito menos garçom. Os empregados vieram da fazenda cuidar de tudo. A ordem de seu Valeriano era apenas uma: ”Não pode faltar nada. Custe o que custar”. A atração da noite foi a banda da prefeitura, instalada na sala da casa com instrumentos musicais de orquestra. Foi uma farra. “Nessa desordem a festa fluiu que foi uma maravilha”, lembra. A lua de mel se deu pelo interior de Minas Gerais, onde residia a família do marido. “Eu tinha que ser apresentada a eles. Mas eu achava tudo bom”. Na sequência, mudou-se para Goiânia com o marido. E foi aprendendo a ser mãe zelosa e esmera dona de casa. Aos 24 anos, havia nascido Valéria, Francisco Flávio, Narciza e Vivianne. À época, a jovem senhora já comandava a sociedade goianiense, mas Goiânia também ficaria pequena para Moema. Mal sabia que seu destino estava traçado e essas linhas se cruzariam com algo tão inovador quanto ela: a nova capital. Sua história com Brasília começou em 1971. Foi quando veio com a família para a terra prometida. Foi amor à primeira vista. “Quando eu cheguei aqui, fiquei boba, não conseguia acreditar. Na hora em que abri a janela do meu apartamento e vi aquele nada na minha frente, meu coração pulou. Mesmo vazia, achei Brasília uma maravilha. Foi a primeira vez na vida que me senti livre”, conta Moema. “Eu pensava comigo cada vez que via aquilo tudo em construção: ‘Não existe obstáculo, apenas possibilidades. Eu quero dominar isso tudo’”. E foi o que aconteceu a partir daí. Não demorou, ela já conhecia a cidade inteira. A sociedade local, à época composta também por políticos, diplomatas, intelectuais, concentrava-se na Asa Sul e parecia ter encontrado a sua representante. Era em seu apartamento, claro, que se realizariam as primeiras festas sociais privadas. Boêmio, Juscelino Kubitschek logo ouviu falar de Moema. E tornaram-se amigos. “Todo final de semana encontrávamos com JK, ele adorava dançar. Fazíamos festas na fazenda dele e, de vez em quando, no nosso apartamento mesmo, na 111 Sul”, conta. Era no improviso. Arrastavam os móveis para o canto da sala e faziam um verdadeiro baile. “A gente se encontrava para dançar. Não queríamos conversar coisa nenhuma… só dançar”, explica.

A MANSÃO Os eventos fortaleceram-se após a mudança para uma casa na QI 5 do Lago Sul, quando o bairro iniciava a sua ascensão. As festas de aniversário, celebradas em março, estavam entre os eventos mais aguardados pela sociedade. Valéria, a filha mais velha, começava a adolescer e, assim como a mãe, amava amigos e celebrações. “Mas era festeira a Valéria… Teve uma que ficou na história. Ela disse que faria um encontrinho, coisa pequena só para os amigos… mas era tanta gente, tanta gente, na porta da minha casa, parecia show. Deu tudo errado. Briga, polícia… Eu estava jogando baralho na casa de amigos e tive que ir correndo socorrer o povo. Foi aí que percebi que precisava profissionalizar esse departamento na minha casa”. Alguns anos depois, em 1982, seria inaugurada uma casa digna de tombamento. A Mansão Flamboyant, propriedade da família. No Park Way, o sofisticado Setor de Mansões. Num terreno de 20 mil metros quadrados, ergueu-se uma residência de 1,9 mil metros, onde se realizariam as mais grandiosas e memoráveis noites da capital. Em meio à farta flora do Cerrado, lago com carpas e flamingos, a família Leão de Souza dava início a uma década de muito glamour. Por lá passaram Pelé, Roberto Carlos, Cauby Peixoto. A primeira-dama da ditadura, Dulce Figueiredo, era figura constante. Moema amava noites temáticas. E todas deveriam ser hollywoodianas. Foi ela quem fez nascer o mercado de festas. Manobrista? Não existia. “Eu pensei… como as pessoas vão andar de salto nessa pedra e ainda sujar a barra do vestido… tá tudo errado. E chamou o seu Divaldo, militar que também trabalhava no Iate Clube para criar a logística de estacionar carros. Foram noites sem dormir até surgir o formato usado ainda hoje. Resultado: Divaldo, quarenta anos depois, é a maior empresa do ramo na capital. E assim se deu com salões de beleza, lojas de roupa… “Buffet eu mesma preparava em casa. Minha equipe de cozinha era ótima. Saia comida em série. Louça e prataria era uma coisa de tanto que eu tinha. Mandava buscar tudo no Rio de Janeiro. Decoração era eu também que fazia”, relembra. Moema lançou os empratadinhos. “Imagina você se eu ia querer meus convidados sentados em mesa, só comendo. Era tudo no pratinho de sobremesa, pequenas porções. O povo ficava doido comigo”. Também foi dela a primeira adega em casa. “Descobri que era elegante beber vinho e champanhe. Mandei construir uma e busquei as bebidas mais chiques da época. Entupi a adega de Liebfraumilch, aquele vinho alemão da garrafa azul. Era de uma chiqueza, porque na época GPSBrasília « 179


só se bebia uísque”. Uma das lendárias noites foi em 1990. Na véspera, Fernando Collor havia anunciado o confisco na conta bancária dos brasileiros. “Fui criticada, ameaçada, mas fazer o quê? Estava pronta a festa… só restava aproveitar. Eu assumi o risco e fiz mesmo assim. Foi ótimo”. Os filhos seguiram a mesma linha à exceção de Francisco Flávio, enviado a Londres para estudar nas melhores escolas. Narciza, por exemplo, não hesitou em contratar a banda Capital Inicial para cantar em seu aniversário de 15 anos. “Vou te contar que foi de festa em festa que nós fizemos muita obra social. Eu precisava de arrumar uma desculpa para fazer minhas celebrações, então achava uma instituição para ajudar. Eu construí uma creche na Ceilândia assim. Cê acredita? Na verdade, eu fazia festa para mim, sempre gostei muito de receber as pessoas em casa”, entrega.

O TRABALHO Mas faltava algo. Inquieta, Moema sentia que precisava começar um negócio. Com o empurrãozinho de uma amiga museóloga, decidiu apostar na venda de antiguidades. O marido Flávio, à época, mandou construir um chalé no terreno da Mansão, para o novo ofício. Foi sucesso entre as embaixadas e ali tornou-se o seu universo profissional. “As minhas amigas me ligavam para vir ver as peças. Eu preparava lanchinho, jogava conversa fora e elas não compravam nada. Comecei a me sentir enclausurada. Um dia, dei um ataque, surtei. Aos berros, eu dizia: ‘eu não aguento mais servir pamonha e ficar dentro desse chalé. Eu quero ir pra rua, ver gente’. O povo aqui em casa ficou apavorado. Mas foi assim que eu tive a minha primeira loja de decoração, a Casa Viva, na 111 Sul. Foi uma maravilha. Era referência na cidade”, conta. Em seguida, ainda dirigiu as lojas Síntese e Artefacto, na 210 Sul. Hoje, é sócia da mostra Casa Cor Brasília, o maior evento nacional de arquitetura e decoração. Nesse meio tempo, ainda, candidatou-se a deputada distrital e desenvolveu projeto de artesanato com as presidiárias da Colmeia junto à fundação que leva o seu nome. “Eu adoro. E ainda colaboro com muitas obras sociais”.

A TRANSFORMAÇÃO Após 24 anos da união, Moema e Flávio se separaram. “Minha mãe estava sentada na cama, jogando Paciência, quando meu pai anunciou que ia sair de casa. Jogando ela permaneceu”, conta Vivianne, a filha mais nova, referindo-se à sua admiração pelo modo inabalável da mãe em lidar com a vida. Se foi doloroso o processo? “Quê, quê isso?… Eu entendi que aquele ciclo estava fechado. No dia em que 180 « GPSBrasília

ele saiu de casa para pensar na relação, eu virei a página. Nunca mais o aceitei de volta. Foi um escândalo, mas eu tava nem aí”, relata Moema. Rapidamente, ela deixou a residência e passou a alugá-la para festas. “Eu vejo a Mansão hoje e nem lembro que morei lá. Eu definitivamente não olho para trás”. Com os filhos criados e encaminhados, anos depois, Moema casou-se com o advogado Estênio Campelo e residiu na Asa Sul. Nessa época, dei os meus móveis para Valéria, que tem o mesmo estilo que eu”. E há onze anos mora no chalé da sua Mansão com o marido Celso Martins, empresário e esportista que vive para realizar seus desejos. “Não preciso de nada mais daquilo tudo. Que bobagem”.

UMA LEOA Aos 71 anos, nada nostálgica, Moema afirma que não mudaria nada em sua trajetória. “Fiz tudo o que eu queria e não me arrependi de nada. Nunca dependi de ninguém para seguir em frente. Eu me amo muito. Se eu não fizer o que gosto, não estarei feliz”, orgulha-se. Sobre ser uma boa mãe, ela emenda: “Qual o critério?”, indaga. “Se for aquela que abandona a própria vida para viver em função de filho ou a que vai para cozinha fazer uma comidinha, então eu não fui bem-sucedida na função”, analisa, dizendo que ama ter os filhos por perto, mas nunca exigiu que eles fossem grudados. “Criei meus filhos para serem fortes e independentes. Não queria que eles tivessem medo de nada. O medo é inibidor”, conta. Eu sempre digo para eles, “gente não deu tudo certo com vocês, então façam do mesmo jeito que eu”, referindo-se à criação dos netos. “Mas eles nunca ouvem a gente, né?”. Com os netos, seis ao total, ela passa longe da imagem de vovó caseira. Para educá-los, prefere transmitir a sutileza herdada do pai por meio de palavras e atitudes que inspirem confiança. Atualmente, Moema mantém ativa sua vida social e já trabalha no planejamento da CasaCor, em setembro. Mas nada de agenda repleta de compromissos. Ela adora não ter nada para fazer. “Tem gente que quando chega na minha idade só pensa em viajar o mundo, gastar o dinheiro que ganhou. Eu não. Eu gosto mesmo é de ficar na minha casa, na minha Brasília. É isso que me tem feito feliz. E quer saber? Dinheiro é bom, sim, bem guardadinho, em espécie, para quando a vida te der um susto você não precisar pedir para ninguém. No mais, é tudo uma grande bobagem”, finaliza a mulher que sabe demais. Quanto aos herdeiros desse imenso legado que Moema vem ofertando para a sociedade brasiliense, uma frase sempre dita por amigos a suas filhas diante de alguma situação complexa, comprova a eficiência de sua jornada ao longo dos cinquenta anos dedicados a Brasília: “Veja bem, você é uma Leão”. @moemaleao


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ATITUDE

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A DRAG QUEEN BRASILIENSE ARETUZA LOVI É HOJE UMA DAS PERFORMERS MAIS DISPUTADAS NO CIRCUITO NACIONAL. ENTRE SHOWS, AGENDA LOTADA NA TEVÊ E ATUAÇÃO NAS MÍDIAS SOCIAIS, ELA MILITA PELA CAUSA LGBT POR CLARISSA JURUMENHA « FOTOS CELSO JÚNIOR

E

m meados de 2012, no interior de uma boate LGBT brasiliense, nascia uma estrela. Mais tarde, uma estrela nacionalmente conhecida. Aos 22 anos – hoje com 27 –, meio sem querer, o brasiliense de coração Bruno Nascimento tornou-se Aretuza Lovi, na melhor personificação inversa da marchinha carnavalesca “de dia é Maria e de noite é João”. Tudo começou numa reunião de amigos de fim de semana. Durante aquelas conversas descontraídas, Bruno foi desafiado a “se montar” como drag queen. Ele topou o desafio e vestiu-se a caráter. De imediato, a galera achou a performance um sucesso. Brincadeira vai, brincadeira vem, Bruno foi provocado a aparecer em público vestido de mulher. Empolgado com a agitação, aceitou a proposta e foi caracterizado a uma boate da cidade. Porém, antes de ir a público, foi questionado sobre qual seria seu nome de drag. De supetão, respondeu Aretuza Lovi. “Foi a primeira coisa que me veio à cabeça. Achei Aretuza um nome inusitado e Lovi por causa do amor”, conta Bruno. Logo no primeiro passeio pela noite como drag queen, Aretuza foi convidada a subir no palco. Na semana seguinte, voltou, oficialmente, para se apresentar na boate Victoria Haus, onde tudo começou. A timidez quase a impediu de se apresentar. Entretanto, a situação financeira estava apertada e o cachê oferecido seria bem-vindo. Dessa forma, Aretuza superou a vergonha e incendiou o palco da balada. “Eu não sabia a dimensão que estava tendo, eu nem sabia ser uma performer profissional. Eu amava me apresentar de brincadeira, mas foi difícil perder a timidez e enfrentar o público”, confessa. Dali em diante, foi convidada a participar do casting fixo de apresentações no clube. Oficialmente, nascia a verdadeira Aretuza Lovi – da maquiagem aos cabelos marcantes. A peruca crespa e loira é, na verdade, um conjunto de madeixas que sobraram de produções antigas da Victoria Haus. “Peguei todas, juntei, e transformei em uma única cabeleira. Hoje em dia, quando agendamos shows, já me perguntam se eu vou com a peruca”. O acessório marcante, no começo, era odiado pela artista: “Não trazia o glamour que procurava”, lembra. Mal sabia que mais tarde a cabeleira seria essencial

para transformá-la em um ícone pop. Na sequência, glitter, cropped, hot pants, tênis – Lovi preza o conforto –, unhas coloridas gigantescas e maquiagem expressiva entraram de vez no look básico da artista. Uma coisinha comprada aqui, outra ali, formam os figurinos criados por ela mesma. Tem orgulho da origem simples e sem glamour. A make up é diversificada. Gosta de conhecer produtos diferentes pagando pouco.

DOIS EM UM A verdade é que Bruno e Aretuza são a mesma pessoa, mas com personalidades diferentes. Ele é tímido, discreto, educado, conversa com sorriso no rosto. Os olhos brilham, o cabelo é escuro. Ela tem personalidade forte, brincalhona, cheia de piadas, desbocada, fala palavrão e não tem medo de dizer o que pensa. Enquanto se caracterizava para receber os cliques de Celso Junior, editor de fotografia da revista GPS|Brasília, aos poucos, Bruno deixava o “ele” para trás. No primeiro toque do pincel de base no rosto, Aretuza apareceu. O tom de voz ficou mais alto e espalhafatoso. “A alma da festa” tinha chegado. Bruno aprendeu sozinho a se maquiar, vendo vídeos e pegando dicas com as amigas. Em um camarim no salão Ricardo Maia Hair & Make Up, começou a transformação pelo rosto. Cobriu tudo com prime, corretivo, base, pó compacto. Com um lápis, traçou lábios, sobrancelhas e olhos. Por último, peruca e roupa. Quarenta minutos depois, Aretuza estava pronta. A entrevista começou com uma tímida conversa sobre a agenda de shows e caminhou para um desabafo sobre sua trajetória. Com orgulho, Bruno contou que é pai do pequeno Noah, de 2 anos. A criança é fruto de um relacionamento abusivo vivido por uma amiga. O apego pelo bebê foi grande desde o nascimento. Encantado com o pequeno, Bruno assumiu a responsabilidade de ser pai de uma criança que precisava exatamente de uma figura paterna. “Meu filho, minha família, meus amigos, meu público, todos sabem da minha personalidade e dos meus princípios. O reconhecimento dessas pessoas é o que importa para mim”, afirma. GPSBrasília « 183


MILITÂNCIA O talento de Aretuza é tão reconhecido quanto sua opinião. Parte da luta é para desconstruir a estereotipagem do mundo LGBT. “O travesti, por exemplo, é imediatamente associado à prostituição. Isso é um absurdo”, desaba. Entre as ações de militância pacífica e divertida, em 2015, ela criou uma página de vídeos no Facebook, o Ezatamentchy. Ao lado dos parceiros Thales Sabino, Estevão Delgado e Miss Carey, eles entrevistavam drags, transsexuais, travestis e personalidades da mídia brasileira que lutam a favor da causa. A página tornou-se ainda mais conhecida quando o brasiliense Hugo Gloss – codinome Bruno Rocha – passou a compartilhar conteúdos do Ezatamentchy com o bordão “Somos Ezatamentchy Iguais”. Outra associação imediata com o público LGBT é a da predominância do vírus HIV. Aretuza mostrou-se inconformada com o fato de ser imediatamente associada à uma doença tão grave apenas por sua orientação sexual. “AIDS mata tanto quanto outras doenças. Cada um deve cuidar da sua vida sexual. Se você se cuida, você cuida de todo mundo”, desabafa. Para ela, os boatos sobre doenças e homossexuais são a pior parte. “Nos julgam sem nos conhecer”. Apesar disso, o último levantamento do Ministério da Saúde, em 2012, aponta que 67,5% dos casos confirmados de infecção por HIV pertenciam ao grupo de heterossexuais. Com orgulho, a artista bate no peito da militância LGBT. Para ela, a indústria pop atual mudou. Muito mais que reconhecer, valoriza a cultura da qual faz parte. “Estamos avançando nas conquistas”, orgulha-se.

SUPERAÇÃO Aretuza briga todos os dias consigo mesma quando fica desanimada com tantos obstáculos. Conta que encontrar um namorado, por exemplo, não é nada fácil. Quando baixa um aplicativo de paquera, o primeiro questionamento que recebe é “por que você está aqui?”, com ares de julgamento, por ser famosa. Mesmo assim, Aretuza leva a história aos risos. Explica ao crush que está no app pelo mesmo motivo: encontrar companhia. Outra dificuldade é ser drag queen assumida. “Funciona assim: se você é drag, o boy fica cheio de não me toques para apresentar para a família, para os amigos. Como se fosse algo para se ter vergonha, imagina!”, indigna-se. Entretanto, ela não desiste. A carreira está passando pelo melhor momento e nada a deixará desanimada. Aliás, o can184 « GPSBrasília

saço provindo da agenda cheia é outro problema maquiado pelo personagem, junto com a insegurança. Porém, boa artista que é, Aretuza esquece tudo, “se joga” e arrasa no palco. É claro que Bruno e Aretuza passam por momentos ruins. Existem dias em que não querem trabalhar, o cansaço fala mais alto, a agitação da carreira aumenta as olheira e bocejos. Nem tudo é tão contente como as redes sociais mostram ser. Mas, para a drag, não existe brecha para tempo ruim: o palco é seu melhor remédio.

AMOR, MUITO AMOR Aretuza foi convidada a participar da temporada de 2016 do programa Amor&Sexo, da Rede Globo. Ao lado da apresentadora Fernanda Lima e convidados, a drag esteve no quadro Bishow, em que os participantes discutem temas como sexo, identidade de gênero, discriminação e orientação sexual. Foram três noites de ensaio no Rio de Janeiro. Treinaram performances de dança, treinos de voz e a controlar a emoção por estar em um programa global. Na primeira apresentação, a ansiedade foi tamanha que Aretuza passou mal. Entrou no camarim com uma crise de pânico. Amigavelmente, foi confortada pelo diretor, Ricardo Waddington. “Ele me deu o incentivo que nunca mais vou esquecer na vida: ‘Aretuza, se você está aqui é porque reconhecemos o seu talento. Não tem motivo para ficar nervosa. Vai e faça o seu melhor show’”, emociona-se ao lembrar. Como cantora, em novembro de 2016, o hit Catuaba, em parceria com a drag queen paulista Glória Groove, foi ao ar. O clipe, produzido por Pedro Breder – o mesmo de Anitta, Ludmilla, Nego do Borel –, conta com mais de um milhão e seiscentas visualizações no YouTube. Com tanto sucesso, Aretuza foi convidada a liderar o bloco Catuaba, no carnaval de São Paulo desde ano. O refrão “sensação, desce até o chão. Cabeça pro alto, Catuaba na mão” foi cantada por mais de 20 mil pessoas na Rua Augusta, em SP. Para ela, o mais incrível foi o mix do público. “Percebi como estamos ganhando espaço. No bloco não tinha só LGBT, tinha todo o tipo de gente, ezatamentchy do jeito que somos”, brinca. Antes, porém, em 2013, Aretuza recebeu uma ligação do canal SBT dizendo que a apresentadora Maria Gabriela queria sua participação no quadro Gabi Quase Proibida. “Eu me tremia inteira. Você tem noção do que é ter a Maria Gabriela querendo conversar contigo. Foi de arrepiar”, relembra. No programa, a drag abriu o verbo sobre preconceitos dentro de fora do meio LGBT, como era a vida desbravan-


Bruno Nascimento se transformando em Aretuza Lovi no salão de beleza de Ricardo Maia

do a carreira musical, a experiência como pai e os planos futuros. Na mesma semana, em julho de 2013, o jornal O Globo lançou uma matéria com sua foto apontando-a como a aposta musical do ano. “Esse foi sem dúvida um dos maiores marcos da minha vida”, finaliza.

AGENDA

Lotada até julho. Aretuza não passa mais de dois ou três dias na mesma cidade, tem shows do Rio Grande do Sul ao Maranhão. A correria de aeroporto, troca de roupa, encarar o personagem e subir ao palco lhe traz um êxtase especial. “Eu jamais vou desistir”, anuncia. Contato www.aretuzalovi.com @aretuzalovi

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FOTOGRAFIA

Manu Gavassi

ENSAIOS SOBRE A LUZ CENÁRIO ACONCHEGANTE, RETRATO SENSUAL, TÉCNICA FOTOGRÁFICA. ESSES SÃO ELEMENTOS CAPTADOS PELO BRASILIENSE BRUNO FIORAVANTI NO PROJETO NA SOMBRA DELA

B

elas mulheres em cenas quase íntimas, onde o equilíbrio entre luz e sombra é o protagonista. A destinação: Instagram. O motivo? Puro prazer. Os

personagens? Pessoas amigas. O resultado: sucesso e as186 « GPSBrasília

Carol Chafauzer

sédio. Todas querem ter o seu álbum digital pelas lentes de Bruno Fioravanti. Essa é a melhor definição para a iniciativa. “Cada mulher guarda parte de sua essência. Sem os excessos de vaidade, aparência, ela revela o que realmente é: luz”, poetisa sobre o projeto. É essa busca que Bruno capta de cada personagem. Com maquiagem suave, sem acessórios, apenas um par de lingerie, maiô ou biquíni. “Acho bonito o contraste da sombra com a pele suave da mulher”, conta. Sem flashes ou outro acessório, o jovem de 36 anos trabalha somente com os reflexos naturais do ambiente.


Agatha Silvestre

Isadora Tupinambá

CONFIANÇA As fotos são sempre feitas na casa das modelos. A razão de ser um ensaio customizado é deixá-la confortável em um ambiente seguro. “Os cliques, em sua maioria, são espontâneos. Por isso prefiro levar somente minha câmera”, explica. Ele conta certa vez ter entrado em uma casa digna de revista de decoração. Mas, no fim das contas, acabou clicando no lugar mais improvável: a garagem.

POR ACASO O projeto, nascido em 2015, mostrou nomes como a cantora Manu Gavassi, e as atrizes Yana Sardenberg e Mika Guluzian. Há dois anos, Bruno clicou pela primeira vez a amiga Sophia Abrahão em um editorial. Já envolvido com moda, decidiu chamar as amigas próximas para cliques íntimos de um seminu delicado e artístico. Sem saber, nascia o Na Sombra Dela. Da brincadeira começaram a surgir convites para pequenos editoriais. “A sessão costuma acontecer com modelos que já conheço e tenho certa confiança. Preciso que ela sinta-se bem para transparecer a paz e a sensibilidade que almejo”, explica.

Sophia Abrahão

REALIDADE Produtor desde os tempos de faculdade – formou-se em Publicidade pelo Iesb em 2006, na sequencia, estudou cinema em Nova York –, Fioravanti surpreendeu-se quando percebeu que estava nacionalmente conhecido. Dono da Fioravanti Filmes, o videomaker trabalha com produção visual desde 2005. Já atuou para nomes como Jota Quest, Zezé De Camargo e Luciano. Quando produziu a turnê do cantor Luan Santana, em 2013, tornou-se amigo de outros globais e aí a carreira deslanchou. Entre clipes, editoriais, vídeos de turnê, Bruno é também um dos sócios da marca de biquínis Naked Swim e está sempre ocupado. Apesar da intensa rotina de ponte aérea, Brasília-São Paulo, ele conta nunca ter sentido o desejo de sair de Brasília. “Sinceramente, morei alguns meses em São Paulo, mas eu gosto mesmo é daqui, a minha base de apoio”, conta. No Instagram, @nasombradela Na web, www.fioravantifilmes.com

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TETÊ COM ESTILO POR MARIA THEREZA LAUDARES mtlaudares@blogazine.com.br – @mtlaudares

Moinhos, tulipas e canais enchem a paisagem desse país de terras planas. Estamos falando da Holanda, também conhecida por integrar os Países Baixos, terra de pintores famosos como Rembrandt, Vermeer e Van Gogh. Rica em atrações, a Holanda é um pequeno tesouro que vale a pena ser visitado. Programe-se já!

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KEUKENHOF – O PARAÍSO DAS TULIPAS Keukenhof, que significa “jardim da cozinha”, começou a ser idealizado no século XV pela Condessa Jacqueline da Baviera. O castelo construído em 1641 na cidade de Lisse, preserva até os dias atuais a área de 200 hectares dedicados ao imenso jardim. Todos os anos, na primavera, o parque abre os portões para um espetáculo da natureza formado por sete milhões de bulbos de tulipa que florescem colorindo a paisagem. Bezoekadres Stationweg 166A 2161AM Lisse https://keukenhof.nl/en/plan-your-visit/open-2017/

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HERMITAGE AMSTERDAM – LEMBRANÇAS DA FAMÍLIA IMPERIAL RUSSA O famoso museu russo tem sua filial em Amsterdam e traz este ano a exposição 1917 Romanovs & Revolution, o fim da monarquia. Em exibição, documentos históricos até hoje conservados pelo Arquivo do Estado Russo, em Moscou, e objetos pessoais da família imperial russa mantidos no museu Hermitage de St. Petersburgo. 1917 Romanovs & Revolution, o fim da monarquia De 4 de fevereiro a 17 setembro, 2017 Hermitage Amsterdam Amstel 51, Amsterdam – http://www.hermitage.nl/en/

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PEDALANDO NAS ESTRELAS – CICLOVIA VAN GOGH Pedalar nas estrelas é a atração da ciclovia Van Gogh no parque Roosegaarde em Eindhoven. Inspirado no famoso quadro Noite Estrelada, de Vincent van Gogh, o caminho conta com 600 metros pavimentados com pedras tecnológicas que absorvem a luz diurna e brilham durante a noite. A ciclovia une a cidade de Eindhovem à Nuenen e passa por lugares que serviram de modelo para as obras do artista, como Os comedores de batatas e os moinhos Opwettense Watermolen e Collse Watermolen. Roosegaarde Cycling Path Eindhoven, Holland http://www.thisiseindhoven.com

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DEGUSTAÇÃO MASTER – ARENDSNEST Você sabia que existem mais de 400 cervejarias na Holanda? A cervejaria Arendsnest oferece 50 opções de cervejas à pressão e mais de 100 rótulos em garrafas. Para conhecer tudo vale conferir a Morebeer. O tour criado por Peter van der Arend oferece uma rota que passa por quatro bares com 157 fontes de cerveja. Herengracht, 90 – 1015 BS Amsterdam http://arendsnest.nl

BALADA FULL TIME – AMSTERDAM DANCE EVENT, ADE O maior festival de música eletrônica faz parte do calendário anual de Amsterdam. São 2.200 artistas distribuídos em 450 eventos e 120 clubes noturnos ao longo de cinco dias. A festa acontece dia e noite, além de contar com conferências e bate-papos. De 18 a 22 de outubro, 2017 https://www.amsterdam-dance-event.nl

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PAUSA PARA O CAFÉ O Café Americain é um daqueles lugares ícones, cheios de estilo, que compõem a história da cidade. Construído em 1902, como parte do hotel que leva o mesmo nome, o lugar ainda preserva a decoração estilo Art Déco trazido pelo arquiteto G.J. Rutgers para inovar o cenário holandês com requintes parisienses. Leidsekade 97 « 1017 PN Amsterdam http://www.cafeamericain.nl/en

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TRADIÇÃO EM CERÂMICA – “DELFTS BLAW” A Manufatura Real Holandesa “Royal Delft” é a última das fábricas de porcelana de Delft remanescentes do século XVII. Fundada em 1653, a Royal Delft traz até os dias de hoje a tradição secular da arte da porcelana pintada à mão. Conhecer a história e visitar as coleções do museu é apenas um dos atrativos locais. Pode-se também aprender a pintar vasos e pratos em oficinas diárias, com guias profissionais que ensinarão a técnica e os segredos dessa arte. Muntplein 12, 1012 WR Amsterdam, Netherlands http://www.royaldelft.com/

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JANTAR ESPECIAL Erik van Loo comanda o lendário Parkheuvel, um dos primeiros restaurantes holandeses a obter reconhecimento Michelin. A casa que hospeda o restaurante nos faz esquecer que estamos na agitada Rotterdam, por aqui o tempo segue seu curso lentamente. Hoje com duas estrelas Michelin, Parkheuvel continua a surpreender com criações que marcam a memória, especialmente por seus molhos que acompanham os pratos como o toque final, aquele que não esquecemos. Heuvellaan 21, 3016 GL Rotterdam, Netherlands www.parkheuvel.nl

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A ALTA-RELOJOARIA TROUXE VÁRIAS POSSIBILIDADES PARA SEUS COLECIONADORES. O CLASSICISMO GANHA INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS EM DESIGNS ICÔNICOS. COMO INSPIRAÇÃO, A APLICAÇÃO DE CORES, OS ANOS 60 E 80, AS REFERÊNCIAS EM AVIAÇÃO E AUTOMÓVEIS. SEMPRE ENVOLVIDOS COM PEDRAS, COMO DIAMANTES, MADREPÉROLAS OU SAFIRAS

Cartier para Grifith - R$ 43.800

Van Cleef & Arpels - preço sob consulta IWC - R$ 43.100

Panerai - R$ 57.400

IWC - R$ 112 mil

Omega - R$ 36.700 Piaget - R$ 180 mil

Hublot para Grifith – R$120 mil

194 « GPSBrasília

Bvlgari - R$ 376.471



PRECIOSIDADE

MAIS QUE PERFEITO

Colar Gravatinha Simplesmente em ouro branco com brilhantes, Carla Amorim - R$ 8.100

Colar, D`or - R$ 1.600

TRABALHADAS EM ATELIÊS, UMA JOIA GANHA STATUS DE OBRA DE ARTE. DO DESIGN À ELEIÇÃO APURADA DA MATÉRIA-PRIMA, AS TENDÊNCIAS SE TORNAM INTUIÇÃO NAS MÃOS DE SEUS CRIADORES. CORTES ELEGANTES EM PEDRAS E CORES QUE ENCANTAM

Brincos em ouro amarelo com turmalina rosa, Grifith - R$ 5.500 Brincos Kayapó em ouro amarelo e brilhantes negros, Antonio Henrique - R$ 8.800

Miranda Castro

Anel Coco em ouro amarelo com brilhante, Antonio Henrique - R$ 2.900

Brincos, Silvia Furmanovich - preço sob consulta

Pulseira em ouro amarelo com tanzanitas, Grifith - R$ 22.650 Brincos Never Solitaire em ouro amarelo com turmalinas rosa, Carla Amorim - R$ 7.500

Anel Afinidade em ouro amarelo com rubis, Carla Amorim - R$ 7.400

Anel Wave em ouro amarelo, Antonio Henrique - R$ 5.700

Anel em ouro com esmeralda, Grifith - R$ 7.950 Bracelete, Silvia Furmanovich - preço sob consulta

Bracelete Love em ouro rosé, Tiffany & Co. - R$ 62 mil Bracelete em ouro rosé e prata de lei, Tiffany & Co. - R$ 2.985

Anel T em ouro rosé com diamantes, Tiffany & Co. - R$ 11.450



OLHAR POR DUDA PORTELLA AMORIM

contatodudapa@gmail.com – @dudaportellaamorim

AMOR À 1ª VISTA Para imprimir estilo à produção, que tal investir em acessórios exclusivos? Apaixonada por peças únicas feitas à mão, me uni à designer Ana Barroso para criar um sapato que fosse a cara da mulher fashionista. Para quem não sabe, a Ana é dona de um estilo trendy chic. Com isso, criou o perfil @it_girls, seu cartão de visitas, onde posta referências internacionais. Com modelos elaborados e sempre versáteis, a marca de sapatos aposta em uma pegada suntuosa para as sapatilhas, além das clássicas sandálias de tiras metálicas. Can’t wait!!

A ALQUIMIA QUE DEU BOSSA

@annabarroso

Foi em 2016, após uma parceria pontual, que bateu a minha energia com a da estilista Vanessa Montoro. Desde então, trabalhamos em algo mais concreto para unir o estilo de ambas em torno de algo incrível para a marca. Resultado: um convite para desenvolver uma coleção de peças que eu amaria ter no meu closet. Podemos antecipar que serão inspiradas em diferentes ocasiões e estilos. A cápsula contará com as linhas Navy Chic, com lindos pontos de crochet e Timeless Silk com peças fluidas a partir da incomparável seda Vanessa Montoro, como macacão, kimono e saia mid. E, é claro, o autêntico hand made que terão o estilo que eu amo e divido em primeira mão com vocês. Todas disponíveis na loja já mês que vem!

TOMMY X GIGI A famosa Venice Beach, em Los Angeles, foi a passarela inovadora que apresentou looks que podiam ser comprados em tempo real, on-line. Eram peças da segunda coleção TommyXGigi, criada em parceria com a supermodelo Gigi Hadid. Inspirados em festivais que celebram a criatividade e a inclusão, como o Coachella e o Burning Man, o evento Tommyland contará com graffitis, murais, instalações aéreas, brinquedos e performances de patinadores locais e acrobatas. www.tommy.com

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www.vanessamontoro.com.br

DVF Um glamour excêntrico e eclético permeia toda a coleção de Diane von Fürstenberg. A dança e o movimento espontâneo foram evocados por meio de tricôs color blocking, malhas de modelagem-envelope e comprimento cropped usados com vestidos de corte enviesado e casacos. A linha de outerwear incluiu desde peças de shape despojado para o dia a dia até opções para a noite. O destaque fica por conta das bombers, dos casacos em faux fur e das jaquetas em couro. www.dvf.com


EM PARIS

BALENCIAGA L’OUVRE AU NOIR

#YOURADVENTUREBEGINS – MALAS DOS SONHOS A marca Globe Trotter lançou coleção cápsula com alguns jet setters experientes. O resultado foram malas de tirar o fôlego. São exclusivas e já estão na minha wish list. O que mais amei foram as cores, as formas e os desenhos internos, mostrando as cidades que os viajantes mais gostam. Eles se inspiraram nos primeiros arquivos da marca. Não é um charme? Não é tão prática, mas, como dizia meu pai, “a beleza tem um preço e muitas vezes um desconforto”. Pena que não entregam no Brasil. www.globe-trotter.com

YSL – FEMME DE JOUR EFFORTLESS

Uma exposição linda foi inaugurada em Paris. Balenciaga l’oeuvre au noir presta uma homenagem ao grande costureiro Cristóbal Balenciaga (1895-1972). A mostra está no Musée Bourdelle, sob a curadoria de Olivier Saillard. A exposição é um O que foi a estreia do Antoni Vacarelo no diálogo entre ele – considerado o desfile da YSL? Um show à parte. Achei irreverente alquimista da costura – e o grande a maneira de como a moda vai nos trazendo mestre das esculturas do século XIX, magicamente ao ponto crucial, como os anos 1980 Antoine Bourdelle. Os looks magistrais e a bota de cano alto afofada. Tudo combinou e inspirados na Espanha folclórica e foi inesperadamente feminino, sexy, estruturado e tradicional criados por Balenciaga contemporâneo. E o vestido de jaqueta em couro vão dividir todo o espaço do Museu cortado a laser com shearling, contrastando com o Bourdelle com as grandes e fascinantes jeans com botas de couro slouched, retratando uma esculturas do mestre. A mostra é verdadeira femme de jour effortless? As roupas dividida em três etapas: Silhouette & para a noite foram reinterpretadas em intenso Volumes; em seguida, Noirs & Lumiere; por veludo preto fosco, que contrastava com a último, Noirs et Couleurs. Balenciaga sempre indecência do bordado de cristais crus. considerou o preto sua cor favorita – consegue www.ysl.com mostrar toda a complexidade dos recortes e costuras. Looks maravilhosos com rendas e bordados. Veludo, cetim e pérolas vindos do acervo do Museu Galliera e dos arquivos da Maison Balenciaga fazem parte da exposição. Must see!! Até 16/07/17 no Musée Bourdelle www.palaisgalliera.paris.fr

CAFÉ PINSON – OPEN YOUR MIND Quem me acompanha pelo Instagram (@dudaportellaamorim8) sabe que eu sou adepta de um estilo de vida saudável, equilibrado e adoro experimentar coisas e dividir com vocês. É o caso deste restaurante vegetariano localizado no Marais. Ele tem o melhor bolo de maçã que eu já comi. Tudo elaborado com ingredientes frescos. Adoro o que me remete à saúde e não vejo por que não aderir ao cardápio novos paladares. Vamos nos permitir! Super indico. www.cafepinson.paris.fr

BIBLIOTECA NATIONALE RICHILIEU A Biblioteca Nationale Richelieu está de cara nova após a reforma iniciada em 2001. Agora, ela abre as portas para os estudantes e os amantes de literatura. Várias novidades estão no programa do espaço, campus dedicado à historia da arte e da cultura, passeios guiados para descobrir o patrimônio e o acervo de preciosas coleções de manuscrito, fotos e medalhas antigas. Para quem se interessar, um verdadeiro tesouro do acervo histórico de Paris. www.bnf.fr

GPSBrasília « 199


TEMPORADA

VELUDO

GEOMETRIA

Victoria Beckham Altuzarra

ARMYWEAR

VITORIANAS

Fotos: Divulgação

Carolina Herrera DVF

WHO AM I? A rua da semana de moda de Nova York nesta temporada reforçou o lifestyle prático de se vestir, mas a passarela também serviu como forma de questionamento sobre os novos rumos da identidade norteamericana

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ET

ACK J F F U P

GLOSSY

L

FLORA

ÍDO

STRU ESCON

D Joseph

Burberry

Lacoste

Christopher Kane

O PULSO AINDA PULSA Modelagens experimentais, shapes melodramáticos, o império das ruas. A vibe em Londres é transformar, desconstruir, buscar o que ainda não se sabe o que exatamente, desde que seja algo novo e vivo

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TEMPORADA

Fotos: Divulgação

CAPAS 0

ANOS 8

LGIA

NOSTA Pucci

Blumarine

PARA ONDE VAMOS Em Milão, o clima de nostalgia italiana feminina se mescla com a quebra de paradigmas que a nova geração vem impondo. Quando ambos se encontram na passarela, é preciso parar, e questionar

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Aquilano Rimondi


VOLUME

METAL

Balenciaga

Mugler

TERNO

ADORNOS

Stella McCartney

Cèline

POESIA URBANA O papel de Paris na moda é surpreender, sempre. Em busca de novos elementos que harmonizem feminilidade com proporções adversas e atitudes questionadoras, o glamour precisa prevalecer


JUNTO E

Fátima Scofield - R$ 895

Tom Ford

MISTURADO

GEOMETRIA

Emilio Pucci R$ 11.890

Diane von Fürstenberg - R$ 2.600

Fedra para Quadra - R$ 1.245

UMA COMBINAÇÃO DE TODAS ELAS. ASSIMÉTRICAS, Reinaldo Lourenço - R$1.992 GRÁFICAS, ÓTICAS OU EM MOVIMENTO. UNI-LAS E EXPLORÁ-LAS EM SUAS MELHORES VERSÕES MODERNISTAS DÃO O AR COOL

Blue Bird Shoes - R$ 398

Gucci - R$ 4.600

Edie Parker - preço sob consulta

Goyard - R$ 27.870 (cada)

204 « GPSBrasília



FAUNA E NÃO É QUE ANIMAIS SE METAMORFOSEIAM NA MODA? NÃO SUAS PELES E PELOS, MAS ELES PRÓPRIOS CHEGAM DIVERTIDOS E IMPONENTES COM SEUS AUTORRETRATOS. ATÉ OS BUGS TORNAM-SE BELOS

Gucci - R$ 1.050

Mio para Elo7 - R$ 55

Ô LOUCO, BICHO!

Marc Jacobs - R$ 3.760

Leal Daccarett - preço sob consulta Stella McCartney - R$ 2.830

Le Lis Blanc - R$ 999,90

Louis Vuitton - R$ 134 mil

Avanzzo - R$ 288,80

Gucci - R$ 15.330

Andrea Bogosian - R$ 2.295

Dolce & Gabbana - R$ 3.300

Serpui - R$ 3.402

206 « GPSBrasília



ILUMINADO

Jimmy Choo para Sáfilo - R$ 3.067

Paco Rabanne

O FASHION STATEMENT DA PASSARELA É SURFAR NOS METÁLICOS. OURO E PRATA COMANDAM A ESTAÇÃO, MAS VALE MUITO INVESTIR EM TONS VIVOS E IRIDESCENTES

C Mindov para Gallerist- R$ 2.796

COM EFEITO Chanel

Isla para Ortiga - R$ 795

Jil Sander

Gucci - R$ 5.220

208 « GPSBrasília


Saint Laurent - R$ 6.510

Carina Duek - R$ 1.058 Daizy Shely para Farfetch - R$ 1.710

Louis Vuitton - R$ 21.300 Bo.Bô - R$ 1.198 Christian Louboutin - R$ 4.590

Miu Miu - R$ 3.770

Birkenstock - R$ 399,90

Blue Bird Shoes - R$ 398 Prada - R$ 3.190

Gucci

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UNISSEX

É DE HOMEM OU DE MULHER? Cada vez mais marcas se definem agêneros. Mas, afinal, essa é mais uma loucurinha da moda, que muitas vezes gosta de se divertir com as roupas? Talvez seja mais do que isso. E, ao contrário, parece ser um movimento que a usa como ferramenta de um discurso libertário. Cada vez mais, inúmeras marcas vêm se autodenominando sem gênero. Na verdade, não seria essa a nova versão, potencializada, do unissex? A pergunta que se faz é: por que aprisionar-se entre feminino e masculino? Por que rosa é de mulher, azul é de homem? Como os cabelos, que conquistaram essa independência, agora chegou a vez de se quebrar outros paradigmas. Quer saber a peça símbolo nessa vibe? O macacão. O que vale é identificar que vem aí uma massa de jovens que não quer se enquadrar em um único padrão fashion. Sem entrar no contexto antropológico do tema, a questão é: a quem importa, a não ser a si mesmo? Afinal, é apenas roupa.

Ocksa - R$ 387,80 Another Place - preço sob consulta

Melissa - R$ 130 (cada)

Vans + À La Garçonne

Pair

Trendt

Vans + À La Garçonne

Vejas

Vetements

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Cemfreio



ENTRE NÓS POR PATRICIA JUSTINO

pattyjustino@hotmail.com – @patjustinovaz

ABI TIMELESS “Atemporalidade” é o termo que ganha ainda mais força dentro do universo da Abi Project. A nova coleção da marca volta às raízes, trazendo mulheres fortes e reais como principal inspiração e que são well aware do seu próprio estilo. Por meio de peças atemporais, que possam ser usadas por diferentes gerações, a designer Nathalia Abi-Ackel consolida seu trabalho levando ao guarda-roupa das mulheres peças que são statment pieces e apresentam uma estética que valoriza a beleza feminina em qualquer idade. Cada família foi inspirada em uma mulher que carrega esse conceito dando nome às peças, como Diana Vreeland, Peggy Guggenheim, Iris Apfel e Moema Leão, que é avó de Nathy, e, segundo ela, maior responsável pela construção do seu estilo. As peças chegam às lojas no início de abril e prometem ser mais um hit! Disponível nas multimarcas: Gallerist, Lool, Ortiga, Thaje, Style Market e Zezé Duarte.

PURO GLAMOUR Acostumada a criar peças-desejo, seja na joalheria ou no mundo dos móveis contemporâneos, a designer Simone Coste mais uma vez resolveu atender à demanda dos sofisticados clientes, inclusive do exterior, que são apaixonados por peças versáteis e conceituais. A coleção Faceted – que inclui mesas de canto e objetos, tais como: caixas de joias, relógios e pequenos objetos funcionais – ganhou, este ano, novos integrantes que estão fazendo com que as pessoas não queiram mais sair do banho. São modernas cubas de sobrepor e banheira, todas em resina de poliéster, moldadas e finalizadas manualmente. Um luxo! Sempre inspirada na joalheria, Simone mescla nas coleções a lapidação em resina e em pedras, com o uso de metais nobres. Essa minúcia no acabamento, sofisticação e funcionalidade nos produtos a consagraram mundialmente, sendo representada pela Avenue Road, Firma Casa e Vallvé para a linha banho.

CRIATIVIDADE EM ALTA Expertise e know-how já preenchiam o invejável curriculum da designer Nicole Brundage: formação na universidade Stanford, especialização no Instituto Marangoni em Milão, colaboração em coleções de famosos, como Manolo Blahnik, Ferragamo, Giorgio Armani e Zac Posen, além de ter desenvolvido diversas marcas autorais ao longo da carreira. Porém, só em 2015, com o lançamento da marca de sapatos MarskinRyyppy, ela atingiu o apogeu no mundo da moda, conquistando uma legião de fashionistas de primeira linha, com a divertida e irreverente coleção Pauwau. O sucesso dos modelos perpetua até hoje. São sandálias com shapes geométricos, uma infinidade de cores e um detalhe que faz a diferença: alças em PVC que podem ser customizadas com tatoos de frases. “É uma forma de fazer o consumidor interagir com a marca, as pessoas gostam de imprimir sua personalidade e criatividade. É o ponto alto da brincadeira”, diz Nicole. Quer encomendar a sua? O site aceita compras on-line e entrega no mundo todo. www.marskinryyppy.com

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A SUA CASA NA PRAIA Após ser pioneiro no Brasil com o conceito eco chic design resort, o KENOA inova de novo ao trazer esse lifestyle para as suas beach villas. Será um condomínio cool, localizado ao lado do resort, que pretende ser um marco em conforto, privacidade e luxo, sem esquecer Acaba de ser lançado pela Uniworld Boutique River a simplicidade inerente ao conceito que faz tanto Cruises a embarcação S.S. Joie de Vivre. Nela é possível sucesso no hotel. Mais uma vez apostando no vivenciar uma das experiências mais românticas e inesquecíveis bom gosto e na irreverência do arquiteto e do mundo: navegar pelo Rio Sena no itinerário Paris e Normandia. designer Osvaldo Tenório, os projetos esbanjam O charme do cruzeiro é poder desfrutar de todo o conforto de um criatividade, enquanto se misturam com o navio-boutique que, como o nome já diz, reflete a filosofia francesa esplendor da natureza ao redor. Segundo Pedro da “alegria de viver” e o seu apreço pela gastronomia, vinhos, arte e Marques, proprietário do KENOA e idealizador música. O navio tem apenas 125 metros estrategicamente planejados do complexo, serão poucas unidades à venda e para acolher luxuosamente 128 convidados em 54 cabines, sendo oito quem as adquirir poderá optar em deixar a casa Suítes Junior e duas Royal Suítes, cada qual decorada individualmente. no pool do hotel (para aluguel de temporada O roteiro Paris & Impressions of the Seine explora as belas paisagens ou diárias), e terá o condomínio gerenciado do norte da França, região imortalizada em obras de artistas como pelo próprio resort, que estará estendendo Van Gogh, Monet e Coubert, entre outros. Este itinerário evidencia os seus serviços e concierge aos sortudos a inspiração por trás de inúmeras obras de arte. Durante os dez proprietários. O lançamento está previsto ainda dias de viagem, os hóspedes poderão conhecer as praias da para esse semestre. info@kenoaresort.com Normandia, visitar a costa de Alabaster e ir até Le Havre – eleito patrimônio da Unesco e berço do movimento impressionista – além de percorrer a região de Étretat, conhecida pelas belas paisagens e falésias. Não existe nada igual! https://www.uniworld.com/br/

SUPER SHIP

GRIFE DE CHÁS

Por meio de um verdadeiro apreciador de sabores que buscava a vivência de experiências multifacetadas, emoções empíricas e desejos opulentos, nasceu a Casa Bon Ton, uma grife de chás e antique food onde o bom gosto é o principal ingrediente para transformar o tradicional ritual de tomar um chá num momento de puro glamour. O tea blender (espécie de sommelier de chás) Eloi Nascimento, diretor criativo da marca – e um verdadeiro “Dândi dos tempos modernos” – inspira-se em culturas passadas e em quadros de história da arte para fazer as receitas. Para a criação dos chás, por exemplo, seu produto carro-chefe, além dos requisitos visuais e estéticos, segue criteriosos processos artesanais, usando especiarias importadas do mundo inteiro. Tudo isso para garantir os melhores aromas e fusões exclusivas de sabores. E a apresentação? A casa Bom Ton pensa nos mínimos detalhes: miniaturas de baús antigos, ovos de madeira poeticamente inspirados em aves e, até mesmo, saquinhos selados por Tags estilo barroco abrigam as ervas e trazem uma bossa diferente e cheia de histórias. Onde encontrar? Confeitaria Colombo, Dona Coisa (Rio), e Q.U.A.D.R.A Concept Store (Brasília).

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FORMAS MILÃO RESPIROU MOBILARIA. A CIDADE ITALIANA, CAPITAL DO DESIGN, FOI PALCO DO 56º SALONE INTERNAZIONALE DEL MOBILE. NA LINHA “SEJA O PRIMEIRO A VER AS ÚLTIMAS NOVIDADES”, O EVENTO TROUXE CONCEITOS-CHAVE DE CRIATIVIDADE, INOVAÇÃO E TECNOLOGIA, COM A BANDEIRA DA FUNCIONALIDADE. PARALELA AO SALONE FOI REALIZADA A MOSTRA BE BRASIL, COM SESSENTA EMPRESAS BRASILEIRAS. ORGANIZADA PELA APEX, OS DESIGNERS CAPRICHARAM NO DESIGN CRIATIVO

Lustre Naiá por Lucas Santos

EU SOU BRASILEIRO

Luminária Copacabana do designer Maurício D’Ávila Geo Luz&Cerâmica

Luminária Farol, criada pelo Studio Nada se Leva para La Lampe

Softshell Side Chair por Ronan & Erwan Bouroullec para Vitra Mesa de centro Moaticu desenhada pelo designer Cristiano Ribeiro do Valle para Tora Brasil


Banco Parรก por Sofia Venetucci

Poltrona Licee por Jader Almeida para Sollos

Poltrona para Mula Preta

Sofรก Melpot para Natuzzi Italia

Cadeira Bossa por Jader Almeida para Sollos Cadeira Picolezinho para Lowii

Cadeira Toรก por Sergio e Jack Fahrer para Fahrer

Mesa Lineare para Studio Sette7

Bancos Claire para Studio Sette7


LEGADO

MELHOR AMIGO DE PABLO PICASSO E COMPANHEIRO DE GUIMARÃES ROSA NO EXÍLIO, CÍCERO DIAS SAGROU-SE UM INTELECTUAL MODERNISTA POR MEIO DE SUA AQUARELA INQUIETANTE. ELE MORREU EM PARIS, MAS SEUS QUADROS CIRCULAM EM MOSTRAS, LEVANDO A SENSAÇÃO DE SONHO E LEVEZA

Divulgação /Base 7

POR ANDRESSA FURTADO

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O MUNDO QUE VIU O PERNAMBUCANO

Escola, déc. 1920, óleo sobre tela, 65 x 54 cm Coleção Charles Daustreme, Melborne

U

m mestre modernista, nascido na cidade de Escada, interior de Pernambuco, em 1907. Cícero Dias passou a infância no Engenho Jundiá. Conhecia e vivenciava todas as particularidades do lugar. Observava com olhos atentos o dia a dia à sua volta: a plantação, a cana-de-açúcar, as usinas de moagem, a rotina da fazenda. Anos depois, registraria a infância em telas e se tornaria um dos nomes mais importantes da história da arte brasileira e mundial.

As primeiras notas, Jundiá, 1918, óleo sobre tela, 81 x 65 cm. Coleção Maxime Daustreme, Hong Kong

Obras com cores vivas, cheias de luz e vida são as marcas registradas do pintor, que viveu boa parte da vida em Paris, fugindo da perseguição política do Estado Novo – na época da ditadura do governo Getúlio Vargas, início da década de 1940. Mesmo distante da terra natal, Cícero nunca perdeu de vista as cores e os sons da infância vivida em Jundiá. Na Europa, mesclava as raízes brasileiras com a convivência intelectual vanguardista de gênios como Fernand Léger e Juan Miró. GPSBrasília « 217


da Cultura, no Recife, os quais representam as Revoluções Pernambucanas. Em 1981, o Museu de Arte Moderna (MAM) realizou uma retrospectiva de sua obra. Inaugurara um painel de 20 metros na Estação Brigadeiro do metrô de São Paulo, no início da década de 1990. Poucos anos depois, veio o reconhecimento do governo francês ao condecorá-lo com a Ordem Nacional do Mérito da França. Em 2000, Cícero Dias inaugura uma rosa dos ventos estilizada, estampada no chão da Praça do Marco Zero, cartão postal da capital pernambucana. Três anos depois, no dia 28 de janeiro, Cícero Dias faleceu em sua residência em Paris, cercado pela mulher Raymonde, a filha Sylvia e os dois netos. Seu corpo foi sepultado no cemitério de Montparnasse, mesmo local onde estão enterrados personalidades como Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir.

PELO BRASIL

Anos antes, viveu no Rio de Janeiro, quando ingressou no curso de Arquitetura e Pintura da Escola Nacional de Belas Artes. Após a primeira exposição individual, em 1929, percebeu que não precisava de uma faculdade para tornar-se artista. Ninguém mais segurava o gênio que desabrochava. Três anos depois de largar a academia, realizou uma exposição no Salão Revolucionário, da Escola de Belas Artes. Causou o maior rebuliço ao expor o polêmico painel de 15 metros de largura por dois metros de altura. Não apenas pelo tamanho, mas também pelas imagens oníricas e pelos nus ousados para a época. A obra intitulada Eu Vi o Mundo... Ele Começava no Recife levou três anos para ficar pronta e marcaria seu ingresso, definitivo, na vanguarda modernista do País. Logo em 1970, Cícero Dias realizou mostras individuais em Recife, Rio de Janeiro e São Paulo. Dez anos depois, foram instalados dois painéis no hall central da Casa 218 « GPSBrasília

A exposição Cícero Dias – Um percurso poético trouxe ao Centro Cultural Banco do Brasil cerca de 125 obras do pintor pernambucano. Após Brasília,a mostra fica em São Paulo até 10 de julho e segue para o Rio de Janeiro (1º de agosto a 25 de setembro). Além das obras propriamente ditas, a exposição contou com fac-símiles de cartas, textos e fotos de Manuel Bandeira, Gilberto Freyre, Murilo Mendes, José Lins do Rego, Mário Pedrosa, Pierre Restany, Paul Éluard, Roland Penrose, Pablo Picasso, Alexander Calder. Toda produção do artista foi dividida em três grandes núcleos. São eles: Brasil, Europa e Monsieur Dias – Uma vida em Paris. Para a curadora da exposição, Denise Mattar, “quando Cícero aparece no cenário artístico nacional, ele causa uma comoção geral. Porque quase todos os modernistas brasileiros da época divergem da arte dele. Se fôssemos entrar na raiz do trabalho, poderíamos dizer que chegaria perto do Surrealismo, apesar da sua base não estar fincada nos princípios desse período”, explica. Sobre as fases do artista, Denise completa: “quando viveu em Lisboa, seu trabalho aparece poderoso. Ali, a obra pulsa, como se fosse uma catarse do período da guerra. Na sequência, ele entra na fase vegetal, que é impressionante! É abstrata, mas viva. Você consegue sentir as cores gritando. Na sequência, quando ele dedica-se integralmente à abstração, isso mostra a completa inserção do artista no círculo de arte europeu. A obra de Cícero é cantante e ele é um artista original”.


Sem título, 1929; aquarela sobre papel, 45, 5 x 48 cm Coleção Sylvia Dias Daustreme, Paris

AMIGOS DO PEITO E DAS ARTES Boa parte da vida, o pernambucano Cícero Dias viveu em Paris. Criou raízes na Cidade Luz e fez amigos para a vida toda. Um deles foi Pablo Picasso. Inclusive, o pintor espanhol é padrinho de sua única filha, Sylvia Dias. Durante anos, os casais Cícero e Raymonde, Picasso e Dora Maar foram amigos inseparáveis. Cícero era fiel escudeiro de Picasso e vice-versa. Por exemplo, quando o espanhol pintou Guernica, sua obra mais célebre, Picasso quis saber a opinião do pernambucano, se estava usando muito cinza... Além disso, durante o período em que o brasileiro ficou fora de Paris, recebia de Picasso pacotes de biscoitos e bilhetes, com frequência. Num deles, um recado do amigo dizia: “Para Cícero Dias, de quem a presença em Paris se faz estritamente necessária”. O brasileiro não pestanejou. Voltou, definitivamente, a morar na capital francesa.

Do padrinho, o que Sylvia Dias mais reteve foi o olhar. “Ele tinha o olhar espantado de quem descobria tudo pela primeira vez”, relembra. A relação entre Cícero e Picasso era sólida e verdadeira. Entre as histórias mais icônicas da amizade entre eles, Cícero gostava de contar que pediu autorização para vender um quadro do compadre, que havia ganhado de presente. “Eu não tinha como manter um quadro de Picasso em casa. Era algo valioso demais e quando viajava, precisava alugar um cofre em um banco para colocá-lo, o que era caro. Resolvi contar isso a Picasso e ele me disse que eu deveria vender o quadro. Vendi-o e comprei um apartamento em Paris”, contou Cícero, em entrevista à Folha de S. Paulo seis anos antes de falecer. Essa relação, inclusive, virou documentário pelas mãos de Vladimir Carvalho, em 2016. Intitulado “Cícero Dias, o compadre de Picasso”, o filme venceu dois prêmios na mostra Câmara Legislativa Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Na tela, é possível identificar todas as fases do pintor: as cores quentes do início da carreira, o diálogo com a vanguarda europeia e o retorno ao abstrato, já em Recife.

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ARTE NA GUERRA Durante a Segunda Guerra Mundial, Dias foi preso com o escritor Guimarães Rosa e outros brasileiros. O grupo foi levado a Baden-Baden, na Alemanha onde ficaram seis meses confinado num quarto, o que fez para sua produção artística. Livre da cadeia, o pintor foi enviado a Portugal. Instalou-se em Lisboa e ali começou uma nova fase da sua arte. A partir de 1943, fez pesquisas sobre a cultura brasileira e portuguesa e estudou pintura, escultura e arquitetura. Nesse tempo, também pintou quadros com inspirações vegetais, como a pintura Melancia, de 1940. Cena Rural, déc. 1920, óleo sobre tela, 55 x 46 cm Coleção Maxime Daustreme, Hong Kong

Cícero ganhou o apelido de “combatente da poesia”. Foi ele que levou até Lisboa o poema Liberté, de Paul Éluard. De lá, o documento foi enviado para o crítico de arte Roland Penrose, em Londres, e, em forma de panfleto, foi jogado sobre a França ocupada, causando grande comoção entre a população. Nascia ali a figura de um Cícero heroico e ligado para sempre à luta pela liberdade de expressão.

MUSEUS BRASILEIROS COM OBRAS DE CÍCERO DIAS

O Goleiro, déc. 1920, aquarela sobre papel, 53,5 x 49,5 cm Coleção Flávia e Waldir Simões de Assis Filho

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• Museu de Arte Contemporânea de São Paulo • Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro • Museu Oscar Niemeyer (PR) • Museu de Arte Brasileira da FAAP (SP) • Coleção Roberto Marinho (RJ) • Museu do Estado de Pernambuco • Coleção Fadel



HERANÇA

CARTAS PARA O PAI

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FILHA ÚNICA DE CÍCERO DIAS, SYLVIA DIAS MANTÉM VIVO O SEU FANTÁSTICO IMAGINÁRIO NORDESTINO. TAMBÉM PINTORA, CRESCEU EM PARIS, RODEADA DE GRANDES NOMES DA ARTE. CIDADÃ DO MUNDO, LEVA CONSIGO POEMAS ILUSTRADOS QUE MANTINHA COM O SEU MESTRE MOR POR ANDRESSA FURTADO « FOTO GUSTAVO MORENO

A

história da pintura não conhece amores tão profundos e constantes como o de Cícero Dias com a francesa Raymonde Voraz. Foram mais de sessenta anos de convivência e harmonia, que resultaram em Sylvia, filha única e xodó do pai. “Não teve um dia em que eu não risse com ele”. Foi com essa máxima que Sylvia Dias iniciou a conversa com a GPS|Brasília, em breve passagem pela Capital Federal. Sylvia foi cidadã do mundo ao longo de 20 anos, enquanto esteve casada com um bancário. Morou em vários países para acompanhá-lo, levando dois filhos brasileiros a tiracolo. Nesse meio-tempo, cartas ilustradas e ligações diárias sustentaram a bela história entre pai e filha. A herdeira de Cícero nasceu em Paris, estudou nas melhores escolas da cidade. É elegante. Fala sobre a infância com saudosismo. Conta que tinha liberdade para entrar no ateliê do pai sem precisar bater na porta. “Quando eu nasci, meu pai ficava em cima das enfermeiras, com medo de me trocarem na maternidade”, relembra. Aos que não sabem, Sylvia também é artista. O mais atípico da sua relação com o pai é que ela só tornou-se pintora na maturidade, longe da influência direta de Cícero. Longe, entre aspas. “Longe dos olhos, mas perto do coração. Nos falávamos cinco vezes ao dia sobre as coisas corriqueiras da vida, sentimentos, sonhos. Ele também me dava conselhos à distância de como pintar. Mas, me considero autodidata”, conta. Iniciou a carreira artística sem motivo aparente. Na época, vivia no Panamá. Começou a enxergar as ruas da cidade de forma diferente. “Não posso explicar como, nem porquê me tornei pintora. Simplesmente aconteceu. Eu tinha 20 e poucos anos, recém-casada, o dia a dia do Panamá me encantava tanto que despertou em mim a vontade de registrar tudo”, explica. A partir daí, foi um passo para começar a ex-

por. Naquela hora veio do pai o empurrão para isso acontecer. “Sem ele me incentivando, eu jamais teria ousado expor na minha vida”, orgulha-se. Sylvia é afilhada de ninguém menos que Pablo Picasso. Além do padrinho, a menina conviveu com outros artistas e escritores amigos de Cícero. “Posso dizer que o meu berço sempre esteve rodeado por fadas que eram os poetas surrealistas, como Paul Éluard e Blaise Cendrars. Um chamava-me de querida amiguinha e outro aconselhou-me a nunca sair da casa de bonecas”, relembra. No enterro do pai, em 2003, Sylvia recitou o poema que fez em sua homenagem. Nos versos, a artista relembra a trajetória de Cícero e cita um dos seus trabalhos mais célebres “Eu vi o mundo... ele começava no Recife”, desenvolvido na casa número 8 da rua Aprazível, no bairro de Santa Teresa, onde o artista viveu e trabalhou desde sua chegada ao Rio de Janeiro, em 1927. Poema recitado por Sylvia Dias no dia do enterro do pai, em 2003 “Eu vi o mundo... Ele começava no Recife. Meu querido pai, o crítico de arte André Salmon falava de você como um “selvagem esplendidamente civilizado”. E tinha razão, pois a sua vida é um romance e sua obra um poema. Eu vi o mundo... e ele começou em Jundiá, casa imensa onde você nasceu, um verdadeiro palácio dos trópicos. Um lugar mágico, em meio ao imenso balé dos canaviais. Em 1937, você chegou a Paris e logo fez amizade com Picasso, Blaise Cendrars e Paul Éluard. Algum tempo depois, na cidade já ocupada pelos nazistas, encontrou a sua amada, minha mãe. Ah! As parisienses! Arriscando sua vida, passou o poema “Liberté” de Paul Éluard para Sir Roland Penrose em Londres. Milhares de panfletos foram jogados pelos aviões da Royal Air Force sobre todos os países ocupados da Europa. Sua vida é um romance e sua obra um poema. Quando criança eu passava horas na rede do seu ateliê, cheirando a terebintina, embalada pelos noturnos de Chopin, maravilhada por sua paleta de cores. Alguns anos depois me casei, fui morar pelo mundo afora... Longe dos olhos, perto do coração. Os seus poemas ilustrados atravessaram os oceanos para me mandar as suas Asas da Saudade. Sua vida é um romance e sua obra um poema. Últimos momentos, tristeza... As nossas constantes conversas pelo telefone se transformaram em longos silêncios. No silêncio ensurdecedor de amar, de Louis Aragon. Eu vi o mundo, ele começava no Recife.”

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Divulgação

LENTES

Fachada do Museu em Fortaleza, um convite para os olhos

Divulgação

MESTRES DA LUZ

Silvio Frota é o idealizador do MFF

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MAIS UMA VEZ, O CEARÁ SE POSICIONA A FAVOR DA ARTE E APRESENTA O MUSEU DA FOTOGRAFIA FORTALEZA, O PRIMEIRO ESPAÇO EXCLUSIVAMENTE DEDICADO AO SEGMENTO NO BRASIL POR MARIANA ROSA – ENVIADA ESPECIAL

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ortaleza – O prédio chama a atenção de longe. O projeto arquitetônico imita duas letras C se encaixando. Moderno. À noite, luzes amareladas iluminam o vão entre os semiarcos criando a impressão de um portal. Impactante. Dá para ver a parte interna pelas nuances das lâmpadas brancas fluorescentes. Atraem corpo e olhar a avançarem. Subindo os degraus, as portas de vidro abrem-se automaticamente. Pronto. Estamos dentro do Museu da Fotografia Fortaleza (MFF), Ceará. “Uma homenagem aos fotógrafos, tantas vezes esquecidos”, explica o proprietário Silvio Frota.


Man Ray

Águas Termais por Otto Stupakoff

Menina Afegã por Steve McCurry

Migrant Mother de Dorothea Lange

O local, com três andares e 2,5 mil m2 no centro da capital cearense, foi construído, principalmente, para abrigar a coleção do casal Paula e Silvio Frota. Investidores únicos do empreendimento, os dois possuem um dos maiores acervos do País. São mais de duas mil fotos adquiridas ao longo de nove anos, pelo Brasil e pelo mundo, de Cartier Bresson a Sebastião Salgado. Silvio era colecionador de pinturas até que, em 2008, numa exposição em Nova York, deparou-se com a imagem da Afghan Girl. Apaixonou-se imediatamente. A fotografia da menina afegã tornou-se uma das mais famosas do mundo após estampar a capa da revista National Geographic, em junho de 1985, pelas lentes do fotógrafo Steve McCurry. Sem pensar duas vezes, Silvio adquiriu a fotografia. O fascínio da família Frota pela arte das lentes continuou e, consolidou-se com a inauguração do MFF. “Eu só compro uma foto se me apaixonar por ela. Cada imagem é um amor novo, como um filho amado. Não podemos julgar o fotógrafo só por uma foto, por isso, compro o acervo todo da mostra ou, no mínimo, cinco fotos de cada exposição”, confessa Silvio. GPSBrasília « 225


Sebastião Salgado

O curador da mostra, Ivo Mesquita, fez o minucioso trabalho de selecionar pequenos conjuntos de três fotos, em média, de todo o acervo do casal. Ou seja, a exposição de abertura do MFF é uma pequena mostra da coleção completa dos colecionadores. “É possível fazer uma exposição inteira com cada série do acervo se separarmos as imagens por fotógrafos, tema, década ou estilo de foto”, explica.

CLIQUES DOS SONHOS O clima no interior do prédio do MFF é completamente diferente. O calor úmido e abafado do lado de fora é substituído pelo ar seco e frio vindos dos ares condicionados ligados nos 15 graus, em média. Temperatura proposital para manter 400 fotos climatizadas. Na entrada, à esquerda, uma tímida lanchonete com máquinas de lanche rápido, uma discreta livraria com clássicos da fotografia e souvenires diversos, como canecas e canetas com o nome do Museu. O bom humor fica por conta das camisetas com frase de efeito do tipo I hate selfie. Do not insist., Je suis photo graphe, Bresson & Salgado & Leibivitz & Demarchelier. O mall fica pequeno quando o visitante vira à direita. Aí sim a exposição de abertura começa. Um grande salão apresenta o eixo intitulado Um Imaginário de Cidades, porque narra cenas urbanas passando da beleza ao caos. Nessa parte da mostra, o Palácio da Alvorada e o Congresso Nacional, em Brasília, são expostos em três quadros, lado a lado, sozinhos na parede. São os cliques do franco-brasileiro Marcel Gautherot, em 1956. 226 « GPSBrasília

Também nesse eixo, o proprietário e colecionador Silvio Franco fez questão de citar o vigor da nova safra de artistas. É o caso do jovem Victor Dragonetti. Em 7 de setembro de 2013, durante as manifestações de rua em São Paulo, o fotógrafo com 22 anos “conseguiu montar um cenário, formatar a foto na cabeça e fazer um belo clique, tudo isso dentro de uma guerra”, admira Silvio. Na sequência, Sobre Crianças é o setor dedicado à fotografia com temática infantil. As imagens demonstram graciosidade ao mesmo tempo em que abordam assuntos como o trabalho infantil. Inclusive, com a intenção de criar novo público para a arte, o Museu será itinerante, movido pelo projeto de levar máquinas fotográficas às crianças carentes carentes da região brincarem de tirar foto. Os melhores cliques serão expostos no Museu. No segundo andar, Jogos de Olhares é o eixo mais eclético do MFF. O curador conseguiu criar um arco-íris de imagens com temas contemporâneos – erotismo, moda, retratos. Ao mesmo tempo que apresenta a mistura etnográfica do mundo, vemos lado a lado fotos de Man Ray, Horst P. Horst, Luiz Santos, entre outras celebridades. Luz é algo que fotógrafo não consegue viver sem. Um cenário iluminado proporciona detalhes mais nítidos e ângulos ousados. Agora, imagine o desafio de fotografar embaixo do sol escaldante sem estourar as fotos e sendo ousado para brincar com as sombras. Encantados com a habilidade de fotografar nesse clima hostil tecnicamente, o diretor e o curador dedicaram todo o terceiro andar do MFF ao eixo Norte e Nordeste brasileiros. Além de honrar a identidade cultural,


prestigiam profissionais do mundo inteiro que vieram ao Brasil em busca do clique perfeito. Seguindo o viés, uma sala inteira foi dedicada a Chico Albuquerque. A exposição do fotógrafo ilustre do Ceará abre as celebrações do seu primeiro centenário. As imagens são do trabalho como fotógrafo de cena para o diretor Orson Welles, no filme It is all true (É Tudo Verdade, em português), de 1942. Por fim, o terraço e o auditório completam a estrutura do local. Os espaços são dedicados a momentos de confraternização, palestras, aulas e tudo mais que Museu possa oferecer.

CRÍTICA

Chico Albuquerque

Claudio Edinger

José Medeiros

Apesar do nome museu, o MFF não conta a história da fotografia. É um lugar de exposições fotográficas. O próprio Silvio Frota explicou que o nome museu atrai turistas. “Quando se está a passeio, as pessoas procuram museus e não exposições, por isso escolhemos o nome Museu da Fotografia”. Não à toa, o local integrará a rota turística da cidade, parceria com a Associação Brasileira de Indústrias e Hotéis – ABIH. A coleção do casal Paula e Silvio Frota valoriza a imagem, a fotografia em si, não se importando com o tipo de câmara em que a foto foi feita. Por isso, Silvio considera fazer uma exposição apenas com fotos tiradas de celular. “Por que não? Desde que a foto saia do lugar comum, merece ser exposta. A atual geração da fotografia caminha para isso”. Questionado se, além de admirador, Silvo arrisca tirar fotos, ele responde: “A paixão por bater foto é diferente da paixão para escolher uma foto. Eu e minha família sabemos admirar uma imagem, temos esse tipo de olhar”. Inclusive, para o diretor, o mercado da fotografia tende a crescer e igualar-se ao das obras de arte clássica, como a pintura. “Quem gosta de fotografia que comece a comprar agora, porque o mercado vai ficar caro”, aconselha ao mesmo tempo em que se esquiva para não falar sobre valores. Depois de inaugurado, o grande desafio do MFF é a manutenção. No País, há carência de restauradores de imagem. Tanto que Silvio Frota prometeu investir em escola técnicas para o setor e cursos para jovens e idosos. “Construir museu é fácil, difícil é manter. É lamentável como a cultura é abandonada no Brasil. Agora, parto para a busca de parceiros. Precisamos nos unir para valorizar a fotografia, uma arte tão apaixonante”, desabafa o diretor. Museu da Fotografia Fortaleza (MFF) Rua Frederico Borges, 545, Varjota, Fortaleza – CE Funcionamento: de quarta a sábado, das 12h às 17h

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LÚDICO

O HOMEM DE SEIS MILHÕES DE LEGO APAIXONADO PELA FORMA HUMANA, NATHAN SAWAYA VENCE AS BARREIRAS DA ARTE CONSERVADORA E EMANA PARA TODO O MUNDO O QUÃO EXCITANTE É ATUAR COM OBJETO TÃO ACESSÍVEL E INSPIRAR PESSOAS PAULA SANTANA

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alvez por sua oratória como advogado ou por sua curiosidade com o jornalismo, profissões que exerceu e flertou, respectivamente, Nathan Sawaya esteja ainda tão disposto a falar de sua arte, mesmo difundindo-a há dez anos em mais de 80 museus mundo afora. Disponível e entusiasmado, ele não economiza palavras para descrever sua relação com o universo imaginário que criou a partir do bloco LEGO. Ele é tão apaixonado pelo que faz que tem uma tatuagem do brinquedo no pulso esquerdo. Sem contar que lançou dois livros best-sellers e é constantemente convidado a palestrar sobre o tema. Pois bem, The Art of the Brick tornou-se uma enorme polêmica no segmento à época. Muitos críticos hesitaram em reconhecer a manipulação do objeto como arte, mesmo diante do público, que o ovacionou pelo ineditismo das obras. O fato é que Nathan pouco se comoveu com os créditos que lhes foram conferidos em torno do novo ofício de artista. O que ele queria inicialmente era ter uma válvula de escape, algo que desobstruísse a sua mente e a recompusesse 230 « GPSBrasília


da exaustão da árdua vida de advogado nova-iorquino. Ele conta que pintava, desenhava e esculpia em argila, arame, doces. Até que um dia olhou para o brinquedo de infância com outros olhos. Foi aí que tudo começou. Nathan pensou que a primeira exposição seria a única. Convidou amigos e familiares sem pretensões. Mas o impacto foi tamanho, que não demorou para que jornais como New York Post analisassem sua arte como “notável”, “contagiante” ou “obrigatória” – a CNN norte-americana a classificou como “One of the Top 10 Must See Global Exhibitions” (uma entre as dez exposições globais que precisam ser vistas). O resultado: mais de dez milhões de visitas em dez anos, das quais estão incluídos espectadores paulistas, cariocas e brasilienses, locais no Brasil por onde a exposição transita. “Eu uso esses brinquedos como meio, porque gosto de ver a reação das pessoas à arte criada a partir de algo com o qual estão familiarizados”, explica a uma leva de jornalistas curiosos durante visita ao Brasil, ano passado. “Também me seduz o aspecto clean desse material, os ângulos retos, as linhas distintas”, complementa. No decorrer da mostra, há reconstruções de obras universalmente conhecidas, como O Pensador, de Rodin, O Grito, de Edvard Munch, O Beijo, de Gustav Klimt. Em outros momentos, o espectador encontra-se com esculturas enormes, como o impressionante esqueleto de T-Rex de seis metros de comprimento, feito com oitenta mil blocos. Natural da cidade norte-americana de Colville, no estado de Washington, Nathan Sawaya hoje é um artista premiado, que divide o tempo entre os estúdios que possui nas cidades de Nova York e Los Angeles. E uma curiosidade: seu nome é um dos mais pesquisados no Google. Em Brasília, The Art of the Brick chegou como um generoso presente para os brasilienses vindo das mãos do shopping Iguatemi Brasília. Em entrevista exclusiva, Nathan conta mais sobre a sua envolvente arte. Por que LEGO? Existe alguma ligação com a sua infância?

Há uma coisa incrível nos blocos de LEGO quando usados para esculpir algo grande, porque, de perto, os espectadores estão olhando para retângulos pequeninos cheios de cantos afiados e ângulos retos. Mas, quando dado um passo a trás, todos aqueles cantos se misturam e a forma da escultura pode ser percebida. Os ângulos retos tornam-se curvas e, em vez de linhas diferentes, vê-se uma figura humana. Como na vida, tudo depende da perspectiva.

O norte-americano Nathan Sawaya e suas figuras humanas

Foi difícil fazer as pessoas entenderem o que você realmente queria? Ou a aceitação foi uma grande surpresa pra todos?

A princípio, algumas galerias questionaram, mas eu estava determinado a ser a primeira pessoa a trazer o LEGO para o mundo da arte. Usando um meio que é acessível, nós vemos famílias que podem nunca ter ido antes a uma galeria de arte ou a um museu, mas são puxados para “A Arte do Bloco”. Como um artista, quero inspirar os outros a explorar suas próprias criatividades, então é muito emocionante ver pessoas irem às minhas exibições e saírem delas sentindo-se inspiradas. Você gosta de representar a figura humana em esculturas quase viscerais. O que isso significa para você?

Eu gosto da forma humana como um tema subjetivo, porque posso expressar emoção através de minhas obras. Houve períodos em que foquei em outros assuntos. Por exemplo, comecei meu trabalho com objetos estritamente representativos que encontrava em meu apartamento em Nova York. Foi um bom ponto de partida que ajudou a moldar minha técnica. Mas é na forma humana que está minha paixão. Há alguma especial?

Uma das esculturas vindas pro Brasil é uma GPSBrasília « 231


RETRANCA preciso usar uma talhadeira e um martelo para quebrar os blocos, se eu cometer algum erro. Isso pode deixar o processo mais lento. Quando estou trabalhando em uma escultura, gasto de 10 a 12 horas por dia no meu estúdio de arte. Uma escultura do tamanho de um humano real pode me levar de duas a três semanas. Seu trabalho é manual ou existe alguma tecnologia?

chamada Grasp, que retrata uma parede cinza escura com braços tentando alcançar uma figura vermelha que se esforça para se afastar. A figura representa a minha busca por ser um artista. Eu era advogado em Nova York e quando decidi deixar a lei para me tornar um artista em tempo integral, muitas pessoas achavam que eu estava cometendo um erro e foram muito negativas quanto a minha escolha. Essas pessoas são representadas pelos braços na escultura, tentando pegar a figura vermelha de volta. Qual a expectativa quando você começa um processo criativo?

O processo de criar essas esculturas começa primeiro com a ideia. A ideia é o componente chave para desenvolver a arte. Inspiração é algo difícil de definir, porque pode vir de lugares diferentes. Felizmente, viajo bastante pelo mundo todo. Conheço pessoas diferentes, vou a lugares diferentes e vivo culturas diferentes. Uso esses momentos como inspiração. Eu carrego um bloco de desenho para colocar minhas ideias no papel e seguir. Gosto de planejar a escultura o máximo possível. Quero conseguir visualizar o resultado final antes de colocar o primeiro bloco. Como se dá essa engrenagem?

Fotos: Divulgação

Quando estou construindo, eu colo cada bloco. Como mandamos as obras de arte para o mundo todo, eu acho importante colar todas as peças para que resistam ao transporte. Às vezes

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Existe planejamento, mas minhas mãos colocam todo e cada bloco no lugar. Você trabalha sozinho?

Não, meu cachorro está comigo no estúdio todos os dias. Tenho um time incrível. Uma exibição como essa é uma grande colaboração. Envolve as pessoas que constroem os caixotes para as obras de arte, o time de iluminação, os instaladores e muitos mais. Você considera seu trabalho uma arte de arquitetura?

Não, é arte por si própria. Não é arquitetura.

Você permite que seu trabalho seja imperfeito, usando objetos simétricos?

Sim, o tempo todo. Mas a imperfeição está nos olhos de quem vê. Qual é o maior desafio em ver sua arte se transformar em formas vivas?

Existe um desafio técnico de criar curvas vindas de ângulos afiados e retos. É difícil criar o detalhe da forma humana usando apenas pedaços retangulares pequeninos. Você gostaria de trabalhar com outro elemento? Qual?

Eu atualmente tenho mais de seis milhões de tijolos no meu estúdio de arte, então provavelmente ficarei com os tijolos no futuro. Mas, se eu tivesse que tentar algo diferente, me tornaria


um chef. Adoro cozinhar no meu tempo livre. Quais são os seus planos para o futuro?

Eu gosto de criar o inesperado. Mas também gosto de explorar outras mídias através da minha arte de LEGO. Publiquei alguns livros, palestrei para grupos incríveis de pessoas e colaborei com maravilhosos artistas. Sobre o que vem pela frente, você terá que esperar para ver. Você acredita em um mundo melhor? Como ele poderia ser?

Sobretudo, meu papel como artista é inspirar. Pela minha própria jornada pessoal, eu aprendi que arte não é opcional. Não é um “legal ter”, é um “precisa-se ter”. Quando eu era advogado, eu não estava feliz, mas criar me deixou feliz e eu acabei mudando de carreira. Eu não sou o único a ser positivamente impactado por exercitar criatividade. É provado: alunos têm resultados melhores na escola quando estão expostos à arte. Notas melhores em testes de graduação quando a arte faz parte do currículo. Criar é frequentemente usado em vários tipos de terapia e recu-

peração. Criar te deixa mais feliz. Criar te deixa mais esperto. Criar te deixa mais saudável. Claramente, criar te faz uma pessoa melhor. Quero inspirar pessoas a fazerem arte, assim elas podem fazer um mundo melhor. Grandioso? Claro que sim, por que não? Se você pudesse mudar algo nos dias de hoje, o que você faria?

Eu encontrei minha paixão e a estou fazendo.

Você tem algum sonho?

Eu apenas quero continuar a inspirar pessoas ao redor do mundo para que sejam criativas em suas próprias vidas. The Art of the Brick® Até 21 de maio de 2017 Iguatemi Brasília – Para acompanhar a exposição, o aplicativo THE ART OF THE BRICK® Brasil apresenta audioguia e informações detalhadas sobre as 83 esculturas por meio de QR Code. Disponível em IOS e Android.

Nathan também reproduz obras consagradas com as peças de LEGO

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ARTE POR MAURÍCIO LIMA

mauricio@galeriaclima.com.br

SUTILEZA POÉTICA DESENHO, FOTOGRAFIA, VÍDEO, OBJETOS, AÇÕES, MANIPULAÇÃO DE AMBIENTES SÃO RECURSOS PRESENTES NO UNIVERSO DE VALERIA PENA-COSTA

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elicadeza para tratar de termos complexos, essa sempre foi uma característica da artista plástica Valeria Pena-Costa, mineira, nascida em Monte Carmelo e vivendo em Brasília desde a década de 1980, onde desenvolve seu trabalho, que investiga, principalmente, a memória e os registros visíveis do tempo. Graduada em Artes Plásticas, pela UnB, com bacharelado em pintura, não se prendeu ao uso exclusivo da técnica e aos poucos trocou a exclusividade dos pincéis por outros materiais que possibilitam um desdobramento ainda maior do assunto/tema de suas investigações. Esse processo ocorreu em algum momento, segundo a artista, não muito preciso, em que novas necessidades se apresentaram, como volume, movimento e a permissão de um contato sensorial mais abrangente. Assim, a bidimensionalidade da pintura deu espaço para novos elementos que se agregaram ao trabalho e, em muitos momentos, ajudaram a contar

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histórias do passado e a agregar também o observador. Esse sempre foi um dos desejos da artista, que o observador se coloque em seu universo e explore suas memórias, que se proponha a voltar no tempo por intermédio de testemunhos, de contos ouvidos, cenas presenciadas ou fantasias recriadas. Como ela explica, seu trabalho não trata da investigação e do questionamento de uma técnica, e, sim, de um assunto. Dessa forma, a técnica está a serviço do assunto proposto e não o contrário. Uma das características do trabalho, que é necessário salientar, é a delicadeza e o detalhamento de seus desenhos, um processo exaustivo que necessita de dias e dias de trabalho para terminar um único desenho. Essa delicadeza cria um sentimento de serenidade que muitas vezes é imediatamente contraposto pelo uso de outras matérias,


como os desenhos de vestidos infantis feitos sobre bulas de remédios de uso controlado. Além dessa característica, a desconstrução, o perecimento e o desmanche são recorrentes em seu repertório. Em seu ateliê, Valeria está criando um trabalho que consiste em observar objetos entregues à ação do tempo e de insetos devoradores. Nesse processo de desgaste, ela analisa as marcas registradas que irão compor seus próximos trabalhos. A artista tem obras em importantes coleções públicas e privadas. Para quem passar pelos EUA, atualmente, o trabalho da artista pode ser visto na exposição Divergentes II, na Galeria Clima de Miami.

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PARAÍSO

A ILHA DA FANTASIA 236 « GPSBrasília


O LOCAL MAIS EXCLUSIVO E BELO DO CARIBE ATRAI VISITANTES QUE NÃO ECONOMIZAM PARA TER CONFORTO E SOFISTICAÇÃO. DE COLONIZAÇÃO FRANCO-SUECA, MAS COM ATMOSFERA CREOLE, ST. BARTH É DESTINO DE QUEM NÃO QUER NADA DA VIDA ALÉM DO MELHOR POR PAULA SANTANA – ENVIADA ESPECIAL

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Vista aérea das duas praias acerca do hotel Le Guanahani

ustavia – A história de St. Barth, diminutivo carinhoso de Saint Barthelémy, dá uma ótima aula de história. Brevemente, Cristóvão Colombo foi seu descobridor, em 1493. Deu à ilha a alcunha de seu irmão, Bartolomeu. Como tinha acabado de descobrir a América e estava naquele momento de navegar o Oceano Atlântico para chegar à Índia, ele esnobou a pequena ilha de 21km a noroeste do Caribe. Um nobre francês, cento e tantos anos depois, resolveu habitá-la. Não demorou e os índios nativos os botaram para correr da linda terra de morros áridos e mar azul-turquesa. E assim seguiu até que, em 1674, a ilha tornou-se oficialmente da França. Como franceses e ingleses não se davam, foi a chance para os corsários britânicos saquearem o frágil local. Chateados, os franceses a venderam aos suecos em 1784. O então Rei Gustav da Suécia, empolgado, deu o seu nome à capital. E organizou o novo condado. Próspera, St. Barth ganhou porto, museu, forte, campanário… e, logo, logo estava com quase seis mil habitantes. Uns quarenta anos depois, a natureza se encarregou de tirar o ânimo do rei. Tempestade, seca, furacão acabaram com a ilha, abundante em pesca e agricultura familiar. Gustav, désolé, devolveu-a para a França, em 1878, que a recebeu, mas a deixou quietinha lá, sem maiores investimentos. Até porque vieram as grandes guerras do século XX. Pode-se dizer que um dos locais mais reservados, lindos e disputados do mundo atual rodou de mão em mão nos últimos quatrocentos anos. E, finalmente, chegamos aos tempos modernos. Data o ano de 1946, quando o primeiro avião pousou em St. Barth. Era o início do descobrimento das maravilhas da ilha. Já nos idos de 1950, a ascensão. Imagine que ninguém menos que as famílias Rockefeller e Rothschild encantaram-se na mesma época pelo charme secular de St. Barth. Benjamin de Rothschild, por exemplo, adquiriu propriedade de sete hectares, atualmente em mãos de outros milionários,

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mas avaliada em USD 67 milhões. Já a de David Rockefeller passou por abandono, brigas judiciais, algumas vendas. O que importa é que ambos os magnatas foram os maiores hostess da ilha, que a partir dos anos 80, iniciou sua euforia turística voltada para público – como diziam os franceses à época – crème de la crème que procurava sossego, conforto e sofisticação. Nem é preciso citar nomes de celebridades e personagens icônicos que a frequentam desde então. É até démodé. Dois nomes russos valem ser lembrados. O bailarino Rudolf Nureyev, cuja bela casa em Grand Fond na costa sul, isolada e rochosa, é atual ponto turístico, apesar de ser propriedade privada. E, claro, Roman Abramovich, dono do time inglês Chelsea. Um dos dez homens mais ricos do mundo habita os mares de St. Barth no Eclipse, seu iate de 557 pés, que de tão grande não entra no porto. Aliás, navios e cruzeiros são proibidos na exclusiva ilha. Várias outras coisinhas são vetadas por lá. Por exemplo: vendedores na praia, pedintes nas ruas, lanchonetes americanizadas, prédios, carros grandes, transporte público. O melhor meio de locomoção é o carro pequeno. Em geral, a oferta de MiniCooper é abundante, pois pouca coisa se faz a pé devido aos terrenos acidentados. Mas, antes, vamos entender a geografia da ilha, que tem oito mil habitantes, dos quais três mil são portugueses.

A recepção, os quartos, o spa e o restaurante Bartolomeo fazem parte do resort

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AS PRAIAS São 16 belas praias com perfis bem distintos. De locais para mergulho, passando por áreas de surf a pacíficas enseadas para tomar banho de mar. Vamos às procuradas. O litoral Sul é o mais isolado, por suas rochas. Ideal para quem busca tranquilidade. Sem acesso fácil, a não ser pelo mar ou desbravando a pé uma tortuosa trilha, ficam Salines e Colombier. Muitos as consideram as mais lindas da ilha. Ideal para mergulho. Ao Norte, o agito. É onde se encontram as movimentadas Flamant e Lorient. Já os surfistas procuram ondas nas proximidades, como Point Milou. Por ali também a praia de Marigot.

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ole, um dos marcos na ambientação de St. Barth. Todos os chalés têm vista para o mar azul de Marigot. Muitos com piscinas privativas. O Le Guanahani possui outro elemento que faz toda a diferença. Tem duas praias para seus hóspedes. Uma península quase deserta e outra ideal para prática de esportes náuticos. À frente do mar, integrando o agradável restaurante Indigo, uma generosa piscina com jacuzzi. À noite, vale botar na agenda um jantar no Bartolomeo, um dos cardápios mais saboreados da Ilha. Ah, há também o spa My Blends by Clarins. Para quem gosta, imperdível. Um bálsamo.

A CAPITAL

A piscina do hotel em frente à praia

St. Jean é a ferveção, que abriga, inclusive, o badalado Nikki Beach. Nos arredores, um centrinho super charmoso e onde a cidade acontece no que diz respeito a serviços. Tem tudo: restaurantes, mercadinhos, farmácias, caixas eletrônicos, pousadas, lojinhas locais, bares. Os hotéis em sua maioria ficam na ponta Leste. Especialmente em duas praias: Grand Cul-de-Sac, que ostenta uma farta barreira de corais. E a filha, Petit Cul-de-Sac.

O HOTEL A ilha tem média de vinte bons hotéis, dos quais um se destaca: o Le Guanahani. Conhecido como resort e spa, é o maior de St. Barth e o único com serviço completo da ilha. Tem um desejo? Ele se concretiza pelas mãos dos belos e simpáticos funcionários. São 16 acres envolvidos em um estonteante jardim tropical, onde se escondem 67 charmosíssimas casas confeccionadas com madeiras raras em cores suaves. O estilo colonial foi concebido pelo arquiteto norte-americano Luis Pons, que manteve a atmosfera cre240 « GPSBrasília

St. Barth é um daqueles lugares que faz suspirar. Da beleza natural à extrema organização da cidade, complementada com o modo despojado, mas não menos sofisticado, de viver. Tem algo naquela terra que encanta. Talvez tudo. A atmosfera luxuosa que harmoniza a cultura creole com os costumes europeus faz o coração bater mais forte. Antes mesmo de o pequenino avião sobrevoar sob os obrigatórios telhados vermelhos tão característicos, os visitantes já sentem que o tempo destinado ao local será pouco. E sempre é. Nada mais delicioso que passear ao fim da tarde pelas lojas elegantes da capital Gustavia, na Rue de La Republique, onde se concentram as grandes maisons com coleções exclusivamente criadas para os frequentadores da ilha. Fica em frente ao porto, de onde saem os barcos que ligam a ilha às vizinhas Saint Martin e Anguilla. É em Gustavia também onde se concentram os restaurantes famosos. Existem uns sessenta na ilha, mas, conta-se nos dedos os badalados. Dentre eles, L’Isola ou Bonito. Para dar uma fervida noturna escolha entre Le Ti, Bagatelle e Saint Barth Yacht Club. Curtiu? Então, programe-se. Dezembro, janeiro e fevereiro é quando a ilha fervilha. Inclusive com tarifas altas. De julho a outubro, há chances de intempéries da natureza. É bom não arriscar. Parte da cidade fecha. Se quiser pegar clima aprazível e boas diárias, então a data sugerida é entre abril e junho. Para quem mora em Brasília, a sugestão para chegar com conforto é seguir até Miami em voo direto da American Airlines. De lá, mais duas horas voando até Porto Rico. E, finalmente, em aviões mais bem equipados e com atendimento VIP, viagem de 50 minutos até a ilha. *A repórter viajou a convite do hotel Le Guanahani www.leguanahani.com – @leguanahani



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