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Tetê Laudares A Nova Realidade
TETÊ COM ESTILO
Maria Thereza Laudares
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mtlaudares@gmail.com – @mtlaudares
A NOVA REALIDADE
A moda em tempos de metaverso
Os últimos dois anos propiciaram o crescimento da realidade virtual, quando o “tudo-online” ganhou protagonismo. Definir o Metaverso é assunto complicado. O termo, que surgiu em Snow Crash (1992), obra sci-fi de Neal Stephenson, descreve um mundo virtual que ultrapassa os limites digitais e físicos das nossas vidas. Existe apenas um Metaverso, mas são tantos metamundos quanto websites na internet. “É um novo mundo no qual ainda não vivemos”, disse Ian Rogers, chefe de experiência da Ledger, desenvolvedora de cryptocarteiras, para a plataforma Business of Fashion.
O mercado da transformação
Esqueça fibras e fábricas. Nesse novo mundo, os designs tomam forma por meio de computadores e animações tridimensionais. A indústria da moda está atenta à comunidade de consumidores do futuro: gerações jovens que passam seu tempo fazendo compras, socializando e jogando online. No Metaverso, somos representados por nossos avatares, que consomem moda virtual com comportamento de colecionador. Em 2021, a marca americana Ralph Lauren “abriu” uma loja para esqui em colaboração com a plataforma de gaming Roblox, apostando em vendas no mundo digital, assim como naquele físico.
Seguindo a mesma linha, a maison de moda francesa Balmain se uniu à Altava para oferecer peças exclusivas e limitadas. A Louis Vuitton, antes de comemorar os 200 anos de nascimento de seu fundador, em 2021, lançou um jogo para celular (Louis the Game) e desenvolveu skins para o game de sucesso Fortnite.
No esporte, Nike, Adidas, e Vans acreditam que existe ainda mais espaço para crescer, e os e-jogos são apenas uma parcela do Metaverso.
Na expectativa das temporadas de desfiles, o British Fashion Council saiu à frente e lançou o The Fashion Award for Metaverse Design Experience na plataforma Roblox, um prêmio de moda para design no Metaverso. A experiência virtual ficou aberta por nove dias e os visitantes foram transportados ao Royal Albert Music Hall para se divertirem no tapete vermelho com os amigos. Alessandro Michele, diretor-criativo da Gucci, marcou presença por meio de seu avatar e criou uma série de produtos virtuais da casa italiana, que foram vendidos aos visitantes.
A liderança do amanhã
A Balenciaga, maison de luxo francesa considerada inovadora na metamoda, tornou-se referência em estilo e sensibilidade cultural. Fazendo suas próprias regras, transformou, na mente dos fãs, a imagem da casa e legado históricos em modernidade. As experiências criadas no mundo virtual são rapidamente alcançadas por todos os seguidores da marca, mesmo aqueles que não consomem seus produtos no mundo físico.
Cédric Charbit, CEO da Balenciaga, confirma que a empresa tem grandes planos para o Metaverso. “Poderemos vestir a altacostura da Balenciaga em nossos encontros virtuais”, assegura. A marca já criou skins para Fortnite e também seu próprio jogo – Afterworld: The Age of Tomorrow –, que foi palco para sua coleção de outono-2021. Charbit acredita que o Metaverso levará as empresas e seus consumidores para o próximo nível de consumo, no qual a interação com o produto irá além de curtidas e comentários.
Collabs, o portão de entrada
O sucesso das collabs é comprovadamente uma ação extremamente lucrativa, tanto em coleções físicas quanto em suas metaversões. A Roblox e a Gucci criaram juntas o Gucci Garden, um jardim virtual onde é possível comprar versões intangíveis de seus produtos, como a icônica bolsa Queen Bee Dionysus, que no mundo real custa USD 3,4 mil. A versão virtual da bolsa chegou no Roblox por 350 mil Robux – moeda virtual e intransferível do jogo – que equivale a mais de USD 4 mil. Já o sneaker da marca foi vendido na realidade aumentada por apenas nove dólares.
O luxo virtual atinge seu ápice com as NFTs, cujas blockchains de proprietário único se aproximam da ideia de exclusividade da alta-costura no mundo real. Vale ponderar que o crescimento do consumo digital pode ainda impulsionar o aumento das vendas dos produtos físicos fazendo com que muitas marcas de moda considerem o Metaverso como a porta de entrada para o consumo de bens de luxo.
Universo em expansão
Ficar preso ao passado não vai mudar o futuro. É preciso que marcas, consumidores e designers de moda se adaptem para alcançarem o sucesso no novo mundo. Não se engajar nas comunidades que ocupam esses espaços é abrir mão de vendas e, como resultado, de seu status.
A nova era da moda quebra as barreiras físicas que criadores e criativos encontram hoje em nossa chamada “vida real”. Por não exigir materiais caros e nem o savoir-faire tradicional, o Metaverso revela-se como um espaço mais acessível para designers deixarem a criatividade fluir livremente. Aprender a fundir o real com o virtual e realizar a transição para o futuro é o grande desafio para profissionais da indústria.
As novas gerações estiveram sempre à frente do rompimento de limites, e não há porque pensar diferente dessa vez. O Metaverso será o ambiente ideal para testar as fronteiras com o mundo físico, bem como as capacidades de expressão e criação.
Na ausência de normas e códigos de vestir, o Metaverso se revela apropriado para a realização de sonhos, um campo fértil para a moda. A associação com a ficção-científica é evidente e, assim como no mundo real, avatares interagem com aqueles que compartilham os mesmos gostos de consumo.
A desmaterialização da moda promete forjar um novo capítulo, não apenas na indústria da moda, mas também na história das sociedades do século 21.