Revista GPS Brasília 26

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O Cosmograph Daytona foi desenvolvido para pilotos de provas de resistência e, com as funções de cronógrafo e a luneta taquimétrica, continua sendo um dos mais icônicos relógios para corridas já criados. Esta é uma história de excelência perpétua: a história da Rolex.

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COSMOGRAPH DAYTONA

ANO 9 « Nº 26 « 2020

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Responsável técnico: Dr. Gustavo dos Santos Fernandes – CRM/DF: 16558

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Diretora de Conteúdo Paula Santana Editora-chefe Marcella Oliveira Editora de Criação Chica Magalhães Fotografia Celso Junior e Luara Baggi Produção Executiva Karine Moreira Lima Pesquisa de Imagens Enaile Nunes Reportagem Álef Calado, Carolina Cardoso, Carolina Samorano, Daniel Cardozo, Larissa Duarte, Marina Adorno e Nathália Borgo Colaboradores Bruno Cavalcanti, Edinho Magalhães, Isadora Campos, Maria Thereza Laudares, Mário Rosa, Maurício Lima e Patrícia Justino Revisão Jorge Avelino de Souza Diretor de Relacionamento Guilherme Siqueira Gerente Comercial Will Madson Contato Publicitário José Roberto Silva Tiragem 30 mil exemplares Circulação e Distribuição EDPRESS Transporte e Logística

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GPS|BRASÍLIA EDITORA LTDA. www.gpslifetime.com.br SÓCIOS-DIRETORES RAFAEL BADRA PAULA SANTANA GUILHERME SIQUEIRA Edifício Vega Luxury Design Offices, Setor Comercial Norte, quadra 1, sala 216 CEP: 70711-010 – Brasília-DF Tel.: (61) 3364-4512 | (61) 3963-9003

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Coleção Squadra 61, homenageando os 60 anos de Brasília Coleção DNA Grifith Brinco Navetes de Diamante

Brasília – Shopping Iguatemi lojas 111 e 112 – (61) 3468 3221

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EQUIPE

Chica Magalhães

Marcella Oliveira

Luara Baggi

Larissa Duarte

Karine Moreira Lima

Marina Adorno

Celso Junior

Enaile Nunes

COLABORADORES

Álef Calado

Bruno Cavalcanti

Carolina Cardoso

Carolina Samorano

Daniel Cardozo

Nathália Borgo

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ANO 9 – Nº 26 – ABR-MAI-JUN/2020

A capa foi criada pela artista plástica Flávia Junqueira para a revista GPS|Lifetime com a técnica fotografia encenada

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NO MEIO DO NADA

46 EXPLORA

Marcella Oliveira elenca cantos e encantos

Fazenda Gama, o primeiro descanso de JK

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BABILÔNIA FORA DO EIXO

Marco Zero, Pedra Fundamental e Praça do Cruzeiro

52

SOBRE A HISTÓRIA DA HUMANIDADE

O COMEÇO DE TUDO

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O RUMO DE CASA

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OS NÚMEROS QUE TÊM NOMES

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AS NAÇÕES DO QUADRADINHO

TERRA DA PROFECIA A cidade nasceu do sonho de Dom Bosco

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OS TRAÇADOS DO CERRADO

As primeiras obras finalizadas na capital

30

OS PRIMEIROS Os empreendimentos iniciais de Brasília

32

JK, O MAIS ANIMADO Festas com a presença do Presidente

34

CAPITAL FESTIVA Os agitos de uma cidade recém-inaugurada

36

O QUARTETO FANTÁSTICO Os homens essenciais na construção

40

HOSPEDEIROS DA HISTÓRIA VOCÊ SABIA? Curiosidades, segredos e casos da capital

A maior área urbana tombada do mundo

Danilo Barbosa e a sinalização de Brasília Personagens que integram a história

As representações diplomáticas instaladas

66 “ENCHEU, VIU?”

Lago Paranoá, a moldura líquida de Brasília

70

ESSE BANCO MUDOU

74

O DONO DA BOLA

78

CRISTINA PEDUZZI

Memórias dos hotéis Nacional e Brasília Palace

42

A comercial curiosa e diferentona do Plano Piloto

O BRB na gestão de Paulo Henrique Costa Richard Dubois e um novo Complexo Esportivo Um papo com a primeira presidente do TST

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O GDF segue firme no combate ao coronavírus. O DF foi o primeiro a tomar medidas de contenção ao avanço da Covid-19 e, com isso, a curva de contaminação segue controlada em nossas cidades. Para atender ainda melhor a população, o GDF nomeou 577 novos médicos e 146 enfermeiros. Também ampliou os testes de Covid-19, instalou mais 300 novos leitos no Estádio Mané Garrincha e no Hospital da PM e mais 321 leitos de UTI nas redes pública e privada. Para o GDF, a defesa da vida vem em primeiro lugar.

Faça a sua parte: Lave as mãos com frequência.

Use álcool gel.

Se precisar sair, use sempre máscara.

Evite levar as mãos ao rosto.

Sempre que puder, fique em casa.

Evite grandes concentrações de pessoas.

Em casos suspeitos, o GDF disponibiliza equipes volantes para fazer o exame onde a pessoa estiver. Caso você tenha os sintomas, ligue para 190, 193 ou 199.

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ARTIGO POR EDINHO MAGALHÃES

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ARTIGO POR LÍVIA FARIA

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UMA NOVA FORMA DE VIVER

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ARTIGO POR JOÃO PAULO TODDE

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O HOMEM DEVOTO DA MEDICINA

94

OS PARADIGMAS NA VIDA E DA MEDICINA

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ARTIGO POR BADRA CAPITA

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UM PAI, UM NEGÓCIO E A FAMÍLIA

De carona no corona

Brasília 60 anos: reinvenção e comemoração Mudanças sob ótica da advogada Andrea Saboia A advocacia em tempos de pandemia

Rodrigo Lima e a cirurgia da coluna vertebral

JK desbravando a futura capital

A tecnologia a favor da beleza

O legado de Marco Antônio e do Grupo Smaff

102 VENDAS EM VELOCIDADE MÁXIMA

O maior grupo Chevrolet do Brasil, a Pedragon

104 COMPARTILHAR É PRECISO

Arcoworking e a realidade do mundo corporativo

106 DO MAR PARA A MESA

Pescare traz o sabor do mar para o Cerrado

108 ESSA CASA TEM ARTE

Casa das Artes colore Brasília há mais de 40 anos

110 ÍCONES

Isadora Campos apresenta mulheres que se dedicam à filantropia

112 ARTIGO POR MÁRIO ROSA

Homem frágil: felicidade na vida não é pra ser encontrada

114 A CONQUISTA DO OESTE

GPS celebra, colore e presenteia Brasília com balões

122 OLHARES QUE FLUTUAM

A fotografia encenada de Flávia Junqueira

128 A RUPTURA DE PARADIGMAS Antonio Dias como nunca antes visto

130 NA EFERVESCÊNCIA Uma desconhecida Tarsila do Amaral é revelada

132 UMA MÁQUINA DE DANÇAR Trisha Brown na primeira exposição individual no Brasil

134 TETÊ COM ESTILO Maria Thereza Laudares fala da concretude da moda

136 ENTRE NÓS Patrícia Justino compartilha endereços up to date

152 MODA, UM OBSERVATÓRIO SOCIAL Busca por unidade é a tendência do agora

154 MEMÓRIA EM CONCRETO E MÁRMORE Desbravando o Memorial JK

158 DONA SARAH, OBSTINADA PELO PRÓXIMO A peça fundamental na vida pública de JK

124 ARTE POR MAURÍCIO LIMA

160 ARTIGO POR ANDRÉ OCTAVIO KUBITSCHEK

126 A LEGÍTIMA BRASILIDADE DOS ANOS 60

162 SURREALISMO SEXAGENÁRIO

Os artistas lendários da capital

A manifestação artística de Helio Oiticica

Acervo Memorial JK

Egyno Sarto e o primeiro hospital particular

Carta ao meu bisavô Um divertido futuro no passado candango

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MIRANDA CASTRO JOALHERIA

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EDITORIAL

VISCERALMENTE CANDANGO

JK chora de emoção na missa inaugural de Brasília

Acervo Memorial JK

E

u cheguei em Brasília em 1976. Tinha sete anos. Sou de família goiana. Fui alfabetizada em casa, e meus pais decidiram que a filha mais velha deveria estudar na cidade grande. Meu pai, um advogado idealista, oriundo da UnB, entendeu que tinha que ser na nova capital. Cá morava minha avó materna, Gecilda Pinto de Figueiredo, mulher influente entre os pioneiros. Atuou no gabinete de JK e logo depois foi requisitada para a inaugurar a Caixa Econômica Federal. Eu vim morar com ela. Eu entendi a dinâmica de Brasília na 208 Sul. Andei de bicicleta, olhando de longe a turma estranha do Renato Russo embaixo do bloco, na 303 Sul. Depois me mudei para o prédio de Marcílio Mendes na 210 Sul, onde minha história se perpetua por meio de minha mãe literata e servidora do TST. Brinquei no foguete do Parque da Cidade, andei de patins no Gilberto Salomão, rebelei-me com os darks no Gilbertinho. Tirei onda de bicho grilo nas festas loucas da UnB. Dancei como se não houvesse amanhã entre os mauricinhos na Zoom. Frequentei os cinemas cults das embaixadas. Estudei em escola só de meninas, com as freiras do Maria Auxiliadora. Matei muita aula no Objetivo. Fiz Norma Lillia e Cultura Inglesa. E minha filha nasceu enquanto cursava Letras e Jornalismo no UniCeub. Tudo isso em vinte anos. Brasília nos causava a sensação do possível! Éramos tão jovens. E tudo ainda é recente! Uma nostalgia, porque os anos dourados desta Brasília não voltarão jamais. Quem viveu, viveu. Agora são outros tempos. Melhores, diferentes, não sei. Quando Brasília ia completar 50 anos, Madonna, Paul McCartney e U2 estavam entre as atrações cogitadas. O tumultuado governo tampão do recém-empossado Rogério Rosso conseguiu a duras penas confirmar artistas nacionais e o desfile infantil da Disney dois dias antes. Desde então, a década foi se arrastando e levando junto a autoestima do brasiliense. Finalmente, com governo e ânimos renovados, o que viria para a sexagenária? Uma incrível roda gigante tal qual a do Rio de Janeiro seria uma das atrações. Inesperadamente, fomos isolados pelo desconhecido. Cada um no seu quadrado dentro do quadradinho tombado de JK. Uma Live com artistas pop promovida pelo BRB foi a alegria dos digitais. Entretanto a capital que surgiu do suor sagrado de Juscelino Kubitschek, que se transforma diariamente em alvorada, que criou-se a partir da vastidão desconcertante do vazio, será celebrada minuto a minuto deste

ano. Sempre que nos dispusermos a manter seu legado de otimismo e autoconfiança pungentes. Foi assim que pensamos nesta edição. Como fazer parte de uma narrativa se ainda estamos inseridos nela? Somos todos candangos. Brasília ainda está sendo traçada. E a profundidade dessa lacuna existencial pandêmica não pode ser maior que a dimensão do suspiro que damos ao olhar para o nosso céu, para a nossa generosa liberdade territorial. Foi pensando nesse imenso privilégio que trouxemos para o concreto que outrora fora poeira vermelha a artista plástica Flávia Junqueira. Com a expertise da fotografia encenada, a GPS a convidou para celebrar por nós e para nós sua arte revigorante. O balão que se ostenta no ar simboliza cada um de nós, homenageando o espírito de grandeza daqueles que confiaram sem limites no que seria o novo destino da nação. Esta revista é para você que tem pela capital da esperança o mesmo sentimento ufanista de cada repórter – comandado pela destemida editora Marcella Oliveira – ao debruçar-se em bibliotecas e memoriais para transcrever a mais audaciosa saga da nossa existência... a conquista do Oeste.

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CONEXÃO É O QUE TEMOS DE MAIS FORTE

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DESBRAVAMENTO lico DF

Fotos: Arquivo Púb

Agência Brasília

NO MEIO DO NADA POR PAULA SANTANA

C

orria o ano de 1956. Desbravando a mata e firmando as primeiras estacas da nova cidade, JK e um grupo de pioneiros chegaram a uma propriedade às margens do ribeirão do Gama. Era uma fazenda de 160 hectares que pertencia a um herdeiro das famílias Roriz e Meireles e havia sido desapropriada, dentre tantas, para dar origem ao Distrito Federal. Naquele dia e local, JK determinou que seria construída a sua residência provisória. Decidira que ali

descansaria e pernoitaria durante a construção da nova capital. Ao fim do dia, a comitiva presidencial voltou ao Rio de Janeiro, deixando o marco simbólico da transferência da capital da República para o Planalto Central. Tempos depois, nas proximidades, foi feita a demarcação de onde seria o Palácio do Catetinho. A construção típica dos séculos 18 e 19, com traços arquitetônicos do período colonial brasileiro, é um raro testemunho histórico dessa época que ainda resta. Em 2008, a Casa Sede da Fazenda Gama foi restaurada e transformada em museu. Por lá ainda podem ser vistos mobiliário e utensílios, além da rusticidade da construção. Foi elevada à categoria de Patrimônio Tombado pelo Governo do Distrito Federal. No local, que faz parte da região Setor de Mansões Park Way, funciona o Brasília Country Club.

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Brasília Como é bom escrever a nossa história com você! Parabéns pelos 60 anos!

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VISIONÁRIO

Fotos: Celso Júnior

TERRA DA PROFECIA

“...aparecerá aqui a terra prometida, de onde jorrará leite e mel. Será uma riqueza inconcebível”. Este é o relato de um santo italiano, Dom Bosco, profetizando Brasília, em 1883, durante um sonho. Fundador da Congregação Salesiana, ele escreveu tais palavras em seu livro de memórias. Ele sonhou que fazia uma viagem à América do Sul, continente que jamais visitou, e ao chegar entre os paralelos 15 e 20, avistava um local que ele chamaria de "a

terra prometida". Em sua visão, um anjo o acompanhava. Setenta e sete anos se passaram e Brasília foi inaugurada exatamente dentro das coordenadas geográficas. A ligação com o santo sempre se fez presente entre os seus construtores. Tanto que, ainda em 1957, uma capela piramidal foi erguida por Oscar Niemeyer, à beira do Lago Paranoá. Ele se tornou o padroeiro da capital federal ao lado de Nossa Senhora Aparecida.

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DIVISA

Acervo Memorial JK

Celso Júnior

TRAÇADOS DO CERRADO

PRAÇA DO CRUZEIRO

Apesar da alcunha, o nome não tem concretude, tampouco algo que o represente fisicamente. Lucio Costa apenas nomeou o cruzamento dos Eixos Monumental e Rodoviário como símbolo do inicio da construção da capital. O que foi erguido em cima dele? A Rodoviária do Plano Piloto.

Celso Júnior

MARCO ZERO

Uma réplica da cruz de madeira fincada pelo pioneiro Bernardo Sayão, em 1955. Ali, debruçados sobre mapas e envoltos pela privilegiada vista, pioneiros iniciariam as obras em Brasília. A Praça do Cruzeiro traz também o fato de ter sido o local da primeira missa campal realizada no Distrito Federal, em 3 de maio de 1957. Vale lembrar que, bem antes da celebração católica, a Comissão Exploradora do Planalto Central identificou a praça como o ponto mais alto da área urbana de Brasília. São 1.172 metros acima do nível do mar.

PEDRA FUNDAMENTAL Foi na festa do centenário da Independência do Brasil, em 1922, que o presidente Epitácio Pessoa lançou a Pedra Fundamental, fazendo valer a determinação da Constituição de mudar a capital para dentro dos limites estudados pelo astrônomo belga Louis Cruls, que demarcou uma área de 14 mil quilômetros quadrados entre as lagoas Feia, Formosa e Mestre D'Armas. A pedra é um obelisco instalado no Morro do Centenário, nas proximidades de Planaltina. À época, não se sabia ainda se Brasília seria erguida um dia.

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PROJETO

O COMEÇO DE TUDO TODAS PROJETADAS POR OSCAR NIEMEYER. JK, ESTRATEGICAMENTE, ERGUEU OBRAS QUE FARIAM SENTIDO INICIAL À CONSTRUÇÃO DE BRASÍLIA. À EXCEÇÃO DA IGREJINHA, PEDIDO ESPECIAL DE DONA SARAH POR PAULA SANTANA

Arquivo Público DF

FOTOS: CELSO JÚNIOR

D

os primeiros passos de JK, em 1956, desbravando o Planalto Central ao dia da inauguração das quatro construções que deram início à nova capital foram meses. Da poeira vermelha que subia pelas mãos calejadas dos candangos surgiam, nesta ordem, o Catetinho (1956), o Aeroporto de Brasília (1957), o Palácio da Alvorada (1958) e a Igrejinha (1959). Atualmente, o palácio de tábuas tornou-se um museu, o terminal aéreo é o terceiro maior do País, a residência oficial – à exceção de João Figueiredo, que preferiu a Granja do Torto, Fernando Collor, que optou pela Casa da Dinda, e Michel Temer, que permaneceu no Palácio do Jaburu – abrigou os demais presidentes militares e eleitos pelo voto direto. E a religiosidade permanece intacta em sua estrutura, origem e crença.

IGREJINHA, A PROMESSA DE UMA MÃE Acervo Memorial JK

Acervo Memorial JK

Um triângulo isósceles de vinte e nove metros de altura forma o chapéu que compõe o hábito de uma freira. Não se sabe se é fato, mas o folclore existe em torno da Igrejinha Nossa Senhora de Fátima, construída em 1957 a pedido de dona Sarah Kubitschek, agradecendo a cura de uma filha. O desejo era de uma igreja grande, mas Niemeyer a construiu bem pequenina, abriga 40 pessoas sentadas, pois a quadra-modelo, 308 Sul, não comportava. A ideia inicial era inaugurar a capela em 3 de maio de 1958, quando faria um ano da primeira missa celebrada na capital, na Praça do Cruzeiro. Não houve tempo hábil, tampouco em 13 de maio, dia da santa. A Igrejinha foi oficialmente aberta para o casamento da filha de Israel Pinheiro, em junho. Antes, porém, foi cenário do velório do engenheiro Bernardo Sayão, importante nome na construção da capital, que morreu em janeiro de 1959. Os azulejos de Athos Bulcão a decoram por fora. Na parte interna, Alfredo Volpi assinou o primeiro painel. Em 2009, Francisco Galeno, aluno de Volpi, a repaginou, com Nossa Senhora sem rosto definido, causando enorme polêmica entre artistas e católicos. A Igrejinha faz parte do conjunto de 23 obras tombadas na capital.

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Bruno Stuckert

AEROPORTO, O MAIOR HUB DO PAÍS

ALVORADA, O PALÁCIO MAIS ADMIRADO A península que divide o Lago Paranoá em Lago Sul e Lago Norte abriga a residência oficial do presidente da República desde 1958. Projetado por Oscar Niemeyer, o Palácio da Alvorada é uma das mais importantes edificações do modernismo. “Que é Brasília, senão a alvorada de um novo dia para o Brasil?”, dizia o presidente. JK recusou o primeiro projeto, pedindo que o arquiteto fizesse algo monumental, que fosse admirado daqui cem anos. A construção é revestida de mármore com colunas leves, sinuosas e conjunto de brises azuis. O traço remete às redes de descanso das antigas casas coloniais. Os sete mil metros quadrados estão distribuídos em três andares: subsolo com cinema, sala de jogos, almoxarifado, cozinha, lavanderia e a administração. No térreo, salões para compromissos oficiais. E no segundo andar, a parte residencial, com quatro suítes e salas íntimas. Todos repletos de obras de arte. A coleção de livros da biblioteca inclui mais de três mil obras literárias. No espelho d’água, As Iaras de Alfredo Ceschiatti. Atualmente, o Palácio da Alvorada tem 75 empregados.

Inaugurado em 1957 e instalado sobre terra batida. O Aeroporto de Brasília podia receber apenas dois aviões por dia, bem diferente dos 380 voos diários que opera hoje. Tão chique, o primeiro voo comercial seguiu para Nova York, operado pela companhia aérea Pan Am. Nos anos 80, um terraço panorâmico a céu aberto se tornou o point de brasilienses aos finais de semana, aproveitando os restaurantes ou apreciando a chegada e a partida das aeronaves. Em 2011, um leilão deu a concessão do terminal para Inframerica, que iniciou as obras no ano seguinte, resultando num investimento desde então de R$ 1,7 bilhão. Atualmente, o Aeroporto Internacional de Brasília – Presidente Juscelino Kubitschek é o terceiro maior do Brasil em movimentação de passageiros.

CATETINHO, O BARRACÃO MODERNISTA Abrigar o presidente JK ao longo da construção era prioridade. Oscar Niemeyer fez o croqui do Palácio de Tábuas, seu primeiro projeto para Brasília. Catetinho, alusão ao Palácio do Catete, foi erguido em dez dias. A inauguração, claro, foi com uma seresta, dia 10 de novembro de 1956. Uma das histórias famosas se deu na festa, quando tiraram garrafas de uísque enterradas da mata e usaram o granizo da chuva como gelo. Até 1959, data do tombamento pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, não só políticos e candangos passaram por lá. A simplicidade da arquitetura do palácio provisório foi o marco da ruptura com o estilo imperial. Niemeyer reproduziu em madeira muitas ideias que mais tarde concretizou no Plano Piloto, como os pilotis. Em 1970, o Catetinho foi transformado em museu, abrigando desde então parte do antigo mobiliário e objetos pessoais de JK.

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PIONEIROS

OS PRIMEIROS PARA ABASTECER UMA POPULAÇÃO DE 60 MIL PESSOAS RECÉM-INSTALADAS NA CAPITAL HÁ DE HAVER COMÉRCIO. QUAIS FORAM OS ESTABELECIMENTOS A DAR INÍCIO AO MERCADO DE BRASÍLIA? Acervo Conjunto Nac

ional

I

magine deixar a terra natal. Possivelmente a família, num primeiro momento, para investigar o que seria uma tal de nova capital, aquela de que se ouve falar pelo rádio ou na leitura dos jornais. Na tevê, a tela exibe imagens do vasto território. Uma imensa mata retorcida e aberta. Que logo se mistura à poeira dos caminhões, ao aglomerado de tendas, a homens que chegam com a promessa da terra próspera. Começar do nada. Que enorme desafio. Há de ser destemido. Pois a capital do Brasil teve centenas de visionários, chamados candangos, que investiram no desconhecido. Trouxeram na mala dinheiro ou apenas a força do trabalho. E acreditaram. E perseveraram. E venceram. Essa é uma das inúmeras narrativas de empresários que abriram negócios nas primeiras datas de 1960. Atravessaram o tempo. E cá estão.

CONJUNTO NACIONAL Orgulhoso em carregar o título de primeiro shopping da nova capital e segundo do Brasil, o Conjunto Nacional é parte importante da vida de todos os brasilienses. Inaugurado em 1971, o shopping recebe atualmente cerca de 70 mil visitantes diários, e sua fachada inspirada nas fachadas sempre iluminadas da Times Square, em Nova York, é considerada um cartão-postal de Brasília.

Arquivo Público DF

POSTO GUARAPARI O Posto Guarapari foi projetado pelo engenheiro José Bina Fonyat e inaugurado em 1959, antes mesmo da fundação de Brasília. Sua existência chegou a ser ameaçada, mas a população intercedeu em defesa do patrimônio histórico e hoje, a enorme caixa d’água em forma de disco voador permanece, despertando a curiosidade de quem cruza pela Candangolândia.

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Reprodução/Instagra

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COLÉGIO DOM BOSCO A primeira escola particular da nova capital foi projetada por Oscar Niemeyer e carrega o nome do padroeiro que ajudou a tornar possível o sonho Brasília. O Colégio Dom Bosco foi fundado em agosto de 1960 por padres salesianos, inicialmente apenas para meninos. Nos anos 80 tornou-se misto, aceitando meninas. Arquivo Público DF

ROMA A história do Roma e de Brasília estão intimamente ligadas. Especializado em comida italiana como o nome sugere, o estabelecimento foi inaugurado em 1960 e é um dos poucos restaurantes pioneiros que ainda seguem na ativa. O principal atrativo que leva clientes ao Roma até hoje é a busca por uma cozinha italiana clássica, a mesma que já atraiu tantos políticos e celebridades até a icônica W3 Sul.

Acervo Santa Lúcia

UNICEUB A primeira faculdade particular de Brasília iniciou suas atividades em 1968 com apenas oito opções de cursos de graduação, distribuídos em três blocos, e atualmente com 14. Em 1990, tornou-se um centro universitário. Após cinco décadas, mais de cem mil estudantes foram formados nos atuais vinte cursos. Está entre os três melhores Centros Universitários do País e conta hoje com 26 mil estudantes. Memória UniCeub

HOSPITAL SANTA LÚCIA Inaugurado em 1966, o Santa Lúcia foi o primeiro hospital privado entregue à população graças ao trabalho de um grupo de jovens médicos que vislumbrou na nova capital a possibilidade de crescimento. Mais de cinquenta anos após sua fundação, desde a pedra fundamental em 1963, o hospital tornou-se um grupo com três hospitais.

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SOCIAL

JK, O MAIS ANIMADO Foi inesquecível para a capital a primeira edição do concurso de beleza Miss Brasília, em 1959, no Brasília Palace Hotel. Em meio a 3,5 mil convidados consagrou vitoriosa Martha Garcia. No mesmo local, o presidente JK acompanhou as transmissões da Copa de 58. Empresários importantes organizaram um festão para o Clube Rotary, que contou com todos os célebres da Novacap. Um dos eventos que contribuíram para firmar o cenário cultural da cidade foi o Brasília Festival, dia 21 de abril de 1959, no palco da Rádio Nacional. Os eventos sempre contavam com a presença de JK. POR ENAILE NUNES

FOTOS: ARQUIVO PÚBLICO DF

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SOCIAL

CAPITAL FESTIVA

Mesmo antes de a capital ser inaugurada, muitos a visitavam. Curiosos, ansiosos para entender como seria a terra do futuro. Em 1957, foi a vez do primeiro presidente europeu, o General Craveiro Lopes, de Portugal, desembarcar no Cerrado. Também fez estreia a Igrejinha ao celebrar o casamento de Maria Regina, filha do prefeito Israel Pinheiro, com Hindemburgo Chateubriand Pereira Diniz. Datas festivas super esperadas pelos pioneiros eram o Carnaval na W3 e as festas juninas, que não passavam em branco. E mesmo se o evento ditasse um tom mais intimista, como recepções organizadas nos apartamentos recém-construídos na Asa Sul, as damas enfeitavam-se com bastante luxo e curtiam as festinhas particulares, sempre com muita música para dançar colado até o amanhecer. POR ENAILE NUNES « FOTOS: ARQUIVO PÚBLICO DF

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Somos apaixonados por aventura, assim como você!

Parabéns, Brasília, pelos seus 60 anos.

A Jeep Via Motors tem orgulho de ser a número 1 em vendas em uma cidade que respira design e modernidade, encantando a cada curva. Estamos juntos com a capital, fazendo história!

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EDIFICAÇÃO Arquivo Público DF

ESSENCIAIS NA CONSTRUÇÃO DE BRASÍLIA, BERNARDO SAYÃO, ISRAEL PINHEIRO, ÍRIS MEINBERG E ERNESTO SILVA FIZERAM HISTÓRIA AO DEDICAR INTEGRALMENTE SUAS VIDAS À CAPITAL POR ÁLEF CALADO

O QUARTETO FANTÁSTICO

Q

uando Juscelino Kubitschek foi eleito, encaminhou ao Congresso Nacional, em abril de 1956, a chamada Mensagem de Anápolis, que previa a criação da Companhia Urbanizadora da Nova Capital, a Novacap. O projeto, aprovado em setembro do mesmo ano, converteu-se na lei nº 2.874/1956. A partir daí, Brasília começou a sair do papel. “A Novacap foi fundamental para acompanhar todo o processo de mudança da capital. O órgão supervisionou desde o planejamento até a construção e tinha uma série de departamentos internos para dar conta de todos os aspectos envolvidos neste processo”, explica Maria Fernanda Derntl, professora e pesquisadora na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo

da Universidade de Brasília e organizadora do livro Brasília 50+50: cidade, história e projeto. O canteiro de obras não era a única responsabilidade da companhia, que promovia até ações publicitárias para convencer a população de que o investimento valeria a pena. Tinha uma folha de pagamento com funcionários célebres, como Oscar Niemeyer, Lucio Costa, Athos Bulcão e Burle Marx. Para garantir a qualidade do serviço, “Juscelino convocou homens de confiança para compor a diretoria e o conselho, além de acompanhar de perto cada decisão”. Entre eles, quatro se destacaram como peças fundamentais para o sucesso da operação: Ernesto Silva, Israel Pinheiro, Bernardo Sayão e Íris Meinberg.

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“Nós construímos a capital inteira de dentro do Cerrado. Sem coisa nenhuma, sem computador, sem fax, sem uma porção de coisas. É por isso que o povo e as autoridades daqui devem reconhecer a dificuldade, o sacrifício de milhares de pessoas. Então, você precisa respeitar essa cidade, preservar essa cidade, porque senão nós não temos história”. Ernesto Silva, 2007

ERNESTO SILVA “O PIONEIRO DO ANTES” Secretário da Comissão de Localização da Novacap, Ernesto Silva foi um dos primeiros brasileiros a sujar os sapatos com a terra vermelha no Planalto Central. Defensor ferrenho da transferência da capital, o médico e ex-coronel do Exército era conhecido como o “Pioneiro do Antes”, pois foi quem assinou o edital do Concurso Nacional do Plano Piloto da Nova Capital do Brasil, em 1956, que, dos 26 projetos apresentados, teve Lucio Costa como vencedor. Além de ser uma das peças chave para a construção de Brasília, Silva foi responsável pelo planejamento e implantação do Sistema Único de Saúde (SUS) na capital. O médico organizou ainda a construção do primeiro hospital distrital, o atual Instituto Hospital de Base, além de incentivar Lucio Costa a incluir o modelo de escolas parques do educador Anísio Teixeira no projeto original da cidade. Transitando entre a seriedade e as constantes brincadeiras, o pioneiro escolheu um dos primeiros prédios construídos na Asa Sul para fixar moradia.

Das inconfundíveis janelas quadradas, ele assistiu as árvores crescerem e a cidade passar de uma promessa de futuro próspero a uma metrópole cheia de vida e perspectiva. O médico faleceu em fevereiro de 2010, aos 95 anos. Seguramente, com a certeza de que neste País lugar melhor não há. GPSLifetime « 37

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ISRAEL PINHEIRO “SEM ELE, BRASÍLIA NÃO SERIA FEITA” Mineiro de Caeté, cidade a 35 km de Belo Horizonte, Israel Pinheiro foi “convidado” pelo próprio JK para assumir a presidência da Novacap e coordenar a construção da nova capital. Veio com a mulher, Dona Coracy, e os dois filhos e ocupou um dos quartos do Catetinho antes de ser o primeiro morador da Granja do Ipê. Reconhecido pela fisionomia fechada e pela maneira áspera e direta de dar ordens, mas também pela honestidade e sede de trabalho, Pinheiro se movimentava no ritmo necessário para entregar o sonho dos cinquenta anos em cinco.

a justificativa de ser “engenheiro há muito mais tempo que você”. Apesar das confusões, Niemeyer fazia questão de ressaltar que “ele foi importantíssimo. Sem ele, Brasília não seria feita”. Com a inauguração da capital, em 21 de abril de 1960, Pinheiro foi empossado no cargo de prefeito de Brasília, onde permaneceu até janeiro de 1961. Israel faleceu em julho de 1973, aos 77 anos, um dia após passar mal durante um almoço no Palácio da Liberdade com o ex-embaixador japonês no Brasil, Fumio Miura. A causa da morte foi fulminante angina pectoris, um tipo de dor no peito. Fotos: Arquivo Público

DF

Logo na primeira hora do dia, percorria os canteiros de obra a bordo da sua Rural Willys analisando e resolvendo os mais variados problemas. Da logística da construção ao local onde os funcionários recémchegados dormiriam, o engenheiro pode ser considerado a definição perfeita para a expressão “pau pra toda obra”. Os embates com o arquiteto Oscar Niemeyer eram frequentes. O “cabra” de confiança de JK odiava burocracia e reclamava dos prazos do projetista, além de realizar “correções” nas obras sob

BERNARDO SAYÃO

“BANDEIRANTE NATO, ABRIA O MATO A FACÃO” “O diretor dr. Bernardo Sayão é um cavalheiro de estatura imponente e trato benévolo, de modo que o interlocutor logo fica à vontade”, resume o trecho de uma publicação da Gazeta do Povo de 15 de dezembro de 1957. À época, um dos repórteres do periódico foi escolhido para acompanhar a construção de Brasília. O profissional teve o privilégio de ser guiado pelo diretor Bernardo Sayão, “um bandeirante nato” que atravessava rios a nado e abria o mato a facão. Carioca, ex-atleta e fundador da Colônia Agrícola Nacional de Goiás, atual cidade de Ceres, Sayão encontrou na inspiração e vontade do presidente a chave para desbravar o País e transformar a sua experiência e incontida paixão bandeirante na rodovia Belém-Brasília, um de seus projetos mais importantes. A missão transformou Sayão no primeiro herói da

construção da capital. A poucos dias de concluir a obra, o engenheiro agrônomo foi esmagado por uma árvore gigantesca bem no meio da selva amazônica. Aos 57 anos, o garimpeiro das belezas do Brasil morreu antes de ver a materialização do ideal pelo qual tanto lutou. Tanto seu nome quanto seu trabalho foram imortalizados na história. Hoje, a BR-153 é uma das principais rodovias de integração nacional do Brasil.

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de um partido da oposição – no caso, a extinta União Democrática Nacional (UDN), por meio da qual se elegeu deputado federal por São Paulo – no conselho dirigente do órgão.

ÍRIS MEINBERG

“ELE CUIDAVA DA AGRICULTURA E DO ABASTECIMENTO” Praticamente esquecido pela história, Íris Meinberg chegou ao cargo de diretor da Companhia Urbanizadora da Nova Capital graças a um acordo político para sancionar a lei de criação da própria Novacap. O combinado envolvia incluir um membro

Contrários à transferência, o UDN fez com que Íris, primeiro morador da Granja do Torto, renunciasse ao cargo em pouco tempo, mesmo sendo responsável por uma das partes mais importantes do processo. “Ele cuidava da agricultura e do abastecimento de Brasília, questões cruciais para a transferência. O próprio partido começou a criticá-lo por ter aceito o cargo, chegando a chamá-lo de traidor”, explica Maria. Fora da Novacap, Meinberg contribuiu ativamente no ramo da agropecuária. O advogado foi membro da Sociedade Rural Brasileira, da Sociedade Nacional de Agricultura, da Associação dos Pecuaristas do Vale do Rio Grande, e das associações agropecuárias de Araraquara, de Ribeirão Preto e de Presidente Prudente, além de fazer parte do Conselho Federal de Comércio Exterior e do Conselho de Expansão Econômica de São Paulo. Íris faleceu em 1º de agosto de 1973, na capital paulista.

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GLAMOUR

HOSPEDEIROS DA HISTÓRIA BRASÍLIA PALACE E HOTEL NACIONAL FORAM OS ANFITRIÕES DA ALTA SOCIEDADE E DA POLÍTICA. LUXUOSAS FESTAS E INESQUECÍVEIS RECEPÇÕES PERMEARAM OS NOBRES SALÕES DESTES HOTÉIS POR PAULA SANTANA « FOTOS CELSO JUNIOR Arquivo Público DF

A BOEMIA DO COMEÇO Juscelino Kubitschek era apaixonado pelo Brasília Palace Hotel. Chamava-o de “meu xodó” e o apresentava com gosto para todos os visitantes que se achegavam para visitar a epopeia que nascia. Ele foi construído em 1958 junto com o Palácio da Alvorada. Em princípio, era para abrigar o alto escalão da equipe construtora que vivia na Cidade Livre, atualmente Núcleo Bandeirante. Mas aos poucos a cidade foi transformando-o num verdadeiro centro de diversão, tornando-o o badalo da capital. A alta sociedade, políticos, pioneiros e embaixadores... todos se reuniam ali, e de maneira sempre luxuosa. Famosos eram os bailes no salão principal, onde Athos Bulcão exibia um exótico painel surrealista que pouco se assemelhava às suas obras. A

dinâmica do hotel aos finais de semana funcionava assim: ao longo do dia, piscina e acesso ao Lago Paranoá; à noite, festas e bailes. E, aos domingos, missa. A poeira não impediu que príncipes e duquesas fizessem visitas oficiais. Assim como Fidel Castro, Che Guevara. Ou então os astros da música... Raul Seixas, Ney Matogrosso, Roberto Carlos, Wilson Simonal, Chico Buarque. Tudo acontecia no bar do hotel. Foi

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Arquivo Público DF

O CRÈME DE LA CRÈME

lá que Vinícius de Moraes e Tom Jobim tocaram pela primeira vez a música Água de Beber. A mais recente grande personalidade a se hospedar no hotel foi Gisele Bündchen, durante a Copa do Mundo de 2014. Vinte anos depois, em 1978, uma cafeteira ligada provocou o incêndio no terceiro andar, o que inviabilizou o local por décadas. Mas a obra de Niemeyer não poderia sair do cenário histórico. O empresário Paulo Octávio, marido da neta de JK, Anna Christina Kubitschek, ocupou-se da reforma por longos anos. Apenas a estrutura de aço foi aproveitada, mas as alterações do projeto original foram mínimas. Desde 2005, o prédio baixinho de três andares, que fazia referência aos da Esplanada dos Ministérios, está em plena atividade e de volta ao coração e ao circuito turístico da capital.

Em 1961, no dia do aniversario de Brasília, a capital ganhou um imponente presente da família Canhedo: o Hotel Nacional, a poucos quilômetros do centro do poder. Imediatamente, o prédio modernista de concreto e mármore assinado por Nauro Esteves, um dos arquitetos pupilos de Niemeyer, tornou-se a célula política do País. Reis e presidentes cruzaram a icônica porta giratória ao longo das décadas de 60 e 70. Brasília ainda era pouco populosa, mas os 347 apartamentos distribuídos nos dez andares estavam sempre ocupados de engravatados e mulheres garbosas. Os quatro salões de festas eram sempre disputados, a famosa pérgola da piscina fervia para o drink no final da tarde. Havia ainda a Casa de Chá e o American Bar. Todos badaladíssimos. A icônica sauna, de instalações sofisticadas, aos sábados, era ponto de conversa dos homens, enquanto as mulheres se embelezavam no Coca, o melhor salão de beleza da cidade. A rainha Elizabeth II e o príncipe Philip, sete anos após a abertura do hotel, estrearam a suíte presidencial no nono andar. Os presidentes dos Estados Unidos Jimmy Carter e Ronald Reagan, o presidente francês Charles De Gaulle, a primeira-ministra da Índia, Indira Gandhi, também compuseram o casting de personalidades. Muitos políticos preferiam morar no Nacional, como os presidenciáveis Itamar Franco e José Alencar, este residiu na suíte 722 e fez o check out em 2002 para mudar-se para o Palácio do Jaburu. Entretanto o que fez o hotel ainda mais célebre foi o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Foi anfitrião das grandes estrelas de cinema desde 1965. Catherine Deneuve, John Travolta e Roman Polanski, para citar alguns. Os anos se passaram e o Nacional entrou em decadência. Em 2018, foi colocado à venda pela Vara de Falências e Recuperações Judiciais e arrematado por R$ 93 milhões pelo consórcio Incorp. Atualmente é um hotel comum, que recebe hóspedes para convenções. Restou a nostalgia de ter sido o epicentro de grandes decisões políticas do País por décadas a fio.

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CURIOSIDADE

VOCÊ SABIA?

Bruno Cavalcanti

Brasília tão jovem é repleta de peculiaridades. Segredos e misticismo, casos e prosas, histórias e estórias. Métricas e mapas, traços e curvas. Natureza e concreto. Candangos e brasilienses. Fatos e circunstâncias que atravessam o tempo, compõem a sua identidade. E fazem dela uma capital tão particular. Essa é a Brasília que fez morada no nosso coração ao longo destes 60 anos.

A população de Brasília é uma das mais miscigenadas de todo o Brasil. O maior número de habitantes da região Centro-Oeste está em Brasília.

De acordo com o IBGE 2017, a cidade tem 3.039.444 de habitantes, o que a coloca como a terceira maior cidade em população do país.

A Praça dos Três Poderes tem maior bandeira hasteada do mundo, com 286m². O símbolo está erguido a 105 metros de altura e pesa 90 quilos. Foi inaugurado em 1972 e projetado para ter 24 anéis de ferro para representar cada estado brasileiro (de lá pra cá foram criados mais dois e, assim, hoje, temos 26 mais o Distrito Federal).

Brasília recebeu o título de Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO em 7 de dezembro de 1987. A cidade possui 112,25 km² de área, o que faz com que seja a maior área tombada em todo o mundo.

Os principais rios que banham o Distrito Federal são o Preto, Paranoá e São Bartolomeu.

A bandeira foi criada em 1969 pelo escritor Guilherme de Almeida. Trata-se de um retângulo com um escudo e uma cruz estilizada, que remetem aos pontos cardiais e às flechas indígenas. As cores celebram às da bandeira do Brasil.

O setor de serviços corresponde a 71% da economia brasiliense, pois a capital cidadã concentra os órgãos do governo federal e embaixadas. Na flora, existem cerca de 11,6 mil espécies de plantas catalogadas. Entre as mais exuberantes está o Ipê. Também marcam a paisagem exemplares de pindaíba, pau-brasil, buriti e paineiras.

Brasília também abriga o maior parque urbano de toda a América Latina. O Parque da Cidade possui 420 hectares e é maior que o Central Park, em Nova York. Arquivo Público DF

Na construção, a cidade atraiu cerca de 60 mil operários vindos de todo o Brasil, os chamados candangos. Para abrigá-los foram construídos barracões com estruturas mínimas de comodidade.

A fauna é composta por cerca de 199 espécies de mamíferos, além de 1,2 mil peixes, 150 anfíbios, 837 aves e 180 répteis.

Urbanização, pastagens de gado e plantações de soja, algodão, cana, eucalipto são os maiores predadores do bioma, que conserva apenas 20% de sua área total.

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O formato de um avião. Ou de uma cruz. Essas não foram a ideia original. Lucio Costa teria feito o projeto para que a cidade tivesse o formato de uma borboleta.

Catolicismo, espiritismo, protestantismo, umbanda, candomblé, evangélicos e religiões orientais, nesta ordem, compõem as religiões do DF.

O Plano Piloto é composto de cerca de 225 mil pessoas, sendo 53% do sexo feminino, com idade média de 39 anos.

Brasília tem o maior PIB per capita do país, com R$ 40.696, quase três vezes maior que a média nacional. Superior a São Paulo (R$ 22.667) e Rio de Janeiro (R$ 19.245).

Em Brasília, 61% nasceram em outros estados, cujo o maior percentual vem do estado de Minas Gerais, 18%.

No DF, 401 mil brasilienses formam uma elite com renda média domiciliar mensal de R$ 15,6 mil.

922 mil têm renda média domiciliar de R$ 7,3 mil.

1,2 milhão têm renda média domiciliar de R$ 3 mil.

307 mil têm renda média domiciliar de R$ 2,4 mil.

Agência Brasília

A encenação Paixão de Cristo, no Morro da Capelinha, em Planaltina, reproduz a Via Sacra de Jesus Cristo num evento que reúne 60 mil pessoas a cada ano e cerca de 1,4 mil voluntários.

Sinfonia da Alvorada foi uma peça composta por Tom Jobim com letra de Vinícius de Moraes para a inauguração da cidade. Escreveram, em dez dias, sobre a construção e a bravura dos pioneiros que ergueram a cidade.

Agência Brasília

Agência Brasília

A Cavalhada, o Fogareu e a Festa do Divino são as festas religiosas típicas do estado de Goiás mais conhecidas dos brasilienses. A primeira dura três dias, a segunda é uma procissão e a terceira se estende por todo o mês de junho.

Há 1,29 milhão de veículos emplacados em Brasília, com média de 2,3 pessoas por carro registrado.

O nome Brasília foi sugerido por José Bonifácio, em 1823. Seu objetivo era levar a capital para uma área longe do mar e, assim, povoar o sertão e evitar ataques externos.

O Papa João XXIII enviou uma mensagem em português transmitida em rede nacional de rádio no dia da inauguração da capital.

O artesanato mais expressivo de Brasília são as flores secas do Cerrado. Artesãos a confeccionam a partir das espécies pingo de ouro, sempre viva, papoulinha, amarelão, capim do cerrado, ourinho, folhas-moedas, capim-rabo-de-raposa, pirequebranco, além de plumagens, sementes e frutos.

Seis meses antes do fim das obras, a verba destinada à construção de Brasília havia terminado. Em 1969, calcula-se que Brasília teria custado mais de USD 45 bilhões. GPSLifetime « 43

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Agência Brasília

Agência Brasília

A Festa dos Estados foi o principal evento cultural e turístico da cidade. Mobilizava os demais estados e países por meio de comida, bebida e cultura. Era realizada para fins filantrópicos, destinados para a Casa do Candango. Seu auge ocorreu entre 1960 e 1980.

Agência Brasília

No perímetro urbano do DF, existem inúmeras cachoeiras, que são refúgio para o brasiliense. Boa parte delas são desconhecidas dos turistas. Dentre as mais frequentadas, há o Tororó, Poço Azul, Chapada Imperial e Paraíso na Terra. Acerca, cavernas, trilhas, quedas d’água cristalinas. Todas elas não mais que 40Km do centro da cidade.

Arquivo Público DF

O micro-ônibus Zebrinha foi um transporte público que ligava as vias internas das asas Sul e Norte. Era uma campanha para que o brasiliense deixasse o carro em casa, o que deu certo durantes as décadas de 1980 e 1990.

Hoje o cenário deixa saudade, mas no inicio de Brasília caminhar pela W3 Sul era o que havia de mais glamoroso na capital. Foi assim até os anos 80. De um lado da avenida, as melhores lojas. De outro, casas confortáveis e cercadas de verde. Até Pelé passeou por lá. Hoje, o movimento se resume ao horário comercial das lojas que ainda sobrevivem. À noite, quadras desertas e silenciosas.

Rodeado de áreas verdes, como o Parque Burle Marx e a Água Mineral, o Setor Noroeste é o último setor habitacional a ser construído na área tombada. A concepção faz parte do Projeto Brasília Revisitada, elaborado entre 1985 a 1987 por Lucio Costa. Trata-se da segunda região mais rica do DF. Estima-se que 40 mil pessoas residirão nas 220 projeções residenciais que abrigam 15 mil apartamentos. O bairro tem a missão de adotar o padrão inédito de sustentabilidade.

Agência Brasília

Ícone dos anos 80 e 90, a Piscina com Ondas, inaugurada em 1978, foi a primeira do gênero na América Latina. Produzia ondas de até um metro de altura, anunciadas por uma sirene a cada cinco minutos. Eram cerca de dez mil pessoas aos finais de semana. Ponto turístico mais visitado de Brasília.

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Governo Federal Celso Júnior

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Um dos maiores bens que a construção de Brasília trouxe para o país chama-se Rede Sarah, implantado pela então Fundação das Pioneiras Sociais. De início era um prédio simples. Um centro de reabilitação inaugurado junto com a capital. Em 1968, Aloysio Campos da Paz Júnior passou a dirigi-lo, transformando-o em referência na medicina do aparelho locomotor.

Na divisa entre DF e Goiás e entrada para quem vem de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, uma estátua exótica chamada a atenção. Chamada Solarius, foi presente do governo francês para homenagear os candangos, esculpida por Ange Falchi. Ela deveria ficar na Torre de TV, mas Lucio Costa preferiu na entrada da cidade. Vindo de Nice, o monumento foi embalado em sete blocos de aço cortados e transportados para Brasília. Sua forma estranha rendeu-lhe o apelido de Chifrudo.

A Granja do Torto é uma das residências oficiais da Presidência da República, com características de casa de campo. Os presidentes João Goulart, João Figueiredo e Lula residiram por lá. Hoje, 16 servidores trabalham no local. Na Granja, foi construído um espaço para fornecimento de ovos e frangos. Nos 37 hectares, vivem 80 patos, 75 galinhas, 13 galinhas da angola, 23 emas, 10 perus, 5 pavões, 5 papagaios, 3 araras, 9 jabutis, 30 gansos, 3 periquitos, 2 mutuns, 7 canários, 10 periquitos australianos, 3 pássaros pretos, além de peixes.

Luara Baggi

Celso Júnior

Cine Brasília e Festival de Brasília do Cinema Brasileiro são o patrimônio cultural da cidade sonhada por Juscelino Kubitschek. Inaugurado em 22 de abril de 1960, com projeto de Oscar Niemeyer, desde 1965, abriga o mais importante festival de cinema nacional, que tornou-se foco de resistência à ditadura – regime militar que durou de 1964 a 1985. Atualmente, a programação off circuit com mostras estrangeiras arremata a classe intelectual da capital. A bela sala tem 607 lugares.

O primeiro monumento no mundo dedicado ao Ecumenismo Irrestrito está na capital. O Templo da Boa Vontade é uma das Sete Maravilhas de Brasília, de acordo com o Bureau Internacional de Capitais Culturais (Ibocc), com sede em Barcelona. O monumento foi construído com base no número sete, que simboliza a perfeição. É uma pirâmide com pontas de sete faces e ao alto está o cristal sagrado de 21 quilos, encontrado na cidade de Cristalina, em 1989. O templo nunca fecha as portas.

A universidade que é uma cidade. A UnB abriga média de 35 mil alunos distribuídos em 137 cursos. É considerada a quarta melhor do Brasil, de acordo com o ranking da Quacquarelli Symonds. No quesito internacionalização, a UnB obteve o primeiro lugar entre as federais brasileiras, quarto lugar no quesito pesquisa e sétimo em ensino. É referência nos cursos de Relações Internacionais, Ciência Política, Direito, Economia e Antropologia.

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EXPLORA POR MARCELLA OLIVEIRA @marcella_oliveira

Agência Brasília

Celso Júnior

Bruno Cavalcanti

ONDE O BRASIL SE ENCONTRA Com 224 metros de altura, bem no centro de Brasília, a Torre de TV ficou pronta em 1967, projeto de Lucio Costa para transmissão radiofônica e televisiva. O mirante a 75 metros de altura tem uma vista privilegiada de Brasília – e foi inaugurado primeiro. Mas ela acabou se tornando um dos pontos mais visitados da cidade por conta da feira que surgiu aos seus pés. Conta-se que o próprio JK teria incentivado o movimento dos feirantes, porque voltou de Paris encantado com a venda de artesanatos embaixo da Torre Eiffel. Assim surgia a Feira Hippie. As barraquinhas de lona com comidinhas, artesanato e arte sempre tiveram seu público cativo. Ela cresceu tanto que foi preciso reorganizar. O governo então tirou os feirantes de baixo da estrutura da torre e os colocou um pouco para o lado em boxes fixos. Deixamos de chamá-la Feira Hippie. O nome oficial passou a ser Feira de Artesanato da Torre de TV. Carinhosamente, Feirinha da Torre. Independentemente do nome, segue com sua principal característica: representa a identidade de Brasília, com um pouquinho de tudo que tem no Brasil. Bom para matar a saudade do tacacá ou do acarajé. Um programa bem brasiliense.

A FLOR DO CERRADO “Da próxima vez que eu for a Brasília eu trago uma flor do Cerrado pra você”. O verso da canção de Caetano Veloso inspirou o apelido que a Torre de TV Digital ganhou. A emblemática flor papipalon ou papipalan era a preferida de Lucio Costa e de Oscar Niemeyer. Fala-se que foi a inspiração do arquiteto na projeção da Torre Digital, seu último projeto executado em Brasília, inaugurada em 2012. As torres de televisão normalmente são feitas de metal, mas Niemeyer usou o concreto característico da capital para dar vida a ela. São 170m de altura – 120m de concreto e 50m de estrutura metálica – além das antenas. Localizada em um dos pontos mais altos da cidade, a 20km do centro da cidade, ela é vista de todos os lugares e, de lá, todos os lugares podem ser vistos. Em meio a terra vermelha vemos a vida que Niemeyer trouxe para Brasília. E seja no nascer ou no pôr do sol, olhar para ela é se encantar.

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NO CONFORTO DO CARRO

Bruno Cavalcanti

O cartaz de 1975 dizia: “Festival Tom & Jerry! Dentro do novo autódromo, serviço de bar no próprio carro”. O Cine Drive-in foi inaugurado em 1973, no Autódromo Nelson Piquet, e por muitos anos foi a diversão da cidade. Com o passar do tempo, chegou a ficar no esquecimento e sofreu fortes ameaças de fechamento. Mas, assim como a vegetação do Cerrado, resistiu à seca e, pouco a pouco, voltou ao gosto popular. Hoje, carrega o posto de último da América Latina, com muito orgulho. Os filmes que passam lá são os mesmos dos cinemas dos shoppings, com o diferencial de aproveitar a tela gigante de dentro do carro. Tem quem vá de caminhonete e coloque um colchão na carroceria para as crianças curtirem o programa. Com o rádio sintonizado na estação para ouvir o áudio do filme, é só acender farolete do carro que um garçom vem para fazer seu pedido.

Celso Junior

OLHA A ÁGUA MINERAL

A CIDADE JARDIM Todo ano é a mesma coisa: a terra fica seca, o céu está sempre bem azul, o sol escaldante. O verde da vegetação está um pouco opaco. É a seca no Cerrado. E Brasília vive um de seus maiores clichês: uma árvore colorida se destaca pelo caminho. Os ipês começam a aparecer em junho e seguem até setembro. Nessa ordem: roxo, amarelo, rosa, branco e verde. São 600 mil árvores do tipo espalhadas pelo DF, segundo a Novacap. A gente também se encanta com os flamboyatns, cambuís, quaresmeiras, jequitibás. Mas quando os ipês surgem, nosso coração bate mais forte. Mesmo com 60 anos, a gente sai às ruas para fotografar. Tem que ser rápido, porque em alguns dias as flores caem. Aí, a arte fica no chão, com um tapete colorido que se forma no pé da árvore. Os ipês são uma atração turística a céu aberto que, para nossa sorte, acontece todos os anos.

Dia quente e feriado ou fim de semana em Brasília, uma coisa é certa: a fila para entrar nas piscinas da Água Mineral é grande na entrada do parque na EPIA Norte. Não há brasiliense que já não tenha se refrescado nas duas piscinas de água corrente, a Pedreira (Velha) e a Areal (Nova). Água Mineral é o nome popular do Parque Nacional de Brasília, criado em novembro de 1961 para proteger os rios e a vegetação e, com isso, contribuir para o equilíbrio das condições climáticas e evitar a erosão dos solos no DF. Ganhou esse “apelido” na época da construção da cidade, porque os poços de água que se formaram às margens do córrego Acampamento eram usados para banho por conta de sua água potável. Virou então Água Mineral. São 43 mil hectares que abrangem Brasília, Sobradinho e Brazlândia, e o município goiano de Padre Bernardo, e que preserva a represa Santa Maria, responsável por 25% da água potável que abastece a capital e ainda garante a qualidade de parte da água que forma o Lago Paranoá. Apesar de ser uma unidade de preservação, o público pode visitar, além das piscinas, suas trilhas, córregos e ver de perto diferentes tipos de flora e fauna.

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UNDERGROUND

BABILÔNIA FORA DO EIXO

O COMÉRCIO MAIS EXÓTICO DE BRASÍLIA É VISTO COMO A INCÓGNITA DIANTE DO PROJETO ORIGINAL DAS ENTREQUADRAS. MAS TAL FEITO LHE TRANSFORMOU NUM ESPAÇO REPLETO DE ESTILO E ATITUDE POR LARISSA DUARTE « FOTOS LUARA BAGGI

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e a principal porta de entrada não fosse uma tesourinha, talvez você não diria que está em Brasília. Se não fosse pelo abraço das margens superquadristas, compostas por prédios de seis andares e o verde vibrante das árvores... Ou pelo azul do céu em contraste direto com o branco monumental... É... observando com calma, até que tem muita “coisa brasiliense” nessa Babilônia, viu? “Adoro, é diferente!”. “Não gosto, é esquisita!”. Os moradores da cidade se dividem para opinar sobre a quadra comercial da 205/206 Norte. A justificativa, no entanto, é sempre a mesma para ambos os sentimentos: sua excentricidade. Afinal, ela não se parece com a da 206 Sul, nem com a da 108 Norte, nem com qualquer uma das outras dezenas de comerciais espalhadas pelas duas asas. Do jeito dela, só tem ela mesmo.

O apelido que ganhou não poderia ter sido outro. Ela realmente lembra uma plataforma retirada de algum zigurate da antiga Mesopotâmia. É meio mítica. Tem aquele sobe e desce de rampas de templo, além de tímidos jardins suspensos, alguns responsáveis por trazer uma corzinha aos arcos de concreto que percorrem todo o complexo. Até a travessia da rua tinha que ser diferente na quadra onde tudo é diferente. Existe uma faixa de pedestre convencional, mas dificilmente você vai ver alguém apertar o sinal ali. Quem está acostumado a transitar pela Babilônia escolhe sempre as passarelas subterrâneas para ir de um lado ao outro. Se você não está familiarizado com o endereço, sentir-se-á em um labirinto. Mas é até divertido tentar desvendá-lo sem compromissos. O sossego se

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reflete na sonoridade da Babilônia. Em uma ponta da quadra, o som ambiente traz pios de pássaros e latidos de cachorro. Efeito das pet shops e clínicas veterinárias instaladas por ali. O ponto mais resistente e chamativo, inclusive, é o Armazém Rural, que chegou na comercial há quase 30 anos. Subindo um andar, talvez você note o sutil barulho de mais de um teclado trabalhando junto em algum escritório. Ao longo de um corredor silencioso, uma porta aberta revela uma pequena sala com guitarras, violões e outros instrumentos de corda – inteiros ou não – pendurados na parede de cima a baixo. É o ateliê de um luthier, o Domingos Fialho, que dedica seus dias à profissão que resiste ao tempo. Corredor adiante, mais uma surpresa aguarda no alto das lojas: terraços com jardins e charmosos coretos de vidros voltados para os prédios residenciais. Podemos brincar que tem rooftop nessa comercial. Na pausa para o café no meio da tarde, pode ir ao Varandão ou ao Treze, “tipo um café” localizado na entrada do coworking Manifesto. Quando cai a noite, vale curtir uma peça teatral no Espaço Cena e depois

cruzar a passagem subterrânea até o Tombado Bar, que harmoniza cerveja gelada com rodas de choro raiz, forró e outras apresentações ao vivo. E quem prefere brindar o fim do dia com um dry martini ou um negroni na mão, vai encontrar o Altas Gastrobar escondidinho entre os arcos. Lá do lado de fora, no asfalto das laterais do comércio, foram estacionando alguns food trucks ao longo dos anos. A pedida mais tradicional mesmo são as massas e os molhos artesanais do Macarrão na Rua, a barraca cultural inaugurada em 2002 e aberta de domingo a domingo.

TÁ, MAS POR QUE ELA É ASSIM? O objetivo era ser diferente mesmo, mas não como a conhecemos hoje. Inaugurada em 1979, a obra foi uma proposta da arquiteta Doramélia da Motta, que nem sonhava com o apelido “Babilônia”. Ainda como estudante na Universidade de Brasília, ela e outros

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quatro colegas escolheram se aventurar em um projeto para o Plano Piloto que fugisse da palavra “modelo”. O grupo queria algo inovador, que possibilitasse uma maior interação entre as lojas e os moradores das duas superquadras. O trabalho começou a sair do papel após Doramélia concluir o curso e ingressar na Terracap. Ela apresentou o projeto ao governador do Distrito Federal à época, Elmo Farias, que lhe sugeriu a então desocupada CLN 205/206. O desejo da arquiteta era que a quadra fosse como um shopping para a comunidade das redondezas. As entradas e vitrines seriam voltadas para os prédios, para ser observada pelos pedestres-moradores, a mesma ideia do projeto original de Lucio Costa. Do outro lado,

no que seria a parte de trás, a ideia era instalar painéis de identificação das lojas, como no Conjunto Nacional. Os planos iniciais da equipe de Doramélia, infelizmente, não vingaram. Com a autorização da venda das lojas, cada novo proprietário que chegava transformava o ponto na cara e na proposta que bem desejasse, ignorando os planejamentos dos arquitetos. Todavia, esse não foi o fim da Babilônia. Hoje, a originalidade, estranheza e exotismo da quadra atraem olhares e mentes criativas, que abraçam o endereço ímpar como um xodó. Uma das metas de Doramélia, todavia, foi alcançada com sucesso. A CLN 205/206 fugiu mesmo de qualquer modelo, e talvez se eternize como a única do Plano Piloto a ter alcançado esse feito.

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Foto: Celso Júnior

ZELADOR

SOBRE A HISTÓRIA DA HUMANIDADE BRASÍLIA É A MAIOR ÁREA URBANA TOMBADA DO MUNDO. AO LADO DE UMA SOCIEDADE CONSCIENTE, CABE AO INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL O PAPEL DE NÃO PERMITIR A DESCARACTERIZAÇÃO POR CAROLINA CARDOSO

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sonho de Juscelino Kubitschek de que Brasília seria a capital moderna mais falada do mundo é uma realidade. Em 1987, a menina dos olhos do presidente bossa-nova recebeu o título de Patrimônio Cultural da Humanidade concedido pela Unesco. Três anos depois, em 1990, teve o nome inscrito no Livro de Tombo Histórico do Iphan (Instituto do Patrimônio Histó-

rico e Artístico Nacional). A partir deste momento, qualquer alteração no Plano Piloto dependeria de autorização em lei federal. O projeto urbanístico inigualável é o que torna a terra candanga tão especial para ser o primeiro centro urbano do século 20 a entrar na lista de Patrimônio Mundial e a maior área urbana tombada do mundo – 112,25 km² e 28 bens protegidos pelo Iphan.

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Fotos: Luara Baggi

Com quatro pilares básicos, o projeto urbanístico de Lucio Costa é composto por lógica e organização planejadas. O urbanista definiu para o Plano Piloto as escalas monumental, residencial, gregária e bucólica e essas são as bases para as regras de tombamento da cidade. As obras de Niemeyer completam o desenho de Costa e naturalmente se entrelaçam à composição moderna, que nos anos 1960 só Brasília apresentava por inteiro. A cidade é toda setorizada e foi pensada assim para facilitar a localização de cada conjunto de serviços. O brasiliense, seja natural ou de coração, sabe bem onde ficam os setores naturalmente batizados daquela forma, por abrigarem um conjunto de atividades, como o bancário, o hospitalar, o de autarquias e os comerciais norte ou sul. GPSLifetime « 53

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Luara Baggi

Prédios da 302 Norte restaurados respeitando o tombamento da cidade

Chamam atenção também as superquadras. A entrada única de automóveis, por exemplo, tem o objetivo de “apartar o trânsito de grande velocidade do fluxo de pedestres”, segundo explica a cartilha do Iphan Superquadra de Brasília, preservando um lugar de viver, publicada em 2015, do arquiteto Carlos Madson Reis.. Os edifícios com no máximo seis pavimentos também são alvo de curiosidade, mas a explicação é simples: visibilidade. Lucio Costa queria que “o conteúdo das quadras [fosse] visto sempre num segundo plano e como que amortecido na paisagem”. O projeto na época foi progressista e contrário às convenções. Para o título de Patrimônio Cultural da Humanidade, Brasília só teve de preencher dois critérios, dos dez estabelecidos pela Unesco: “a cidade representa uma obra-prima do gênio criativo humano” e “é um exemplo excepcional de um conjunto arquitetônico que ilustra etapas significativas da história da humanidade”. O principal benefício de a capital ser Patrimônio Mundial é claro: preservação. O título dá força aos cuidados necessários para a boa manutenção da área urbana, apesar de não tornar o espaço tombado. O superintendente do Iphan-DF, Saulo Diniz, e o coordenador técnico e historiador do instituto, Thiago

Perpétuo, explicam que a designação é um “reconhecimento internacional”, porém não dá o título de tombamento mundial. “Tombamento é um instituto jurídico de prerrogativa exclusiva do Estado Brasileiro. Trata-se, na verdade, de um reconhecimento internacional, oriundo da Convenção do Patrimônio Mundial Cultural e Natural, adotada em 1972 pela Unesco”. O motivo pode ser explicado por um trecho da publicação de Carlos Madson Reis: “Lucio Costa, ao romper com a estrutura do quarteirão convencional, abrindo-o e transformando-o em um amplo bosque entremeado por blocos residenciais multifamiliares, de até seis pavimentos em pilotis livres, liberando o chão para uso público indistinto, concebeu uma nova maneira de morar em área urbana, estruturada no que ele denominou de escala residencial ou cotidiana”, revela. E onde ficam as linhas de Niemeyer tão bem-vistas e até mais faladas do que a própria composição de Lucio Costa? Alguns monumentos foram tombados ainda na década de 1960, antes mesmo dos títulos de proteção chegarem à cidade. Em 1967, foi a vez da Catedral, seguida do Catetinho (1969).

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Acervo Memorial JK

Somente em 2017 outros ícones da arquitetura brasiliense, assinados por Niemeyer, passaram para a lista de patrimônios tombados. Alguns deles foram o Teatro Nacional, o Congresso Nacional, o Superior Tribunal Federal, o Palácio do Planalto, o Palácio da Alvorada e a Praça dos Três Poderes. Saulo Diniz e Thiago Perpétuo dizem que o processo de tombamento dos monumentos de Niemeyer tiveram um distanciamento de tempo entre eles e entre o projeto de Costa por serem “procedimentos diferentes”. Enquanto o “conjunto urbanístico de Brasília” como área urbana se iguala a processos semelhantes ao de sítios históricos, como Ouro Preto, as obras de Niemeyer tiveram um olhar específico. Apesar de não ter uma proteção jurídica para determinadas áreas, a conscientização pode ser um aliado. Recentemente a 302 Norte, conhecida como “a quadra dos deputados federais” passou por revitalização. A iniciativa veio da própria Câmara dos Deputados com o objetivo de retornar a estrutura do espaço ao projeto original de Lucio Costa. Sobre possíveis mudanças urbanísticas que já tenham ocorrido nesses 30 anos, Diniz e Perpétuo

comentam: “A cidade é um organismo vivo e, naturalmente, se modifica ao longo do tempo. De 1990 para cá ela se transformou, sem perder as suas características fundamentais. O papel dos órgãos afetos à preservação é fazer com que essas modificações não descaracterizem a cidade”, finalizam. Em comemoração aos 60 anos da menina dos olhos de JK, é necessário conhecer a história, as formas e a identidade da cidade. Tudo isso para se preservar não só a estética, mas também as memórias do centro urbano planejado. Se a Brasília de 100 anos ainda estiver com sua essência original, a memória permanece e a beleza se renovará todos os dias. • Escala Monumental – Onde se concentram as principais atividades administrativas federais e locais. • Escala Residencial – Tem como base o Eixo Rodoviário e ao longe as Unidades de Vizinhança, com as superquadras. • Escala Gregária – Área central do Plano Piloto, onde ficam os setores bancários, hoteleiros, de diversão, entre outros. • Escala Bucólica – Áreas livres e arborizadas. GPSLifetime « 55

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INVENTO

O RUMO DE CASA PADRONIZAR A SINALIZAÇÃO CONFUSA, IRREGULAR E SEM CODIFICAÇÃO CROMÁTICA FOI A MISSÃO QUE DANILO BARBOSA RECEBEU NOS ANOS 70. SUA OBRA INTEGRA O ACERVO DO MOMA POR MARINA ADORNO « FOTOS LUARA BAGGI

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os 18 anos, Antônio Danilo Moraes Barbosa entrou em um ônibus e deixou a cidade natal, São José do Rio Preto, rumo a um sonho: estudar Arquitetura e Urbanismo na renomada Universidade de Brasília (UnB). Ao longo dos 719 quilômetros e 15 horas de viagem, placas indicavam o caminho e o que o destino lhe prepararia na capital. “A minha primeira sensação foi emocionante, eu me lembro e ainda sinto isso. Brasília era uma menina e a abracei. Hoje, eu sinto muito orgulho em cumprimentar essa sessentona”, declara, aos 71 anos. Apesar da formação na área, Danilo não ergueu os prédios e monumentos que compõem o cenário do quadradinho, mas seu trabalho está presente em cada canto do Distrito Federal. Ele foi o responsável por liderar a equipe que desenvolveu o extenso projeto gráfico de sinalização da capital federal a partir de 1975.

Ainda como estudante, no final da década de 60, seu primeiro endereço foi entre as quadras 406, 407 e 408 da Asa Norte. “Eram apenas 60 blocos e eles eram numerados, não existiam as letras. As pessoas perguntavam o nosso endereço e a gente respondia simplesmente: eu moro no 37, por exemplo”, conta o pioneiro. Na época, a UnB tinha poucos alunos e isso possibilitava uma grande integração no campus. O Instituto

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Central de Artes (ICA) permitia aos estudantes de diversos cursos vivenciar disciplinas como cinema, artes plásticas, música, fotografia e artes gráficas. Danilo se identificou com essa última e foi aluno do pintor, cenógrafo, artista gráfico, desenhista e fotógrafo gaúcho Charles Mayer. Com a orientação de Charles, começou a se inscrever em concursos e a aprofundar-se na área. Após a graduação, em 1973, atuou como arquiteto na primeira equipe da Administração Regional do Guará. Em 1974, foi convidado pela Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan) para realizar o projeto do Setor de Indústria da Ceilândia. Dois anos mais tarde, recebeu uma proposta para entrar para o time de forma definitiva.

indica o lugar onde a pessoa está. As placas marrons indicam pontos turísticos e foram acrescentadas para a Copa do Mundo, em 2014. Como todo pai zeloso, Danilo garante que seus olhos são incapazes de não reparar cada uma das sinalizações que aparecem nos seus caminhos rotineiros pela cidade – hoje ele mora na 107 Norte. “Eu olho e analiso cada uma. Fico verificando o que está certo, o que está errado...”, confessa. Quando encontra falhas, com o objetivo de contribuir de alguma maneira, ele aciona prontamente os órgãos responsáveis.

IDENTIDADE BRASILIENSE “Comecei em janeiro e, em outubro, demos início ao projeto da sinalização urbana de Brasília”, comenta. O objetivo era padronizar a sinalização confusa, irregular e sem codificação cromática. As únicas exigências eram placas com legibilidade para os motoristas, que se integrassem com as escalas da cidade sem confundir o usuário e não competissem com o planejamento urbano da capital federal. “Um trabalho à altura de Brasília”. O projeto foi concluído em 1976 e a implementação foi feita a partir do ano seguinte. “Quando aceitei a proposta, não tinha noção do volume de trabalho que me esperava. Não tínhamos hora para parar, ficávamos fazendo testes com os protótipos até de noite pelas ruas de Brasília. Todos sentiam amor pela cidade que nos acolheu e queriam dar algo em troca”, lembra. A equipe tinha como material de apoio somente um manual inglês – descrito como complexo e confuso – e o projeto gráfico de Buenos Aires, criado na mesma época. O autor do Plano Piloto, Lucio Costa, opinou no estudo e deu orientações importantes durante uma visita do grupo ao apartamento do urbanista no Rio de Janeiro. Outro conselheiro foi o arquiteto João Filgueiras Lima, conhecido como Lelé. Inicialmente, as placas foram feitas em argamassa armada, por ser um material de qualidade e com menor custo, e Lelé era conhecido pela vasta experiência com o material. A atual estrutura metálica veio apenas na década de 1990. Depois de muitos testes, a fonte escolhida foi a Helvética. As cores não são aleatórias, obedecem ao manual de sinalização interamericano. O verde é direcional, o local para onde se está indo, e o azul

DE BSB PARA O MOMA Em 2009, Danilo Barbosa ganhou o concurso da logo para os 50 anos de Brasília e conheceu o embaixador André Corrêa do Lago – que atualmente representa o país na Índia. Membro do conselho de Arquitetura e Design do Museu de Arte Moderna de Nova York, André sugeriu submeter a sinalização brasiliense para avaliação. No dia 12 de junho de 2012, o designer gráfico recebeu um e-mail informando que a placa que orienta para a 107/307 Sul havia sido selecionada para integrar o acervo permanente do museu. “Escolhemos a sinalização de Brasília para a coleção porque ela representava uma relação única entre o design gráfico e o ordenamento urbano, em um paradigma inteiramente novo”, afirmou o curador-chefe na época. “É o único exemplo de sinalização urbana que já foi aceito. É uma honra muito grande”, admite Danilo.

DE CANDANGO PARA CANDANGO Encorajado pelos familiares, e sem a pretensão de criar concorrência, há pouco mais de um ano decidiu investir em uma marca com seu nome e comercializar alguns destes símbolos. “Quanto mais pessoas propagarem esse trabalho eu acho melhor. Ele não me pertence, foi feito para a população. Ver essas demonstrações de admiração é uma satisfação enorme”. Ímãs de geladeira, placas, mapas personalizados e uma versão cimentícia da emblemática seta integram o portfólio em expansão. @danilobarbosadesignbsb

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CÉLEBRES

OS NÚMEROS QUE TÊM NOMES BRASÍLIA FOI ABRIGO DE FIGURAS QUE MOLDARAM A HISTÓRIA DA SUA GENTE, DAS SUAS CONSTRUÇÕES E SEUS COSTUMES. AOS POUCOS, FORAM SOMADOS ÀS SIGLAS FRIAS PRENOMES DE SEUS DESBRAVADORES POR CAROLINA SAMORANO Pela manhã, o momento é de resolver burocracias no cartório ali do Venâncio. À tarde, café com velhos amigos no Gilberto e, finalmente, pela noite, curtir o show daquela banda das antigas no Ulysses. Venâncio, Gilberto e Ulysses poderiam ser seus vizinhos ou amigos de longa data, mas não. Parte da história da capital, estão homenageados em prédios ou em placas discretas de monumentos que fazem tanto parte da vida do brasiliense que acabam passando batido. Conhecida pelos seus endereços repletos de letras e números, Brasília também é feita de gente. Em um passeio pela cidade, conheça alguns personagens que são parte da nossa história.

Agência Brasília

Luara Baggi

ESTÁDIO NACIONAL DE BRASÍLIA MANÉ GARRINCHA

GINÁSIO NILSON NELSON O nome escorrega tão fácil da boca que parece até ter sido inventado, mas não. O ginásio foi inaugurado em 1973 e rebatizado após a morte do jornalista gaúcho Nilson Nelson, em 1987. Ele havia chegado à recém-nascida Brasília em 1963 para praticamente inaugurar a cobertura esportiva na nova capital. Do futebol às corridas de cavalo, tudo era pauta de seus comentários, primeiro na Rádio Nacional e depois em um programa na TV Brasília. Nilson morreu de infarto, aos 49 anos. A comoção pela morte precoce do repórter foi tanta, que o então Ginásio de Esportes Presidente Médici passou a homenageá-lo.

Quando foi inaugurado, em 1974, o local recebeu o nome do governador do DF na época, Hélio Prates da Silveira. Foi rebatizado na década seguinte, após a morte do jogador, em decorrência do alcoolismo. Ele tinha 49 anos quando faleceu, em 1983, no Rio. A troca de nome do lugar foi pauta em 2012, às vésperas da Copa do Mundo no Brasil, quando foi inaugurado o novo estádio. Passou a se chamar Estádio Nacional Mané Garrincha. A Câmara Legislativa, na época, decidiu tornar lei o nome do estádio, obrigando que qualquer alteração tenha de passar pelo crivo dos deputados distritais.

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Gustavo Moreno

Agência Brasília

ESTÁDIO ELMO SEREJO FARIAS, “SEREJÃO”

FACULDADE DE ARTES DULCINA DE MORAES – TEATRO DULCINA

O estádio de Taguatinga foi inaugurado em abril de 1978 e acabou recebendo o nome do governador à época de sua construção. Elmo Serejo Farias nasceu em São Luís e foi nomeado pelo então presidente militar Ernesto Geisel, cumprindo mandato de 1975 a 1979. Além do aparelho esportivo, Serejo viabilizou outras obras grandes no DF, como a construção do Parque da Cidade, das vias W3 Sul e Norte, da ponte Costa e Silva e a duplicação da avenida L2 Norte. Seu nome também acabou batizando uma das principais avenidas de Taguatinga.

A Faculdade de Artes Dulcina já foi palco de grandes peças e importantes revoluções na cena cultural do País, formou renomados atores e abrigou festas inimagináveis. Sua fundadora, Dulcina, é filha do casal de atores Átila e Conchita de Moraes, e nasceu em 1908, em Valença, no Rio de Janeiro. Estreou como protagonista aos 15 anos e nunca mais abandonou os palcos. O Teatro Dulcina foi inaugurado em 1980. Desde que trocou o Rio por Brasília, raramente deixou o Planalto. Vivia sozinha em um apartamento na Asa Sul, presente do ex-presidente Médici. Ela faleceu em 1996, no HRAN, por complicações de uma diverticulite.

Agência Brasília

Luara Baggi

TEATRO NACIONAL CLÁUDIO SANTORO

TEATRO PLÍNIO MARCOS – FUNARTE

O Teatro Nacional, fechado para reformas desde 2014, homenageia o amazonense Cláudio Santoro, músico e compositor. Santoro iniciou os estudos em violino aos 11 anos, em Manaus, e aos 18 já era professor adjunto do Conservatório de Música do Rio de Janeiro. Chegou a Brasília em 1962 para fundar o Departamento de Música da Universidade de Brasília (UnB) e, em 1979, criou a orquestra do Teatro Nacional, dirigindo-a até sua morte, dez anos depois. Sua ligação com o teatro era tão forte que foi lá que ele morreu, de infarto, aos 69 anos. Foi quando o complexo artístico adotou o nome do fundador de sua orquestra.

A Funarte não é apenas um ponto de referência no Eixo Monumental. O complexo cultural abriu as portas da sua então Casa do Teatro Amador em 1991, sob pilastras projetadas por Oscar Niemeyer. Em 2001, após sua primeira reforma, passou a se chamar Teatro Plínio Marcos, homenageando o escritor, ator, diretor, artista circense e jornalista paulista que marcou o teatro amador no Brasil. Plínio nasceu em Santos, em 1935, se enveredou pelo circo, mas acabou entrando para o teatro em 1958. Conhecido pela sua linguagem crua, viu parte de sua obra ser censurada pelos militares. O escritor morreu em 1994, em São Paulo.

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Bruno Cavalcanti

Luara Baggi

PARQUE ROGÉRIO PITHON FARIAS – PARQUE DA CIDADE Para muita gente, é só “Parque da Cidade”, e ele saiu do papel apenas em 1978, com a necessidade de povoar o centro de Brasília. O governador Elmo Serejo convocou Lucio Costa, Oscar Niemeyer, Athos Bulcão e Burle Marx para desenharem um novo projeto e recebeu o nome de um dos filhos do governador, Rogério Pithon Farias, uma homenagem pela sua morte trágica em um acidente de carro. Alguns anos depois, em 1981, o então deputado federal Walter Silva apresentou projeto de lei sugerindo que o nome fosse alterado, mas os parlamentares rejeitaram a proposta. Em 1997, o governador Cristovam Buarque alterou o nome para Parque da Cidade Dona Sarah Kubitschek.

Bruno Cavalcanti

PARQUE ANA LÍDIA – PARQUE DO FOGUETE

CENTRO DE CONVENÇÕES ULYSSES GUIMARÃES O senhor que batiza o edifício foi um advogado e político, deputado federal por 11 mandatos e grande opositor ao Regime Militar. Chegou a apoiar o golpe contra João Goulart, em 1964, mas voltou atrás e, já filiado ao Partido do Movimento Democrático Brasileiro (hoje MDB), passou a encabeçar campanhas pela redemocratização ao lado de nomes como o de Fernando Henrique Cardoso. Em 1987, foi eleito presidente da Assembleia Nacional Constituinte e anunciou aos brasileiros, no ano seguinte, a promulgação da Carta Magna brasileira. Chegou a tentar a presidência em 1989, mas não se saiu muito bem. Ulysses morreu em 1992, aos 76 anos, em um acidente de helicóptero em Angra dos Reis. Das cinco pessoas a bordo, apenas o seu corpo nunca foi encontrado.

Difícil encontrar quem tenha sido criança em Brasília sem dar uns pulos pelo foguetinho, brinquedo icônico do parque infantil, multicolorido, que recebe os visitantes na entrada da Asa Sul. O local, hoje parte do Parque da Cidade, foi fundado em 1971 e recebeu o nome de Iolanda Costa e Silva, esposa do ex-presidente Costa e Silva. Em 1973, mudou de nome para abraçar uma ex-frequentadora, Ana Lídia Braga, uma menina de sete anos cujo assassinato chocou o País. A criança, moradora da Asa Norte, na época, foi tirada da escola onde estudava e encontrada morta, torturada e violentada no dia seguinte, em um terreno pertencente à Universidade de Brasília. Hoje, 47 anos depois, o crime permanece sem solução.

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Celso Júnior

Arquivo Público DF

CAMPUS DARCY RIBEIRO – UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

CENTRO COMERCIAL GILBERTO SALOMÃO Gilberto Salomão é parte viva e ativa da memória brasiliense. Seja no empreendimento assim batizado, no Lago Sul, seja na história de seu criador. O empresário, hoje com 88 anos, chegou a Brasília antes mesmo da sua inauguração, em 1959, vindo de Uberaba, Minas Gerais. Começou trabalhando em pequenas obras e morou em acampamentos pela cidade. Salomão começou a jornada como empreiteiro, comprando lotes da Novacap e construindo casas, sem muito sucesso de vendas. Por conselho de amigos, investiu em um lote no então longínquo Lago Sul e decidiu abrir ali um centro comercial, esperando que a valorização do bairro alavancasse os negócios. A ponte que liga a Asa Sul ao Lago Sul é chamada de “Ponte do Gilberto”. O “Gilberto”, para os chegados, foi inaugurado em 1967, como o principal comércio dos arredores de onde viviam ministros e empresários, num tempo em que as pontes que ligam o bairro ao Plano Piloto sequer existiam.

O enorme terreno da Universidade de Brasília na Asa Norte tem nome e sobrenome. O Campus Darcy Ribeiro, como é chamado o conjunto de construções, homenageia o grande incentivador dos estudos sociais e das reformas na educação. Formado pela Universidade de São Paulo, em 1946, chegou a flertar com a Medicina, mas trocou logo os bisturis pelo povo brasileiro. Nos anos 1960, foi convidado pelo presidente João Goulart para o Ministério da Educação e Cultura. Foi nesse período como ministro que ergueu o projeto da UnB, da qual foi o primeiro reitor. Em 1964, com o Golpe Militar, se exilou no Uruguai. Foi eleito senador em 1990 pelo PDT, cargo que ocupou até perder uma longa e penosa luta contra o câncer, em 1997. Morreu em Brasília.

Telmo Ximenes

VENÂNCIO SHOPPING Há não muito tempo, ele era Edifício Venâncio 2000, até que uma obra de revitalização rebatizou o local. O nome faz referência ao empresário cearense Antônio Venâncio da Silva. Mudou-se para o Rio nos anos 1950 e ergueu uma porção de edifícios em Copacabana. Em 1960, a convite de JK, vendeu todos os imóveis no Ceará e no Rio e apostou alto no sonho da nova capital. O Venâncio 2000, seu mais ambicioso empreendimento, foi inaugurado em 1977. Vem de sua vaidade dar o seu nome aos edifícios. Chegou até a se candidatar a senador em 1986, um das suas raras empreitadas malsucedidas. Morreu de câncer, em 1997.

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POVOS

AS NAÇÕES DENTRO DO QUADRADINHO

Embaixada da Rússia

Embaixada da Itália

ALÉM DE CONSULADOS E REPRESENTAÇÕES ESTRANGEIRAS, 150 EMBAIXADAS ESTÃO INSTALADAS NA CAPITAL. A PIONEIRA, A DOS ESTADOS UNIDOS. A MAIS RECENTE, EM 2016, A DA PALESTINA POR CAROLINA CARDOSO « FOTOS CELSO JÚNIOR

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ntes mesmo do projeto de Lucio Costa sair do papel, já havia um esboço de onde seriam alocadas as primeiras representações diplomáticas em Brasília. As conversas iniciais sobre as embaixadas, no entanto, começaram a partir de um prédio icônico da Esplanada dos Ministérios. Um palácio que receberia os mais diversos chefes de Estado, onde decisões de cunho internacional seriam tomadas e que era central como rede de apoio constitucional às futuras representações estrangeiras. O Palácio do Itamaraty teve sua pedra fundamental lançada em 1960, ano de inauguração de Brasília. A

sede das relações exteriores, projetada por Oscar Niemeyer, porém, só começou a ser erguida três anos depois. Foi aberta em 1967, já no período militar. Após alguns entraves logísticos e até certa resistência para se alocar na nova capital, em 1970 todos os departamentos e pessoal administrativo foram transferidos com sucesso à nova casa brasileira das relações internacionais. Com a principal representação diplomática finalmente instalada em Brasília, portas se abriram oficialmente para novas línguas, culturas e conhecimentos que ultrapassavam as fronteiras. A chegada das embaixadas à cidade não foi linear e pode-se di-

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Fotos: Arquivo Público

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Placas dos lotes destinados às futuras embaixadas

zer que chegou de pouquinho em pouquinho. Os Estados Unidos foram pioneiros. No livro O Cerrado de Casaca, o jornalista Manuel Mendes conta que a relação já vinha acontecendo desde 1956. Na época, o embaixador dos Estados Unidos, Ellis Briggs, teve uma conversa despretensiosa com um membro do governo brasileiro e demonstrou desejo em conhecer a cidade em construção. “Ao ser informado do fato, o presidente Juscelino ficou particularmente feliz, pois, era o primeiro diplomata estrangeiro a mostrar essa vontade”, explica. Quatro anos depois, a 60 dias da data de inauguração, Brasília recebeu mais uma importante visita: o chefe de Estado norte-americano, Dwight Eisenhower. Em um dos passeios, Eisenhower lançou a pedra

fundamental da chancelaria – onde já existia um trailer operacional. A sede do governo norte-americano na capital brasileira, contudo, só ficou pronta no final da década de 1970. Antes, o Brasília Palace Hotel e apartamentos funcionais na 313 Sul serviram de escritórios provisórios e pontos de encontro para os primeiros estrangeiros a se acostumarem às terras vermelhas da cidade. Na quadra residencial, o mesmo prédio era habitado e compartilhado por nações consideradas “inimigas” devido à Guerra Fria. No caso, Estados Unidos e União Soviética compartilhavam elevadores e áreas comuns amigavelmente. Visita icônica e certamente polêmica foi também a de Ernesto Che Guevara em agosto de 1961. O guerrilheiro comunista recebido pelo presidente da época, Jânio Quadros, no recém-construído Palácio do Planalto, ganhou a mais alta comenda do nosso governo, a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul. Além de passar pelo prédio que simboliza o Poder Executivo, Che Guevara hospedou-se no Brasília Palace Hotel, ocupando um andar inteiro com sua comitiva de aos menos 45 membros – 20 deles seguranças. Dois anos antes, em 1959, seu companheiro de ideologia e governante de Cuba, Fidel Castro, já havia conhecido o que viria a ser a capital federal. E o caminho da diversidade internacional brasiliense é vasto. Outra personalidade que quis conhecer a cidade moderna da década de 1960: a rainha Elizabeth II. Foi sua primeira viagem à América Latina. Recepcionada pelo presidente militar de 1968, Costa e Silva, a realeza e seu marido, o príncipe Philip, ficaram no Hotel Nacional e tiveram uma agenda intensa de atividades. Entre reuniões, recepções diplomáticas e um luxuoso jantar, a rainha esteve do Palácio do Itamaraty à Torre de TV. A embaixada britânica, entretanto, mudou-se oficialmente para o Planalto Central apenas em 1972. Apesar dos EUA terem sido os pioneiros nas relações, a sede da embaixada da antiga Iugoslávia – atualmente a casa do governo sérvio – foi a primeira concluída e inaugurada já em 1965. Projetada por GPSLifetime « 63

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Embaixada da Alemanha

Alexander Brezovski, o edifício é alvo de admiração por seu design representativo da estética moderna muito próxima à alma de Brasília. O prédio também está localizado na Avenida das Nações, endereço que abriga mais de 50 embaixadas. Alguns dos países representados por ali são: Portugal, Rússia, Marrocos, Dinamarca, Polônia, Reino Unido, Noruega, Bélgica, Indonésia, França, Itália, Uruguai, Argentina etc. Muitos já alocados ainda na década de 1970. Para a construção das embaixadas, Lucio Costa deu um norte sobre a estética arquitetônica, que naturalmente deveria seguir o contexto visual modernista. A direção, contudo, não passava de uma sugestão, o que permitiu que várias sedes de países amigos do Brasil tivessem traços próprios de sua cultura. A recente Embaixada da Palestina, aberta em 2016, é o reflexo desta diversidade e liberdade arquitetônica. Quem passa pela via L4 Norte, certamente já se perguntou o que é o palácio com características orientais. A construção ficou por conta dos próprios palestinos, reconhecidos como nação pelo Brasil desde 2010. O projeto é do arquiteto Ibrahim Ayyash, inspirado nas técnicas tradicionais da região. Capital dos encontros, Brasília hospeda na Avenida das Nações, setores de Embaixada Sul e Norte, de Rádio e TV Norte, na via W3 e no Lago Sul ao menos

Embaixada do Reino Unido

150 embaixadas – fora consulados e outras representações estrangeiras. A cidade revela o vasto relacionamento do País com nações ocidentais e orientais, que, em colaboração mútua, direciona diversas alianças de cunho comercial, cultural e até educacional. Se, enquanto barro e canteiro de obras, Brasília ficou conhecida por unificar cidadãos dos mais diversos estados brasileiros, frente à inauguração em 1960 e com a cultura construída por 60 anos, a capital do Brasil agora também é um centro de convergência internacional, a cidade das nações amigas.

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A PRIMAVIA FIAT CHEGOU AO AEROPORTO. Nossos 25 anos de história agora se unem aos 60 desta capital que inspira design e modernidade. Parabéns, Brasília!

Juntando nossos esforços e atitude consciente, estamos determinados a prestar toda assistência aos nossos clientes. E, dentro do permitido e seguindo à risca as normas da OMS, estamos com o atendimento presencial. Caso prefira não sair de casa, estamos atendendo em nossos canais on-line.

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VISUAL

“ENCHEU, VIU?” APESAR DA INCREDULIDADE DE MUITOS, JK TRANSFORMOU EM SETE MESES UMA DEPRESSÃO NO CERRADO EM LAGO ARTIFICIAL. COM 37,5 KM2 E QUATRO PONTES CONSTRUÍDAS, O PARANOÁ DETÉM, INCLUSIVE, UMA CIDADE SUBMERSA, ONDE RESIDIRAM 16 MIL OPERÁRIOS À ÉPOCA DA CONSTRUÇÃO POR LARISSA DUARTE

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Foto: Celso Júnior

arecia loucura construir um lago artificial no meio de um vale de terra vermelha porosa. Mas, afinal, o que não parecia loucura nessa história de “50 anos em 5”? Era até compreensível o ceticismo dos adversários políticos do presidenciável ousado. “A água será absorvida pelo terreno...”. “Isso não vai encher...”. Para silenciar tais “profetas” pessimistas, bastou um telegrama com duas palavras no dia em que o polêmico lago atingiu a cota de mil metros de altitude: “Encheu, viu?”, ironizou Juscelino. O Lago Paranoá, no entanto, foi vislumbrado muito antes das eleições de 1955. Entre 1892 e 1894, o então presidente Floriano Peixoto enviou uma comissão de cientistas para desbravar o enigmático Planalto Central com objetivo de demarcar o território do futuro Distrito Federal. A Missão Cruls contava com o engenheiro e botânico francês Auguste François Marie Glaziou. Foi ele o primeiro a apontar a possibilidade e viabilidade de um lago planejado na depressão provocada pelo Rio Paranoá. Brevemente resumindo o relatório de Glaziou, bastava represar as águas do rio. Mais de seis décadas depois, assim foi feito. 66 « GPSLifetime

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“TÔ NA PONTE!”

Em 12 de setembro de 1959, a barragem do Paranoá foi fechada. No mesmo dia em que Juscelino completou 57 anos. Às margens, uma multidão de olhares ansiosos presenciava um marco da história da nova capital. O presidente, na companhia de Dona Sarah, vibrava pelo maior presente de aniversário que poderia receber. O feito dividiu data ainda com a inauguração dos trevos urbanos da cidade e dos seus principais eixos rodoviários, além do lançamento da pedra fundamental da Catedral. Agenda cheia para JK. “Eu e Sarah fizemos descer a comporta de ferro da barragem, manobrando um trator e, quando se completou o fechamento, a imensa multidão, que assistia ao ato, aplaudiu-nos com o maior entusiasmo. O fechamento da barragem, além de implicar o início da formação do lago, que era dos mais belos efeitos plásticos no plano urbanístico da nova capital, teria, por outro lado, outra importância: era que, abaixo da represa, seria instalada uma usina hidrelétrica que forneceria energia a Brasília” – trecho retirado do livro Por Que Construí Brasília, de Juscelino Kubitschek Esse episódio icônico na memória de Brasília completou 60 anos em 2019. Antes mesmo do sexagenário da cidade. Sempre mencionando as águas narradas do sonho profético de Dom Bosco, JK fazia questão de que o lago estivesse cheio para a inauguração da capital. Afinal, seria a sua “moldura líquida”, como ele chamava. Quando aberto o concurso nacional do Plano Piloto da Nova Capital do Brasil, em 1956, os candidatos interessados em delinear a nova cidade já sabiam onde o lago estaria. Entre outras demandas respondidas em traço modernista, o projeto de número 22 chamou atenção também por colocar a grande obra artificial como base do desenho. O esboço assinado pelo candidato Lucio Costa acompanhava o lago quase que de ponta a ponta. Harmonizou. Ele foi o primeiro colocado.

O projeto inicial para a capital a ser erguida, todavia, não contava ainda com elementos que se tornariam cruciais para a rotina do trânsito brasiliense: as pontes que cruzam o Lago de 37,5 quilômetros quadrados. Atendendo ao fluxo de mais de 274 mil veículos por dia, é difícil nos imaginarmos sem elas... Mas foi assim por muito tempo. No Lago Sul, a primeira ponte que conectou o Plano Piloto à região só veio em 1974, dezesseis anos depois da área começar a ser povoada, em 1958. Na época, para se chegar aos nobres terrenos – habitados primeiramente por diretores da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap) e chefes de gabinete – era necessário dar uma imensa volta na cidade. A primeira a atravessar a água de fato, mesmo que somente sobre um pequeno pedaço, foi a Ponte do Bragueto. Responsável por ligar o fim da Asa Norte à Saída Norte de Brasília, a construção foi finalizada em 1961 e batizada originalmente com a grafia Braghetto, nome da empresa responsável pela obra de 180 metros de extensão. É a única ao lado norte do lago. Na sequência, era esperada a Ponte Monumental, projetada em 1967 por Oscar Niemeyer, mas as obras iniciadas em 1973 ficaram paralisadas. Assim, a “do Gilberto” chegou primeiro, em 1974, no lado sul. Seu nome original, poucos sabem: Ponte Presidente Médici. A homenagem ao ex-presidente, no entanto, não pegou. Para quem usufrui dos seus 300 metros de comprimento, ou é “Ponte das Garças” ou é “Ponte do Gilberto”. De arquitetura descomplicada, talvez a mais simples das pontes da cidade, ela foi erguida em apenas sete meses por engenheiros da Novacap. O primeiro nome a investir na margem até então rejeitada foi Gilberto Salomão. Em 1968, o pioneiro inaugurou o primeiro comércio do local, aumentando em centenas a quantidade de casas que timidamente ali chegavam. Seis anos depois, a ponte foi finalizada aos pés do Centro Comercial Gilberto Salomão. Daí o carinho para apelidar a construção.

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Fotos: Arquivo Público

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nte das Garças

Inauguração da Po

va

Ponte Costa e Sil

Vila Amaury e o Congresso

ao fundo

A tal Ponte Monumental foi chegar só em 1976. Se o nome soou estranho, tente esse: Ponte Costa e Silva. Mais uma lembrança a um ex-presidente, o militar Artur da Costa Silva. Para explicar o desenho da ponte, um formato pouquíssimo explorado por Niemeyer, o arquiteto escolheu uma metáfora: “ela deve apenas pousar na superfície, como uma andorinha tocando a água”. Nascida “Monumental”, ela foi rebatizada de “Costa e Silva” para a sua inauguração a pedido do seu sucessor, o então presidente Ernesto Geisel. O tributo ao segundo líder de Estado do período da Ditadura Militar fez com que surgissem diversas propostas de mudanças de nome para a ponte. Em 2015, a estrutura foi renomeada para Ponte Honestino Guimarães, estudante da Universidade de Brasília desaparecido durante o regime. Contudo, em 2018, a ponte voltou a homenagear o marechal por decisão do Conselho Superior do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios. Para não perder o hábito do brasiliense de apelidar, tal cons-

trução também é conhecida por Ponte do Pontão, nome do centro de entretenimento mais próximo. Um presidente que também foi agraciado com uma ponte, mas que não atraiu conflitos pelo nome foi ele, JK. A “Terceira Ponte” construída sobre o lado sul do lago foi a Ponte Juscelino Kubitschek. Ela foi inaugurada em dezembro de 2002 para ligar o Plano Piloto ao final do Lago Sul, ao Paranoá e a São Sebastião. Assinada pelo arquiteto carioca Alexandre Chan, seus três gigantes arcos e sua extensão de 1,2 mil metros impactam até mesmo quem passa por ali todos os dias. Já nasceu como um dos principais cartões postais de Brasília. E também é medalhista. Em 2003, a Ponte JK ganhou a Medalha Gustav Lindenthal durante a 20ª International Bridge Conference, na Pensilvânia.

HISTÓRIA SUBMERSA Sim, é verdade. Há uma cidade inundada nas profundezas do Lago Paranoá. Na realidade, tratava-se de um acampamento, a Vila Amaury. No atual azul à frente do Iate Clube e do Cota Mil, cerca de 16 mil operários e suas famílias habitavam em alojamentos provisórios antes das águas chegarem. Dizem que o vilarejo ficou habitado por no máximo uns três anos até que os moradores tivessem que deixá-lo. Como o lago subiu mais rápido do que era previsto nos cálculos, não deu tempo para que todos os barracões e instalações fossem transferidos para terra firme. Hoje, 60 anos depois, expedições de mergulhadores curiosos permitem contemplar objetos, estruturas e tijolos do que me permito chamar de “Museu Submerso da Labuta Candanga”.

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ECONOMIA

AUXILIADOR DOS EMPREENDEDORES PIONEIROS À ÉPOCA DA CONSTRUÇÃO, O BRB GANHA FÔLEGO NA GESTÃO DE PAULO HENRIQUE COSTA, E DISPARA NA COMPETITIVIDADE DE MERCADOS POTENCIAIS POR DANIEL CARDOZO FOTOS CELSO JUNIOR

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história do Banco BRB se confunde com a de Brasília. O edifício sede, velho conhecido na paisagem do Setor Bancário Sul, foi a primeira prefeitura da cidade, ainda nos anos 1960. O acesso ao crédito oferecido aos pioneiros pelo banco estatal é uma pequena amostra de como a empresa esteve presente no desenvolvimento local. É com essa memória que o diretor-presidente, Paulo Henrique Costa, tocou o projeto de reconstrução. Com metas audaciosas, o BRB já se posicionou, mostrando que pode ser mais do que um banco regional e pronto para se tornar referência em todo o Brasil. A experiência de vinte anos na Caixa Econômica Federal, no Banco Panamericano e em instituições financeiras internacionais qualificou Paulo Henrique Costa para o cargo de CEO do BRB. Se antes a lógica era um trabalho centrado no servidor público, agora o

ESSE BANCO MUDOU

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banco abre seu leque de atuação para mercados nunca antes explorados. Uma grande aliada é a tecnologia, que demonstra resultados no banco da capital. Para o dirigente, é impossível gerir um banco sem pensar em conquistar mais espaços em todos os segmentos. A cultura e o esporte são considerados ferramentas fundamentais para que essa estratégia saia do papel. O BRB aumentou a exposição midiática, a exemplo dos investimentos no basquete profissional do Flamengo, na Stock Car, em ações promocionais com clientes, com um grande espaço publicitário no Aeroporto Juscelino Kubitschek e em ações na Torre de TV, na Praça do Três Poderes e outros pontos da cidade. Em pouco mais de um ano de gestão, vieram os resultados: lucro líquido de R$ 418 milhões – o maior da história –, enquanto o projetado era de R$ 225 milhões. “A visão de banco privado”, como diz o próprio presidente, e a forma de tocar os negócios parecem ter feito diferença. “O BRB ficou em quinto lugar no País em crédito imobiliário. Nem a gente esperava. Eu lancei o desafio de sermos os líderes em Brasília. Tínhamos perto de 8% de participação e a Caixa com 33%. Em janeiro de 2019 alcançamos 48% e a Caixa 33%. Produzimos metade do crédito imobiliário do Distrito Federal nesse mês”, comemorou.

FOCO NO CLIENTE Paulo Henrique Costa chegou com a missão de inverter a lógica na gestão. “O governador me disse que o BRB atendia a um pequeno grupo de pessoas. Foi uma declaração que só entendi com o tempo. Passamos a compreender melhor as necessidades dos nossos clientes”, explicou. As mudanças passaram por estudar novamente a segmentação de públicos, treinar gerentes para novas abordagens e reformulação das unidades. “Hoje você entra em uma agência e todas são iguais. Não pode. É preciso tratar clientes diferentemente. Cada um ao seu estilo. Mas não estamos falando apenas de móveis e decoração. Vamos ter lógicas distintas, a exemplo uma unidade que não trabalhará com dinheiro”, complementa. Para o segmento high-end, o objetivo é trazer vantagens exclusivas, a exemplo da Sala BRB VIP, destinada a clientes Private. “Antes não tínhamos alguns produtos para esse público, mas agora te-

mos, como o Visa Infinite. A Sala VIP do Aeroporto tem Raio X exclusivo, que ninguém tem no País”, diz. “Agora somos patrocinadores da Confederação Brasileira de Tênis. Estamos muito próximos do público premium. Se possível, vamos mandar alguns clientes para Roland Garros, em Paris. Assim como fizemos com a Marquês de Sapucaí. Levamos essas pessoas e o olhar que eles tiveram durante o desfile é impagável. A partir daí criamos um vínculo, um relacionamento”, contou.

PASSADO E FUTURO O sentimento dentro da empresa é de que o passado da saga da construção faz parte da memória afetiva dos brasilienses, mas é preciso ir além, para continuar conquistando um lugar entre as maiores instituições financeiras do País. “O BRB foi o principal parceiro dos empreendedores e dos pioneiros. É comum encontrarmos essas pessoas e elas nos contarem a imensa participação que o BRB teve nas vidas delas. É uma história que a gente carrega, valoriza e usa para construir o futuro de uma Brasília como cidade do conhecimento, tecnologia e inovação”, projetou Paulo Henrique Costa. É com esse olhar que o BRB tem procurado fazer investimentos. A participação na Biotic, Parque Tecnológico do Distrito Federal, a construção do Centro de Inovação do BRB e o fomento à implantação de startups e fintechs são exemplos de que o banco do DF parece ter entrado no século XXI. A direção do banco vê na capital federal o potencial para ser um grande polo de tecnologia. GPSLifetime « 71

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PONTAPÉ INICIAL O início da gestão foi conturbado. As operações que miravam diretorias do BRB foram parte do noticiário nacional. “Costumo dizer simbolicamente que tivemos as chaves do banco entregues pela polícia”, resumiu. Escolhido pelo governador Ibaneis Rocha após a excelente gestão na Caixa, o pernambucano de 43 anos precisou mostrar postura de enfrentamento das velhas práticas. “A diferença já começou ali, porque aquela havia sido a quarta operação policial. Em nenhuma das vezes as pessoas tinham sido retiradas. Mas nós levamos quatro horas para afastar todo mundo. Naquele momento, a resposta clara que queríamos dar era: ‘o banco mudou’”. Mudou inclusive em espaço geográfico. A atuação já chegou a Piauí, Rondônia e Amazonas, mas já houve tratativas para chegar a Bahia, Minas Gerais, Alagoas e Tocantins. Um dos grandes estigmas que a atual diretoria do BRB tenta combater é de que o banco é destinado a atender apenas a quem trabalha em órgãos públicos. A diversificação é uma das maiores ferramentas contra as futuras crises financeiras. “36% da nossa base é de servidores públicos, mas eles geram 70% do resultado, porque têm renda mais alta e um padrão de consumo diferenciado. Pretendemos subir em todos os segmentos. O cliente de baixa renda toma mais crédito, enquanto o de alta renda investe mais. Eu preciso ter um equilíbrio entre essas pessoas que estão tomando crédito e investindo. Todos têm sua real importância. O segredo é entender essas demandas e agir com precisão”, projeta.

AUXÍLIO A EMPRESAS Assim que a pandemia passou a fechar comércios e por as empresas em dificuldade, o BRB imediatamente anunciou o Supera-DF, uma linha de R$ 1 bilhão para capital de giro, investimento, microcrédito orientado e crédito pessoal. O empréstimo pode ser tomado por empresas do comércio, indústria e agronegócio. Taxistas e motoristas de aplicativo também foram credenciados.

PESSOAS FÍSICAS Em meio ao coronavírus, o BRB também se posicionou. Anunciou que os clientes que ficaram retidos no exterior terão acesso a condições especiais. Haverá um limite emergencial de noventa dias e isenção nas tarifas de câmbio de até USD 10 mil ou €10 mil. Quem contratou o seguro viagem internacional do banco terá a opção de prorrogação do período. Além disso, 5,6 mil clientes do BRB foram beneficiados com a suspensão da cobrança de parcelas de créditos anteriores.

CULTURA E BEM-ESTAR Para dar um tom leve e não passar em branco o aniversário da cidade, o Festival BRBPlay levou apresentações de 38 artistas às residências. Pela internet, foi possível acompanhar atrações como Nando Reis, Zélia Duncan, Oswaldo Montenegro, Dinho Ouro Preto e outros. Já o Instituto BRB distribuiu 450 mil máscaras em uma parceria com o Senai-DF e o Sindicato das Indústrias do Vestuário do Distrito Federal. O banco foi protagonista em uma campanha para arrecadação de recursos para a compra de respiradores. O objetivo é juntar R$ 25 milhões e distribuir 250 aparelhos para os hospitais locais. “E isso é só o começo”, profetiza.

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Foto: Arena BSB

EMPREENDEDORISMO

O DONO DA BOLA COM A CONCESSÃO DO COMPLEXO ESPORTIVO E DA TORRE DIGITAL, RICHARD DUBOIS QUER QUE BRASÍLIA VIVA POR SI MESMA E NÃO SOMENTE POR ÓRGÃOS PÚBLICOS POR MARCELLA OLIVEIRA

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andangos foram aqueles que vieram colocar a mão na massa na época da construção de Brasília. Mas uma cidade que acaba de chegar na chamada melhor idade ainda tem muito que crescer e se desenvolver. E, para isso, continua contando com a dedicação de brasileiros que deixam suas cidades

natais e não medem esforços para arregaçar as mangas e ajudar Brasília a crescer. Não foi diferente com Richard Dubois. O paulistano chegou definitivamente por aqui há dois anos. A capital já era destino frequente há uma década por conta do trabalho. Especialmente nas vésperas da Copa do Mundo de 2014, quando a empresa em que ele trabalhava assumiu a operação não esportiva do torneio. “Foi um projeto memorável. Por conta das manifestações pré-evento, a Fifa ameaçou tirar a Copa do Mundo do Brasil. Então, fomos contratos para fazer a gestão. Tínhamos um escritório ali no Brasil 21 e, da janela, eu via diariamente o Mané Garrincha”, lembra.

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“POUQUÍSSIMAS CIDADES DO MUNDO TÊM UM ESTÁDIO NUMA REGIÃO TÃO CENTRAL, COM UMA ÁREA DE EXPANSÃO TÃO GRANDE EM VOLTA. E FOI MAL APROVEITADO, LARGADO, JUDIADO.”

Enxergou um potencial no chamado “elefante branco” e projetou um uso mais proveitoso para o estádio. O namoro começou na época do governador Agnelo Queiroz, passou pela gestão de Rodrigo Rollemberg e desenrolou para o atual governo de Ibaneis Rocha. “Quando Ibaneis assumiu que conseguimos prosseguir com as negociações. Ele deu energia e o foco necessários para chutar a bola para dentro do gol e destravar os últimos empecilhos. Com isso, na metade do ano passado assinamos o contrato de concessão e, em janeiro, a transferência definitiva da operação para a Arena BSB por 35 anos”, conta o diretor-presidente, que recebeu do GDF a concessão para usar e investir no Complexo Esportivo que engloba o Mané Garrincha, o Ginásio Nilson Nelson e o Complexo Aquático Cláudio Coutinho. Dubois é paulistano de nascimento, mas carrega esse nome por conta da família de origem francesa. “Desde pequeno visitei a França. Mas na hora de torcer entre o Brasil e a França, eu torço pelo Brasil. Já briguei muito com meu pai por causa disso, inclusive na final daquela copa que perdemos para os franceses”, brinca. Engenheiro de formação, iniciou a carreira profissional no mercado financeiro, com passagem por multinacionais e bancos, além de experiências nos Estados Unidos e na Europa. Mais do que vislumbrar o crescimento dos seus negócios, é nítido em Dubois a vontade de fazer

Brasília crescer. O investimento é ousado e grandioso. Os planos são muitos. À frente do negócio, os primeiros eventos realizados pela Arena BSB neste ano foram um grande evento religioso, a final da Super Copa do Brasil, com jogo entre Flamengo e Atlético-PR, e o show do Maroon 5. “Estamos ouvindo o público para acatar as sugestões e entender os problemas. A gente está melhorando o nível de serviço, de atendimento. A gente quer tratar o cidadão como um consumidor, que ele saia satisfeito com o evento”, diz. Pegos de surpresa pela pandemia do novo coronavírus, a programação dos próximos meses foi adiada. O estádio foi oferecido ao governo para servir de hospital de campanha. Mas a expectativa é que tudo volte ao normal o quanto antes para que o projeto siga sendo colocado em prática. “Teremos eventos esportivos, religiosos, culturais, educacionais. Será um pouco de tudo para mostrar o potencial de Brasília e gerar muitos empregos”, acredita. Com isso, o diretor-presidente espera, principalmente, mudar a imagem que se tem em relação ao estádio. “Vai ser um elefante branco que sabe dançar, sambar, cantar”, brinca. Confira a entrevista.

O POTENCIAL DA CAPITAL “Brasília tem empresários fantásticos em qualidade, mas poucos em quantidade. Isso é uma das coisas que nos motiva a buscar mais oportunidades aqui. Há muita coisa boa sendo feita, mas a cidade está crescendo, acho que cabe mais ideias, e a gente veio para somar e compor. Com as nossas iniciativas, vamos gerar empregos, diversão e agregar com o crescimento de Brasília.”

PÚBLICO X PRIVADO “A ideia foi juntar a visão de Lucio Costa – de que Brasília precisava de uma área de entretenimento e lazer ali no Eixo Monumental – e a experiência internacional de que todas as grandes arenas têm ao seu redor uma área de entretenimento, com uma vontade do governo de passar a gestão para um privado. Para realizar um show, por exemplo, é preciso negociar com o bar, o estacionamento, os direitos de publicidade… É uma negociação complexa. O governo não consegue fazer, tem uma tabela muito inflexível, o servidor não tem autonomia. Tem que prestar muita conta e é mais fácil não fazer. Conosco, a gente tem mais liberdade. A autonomia de decisão é muito maior.” GPSLifetime « 75

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Fotos: Arena BSB

“BRASÍLIA TEM EMPRESÁRIOS FANTÁSTICOS EM QUALIDADE, MAS POUCOS EM QUANTIDADE” vazamento, problemas na cobertura, portas quebradas, até na automação e sistema de segurança. Aí você pensa que é uma obra muito recente, né? Mas era muito mal tratada. Não é culpa de ninguém, mas era um sistema que não funcionava. Cada produtor que entrava, mexia do jeito que queria e largava. Não tinha fiscalização, não tinha cobrança… A equipe era muito pequena. Nós estamos aumentando em dez vezes a equipe que cuidava do estádio.”

MUDAR O NOME?

UM ELEFANTE BRANCO? “Brasília ainda não tem um time de futebol forte. O estádio ficou subutilizado. Ele é maravilhoso, uma localização única. Pouquíssimas cidades do mundo têm um estádio numa região tão central, com uma área de expansão tão grande em volta. E foi mal aproveitado, largado, judiado. A gente viu uma oportunidade de negócios. Ele é um patinho feito que nasceu com uma série de problemas. Mas agora ele está ali no centro da nossa cidade e a gente não pode ficar culpando quem fez o parto, nem chorando e nem lamentando. A gente tem que adotá-lo. Vai ser um elefante branco que sabe dançar, sambar e cantar.”

INVESTIMENTO NO ESTÁDIO “Encontramos o estádio em uma situação que havia a necessidade de um investimento imediato de R$ 22 milhões em infraestrutura básica. Desde trocar torneira do banheiro, iluminação, consertar

“Todo grande estádio na Europa e nos Estados Unidos tem naming rights, que é quando recebe o nome de uma empresa que investe no local. Como a arena em São Paulo, que se chama Allianz Parque. Então, não seria mudar, seria acrescentar. É algo comum, corriqueiro. A gente não quer apagar a imagem do Mané Garrincha, que foi um jogador maravilhoso. Queremos celebrá-lo como atleta. Como uma área de negócios, a gente está procurando uma marca que queira se associar ao estádio.”

NOS ARREDORES “Fora da arena, nós vamos construir um boulevard, que a gente acha que vai revolucionar Brasília. Vai ter cinemas, restaurantes, teatro… Será onde o brasiliense vai encontrar entretenimento e lazer. Brasília está cada vez mais cosmopolita e, para isso, tem que ter seu bairro boêmio. A gente brinca que quer pegar um pouco da Vila Madalena de São Paulo, da Lapa do Rio, da Broadway, da Champs-Élysées de Paris, do Porto Madero de Buenos Aires, bater no liquidificador com um pouquinho de pequi para dar o nosso sabor local e ter uma área onde o brasiliense possa curtir. O investimento total será de R$ 500 milhões. Já fechamos negócio com o Cinépolis, teremos o segundo maior complexo de cinemas de todas as marcas aqui no Brasil. E ainda 30

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"BRASÍLIA PODE SER A CAPITAL DO ENTRETENIMENTO, DO LAZER. TEMOS UMA MALHA AÉREA A NOSSO FAVOR E GRANDE CAPACIDADE LOGÍSTICA DE HOTÉIS" restaurantes, duas casas noturnas, academias, mercado gourmet. A expectativa é de iniciar as obras até o fim do ano – que devem gerar uns quatro mil empregos – e ficar pronto em 2022.”

DEMOLIR O NILSON NELSON? “O diagnóstico hoje é: nós precisamos de um ginásio de primeiro mundo. A capital não pode ter um ginásio que não tenha ar-condicionado, camarotes, infraestrutura para o atleta, o artista e o público. A acústica é ruim, tem goteira. Uma série de problemas. É um prédio que foi construído nos anos 70 e não está atual para 2020. Atualizá-lo não significa destruir história, significa que não atende mais a necessidade. Então, vamos construir um novo estádio. Estamos olhando com muito carinho para manter a estrutura física como uma área secundária. Se nossos times de futebol ainda estão um pouquinho para trás, no basquete e no vôlei a gente está na primeira liga e queremos ter uma casa adequada. Vamos tentar não demoli-lo. Estamos estudando ainda.”

COMPLEXO AQUÁTICO “A gente acredita que a concessão é uma parceria com a sociedade. No complexo aquático, se fôssemos cobrar pelo serviço, isso afastaria as famílias que o utilizam. Então, a decisão é que será uma contrapartida social. Faremos a manutenção predial e o serviço continuará gratuito ou com uma taxa simbólica.”

OUTROS PROJETOS “Aqui em Brasília, nós já ganhamos a licitação da Torre Digital, em estudo. Estávamos disputando a licitação do autódromo, mas o governador quer fazer algo maior e a nossa proposta é um autódromo economicamente viável. Então, o governador decidiu uma outra linha. Se voltar a licitação, estamos na poli position, esperando a largada para disputar. Aqui em Brasília também temos a proposta para administrar o metrô. Fora daqui, ganhamos a licitação do Parque Olímpico, no Rio de Janeiro, e disputamos Interlagos, em

SP, mas decidimos não apresentar a proposta porque economicamente não era viável. Estamos disputando a concessão do Maracanã. A gente acredita que essa área de concessões e PPPs vai crescer muito no Brasil.”

BRASÍLIA, 60 ANOS “Brasília está passando por uma mudança e os 60 anos são uma fase de reflexão. Se me permitir uma opinião, Brasília tem que deixar de ser uma cidade que vive da política e do governo para ser uma cidade que vive por si mesma. É a capital da República, sim, mas pode ser a capital do entretenimento, do lazer. Temos uma malha aérea a nosso favor, grande capacidade logística de hotéis, podemos trazer grandes shows e eventos. Podemos e devemos desenvolver a questão do polo tecnológico, aproveitando toda essa molecada que está saindo das universidades e que não vai encontrar emprego no setor público. É hora de entender que o crescimento de Brasília virá de empregos do setor privado e acho que essa conscientização chega com a transição dos 60 anos. Será esse marco de virar a página e ver a maturidade econômica de Brasília.” GPSLifetime « 77

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JUDICIÁRIO

CRISTINA PEDUZZI

A PRIMEIRA PRESIDENTE DO TST ELA ASSUMIU O POSTO ÀS VÉSPERAS DA PANDEMIA. NESTE MOMENTO, VIVE O DESAFIO DE DINAMIZAR SERVIÇO JURISDICIONAL E MOSTRAR QUE NÃO HÁ DISTINÇÃO DE GÊNERO NO CARGO QUE OCUPA POR CAROLINA CARDOSO

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aria Cristina Irigoyen Peduzzi, 67 anos, é gaúcha de nascença, mas brasiliense de coração e de vida. Formada no curso de Direito pela Universidade de Brasília (UnB), desde 1975, e mestre pela mesma instituição em Direito, Estado e Constituição, é a primeira mulher a assumir a presidência do TST (Tribunal Superior do Trabalho). Ela chegou à capital do Brasil com apenas 20 anos de idade e foi por aqui que consolidou sua vida. No coração do País, fez e viveu a carreira como advogada até a nomeação como ministra do TST, em 2001. Teve passagens na Procuradoria Geral da República (1984) e no Ministério Público do Trabalho (1992). Comprometida com a profissão, que para ela é exercida com amor e prazer, Cristina Peduzzi é uma das mulheres em evidência que mais recebe elogios pela forma de conduzir suas tarefas. Está na lista das 20 mulheres mais poderosas do Brasil em 2020, pela revista Forbes. O vasto sucesso profissional, no entanto, não é o único laço com Brasília. Foi aqui que nasceram seu filho e netos. “Em Brasília, eu construí a minha vida profissional e, sobretudo, a minha vida

pessoal. Aqui é a minha cidade de eleição e eu me considero brasiliense”, afirma. Autoridade representativa por ser a primeira figura feminina a estar à frente do TST, a ministra, que tomou posse em fevereiro de 2020, conversou com a GPS|Lifetime sobre como é viver em Brasília, o compromisso de ser a primeira presidente mulher do Tribunal Superior e o que pensa sobre a justiça do trabalho relacionada às mulheres. O que Brasília significa na sua jornada?

Eu gosto de Brasília, acompanhei o desenvolvimento da cidade, que foi muito expressivo na época em que cheguei, em 1973. Brasília ainda era adolescente, uma cidade fantástica. Tínhamos uma segurança, uma mobilidade completamente diferente do que ocorre hoje. Atualmente, temos uma atividade cultural, de serviços, um aperfeiçoamento de ensino, diversão e lazer que são próprios de uma grande metrópole. Eu acompanhei esse desenvolvimento da cidade e digo que Brasília foi e ainda é uma cidade muito boa para se viver. Tem um clima agradável, é uma cidade bonita, com vegetação fértil.

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Luisa Martins Torres

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às capacidades humanas. Então veja, a importância desta contingência histórica está ligada ao valor simbólico que a imagem de uma mulher no comando da Justiça do Trabalho pode oferecer como estímulo para outras mulheres e muitas meninas. Transmitindo a mensagem de que somos capazes não só de ingressar com sucesso no mercado de trabalho, mas também de concretizar as expectativas profissionais. É uma mensagem emancipatória da mulher no universo do trabalho e em especial por representar a sua presença em postos de liderança, nos quais ainda não se identifica uma presença majoritariamente feminina.

Fellipe Sampaio

Sendo a primeira mulher no cargo, como é conduzir um Tribunal Superior?

A cidade era um centro urbano de novidades?

Brasília promove encontros entre as pessoas. Quando eu cheguei, ninguém era daqui, basicamente só quem tinha 13 anos de idade. As pessoas traziam as experiências de seus estados e, normalmente, vinham sem suas famílias de origem. Aqui foi construída uma nova vida, uma nova família. Por isso digo que é uma cidade promotora de encontros. Acho que aqui os amigos convivem mais. Há uma troca de experiências, cada um vindo de um lugar diferente até nós termos um denominador comum. Como é ser a primeira mulher a presidir o TST?

Eu não posso deixar de registrar um aspecto que me envaidece, que é ser a primeira mulher a presidir um tribunal superior. Apesar deste fato me impor uma responsabilidade muito grande, ao mesmo tempo me dá a satisfação de responder com o meu trabalho um questionamento que foi feito a Virginia Woolf sobre “o que é ser mulher?”. Ela disse que nós só saberemos quando a mulher tiver a oportunidade de se expressar em todas as artes e profissões abertas

Não há distinção de gênero no exercício do cargo administrativo nem deve haver. Tanto o homem quanto a mulher tem de ter um fim. Inclusive, essa é a resposta que nós tínhamos que dar ao questionamento feito para Virginia Woolf: independentemente do gênero, nós temos de dar uma resposta à sociedade de que estamos cumprindo o compromisso institucional de exercer a jurisdição com eficiência, afinal esse é o compromisso que o exercício do cargo impõe. Como alcançar a igualdade de gênero no mercado de trabalho?

O juiz tem o compromisso de aplicar a lei e fazendo isso ele pode corrigir a ilegalidade e dar uma resposta às partes. O TST corrige a desigualdade de gênero com muita eficiência, ontem e hoje, por meio da decisão, julgando os processos promovidos por pessoas que sofreram um assédio moral, um assédio sexual, uma discriminação no âmbito do trabalho e que, em geral, ocorrem preferencialmente entre as mulheres. [...] A decisão judicial corrige a situação, impõe uma reparação […] e ainda tem o fator pedagógico, que, por meio de uma decisão, previne-se da repetição de atos semelhantes, com a formação da jurisprudência. Há 20 anos não se sabia o que era assédio moral no ambiente de trabalho e, na medida que a jurisprudência identificou o fenômeno e impôs a reparação civil, pedagogicamente se reduziu a prática do ato ilícito. Você viveu essa diferenciação de gênero enquanto construía sua carreira?

Sem dúvidas. Sempre trabalhei muito. Acho que para conquistar o mesmo espaço, o mesmo reconhecimento, a mulher tem trabalhado mais do que o homem.

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Luisa Martins Torres

E onde o Brasil está quanto à igualdade de gênero no Direito do Trabalho?

Como foi assumir o cargo tão perto de estourar a pandemia da Covid-19?

Depende do ângulo que se examina. Primeiro, a nossa igualdade de gênero ocorreu no plano eleitoral em 1932, depois vieram os direitos sociais e, por último, os direitos civis. Hoje ela é plena em termos legislativos. A lei assegura igualdade plena. Ainda temos a lei Maria da Penha que também tem reflexos no âmbito do trabalho, porque assegura o direito ao afastamento de até seis meses para a proteção física da mulher. Mas observa-se que em todos os setores e poderes a busca pela igualdade de gênero é plena. Então temos, no plano político, as cotas, para que mulheres se candidatem e exerçam cargos eletivos. Temos, no plano do ensino, as cotas para corrigir outros tipos de desigualdades. Temos, na previdência, a garantia de remuneração no período de afastamento em razão da maternidade. Inclusive no Poder Judiciário a ministra Cármem Lúcia, enquanto presidente do STF e do CNJ, implantou uma política de pesquisa e identificação do porquê de termos menos juízas do que juízes. Mas existe hoje no Brasil, eu penso, políticas públicas além da legislação, que buscam efetivamente implantar essa igualdade. Temos é que exercitá-la e, em relação ao Poder Judiciário, corrigir, por meio da decisão, quando houver qualquer tipo de preterição das regras.

Tem sido um desafio. Não tinha 15 dias úteis de exercício da presidência e eu já estava editando atos para decretar o trabalho remoto. É uma experiência sobretudo desafiadora e peço a Deus que seja enriquecedora, porque é enfrentando e superando dificuldades que crescemos pessoal e profissionalmente. Qual o desafio do TST e da Justiça do Trabalho neste momento?

Precisamos manter a prestação jurisdicional para a sociedade com eficiência e celeridade. O poder Judiciário não pode parar. Estamos realizando julgamentos de processos por meio do plenário virtual. E as estatísticas neste período já demonstraram que, em relação ao mesmo período do ano anterior, julgamos 39% a mais durante a quarentena. Você acha que a prática do home office vai se tornar mais comum?

Sem dúvida. Nós vamos sair treinadíssimos no assunto. Nas atividades que forem possíveis o trabalho remoto deve ser ampliado, vão diminuir as viagens… É perceptível que por meio da teleconferência se resolve muitas coisas sem necessidade de deslocamento. É uma nova cultura que vamos criar em função dessa pandemia e dos atos que ela está ocasionando. GPSLifetime « 81

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ARTIGO EDINHO MAGALHÃES

Jornalista e advogado, atua como consultor parlamentar no Congresso Nacional – edinho.assessoria@gmail.com

DE CARONA NO CORONA É PRECISO ACERTAR NA DOSE DO EQUILÍBRIO, POIS, ALÉM DA PANDEMIA VIRAL, TEMOS O PANDEMÔNIO NA ECONOMIA.

T

enho assistido em Brasília, mesmo remotamente, a preocupação estampada no rosto das autoridades sobre a situação da saúde no País. Em tempos incertos de coronavírus também é crescente a preocupação de gestores públicos (prefeitos, governadores e Presidente da República) sobre a economia. Sabemos que além da pandemia viral vamos enfrentar, ainda, um pandemônio na economia, que deve durar muito mais do que três meses. Achar o equilíbrio certo para dosar a “economia da saúde” e a “saúde da economia” não é tarefa fácil, pois não pode faltar dinheiro para curar doença nem deixar doente a economia. No Congresso Nacional, centenas de projetos foram protocolados para garantir recursos financeiros ao sistema de saúde no combate ao vírus e para ajudar pequenas e micro empresas, trabalhadores informais e uma massa de desempregados no país. Além disso, há propostas para flexibilizar regras fiscais, prevendo a suspensão de impostos, taxas, juros, multas e até mesmo pagamento de aluguéis, tudo isso sem a inclusão de nomes de pessoas nos órgãos de proteção ao crédito, pelo atraso nos pagamentos. Ainda como parte do “pandemônio”, é preocupação recorrente de associações de servidores públicos o assunto “corte de salário”. Como tudo na Capital Federal é dinâmico, diria que o assunto pode até estar morto, mas não enterrado: entre as propostas apresentadas há projeto que sugere, por exemplo, corte nos salários dos pró-

prios Congressistas, em até 50%, enquanto durar o Estado de Calamidade. E o que vale para uns, pode valer para outros também. E há o projeto que sugere “convocar os bilionários do país” a ajudar, agora, o Brasil e os brasileiros. Parece justo termos a participação dos mais afortunados, (incluindo os representantes das instituições financeiras, cujo setor foi o que mais lucrou em toda história recente do país, cobrando os juros mais altos do planeta) nesse momento. Se for aprovado, a receita extra pode chegar a R$ 50bi, deixando qualquer ideia de corte de salário, de quem quer que seja, em segundo plano. Além desses projetos, existem outras fontes de renda a serem “deslocadas temporariamente” para ajudar no combate ao coronavírus: ora, se estamos todos isolados em ritmo de “home office”, por exemplo, as autoridades públicas não estão utilizando diárias, passagens e nem hospedagens, assim como os servidores públicos também não estariam fazendo uso do auxilio alimentação e do auxílio transporte, entre outros. Então, é uma questão de prioridade: que se convoquem os bilionários e se usem o que não se está usando contra o ”corona”. Mas salário é coisa sagrada pro trabalhador. E aí chegamos no momento de viabilizar “a economia da saúde” e de cuidar “da saúde da economia”. Precisamos combater a pandemia e evitar o pandemônio. O brasileiro não pode morrer. E nem o Brasil. Correto? Que Deus nos ajude.

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ARTIGO LÍVIA FARIA

Sócia-diretora da NWADV Brasília

Os esperados 60 anos de Brasília chegaram. Foram tantos projetos, sonhos, planos e festejos programados para celebrar o sexagenário da nossa amada Capital Federal. Contudo, o dia 21 de abril de 2020 não será um dia de comemorações tradicionais. Temos mil motivos para celebrar a vida, o aniversário e os marcantes e históricos 60 anos de Brasília, a cidade localizada no centro do Brasil, acolhedora de pessoas vindas de todas as regiões do País. Mas, neste ano, a nossa tão amada Brasília terá um aniversário diferente. Em meio à pandemia advinda dos efeitos nefastos da Covid-19 e, diante das regras de isolamento horizontal impostas à sociedade com o objetivo de controlar a curva de crescimento e contaminação pelo vírus, teremos que reinventar a forma de celebrar os 60 anos de Brasília. Na verdade, após a descoberta da Covid-19 no mundo e a sua chegada no Brasil, a humanidade não será mais a mesma. Já nos reinventamos, temos feito isso diariamente. Jamais seremos os mesmos após enfrentarmos o medo e a insegurança de um agente etiológico de potencial agressivo e, muitas vezes, letal. O tempo de isolamento social, de reclusão, abstenção e reinvenção da forma de execução das nossas atividades cotidianas para enfrentamento da doença traz consigo a profunda reflexão sobre os dias de outrora e os outros que virão. As adversidades trazem consigo a sede de vencer, a vontade de superar e alcançar o impossível. Tenho certeza de que a humanidade evoluirá sem precedentes após passarmos por dias de tamanha incerteza e insegurança, de uma das maiores crises sanitárias e econômicas da história mundial, mas a sociedade estará mais solidária, resiliente e evoluída. E Brasília tem exatamente essas características.

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BRASÍLIA 60 ANOS: REINVENÇÃO E COMEMORAÇÃO Foi planejada e sonhada para ser a capital do Brasil, para superar tudo que já existia até então, para ser a sede político-administrativa do País, para integrar, para unir no coração do Brasil todos os povos de todos os cantos desse País de dimensões continentais. Ela traz em seu DNA uma população com a marca de cada região do País, sendo formada por um povo solidário, preocupado com os seus semelhantes e unidos em prol da construção de uma sociedade cada vez mais justa e igualitária. Há muito a comemorar! São 60 anos de uma linda história de uma cidade que foi idealizada por Juscelino Kubitschek, cuja história foi iniciada pelos candangos e pioneiros e se transformou em berço da arquitetura, da política, de onde emanam as decisões mais importantes do Poder Judiciário e de um nação solidária, que ama o seu céu, suas cores e suas formas. Será um aniversário marcante, ainda que as comemorações e as demonstrações de amor e carinho pela cidade que encanta a todos pela sua arquitetura, cores e acolhimento sejam virtuais e cheias de reinvenção e modernidade! Um brinde à Brasília e a tudo que ela representa aos nossos corações e às nossas vidas! Um salve a JK, visionário e um grande agente transformador, cujos pensamentos externados em alfarrábios sobre a sua história são altamente contemporâneas e demonstram a crença na união do povo brasileiro, a vontade de surpreender, quebrar paradigmas e se reinventar. Que os dizeres de Juscelino se renovem em nossas vidas como o presságio de dias melhores e mais auspiciosos. Que em breve possamos desfrutar da beleza de nossa arquitetura, caminhar nos nossos monumentos, jardins, contemplar nossos ipês e encher nossos amigos e familiares de abraços fraternos. Viva Brasília! Nós te amamos!

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ESPECIALISTA

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rasília, cidade encantadora, fascinante, projetada, diferente, desafiadora... é mesmo uma cidade que nos inspira diariamente. Saber que precisamos estar sempre preparados para buscar rapidamente soluções eficazes e seguras, não apenas para o desenvolvimento e crescimento da cidade, mas, especialmente, para a solução adequada de conflitos, tem sido o dia a dia da advogada brasiliense Andrea Saboia. Nascida em Brasília, a advogada, que é especialista em direito público, direito urbanístico e regulação ambiental, fala do amor que tem pela capital, dos desafios jurídicos enfrentados nessa busca por superações e do resgate do desenvolvimento da cidade, sobretudo neste momento de enfrentamento ao novo coronavírus. “Sou completamente apaixonada por Brasília e fico muito feliz em saber que, na comemoração de seus 60 anos, nossa capital tem sido referência de cooperação e responsabilidade em relação às medidas de combate à proliferação da pandemia do novo coronavírus. São demonstrações de maturidade da nossa sociedade e do sentimento mútuo de cooperação”. Na visão da advogada, que além de atuar na advocacia privada, trabalha na advocacia pública, como advogada de carreira da Terracap e como Diretora

Divulgação

A TRANSFORMAÇÃO REPENTINA DA DINÂMICA DA VIDA MOSTRA QUE DIRIMIR PROBLEMAS É PRIORIDADE PARA MITIGAR IMPACTOS

eleita da OAB/DF (Secretária-Geral Adjunta), os desafios são diversos, mas em todas as situações o diálogo, a ética e o bom senso devem prevalecer. “Diante do atual cenário de mudanças inesperadas e alheias à vontade das partes, o dever de zelar pela vida e pela pronta atuação para dirimir os problemas tem sido o verdadeiro lema. Por um lado, as pessoas precisam de assistência e esclarecimentos; por outro lado, precisam de consultorias jurídicas para buscar aplicar as diretrizes corretas a fim de que, a partir de um problema, não surjam outros ainda mais graves. As relações empresariais mudaram, a dinâmica da vida foi repentinamente transformada e a necessidade de mitigação desses impactos tem sido uma “equação geométrica” quase “cirúrgica”. “Falo da necessidade de revisão dos contratos, das relações de consumo, do direito das famílias, da mudança de rotina nos condomínios, da redução de carga de trabalho, redução salarial e das prisões domiciliares. São os fatos da vida que mudaram e há necessidade de que as leis e os novos julgados abarquem esse novo universo de mudanças”, afirma Andrea Saboia. Sem dúvida alguma, Brasília é uma cidade que desperta nossos sonhos e nos incentiva a realizá-los, com responsabilidade.

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ARTIGO

A IMPORTÂNCIA DA ADVOCACIA EM TEMPOS DE PANDEMIA POR JOÃO PAULO TODDE

A

s grandes modificações sociais sempre estão acompanhadas de rupturas significativas e que normalmente são acompanhadas de crises bastante severas. Sejam guerras, escândalos políticos, movimentos sociais e doenças, a sociedade raramente permanece a mesma após eventos da magnitude que o atual momento nos apresenta. A história da saga brasileira é recheada de rupturas – muitas não violentas – de modificação radical do status quo, como, por exemplo, os movimentos de independência, republicanos, ascensão e queda de Getúlio Vargas e os sucessivos governos militares desenvolvidos entre as décadas de 1960 e 1980, até uma pandemia de proporção mundial. Ainda que hajam movimentos sociais provocados ou situações incontroláveis que exigem resposta estatal é certo que a perspectiva microeconômica deve sempre ser colocada em foco ante a necessidade de movimentação do comércio, indústria e pres-

tação de serviços no geral, que são o sustentáculo do atual modelo seguido na sociedade brasileira, o capitalismo contemporâneo. Nesta ordem de ideias, está inserida a Advocacia, que goza, inclusive, de status constitucional, demonstrando sua importância central nos momentos de ruptura. Dentro do olho do furacão, o empresariado deve valer-se de assessoria jurídica para melhor guiar suas tão penosas decisões, como demissões, suspensões de contratos ou manutenção de pessoal, renegociação de dívidas com as instituições financeiras, com o próprio Leviatã, o Estado, bem como revisões contratuais e até eventuais recuperações judiciais. Ao socorrer-se à advocacia para a tomada de decisões durante o evento-crise, o empresário coloca-se numa posição de maior conforto e segurança e, além disso, de fluxo informacional atualizado, possibilitando o estudo de todo o cenário que adentra às portas de sua empresa. Nesse caso a escolha por uma firma jurídica de porte e níveis de excelência, com multiplicidade de especialidades e grande inserção mercadológica

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e política, elevam significativamente as chances de superação da crise e o sucesso do negócio defendido. Todavia, o planejamento pós-crise é igualmente importante. O momento posterior à crise irá ditar o novo cenário econômico e social e é justamente o advogado – no sentindo amplo – que poderá munir o empresário de informações e argumento concisos para garantir a longevidade negocial. É neste momento posterior que devem ocorrer as decisões acerca de reestruturação societária – fusões, aquisições, cisões e transformações – e de recuperação empresarial, seja ela judicial ou extrajudicial. Ademais, é neste momento que trabalhos de inteligência e planejamento tributário devem ser executados por escritórios especializados. Importa ressaltar que estas soluções cabem a todos os portes empresariais – micro, pequeno, médio e grande – de modo que a advocacia especializada e cirúrgica possui espectro de atuação que socorre a todos os tipos empresariais. São incontáveis os benefícios que a advocacia pode trazer ao negócio. Não cabe mais às relações econômicas e sociais a demonização do advogado, tal qual se fazia na advocacia antiga que era utilizada apenas para a resolução de problemas deflagrados. O que se está a falar no momento é justamente a utilização da advocacia como instrumento de antecipação de soluções, geração de economia inteligente, negociações seguras e firmamento das relações sociais. A Economia é múltipla e interdisciplinar e não poderia ser diferente na consecução do negócio, de

modo que é imperativo ao empresário a contratação de profissionais que possam fazer seu negócio manter-se, num primeiro momento de crise, e projetar-se com crescimento no momento pós-crise. A oportunidade existe para todos que estiverem preparados para ela. *João Paulo Todde é CEO do Grupo TODDE e da TODDE Advogados e Diretor Jurídico Tributário Estratégico. É Doutor em Direito Tributário Comparado com Mestrado em Planejamento Tributário e Recuperação Fiscal. Especialista em Gestão de Crise, Processo Tributário e Business Design.

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LEGADO

O HOMEM DEVOTO DA MEDICINA AOS 95 ANOS, O MÉDICO PIONEIRO EGYNO SARTO ATUA DIARIAMENTE EM SEU CONSULTÓRIO. FOI ELE QUEM ERGUEU O PRIMEIRO HOSPITAL PARTICULAR DE BRASÍLIA, EM 1964 POR NATHÁLIA BORGO « FOTOS LUARA BAGGI

Q

uem vê a fachada não vê o coração da Organização Hospitalar Brasília (OHB), e tampouco imagina a viagem no tempo que alguns metros quadrados do complexo proporcionam. No consultório do médico cirurgião clínico Egyno Sarto, o mobiliário retrô remete à data da sua chegada à capital federal, quando ainda era recém-nascida. Tudo tem um ar de medicina raiz. De canto, um arquivo de aço na cor cinza e, na mesa, papéis. Muitos. Em meio às bíblias de médico ficam os modelos anatômicos, parecidos com aqueles que os professores utilizavam nas aulas de ciências. Lá na ponta, um senhor no auge dos 95 anos de idade, atento e convicto da sua missão de vida: o trabalho.

Uma parede divide a ala da conversa com a dos exames. A viagem continua ao dar de cara com uma maca e, de um lado, o armário vitrine antigo, azul, com prateleiras cheias de frascos de remédios e algumas imagens religiosas. Até o armário da pia tem um design que lembra aquele de “casa de vó” e o banheiro do consultório não foge à regra, com azulejos que parecem papel de parede pintado à mão, marrom, como era fácil encontrar antigamente. Do outro lado da sala, uma parede de caixas de remédios. Coisa que paciente adora: ganhar amostras ao final da consulta. Todo dia ele faz sempre tudo igual, desde que chegou sozinho a Brasília em 1960. Naquele tempo, a nova capital contava apenas com um hospital

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distrital e um grupo seleto de médicos, que, segundo ele, preocupavam-se mais com ganhar dinheiro do que exercer a medicina em si. Como conheceu mais seis sócios que sentiam a mesma falta, uniram-se para formar a OHB e inaugurar o primeiro hospital particular de Brasília, em 24 de abril de 1964, a Casa de Saúde e Maternidade Dom Bosco, no Setor Hospitalar Sul. Egyno Sarto é natural de Presidente Alves (SP). Foi alfabetizado e educado por padres Salesianos. Cursou a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro que, mais tarde, tornou-se a UFRJ. Iniciou a carreira no estado em que obteve o diploma, mas atuou principalmente em Araras, no interior de São Paulo, onde residia com a família. O pioneiro tinha apenas 36 anos de idade ao conhecer a cidade que estava sendo erguida. Foi onde ele descobriu que em apenas um instante passava a ter de tudo por aqui. “Eu mudei definitivamente para Brasília no dia da revolução de 1964. Trouxe, então, minha esposa e os cinco filhos. Faltava o espírito corporativo quando cheguei, mas o individualismo não constrói nada, é prejudicial. Poucos médicos ganhavam muito dinheiro na época, mas não pensavam no desenvolvimento da área da saúde”, conta o veterano. Presságio ou não, foi justamente uma nota de alguns cruzeiros encontrada no chão do lote 1 do Setor Hospitalar Sul que fez com o que o médico acreditasse na possibilidade de uma saúde mais

acessível a todos. “Aqui vamos prosperar a primeira casa de saúde do DF”, idealizou. Foi a partir da vinda a Brasília e o confronto com o cenário da nova capital do país, que Egyno Sarto começou a insistir na união das pessoas e, em especial, da classe médica. Ergueu, com outros médicos, a Casa de Saúde e Maternidade Dom Bosco, seguindo a intuição do local. Com os profissionais que atuavam na casa, construiu a Organização Hospitalar Brasília, uma sociedade anônima, de capital fechado. Cerca de 300 médicos fizeram parte da OHB ainda no início, um modelo de negócio à frente do tempo para a época. A Casa erguida, então, tinha fundações sólidas, um desafio e uma missão. Era especializada em cirurgias de baixa e média complexidade, com capacidade para cem leitos, UTI, emergência, laboratório clínico, além de outras atividades essenciais para a operação do hospital. Em média, 50% dos pacientes do INSS de todo o Distrito Federal foram atendidos pelo hospital entre os anos de 1970 e 1980. O estatuto previa uma quantidade de leitos para o atendimento à população carente e foi atendido até a transformação do espaço. Egyno, sem contar nenhuma vantagem, lembra que tem no currículo de atendimentos pelo menos dois presidentes. O médico viveu os anos áureos da sociedade brasiliense, quando todos, segundo ele, conheciam-se, comunicavam-se e se organizavam como uma população do interior. GPSLifetime « 91

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Fotos: Arquivo pessoal

Egyno Sarto com as filhas Margarida e Edna e o neto João

“Juscelino Kubitschek já não era mais presidente, mas ainda morava em Brasília. O presidente José Sarney de vez em quando ainda vem aqui. Somos muito amigos do Cardeal Dom José Freire Falcão, arcebispo-emérito de Brasília, por isso nos encontramos”, relata com humildade. O progresso, para ele, foi desordenado. Mas foi também a partir do progredir que a sociedade brasiliense fez, construiu e evoluiu. “Pelo menos eu penso dessa maneira”, descontrai. Ele garante que a medicina em Brasília não deve nada a nenhum lugar.

O FUNDADOR Mesmo com a evolução dos negócios e o desenvolvimento da Organização Hospitalar Brasília S.A., Egyno Sarto cumpre o sacerdócio da medicina com o trabalho social, a servidão e a caridade. Realiza consultas gratuitas para quem não pode pagar ou a preços acessíveis, como R$ 100. A relação com a igreja católica é sagrada e familiar. O respeito é de origem. Um dos irmãos do médico chegou a ser bispo de Barra do Garças, Dom Antônio Sarto, falecido em 2008. O nome do prédio que trabalha hoje é Edifício Pio X, uma homenagem ao Papa Pio X (Giuseppe Melchiore Sarto), parente próximo. Além disso, na década de 1990, recebeu o título de Comendador da Ordem Equestre de São Silvestre, ordem regulamentada pelo Papa Pio X em fevereiro de 1905, recomendada por padres, bispos ou Núncio Apostólico, e atribuída aos católicos de notável exercício da profissão. Com isso, o respeito e a gratidão nortearam o médico, que mantém a caridade em dia com obras assistenciais, e, em retribuição, deu nome ao segundo

empreendimento da OHB de Edifício Pio X, além de atender padres e freiras gratuitamente até hoje. Agora, ele acompanha de perto o processo de sucessão dos negócios. A ideia principal é perpetuar o trabalho realizado nas últimas décadas. Ao lado de João Sarto, atual diretor da companhia e braço direito do avô há 15 anos, estão atualizando as atividades da OHB para se adaptar a uma nova economia, aos avanços tecnológicos, à ressignificação da marca e ao reposicionamento no mercado. Hoje, a Organização Hospitalar Brasília S.A. tem cara nova. Passou por uma “virada de marca”, para Organização Humana Bio Bem-Estar. Uma nova definição espiritual, física, emocional, intelectual, social, global, para reunir grandes hospitais, casas de saúde, maternidades, ambulatórios com assistência médica geral para atender no endereço e para contribuir com a pesquisa científica. Quatro andares inteiros, por exemplo, são destinados para o Grupo D´Or (Hospital Santa Luzia e Grupo Acreditar). Mais quatro andares são destinados a pacientes oncológicos e por outros players regionais, como Cettro, Vitta e Nucleos e Ressonance. Há um subsolo para aparelhos como PET Scan, ressonância e radioterapia. Além das especialidades em medicina nuclear, laboratórios, farmácia de manipulação, ortopedia, atendimento ambulatorial de grandes redes parceiras, academias e centros de reabilitação física. E, em meio a 25 mil m² de construção, toda tecnologia e modernidade, o fundador, Egyno Sarto, segue contando as suas histórias do aconchego do próprio escritório, a partir das experiências de quem nasceu em 1924, desbravou uma capital e nela consolidou sua missão de cuidar de vidas.

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OS PARADIGMAS NA VIDA E DA MEDICINA O OLHAR SOLIDÁRIO AOS VULNERÁVEIS E A POSTURA VISIONÁRIA NA PROFISSÃO COMPÕEM O PERFIL DE RODRIGO LIMA, RESPONSÁVEL PELA DISSEMINAÇÃO DE CIRURGIAS NA COLUNA POUCO INVASIVAS POR NATHÁLIA BORGO « FOTOS LUARA BAGGI

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ma pequena incisão na pele separa uma pessoa com problema de coluna do medo. A expressão popular “entrar na faca” já não faz mais sentido em tempos de tecnologia e modernidade na medicina, a exemplo das cirurgias de coluna, que costumavam causar pânico e dúvidas quanto à recuperação dos pacientes. A Cirurgia de Coluna Minimamente Invasiva traz à luz uma visão de futuro, com a promessa de menor lesão possível no organismo do indivíduo e de redução substancial do sangramento durante o ato operatório. Geralmente, a pessoa pode sair andando no dia seguinte. O instrumental para esse tipo de cirurgia é praticamente o mesmo usado em cirurgias abertas. A diferença está no acesso. Os médicos conseguem, com uso de

microscópios e/ou endoscópios (câmeras de vídeo que ampliam as imagens) e raio x, afastar a musculatura do paciente e realizar o procedimento conservando a estrutura anatômica dos músculos e ligamentos. Especialista em cirurgia da coluna vertebral com fellow realizado no Hospital Cedars-Sinai, Los Angeles, o médico Rodrigo Souza Lima atesta que a cirurgia minimamente invasiva melhora as condições físicas de maneira eficaz e, hoje, está entre as melhores opções para quem espera voltar a ter qualidade de vida de um jeito mais rápido e com menos dor durante a recuperação. “A técnica é o que há de mais inovador utilizada no mundo inteiro. Já temos no Brasil e em Brasília profissionais capazes de resolver esse problema que gerou medo por tanto tempo”, afirma.

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Na contramão do minimamente invasivo, as técnicas tradicionais de cirurgia aberta estão associadas ao prazo estendido de internação, ao aumento nas comorbidades e à elevada perda sanguínea perioperatória (período completo desde a incisão na pele até o fechamento da ferida). “Precisamos quebrar paradigmas e dar fim ao mito de que as pessoas irão sair da mesa de cirurgia direto para uma cadeira de rodas. Os pacientes se surpreendem ao saírem caminhando no dia seguinte após a cirurgia”, comenta o médico. Rodrigo faz parte da equipe de coluna da clínica Ortosul que realiza, em média, duas cirurgias por semana, um número considerado de bom padrão mundial, sendo que cerca de 80% dos atendimentos são tratados de forma conservadora. “Não é difícil levar esse tipo de procedimento para o SUS (Sistema Único de Saúde), mas, para isso, precisamos de profissionais capacitados na área, especializados na técnica, e de toda a instrumentação. A demanda é alta”, alerta. O olhar cuidadoso e solidário aos menos privilegiados socialmente é nítido no médico. Talvez pela sua própria trajetória. Visivelmente emocionado, não se acanha ao contar sua história, desde a época em que, na adolescência, trabalhou na Companhia Energética de Brasília (CEB) como eletrotécnico. “Mas sempre soube que o caminho não era a engenharia elétrica”, lembra. Enfrentou a descrença da família e ingressou no curso de Medicina na Escola Superior de Ciências da Saúde (FEPECS).

Quando faltava um mês para formatura, em 2011, Rodrigo perdeu o pai em um acidente fatal de carro junto com mais dez familiares, dentre eles o primo de quatro anos. Apesar da dificuldade do momento, ele tinha em mente e como foco seguir em frente e continuar levando orgulho para a família. Fez residência médica em ortopedia e traumatologia no Hospital de Base de Brasília, depois ingressou na residência de coluna vertebral do Hospital Life Center (Belo Horizonte), com Cristiano Menezes, e cursou a especialização em Cirurgia Minimamente Invasiva e Deformidade do Adulto com Técnica Minimamente Invasiva no Cedars-Sinai Medical Center, em Los Angeles, Califórnia (EUA). Hoje, Rodrigo tem um amplo currículo dedicado aos estudos, tornou-se um especialista e referência nesse tipo de cirurgia e quer compartilhar com estudantes Brasil afora sua experiência, mostrando que é possível ter uma boa formação apesar dos problemas e das interferências externas. “Eu sou o primeiro médico na família. Na época, acharam que era loucura minha cursar Medicina. Hoje, tenho contato com os melhores cirurgiões de coluna do mundo. Tive a oportunidade de conhecer a técnica dentro e fora do País. Agora é minha vez de retribuir à sociedade o que aprendi”, acredita. @dr.rodrigo_lima @clinicaortosulbrasilia

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ARTIGO

A TECNOLOGIA A FAVOR DA BELEZA DOIS PROCEDIMENTOS QUE ESTÃO ENTRE OS MAIS COTADOS NAS CLÍNICAS DE MEDICINA ESTÉTICA DO MUNDO ESTÃO SENDO USADOS JUNTOS E POTENCIALIZANDO OS RESULTADOS POR BADRA CAPITA*

Celso Júnior

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nquanto um é exemplo de revolução na tecnologia mundial da estética, o outro é caracterizado como um dos principais bioestimuladores de colágeno da atualidade. Individualmente, atuam na redução da flacidez e aprimoramento de estruturas de sustentação da face e, juntos, são capazes de potencializar os resultados desejados. Indo na contramão da natureza e impedindo que o efeito da gravidade fale mais alto, surgiram no mercado tratamentos dermatológicos que estimulam a produção de colágeno pelo nosso corpo de dentro para fora, promovendo efeitos naturais e retardando a aparência envelhecida. O Ultraformer é a nova geração de ultrassom lançado no Brasil recentemente e que é o queridinho da vez nos consultórios, ideal para tratar áreas maiores ou menores do corpo. Ele promove aquecimento em profundidade na pele e nos músculos, por meio de picos de energia, promovendo pontos de coagulação no local. Isso ajuda na remodelação do colágeno de forma natural, causando um efeito lifting imediato. Quando utilizado com as ponteiras macrofocadas desempenha também o tratamento de gordura corporal conseguindo destruir seletivamente as células de gordura. O tratamento é praticamente indolor para grande parte dos pacientes na maior parte das áreas tratadas. São necessárias de uma a quatro sessões com intervalo mensal. O resultado atinge seu máximo com três meses após a aplicação e dura por até 20 meses. O Sculptra® é uma substância injetável composta pelo ácido poli-L-láctico (PLLA) com a finalidade de tratar o envelhecimento da pele para que o colágeno

passe a ser produzido novamente no organismo. Além de amenizar os sinais de envelhecimento, flacidez, rugas e sulcos, ele também é muito utilizado para tratamento de celulites e cicatrizes na pele. A aplicação do produto é realizada em áreas como face, colo, pescoço, braços, mãos, abdômen, glúteos, coxas e joelhos – com exceção da área ao redor dos olhos, nariz e lábios.

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Fotos: Divulgação

Após completar 30 anos de idade as pessoas tendem a perceber uma perda da sustentação da face, com piora na aparência do contorno facial e a pele cada dia mais amolecida. Isso se deve a uma queda significativa na produção de colágeno pelo nosso organismo, resultando nas temidas rugas, linhas de expressão e efeito de derretimento facial. Acontece que o Ultraformer, associado ao Sculptra, potencializa os resultados de ambos. Combinados, os procedimentos trazem muitos benefícios, como a melhora da espessura da pele, das linhas finas e cicatrizes de acnes, além da flacidez. Já na primeira aplicação é possível conferir os resultados. Os bioestimuladores foram criados para estimular a neocolagênese (formação do colágeno) em profundidade. Quando associado ao Ultraformer, forma uma nova fibra colágena que atinge até mesmo a musculatura. O resultado é uma melhor sustentação da pele, com um tratamento não invasivo e seguro, de forma natural. Para um tratamento completo é preciso fazer de uma a quatro sessões, dependendo da maturidade da pele. E melhor: o resultado dura até 20 meses. Venho utilizando essa técnica em minha clínica, obtendo muito sucesso nos resultados e com os pacientes bem satisfeitos com o tratamento. A associação das duas técnicas aprimora e prolonga o resultado de lifting e firmeza atingidos e hoje esse protocolo “Ultraformer + Sculptra” tem sido considerado um dos melhores e mais duradouros para devolução do contorno facial sem perder a naturalidade dos traços do rosto. Neste caso, é realizado de uma a duas sessões do Ultraformer com ponteiras microfocadas no rosto e em uma outra sessão é realizada a aplicação do Sculptra também com uma reaplicação após um intervalo de 45 dias. A simplicidade de ambos os procedimentos vem conquistando muitos adeptos interessados em prolongar a jovialidade natural.

Existem outros métodos alternativos bioestimuladores que cumprem o mesmo objetivo, entre os principais estão dois produtos, o Radiesse® que é composto por hidroxiapatita de cálcio, e o Ellanse®, que é composto por policaprolactona. A aplicação é feita por meio de agulhas e/ou cânulas nas camadas mais profundas da pele juntamente com o anestésico. O tratamento é feito com duas a quatro aplicações, com intervalos de aproximadamente 45 dias. Os resultados começam a aparecer entre 45 e 60 dias após a sessão e duram por cerca de dois anos. *Badra Capita é médica especializada em Medicina Estética e Dermatologia, membro da Sociedade Brasileira de Medicina Estética (ABME) Badra Medicina e Estética Centro Clínico Linea Vitta – SGAS 616, Bloco B, Cobertura, sala 212 (61) 3445-1016 | (61)99931-5655 @clinicabadra | @drabadracapita

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O PAI, UM NEGÓCIO E A FAMÍLIA INÚMERAS VEZES CONDECORADO PELA PERFORMANCE EMPRESARIAL, O GOIANO MÁRCIO ANTÔNIO É O RETRATO DO PIONEIRISMO. FUNDADOR DO GRUPO SMAFF, HOJE SÃO OS FILHOS QUE LEVAM ADIANTE O EMPREENDEDORISMO DO PATRIARCA POR NATHÁLIA BORGO « FOTOS LUARA BAGGI

O

ano é 1973. Nas terras da recente Brasília, inaugurada então há pouco mais de 12 anos, o empresário Márcio Antônio Carlos Machado chegava de Goiânia à nova capital com a mulher, os filhos e o sonho de expandir o grupo familiar. A determinação do jovem formado em Direito veio do pai, Orlando Carlos, que mais tarde daria prefixo e sufixo à primeira concessionária de Márcio, a Orca.

“Nas trocas de conversa nos botecos, as pessoas sentavam e tocavam sempre no assunto. Era de um otimismo tremendo que Brasília sairia como saiu. Quando eu morava em Buriti Alegre [Goiás], pensava que nunca viria para cá. Era uma cidade imensa e eu pensava: ‘o que eu iria fazer?’ Mas foi uma coisa que deu muito certo”, comemora o empresário no auge dos 79 anos de idade e 47 de Brasília.

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Fotos: Acervo pessoal

Mais velho entre nove irmãos, com seu instinto desbravador, Marcio contribuiu para o estabelecimento da família no DF. Antes mesmo de arriscar a abertura da primeira concessionária sozinho, ele formou as filiais do grupo Jorlan no Setor de Indústrias e na Asa Sul. O visionário, entretanto, preferiu apostar em regiões próximas a Brasília, como Taguatinga. Foi então que surgiu a Orca. Atualmente, cada irmão segue o seu caminho, e todos inspirados pelos passos do pai. A tradição de unir os nomes permaneceu. As iniciais da esposa Sheila e dos filhos Marcelo, Márcio Júnior, Fernanda e Flávia formam o conhecido e curioso nome do Grupo Smaff. Um empreendimento familiar desde o princípio. “Com o tempo passando e os irmãos crescendo, meu pai decidiu que era hora de incluir os filhos para trabalhar no negócio também. Ele desenhou o nome e começamos a expandir pela construção civil em 1987”, conta a filha Fernanda. O prestígio de Márcio, no entanto, não o deixou fora do ramo por muito tempo. As próprias montadoras começaram a oferecer a oportunidade ao empresário de voltar a vender veículos automotivos. Na época, a região da Asa Norte era pouco explorada pelo ramo, então, foi lá que Márcio vislumbrou o nascimento do complexo de concessionárias, com a Chevrolet, a Ford, a Suzuki, a Volkswagen e a Hyundai. O resultado foi tão promissor que a Smaff foi condecorada em Madrid, na Espanha, como a melhor concessionária Hyundai da América Latina. Fato que impulsionou a expansão do Grupo para outras regiões dentro e fora do DF. “Brasília sempre teve um mercado muito aquecido nessa área. Nas concessionárias também surgem os ramos que são relacionados, como as corretoras de

seguros, financeiras e postos de gasolina, tudo isso foi estruturado no Grupo Smaff”, relata Fernanda. A Smaff chegou a abrir 23 unidades em todo o Brasil, mas a partir da crise econômica em 2016, os empreendedores optaram por permanecer no Distrito Federal com as cinco unidades concessionárias Ford Asa Norte e Colorado, Hyundai SIA e Asa Norte, Volkswagen Asa Norte, além das lojas Seminovos Asa Norte e SIA e outros pontos de venda pelo DF abertos com o reaquecimento do mercado, onde, hoje, vendem carros de diversas marcas. As instalações da Smaff Concessionárias são obras da própria construtora criada ainda na década de 1980, mantida apenas para essa finalidade, construir as lojas do próprio grupo. Segundo Fernanda, que hoje segue à frente dos negócios com os irmãos, o pai foi um desbravador assim como o presidente Juscelino Kubitschek. “Ele acreditou e deixou o que tinha para trás. Enquanto muitos viam nas concessionárias uma brecha para o mundo, foi preciso ter foco no ramo para adquirir a confiança das montadoras, que exigem um perfil para abertura desse negócio”, conta. GPSLifetime « 99

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Fotos: Acervo pessoal

QUILÔMETROS DE HISTÓRIA Márcio Machado nasceu em Buriti Alegre, em Goiás, e estudou durante a infância em colégio interno. Foi jogador de futebol até no time profissional Goiânia Esporte Clube, mas deixou a bola em campo para cumprir o desejo do pai Orlando Carlos, primeiro a possuir uma concessionária GM em Goiânia. Mesmo formado em Direito, nunca exerceu. Márcio já era empresário quando se casou com Sheila, com 17 anos na época e ele 28 anos. As famílias eram conhecidas, um tio do empreendedor era o melhor amigo do pai de Sheila, Antônio Accioly, primeiro presidente do Atlético Clube Goianiense que, atualmente, dá nome ao estádio também conhecido como Castelo do Dragão, em Goiânia. Entre as condecorações recebidas “nesta longa estrada da vida”, Márcio Machado foi elevado ao grau de Comendador do Quadro Ordinário da Or-

dem do Mérito Judiciário do Trabalho, em 1988, pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST). Um telegrama do mesmo ano, remetido pelo então major brigadeiro do ar Murillo Santos, secretário do Conselho do Mérito Santos Dumont, informava a entrega da Medalha Mérito Santos-Dumont ao empresário pela valiosa contribuição em todos os assuntos atinentes à aeronáutica. Dez anos depois, Márcio foi consagrado cidadão honorário de Brasília. Apesar de um passado de grandes inaugurações e bailes de gala, discretos, hoje, o casal vive dias mais tranquilos pelos jardins de casa, mas sempre visitando o empreendimento para ver o que resultou do legado. Com os filhos formados no exterior, o empresário se orgulha de ter tomado a decisão de inseri-los nos negócios. “Meus meninos estão dando um show nas vendas, conhecem bem os produtos, vendem e isso é muito importante, até porque, agora, estou passando o dia a dia com a dona Sheila”, brinca Márcio. www.smaff.com.br

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AUTOMOTORES

VENDAS EM VELOCIDADE MÁXIMA MAIOR GRUPO CHEVROLET DO BRASIL, A PEDRAGON TEM BRASÍLIA COMO MERCADO MODELO. DOS DEZ MIL CARROS A SEREM COMERCIALIZADOS ESTE ANO NO PAÍS PELA EMPRESA, 3,6 MIL SERÃO DA CAPITAL POR NATHÁLIA BORGO « FOTOS LUARA BAGGI

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nquanto a população brasileira alcança os 210 milhões de habitantes, a corrida do mercado não deixa o número de veículos para trás. Em todo o Brasil, segundo dados de março de 2020, do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), há 105 milhões veículos, sendo 57 milhões automóveis. Somente no Distrito Federal, são 1,3 milhão de carros. As mais de cem concessionárias do mercado bra-

siliense ajudam a aumentar os dados a cada ano. A Pedragon, em Brasília, por exemplo, chega a vender cerca de três mil carros por ano. Somente na época crítica do País, em 2016, houve uma redução nas vendas, para a marca de 1,7 mil automóveis/ano. São três unidades de novos e seminovos no DF: uma em Ceilândia, onde chegam a vender a marca de 50 unidades por mês; no Colorado, com

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80 vendas mensais; e na Saída Sul da Candangolândia, com 150 carros por mês. O diretor-presidente do grupo em Brasília, Jorge Wilmore Rodrigues de Freitas, tem apenas 34 anos, mas já acumula experiências. Começou no segmento como estagiário até passar pelo primeiro sistema de televendas da cidade. Cresceu na supervisão e gerência em outras marcas do País, em Goiânia e Campo Grande. Ao retornar a Brasília, foi convidado, em novembro de 2012, pelo dono da Pedragon, José Henrique Figueiredo, a fazer parte do grupo recém-chegado ao DF. A Pedragon nasceu em Recife, em 2000, e hoje se consolida no mercado como o maior grupo Chevrolet no Brasil. Além da capital de Pernambuco e da capital federal, atua também em Manaus. Em média, dez mil carros saem por ano da Pedragon para as ruas das três praças. A partir deste ano, mais oito lojas serão abertas em São Paulo. A soma do grupo, então, vai dar 20, com mais quatro unidades no DF, seis em Recife e duas em Manaus. A expectativa da Pedragon Brasília é vender até 3,6 mil carros em 2020. “Acho que o nosso crédito no País poderia ser mais aberto, até mesmo pela rentabilidade bancária. Poderíamos, assim, ajudar também pessoas com rendas mais baixas e condições mais precárias de locomoção”, opina o presidente regional.

Para acompanhar as pautas ambientalistas, a Chevrolet entrou no movimento sustentável. Foi a primeira concessionária a entregar o Bolt, um carro totalmente elétrico, na faixa de R$ 200 mil. “Existe uma projeção para que todos os carros sejam elétricos daqui a dez anos”, ressalta Jorge Wilmore. A Pedragon Brasília já vendeu seis unidades. Brasília tem uma meta com a GM chamada Chave de Ouro, atingida todo mês. Um objetivo baseado na indústria local e do Brasil. A capital do País, por exemplo, emplaca, atualmente a cada mês, quase oito mil carros. Em dezembro de 2019 foram 8,135 mil. A média da Pedragon, hoje, está em 260 carros por mês.

DESEMBARQUE, AEROPORTO Meta que vai ganhar um reforço com a nova loja no aeroporto. Aberta em meados de março, a unidade do aeroporto é resultado da demanda da Chevrolet em aumentar os pontos de venda em Brasília. A partir de um estudo, a Pedragon escolheu o local pela carência de concessionárias nas regiões do Lago Sul, Park Way e Jardim Botânico. São 1,6 m² de loja para venda de veículos novos e outra do mesmo tamanho, no mesmo terreno, de seminovos. As projeções de vendas são de 150 carros novos e 150 seminovos por mês na loja do aeroporto. “A localização facilitada desta loja e o trajeto para fazer test drive com certeza oferecem comodidade aos clientes. Sem contar que a Pedragon Brasília é sucesso de vendas também na internet, com a saída de até 130 carros por mês. Em dois anos, queremos aumentar mais 4% o market share”, idealiza o empresário. @pedragonchevroletbrasilia

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MODERNIDADE

COMPARTILHAR É PRECISO SEM PREOCUPAÇÃO COM DEMANDAS DE UM ESCRITÓRIO PRÓPRIO, O ARCOWORKING É A GRANDE PROMESSA BRASILIENSE DA NOVA REALIDADE DO MUNDO CORPORATIVO EM QUE COLABORAÇÃO É A PALAVRA DE ORDEM POR NATHÁLIA BORGO « FOTOS BRUNO CAVALCANTI

É

no meio do caminho que os encontros acontecem. A copa compartilhada foi pensada para que todos aproveitem as pausas para cumprir com o objetivo principal da proposta: o networking. Água e café somente no local. Não é economia, é uma forma de garantir que os residentes se esbarrem no dia a dia. Conectar pessoas e empresas faz parte do conceito de coworking, movimento que propõe um ambiente de trabalho mais colaborativo. Há poucos meses em Brasília, o ArcoWorking nasceu, literalmente, grande: são sete andares e duas torres. Lá dentro, 200 estações de trabalho divididas entre salas compartilhadas e priva-

das, além de salas de reuniões e auditórios. Antenado na nova tendência de trabalho, que prevê o compartilhamento de espaços e recursos, o ArcoWorking facilita a vida dos profissionais da cidade. “Aqui, a administração do escritório é por nossa conta. Não há preocupação com imposto, aluguel, manutenção, limpeza, compra de insumos e funcionários. Além de termos o ambiente ideal para gerar negócios, ainda há o benefício dos residentes poderem dedicar ao trabalho ou ao networking o tempo que seria gasto com administração de um escritório”, destaca o gestor do empreendimento, Paulo Sarkis.

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ESPAÇO INSPIRADOR O empreendimento atrai profissionais das mais diferentes áreas que buscam fazer negócios sem enfrentar os custos e a burocracia de abrir uma sala própria na cidade. O ArcoWorking chama atenção já de cara pelo ambiente. Na porta do prédio localizado na 714/715 Norte, o cheirinho de café é um convite para entrar. Ali funciona a Beijú Lanchonete Brasileira, uma operação do Café e um Chêro. Uns passos mais à frente e a experiência de estar em um dos maiores coworkings da cidade começa pra valer. A frase na recepção, em neon, revela o DNA do local: “Juntos é mais gostoso”. Circular pelo espaço é despertar dentro de si uma vontade quase irresistível de trabalhar. Cores e ambientes convidativos potencializam a criatividade e ajudam no desempenho profissional. O projeto ficou a cargo da Esquadra Arquitetos. A identidade visual e o projeto gráfico foram elaborados pela jornalista e designer Thaís Antonio. “Para além dos recursos visuais feitos a partir da marca e suas aplicações, a ideia foi trazer expressões diferentes de Brasília, para valorizar a arte autoral e transformar o ambiente em um lugar ainda mais inspirador”, detalha Thaís. O coworking conta com intervenções de artistas locais, como uma parede de lambe-lambes do Coletivo Transverso, uma minigaleria da fotógrafa de arquitetura Joana França, instalações de acrílico da artista visual Cecília Bona e um hand lettering da artista plástica Juliana Adnet. O prédio é dividido em seções: os subsolos recebem as atividades que podem contar com público externo. Ficam ali salas de reunião e os dois auditórios, um para 50 e outro para 60 pessoas, além de vestiários completos com chuveiro. Também no subsolo há salas privativas que podem funcionar como escritórios ou consultórios de atendimento para profissionais de áreas como psicologia, nutrição, coaching e terapias em geral. Algumas salas privativas são mobiliadas e podem ser reservadas por hora. Outras podem ser alugadas em planos anuais e decoradas pelo próprio cliente. No térreo ficam o bicicletário e cabines para reuniões rápidas. Copa e sala de descompressão estão no primeiro piso. Nos andares de cima ficam as estações de trabalho. Os clientes podem escolher delimitar os espaços de trabalho com paredes de vidro para mais privacidade, se for o caso. “Nossa arquitetura é flexível e funcional. A

gente se adapta às necessidade dos residentes”, explica Sarkis. O ArcoWorking tem ainda o Espaço Casulo, uma sala de trabalho pensada para receber crianças. A ideia é poder trabalhar de olho nas crias. Em quatro meses de operação, o coworking já conta com 20 empresas residentes e 50% das vagas ocupadas. Apesar do ambiente estimulador, há uma consciência que rege a alma do empreendimento: é importante ter vida além do trabalho. Razão pela qual o coworking não abre aos domingos e fecha às 22h nos dias de semana. Aos sábados o funcionamento é de 8h as 18h. A regra só é quebrada para eventos nos auditórios. “Porque trabalhar é preciso, compartilhar é preciso, mas viver também é preciso”, brinca Paulo. Além de toda a estrutura física, o local conta com serviço de copiadora e minipapelaria. “Pensamos nos detalhes que podem facilitar o dia a dia das pessoas e oferecemos alguns serviços para proporcionar a melhor experiências aqui dentro. Nos esforçamos para resolver o máximo de situações previsíveis na rotina de uma empresa”, conclui Paulo Sarkis, que celebra o sucesso do empreendimento nos meses iniciais de operação e revela os planos de expansão para uma segunda unidade ainda este ano. @arco.working

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GASTRONOMIA

DO MAR PARA A MESA UMA EXPERIÊNCIA DE SOFISTICADO SABOR É DELEITAR-SE NOS PESCADOS E FRUTOS DO MAR DA PESCARE

Fotos: Divulgação

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rasília conta com um rico roteiro gastronômico. Não há brasiliense que não se encante quando ouve falar dos deliciosos camarões, bacalhaus, lagostas, peixes selecionados e produtos que fazem ligação com os melhores sabores do mar. Seja em casa ou no restaurante, a Pescare Frutos do Mar é referência quando o assunto são as delícias que vem do litoral. Com a experiência de 25 anos dos sócios no mercado de pescados, atende, diariamente, grandes restaurantes da cidade e aceita encomendas (atacado e varejo) via delivery, fornecendo produtos selecionados, frescos e congelados; preservando o sabor e a beleza da iguaria. “Grandes chefs de cozinha e restaurantes da cidade têm a Pescare como preferência pela qualidade certificada, pelo atendimento diferenciado e pela agilidade na entrega”, afirma Marcos Novaes, sócio-proprietário. Na lista de produtos ofertados pela empresa, pescados, lulas, polvos, camarões, vieiras e lagostas, congelados ou frescos.

Em tempos de pandemia do novo coronavírus, a Pescare adotou todas as medidas de segurança alimentar para continuar atuando no Distrito Federal. O serviço de delivery atende as exigências de higiene para a não proliferação do vírus. Assim, além do constante controle de qualidade dos produtos, que já faz parte do dia a dia da Pescare, foram reforçados os cuidados na entrega, para atender com segurança todos os clientes. Mais do que aquele sabor gostoso do mar, consumir pescados é importante para a saúde. O peixe é uma das proteínas mais saudáveis e fonte de inúmeros nutrientes, como ômega 3, selênio e vitamina D. Segundo um estudo da Havard School of Public Health, a ingestão semanal de duas ou três porções de peixe podem reduzir os riscos de infarto porque alguns peixes ajudam na pressão sanguínea e controle do colesterol. @pescarefrutosdomar

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Fotos: Vinícius Santa Rosa

MATÉRIA-PRIMA

ESSA CASA TEM ARTE HÁ QUATRO DÉCADAS COLORINDO TRAÇOS DE ARTISTAS QUE FORMAM A IDENTIDADE DA CAPITAL, O NEGÓCIO FAMILIAR PROSPEROU. ALÉM DAS PRATELEIRAS QUE JÁ SERVIRAM ATHOS BULCÃO, A CASA DAS ARTES PROMOVE CURSOS E EXPOSIÇÕES POR MARCELLA OLIVEIRA

A

ntes de transformar em concreto suas criações, os projetos de Oscar Niemeyer começavam com prancheta, papel e caneta. Não era diferente com Marianne Peretti, que com lápis na mão desenhou em folhas de papel vegetal os traços que formariam os enormes vitrais da Catedral. Athos Bulcão usou, dentre tantos elementos, telas e cores. Para construir a história de Brasília sempre foi preciso arte. Com o passar dos anos, a cena artística explodia como um recipiente cheio de tinta prestes a estourar e deixar tudo mais colorido em Brasília. E, em 1979, um novo capítulo começou a ser escrito. Foi com o objetivo de abastecer os sonhos de engenheiros, arquitetos e artistas por meio da oferta de matéria-prima que o mineiro Hilton Mendes fundou, de forma visionária, a Casa das Artes. O pioneiro já tinha experiência com duas papelarias e uma gráfica e transformou sua paixão

Bruno Cavalcanti

pessoal pela arte em um novo negócio. O endereço escolhido foi uma loja no subsolo de um prédio na 102 Norte, até então uma região pouco habitada. E foi de lápis por lápis, régua por régua e tinta por tinta que cresceu.

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Em 2003, Hilton decidiu se dedicar aos outros negócios e vendeu a Casa das Artes para os filhos, Mariana e Hilton Júnior. O desafio estava na mão de dois jovens, à época, com 20 e 17 anos, respectivamente. “Vimos como uma oportunidade e passamos a nos dedicar para fazer dar certo”, revela Mariana. Inspirada pela criatividade da loja que agora era de sua propriedade, a dupla tinha a história e o legado do pai, mas sabia que precisava traçar seu próprio caminho. Mariana e Ton, como é chamado, arregaçaram as mangas e vestiram a camisa do negócio. “A cada loja que desocupava, íamos aumentando o espaço. Um passo de cada vez, até que, quando vimos, ocupávamos o andar inteiro”, lembra a empresária.

A Casa das Artes se tornou a queridinha dos artistas de Brasília e, mais do que isso, endereço certo para qualquer pessoa que em algum momento da vida queira deixar aflorar seu lado criativo. Por isso, em 2009, os proprietários investiram na expansão de um Centro Cultural, que, além de receber cursos e palestras, também é casa temporária para exposições de artistas. “Antes tínhamos apenas uma sala de aula, hoje são seis ateliês e mais de vinte cursos diferentes voltados para crianças e adultos”, comemora Ton, com orgulho. Dentre as 30 opções de cursos disponíveis, há pintura, desenho, aquarela, caligrafia, além de desenho preparatório para a Universidade de Brasília, com muitos aprovados. Além de pessoas com interesse em formação artística profissional, as aulas também são procuradas por quem quer utilizar a arte como terapia, aliada para tratamento de depressão e ansiedade, ou ainda uma nova fonte de renda. Como dizia Pablo Picasso: “Pintar é libertar-se, e isso é o essencial”. Quando Mariana e Ton falam sobre a trajetória do pai, a emoção toma conta. O primeiro sentimento é de gratidão ao patriarca por ter acreditado nos dois ao fazer a proposta da venda da empresa. Em seguida, orgulham-se de terem fortalecido a história da Casa das Artes, dando o fôlego que a nova gestão exigia. E não é diferente quando é a vez de Hilton falar dos herdeiros: “O que pensamos e projetamos, eles deram continuidade e fizeram muito melhor do que idealizamos na época”. No ano em que completa 41 anos de existência, a Casa das Artes ocupa hoje mais de 2 mil metros quadrados no mesmo endereço na 102 Norte, repletos de materiais de papelaria e artes plásticas. “Os quatro funcionários que tínhamos quando compramos a loja, hoje, passam dos 50”, ressalta Mariana. No processo de expansão, a marca também abriu outro ponto em Taguatinga, em 2012, para atender uma demanda sempre crescente dos clientes da região, além de uma loja virtual com entregas em todo o Brasil. Em uma história que se mistura com a da própria capital, a Casa das Artes tem orgulho de ser brasiliense nata e reforça o DNA das terras candangas para a importância de se expressar por meio da arte e da criatividade. @casadasartesoficial

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ÍCONES POR ISADORA CAMPOS @isadoracampos

FILANTROPIA HEREDITÁRIA

Fotos: Arquivo pessoal

FAMÍLIA HOFF

Júlia Bandeira

Brasilienses de alma compartilharam o sonho de Juscelino Kubitschek. Juntas, elas edificaram caridosamente boas ações e ergueram um legado de filantropia admirável por seus conterrâneos e perpetuado por suas famílias. Árduas voluntárias e líderes disruptivas, essas são notórias mulheres que galgaram suas significativas contribuições em projetos fidedignos que transformaram em alvorada de esperança a vida dos próximos em nossa Brasília.

A advogada gaúcha Ana Paula Hoff viu florescer a sua família na cidade. “Brasília inspira a filantropia. O espírito de solidariedade amplia o trabalho voltado para a comunidade, trabalho este tão bem exercido pelas igrejas, entidades sociais e sociedade civil”, diz Ana Paula. Para as três gerações das mulheres Hoff, Carla, a mãe, e Catarina, a filha, fazer o bem é “ser amigo, otimista e esperançoso. É levar palavras divinas para aquele sem fé, é sobrepor o amor a todas as coisas. É uma constante troca”, assegura Ana Paula. Enquanto para Dona Carla, “é dar uma outra cor à vida, de semear otimismo e plantar sementes de amor, paz e de bondade”, como na Associação Santos Inocentes e o Centro Cultural Dançar É Arte.

FAMÍLIA LIM Brasiliense, Sônia Lim personifica bondade. Devota de Nossa Senhora de Fátima, frequentou a emblemática Igrejinha da 108 Sul por anos. “Brasília é nossa casa, e sempre tem alguém que precisa de ajuda. A cidade tem projetos solidários de grande relevância social”, discorre ela, que contribui nas pastorais de sua paróquia e em diversas entidades, como a Vila do Pequenino Jesus. Inspirada nos seus ensinamentos, sua filha Isabella tem para si que o bem é fazer o bem ao próximo. “O que mais me admira na minha mãe é o seu amor pelo próximo”, celebra. “Ela me ensinou que bondade é de graça, e que todos temos que fazer a nossa parte. A mudança está em nós”, completa.

FAMÍLIA FERRER Doce e generosa, a cearense Gláucia Ferrer é reverenciada por suas ações solidárias, sobretudo em prol da organização Médicos Sem Fronteira. Casada com o ortopedista Marcelo Ferrer, firmou residência na cidade em 1980, onde constituiu sua família e educou os filhos. “Brasília é uma cidade que inspira a crescer, multiplicar, transformarse, ser melhor”, sintetiza. Mariana, a primogênita, aprendeu com Gláucia. Como médica, trabalha e ajuda pacientes que precisam em todos os momentos e situações, e instiga os valores de caridade na criação de sua filha Isabela. “A minha mãe é meu grande exemplo na vida. Ela brilha em todos os lugares. É atenciosa, valente e sempre presente. Me ensinou a ser livre, voar alto, saber sempre o caminho de volta para casa e ajudar o próximo”, declara.

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FAMÍLIA GONTIJO

FAMÍLIA MEIRELES Referência de religiosidade, a paranaense Andréa Meireles elegeu Brasília como seu lar, em 1981. À sua caçula, Vanessa, ensinou sobre filantropia. “Penso que Brasília sempre foi marcada por diferenças. Afinal, em um único lugar, conseguimos experimentar um pouquinho da riqueza de inúmeras culturas. Por outro lado, a desigualdade social também é facilmente percebida”, observa Vanessa, que ao lado do irmão, Geovani Filho, contribui com o bloquinho beneficente Adocica meu Amô. Nele, apenas em 2019, mais de cem toneladas de alimentos foram distribuídas. “Esse problema sistêmico, tão perto dos locais onde as decisões mais importantes para o País são tomadas, desperta em nós um dever de ajudar”, afirma a matriarca.

Acolhedora, a mineira Ana Maria Gontijo é celebrada como uma das mais expoentes anfitriãs da cidade. Em suas notórias recepções, sempre buscou enaltecer uma das muitas causadas sociais a qual é patrona. Mãe amorosa de três filhas, dedicou-se a transmitir a elas os valores norteadores de sua essência: fazer o bem. “Eu vivo através de minhas filhas e netas”, celebra a matriarca. Melissa, sua primogênita, acompanha sua peregrinação por instituições de caridade, como o Centro de Ensino e Reabilitação – CER. “A minha mãe ama ajudar o próximo. Ela me passou isso”, assegura Melissa, que anualmente em seu aniversário, agradece os presentes em troca de cestas básicas para destinar aos mais necessitados. “Ela que me ensinou a fazer filantropia. E busco transmitir às minhas filhas esses valores”, completa sobre as gêmeas Ana Maria e Ana Cecília, que já as acompanham no voluntariado.

FAMÍLIA ALCKMIN Energética e primorosa, Geiza Alckmin é devota de Nossa Senhora. A Ela, fez uma promessa pelo nascimento sadio de sua caçula Paula, razão pela qual ingressou na primeira instituição de caridade de Brasília, a Casa do Candango. “O trabalho na Casa do Candango me presenteou com a amizade de Lúcia Flecha de Lima, com quem convivi e recebi tantos ensinamentos e amor”, relembra saudosa da embaixatriz referência de filantropia. Em sua liderança, agrega o trabalho de sua primogênita Natália, avançando em seus trabalhos voluntários à frente de grupos jovens das igrejas católicas e na assistência aos brasilienses.

FAMÍLIA CAMPOS Gaúcha, radicada em Brasília, Ivonice Campos é líder de diferentes grupos voluntários em prol do empoderamento feminino e da diversidade cultural. Em Brasília, educou suas filhas e contribuiu com a assistência a mais de 200 mil famílias. “Brasília me cativou como a Capital da Diversidade Cultural do Brasil. Brasília recebe e a reconhece tal beleza e nos ensina a cultivá-la no dia a dia. Aqui, todos somos brasilienses de coração, oferecendo o nosso melhor pelo empreendedorismo social e filantropia”, assegura. Ensina diariamente sobre bondade e caridade à sua filha Isadora e neta Maria Isabel. Entre suas mais preciosas referências, tem a sua avó Carolina, com quem aprendeu a reconhecer os talentos das pessoas para identificar como pode atuar em parceria social e empresarial. Em Brasília, indica o trabalho do Instituto Proeza, presidido por Katia Ferreira, que oferece empreendedorismo social a mulheres vitimizadas e educação aos seus filhos.

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ARTIGO POR MÁRIO ROSA

Jornalista e escritor

FELICIDADE NA VIDA NÃO É PRA SER ENCONTRADA, MAS COMPREENDIDA

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felicidade? Não existe. Nunca existiu. Nem existirá. Então virastes um pessimista, um agourento, um sinistro, um nebuloso? Não! Estou mais otimista do que nunca! Olho tudo e me encanta como tudo é tão maravilhoso! E não há em mim nada de contraditório. A felicidade não existe porque não é algo que se encontra. É, antes, um encontro. Um encontro que se tem ou não se tem dentro de si mesmo. A felicidade não adianta procurar porque não está lá fora. Não adianta ir atrás dela. Ou ela está em alguém ou não estará em lugar nenhum da Terra. É algo que acontece nas nossas profundezas e não nas imediações. Por isso a felicidade não existe. Ela é uma para cada um e pode ter inúmeras definições. A minha felicidade eu persegui o mundo todo, peregrinei como um cavaleiro em busca do Graal, eu fiz de tudo, fui atrás de toda pista, para saber onde estava ela, afinal. Eu atravessei os precipícios, eu escalei as verticais escarpas, eu rocei a calha dos caudalosos rios e nada! Nada da felicidade eu encontrei, mas não desisti de minha busca. Eu não sabia, nem poderia saber àquela altura, que ela estava dentro de mim e que eu é que precisaria me encontrar para que chegasse ao fim minha procura. Cansado, calejado de tão vão e exaustivo esforço, um dia nem sei bem porque resolvi mudar totalmente meu plano de voo. Desconfiei de que a felicidade podia estar em mim. Mas, então, antes de achá-la, saí a procurar-me. Pois só me encontrando eu poderia detectá-la. E aí eu me conheci, foi a minha mais re-

veladora e surpreendente viagem. Quanta escuridão, quantos vazios. E fui me percorrendo, conhecendo o meus desvãos, arrombando meus porões, abalando-me em descobrir o que eu sou e sentindo subir na espinha eletrizantes calafrios. Encontrei a mim e agora era só procurar por ela. A felicidade estava aqui dentro. Mas onde? Como? O mais difícil da jornada eu já havia descoberto: eu mesmo, onde a felicidade reside, sua morada. Mas em que lugar de mim seria ela encontrada? Revirei-me de novo pelo avesso. E me senti feliz, pois me conheci melhor, mas nenhum sinal, nenhum vestígio dela eu vi dentro de mim. E foi então que iniciei um recomeço. Mudei totalmente de estratégia e passei a procurar de outro jeito. A felicidade não é algo que se encontra. É algo que se vive, sente-se, a gente simplesmente se dá conta. Agora eu a via em seu estado natural, rarefeito. E vislumbrava seu brilho especial, dar ao banal ares de perfeito. Felicidade é ir dormir e acordar no outro dia. E perceber que isso não é um fato consumado. É o primeiro milagre que acontece logo que o dia amanhece. Felicidade é toda a alegria, mas é também sobreviver ao que é triste. Felicidade é perceber o privilégio em tudo o que existe. Felicidade não é um momento, um lugar, nem uma coisa. Felicidade é uma percepção que vem de dentro e que transforma tudo e todos ao redor. Ninguém vê, ninguém toca, ninguém acha, ninguém perde. Felicidade é como uma alma que habita a vida. Felicidade a gente sente e está em nós. Não é pra ser encontrada. É pra ser compreendida.

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A CONQUISTA DO OESTE E

m 21 de abril de 1960, Juscelino Kubitschek apresentou ao Brasil o resultado concreto do ousado sonho de construir a nova capital do País no Planalto Central. Com o plano urbanístico de Lucio Costa e a arquitetura modernista de Oscar Niemeyer, uma cidade improvável ganhou vida. “Vocês vão ver os palácios de Brasília, deles podem gostar ou não, mas nunca dizer terem visto antes coisa parecida”, dizia o arquiteto. Se a capital se popularizou pela sua falta de esquinas ou tradicionais nomes de ruas, não há como negar que surpreender está em seu DNA. Desde os primeiros candangos e pioneiros que não mediram esforços para erguê-la até gerações contemporâneas embaladas pelos versos de Renato Russo: “nesse País lugar melhor não há”. Brasília é realmente diferente. O ano de 2020 marca o aniversário de 60 anos da menina dos olhos de JK. Se cronologicamente quem chega aos 60 se torna “idosa”, para uma cidade modernista parece mais adequado afirmar estar na “melhor idade”. Mais madura, mais segura e cada vez com sua própria marca, mantendo forte sua verve de ineditismo. Homenageá-la parece fácil diante de uma infinidade de monumentos e artes surpreendentes nesse museu a céu aberto. Objeto de estudo para arquitetos do mundo inteiro, Brasília já posou para muitas lentes e

em diferentes ângulos. Existiria uma forma inédita de retratar as curvas e retas que compõem a cidade? Ironicamente, a resposta foi encontrada em um dos elementos mais clichês de todas festas de aniversário: o balão. Não apenas um, mas uma abundância deles. E orquestrados com maestria num casamento com monumentos da cidade, por meio do trabalho de Flávia Junqueira. A convite da revista GPS|Lifetime, a artista plástica paulista desembarcou na cidade por três dias com o desafio de celebrar a cidade por meio de seu trabalho lúdico. Especialista em fotografia encenada, gênero que consiste em produzir cenografias para quadros fotográficos, e acostumada com a estética barroca de tantos teatros que já circulou pelo Brasil, Flávia enxergou na arquitetura modernista do Planalto Central uma lufada de ar fresco. Seu principal elemento, o balão, é responsável por trazer à tona a memória afetiva das festas de aniversário, da infância e, ao mesmo tempo, de felicidade. “Temporária, porque a gente infla o balão, mas depois de um tempo ele acaba. Ele é mágico, mas também é muito real”. Aliada à fotografia e sua conexão entre ficção e realidade, a arte de Flávia é, ao mesmo tempo, alegre, curiosa e encantadora. E, assim como Brasília, muito autoral. Os quadros estáticos escondem bastidores agitados, pensados e calculados nos mínimos detalhes. “Para a

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SESSENTA ANOS APÓS TRANSFORMAR A DENSA POEIRA VERMELHA DO CERRADO EM MONUMENTOS TOMBADOS, UMA CIDADE QUE SÓ EXISTIA NA MENTE DE SEU CRIADOR HAVERIA DE SER CELEBRADA ALHEIA A QUAISQUER ADVERSIDADES DOS FATOS. PARA TAL, O MAIS LÚDICO E ONÍRICO OBJETO. UM BALÃO VALE MAIS QUE MIL PALAVRAS. PARABÉNS, BRASÍLIA! POR MARCELLA OLIVEIRA E MARINA ADORNO

Catedral, escolhi cores que não competissem com o espaço, para não brigar com a arte dos vitrais, principalmente por ser uma igreja”, explicou. Os balões azuis, verdes e prata ornaram de forma harmoniosa com a arte de Marianne Peretti e com os anjos de Alfredo Ceschiatti. “Fomos os primeiros a colocar balões dentro da Catedral. A ideia de inserir um elemento que não é o usual traz um impacto muito forte”, disse. Seis horas separaram a chegada à Catedral, às 2h da madrugada de um sábado, até o clique final, feito por volta das 7h30 da manhã, antes que a igreja fosse aberta para visitação. Entre encher balões, amarrar fitilhos, estudar a posição de cada um, posicioná-los e, o mais emocionante, esperar que os raios de Sol penetrassem através dos vitrais. “Será inesquecível esse amanhecer dentro da Catedral”, confessou. Viagens anteriores da artista a Brasília inspiraram a escolha do Museu da República como outra composição para este ensaio. “Já tive quadros meus expostos aqui”, revelou. O branco do concreto da obra de Oscar Niemeyer contrastou com os balões em tons terrosos cuidadosamente escolhidos e posicionados de forma que compusessem com o espelho d’água uma cenografia perfeita. Um passeio pela cidade para escolher a terceira locação revelou um dos principais desafios das fotos externas: lidar com o vento. Por ser muito plana e com grandes espaços vazios – tudo milimetrica-

mente pensado por Lucio Costa e Nieyemer –, não foi fácil encontrar o cenário ideal. Debaixo de sol quente, o corredor que dá acesso ao Panteão da Pátria, na Praça dos Três Poderes, chamou atenção. “Interessante fotografar um monumento dentro de uma construção tipicamente modernista. Todos os espaços foram obras no Niemeyer, é a primeira vez em toda minha produção que reflito sobre esse tipo de arquitetura”, disse a artista, referindo-se àquela obra modernista simbolizando uma pomba, também criação de Niemeyer. “Uma escultura que nasce e se expande para os céus de Brasília”, explicou o arquiteto quando da sua criação. E mais uma vez a madrugada foi o momento para dar o start na produção. Numa praça escura, os primeiros balões começaram a ser inflados. Desta vez, a escolha foi por cores. Azul, amarelo, rosa, roxo, verde. Quando a escuridão foi sendo tomada pelos raios de sol, os balões já estavam sendo posicionados. Aos poucos, o colorido foi compondo a obra de arte com o concreto, o céu azul e o verde das árvores. E, assim como aconteceu com Brasília naquele 21 de abril de 1960, uma nova esperança parecia surgir. E, talvez, se Juscelino Kubitschek ali estivesse, poderia repetir sua célebre frase: “Tudo se transforma em alvorada nesta cidade que se abre para o amanhã”.

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RETRANCA

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ARTE

OLHARES QUE FLUTUAM UM CONCEITO QUE DIALOGA COM ARQUITETURA. UM FEITO QUE HÁ DOIS ANOS INSTIGA COLECIONADORES CONTEMPORÂNEOS. FLÁVIA JUNQUEIRA DESPERTA O MERCADO PARA O AUTORAL TRABALHO DE FOTOGRAFIA ENCENADA POR MARINA ADORNO « FOTO BRUNO LEÃO

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alvez seja a origem paulistana e a criação em meio à Selva de Pedra que despertaram em Flávia Junqueira o desejo de colorir o mundo. Ainda na infância esse traço se destacava em sua personalidade, pintar e desenhar estavam dentre suas atividades preferidas. Chegou a cursar dois anos de Direito, mas sua mente criativa e efervescente falou mais alto. “Eu sabia que queria era ser artista”. Durante a faculdade de Artes Plásticas na Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), chegou a se aventurar pela pintura, mas foi no caos multicolorido de uma profusão de balões que Flávia se encontrou. Um estágio na área de cenografia e referências de artistas como Jeff Wall e Cindy Sherman, além de Jeff Koons, que utiliza balões, a levaram a construir um trabalho muito autoral. Tudo começou com cenários com símbolos da infância e elementos de parque de diversões, como o cavalo de carrossel. Aos poucos, as bexigas foram aparecendo, bem timidamente. “Antes eu contava uma história. A sensação é que meu trabalho ficou mais limpo e menos narrativo. Um único elemento ganhou importância fundamental e começou a dialogar com espaços arquitetônicos”, relembra a artista plástica de 35 anos. As esferas coloridas e flutuantes elevaram e projetaram o trabalho de Flávia e se tornaram marca regis-

trada da artista. “A série dos balões realmente chama muito a atenção do espectador. Principalmente porque eu os coloco em espaços já conhecidos pelas pessoas, ou desejados por elas”, reconhece. A estreia desse projeto foi no emblemático Theatro São Pedro, em São Paulo, em 2018. Desde então, já contabiliza mais de 20 intervenções. Os mais marcantes? O Cristo Redentor, o Copacabana Palace e o Parque Lage, no Rio de Janeiro, e o Theatro da Paz, em Belém do Pará. Por opção da artista, cada uma dessas cenas é impressa e emoldurada apenas cinco vezes. Ela preferiu restringir a quantidade e imprimi-las em grande dimensão – 1,5 x 1,5 metros. Hoje, Flávia é representada pela Zipper Galeria, de SP; Quadra Galeria, do RJ; Reiners Art, em Marbella, na Espanha; e Raphael Macek Gallery, em Miami. Flávia tem obras no acervo de museus como o Museu de Arte Moderna de São Paulo e o Museu de Arte do Rio de Janeiro, no acervo do Palácio do Itamaraty e em coleções privadas importantes do Brasil, como Sérgio Carvalho e o Instituto Figueiredo Ferraz. Sem hesitar, Flávia garante que seu maior prazer é ver o resultado final do seu trabalho e receber o retorno dos clientes ou admiradores. “O espectador é o mais importante para o artista. Muitas pessoas me escrevem falando o quanto essas imagens impactam a vida delas”, conclui a artista.

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De um Villela e Carvalho dá pra ver muita coisa. Inclusive os 60 anos de história da Capital. Pelas mãos de grandes arquitetos e engenheiros foi concebida. Enxergaram nela um futuro para os anos que viriam. Temos a honra de ver e fazer parte dos 60 anos de Brasília. Em cada empreendimento, ao longo dos nossos 52 anos, entregamos sempre o melhor para nossa cidade.

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ARTE POR MAURÍCIO LIMA

A ARTE DA CAPITAL

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s responsáveis pela criação de Brasília entranharam arte de forma permanente no concreto da nossa cidade. Prédios, tesourinhas, monumentos, igrejas, tudo pensado por artistas para que a convivência com a arte fosse diária. Com essa atmosfera rica, a cidade atraiu muitos artistas durante sua história, alguns que vieram e ajudaram a moldar a cidade, como Burle Marx, Athos Bulcão e Marianne Peretti; já outros, de certa forma, foram influenciados por ela, como Cildo Meireles e Luis Alphonsus. Burle Marx foi o pai do paisagismo moderno. Diferentemente de outros profissionais da área que focavam no uso de flores exóticas para compor seus jardins, Marx trouxe para as praças a vegetação nativa do Cerrado. Integrou seu processo criativo a várias formas de expressão – seus projetos de jardins, de certa forma, assemelham-se às suas pinturas.

Celso Júnior

mauricio@galeriaclima.com.br

Praça dos Cristais, projeto de Burle Marx

Em Brasília, seus trabalhos estão por todos os lados, a Praça dos Cristais no Setor Militar Urbano, os jardins do Itamaraty, o jardim externo do Palácio da Justiça, o jardim externo do Palácio do Jaburu e os jardins da quadra 308 Sul. Um de seus maiores projetos está no Parque da Cidade, a Praça das Fontes, que infelizmente está abandonada. Já os grandes murais de Athos Bulcão se tornaram cartão-postal da cidade. O artista teve reconhecimento nacional após sua associação com Oscar Niemeyer, a partir de 1955. Essa parceria fez com que ele integrasse o grupo que enriqueceria culturalmente a nova capital do País. Diferente de muitos outros que passaram por aqui, Athos nunca deixou Brasília. Seus murais estão espalhados por toda a cidade, escolas, prédios, órgãos públicos, aeroporto e casas, mas alguns se destacam, como os azulejos da Igrejinha Nossa Senhora de Fátima e o painel do Teatro Nacional.

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Divulgação Luara Baggi

Luis Alphosus, Interstellar Travel Design, 2012

Painel de azulejos, Athos Bulcão, Igrejinha

Divulgação

Vitrais de Marianne Peretti, Palácio do Jaburu

Zero Dolar de Cildo Meireles, 1984

Marianne Peretti foi escolhida por Niemeyer para finalizar alguns dos principais monumentos da cidade. São de sua autoria os vitrais da Catedral de Brasília, são 2.240 metros quadrados que, na época de sua criação, foram desenhados pela artista em escala real. Os vitrais do Monumento JK e o do Panteão da Pátria e da Liberdade também foram feitos por Peretti. Sua obra hoje tem uma pequena participação no mercado de arte, mas seu legado em Brasília a faz ser uma das artistas mais vistas da cidade. As obras desses três grandes artistas certamente mudaram a capital e trouxeram uma convivência especial para seus moradores. Do outro lado, há também os artistas que passaram por aqui e foram de alguma forma influenciados. Luis Alphonsus vive hoje no Rio de Janeiro, mas em 1961, logo depois da inauguração, viveu aqui por algum tempo. Alphonsus, junto com Cildo, em 1969, fundou a Unidade Experimental do MAM. Ele também foi diretor do parque Lage de 1993 a 1998 e suas obras fazem parte de diversas coleções importantes, como a do Gilberto Chateaubriand, que tem mais de uma centena de obras do artista. Segundo o artista, “Brasília fez nossa cabeça. Havia uma ligação cósmico-planetária com a cidade que estava nascendo no meio do Brasil, com aquele céu enorme. Era impossível não sentir o impacto da cidade. Eu e o Cildo Meireles tínhamos certa preocupação em discutir a arte por um ângulo científico, mas havia aquele céu sobre nossa cabeça, um lance metafísico. Eu adorava Brasília. Creio também que a cidade impôs ao nosso trabalho uma escala planetária”. Cildo Meireles é considerado um dos artistas brasileiros de maior importância no cenário internacional das artes. Suas instalações estão montadas de forma definitiva em Inhotim, mas já passaram por grandes museus, como a Tate Modern de Londres e outros. Iniciou seus estudos em arte em 1963, na Fundação Cultural do Distrito Federal, em Brasília, orientado pelo ceramista e pintor peruano Barrenechea (1921). Meireles vive o início da ditadura na capital e a crítica social ao sistema passa a fazer parte fundamental de seus trabalhos. Hoje, Brasília aloja dezenas de artistas que depois de muito tempo conseguiram romper a barreira da cidade e levar seus trabalhos para outras capitais e países. GPSLifetime « 125

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PERFORMER

Pessoa não identificada vestindo Parangolé

A LEGÍTIMA BRASILIDADE DOS ANOS 60

INVESTIGAÇÕES GEOMÉTRICAS E RÍTMICAS REPRESENTAM O CARÁTER EXPERIMENTAL E RADICAL DE HELIO OITICICA, NAS QUAIS CORPO E ARTE TORNAM-SE O MESMO ELEMENTO POR PAULA SANTANA

“M

eu interesse pela dança, pelo ritmo, no meu caso particular pelo samba, me veio de uma necessidade vital de desintelectualização, de desinibição intelectual, da necessidade de uma livre expressão”, escreveu Helio Oiticica no texto A dança na minha experiência, de 1965. Este é também o nome da exposição que se realizará no MASP e no MAM Rio, inspirada pela produção de caráter experimental e inovador relacionadas ao ritmo, à música e à cultura popular, projetada pelo artista carioca no ano que data quatro décadas de sua morte (1937-1980).

Bólide caixa 22 “Mergulho do corpo”

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Metaesquema (1955)

Oiticica com fantasia de passista da Mangueira

participou de exposições que influenciaram críticos de Londres a Nova York, bem como os tropicalistas Caetano Veloso e Gilberto Gil. Era o período mais duro da ditadura militar no Brasil, em 1968. Foi quando Caetano exibiu a célebre bandeira apreendida, Seja marginal seja herói, de autoria de Oiticica. Na década de 1970, Hélio Oiticica viveu a maior parte do tempo em Nova York, onde foi bolsista da Fundação Guggenheim. Nesse período, fez experiências com filmes e dezenas de projetos ambientais, criações que o artista chamou de “quasi-cinema”. Oiticica retornou ao Brasil em 1978 e morreu em março de 1980 após sofrer um acidente vascular cerebral.

Metaesquema (1957)

A OBRA

Hélio Oiticica com a B33 Bólide Caixa "Homenagem a Cara de Cavalo" Seja marginal, seja heroi (1968)

Quando iniciou seus estudos com Ivan Serpa, em 1954, suas obras dialogavam fortemente com as experiências concretistas da época. A partir daí, Oiticica estabeleceu o corpo como motor de sua obra, que se abriu também para o contexto da rua e do cotidiano, apontando para uma relação entre arte e

vida. Para ele, o espectador era, na verdade, um participador colocado para circular o espaço, deixando de lado a postura contemplativa diante da obra. Nesse período, o artista criou alguns de seus trabalhos mais importantes, como os Bilaterais, Relevos Espaciais, Núcleos, Penetráveis e Bólides. Ao longo da década de 60, Oiticica integrou movimentos e

Ícone criativo das obras de Oiticica, o Parangolé o legitimou como um dos nomes brasileiros de maior projeção internacional nas artes visuais. É, segundo o artista, antiobra de arte. As capas, faixas e bandeiras confeccionadas com tecidos coloridos eram construídas, às vezes, com sentenças de natureza política ou poética, fazendo conexão com a dança e demonstrando a estreita relação que ele desenvolveu com a Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira.

Hélio Oiticica: A Dança na Minha Experiência @MASP

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MULTIMÍDIA EMBLEMÁTICAS OBRAS RARAMENTE EXIBIDAS REFORÇAM OS VALORES SOCIOPOLÍTICOS PONTUADOS PELA ARTE ENIGMÁTICA E VISCERAL DO CONTEMPORÂNEO ANTONIO DIAS POR PAULA SANTANA

O Poder

A RUPTURA DE PARADIGMAS

A

ntes de morrer, em 2018, Antonio Dias reunira uma coleção das próprias obras que recobria toda sua trajetória artística. O conjunto compunha-se tanto de peças das quais ele nunca havia se separado, como de outras recompradas de terceiros. Tratava-se, pois, de uma representação de si mesmo intencionalmente construída, mantida e guardada. Esta é a definição de Felipe Chaimovich, curador da inédita exposição Antonio Dias: derrotas e vitórias, no Museu de Arte Moderna de São Paulo. Autor de uma obra multimídia, carregada de engajamento social e político, de ironia e sensualidade, Dias traçou singular trajetória na arte contemporânea. Paraibano de Campina Grande, aprendeu técnicas de desenho com seu avô paterno até deixar sua cidade natal para viver no Rio de Janeiro, no final da década 1950. Na Escola Nacional das Belas Artes, aprimorou-se no processo da gravura e conservou consigo a essência de seu período de formação. Mesmo assim, em meio à solidificação de sua pesquisa estética, Dias marcou seu traço, a exemplo dos

trabalhos gráficos, produzidos entre 1964 e 1968, tomado pela urgência de se opor à Ditadura Militar. Histórias em quadrinhos da pop art o conduziram à Bienal de Paris, 1965. Anos depois, engajado na transgressora Tropicália e na exposição Nova Objetividade Brasileira, o artista despertou paradigmas nas artes visuais, incitando a participação do espectador e a tendência para iniciativas coletivas. Nos anos 1970, Antonio Dias mudou-se para Milão. Na cidade italiana, aproximou-se de expoentes da chamada arte povera (arte pobre, em português) e do conceitualismo europeu. Tais vanguardas registraram mudanças em seus trabalhos. Logo, as imagens viscerais foram substituídas por obras rígidas, que acabaram por intensificar o seu carácter enigmático. “Dias teria sido o responsável por introduzir, nessas investigações da vanguarda, uma agenda de questões éticas, sociais e políticas que conduziram toda uma geração a se reposicionar em função da realidade de seu tempo e lugar”, afirma Chaimovich.

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COLEÇÃO

Saci e três estudos de bichos

Autorretrato de cabelo curto

NA EFERVESCÊNCIA OBRAS PRATICAMENTE DESCONHECIDAS DE TARSILA DO AMARAL CHEGAM AO PÚBLICO. DE DESENHOS ACADÊMICOS A TRAÇOS CUBISTAS, TODO O EQUILÍBRIO E SIMPLIFICAÇÃO DA MODERNISTA POR PAULA SANTANA

O

s danos causados pelo tempo de um raro composto de Tarsila do Amaral não evitaram que esboços e estudos da artista pudessem ser aclamados nos dias de hoje. 203 desenhos. Foram cinco décadas engavetados em uma coleção privada. A única aparição se deu em 1969, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Produzidas entre 1910 e 1940, as obras registram as várias fases da artista e apresentam temas recorrentes em sua linguagem, como as vistas de viagens que ela fez Brasil afora, desde as bucólicas cidades históricas mineiras até suas andanças pela Europa e passagem pelo deserto do Egito.

Tiradentes (2ª versão)

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Bicho barrigudo

Original da ilustração Beatriz lendo IV

de levar consigo cadernos de bolso coincidia com as recomendações dos mestres, que sugeriam que os aprendizes tivessem sempre um deles à mão para anotar, de forma ligeira e sintética, as cenas e os objetos que chamassem atenção», conta Regina Teixeira de Barros, pesquisadora que assina a curadoria ao lado da historiadora Aracy Amaral, detentora do acervo. Em sua trajetória, após sua iniciação sistemática em São Mulher de máscara

“Essa coleção, praticamente desconhecida, tem um valor inestimável para memória da cultura brasileira”, diz Ricardo Resende, curador do FAMA Museu – Fábrica de Arte Marcos Amaro, instituição sediada em Itu, cidade vizinha de Capivari, onde nasceu a artista, e que abriga a exposição Estudos e Anotações. Acadêmica, Tarsila eternizava, com o lápis e um pedaço de papel, desenhos das paisagens por onde passava. «O costume

Estudo de A Negra

Paulo, Tarsila seguiu para Paris, onde residiu de 1920 a 1922. Na capital francesa, deu continuidade aos estudos e atuou com a pintora Emile Renard, quando surgiram obras mais soltas e vigorosas. De volta a São Paulo, no efervescente ano de 1922, Tarsila, que já conhecia Anita Malfatti, foi apresentada aos artistas, escritores e intelectuais que haviam participado da Semana de Arte Moderna, como Mário de Andrade (1893-1945), Menotti Del Picchia (1892-1988) e Oswald de Andrade (1890-1954). O contato com os jovens modernistas impulsionou a artista a buscar novos horizontes para sua obra e, ao regressar a Paris, ampliou seu repertório plástico, bebendo na fonte de mestres cubistas. O resultado deste período culminou na teoria dos contrastes plásticos ou na geometrização no contorno das figuras. “Uma ginástica de depuração, equilíbrio, construção e simplificação”, complementa Aracy. GPSLifetime « 131

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PALCO

UMA MÁQUINA DE DANÇAR DESENHAR, PERFORMAR, COREOGRAFAR. TRISHA BROWN, BAILARINA MAIOR DA VANGUARDA SETENTISTA, É CELEBRADA PELA PRIMEIRA VEZ NO BRASIL POR PAULA SANTANA

T

risha é o nome artístico de Patricia Ann Brown, nascida em Aberdeen, nos Estados Unidos. O contato com a natureza permitiu que na infância explorasse florestas, praticasse esportes e pescasse com o pai. Ainda nos anos 1940, fazia aulas de balé, sapateado, jazz e danças na Califórnia. Foi aluna de Ruth Beckford e Louis Horst, um dos principais nomes da composição coreográfica na dança. Recém-graduada, não demorou para se esgotar do método convencional. Passou então a se dedicar à improvisação memorizada, que foi um divisor de águas em sua carreira. Tornou-se uma de suas técnicas fundamentais e a marca distintiva na década de 1970. Brown fez parte de uma geração de artistas que contribuiu para a introdução de corpos não habituais na dança, a criação de manifestos políticos nas ruas e a utilização da fala e da voz como parte da dança. Já em Nova York obteve a visão mais ampla da dança

Série Set and Reset

Série White out

Locus

para além do teatro, momento em que foi substituído por ruas, telhados, fachadas de prédios, estacionamentos, parques e árvores. Foi no cenário urbano de Nova York que Trisha apresentou uma de suas coreografias mais icônicas, Woman Walking Down a Ladder, em 1973, na qual desce verticalmente por uma escada no topo de um edifício. Em Floor of the Forest, da mesma década, a dança consiste em vestir e desvestir roupas amarradas em uma grade a mais de um metro do chão – obra que será ativada semanalmente na exposição do MASP, em sua primeira exposição individual no Brasil, com curadoria de André Mesquita. “Dançar é sequenciar e expressar movimentos. Coreografar é projetar a dança, ou seja, organizar essa sequência. Trisha fazia anotações e inúmeros desenhos para sistematizar os gestos do corpo. Com o tempo, ela passou a aproximar a dança ao cotidiano”, explica Mesquita. Trisha colocava os padrões em cheque. Em If You Couldn’t See Me, 1994, a coreografia é dançada de costas para a plateia, fazendo com que a parede no fundo do palco desapareça. Seu processo de pesquisa criou também um método arquivístico, e detalhes das coreografias foram registrados em anotações, cadernos e diários durante anos, ou desenvolvidos como desenhos e diagramas. Trisha aposentou-se em 2008, mas continuou a coreografar para a Trisha Brown Dance Company (TBDC) até 2011. Ela faleceu em 2017.

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TETÊ COM ESTILO POR MARIA THEREZA LAUDARES mtlaudares@gmail.com – @mtlaudares

A CONCRETUDE DA MODA BRASILIENSE

A

moda e Brasília sempre andaram de mãos dadas. Tudo é monumental, a arte em conjunto com a arquitetura promove o encontro e é fácil afirmar que por aqui qualquer ocasião se torna um evento. E, sendo evento, tem quer ter moda. Desde sua inauguração, a capital desafiou a moda com sua terra vermelha que tingia as roupas e seu barro que afundava os saltos dos sapatos. O jornal Tribuna da Imprensa chegou a publicar com certo sarcasmo: “As cores predominantes da moda feminina em Brasília serão areia, brique, bege e marrom”. Para o baile inaugural de Brasília, a primeira-dama Sarah Kubitschek encomendou a criação do seu vestido ao estilista Denner Pamplona de Abreu. Elaborado em 12 metros de organza de seda pura branca, o vestido recebeu bordados florais feitos em fio de ouro dourado, cristais, vidrilhos e lantejoulas. Tecido e adornos vieram da Casa Canadá, referência do luxo no Rio de Janeiro. Famosas por sua originalidade e sofisticação, as criações de Denner se tornariam habituais na alta sociedade da época. D.ª Sarah, conhecida por sua elegância na medida certa, costumava vestir tailleurs. Chapéu e luvas eram os pontos de destaque, imprimindo assim seu estilo como primeira-dama do Brasil. JK recomendava que nós brasileiros deveríamos nos vestir bem e preferencialmente de algodão. Denner e Clodovil já se destacavam como nomes importantes da moda nacional. Na época, a loja Casas Pernambucanas era a única que fornecia tecidos na capital. As

candangas, mulheres que vieram para Brasília durante sua construção, ficaram conhecidas por seu espírito destemido. Os desafios impostos pelo imenso canteiro de obras fizeram da calça comprida uma peça marcante no guarda-roupa feminino. A revista Manequim, lançada em 1959, fez com que a moda entrasse nos lares de forma mais acessível por meio de seus moldes. Com a saída de Juscelino e D.ª Sarah, a moda ganhou uma nova musa inspiradora na figura da primeira-dama Maria Thereza Goulart, mulher do presidente João Goulart. O gosto pela estética de Maria Thereza chamou a atenção da imprensa internacional, que considerava sua beleza concorrente àquela de Jackeline Kennedy. Maria Thereza elegeu Denner seu conselheiro e, assim como Jackie fez em seu país, usou sua imagem para apoiar e divulgar a indústria da moda nacional vestindo-se com etiquetas brasileiras. O Brasil do futuro acompanhava o crescimento de uma também nova faixa social com melhor disponibilidade econômica, disposta a consumir moda, a “grande classe média”. Os anos 60 são considerados como o ponto de partida de uma cultura de moda brasileira, um vestuário original confeccionado em território nacional e divulgado por meio de publicações também nacionais. Nascia a publicidade de moda impulsionada especialmente pela Rhodia, que lançava suas inovações têxteis sintéticas, associando-as a signos de modernidade. Brasília era, nesse período, o maior símbolo de modernidade

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Otto Stupakoff

Oscar Niemeyer fotografado por Otto Stupakoff junto com modelos para campanha da Rhodia, em 1961

do País e logo foi identificada como cenário ideal para os recém-criados editoriais de moda. Os anos 70 e 80 fizeram a moda nacional se expandir. Se inicialmente era preciso ir ao Rio de Janeiro ou a São Paulo para ter acesso às novas tendências da moda, foi a partir dos anos 70 que a cidade viu surgir um bom número de lojas multimarcas, as quais contribuíram para formar o estilo local. As boutiques se concentravam nos comércios das entrequadras, em especial na Asa Sul, onde se encontravam a Bub, Margarida, Andrea calçados, Ki- Graça... lojas que fizeram a história da moda local. Um dos exemplos mais significativos é a Magrella, a maior loja multimarcas em Brasília, nascida da determinação da empresária Cleuza Ferreira, que abriu sua primeira loja em 1969. Cleuza, hoje junto com sua filha Juana, orgulham-se por receberem a terceira geração de suas clientes. A partir dos anos 80, surgiram as marcas brasilienses. Em 1982, da união do nome de seus filhos, Juliana, Karina e Felipe, Marli Lima abriu a Jukaf, que aos poucos tornou-se conhecida por sua modelagem moderna. Em 1989, nascia a Avanzzo, fruto de um projeto de fabricação de camisetas do casal Daniella e André Naegele. Nágela Maria ganhou fama e transformou seu ateliê de costura em loja na Asa Sul ao despontar como estilista de looks festivos e de casamento. O linho e a seda, tendência marcante da década de

80, encontraram clientes fiéis, pois o vestuário de trabalho faz parte da vida da mulher de Brasília. Os “terninhos” até hoje ocupam um lugar especial no guarda-roupa local, sofrendo alterações na modelagem, corte e tecidos para acompanhar o tempo que passa. A partir daquela época, as roupas em couro, camurça e chamois caíram no gosto das brasilienses, pois atendem ao clima desértico da cidade, que sofre com temperaturas altas ao longo do dia e baixas à noite. O minimalismo na moda dos anos 90 casou perfeitamente com as linhas retas, pureza das formas, estrutura calculada e ausência de volumes excessivos da cidade. Mais uma vez a capital se prestou à moda como cenário de modernidade. O conjunto arquitetônico de Niemeyer foi e sempre será para a moda mundial um importante referencial estético. Nesta época, Brasília ganhava uma associação, o Grupo Brasília de Moda, vinculado a Fecomércio, que reuniu e capacitou marcas locais com cursos, desfiles e viagens internacionais de pesquisa de campo. Com a chegada do século XXI, o sonho de um país mais rico e mais justo parecia estar ao alcance das mãos. Em 2005, a capital entrou para o calendário nacional das semanas de moda por meio da Capital Fashion Week, um evento anual idealizado pela empresária Marcia Lima. Uma das iniciativas de destaque foi o programa desenvolvido com o estilista Jun Nakao, que visava reconhecer as criações locais e seus novos talentos. Nessa época surgiu um dos trabalhos assistenciais mais bem-sucedidos da capital. Fundado por Katia Ferreira, em 2004, o Instituto Proeza une moda e a tradição feminina do bordado, que são transformados em vestuário e comercializados sob a marca Apoena. Em 2006, foi a vez da empresária e jornalista Paula Santana lançar o Brasília Fashion Festival, um evento que combinava moda, música e inclusão social, sob a curadoria do estilista Ronaldo Fraga. O universo da moda de Brasília evoca a criatividade multidisciplinar, fruto da mistura de referências que a cidade reúne. Hoje aos 60 anos, Brasília ocupa seu lugar na moda por meio de seu estilo singular. Brasilienses, candangos, pioneiros... todas aquelas que escolheram a cidade como morada assumem o frescor da monumental arquitetura como um dever de preservação pessoal. A preocupação estética é fruto do atento cuidado consigo mesmo. GPSLifetime « 135

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ENTRE NÓS POR PATRICIA JUSTINO

pattyjustino@hotmail.com – @patjustinovaz

NEW HOUSE Os empresários Flávia e Lucio Albuquerque, herdeiros da matriarca Celma Albuquerque (nome de peso no mercado das artes em Minas Gerais), há anos investem num movimento que divulga os frutos da produção contemporânea brasileira. Em março desse ano, nasceu o mais novo projeto da dupla: a Casa Albuquerque Galeria de Arte. No coração do Lago Sul, os sócios montaram um belo espaço com o intuito de promover o amadurecimento e a descentralização do mercado de artes no Brasil. O local vai promover debates, a fruição e possibilidades de aquisições de obras de novos artistas, como também de nomes já consagrados. Os trabalhos fotográficos de Claudia Jaguaribe e as pinturas de Mariannita Luzzati celebraram o open house, com belas perspectivas sobre a natureza e a relação do homem com o meio que o abriga. www.galeriaca.com

ULTRA GYM Uma das paixões dos brasilienses é a prática de atividades físicas; não é à toa que esse é um dos motivos que levaram um grupo de investidores a fundar em Brasília a O2 Fitness, uma nova modalidade de academia que já está sendo chamada de Ultra Gym. Ao tornarse um membro, o assinante tem acesso a um centro de treinamento high-end que agrupa num sofisticado espaço (projeto do arquiteto Marcos Dourado) atividades com programas exclusivos, aparelhos tecnológicos de última geração, amenities e serviços diferenciados que mais se assemelham aos de hotelaria de luxo. Um conceito inovador, em que zonas de treino personalizadas foram criadas para atender de forma completa os mais variados gostos e necessidades físicas: Burn, Moove, Cycle (com gameficação), Zen e Fight. Cada ambiente conta com sonorização, iluminação e climatização planejadas cientificamente para melhorar performances e permitir experiências sensoriais. www.o2fitnessbsb.com.br

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COM AMOR E SABOR Aumenta a cada dia a procura por uma alimentação saudável, com sabor e consciência. Para quem vive em Brasília e pensa que essa realidade é ainda muito distante, o restaurante The Plant veio para mudar esse conceito. Os sócios e amigos de infância Davi Neves e Ruy Souza já eram empreendedores quando A Bananika é uma lojinha infantil fofa e cheia de charme que decidiram se dedicar a pesquisas de orgânicos e vem conquistando uma clientela diferenciada. A loja, na 205 produtores locais que valorizassem os recursos Norte, agrega em seu espaço um mix de produtos especiais naturais. Junto com o chef Vitor Luiz, criaram um que unem o lúdico com beleza e praticidade. Lá as novidades menu democrático e nutritivo que serve desde um chegam toda semana e vão desde roupinhas de design que reforçado café da manhã ou brunch, permitem as crianças brincar à vontade, objetos passando pelo almoço e o lanche interativos para decoração, livros infantis, da tarde (com os famosos além de brinquedinhos que proporcionam bowls de frutas, entre um desenvolvimento mais criativo e outras leves e apetitosas muitos deles até mesmo tornam as opções), além do crianças mais independentes. É jantar, que dispõe, um lugarzinho mágico onde dá inclusive, de uma A concept store Q.u.a.d.r.a e a Wine Consulting vontade de levar tudo para excelente carta (consultoria especializada em vendas e serviços do vinho) casa: meias coloridas para toda de vinhos, drinks uniram-se para proporcionar a pequenos grupos de mulheres a família, chapéus, presentes ou cervejas experiências inéditas sobre o mundo dos vinhos. O objetivo cheios de significados e artesanais. Tudo do curso é unir o aprendizado teórico, degustações de rótulos muitos acessórios lindos isso agregado a especialmente selecionados e harmonizações gastronômicas, para deixar os “lookinhos” uma dinâmica de forma leve e descontraída num ambiente que respira moda, divertidos e cheios de graça. de atendimento arte e design. Cada módulo do curso é composto por quatro Não deixe de conhecer! rápida e gentil. aulas sob o comando do sommelier Sérgio Pires, membro da @_bananika www.theplantbr.com associação de enólogos do Brasil e professor de cursos de formação de sommelier na capital. A chef Patricia Leal dirige toda a parte de gastronomia do curso, elaborando pratos para a perfeita harmonização que propõem o professor Sérgio junto com a expert em vinhos Lara Torres, diretora da Wine Consulting. Informações e Sabe aquelas ideias incríveis que inscrições para a próxima turma pelo quando a gente bate o olho já pensa: telefone (61) 3248-2840. como não descobri isso antes? Assim são as criativas e fofas invenções da Remembear. Através de objetos ou papelaria especializada, a marca conta estórias e traduz os sentimentos dos clientes de forma muito especial. Um dos últimos lançamentos que já virou sucesso na loja física e virtual é a “caixa do agora”. Feita de acrílico transparente, minimalista e elegante, a caixa é indicada para ficar no centro da mesa nos momentos das refeições. Ela tem plaquinha personalizada com frase sugerindo guardar naquele momento os celulares ou tablets para se conectar com o que há de mais valioso na sua vida: a família. Como tudo o que fazem, linda e cheia de emoção!

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Mulheres fantásticas. Surrealismo. Ninfas. Neoclassicismo. Damas barrocas. Liberdade. A altacostura pouco se remete à sua origem opulenta calcada em contextos palacianos. Mais que volume e drama, referências históricas se valem da arte, da filosofia, do contentamento ou a ausência dele. Costuras preciosas acenam para o afamado show que a couture provoca no imaginário (PS)

Schiaparelli

Maison Margiela

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OURO Colar em ouro amarelo, Tiffany & Co. - R$ 24 mil Colar Guia Meu Coração em ouro 18K com quartzo incolor e quartzo rosa, Carla Amorim - R$ 12.080

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Vamos pensar em joias sustentáveis, em joias que invoquem o sagrado, em joias que tenham repertório. É tempo de ter coisas que sejam importantes para a sua história. Protagonizam este momento, pedras, maximalismo, correntaria, assimetria

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MODERNISMO VALE OURO Quando a Grifith chegou a Brasília, agregando ainda mais sofisticação ao universo da joalheria, a intenção da label paulista era criar uma coleção que homenageasse a capital, cujo design se remetesse claramente à sinuosidade dos monumentos de Oscar Niemeyer. Estava lançado o desafio para a equipe criativa. Afinal, fazer com que o ouro se convertesse numa arrojada estrutura arquitetônica exigiria tempo e pesquisa. Foram seis meses. O resultado se converteu em peças em 3D, com volume, plástica e profundidade. Modernismo puro. Estava pronta a coleção Squadra 61, dividida em Catedral, Cobogó, Palácio, Rígidos e Ponte. Leve e fluida. Desde então, as peças se tornaram desejo para todos aqueles que amam a capital e se esmeram em demonstrar o genuíno sentimento.

Agência Brasília

INSPIRAÇÃO

Catedral – O colar Catedral teve sua forma em concreto replicada fielmente ao metal nos três tons do ouro

Agência Brasília

Palácio – Inspiradas no Palácio da Justiça, as joias trazem leveza visual, especialmente no movimento das águas caindo das calhas Pulseiras e anéis dão vida ao concreto gótico

Zuleika de Souza

Rígidos – Pensar em arquitetura modernista é se remeter a formas retas, simétricas, direcionadas. Todas precisaram de um esquadro para serem finalizadas

Cobogó – A estrutura vazada tão simbólica para a capital serviu de inspiração para inúmeras peças

Ponte – Brincos e colares revelam a complexidade do design da Ponte JK, cujo projeto de Alexandre Chan rendeu diversos prêmios à capital

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Dior Miu Miu

Chanel

Céline

THE SHOW MUST GO ON

Hermès

O sentimento de tempos sombrios impactou a passarela parisiense no encerramento da última temporada de moda em plena efervescência pandêmica. O olhar se distanciou ainda mais de tendências e desviou-se para pessoas. Roupas servem como porta-vozes de angústias ou euforias. O gênero que tanto dominou as questões culturais tornou-se apenas uma situação social. Prevaleceu o viés do empoderamento, do efeito superativo, envoltos na sobriedade e no rústico (PS)

Lacoste

Givenchy

Kenzo

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Isabel Marant

Balenciaga

Louis Vuitton

Valentino Lanvin

Paco Rabanne Saint Laurent

ChloĂŠ Altuzarra Giambattista Valli

Nina Ricci

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ANIMAL

SOBRE SERPENTES

Bottega Veneta - preço sob consulta

A bicharada entra e sai das temporadas. Já não se importam com estações. Estão sempre prontas para um passeio pela floresta da moda. Em savanas, ora os selvagens buscam sua caça, ora as rastejantes saem da toca. O momento é do python (PS)

Balmain - R$ 9.995

Balenciaga - preço sob consulta

Burberry - R$ 21.559 Louis Vuitton - R$ 25 mil

Dries Van Noten

Saint Laurent - preço sob consulta Dolce & Gabbana - preço sob consulta Chloé - preço sob consulta

Aquazzura - preço sob consulta

Jimmy Choo - R$ 8.562

Blue Bird - R$ 1.698 Versace - R$ 14.079

Dolce & Gabbana - R$ 6.900

Paris Texas para Farfetch - R$ 3.004

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Dolce & Gabbana R$ 7.900

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TREND

Bottega Veneta

Alberta Ferretti

ABALO FASHION SÍSMICO

Salvatore Ferragamo

Moncler Genius

Jil Sander Fendi

Prada

Missoni

Marni

Versace Etro

O epicentro têxtil da Europa, Milão, viveu dias apocalípticos. Qual o sentido do vestir diante da factualidade? Um reverso inesperado. Estranhamente enérgico, o feminino se reinstala na busca imediata pela atemporalidade. Nessa nova era, a elegância há de ser adaptada e precisa ser duradoura. A moda segue hipnótica, mas atenta à saída da bolha que sempre a envolveu (PS)

Giorgio Armani

Gucci

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ANIMAL

EVERYTHING IS GONNA BE ALRIGHT

Chanel - preço sob consulta

Para um período angustiante, cores. Vivas. Intensas. Sim, excitantes. Calmaria não é permitida agora. Desconcertar-se, eclodir. O colorful já estava pautado pelas passarelas europeias, mas fez-se mais que necessário. O simbolismo da esperança da nova época (PS)

Valentino - R$ 12.400

Bottega Veneta - preço sob consulta

Dolce & Gabbana - R$ 12.900 Lowe - preço sob consulta

Dior - R$ 20.500

Balmain - preço sob consulta MSGM

Fendi - preço sob consulta Saint Laurent - R$ 21.559 Stella McCartney - R$ 6.068 Burberry - R$ 6.391 Louis Vuitton - R$ 13.200

Casadei para Farfetch - R$ 9.418

Manolo Blahnik - R$ 6.221 Nodaleto - R$ 4.566

Balenciaga - preço sob consulta

Jimmy Choo para Farfetch - R$ 3.139

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HOMEM

A UTILIDADE DA ESTÉTICA Ser funcional é ter estilo. Esta passa a ser a nova ordem das roupas masculinas. A atmosfera pede minimalismo, mas que pode ter o patchwork de cores, estampas e texturas. O ano 2000 tornou-se vintage e permite visitas. Vale ser techwear. E estar atento à sustentabilidade ambiental e social é uma atitude esperada (PS)

Burberry - R$ 14.755

Dolce & Gabbana - R$ 4.401 Louis Vuitton - R$ 15.300

Paul Smith - R$ 12.009 Acne Studios

Fendi - preço sob consulta

Vans - R$ 904

Dior - preço sob consulta

Valentino - preço sob consulta

Louis Vuitton - R$ 3.700

Prada - R$ 3.450 Gucci - R$ 9.780

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ATITUDE

O PODER DA TRANSFORMAÇÃO A busca em recriar o mundo. Afinal, ele não parou. O passado tornou-se uma interessante melancolia e o futuro não passa de projeção. A experiência do presente que se transpõe a cada instante exige a atitude de reinventar o universo com ou sem trauma. Na moda masculina há doçura. E otimismo (PS)

Off-White

Loewe Valentino

Givenchy

Giorgio Armani Balmain DSquared2

Prada

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Rick Owens

Dries van Noten

Marni

Etro Gucci

Vetements

Hermès

Junya Watanabe Dior Homme Fendi

Balmain

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ATIVISMO

A MODA, AFINAL, NÃO PASSA DE UMA EPIDEMIA INDUZIDA George Bernard Shaw, escritor

Issey Miyake

O MOMENTO EM QUE A INDIVIDUALIDADE DEIXA DE FAZER SENTIDO E A BUSCA É PELA UNIDADE, A MODA SURGE COMO O ATIVISMO DO AGORA POR PAULA SANTANA

O

que vem antes de um fashion show, que dura um quarto de hora, demanda meses de trabalho, dezenas de profissionais em ateliês, movimenta todo o trade e gera a expectativa no retail a partir do impacto provocado na passarela. Uma ardilosa engrenagem. Anna Wintour defende que “a moda é sempre sobre o momento. Se for cedo, ninguém entende. Se for tarde, todos esque-

cem”. Mas, antes do mise-en-scène, o que deve confluir na mente de um estilista? Suas inquietações, a expectativa do mercado, o desejo do consumidor... tudo isso ebulindo desde que o desfecho seja o novo. Ao final, há de imperar o visceral, a paixão, pois são desses alicerces que a moda se sustenta.

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O californiano Rick Owens, sempre indecifrável, disse nesta última temporada: “Eu me vejo equilibrando um mundo restrito em sua estética. Tem que haver pessoas como eu, que têm outras sugestões”. De fato, o caminho da moda não pode ser espelho das aflições sociais tão somente, mas, sobretudo, ela tem que fazer sentido. Lembrando que a moda não se sente pressionada em dar respostas. Muitas vezes, basta o questionamento, que o desconforto já é fruto produtivo. O preto de Balenciaga é o código de tempos sombrios? Ou as cores de Issey Miyake são movimentos da liberdade? John Galliano, no desfile de Maison Margiela, disse, ao sobrepor

Maison Margiela

Rick Owens Sies Marjan

Richard Quinn

recortes de roupas, que os esforços agora representam a necessidade imediata da mudança social... iniciando uma nova consciência. Tudo isso foi provocado, exposto aos flashes da passarela nesta estação europeia cercada de máscaras pré-pandemia. O ativismo fashion, elemento necessário para intelectualizar a moda no equilíbrio de sua adorável frugalidade, impressiona, mas somente isso. Porque, neste momento, toda e qualquer experiência imersiva que conglomerados estejam vivendo na manobra pela sobrevivência nada mais são que sucessivas tentativas de erros e acertos no destino ao desconhecido. É a tendência do agora.

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Foto: Luara Baggi

VIDA E OBRA

NO PONTO MAIS ALTO DO PLANALTO CENTRAL ESTÁ FINCADO O MEMORIAL JK. O MONUMENTO NÃO É APENAS UM MAUSOLÉU. TRAZ A POSTURA DO GRANDE ESTADISTA QUE CONSTRUIU A NOVA CAPITAL COM SACRIFÍCIO E DESTEMOR POR MARCELLA OLIVEIRA

MEMÓRIA EM CONCRETO E MÁRMORE 154 « GPSLifetime

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Tony Oliveira/Agência Brasília

“SABE POR QUE O PROJETO FOI APROVADO? ELES PENSAM QUE EU NÃO VOU CONSEGUIR EXECUTÁ-LO”

A Câmara Mortuária com painel de Athos Bulcão

O

cenário de terra vermelha do Planalto Central aos poucos foi sendo tomado por cimento e tijolo. Com facões em punho, candangos desbravavam Brasília. O ponto mais alto da região, a 1.172 metros acima do nível do mar, era, à época, uma espécie de mirante. De lá, Juscelino Kubitschek observava a cidade que idealizou ganhar vida em meio ao Cerrado. Era onde levava apoiadores e incrédulos do projeto da nova capital, que podiam até a olho nu não enxergar nada, mas eram tomados pelo entusiasmo de JK em imaginar a nova capital. Assim como aquele terreno em ebulição no período das obras, o Memorial JK proporciona uma reflexão profunda sobre um dos mais marcantes momentos da história do Brasil. Mas antes mesmo de representar um espaço geográfico que abriga documentos, objetos e a história de Brasília, hospeda a alma desbravadora do maior estadista que o País já teve. Talvez por isso Oscar Niemeyer tenha projetado o início da experiência com uma rampa que leva a um subsolo. Fotos gigantes da trajetória do ex-presidente

nos fazem imergir num universo histórico. O silêncio desperta uma sensação de voltar no tempo. O clima, a decoração, a roupa e o comportamento dos funcionários parecem avivar uma curiosidade sobre quem foi aquele homem ousado que decidiu criar, do nada, uma nova capital. Antes de ser JK, era Nonô, o menino nascido em Diamantina (MG), que trabalhou como telegrafista para se manter enquanto cursava Medicina. O diploma da Universidade de Minas Gerais, recebido em 20 de dezembro de 1927, e o anel de formatura em ouro e pedras preciosas registram o feito. O estetoscópio, o aparelho de pressão e o estojo com instrumental cirúrgico narram o período em que JK exerceu a carreira médica, com especialização em urologia. Da vida pessoal, a relação com dona Sarah é eternizada por meio das alianças e da certidão de casamento, que chama a atenção por um detalhe curioso: um erro na data de nascimento de Juscelino, grafada como 12 de setembro de 1900, quando na verdade o ex-presidente nasceu em 1902. Foi preciso uma retificação.

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Tony Oliveira/Agência Brasília Agência Brasília

Antes mesmo de ser imerso no universo político de JK, a imagem da bandeira que cobriu o caixão no seu velório e os objetos – documentos, relógio e até uma caderneta telefônica – encontrados com Juscelino no local do acidente que resultou em sua morte, em 1976, nos contam o fim da história. Mas o enredo está longe de ter um desfecho. Há um interesse em desbravar mais daquele homem. Se pudéssemos definir JK em uma palavra, seria “diplomacia”. Essa característica nata é refletida em diversos ambientes. A começar pelo retrato em tamanho real que o artista Cândido Portinari fez de JK. Ou pela raríssima coleção ilustrada das obras de William Shakespeare, presente da Rainha Elizabeth II. Ou ainda pelas fotos rodeadas de intelectuais, políticos, empresários, artistas que estão expostas em grandes formatos e dispostas pelo segundo andar. “Sou conciliador por natureza”, dizia. Ninguém duvida. Diferentemente de um museu que exibe seu acervo em ambientes claros e iluminados, o memorial é escuro, numa proposta bem intimista e, porque não, provocativa. Num convite à introspecção, a ideia é proporcionar uma reflexão profunda sobre o universo desse homem tão admirado.

Mais do que um passeio visual, visitar o Memorial JK é uma viagem no tempo para tentar entender a mente genial do ex-presidente. E, acima de tudo, a sua ousadia. “Quando um governante está determinado a realizar uma obra, não deve procurar recursos para a execução nos cofres públicos, mas na sua própria cabeça”. Conhecer mais de JK nos apresenta outra característica: a coragem. “Hoje é o dia mais feliz da minha vida. O Congresso acaba de aprovar o projeto para a construção de Brasília. Sabe por que o projeto foi aprovado? Eles pensam que eu não vou conseguir executá-lo”. Com audácia, assumiu para si a responsabilidade de tirar do papel o plano de interiorizar a capital do Brasil. Toda essa história que conhecemos da cidade erguida em mil dias é contada ali em detalhes. Desde a promessa no comício em Jataí – registrado em foto – até a chave simbólica que recebeu do engenheiro Israel Pinheiro, presidente da Nocavap, na véspera da inauguração. Com ela em mãos, discursou em frente ao Palácio do Planalto aos candangos: “Meus amigos e companheiros de lutas, soldados da epopeia da construção de Brasília, recebo, profundamente emocionado, a chave simbólica da cidade filha do nosso esforço, da nossa crença, de nosso amor a este País. Sou apenas o guardião desta chave. Ela é tão minha quanto vossa, quanto de todos os brasileiros”. Cada frase proferida por JK e exposta pelas instalações do memorial leva à meditação. Assim como os diplomas, as condecorações, as cartas, depoimentos e roupas que demonstram muito mais do que uma estética, mas o que havia por trás da sua personalidade. De itens que revelam mais da vida pessoal do ex-presidente, ou da trajetória política – como a faixa presidencial –, a objetos intrigantes, como a arma que dona Sarah tinha escondida no casaco na partida para o exílio. “Se há algo que eu posso louvar em mim mesmo é o fato de ter-me mantido o mesmo homem, antes, durante e depois do poder”. Detalhes revelam que, mais do que um político, havia um homem sensível. Isso fica ainda mais claro no recorte de um artigo publicado no Estado de São Paulo, de 18 de janeiro de 1972, escrito por Carlos Chagas, que narra um passeio do ex-presidente pela cidade por ele criada. “Entre o Supremo Tribunal Federal e o Palácio do Planalto, deteve-se no monumento. Defronte à própria efígie, recitou de cor as frases dispostas na parede. Não as precisava ler. Quando chegou à parte final de que ‘Brasília, construída com

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Fotos: Acervo Memorial JK

vador cultural para desbravarmos a personalidade de JK. “Explicai a vossos filhos o que está sendo feito agora. É sobretudo para eles que se ergue esta cidade síntese, prenúncio de uma revolução fecunda em prosperidade. Eles é que nos hão de julgar amanhã”. Sua última foto em vida é datada de 1976, nas ruas de Diamantina, e exibida em tamanho gigante. De terno, levanta a mão, num gesto semelhante ao da escultura em bronze, do artista Honório Peçanha, eternizada do lado de fora em um pedestal a 28 metros de altura. Poucos passos abaixo daquele local em que lá no final da década de 1950 ele levava os visitantes da capital em construção, segue ainda contagiando curiosos, incrédulos e admiradores, com seu entusiasmo ímpar em ter criado a capital do Brasil.

O LEGADO A construção do Memorial JK seguiu, como costumam dizer, o mesmo ritmo da construção de Brasília. Um mês após a morte do marido, dona Sarah Kubitschek procurou Oscar Niemeyer e pediu um projeto. O arquiteto entregou à ex-primeira-dama um desenho em uma semana. Era hora de encontrar o local ideal. O então presidente João Figueiredo recebeu dona Sarah e autorizou a doação do espaço, escolhido por ela por estar a poucos passos da Praça do Cruzeiro, onde foi rezada a primeira missa na capital. Uma campanha iniciada em Diamantina e que tomou todo o País mobilizou familiares, amigos, empresários e políticos com o objetivo de reunir itens para o acervo. Em 17 meses, o monumento foi erguido. O corpo de JK foi exumado do cemitério Campo da Esperança e velado novamente no Congresso Nacional, reunindo milhares de admiradores, antes de ser levado para a câmara mortuária, com painel de Athos Bulcão e vitrais de Marianne Peretti. Em 12 de setembro de 1981, dia do aniversário de JK, o museu abre às portas. “Com o Memorial JK vejo concretizado o meu sonho. Juscelino definitivamente eternizado, perpetuando a sua imagem, a sua obra e o seu idealismo político”, resumiu dona Sarah.

destemor, sacrifício e determinação, assinala o certo e desejado encontro do Brasil com sua grandeza’, sentiu um longo arrepio. Não apenas a chuva escorria por suas faces molhadas”. Quem entrou sabendo apenas que Juscelino foi o presidente que fundou Brasília sai de lá encantado pelo homem caloroso, receptivo e acolhedor que ele foi. O memorial não é somente um mausoléu que abriga os restos mortais do estadista, mas é um moti-

COM A PALAVRA, O ARQUITETO Sobre o memorial, Oscar Niemeyer explicou: “Eu queria fazer Juscelino sobre a cidade que ele criou. E fiz o pedestal e a figura dele lá em cima. Ele é visto de longe, de qualquer lugar que esteja em Brasília, a figura do ex-presidente aparece naquele céu imenso, mostrando que foi ele que criou tudo aquilo. A obra me agrada, feita com muito cuidado, interior sombrio e cria um clima de êxtase, de respeito que devia ter. E ficou a memória desse homem que foi tão útil ao nosso País”. GPSLifetime « 157

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PRIMEIRA-DAMA

DONA SARAH

OBSTINADA PELO PRÓXIMO CORAJOSA E CARISMÁTICA, DONA SARAH FOI FUNDAMENTAL NA VIDA PÚBLICA DE JK. DE PALÁCIOS A EXÍLIO, DE SERESTAS A PALANQUES, ELA JAMAIS DEIXOU DE APOIÁ-LO E USAR SEU CARGO PARA AS BENESSES SOCIAIS POR PAULA SANTANA

Q

uando o navio que trazia Juscelino Kubitschek da Europa atracou, havia uma surpresa à sua espera no cais. Era Sarah Luiza, a ex-noiva do jovem médico que, com o coração apertado, terminara o relacionamento para especializar-se em Urologia em terras estrangeiras. Mesmo diante das cartas não respondidas, Sarah persistiu no amor perdido, seguindo o conselho de sua mãe de esperá-lo. Meses depois do reencontro, casaram-se com festa no Copacabana Palace, no Rio de Janeiro. Ela tinha 18, ele 24. Conheceram-se numa festa da Barão de Macaúbas, a importante escola municipal de Belo Horizonte. Neste dia dançaram, dançaram e ali mesmo no salão começaram a namorar. Juscelino estava fascinado por Sarah, a elegante moça de família tradicional mineira. Com o destino traçado, mal sabiam ambos que 30 anos depois inaugurariam o mais ousado projeto já arregimentado na historia brasileira, uma cidade futurista no meio do Planalto Central. Sarah e política não se afinavam. Seu pai era deputado. Os familiares relatam que tão logo se casaram, ela pediu ao marido que jamais entrasse para tal ofício. Pois não demorou muito para acontecer o contrário. Um dia, ao chegar do consultório, doutor Juscelino contou à mulher que havia recebido o temido convite. Sarah nada disse. Naquela noite, chorou a madrugada inteira. Ao amanhecer, incentivou o marido a aceitar o desafio. Essa era Sarah, aliás, dona Sarah, como gostava de ser chamada. Sua determinação e dignidade natas foram posturas decisivas na consolidação da

l JK

Fotos: Acervo Memoria

vida pública de JK. “Posso assegurar que, sem Sarah Kubitschek, a quem tenho o prazer de chamar de avó, não haveria Brasília”, afirmou Anna Christina Kubitschek, sua neta e atual presidente do Memorial JK, em uma entrevista. JK teve uma brilhante carreira – deputado federal, prefeito, governador, presidente, senador. Sarah e as filhas, Márcia e Maria Estela, lá estavam. “Nos

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momentos mais decisivos de minha vida sempre contei, ao meu lado, com a presença da minha família”, dizia o ex-presidente. Dona Sarah, por sua vez, com a experiência vinda da casa dos pais, sabia que teria uma vida de restrições e muita luta. Todavia não se abateu. Tomou a frente nas ruas e em comitês femininos durante a campanha presidencial, com o lema Saúde e Educação.

Na nova capital, tornou-se presença expressiva com seu poder de comunicação no posto de primeira-dama, especialmente na atuação em obras sociais de extrema relevância. No golpe militar de 1964, foi esteio do marido durante o exílio em Lisboa, Nova York e Paris. “Durante esse período, enlouqueci várias vezes”, relatava. Com a morte de JK num trágico acidente de carro, em 1976, dedicou-se de corpo e alma na construção do Memorial JK, que presidiu até o dia de sua morte, em 1996, em seu apartamento em Brasília, vítima de uma parada cardiorrespiratória. O legado de dona Sarah para o Brasil é imenso, pois dedicou quase a totalidade de sua vida a obras sociais, desde o governo de Minas Gerais, assistindo mulheres e crianças. Ofertava escolas, médicos, dentistas. Por lá, construiu um conjunto hospitalar equipado com moderna tecnologia. Já em Brasília, criou a Associação das Pioneiras Sociais, à qual se dedicava noite e dia. Carismática e incansável, convocava embaixatrizes e empresários para integrar os projetos. As escolas assistidas pela associação eram impecáveis. Os programas médicos tinham hospitais volantes importados da Alemanha e dos Estados Unidos. Destemida, desbravou as águas barrentas do Rio Amazonas para atender a população ribeirinha, realizado cirurgias e partos – só para ilustrar suas rotas de Norte a Sul, acessando todos os recursos para atender os vulneráveis. A cada dor que sofria, vitimada por algum familiar, dona Sarah logo transformava em benfeitoria. Quando a mãe morreu de câncer, ela criou no Rio de Janeiro um centro de pesquisa preventiva à doença. Mas o seu maior feito na nova capital junto às Pioneiras foi o Centro de Reabilitação destinado a incapacitados físicos. Como de costume, dona Sarah não permitia menos que o melhor. Atualmente chamado de Rede Sarah, o hospital é referência mundial na área e dispõe de sete filiais Brasil afora. A primeira-dama também doa o nome ao Parque da Cidade, maior do mundo, bem no coração de Brasília. Com tal relato já é possível entender um pouco da primeira-dama mais obstinada que o Brasil já teve. Não se recusava um pedido de dona Sarah. Pois sabia-se que era sério, de qualidade e para um bem maior. O brasileiro, de modo geral, foi muito bem cuidado por ela, indiretamente. Quando tomava ciência de que o marido prometera algo para o seu povo, ela não descansava enquanto o feito não se concluísse. “Se prometeu, agora vai ter de cumprir”. Ai de Juscelino se não cumprisse. Foi assim que Brasília nasceu. GPSLifetime « 159

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ARTIGO

Divulgação

CARTA AO MEU BISAVÔ POR ANDRÉ OCTAVIO KUBITSCHEK*

Brasília, 21 de abril de 2020 Meu querido bisavô Juscelino Kubitschek, Hoje é dia do 60° aniversário da capital que o senhor inaugurou no coração do Brasil. Uma cidade que desperta paixões em todos, até hoje. No Memorial que minha bisavó, a sua esposa Sarah Kubitschek, construiu em sua homenagem, no coração de Brasília, passo algumas tardes visitando a emocionante história da construção da cidade. Toda vez que eu vou ao Memorial JK é como se eu o estivesse visitando pela primeira vez. Adoro olhar a Sala de Metas e aprender, com a sua visão de estadista, como se constrói um País novo. Ali entendo sua capacidade, sua estratégia. Dividir seu plano de reconstrução nacional em áreas e metas foi simplesmente genial – e um dia espero ter uma parte de seu dinamismo e entusiasmo. Também gosto de olhar os livros de sua biblioteca particular, montada igualzinha à do apartamento no Rio de Janeiro. Olho a coleção de Shakespeare, que também li no original, presenteada pela Rainha Elizabeth II – que continua no trono inglês. Vejo em cada livro a sua erudição, e entendo perfeitamente o seu preparo intelectual. Tenho um orgulho imenso em ser bisneto e herdeiro do seu legado. Porque, quando assisto, pela centésima vez, os vídeos da época em que o senhor empreendeu a maior revolução tecnológica, humana, social e econômica do Brasil, vejo que todos nós temos a responsabilidade de fazer que isso ocorra novamente em nosso Brasil. Naquela época os homens e as mulheres eram muito elegantes – especialmente o casal JK e Sarah. Admiro muito sua elegância, seu amor às artes, aos esportes, a tudo que é positivo. Foi com esse amor e essa energia que o senhor liderou gênios como Affonso Heliodoro, Bernardo Sayão, Ernesto Silva, Israel Pinheiro, Lucio Costa e Oscar Niemeyer na construção de um Brasil moderno, pujante, forte e que crescia com um ritmo e uma pressa que a gente precisa ver voltar.

Infelizmente, o povo não vai poder comemorar o aniversário de Brasília que tanto amou – e que foi proibido de visitar, quando o dia virou noite na história do Brasil. Uma nova pandemia, como a que o senhor viu varrer o mundo, na sua adolescência, envolveu o planeta em medo e sombras. Mas é uma celebração adiada até o final do necessário afastamento social. Neste tempo, espero, sinceramente, que as pessoas leiam e estudem mais, olhem seu exemplo, sua retidão, seu otimismo e suas atitudes e vençam a doença, se preparando também para o enorme esforço econômico que será necessário a seguir. Espero que os governantes aprendam com seu exemplo, que sejam criativos como o senhor foi e que busquem uma solução para os problemas nacionais. Só assim vamos voltar a ser o grande País que o senhor planejou e entregou. Fique com Deus, dê um beijo na minha bisavó Sarah e na minha avó Márcia. *Diretor das Organizações PaulOOctavio e conselheiro do Memorial JK

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FICÇÃO

SURREALISMO SEXAGENÁRIO

Guerreira intergaláctica posa em famoso centro comercial da nova capital

BRASÍLIA PERMITE QUE PESSOAS QUE A AMAM SE APROPRIEM DE SEUS MONUMENTOS PARA CRIAR. NUMA NARRATIVA FUTURISTA, IMAGENS DA CONSTRUÇÃO SÃO CENÁRIOS PARA HUMANOIDES POR LARISSA DUARTE « FOTOS THIAGO FREITAS

A

os bem-humorados, o Museu Nacional é uma espaçonave que pousou no Conjunto Cultural da República em dezembro de 2006 e por ali decidiu ficar. Isso porque não havia ainda o chamado “estacionamento de OVNIs” da cidade, a Torre de TV Digital, inaugurada seis anos após aterrissagem. O foguete do Parque Ana Lídia é outro que pode decolar a qualquer momento, dizem. Voltando séculos e séculos, reza a lenda ainda que Brasília é inspirada em uma antiga capital egípcia, com direito a pirâmides e mastabas, do Templo da Boa Vontade ao Memorial JK. Afinal, se Brasília nasceu de um sonho, então por que não um toque de delírio?

Toda a mística que ronda a cidade permite irmos ainda mais longe. Viajar no tempo e espaço. A hipótese de Thiago Freitas, por exemplo, é de que Brasília foi invadida por seres humanoides gigantes durante a sua construção. Alguns bem famosos até, como o monstro Godzilla e uma Barbarella colossal. Entre criaturas, aventureiros espaciais e outros turistas imensos, o designer gráfico brasiliense uniu referências retrô e registros antigos da capital para fantasiar um futuro interpretado a partir do passado candango. O resultado dessa odisseia é o projeto Brasília Retrofuturista. “Sempre fui apaixonado pela arquitetura moder-

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Apresentação memorável do grupo de ballet espacial no centro da nova capital, 1961

nista de Brasília. Como sou daqui, estranhava muito as cidades normais quando as visitava”, afirma Thiago, concordando com o sentimento compartilhado pela maioria dos nativos. “Para mim, tanto o urbanismo do Lucio Costa como a arquitetura de prédios residenciais e públicos sempre pareceram algo de outro mundo”. Essa multidimensão brasiliense fez com que o designer constantemente associasse a capital com cenários de produções antigas de ficção científica. “Eu gosto muito de assistir a ‘filmes B’ desse gênero e comecei a imaginar os personagens interagindo com Brasília como faziam nos filmes, já que eles são sempre gigantes e destroem cidades feitas de maquete”, conta. Comprometido com uma rotina de trabalho institucional, Thiago sentiu que precisava de fugas criativas para se inspirar. Assim, o ânimo para colocar em prática o universo utópico que vira e mexe devaneava sua mente veio em um dia de folga, em 2017. Ele abriu o computador, realizou uma rápida pesquisa de

fotos das obras, fez uma seleção aleatória e as colagens foram ganhando vida. “Criei umas cinco nesse dia e fiquei muito feliz com o resultado”, lembra. Empolgado, embarcou em uma jornada de pesquisa no Arquivo Público do Distrito Federal e colheu fotografias no recorte temporal entre 1956 e 1970. “São seres espaciais interdimensionais que chegaram em Brasília para conhecer e interagir com os espaços urbanos, e deixar aqui o brio modernista vanguardista que a cidade tem”. Meses após as primeiras montagens, a narrativa ganhou um Instagram e já conta com milhares de seguidores, que entram na brincadeira pelos comentários. Para muitos, só uma curtida no post não é o suficiente e procuram Thiago a fim de emoldurar a paisagem fantástica para presentear ou divertir suas paredes. Afinal, o projeto une a Brasília do início com a utopia cinematográfica do futuro. @brasiliaretrofuturista

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Bola de Gude no Circuito Tesourinha, 1963

Guerreira na Superquadra, 1971

Saudade daquele tempo em que se andava de patins na W3, 1971

Turismo na capital. Passado, presente ou futuro?

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Muita diversão na Pista do Desafio Rolimã, construída para promover um esporte muito comum nas outras dimensões, 1966

Em outro passeio pela capital, a Besta de 20.000 Fathoms visita a construção de uma tesourinha (ou seria um novo ninho?)

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ÚLTIMO SUSPIRO

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Foto: Celso Junior

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"DEUS POUPOU-ME O SENTIMENTO DO MEDO" Juscelino Kubitschek

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O Cosmograph Daytona foi desenvolvido para pilotos de provas de resistência e, com as funções de cronógrafo e a luneta taquimétrica, continua sendo um dos mais icônicos relógios para corridas já criados. Esta é uma história de excelência perpétua: a história da Rolex.

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BRASÍLIA 60 ANOS 27/04/2020 12:54


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