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Olho vivo com o velho

totalmente ridícula? Se eu morrer, o que farão meus alunos? Contentar-se-ão com estourar uns poucos foguetes ou farão uma grande festa?

Ao fim da ladeira, já em altíssima velocidade, preparou-se para passar desta vida para outra, talvez pior, talvez melhor. Porém, o destino reservava para ele uma surpresa bem mais desagradável.

e olhos fechados, o professor não percebeu que o skate seguiu na direção de um jovem casal que discutia aos gritos na calçada.

O rapaz, Beto Jamanta, não era flor de se cheirar. Lutador de judô, mais forte que um pilar de concreto, ele vivia metido em brigas e arruaças. A namorada dele, Rita Fashion, era uma garota belíssima, alta e magra, que pretendia ser modelo internacional. Para alcançar esse objetivo, não comia mais do que três maçãs por dia.

Naquele final de tarde, como ocorria várias vezes ao dia, eles batiam boca. A garota tinha as mãos enterradas na cintura e espichava o nariz, desafiadora, diante da cara de Beto. O rapaz, com a mão levantada por trás da cabeça, parecia pronto para dar um tabefe nela, mas na verdade coçava a nuca. Estavam nessa posição de combate quando chegou o professor.

A dois metros dos brigões, o skate ficou preso numa falha da calçada, mas o velho continuou voando até bater com o cocuruto na ponta do queixo de Beto Jamanta. Os dois foram a nocaute.

No choque do professor contra o solo, a garrafa de vinho explodiu, empapando-lhe o terno.

Num primeiro momento, Rita Fashion teve ganas de estrangular o velhote. Como é que ele se atrevia a atrapalhar uma discussão entre namorados? Uma discussão que, aliás, ela estava ganhando! Porém, ao notar que, caído no chão, o pobre homem sofria com falta de ar, a garota se lembrou de uma aula sobre primeiros-socorros. Resolveu fazer respiração boca a boca nele.

Ajoelhou-se na calçada e tascou seus lábios besuntados de batom bem vermelho nos beiços do professor e começou a soprar.

Nesse exato momento, surgiu o camburão da Polícia Militar. Ouviu-se uma freada brusca e alguns homens saltaram da camionete. O sargento berrou aos soldados: – Recolham esses três elementos!

Os policiais não tiveram problemas para botar os desmaiados Beto e Severino na parte de trás da camionete. Duro mesmo foi enjaular Rita, que conseguiu arranhar as bochechas de dois deles. O camburão saiu cantando pneus.

Sacudindo mais do que melancias numa carroça, Rita, Beto e o professor foram conduzidos à delegacia de polícia. – Em que rolo se meteu esse povo, sargento? – perguntou o delegado. – O caso é simples, doutor. As testemunhas disseram que este velhinho aqui, que é skatista, deu uma cabeçada no queixo do grandalhão. Quase matou o coitado. Depois, tascou um beijo na garota dele. – O senhor não tem vergonha? – perguntou o delegado. – Na sua idade, metido em briga por causa uma garota! – Me respeite! – urrou o professor. – Essa menina tem idade pra ser minha neta! Ela estava salvando a minha vida! – O velho tá bêbado, chefe – disse o sargento. – Deixou o camburão fedendo a vinho. – Me respeite! Sou abstêmio, professor e colunista de jornal!

O delegado voltou-se para o carcereiro e ordenou: – Meta os três no xilindró. Mas olho vivo com o velho! Além de bêbado, skatista, brigão e mulherengo, é mentiroso.

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