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O inimigo número um da cultura
uando Tédio concluiu a história do skate, eu mostrei a ele o meu gravador e disse: – Vamos entrevistar algumas pessoas. – Certo, mas não precisamos pagar o mico de pedir entrevista. Tem muito jornalista espalhado pela festa. Quando um deles entrevistar alguém, a gente encosta e escuta...
Embora eu não achasse que solicitar uma entrevista fosse pagar mico, concordei com a ideia de pegar carona nas entrevistas feitas pelos repórteres de verdade. – Onde tem comida de graça sempre aparecem jornalistas – acrescentou Tédio. – Muitos jornalistas. Por exemplo, você está vendo aquele cara parado ao lado do cinegrafista?
Com um movimento de cabeça, respondi que sim. – É difícil saber qual é o jornalista mais pateta da cidade – disse Tédio. – Mas aquele ali, Marco Bravo, é forte candidato ao título.
Eu conhecia aquele sujeito da tevê, embora não fosse de assistir a noticiários. Ele devia ter uns trinta e poucos anos, era realmente muito bonito e estava bem vestido, mas não gostei do cabelo dele, colado na cabeça com gel. Sorridente, mas visivelmente ansioso, ele olhava ao redor. – O Marco tá procurando uma vítima – disse Tédio.
Pouco depois vimos o jornalista segurar pelo braço um homem que possuía dois bigodes.
Explico melhor: por baixo do nariz, o sujeito exibia um bigode de uns três centímetros de altura por dez de comprimento. Mais em cima, na base da testa, ele possuía um segundo “bigode”, formado pelas duas espessas sobrancelhas, que se juntavam sobre os olhos.
Liguei o gravador e me aproximei.
Olhando fixamente para a câmera, Marco Bravo abriu um sorriso imenso e disse: – Estamos aqui com Bernardo Bestunto, secretário de Cultura da cidade. Doutor Bestunto, qual é hoje o maior problema da cultura da nossa cidade? – O nosso maior problema é a coluna “Fogo Cerrado”, publicada pelo Correio Popular. Severino Severo é inimigo de quem tenta escrever poesia ou ficção nesta cidade. Ele ataca todos os nossos autores.
O secretário de Cultura respirou fundo e continuou, raivoso: