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Destaques
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Índice Diretas
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Plantas daninhas em café
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Mosca-branca em soja
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Informe - Importância da nutrição vegetal
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Controle do bicudo-da-cana
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V Seminário Phytus e Elevagro
17
Como orientar a decisão de controle
Informe - Aumento de produtividade em soja
18
do percevejo barriga-verde a partir do
Capa - Percevejo barriga-verde em milho
20
Gafanhotos perto do Sul do Brasil
24
A experiência argentina com gafanhotos
28
Prevenção contra pragas exóticas
31
Perfil do solo em soja
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que colocaram em alerta autoridades
Manejo do pulgão-do-algodoeiro
37
sanitárias na Argentina e no Brasil
Equilíbrio entre abelhas e atividade agrícola
40
Coluna Agronegócios
44
Coluna Mercado Agrícola
45
Coluna ANPII
46
20
Quanto danifica
comportamento desta praga no milho
24
Nuvem densa
O que se sabe sobre os gafanhotos
37
Vilão da qualidade
Por que é preciso repensar
Expediente
estrategicamente o manejo
Fundadores: Milton Sousa Guerra, Newton Peter e Schubert Peter
do pulgão-do-algodoeiro Cultivar Grandes Culturas • Ano XX • Nº 254 Julho 2020 • ISSN - 1516-358X Crédito de Capa: Ivan Cruz Grupo Cultivar de Publicações Ltda. CNPJ : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro, 160, sala 702 Pelotas – RS • 96015-300 Diretor Newton Peter www.grupocultivar.com contato@grupocultivar.com Assinatura anual (11 edições*): R$ 269,90 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)
Números atrasados: R$ 22,00 Assinatura Internacional: US$ 150,00 Euros 130,00 Nossos Telefones: (53) • Geral 3028.2000 • Comercial: • Assinaturas: 3028.2065 3028.2070 3028.2066 • Redação: 3028.2067 3028.2060
Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: contato@grupocultivar.com Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
REDAÇÃO • Editor Gilvan Dutra Quevedo
COMERCIAL • Coordenação Charles Ricardo Echer
• Redação Rocheli Wachholz Karine Gobbi Cassiane Fonseca
• Vendas Sedeli Feijó Miriam Portugal
• Design Gráfico e Diagramação Cristiano Ceia
CIRCULAÇÃO • Coordenação Simone Lopes
• Revisão Aline Partzsch de Almeida
• Assinaturas Natália Rodrigues
GRÁFICA: Kunde Indústrias Gráficas Ltda.
• Expedição Edson Krause
Diretas Doação
A Spraytec e a Cerca Viva realizaram uma doação de laranjas para quatro entidades de Mogi Guaçu, em São Paulo. Após um comparativo de campo de 40 pés de laranja, utilizando Arrow Max (20 tratadas e 20 não tratadas), a colheita total foi doada. A ação beneficiou aproximadamente 350 pessoas. O investimento foi de R$ 261,73 em produtos Spraytec e rendeu um lucro de mais de R$ 1.400,00. O aumento foi de 67 caixas/ha.
Participação
A Ihara marcou presença no V Seminário Phytus, evento totalmente virtual e gratuito, que ocorreu de 30 junho a 2 de julho. Por três dias, o seminário promoveu mais de 25 painéis e seis mesas-redondas. Durante este período, a Ihara contou com uma página especial em que o visitante podia acessar todas as informações sobre seu portfólio para soja, como o inseticida Zeus, que possui efeito de choque e residual contra o percevejo, e o Fusão, produto que conta com uma molécula especialmente desenvolvida contra a ferrugem. "Iniciativas como esta são valiosas neste momento em que grandes eventos foram cancelados. Assim, conseguimos nos manter próximos do agricultor para continuarmos sendo úteis a ele no dia a dia, contribuindo para a qualidade e resultados do processo produtivo", avaliou o gerente de Desenvolvimento de Mercado, Andrey Boiko. Andrey Boiko
A Corteva Agrisciense realizou em junho o lançamento do fungicida Vessarya no Paraguai. A empresa também apresentou a marca global Onmira Active, presente em 15 fungicidas através do princípio ativo picoxystrobin. Vessarya é um fungicida sistêmico dos grupos químicos estrobilurina e pirazol carboxamida, que combina a tecnologia Onmira Active (picoxystrobin) com Solatenol (benzovindiflupyr).
Correção
Estrutura Global
Lançada em junho no Brasil a Syngenta Digital, nova estrutura global de negócios da companhia, que agrega tecnologias e serviços para a gestão de lavouras. Neste processo, a Strider, agtech adquirida em 2018 pela empresa foi incorporada definitivamente. Os colaboradores foram mantidos. "Faremos, inclusive, novas contratações para a unidade de Belo Horizonte, onde nasceu a agtech, precisamente porque o nosso objetivo é fortalecer e expandir a frente de soluções digitais no Brasil", informou o diretor de Marketing da Syngenta no Brasil, André Savino. Denominada de Cropwise, a nova plataforma de produtos amplia o acesso por parte de pequenos e médios produtores a ferramentas de gestão e monitoramento do plantio de soja, milho, café, algodão e FLV, com possiblidade de expansão para outras culturas.
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Lançamento
No artigo Efeito Colateral, na Edição 251, de Abril de 2020, página 30, faltou constar na Tabela 2 o Fator de Reprodução (FR) da última coluna. Na Tabela 4 a referência correta é Extraído de Oliveira &Carregal (2017) Manejo cultural. Revista Cultivar / Grandes Culturas, ano 17, n.211, p.33-34. Dez16/Jan17. Tabela 2 - Reprodução (FR=Pf/Pi) de Pratylenchus brachyurus em raízes excisadas de milho em diferentes temperaturas Temperatura 10oC 15oC 20oC
André Savino
FR 0,8 1,2 3,3
Temperatura 25°C 30°C 35°C
FR 10,9 18,2 0,2
Extraído de Olowe & Corbett (1976) Aspects of the biology of Pratylenchus brachyurus and P. zeae. Nematologica, v.22, p.201-211.
Herbicida
Pesquisadores da Basf desenvolveram o herbicida Luximo, com novo mecanismo de ação no controle de plantas daninhas. Já aprovado na Austrália desde 2019, agricultores da União Europeia e do Reino Unido devem ser os próximos a ter acesso à tecnologia voltada para o controle de gramíneas. O lançamento no Brasil e na Argentina está previsto para os próximos anos, inicialmente para os cultivos de trigo e arroz, mas com extensão para soja e outros grandes cultivos. “Fornecer aos agricultores uma nova ferramenta como Luximo, o primeiro herbicida com novo mecanismo de ação em quase 35 anos, é um momento emocionante para toda a indústria e oferecerá aos agricultores a oportunidade de superar a resistência das mais problemáticas gramíneas em seus sistemas de cultivos”, avaliou o responsável pelo Desenvolvimento Global de Herbicidas da Divisão de Soluções para Agricultura da Basf, Rex Liebl.
Soja
Jedir Fiorelli
A FMC participou do Seminário Phytus e Elevagro Experience com o Projeto Soja, iniciativa que busca incentivar e promover debates sobre os desafios e avanços para a cultura no país. Com o lema “É mais produtivo quando a gente faz junto”, a ação pretende aproximar todos os elos da cadeia. “Estamos vivenciando um momento atípico, onde o contato prioritariamente é digital. Por isso, parabenizamos a iniciativa do Seminário e temos orgulho de participar como patrocinador do evento. Nós, da FMC, buscamos contínua inovação e queremos aproveitar a oportunidade para conhecer as necessidades dos produtores e entregar soluções completas e de qualidade para uma produção cada vez mais sustentável e rentável”, disse o gerente de Desenvolvimento de Mercado da FMC, Jedir Fiorelli.
Fungicida
Pelo segundo ano consecutivo, a Adama comemora os bons resultados do fungicida Cronnos, contra a ferrugem-asiática, nos experimentos realizados pelo Consórcio Antiferrugem. Composto por 19 instituições, o Consórcio realiza experimentos cooperativos dos fungicidas, que são avaliados individualmente, em aplicações sequenciais, para determinar a eficiência de controle. "Os resultados obtidos com Cronnos comprovam a atenção da Adama ao ouvir os produtores em suas demandas no campo. Aprendemos a cada safra e buscamos entregar resultados que atendam cada vez às necessidades dos agricultores", opinou o gerente de Produtos, responsável pelos fungicidas na companhia, Gerson Dalla Corte.
Gerson Dalla Corte
Copercana
A UPL participou de mais uma edição da Feira Agronegócios Copercana. Além de palestras sobre o manejo de plantas daninhas no atual momento da safra, a UPL destacou o programa Pronutiva. "Com um abrangente portfólio de herbicidas, destaco o Dinamic, líder no controle de folhas largas e plantas de difícil controle na seca, o Pronutiva Corte de Soqueira, programa com objetivo de proteger contra Sphenophorus e estimular a cana, o Pronutiva Ferrugem, que conta com o fungicida Unizeb Glory, os fisioativadores Biozyme e Raizal e o fertilizante mineral Poliquel B. A combinação dessas soluções é a garantia de sucesso do manejo e produtividade", opinou o gerente de Cana e Pastagem da UPL Brasil, Carlos Peres. O evento ocorreu de modo on-line. www.revistacultivar.com.br • Julho 2020
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Café
Manejo diversificado
Wenderson Araujo CNA
Como construir um adequado sistema de combate a plantas daninhas, de modo integrado, racional e com o uso de tecnologia para permitir uma melhor convivência da cultura do café com essas infestantes
A
condução da cafeicultura requer racionalidade, com ajustes na utilização dos insumos e serviços, evitando a forma generalizada do consumo excessivo de adubos na nutrição dos cafeeiros e de agroquímicos no controle de pragas, doenças e plantas daninhas, que causam oneração da produção e impactos na lavoura. Nesse processo, o manejo de plantas daninhas absorve parte dos recursos da produção do café, influenciando no rendimento da lavoura, sendo o desafio maior de se ter a convivência do cafeeiro com essas espécies infestantes, resultando em benefícios. Um diagnóstico consistente contribuirá para a determinação de um adequado sistema de manejo integrado das plantas daninhas, proporcionado pela combinação, simultaneidade e
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rotatividade com outros manejos e métodos de controle, em composição com as demais práticas de produção, permitindo uma melhor convivência da cultura do café com essas plantas infestantes.
MANEJO CAPINA
O manejo capina consiste no trilhamento ou limpeza da faixa junto à linha de cafeeiros com o uso da enxada, porém essa prática demanda muita mão de obra e tem um custo oneroso em áreas de lavouras novas e em áreas com declive acentuado. É preciso, ainda, cuidado para não causar ferimentos aos cafeeiros e evitar o corte de mangueiras de irrigação. Outra forma de capina é a roçada manual com foice, utilizada
MANEJO QUÍMICO
Em lavoura jovem deve-se fazer a aplicação de herbicida de pré-emergência em solo limpo ou sobre baixa cobertura de plantas daninhas, usando
Julio Cesar Freitas Santos
Fabio Moreira da Silva-UFLA
Roçada com foice em cafezal adulto
J.B. Matiello-Procafé) (J.R.Dias e L.Franco-Fdas Sertãozinho)-Via CCCMG
Trincha de martelo no controle de plantas daninhas em cafezal adulto
Carrinho aplicador de herbicida com barra frontal protegida para evitar deriva Marcelo Curitiba Espindula
MANEJO MECÂNICO
Os métodos de controle mecânico das plantas daninhas do café apresentam alto rendimento e maior economia, principalmente nas médias e grandes lavouras. A tração motora é realizada por tratores pequenos, de bitolas estreitas e do tipo cafeeiro, que fazem o arrasto dos implementos agrícolas como grade, roçadora e trincha. A grade cultivadora é leve, composta por discos, que fazem a capina durante seu arrasto sobre o solo, principalmente nos cafezais em formação. O uso de grades pesadas não é aconselhável em cafezais adultos, pois ocorre corte de raízes, e seu uso excessivo pode causar pulverização do solo, favorecendo a erosão e a lixiviação de argila formando camada adensada. A roçadora é regulável quanto à altura de corte das plantas daninhas, devendo-se usar sempre antes da maturação fisiológica de suas sementes na planta. No período chuvoso, o manejo com roçadora permite manter as plantas daninhas vegetando com altura controlada e promover a formação de uma cobertura de palha sobre o solo. A trincha é um equipamento composto por um rotor munido de martelos, que acionado pela força de tração do trator produz um efeito triturador dos restos vegetais, promovendo o aproveitamento de resíduos orgânicos oriundos das plantas daninhas e também resíduos dos próprios cafeeiros.
o herbicida Goal com jato dirigido. Para o caso de plantas daninhas um pouco maiores, pode-se aplicar uma mistura do oxifluorfem (éter difenílico) com herbicidas seletivos, evitando atingir as mudas novas. Na aplicação de herbicidas pós-emergentes, mesmo com as entre linhas abertas, deve-se evitar a deriva e a fito-toxidez aos cafeeiros, usando herbicidas seletivos como a mistura de haloxifope-P-metílico (ácido ariloxifenoxipropiônico) ou cletodim (oxima ciclohexanodiona) para plantas daninhas de folhas estreitas, e a combinação cletodim (oxima ciclohexanodiona) ou haloxifope-P-metílico (ácido ariloxifenoxipropiônico) mais clorimuron para plantas daninhas de folhas largas. Também podem ser usados herbicidas à base de glifosato ou sua combinação com outros mais específicos para plantas de folhas largas, fazendo-se a proteção do cafeeiro, usando barras, carrinhos aplicadores ou bico espuma, tendo a proteção do chapéu de Napoleão. No site do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), existe uma lista de herbicidas e de recomendações básicas de aplicação para a cultura do café. Em cafezal adulto, o controle químico das plantas daninhas nas entre linhas dos cafeeiros se mostra com maior rapidez, mais rendimento e menos operários, entretanto exige produtos e equipamentos adequados e mão de obra capacitada. Os herbicidas pré-emergentes serão aplicados em solo limpo e úmido, estando as plantas daninhas em fase inicial de emergência após a arruação em invernos úmidos e após esparramação no início das chuvas. Os herbicidas pós-emergentes serão aplicados sobre as plantas daninhas de maior porte, podendo ser no início do período chuvoso após a emergência e no final do período chuvoso ou fase de pré-colheita. Pode-se realizar aplicação em faixas próximas à saia do cafeeiro, principalmente no intenso período chuvoso, ou fazer aplicação em área total em toda rua ou entre linha da lavoura.
Pulverizador manual de herbicida no carrinho com chapéu de Napoleão Julio Cesar Freitas Santos
para o corte da parte aérea das plantas daninhas de maior desenvolvimento em altura e com maior concentração de massa verde, sendo seu resíduo usado como cobertura do solo no fornecimento de matéria orgânica, nutrientes e proteção do solo. Outro equipamento opcional é a roçadora costal motorizada, que apresenta um bom rendimento e baixo custo operacional, exigindo apenas um pequeno treinamento para o operador.
MANEJO CULTURAL
A infestação das plantas daninhas na cultura do café exige atenção durante todo o ano, recomendando-se que no
Leguminosa Arachis pintoi em cafezal adulto
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Fabio Moreira da Silva-UFLA Syngenta
Cobertura morta de palhada nas entre linhas do cafezal adulto
Sensor óptico eletrônico WeedSeeker sobre a barra de pulverização
Geo Agri Tecnologia Agrícola/Fabiano Oliveira
Geo Agri Tecnologia Agrícola/Fabiano Oliveira
Utilização do drone para mapeamento de plantas daninhas
Sensor óptico WeedSeeker com rastreamento e pulverização da planta daninha
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período seco o cafezal deva estar livre de suas interferências quanto à concorrência por nutrientes e água disponível no solo. Entretanto, no período chuvoso deve-se evitar que o solo fique totalmente descoberto, principalmente nas entrelinhas dos cafeeiros para que não ocorram processos de erosão. Culturas de adubação verde como as espécies leguminosas e gramíneas promovem a supressão de plantas daninhas por influência da cobertura do solo e da produção de biomassa, sendo os mecanismos de supressão decorrentes da competição por luz provocada pelo sombreamento e da interferência da composição de seus aleloquímicos. A leguminosa lablabe proporciona maior cobertura do solo e maior predomínio da vegetação sobre a infestação de plantas daninhas. A lablabe no primeiro ano e o amendoim-forrageiro no segundo apresentaram maior produção de biomassa. As leguminosas lablabe e siratro no primeiro ano e o amendoim-forrageiro no segundo proporcionaram menor densidade e biomassa das plantas daninhas. As leguminosas, em comparação com a prática de capinas, promoveram maior umidade do solo e menor infestação das plantas daninhas no primeiro ano de implantação. Dentre as gramíneas para intercala-
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ção na lavoura cafeeira, a Brachiaria ruziziensis tem sido implantada em novas áreas, pois germina rápido, perfilha muito bem e proporciona maior cobertura sem promover a formação de muitas touceiras. A Brachiaria brizantha pode provocar efeito químico causado por toxinas seletivas desenvolvidas por ácidos e requerendo atenção na intervenção de manejo na lavoura. A Brachiaria humidicola e a Brachiaria decumbens possuem maior capacidade de inibição da nitrificação no solo, cujo consórcio com o café pode contribuir para a qualidade do solo. A cobertura morta com palha reduz a infestação das plantas daninhas pelo efeito do sombreamento e de lixiviação de substâncias químicas. O capim braquiária, cultivado com roço nas entre linhas do café, oferta muita palha para cobertura e matéria orgânica. A biomassa das gramíneas se decompõe de forma mais lenta com mais tempo sobre o solo, e as leguminosas se decompõem com menos tempo. Casca de café é outra opção, pois além de sua compostagem, pode ser utilizada de forma direta na lavoura para cobertura morta do solo no controle das plantas daninhas por seu efeito físico e químico. Apresenta maior disponibilidade na propriedade, características favoráveis na proteção do solo do cafezal e capacidade de devolver à lavoura os nutrientes extraídos pela produção, principalmente o potássio.
MANEJO TECNIFICADO
Existe tendência para o uso de recursos tecnológicos mais avançados no manejo das plantas daninhas em café através da agricultura de precisão, cujo sistema de gerenciamento da produção é baseado na aplicação de taxa de insumos e serviços com base na variabilidade espacial e temporal, que favorece a sustentabilidade da lavoura. Entretanto, ocorrem limitações de uso, requerendo maior divulgação de informações, equipamentos adaptados ao cafezal, redução dos custos de aquisição e mais oferta de capacitação. Como recursos tecnológicos utilizados no controle de plantas daninhas do
Mapa de infestação de plantas daninhas do café
Fonte: Plan4r Engenharia
sível a aplicação direcionada, parcelada e racional de herbicida. Ainda como opção muito utilizada em pastagem, porém requerendo ajustes da bitola do equipamento e da barra de aplicação para a cultura do café, existe o aplicador seletivo de herbicida “Campo Limpo”, da Embrapa Pecuária Sul, que aplica o herbicida diretamente na planta daninha, devido à diferença de altura entre as plantas de pastejo e as espécies infestantes, que são rejeitadas pelos animais e ganham expressão em altura. A aplicação do herbicida por aplicadores umedecidos ocorre sem o uso de pulverização, evitando riscos de deriva e de inalação do defensivo pelo operador. Nas inovações para condução da cafeicultura visualizam-se pesquisas em busca de alternativas de manejo de plantas daninhas que promovam a interação dos mecanismos culturais e tecnológicos, envolvendo recursos de imagens de satélites, sensoriamento remoto, sistema georreferenciado, mapas digitais, diagnóstico de imagens, mecanização agrícola, sensores eletrônicos, inteligência artificial, visão computacional, tecnologia da informação, automação, nanotecnologia, biotecnologia, biologia C vegetal, controle biológico e herbicida natural.
Barcellos, Kéke
Julio Cesar Freitas Santos, Embrapa Café
Smart Sensing Brasil
Geo Agri Tecnologia Agrícola/Fabiano Oliveira
café, pode ser contemplado o uso de drones na identificação e localização de manchas ou reboleiras de plantas daninhas para mapeamento da infestação na lavoura e pulverizações seletivas de herbicidas a taxas variadas por pulverizadores com sensores de refletância espectral de luz vermelha ou sensores ópticos eletrônicos. O mapeamento aéreo de talhões de café para identificação de áreas com maior e menor infestação de plantas daninhas consiste na coleta automática de dados através de drone acoplado com Sistema de Posicionamento Global Diferencial (DGPS) e com câmera digital, que capturam imagens georreferenciadas de alta resolução espacial e espectral do cafezal. Na consolidação dessas imagens se destaca a mancha ou reboleira de plantas daninhas compondo um mosaico que é analisado sobre a ótica da agricultura de precisão, para depois embasar a aplicação racional do manejo das plantas daninhas, podendo apresentar redução entre 40% e 60% das aplicações de herbicidas. Na pulverização de herbicida com uso de sensor óptico eletrônico se destaca o sistema WeedSeeker, que realiza aplicação seletiva, cuja tecnologia utiliza circuito avançado de óptica e de computação para rastrear a presença de plantas daninhas através da leitura Normalized Difference Vegetation Index (NDVI). Com isto são determinadas as áreas de aplicação e calibração de doses dos herbicidas conforme a massa verde das plantas daninhas. Com isso evita pulverizar o solo sem planta e proporciona economia de produto, rendimento operacional e redução de serviços. Esse recurso é utilizado nos cultivos perenes de citricultura, silvicultura e viticultura, e pode ser adaptado à cultura do café após regulagem do comprimento da barra de pulverização e definição do número de sensores conforme o espaçamento da lavoura e arquitetura dos cafeeiros. Outro exemplo que poder ser aplicado à cafeicultura, mas que exige adaptações de bitola da máquina e do equipamento da barra de aplicação, consiste na pulverização de herbicidas por um sistema WEEDit muito utilizado em grandes áreas de culturas anuais, sendo esta aplicação localizada de forma instantânea ou momentânea em plantas daninhas. Essa pulverização é direcionada por sensores eletrônicos acoplados à barra do pulverizador, que utiliza o princípio da refletância espectral de luz vermelha, permitindo a detecção imediata da planta daninha e o acionamento instantâneo da pulverização do produto, tornando pos-
Aplicação à noite do sensor óptico eletrônico WeedSeeker no controle de plantas daninhas
WEEDit - Tecnologia de pulverização seletiva e localizada
Aplicação dirigida de herbicida por meio de aplicadores umedecidos
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Soja
Mais frequente
Marcelo Madalosso Elevagro Phytus Group
Expansão da área de plantio da soja, ampliação da época de semeadura, cultivos sucessivos e escalonados com o uso de pivô central estão entre os motivos que justificam a alta incidência da mosca-branca em lavouras de soja no Brasil. Diante dos poucos inseticidas de grupos químicos e modo de ação distintos utilizados para controle, o registro de novas moléculas e misturas de ingredientes ativos já existentes é estratégia importante para garantir a eficiência de manejo dessa praga
A
produtividade da soja (Glycine max L.Merril) é influenciada por diversos fatores como solo, clima, chuva, ocorrência de pragas e doenças. Dentre as diversas pragas que ocorrem na cultura da soja, a mosca-branca (Bemisia tabaci biótipo B) tem aumentado sua frequência nas lavouras de soja de todo o país (Luttrell, 1994). A alta incidência da mosca-branca deve-se à expansão da área de plantio da soja, a ampliação da época de semeadura e os cultivos sucessivos e escalonados da cultura, com o uso de pivô central. A mosca-branca ataca diversas culturas, suga sua seiva, provoca alterações no desenvolvimento vegetativo e reprodutivo, podendo ocorrer murchas, queda de folhas e
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perda de frutos (Alencar et al., 1998). Trabalhos na cultura da soja mostram que a convivência com uma média de dez ninfas por folha, levou a prejuízo da ordem de 12 sacas por hectare (Tomquelski; Martins; Dias, 2015). É recomendada, dentro do manejo químico, a alternância de produtos com diferentes modos de ação, para um manejo sustentável e que diminua a probabilidade de evolução de resistência de B. tabaci aos produtos empregados em seu controle. No controle químico têm sido utilizados produtos que induzem mudança comportamental pela repelência ou irritação, inseticidas reguladores de crescimento e também inseticidas que agem no sistema nervoso, como os neonico-
tinoides (Basu, 1995). Diante dos poucos inseticidas de grupos químicos e modo de ação distintos utilizados para seu controle, o registro de novas moléculas e misturas de ingredientes ativos já existentes é estratégia importante para garantir a eficiência de controle dessa praga nas mais diversas culturas. As moléculas flupyradifurone e spiromesifen possuem baixa toxicologia e ecotoxicologia, apresentando um excelente perfil toxicológico para serem integradas a programas de manejo integrado de pragas. Além disso, as duas moléculas apresentam controle de mosca-branca nas fases de ninfas até o terceiro instar (Nicolaus et al., 2005; Nauen et al., 2015) e adultos. O spiromesifen inibe a lipogênese através do efeito na acetil CoA-carbolxylase (Nauen et al., 2003), e o flupyradifurone é um inseticida sistêmico que pertence a uma nova classe química, butenolida, atuando como modulador competitivo de receptores nicotínicos da acetilcolina (Irac, 2020). O flupyradifurone pode ser utilizado em diferentes culturas via foliar, tratamento de sementes e sulco, além de ser considerado uma nova ferramenta de manejo de resistência para vários alvos em diversos cultivos, devido à sua eficácia contra insetos sugadores resistentes a outros grupos como neonicotinoides e pymetrozine (Bayer, 2013).
Classificação do Modo de Ação desses inseticidas segundo o IRAC
Fonte: IRAC-BR, 2019
Figura 1 - Porcentagem de controle (Eficácia - %) de ninfas de mosca-branca (Bemisia tabaci) aos 4 e 7 DAA e 3, 7 e 10 DAB - Londrina (PR), 2017
EXPERIMENTO
O presente trabalho teve como objetivo avaliar a eficácia do inseticida flupyradifurone 120g i.a./kg + spiromesifen 120g i.a./kg no controle de mosca-branca, a cultura da soja, com o uso da variedade BMX Garra RR. O experimento foi conduzido em condições de campo, na Fazenda Escola da Universidade Estadual de Londrina (UEL), localizada na Rodovia Celso Garcia Cid, km 380, cidade de Londrina, Paraná, entre os meses de fevereiro e maio de 2017; em solo de textura argilosa (73%). O delineamento experimental foi em blocos casualizados, com seis tratamentos e quatro repetições. Além da testemunha, os tratamentos foram compostos pelos inse-
*Tratamento químico padrão. ¹Número de ninfas em 10 folíolos por parcela na testemunha. DAA: Dias Após Aplicação A. DAB: Dias Após Aplicação B.
Tabela 1 - Número médio de ninfas de mosca-branca (Bemisia tabaci) aos 4 e 7 DAA e 3, 7 e 10 DAB - Londrina (PR), 2017 Tratamentos Testemunha PIRIPROXIFEN + XILENO* FLUPYRADIFURONE + SPIROMESIFEN FLUPYRADIFURONE + SPIROMESIFEN FLUPYRADIFURONE + SPIROMESIFEN FLUPYRADIFURONE + SPIROMESIFEN Tukey D.M.S.(5%)¹ CV (%)²
Dose (L ou Kg/ha) 0,25 0,80 1,00 1,20 1,40
4DAA 55,80 a 30,68 b 21,95 c 9,88 d 5,88 de 2,80 e 6,694 13,77
Número de ninfas** 3DAB 7DAA 7DAB 53,45 a 81,48 a 41,03 a 23,05 b 39,38 b 2,45 b 14,18 c 21,73 c 0,95 b 9,18 d 12,40 d 0,95 b 4,70 c 7,90 de 0,75 b 2,63 e 4,55 e 0,43 b 3,066 7,038 10,735 7,47 10,98 60,22
10DAB 62,80 a 1,25 b 1,70 b 1,00 b 0,63 b 0,58 b 13,582 52,2
*Tratamento químico padrão. **Número de ninfas em 10 folíolos por parcela. ¹D.M.S. = Diferença mínima significativa. ²Coeficiente de variação. DAA: Dias Após Aplicação A. DAB: Dias Após Aplicação B. Médias seguidas da mesma letra não diferem entre si nas colunas pelo Teste de Tukey a 5% de probabilidade.
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Figura 2 - Produtividade em peso (sc/ha) e % Relativa (IR) na cultura da soja – Londrina – PR, 2017
Médias seguidas da mesma letra não diferem entre si pelo Teste de Tukey a 5% de probabilidade.
ticidas flupyradifurone 120g i.a./kg + spiromesifen 120g i.a./kg a 0,8; 1,0; 1,2 e 1,4 kg/ha; piriproxifen 100g/L + xileno 800g/L (padrão) a 0,25L/ha. Foram realizadas duas aplicações, com intervalo de sete dias, nos estádios BBCH de 60 e 65. As aplicações foram realizadas através de um pulverizador costal de pressão constante, propelido por CO2 pressurizado, utilizando-se seis pontas de pulverização do tipo jato plano modelo 110.015, espaçadas a cada 0,4m, com pressão de trabalho de 2,5bar e volume de pulverização de 200L/ha. Cada parcela experimental apresentava 5m de comprimento e 4m de largura, totalizando 20m², com espaçamento de 45cm, 8cm entre plantas, cinco ruas por parcela e uma densidade de 12 plantas por metro linear. As avaliações de eficácia agronômica dos tratamentos foram realizadas aos 4, 7 DAA e 1, 3, 7, 10 DAB (dias após a pri-
meira e segunda aplicação), seguindo uma contagem do número de insetos em dez folíolos por parcela, sendo que posteriormente essas informações foram transformadas em porcentagem de Abbott. O comportamento do inseto adulto dificulta as avaliações, pois é um inseto migratório, consequentemente são usadas as avaliações de ninfas para comprovar a eficácia. Para quantificar a seletividade dos tratamentos à cultura foram realizadas avaliações de fitotoxicidade nas plantas de soja. Também foi avaliada a produtividade, sendo que foi quantificada aos 74 DAB, através da colheita de 7,5m²/ parcela (kg). Os dados obtidos foram submetidos à análise da variância, e as médias dos tratamentos comparadas pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade (Tabela 1). Nas condições em que o experimento foi conduzido foi possível ob-
servar controle de ninfas a partir de 4 DAA nos tratamentos utilizando flupyradifurone 120g i.a./kg + spiromesifen 120g i.a./kg nas doses de 1,0, 1,2 e 1,4 kg/ha, com eficácia variando de 82,3% a 95%. Essas doses se mantêm superiores ao padrão a partir da primeira avaliação até a avaliação realizada aos 10 DAB, quando alcançam controle variando entre 98,4% e 99,1%. A partir dos 7 DAB, flupyradifurone 120g i.a./kg + spiromesifen 120g i.a./kg apresenta eficácia de 97,7% na menor dose: 0,8kg/ha (Figura 1). O inseticida flupyradifurone 120g i.a./kg + spiromesifen 120g i.a./kg não causou quaisquer sinais de fitotoxicidade na cultura da soja, independentemente da dose. Em relação à produtividade, todos os tratamentos foram estatisticamente superiores à testemunha, sendo que flupyradifurone 120g i.a./kg + spiromesifen 120g i.a./kg a 0,8; 1,0; 1,2 e 1,4 kg/ha geraram incremento à produtividade de 14,3% a 40,8% (Figura 2). Conclui-se que flupyradifurone 120g i.a./kg + spiromesifen 120g i.a./ kg nas doses de 0,8, 1,0, 1,2 e 1,4 kg/ ha é eficiente no controle de mosca-branca e seletivo para a cultura da C soja. Yuri Ramos, J. N Della Valle, F. Sulzbach, A. C. A. Krol, T. Docema, M. M. Martins, M. A. N. Nishikawa e D. M. Okuma, Bayer
Figura 3 - Testemunha típica de um experimento com ataque de mosca-branca (esquerda), e reflexo da eficácia de flupyradifurone + spiromesifen a 1kg/ha (direita)
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Informe
Atenção à nutrição Divulgação
Fornecer nutrientes de modo eficiente às plantas é fundamental para que consigam completar o seu ciclo produtivo dentro do tempo adequado, obtenham maior acúmulo de assimilados e alcancem mais produtividade e rentabilidade final
Lavoura de soja com plantas com deficiência ao lado esquerdo e plantas equilibradas nutricionalmente ao lado direito
C
ada planta, conforme a sua característica genética, possui um potencial produtivo. Para alcançar este potencial, há exigências específicas, seja em temperatura, luminosidade, água e nutrientes, em quantidades e proporções relacionadas a cada etapa de desenvolvimento, desde a germinação até a colheita. Na agricultura, utilizam-se práticas que buscam proporcionar as melhores condições para o desenvolvimento das plantas. Entre essas práticas é possível citar uma adequada irrigação, o controle fitossanitário e de plantas daninhas, assim como o preparo físico do solo e a sua adequada correção da fertilidade, além do fornecimento de quantidades e balanços nutricionais específicos de acordo com cada fase fenológica da cultura e o potencial produtivo do material genético escolhido.
Para a nutrição das plantas, os elementos minerais considerados essenciais são aqueles que participam de alguma função estrutural ou fisiológica da planta, sendo que sem estes elementos, a planta tem seu desenvolvimento e produtividade comprometidos. Em termos de macronutrientes, o nitrogênio, por exemplo, proporciona um crescimento mais vigoroso e impulsiona a produtividade. O fósforo maximiza o desenvolvimento radicular e a longevidade das plantas. Já o potássio, o magnésio e o enxofre intensificam a fotossíntese e o transporte de fotoassimilados, favorecendo um maior enchimento e maturação de frutos, tubérculos, vagens, colmos e grãos. E o cálcio, que participa diretamente da formação e do crescimento das estruturas dos tecidos vegetais. Entre os micronutrientes há o boro,
que participa da formação do tubo polínico, da firmeza de casca dos frutos e contribui no transporte de carboidratos e para um maior crescimento foliar. O mesmo ocorre com cobre, manganês, zinco, cloro e ferro, que também participam do metabolismo da atividade fotossintética, como é possível observar na Foto. Pensando na ação da enzima nitrato de redutase, que atua no processo de produção de aminoácidos, o molibdênio é fundamental. Também age na germinação dos grãos de pólen e contribui para maior maturação dos frutos e resistência dos tecidos. O níquel, por sua vez, é um importante catalisador de inúmeras atividades enzimáticas relacionadas ao metabolismo do carbono e do nitrogênio. No metabolismo secundário, a deficiência ou o desequilíbrio de algum destes elementos desencadeia processos negativos. Alguns elementos, como os micronutrientes cobre, manganês e zinco, estão relacionados diretamente com a atividade de compostos antioxidantes, que agem reduzindo espécies reativas de oxigênio. Estes elementos ainda contribuem para a melhor lignificação dos tecidos e preconizam atividades metabólicas relacionadas ao sistema de defesa das plantas. Por isso, a deficiência ou o desequilíbrio nutricional restringirá os processos de crescimento e produtividade, e as plantas ficarão menos resistentes às doenças e pragas. Desta maneira, é fundamental proporcionar as melhores condições para contribuir com a eficiência da absorção e o atendimento de quantidades específicas e equilibradas de nutrientes em cada fase fenológica do cultivo. Atualmente, na agricultura, há soluções à base de aminoácidos que, combinados com estes elementos nutricionais, proporcionam incremento na eficiência da absorção dos nutrientes, tanto radicular como foliar, atendendo melhor às exigências do cultivo e alcançando maiores índices de qualidade e produtividade. Seja qual for a cultura, o tipo de solo e as condições climáticas é preciso sempre ser eficiente no fornecimento dos nutrientes para as plantas, para que consigam completar o seu ciclo produtivo dentro do tempo adequado, para um maior acúmulo de assimilados, e assim alcançar maior nível de potencial proC dutivo e maior rentabilidade final. Marcos Revoredo, Alltech Crop Science
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Cana
Bicudo da cana
Praga capaz de comprometer a longevidade e a produtividade dos canaviais, Sphenophorus levis exige bastante atenção ao manejo. Conhecer o ciclo biológico do inseto e então definir as melhores técnicas, adotadas em conjunto, é fundamental para obter sucesso no controle
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Karen Helena de A. Rodrigues
O
besouro Sphenophorus levis Vaurie, 1978 (Coleoptera, Curculionidae), popularmente conhecido como bicudo-da-cana-de-açúcar, é uma das diversas pragas que atacam os canaviais, diminuindo sua longevidade e a produção de cana-de-açúcar. Segundo a Associação dos Fornecedores de Cana de Piracicaba (Afocapi, 2018), o grande disseminador desta praga é o próprio homem, que carrega o besouro em suas botas e instrumentos de trabalho, uma vez que o indivíduo adulto possui pouca agilidade e sua propagação ocorre através do transporte de mudas e do trânsito de maquinários de área infestada para saudáveis. Outro fator que interferiu bastante no controle
PREJUÍZOS E MÉTODOS DE CONTROLE
A infestação pela praga na cana-de-açúcar ocorre geralmente no período mais quente do ano, com o maior pico de infestação da fase adulta do besouro entre os meses de fevereiro e março, porém é possível encontrá-la no decorrer do ano todo. Os besouros adultos são pouco ágeis, com voos curtos e andar lento, e permanecem no solo sobre restos vegetais, entre os perfilhos ou na base das touceiras das canas. As fêmeas colocam seus ovos na base das touceiras, perfurando sua casca, e são as larvas, eclodidas do ovo, que causam o maior prejuízo à planta, pois permanecem no interior do colmo da cana escavando galerias, bloqueando os rizomas e se alimentando da seiva. Em consequência das galerias abertas ocorre o ressecamento dos perfilhos e do colmo, causando morte das touceiras e amarelamento das folhas, prejudicando a longevidade e a rebrotação das touceiras. Diversas medidas têm sido tomadas para o controle desta praga, porém nenhuma alternativa isolada dos métodos convencionais gera resultados eficazes para seu controle, de forma que para se obter um controle melhor desta praga as medidas devem ser tomadas em conjunto, com a aplicação do Manejo Integrado de Pragas (MIP).
(2010), sendo uma variedade de excelente produtividade, com médio teor de sacarose e alta sanidade às doenças. A área total do experimento continha 60 hectares, com espaçamento das linhas de cana alternados de 0,90cm e 1,5m. O levantamento das pragas foi realizado, através da abertura de trincheiras de 0,5m x 0,5m, com 0,3m de profundidade, coletando as formas biológicas dos insetos-praga (Almeida, 2005). Foram realizados dois pontos de amostragem por hectare, totalizando 120 pontos para comprovação de incidência da praga na área. Para os tratamentos a área foi dividida em seis partes de 10ha, uma para cada um dos tratamentos (Box). Em cada uma foram realizados quatro levantamentos de pragas em 20 pontos, totalizando 480 pontos amostrados. A avaliação da eficácia do método de controle foi realizada a partir da obtenção da taxa de rizomas intactos (T). Para isso considerou-se a quantidade total de rizomas do tratamento (RT), menos a quantidade total de rizomas atacados por tratamento (RA), obtendo-se um valor (RI), a partir do qual calculou-se o percentual (T = RI x 100/RT).
TRATAMENTO QUÍMICO
O método químico consistiu na apli-
cação de inseticida, em cana de terceiro corte, através de um bico de pulverização, nas soqueiras previamente cortadas. Foi utilizada uma calda de alfa-cipermetrina (piretroide) + fipronil (pirazol) em concentração de 1,5L/ ha, após o corte da cana e o início de rebrotamento, fase na qual ocorre maior incidência do indivíduo adulto. Este método se mostrou eficiente no controle do bicudo-da-cana-de-açúcar com uma taxa de aproximadamente 59,9% de eficácia.
TRATAMENTO BIOLÓGICO
Para o tratamento biológico utilizou-se uma solução aquosa com o nematoide entomopatogênico Heterorhabditis, na dosagem de 2,4ml de juvenis infectivos/cm², conforme recomendado por Pérez (2008), aplicada no início da manhã, para evitar a morte do infectivo por dessecamento. Estes nematoides se associam a bactérias entomopatogênicas, responsáveis pela morte da praga. O controle biológico foi realizado em cana de terceiro corte e início do rebrotamento, onde ocorre maior incidência das larvas. Este método obteve uma taxa de 53,7% no controle da praga.
TRATAMENTO MECÂNICO
O tratamento mecânico foi realizado com o eliminador de soqueiras, no período mais quente do ano e com o tempo seco, de forma a expor os rizomas infestados para que ocorresse o dessecamento das formas vivas
Gebio
da praga foi a proibição da queima da cana-de-açúcar, devido à interferência ambiental e à poluição que causava. Embora a medida tenha por objetivo a proteção ambiental, sem a queima o nível de depósito de palha no solo aumenta, favorecendo a sobrevivência da praga e a sua reprodução.
EXPERIMENTO E RESULTADOS
Com o intuito de verificar a maneira mais eficaz para o controle da praga, foram testados métodos químico, biológico e mecânico, isolados e em conjunto. O estudo foi realizado entre fevereiro e novembro de 2018, em uma área experimental de cana-de-açúcar na região de Piracicaba, que possui a variedade de cana RB 966928 catalogada pela Ridesa
Larva do bicudo-da-cana-de-açúcar dentro dos colmos da cana
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Leila Luci Dinardo-Miranda
Figura 1 - Taxa de eficácia do controle do bicudo-da-cana-de-açúcar em cada tratamento realizado
Colmos de cana danificados pelas larvas do bicudo-da-cana-de-açúcar
da praga. O tratamento foi realizado em uma cana de reforma com quatro cortes. O tratamento se mostrou eficiente com uma taxa de aproximadamente 70,7%.
TRATAMENTO QUÍMICO + BIOLÓGICO
O tratamento químico em conjunto com o biológico foi realizado no início do rebrotamento da cana. Primeiro foi introduzido o aplicador de inseticida nos tocos da cana, e após o rebrotamento com as primeiras folhas visíveis foi inserida a solução aquosa do nematoide Heterorhabditis em uma cana de terceiro corte, obtendo-se uma eficácia de 76,2% no controle da praga.
TRATAMENTO MECÂNICO + QUÍMICO
O conjunto de tratamento mecânico com químico foi realizado em duas etapas. Primeiro, na reforma do canavial foi introduzido o irradiador de soqueiras de forma a eliminar e expor os agentes, deixando a área livre e limpa de pragas para o plantio. Após o acompanhamento das mudas e a garantia de sua esterilidade foi introduzida a calda de alfa-cipermetrina (piretroide) + fipronil (pirazol), junto ao sulco de plantio, para impedir que qualquer forma viva da praga, ainda remanescente, invadisse as mudas causando a sua morte. Assim, obteve-se uma eficácia de controle de 83,4%.
TRATAMENTO MECÂNICO + BIOLÓGICO
Para este tratamento, primeiro utilizou-se o irradiador de soqueiras para reforma da área de cana, a fim de eliminar as formas
Tratamentos utilizados 1 - Tratamento químico com alfa-cipermetrina (piretroide) + fipronil (pirazol) 2 - Tratamento biológico com nematoides Heterorhabditis. 3 - Tratamento mecânico com eliminadores de soqueiras. 4 - Conjunto de tratamento químico com biológico. 5 - Conjunto de tratamento mecânico com químico. 6 - Conjunto de tratamento mecânico com biológico.
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vivas existentes da praga, deixando a área limpa para o plantio. O acompanhamento das mudas foi realizado garantindo sua esterilidade e, no início do rebrotamento da cana foi realizada a aplicação da solução aquosa com os nematoides Heterorhabditis, obtendo-se uma eficácia de 75,9%.
ANÁLISE DOS RESULTADOS E CONCLUSÃO
Na Figura 1 estão representados os resultados dos percentuais obtidos nos seis tratamentos realizados. O tratamento 5 (controle mecânico + controle químico) foi o que se mostrou mais eficiente, uma vez que o irradiador de soqueiras (controle mecânico), aplicado no período de maior infestação de pragas, eliminou a maior parte por dessecamento, de forma que a área para plantio encontrava-se limpa e com índices mínimos de infestação. Em seguida, a introdução da calda de alfa-cipermetrina (piretroide) + fipronil (pirazol) possibilitou a eliminação de formas vivas remanescentes. Embora estas ações combinadas não tenham possibilitado a eliminação total das pragas, foram as que apresentaram a melhor taxa de eficácia (83,4%). É importante destacar que a eficiência do controle mecânico está relacionada à época em que é realizado, sendo assim, quanto mais seco e quente estiver o tempo, maior será sua eficácia, devido à exposição dos rizomas e das formas vivas do inseto, que serão mortos por dessecamento. Neste estudo, sua taxa de eficácia foi de aproximadamente 70%, a melhor quando comparada às taxas de controle químico e biológico aplicados de forma isolada. O conhecimento sobre o ciclo biológico da praga é o que garante a eficácia do método, de forma a escolher as melhores técnicas a serem empregadas em conjunto, para o Manejo Integrado de Pragas (MIP). Outras medidas devem ser adotadas como a atenção primária às mudas, garantindo que estejam sadias no viveiro ou que tenham como origem uma área sem índice de C infestação, minimizando assim os danos no canavial. Karen Helena de A. Rodrigues, Universidade Metodista de Piracicaba Maria Eliana C. Navega-Gonçalves, Universidade de São Paulo
Evento
Silêncio fecundo Fotos Phytus Group/Elevagro
V Seminário Phytus + Elevagro reúne sete mil participantes virtuais durante três dias de evento com 40 palestrantes sobre a atuação silenciosa da agricultura em um mundo em pandemia
O
V Seminário Phytus + Elevagro Experience reuniu, em formato gratuito e virtual, mais de sete mil participantes inscritos como espectadores. Durante três dias de evento, a edição contou com apresentações de 40 palestrantes, entre pesquisadores do Instituto Phytus e convidados externos. A temática central deste ano foi “Agricultura: atuação silenciosa em um mundo em pandemia”. Análise das relações entre América do Sul, China, Japão e Índia, no sentido de oportunidades, desafios e projetos que envolvem essa associação estiveram entre os debates. Ainda dentro da temática América do Sul & Ásia foram ministradas palestras de consultorias, produtores rurais e empresas agrícolas que possibilitaram entender o conceito de agricultura globalizada em que o Brasil se encontra atualmente. Ao final de cada turno os palestrantes participaram de uma mesa-redonda para debater e responder dúvidas do público. “Como o título do nosso seminário sugere, estamos discutindo a agricultura, os seus desafios e as oportunidades em um ano atípico como este que estamos vivendo”, avaliou o CEO do Phytus Group, Ricardo Balardin.
Pesquisadores do Instituto Phytus apresentaram os dados das pesquisas realizadas nas estações experimentais do Brasil. Foi debatido o balanço técnico da Safra 2019/2020, apresentado por Balardin, além dos resultados encontrados nos temas de fitopatologia, nematologia, tratamento de sementes, entomologia e herbologia. Entre as novidades deste ano houve a apresentação de resultados encontrados em pesquisas realizadas no Paraguai. O balanço técnico da safra 2019/2020 esteve a cargo do representante da FitoLab, Wilfrido Morel, e os resultados nas áreas específicas foram apresentados pelos pesquisadores da Phytus Corp PY, Agrotec e demais convidados. Foi traçado um panorama dos desafios e oportunidades que devem ser levados em conta atualmente na agricultura. A partir da visão do agronegócio nos moldes da indústria, da distribuição, da produção e gestão, foi possível compreender o comportamento desses segmentos em um ambiente comum de crise. O último bloco do seminário apresentou o papel das ferramentas digitais na agricultura pós-Covid-19. Foi o momento de apresentar o que já é realidade na agricultura do presente, além de insights do que ainda está por vir. Ambos os turnos de apresentações se encerraram com debates, em que o público pôde tirar dúvidas. “O que importa realmente é viver essa situação que estamos passando com otimismo, e ter sempre em mente que é a agricultura que mantém o nosso país de pé”, concluiu Balardin, ao C encerrar o evento. O V Seminário Phytus + Elevagro Experience contou com o apoio da Adama, Agrotec, Alta, AMVAC do Brasil, Basf, Bayer, Calcário Itaú, Corteva, DigiFarmz, FastAgro, FMC, Helm, Ihara, Oxiquímica, Oxiteno, Stoller, Syngenta, Ubyfol, UPL e Verdesian.
Evento em formato virtual ocorreu de modo gratuito, com duração de três dias
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Informe
Wenderson Araujo CNA
Produtividade elev
Formulação que fornece macro e micronutrientes, bioestimulantes, enraizantes, ácidos orgânicos, micro-organismos e aminoácidos essenciais, desenvolvida para tratamento de sementes, eleva em 4,38 sacas por hectare a produtividade média da soja em experimentos realizados em cinco regiões do Rio Grande do Sul
P
ack Seed elevou a produtividade da soja em 4,38 sacas por hectare. O produto, desenvolvido pela Spraytec para tratamento de sementes, foi testado em cinco regiões do Rio Grande do Sul. Cem por cento biodegradável, Pack Seed é economicamente viável e ecologicamente correto. Trata-se de uma tecnologia disruptiva com uma formulação completa, que fornece macro e micronutrientes, bioestimulantes, enraizantes, 18
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ácidos orgânicos, micro-organismos e aminoácidos essenciais altamente disponíveis para a planta. Por ser um complexo nutricional completo em um único produto, Pack Seed fornece uma nutrição equilibrada e reduz custos na pré-semeadura. O Pack Seed é passível de aplicação via sementes, no sulco ou foliar e, ainda, apresenta alternativa no tratamento industrial ou on farm. Aplicado isolado ou associado a outros produtos, garante um melhor
vada
to de sementes, garantindo menor custo, maior sanidade e produtividade da cultura.
OBJETIVO
O objetivo deste trabalho foi verificar o efeito da aplicação do produto comercial Pack Seed na produtividade da soja em cinco regiões do estado do Rio Grande do Sul.
MATERIAL E MÉTODOS
Os experimentos foram conduzidos pela rede experimental da Fundação Pró-Sementes, em regiões produtoras de soja nos municípios de Tupanciretã, Passo Fundo, Vacaria, Bagé e Cachoeira do Sul, no Rio Grande do Sul, junto a lavouras comerciais, manejadas de acordo com as recomendações técnicas para a cultivar, no que se refere a época de semeadura, densidade, espaçamento e demais práticas culturais recomendadas. Utilizou-se a cultivar BMX Zeus Ipro semeada em meados de novembro de 2019, com adubação de base de 300kg/ha da formulação 05-20-30. As sementes foram tratadas com fungicidas e inseticidas recomendados para a cultura, Derosal Plus e Much na dose de 2ml/kg de semente, com e sem Pack Seed na dose de 3ml/kg de semente. O delineamento experimental adotado foi o de blocos ao acaso, com três repetições. As unidades experimentais foram constituídas por cinco linhas, espaçadas de 0,45m com 4m de comprimento, totalizando 9m2 de área. A área útil da unidade experimental para a colheita foram as três linhas centrais, 5,4m2. A densidade de semeadura utilizada foi de 280 mil sementes/ha utilizando-se seme-
adora experimental, adaptada ao sistema pneumático. O rendimento de cada parcela foi obtido pela massa de grãos colhidos na parcela, corrigida a umidade para 13% e, após, transformado em kg/ha. A colheita mecanizada foi realizada em março de 2020 e os dados foram submetidos à análise de variância e suas médias comparadas pelo teste Duncan (5%) utilizando-se o programa estatístico SASM-Agri.
RESULTADOS E CONCLUSÃO
Comparando-se os tratamentos sem e com Pack Seed em cada uma das cinco regiões do Rio Grande do Sul (Figura 1), nota-se que a adição de Pack Seed ao tratamento padrão proporcionou resultados superiores àqueles observados nos tratamentos no qual o produto não foi adicionado. A formulação inovadora de Pack Seed contém substâncias que proporcionam efeito fitotônico sobre o desempenho fisiológico e a sanidade das sementes de soja. O tratamento padrão convencional, na média das cinco regiões, produziu 63,22sc/ha. Após a associação com Pack Seed, a produtividade média das mesmas regiões foi de 67,60sc/ha. Incremento médio de 4,38 sacas por hectare. A diferença de produtividade entre as cinco regiões foi atribuída ao veranico durante alguns períodos do C ciclo da cultura. Kassiana Kehl, Fundação Pró-Sementes
Figura 1 - Produtividade da cultura da soja em cinco regiões do RS sem e com Pack Seed
arranque e estabelecimento inicial do estande, melhor fixação do nitrogênio e contribui com o manejo integrado de nematoides, promovendo maiores sanidade e produtividade. A corrida tecnológica por mais produtividade, associada ao desenvolvimento sustentável, tem se intensificado nos últimos anos, sobretudo no desenvolvimento de cultivares de elevada qualidade e produtividade, além de modernos equipamentos. O Pack Seed é um produto de vanguarda e que atende aos anseios do campo, pois vai além da simples nutrição da planta, via tratamenwww.revistacultivar.com.br • Julho 2020
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Ivan Cruz
Capa
Quanto danifica O percevejo barriga-verde é um inseto com alto potencial de prejuízos à cultura do milho, sobretudo nos estádios iniciais de desenvolvimento das plantas. Determinar o nível de dano dessa praga é fundamental para orientar a adequada tomada de decisão para a implementação de táticas de controle
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A
região Centro-Oeste é responsável por grande parte da produção de milho no Brasil. A intensificação do cultivo de segunda época (safrinha), bem como a rotação e sucessão de culturas têm modificado significativamente os sistemas de produção e o manejo fitossanitário na cultura do milho, proporcionando alterações na composição e abundância das espécies de insetos que nela ocorrem. A utilização do sistema plantio direto tem também favorecido o desenvolvimento e a sobrevivência de algumas pragas, como é o caso dos percevejos fitófagos que podem causar prejuízos na cultura do milho safrinha, caso não sejam controlados. Os percevejos fitófagos da família Pentatomidae são insetos sugadores que apresentam como principal característica o hábito de introduzir seus estiletes no substrato de alimentação, atacando várias estruturas das plantas, embora as sementes e os frutos sejam os locais preferenciais para sua alimentação. Na região Centro-Oeste, o milho safrinha é cultivado após a colheita da soja, condição que favorece a sobrevivência e a multiplicação do percevejo barriga-verde, Dichelops melacanthus, cuja população pode causar danos significativos na cultura, especialmente nos seus estádios iniciais de desenvolvimento. Todavia, a relação entre os danos na planta de milho e a presença do percevejo barriga-verde, bem como o seu nível de dano econômico na cultura, têm sido pouco estudados no Brasil. Essas informações, quando identificadas, podem fornecer subsídios para o manejo integrado desta praga na cultura do milho, orientando sobre o momento ideal da utilização de medidas de controle.
EXPERIMENTO DE DANOS DO BARRIGA-VERDE NO MILHO
Conduziu-se, na Embrapa Agropecuária Oeste, uma pesquisa para avaliar o comportamento produtivo do milho safrinha na presença do percevejo barriga-verde em diferentes estádios de desenvolvimento da planta, bem como analisar o efeito de diferentes níveis populacionais desta praga na cultura, para estimar o seu nível de dano econômico. Esse experimento foi conduzido em casa de vegetação, utilizando-se a cultivar Exceller, que foi semeada em vasos plásticos com capacidade de 13L contendo
solo, conduzindo-se duas plantas de milho/ vaso. As plantas foram infestadas com quatro adultos do percevejo barriga-verde em cinco diferentes estádios de desenvolvimento: V1 (uma folha); V2 (duas folhas); V3 (três folhas); V4 (quatro folhas) e V5 (cinco folhas). Sobre as plantas de cada vaso foi colocada uma armação de ferro revestida com tecido do tipo filó, para contenção dos insetos durante o período de infestação (dez dias). Os vasos foram vistoriados diariamente para reposição de eventuais percevejos mortos no interior das gaiolas. O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado com seis tratamentos (cinco estádios com infestação e uma testemunha sem insetos) em sete repetições (vasos com duas plantas). As plantas de milho foram conduzidas até a colheita para a determinação da massa seca da parte aérea e o rendimento de grãos. Todas as plantas de milho receberam os tratos agrícolas necessários como também a irrigação, quando necessário. Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey a 5% de significância.
EXPERIMENTO DE NÍVEL DE DANO DE D. MELACANTHUS
O experimento foi realizado na área da Embrapa Agropecuária Oeste, em Dourados, Mato Grosso do Sul. A semeadura foi realizada no mês de fevereiro, seguindo as recomendações técnicas de adubação para a cultura. A unidade experimental consistiu de uma gaiola em armação de ferro com 1m de comprimento por 0,90m de largura e 0,90m de altura revestida com tela de nylon, que abrangia cinco plantas de milho e uma área útil da parcela de 0,90m2. Quando as plantas se encontravam no estádio V1 (uma folha), foram infestadas com diferentes níveis populacionais de adultos de D. melacanthus (zero, dois, quatro, seis e oito percevejos/gaiola) por um período de dez dias. As gaiolas foram vistoriadas diariamente para reposição de eventuais percevejos mortos em seu interior. O experimento foi conduzido em delineamento de blocos casualizados com cinco tratamentos (níveis de infestação) e cinco repetições (gaiolas). Após o período de infestação, os percevejos e as gaiolas foram retirados das unidades experimentais e as plantas de milho pulverizadas periodicamente com inseticidas, para eliminar pos-
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Ivan Cruz
Dichelops melacanthus pode provocar sérios prejuízos ao cultivo de milho
síveis infestações de percevejos ou de outras pragas. O ensaio foi conduzido até a colheita para determinação do peso das espigas, o peso de 100 sementes e o rendimento de grãos. Os resultados foram submetidos à análise de variância e as médias dos tratamentos comparadas pelo teste de Tukey a 5% de significância. Para determinação do nível de dano, os dados foram submetidos à análise de regressão, sendo o rendimento de grãos, a variável dependente e as densidades populacionais do percevejo a variável independente. Para o cálculo do nível de dano econômico (D) utilizou-se a fórmula sugerida por Nakano et al. (1981), %D = 100 x Ct/V, sendo Ct o custo de controle e V o valor da cultura. Considerou-se o custo de controle do percevejo para a cultura do mi-
lho equivalente a R$ 84,08 por hectare, correspondendo a uma aplicação dos inseticidas imidacloprido + thiodicarbe (45 + 135 g/ha) nas sementes e uma pulverização com imidacloprido + betaciflutrina (75 + 9,4 g/ha) sobre as plantas.
RESULTADOS DE DANOS
Em todos os estádios de desenvolvimento em que as plantas de milho foram infestadas com o percevejo barriga-verde foram observados menores valores de massa seca da parte aérea, quando comparado à massa seca das plantas que não foram infestadas com o percevejo. Esse efeito foi significativamente mais deletério nas plantas que apresentavam
apenas uma folha (Figura 1) e evidenciam que a injúria causada pelo percevejo no milho afetou o acúmulo de matéria seca pela planta. O percevejo barriga-verde reduziu também o rendimento de grãos do milho para as infestações realizadas em plantas dos estádios V1, V2 e V3, quando comparado às plantas não infestadas no tratamento testemunha (Figura 2). Nas plantas dos estádios V4 e V5 não foram constatadas reduções significativas no rendimento de grãos, embora os níveis de produtividades nestes tratamentos fossem inferiores mais que duas vezes à produção observada nas plantas não infestadas (sem infestação). Nas espigas que a planta de milho eventualmente irá produzir, os grãos são geralmente formados até o estádio V3/ V4. Com isso, o número máximo de grãos ou a produção potencial desta cultura estará sendo definido até esses estádios de desenvolvimento. Dessa forma, o ataque do percevejo nos estádios iniciais de desenvolvimento do milho interferiu negativamente no desenvolvimento fisiológico das plantas e, consequentemente, afetou o seu potencial de rendimento de grãos.
RESULTADOS DO NÍVEL DE DANO
O peso de 100 grãos do milho não foi influenciado pelas densidades populacionais do percevejo utilizadas nas
Figura 1- Massa seca média (g) da parte aérea do milho quando infestado com adultos de D. melacanthus, em diferentes estádios de desenvolvimento das plantas. Dourados, MS
Figura 2 - Rendimento médio de grãos de milho (g/vaso) em plantas infestadas com adultos de D. melacanthus, em diferentes estádios de desenvolvimento. Dourados, MS
Nas colunas seguidas da mesma letra, as médias não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey (p < 0,05).
Nas colunas seguidas da mesma letra, as médias não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey (p < 0,05).
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gaiolas. No entanto, nas duas densidades populacionais mais elevadas testadas do percevejo (seis e oito percevejos/gaiola), o peso das espigas produzidas por gaiola foi significativamente reduzido, quando comparado às plantas não infestadas, embora essas não diferissem estatisticamente das densidades de dois e quatro percevejos/gaiola (Tabela 1). Na fase de enchimento de grãos, a planta começa a transformação dos açúcares em amido, contribuindo assim para o seu incremento de peso seco. Tal incremento ocorre devido à translocação dos fotoassimilados produzidos nas folhas para as espigas e os grãos que estão em formação. Com base nos resultados obtidos pode-se inferir que a produtividade do milho foi possivelmente afetada pelo ataque do percevejo nos estádios iniciais de desenvolvimento da planta (V1), quando ocorreu redução no desenvolvimento e na formação de grãos na espiga. O rendimento de grãos de milho apresentou relação negativa e significativa com os níveis de infestação do percevejo nas plantas, uma vez que o aumento da densidade populacional do percevejo barriga-verde reduziu o rendimento de grãos da cultura, sendo essa relação significativamente ajustada ao modelo linear de regressão (Figura 3). Através dos valores de produção estimados de milho, para as diferentes densidades populacionais do percevejo no intervalo
de dois a oito insetos/gaiola, foi possível estimar o rendimento de grãos por hectare. Esses valores de rendimento de grãos, quando comparado com aquele observado na testemunha (plantas não infestadas), possibilitaram obter o cálculo do percentual de perdas para cada densidade populacional estudada do percevejo. A equação que relacionou as densidades populacionais do percevejo e os rendimentos de grãos apontou redução de 5,98% na produção de milho para cada percevejo acrescentado na gaiola. Transformando os dados das perdas para cada inseto/m2, estimou-se que um percevejo/m2 causaria uma redução de, aproximadamente, 5,38% na produção de grãos de milho. Utilizando-se a fórmula sugerida por Nakano et al. (1981), determinou-se o percentual de dano (% D) no milho, que equivale ao nível de dano econômico correspondente a 3,12% da produção. Conhecido esse percentual de dano, estabeleceu-se uma regra de três simples entre o percentual de dano causado pelas diferentes densidades populacionais do percevejo/gaiola e o percentual de dano obtido com a fórmula previamente citada. Dessa maneira, verificou-se que o número de percevejos que causa dano equivalente ao custo do seu controle (R$ 84,08), que representa o Nível de Dano Econômico da praga para a cultura do milho, foi de 0,58 percevejo/m2, consi-
Tabela 1 - Peso médio de 100 grãos (± EP1) do milho e das espigas (± EP) de plantas infestadas com diferentes densidades de adultos de D. melacanthus. Dourados, MS Percevejos/gaiola Peso de 100 grãos Peso das espigas (g/vaso) 0 34,00 ± 1,17 a 797,24 ± 50,92 a 2 34,40 ± 2,51 a 625,36 ± 79,9 ab 4 32,70 ± 0,75 a 620,56 ± 29,71 ab 6 34,00 ± 1,17 a 460,60 ± 82,63 b 8 30,60 ± 1,18 a 429,52 ± 92,75 b Médias seguidas da mesma letra, na coluna, não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey (p< 0,05). 1Erro Padrão da média.
derando um rendimento médio de grãos da cultura de 6,568kg/ha. Os resultados obtidos neste trabalho evidenciaram um alto potencial de dano do percevejo barriga-verde na cultura do milho, sendo o nível de dano econômico encontrado para o controle dessa praga inferior a um percevejo/ m². Convém salientar que os cálculos de nível de dano podem variar de ano para ano, dependendo do estádio da planta em que ocorre a infestação do percevejo, do nível de produtividade da cultura, do grau de suscetibilidade da cultivar, bem como do custo de controle utilizado para essa praga na cultura. As informações obtidas nesta pesquisa servirão para a orientação na tomada de decisão para a implementação de táticas de controle do percevejo C barriga-verde na cultura de milho. Crébio José Ávila Embrapa Agropecuária Oeste Paulo Henrique Ramos Fernandes Ivana Fernandes da Silva Universidade Federal da Grande Dourados
Crébio José Ávila
Figura 3 - Relação entre o rendimento de grãos (Kg/ha) do milho e as densidades populacionais de adultos do percevejo barriga-verde, D. melacanthus, infestado nas gaiolas. Dourados, MS
Danos provocados pelo percevejo barriga-verde em folhas de milho
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Pragas
Perto demais Nuvem de gafanhotos na fronteira da Argentina com o Sul do Brasil coloca autoridades em alerta, com adoção de medidas emergenciais e de monitoramento. Insetos possuem alto poder de destruição de vegetais e são uma grande ameaça para cultivos agrícolas e pastagens
U
ma densa nuvem de gafanhotos Schistocerca cancellata gafanhoto migratório (Schistocerca cancellata Serville) foi o mais em movimento na vizinha Argentina colocou em alerta prejudicial na Argentina, responsável por perdas econômicas em as autoridades brasileiras em junho. Foi a primeira vez lavouras e campos naturais, em grandes regiões. nos últimos 70 anos que a praga esteve tão próxima da fronteira Isso levou a Argentina a adotar diferentes estratégias de controcom o Sul do País. A ocorrência levou o governo do Brasil a decretar le ao longo dos anos (Box). Surtos mais recentes foram registrados situação de emergência fitossanitária nos estados do Rio Grande também em 2010, 2015 e 2017. do Sul e Santa Catarina. Com capacidade de se movimentar até 150 quilômetros por dia, cada metro quadrado ocupado pela nuO SURTO EM 2020 vem de gafanhotos representa milhares de insetos vorazes, com Em 17 de junho de 2020 a nuvem de gafanhotos entrou no apetite para devorar vegetais em volume equivalente a 35 mil território da província de Santa Fé, na Argentina, após ter sido repessoas ou até dois mil bovinos. latada dias antes nas províncias de Chaco e Formosa, no Paraguai. O entomologista Milton Souza Guerra, falecido em 2015, A área de distribuição do inseto inclui Paraguai, Bolívia e Brasil, já alertava sobre o risco de gafanhotos no início de 2000. Dizia além da Argentina (no Centro e Noroeste) em províncias como que a próxima onda viria do Oeste, pois a reDistribuição migratória do gafanhoto Schistocerca cancellata gião do Chaco reunia muitas condições para a proliferação e que lá havia uma população importante desse inseto só aguardando por algumas circunstâncias que desencadeariam o nível de praga. Não é a primeira vez que o inseto surge na Argentina. Dados do Serviço Nacional de Saúde e Qualidade Agroalimentar (Senasa), que mantém um programa de controle da praga, dão conta de que gafanhotos registram danos no país desde 1538, quando devastaram plantações de mandioca na província de Buenos Aires. Durante a primeira metade do século 20, o
Senasa
Fonte Cabi/Mapa
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Histórico de estratégias de controle na Argentina
L
utas defensivas (1897 a 1940): nesta fase não havia procedimentos conhecidos de "luta" com resultados positivos para controlar a praga e evitar seus danos socioeconômicos. O uso de barreiras físicas para impedir a propagação da praga nos estágios ninfais era muito comum. Lutas ofensivas (1944 a 1954): caracterizou-se pela incorporação parcial de produtos sintéticos, mas a alta densidade e a grande dispersão da praga superaram as possibilidades de controle. Nesse período, gafanhotos afetaram gravemente grande parte do país. Lutas preventivas (desde 1954): atualmente são realizados tratamentos preventivos para controlar a densidade da praga. A metodologia concentra-se na detecção e controle de focos incipientes dos estágios juvenis da praga. A estratégia se concentra em prospecção, monitoramento e controle contínuos de surtos enquadrados em uma visão holística. Senasa
autoridades sanitárias do país vizinho. O Mapa elaborou um manual técnico de orientações sobre as ações de controle do gafanhoto sul-americano. A publicação, adaptada às condições do Brasil, é respaldada por dados científicos, com capacitação dos agentes envolvidos em um eventual surto da praga no País. O material tem como referências o Serviço Nacional de Saúde e Qualidade Agroalimentar (Senasa) e a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). Informa como realizar o monitoramento, as fases da praga, identificação, tratamento preventivo e orientações gerais sobre o uso de agroquímicos.
Espécie presente no atual surto na Argentina é do gafanhoto sul-americano Schistocerca cancellata
Inseto forma densas nuvens e ataca com voracidade as vegetações
PRINCIPAIS ORIENTAÇÕES DO MANUAL TÉCNICO DO MAPA
É uma das poucas espécies de Schistocerca que, verdadeiramente, formam densas “nuvens” migratórias. As asas são rendadas e a coloração geral envolve diversos tons de marrom. Senasa
Senasa Argentina/Mapa
Córdoba, Santiago del Estero, Catamarca e La Rioja. Desde então, o Serviço Nacional de Saúde e Qualidade Agroalimentar (Senasa) tem realizado diversas ações de monitoramento e pulverizações e anunciou ter conseguido diminuir a população de gafanhotos. Nos primeiros dias de julho, parte da nuvem remanescente permanecia no departamento de Curuzú Cuatiá, província de Corrientes, distante aproximadamente 140 quilômetros de Uruguaiana, no Rio Grande do Sul. Dependente de condições climáticas e ambientais para dispersão a grandes distâncias, o forte frio registrado na região favoreceu a permanência dos insetos em solo argentino. Desde a detecção do último surto na Argentina, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e secretarias estaduais do Sul do Brasil adotaram medidas emergenciais e monitoram a situação na fronteira, em contato e cooperação com
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Senasa
depositados). Um gafanhoto adulto pode fazer a postura mais de uma vez, entre 80 ovos e 120 ovos por postura, aproximadamente. O controle no instar do ovo é geralmente complexo. Na maioria dos casos os locais de postura devem ser identificados para monitoramento e detecção precoce dos nascimentos e posterior pulverização com inseticidas registrados no Mapa. Somente em situações pontuais o solo pode ser revirado mecanicamente para exposição dos ovos, causando perda de viabilidade.
NINFAS
As grandes tendências migratórias deste Orthoptera deixam margem para dúvidas sobre o seu estado real de distribuição. Registros apontam que Schistocerca cancellata é adaptado às regiões áridas e semiáridas da Bolívia e do Paraguai. Quando da existência de condições climáticas favoráveis ocorre a procriação bem-sucedida, seguida da formação de nuvens que podem migrar para regiões de cultivo.
MONITORAMENTO E CONTROLE
O monitoramento deve ser realizado em locais onde foram registrados gafanhotos com ovos. Observe se existem buracos no chão e confirme a presença de ovos (atenção: às vezes há indícios de que houve a postura, contudo, os ovos podem não ter sido
Sobre a praga Nome científico: Schistocerca cancellata Serville Outros nomes científicos: Acridium cancellatum; Schistocerca americana paranensis; Schistocerca paranensis (Burmeister). Nomes comuns internacionais: Espanhol: esperanza; langosta voladora; Código EPPO: SHICCH (Schistocerca cancellata). Árvore Taxonômica: Domínio: Eukaryota Reino: Metazoa Filo: Arthropoda Subfilo: Uniramia Classe: Insecta Ordem: Orthoptera Família: Acrididae Gênero: Schistocerca Espécie: Schistocerca cancellata Fonte: Mapa
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COMPARAÇÃO DAS NINFAS
Pesquisadores criaram as ninfas dos gafanhotos em laboratório, em condições de isolamento e em grupos. Diferenças resultantes na coloração podem ser vistas claramente. Nos primeiros estágios os indivíduos são mais sensíveis, é quando ficam mais densamente agrupados e há mortalidade natural. Em geral, o controle nessa fase é mais eficaz, com uma porcentagem significativa de mortalidade. O controle fitossanitário realizado por meio de pulverizadores costais, de barra e/ou atomizadores é eficaz para este trabalho.
TRATAMENTO PREVENTIVO EM FAIXAS
Devido à mobilidade de praga é possível realizar aplicações com inseticidas em faixas, pois assim se reduzirá consideravelmente a superfície a ser tratada, diminuindo o impacto ambiental e
Senasa Argentina/Mapa
Em estágio de ninfas os gafanhotos permanecem ao nível do solo
Gafanhotos em estágio juvenil, isto é, de ninfas, não têm capacidade de voo, portanto, o monitoramento é no nível do solo. Locais de postura devem ser monitorados periodicamente para verificar nascimentos. As plantas daninhas ou as culturas danificadas costumam servir para orientar o monitoramento. O controle de estágios juvenis pode ser realizado por terra, podendo complementar as ações por via aérea em determinadas situações que permitem a efetividade do controle ("locais abertos"). A presença de organismos não alvo deve ser considerada na escolha do método mais apropriado. Os nascimentos ocorrem de maneira escalonada, o que deve ser levado em consideração no momento do controle, e o uso de inseticidas pode ser eficaz em determinadas situações.
Monitoramento deve ser realizado onde foram registrados gafanhotos com ovos
ADULTOS
Os adultos podem ser tratados por via aérea ou por terra com o uso de atomizadores do tipo canhão. É recomendada a aplicação com a nuvem de gafanhotos espacialmente localizada. O controle aéreo exige o monitoramento das “nuvens” de gafanhotos durante o dia, até o local em que aterrissam à tarde/ noite. Nesse momento, a superfície onde a praga está localizada deve ser estimada e marcado polígono para que a aplicação possa ser realizada no dia seguinte, na primeira hora do dia. Assim sendo, há diminuição da superfície a ser tratada, menor impacto ambiental, menor custo de aplicação e menor risco para o aplicador. A aplicação precoce evita o movimento da praga devido às temperaturas. É necessário ter uma ótima coordenação de trabalho e ter os suprimentos necessários, pois o tempo de decisão é muito curto, assim como a janela de C aplicação.
Recomendações gerais O controle químico • Usar agroquímicos indicados pelo Mapa em ato específico. • Não deve ser aplicado em horas de altas temperaturas, pois nessas condições ocorrem correntes de ar que afastam o inseticida da superfície a ser tratada e a evaporação é maior. Os instares da praga devem ser levados em consideração para realizar um bom controle e considerar uma margem de tempo entre uma aplicação e outra. • A mortalidade pós-tratamento precisa ser verificada para avaliar sua eficácia. • No caso de pulverização com inseticidas, deve-se ler com atenção o rótulo do produto fitossanitário adquirido na íntegra, a fim de respeitar as precauções e recomendações para seu uso. • Em caso de pulverização com inseticidas, use equipamentos proteção individual (EPI). • A aplicação do produto fitossanitário e a disposição final dos restos do produto e das embalagens vazias devem ser realizadas em conformidade com a legislação federal e estadual em vigor.
Senasa Argentina/Mapa
financeiro, além da otimização do tempo. À medida que as ninfas avançam em grupos, encontrarão as faixas tratadas, evitando assim a aplicação em cobertura total. Embora o movimento dos gafanhotos possa ser irregular, deverá ser realizado tratamento de forma perpendicular ao avanço da praga. Cada faixa deve ter aproximadamente 30 metros, se a aplicação for realizada a favor do vento, ou 50 metros se for contra o vento. A distância entre as faixas depende do movimento da praga: Caso a praga já esteja instalada em uma lavoura, deverá ser feita a utilização de ingredientes ativos com poder de ação mais rápido, para obtenção de um controle eficaz, podendo ser feita a combinação de ingredientes ativos.
A íntegra do Manual de Procedimentos Gerais para o Controle da Praga Schistocerca cancellata está disponível em www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/noticias/monitoramento-indica-que-nuvem-de-gafanhotos-nao-entrou-no-brasil/copy_of_Manualcontrolegafanhotos.pdf
Tabela - Distância entre as faixas segundo o estágio da ninfa Ínstar N1 / N2 N3 / N4 N5
Distancia entre faixas 150m 300m 500m
Tratamento preventivo em faixas
Ovos de gafanhotos viáveis (esquerda) e inviáveis por desidratação (direita)
Comparação das ninfas de Shistocerca cancellata
Fonte: Imagem originalmente publicada em Pocco et al 2019, Annals of the Entomological Society of America
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Pragas INTA
Nuvem densa Oriundo do Paraguai, enxame de Schistocerca cancellata ingressou na Argentina no final de maio e seguia na região de Corrientes, nos primeiros dias de julho. Voraz por vegetais, essa praga demanda monitoramento e controle permanentes diante dos riscos à atividade agrícola
O
termo gafanhoto é usado para se referir a algumas espécies de acrilídeos capazes de formar "enxames" ou "nuvens" sob certas condições (climáticas e alimentares), com a capacidade de se mover através de grandes áreas, causando danos às plantações e/ou vegetação natural. Entre essas espécies está Schistocerca cancellata (Serville 1839), conhecida como gafanhoto da América do Sul, uma praga pendente na Argentina, devido ao seu histórico, desde o final da década de 1890. Na Argentina, essa praga foi classificada como praga nacional e está sob monitoramento e vigilância oficiais. Existe um programa nacional, que define estratégias e diretrizes para sua gestão, correspondente ao Serviço Nacional de Saúde e Qualidade Agroalimentar (SENASA), denominado Programa Nacional de Acrídidos. Estabelece os relatórios obrigatórios e a execução de tarefas de controle por produtores, proprietários e arrendatários de estabelecimentos agrícolas. O INTA acompanha as ações do programa e colabora com as obras no território, por meio de treinamento e disseminação de informações sobre características, ciclo de vida, comportamento e manejo desta espécie de interesse agrícola, devido aos danos que pode causar.
CONDIÇÕES FAVORÁVEIS AO DESENVOLVIMENTO
Como condições predisponentes para que esta espécie atinja o status de praga é possível citar invernos benignos (altas temperaturas no inverno) e chuvas adequadas, o que pode permitir o desenvolvimento de até três gerações por ano. Gafanhotos, em seus ambientes
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SENASA
permanentes de reprodução, se reproduzem desde que as condições do solo, do clima e da flora sejam favoráveis e encontrem comida disponível. Quando os contextos mudam e se tornam desfavoráveis, a população migra formando nuvens, compostas por milhares e milhares de indivíduos. Nas áreas de reprodução, as chuvas ocorrem normalmente de novembro a março-abril, permitindo o desenvolvimento de duas gerações anuais: 1 - primavera, curta e rápida e 2 - verão mais longo, em que os adultos passam o inverno em diapausa reprodutiva até a primeira chuva da primavera.
BIOLOGIA E ECOLOGIA
O gênero Schistocerca é polifágico e pode devorar mais de 400 espécies de plantas. A particularidade dos gafanhotos reside na capacidade de mudar seu comportamento e fisiologia (cor, tamanho e forma) em resposta a mudanças na densidade populacional, passando de um estado solitário para um gregário e vice-versa. Aparentemente, quando grandes grupos de indivíduos da mesma espécie se reúnem, eles liberam hormônios apropriados para ativar seu comportamento migratório, desenvolver maior crescimento das asas e, assim, serem capazes de se dispersar para outros territórios, evitando assim a competição intraespecífica por comida. Essa capacidade de se juntar ativamente, formar nuvens e dispersar (até 150 quilômetros por dia com ventos favoráveis), somada à sua voracidade, determina uma grande ameaça para toda a atividade agrícola do país. O conhecimento do ciclo de vida e das características morfológicas de cada estágio permite o gerenciamento e a tomada de decisões adequados para seu controle.
SITUAÇÃO NA ARGENTINA HISTÓRIA E EVENTOS ATUAIS
Sua área de distribuição abrange o Centro e o Norte da Argentina (ver mapa), Uruguai, Paraguai, Sul do Bra-
Capacidade de se juntar ativamente, formar nuvens e dispersar torna gafanhotos uma grande ameça à atividade agrícola
sil, Sudeste da Bolívia, Centro e Norte do Chile. A área de origem das explosões demográficas (“área de surto”) se estende do Centro-Sudeste de Catamarca e La Rioja, a Leste de San Juan, ao Norte de San Luis e Córdoba e a Sudoeste de Santiago del Estero (ver mapa). Quando gafanhotos atingem altas densidades populacionais, entram na fase gregária (agrupada) e migram em nuvens para novas áreas, e é assim que podem se mover a grandes distâncias. Na Argentina, os primeiros registros de controle de gafanhotos datam de meados do século 19, um fenômeno que continua até hoje em várias províncias. A invasão registrada em 1932-1933 foi considerada uma das maiores do país. Chegou a ocupar mais de 152 milhões de hectares, ou seja, mais da metade da superfície do país. Naquele período, pouco se sabia sobre o controle de pragas e procedimentos de controle. Barreiras físicas (placas, valas, trincheiras etc.) foram usadas ao redor dos perímetros dos campos para impedir a entrada de gafanhotos ninfas. Em 2010, uma emergência fitossanitária foi declarada em todo o território nacional devido à detecção de surtos em diferentes áreas das províncias de Catamarca, La Rioja e Córdoba.
Em 2015, houve registros de uma nuvem de gafanhoto que causou problemas na província de Santiago del Estero, a Sudeste da província de Tucumán e Catamarca; os danos foram registrados em florestas, pradarias naturais e, em menor grau, em área agrícola. Em 2017, as nuvens de gafanhotos foram registradas inicialmente em Formosa, depois em Chaco, Santiago del Estero, Córdoba, Tucumán e Noroeste da província de Santa Fé. Nessa província, em 2017, a manga estava concentrada no Paralelo 28, na área conhecida como Tres Mojones, um setor incluído nas proximidades dos limites das três províncias, Santa Fé, Chaco e Santiago del Estero. Atualmente, uma nuvem de gafanhotos voltou à Argentina entre o final de maio e o início de junho de 2020, oriunda do Paraguai. Essa nuvem atravessou as províncias de Formosa, Chaco, Santa Fé, para se estabelecer na província de Corrientes, onde permanecia de 19 de junho de 2020 até os primeiros dias de julho de 2020.
A PRAGA NOS AMBIENTES URBANOS
Esses insetos se alimentam apenas de material vegetal, não transmitem doenças ou causam danos a seres hu-
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manos ou animais, ou seja, não representam risco à saúde das populações da cidade. Esta praga se alimenta de qualquer tipo de material vegetal e, portanto, gera impacto econômico nas áreas rurais, atacando plantações, pastagens e florestas.
MONITORAMENTO E CONTROLE
O manejo preventivo dessa praga implica monitoramento e controle permanentes. A detecção precoce é essencial para o gerenciamento adequado. O monitoramento contínuo deve ser realizado em locais onde as nuvens foram estabelecidas, bem como rotas de voo, zonas de oviposição, áreas de emergência e/ou presença de estádios juvenis. A identificação precoce de focos e controle de pragas contribuirá para a eficácia de seu manejo. O momento oportuno para o controle dessa praga está no estágio ninfa (juvenil, uma vez que ainda não desenvolveu suas asas); nesse estágio, move-se ao nível do solo em forma de saltos, sem deslocamento por grandes territórios. Locais de postura devem ser monitorados periodicamente para verificar nascimentos. Ervas daninhas ou restos de culturas costumam servir para orientar o monitoramento. O controle químico, nesta fase, permitiria diminuir a densidade populacional de indivíduos que mais tarde podem voar na forma de nuvens, evitando danos à vegetação natural e às culturas agrícolas. No estado adulto e na fase gregária, eles também podem ser tratados, fazendo aplicações quando a nuvem é assentada. Esse controle requer o monitoramento das nuvens durante o dia, até o local onde elas pousam à tarde/noite. Os controles podem ser realizados por via aérea ou terrestre, manualmente, usando mochilas ou com o emprego de pulverizadores e canhões.
Fontes para mais informações na Argentina SENASA http://www.senasa.gob.ar/cadena-vegetal/cereales/produccion-primaria/programas-fitosanitarios/acridios#normativas acridios@senasa.gob.ar App “Alertas Senasa” INTA https://www.argentina.gob.ar/inta https://inta.gob.ar/sanidad-vegetal Os produtos para o controle químico desta espécie devem ser registrados e autorizados pela autoridade competente e, ao realizar um tratamento, deve ser garantido o menor impacto ambiental possível a todos os organismos de controle não alvos, como locais urbanos, apiários, reservas de água, etc. Isso também implica ações articuladas entre organismos como SENASA, Ministérios Provinciais de Produção, Faculdades de Engenheiros Agrícolas, INTA e proC dutores agrícolas da região envolvida. Daniela Vitti, Diego Szwarc e Melina Almada, INTA, Reconquista, Santa Fe. Argentina
INTA
Mapa de distribuição dos insetos
Gafanhoto da América do Sul é considerado praga nacional na Argentina
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Pragas Western Australian Agriculture Authority, 2015
Inimigos à espreita A prevenção de introdução, estabelecimento e dispersão de potenciais pragas exóticas como Helicoverpa punctigera no Brasil é uma necessidade diante da importância do País no cenário agrícola mundial e do grande volume de mercadorias importadas/exportadas. O uso de ferramentas de modelagem pode ser um grande aliado da biossegurança agrícola nacional
É
provável que você já deve ter ouvido falar em lagarta-do-cartucho, Spodoptera frugiperda (JE Smith) (Lepidoptera: Noctuidae); broca-pequena-do-tomateiro, Neoleucinodes elegantalis (Guenée) (Lepidoptera: Crambidae); bicudo-do-algodoeiro, Anthonomus grandis Boheman (Coleoptera: Curculionidae); broca-do-café, Hypothenemus hampei (Coleoptera: Scolytidae); ácaro-das-palmeiras, Raoiella indica Hirst (Prostigmata: Tenuipalpidae) e lagarta-helicoverpa Helicoverpa armigera (Hübner) (Lepidoptera: Noctuidae). O que esses insetos têm em comum? Todos são pragas exóticas que invadiram e instalaram-se no Brasil, provocando severos prejuízos na agricultura nacional. A última praga da lista, H. armigera, foi constatada em meados de 2013 e logo no primeiro ano provocou prejuízo da ordem de 2 bilhões de dólares (Czepak et al., 2013). Pois bem, no cenário mundial existem muitas outras pragas exóticas com elevado potencial de dano assim como H. armigera. São classificadas pela legislação brasileira como Pragas Quaren-
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tenárias Ausentes (PQA). E que por definição é entendida como Praga Quarentenária Ausente (PQA) a de importância econômica potencial para uma área em perigo, que não esteja presente no território nacional (Brasil, 2016, p.7). Algumas PQA apresentam maior potencial de dano quando comparadas às outras. Destaca-se uma “prima” próxima da H. armigera, oriunda do mesmo centro de origem (Austrália), que assombra produtores de grãos, de algodão, de hortaliças e de frutas no mundo, e atende pelo nome científico de Helicoverpa punctigera (Wallengren) (Lepidoptera: Noctuidae). Por serem bastante similares é necessária muita atenção na identificação correta destas espécies. Dentre as principais diferenciações morfológicas é possível destacar que as larvas de H. punctigera têm pelos pretos ao redor da cabeça e ao longo do corpo, enquanto H. armigera apresenta pelos claros. Já nos indivíduos adultos de H. armigera é possível verificar duas manchas claras nas asas inferiores, enquanto em H. punctigera não existem essas manchas (Figura 1) (Bellati et al., 2012). Helicoverpa punctigera é uma espécie extremamente polífaga que ataca aproximadamente 130 espécies de plantas (Zalucki et al., 1994; Cunningham et al., 2014) e nos dias atuais encontra-se restrita apenas à Austrália (Figura 2) (Oertel et al., 1999). Existe grande preocupação dos órgãos de regulação fitossanitária e de produtores de todo o mundo com a disseminação de H. punctigera para outras áreas agrícolas e isso deve-se a um conjunto de características que lhe permitem sobreviver e explorar diferentes plantas em sistemas de cultivos diversos. Destacam-se sua capacidade de migração- cerca de 2.000km (Rochester, 1999), sua capacidade de permanecer em diapausa variando de 69-318 dias (Zalucki et al., 1986) e alta taxa de fecundidade, uma vez que as fêmeas têm potencial para ovipositar de 1.500 a 1.800 ovos durante um período reprodutivo de dez a 12 dias (Zalucki et al., 1986; Furlong; Zalucki, 2017). Porém, em contraste à H. armigera, apresenta menor capacidade de adquirir resistência à inseticidas. Devido ao seu potencial de disseminação, vários países tornaram a entrada de mercadorias nas fronteiras mais rigorosa. Como resultado desse esforço, o Serviço de Inspeção Sanitária Animal e Vegetal dos Estados Unidos (USDA-Aphis) (USA), no ano de 1999, conseguiu interceptar dois exemplares de H. punctigera (Kriticos et al., 2015). Já no Brasil, em 2015, houve suspeita da presença de H. punctigera, pois foi encontrado um inseto com características semelhantes na região Noroeste do estado do Ceará (Embrapa, Figura 2 - Distribuição natural de Helicoverpa punctigera (Wallengren) (Lepidoptera: Noctuidae), atualmente restrita à Austrália
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Figura 1 - Características distintivas entre Helicoverpa punctigera (Wallengren) e Helicoverpa armigera (Hübner) (Lepidoptera: Noctuidae).
2015). A identificação desse espécime mostrou não se tratar de H. punctigera, mas pode-se dizer que foi acesa uma “luz de advertência” para a possível chegada dessa espécie, uma vez que H. armigera apresenta características semelhantes e já está presente. Para evitar que espécies-praga exóticas, como H. punctigera, sejam introduzidas e disseminadas no Brasil, é necessário investimento em sanidade vegetal, principalmente em políticas protecionistas, usando métodos para prevenção de introdução, estabelecimento e dispersão de potenciais pragas exóticas (Maximino et al., 2004). Dada a importância da dispersão de pragas exóticas no mundo, as técnicas de previsão de introdução tornaram-se fundamentais, pois trata-se de uma ferramenta de menor custo ante o controle ou a erradicação da praga introduzida, já que os custos subsequentes de um processo de invasão são crescentes e por vezes os problemas gerados são irreversíveis (Ziller et al., 2007). O controle de fronteiras, o estabelecimento de sistemas quarentenários para Figura 3 - Adequação climática para Helicoverpa armigera (Hübner) (Lepidoptera: Noctuidae) na América do Norte utilizando a metodologia CLIMEX, levando em consideração os padrões de irrigação e a existência de hospedeiros (culturas) adequados. A) Índice Ecoclimático (EI), indicando condições favoráveis para persistência; B) Índice Anual de Crescimento (GIA), indicando o potencial de crescimento populacional
Birgit E. Rhode_2011
Ausência de manchas claras nas asas inferiores é uma das características diferenciadoras de H. punctigera
cer-se, espalhar-se ou provocar impactos ambientais, sanitários e econômicos, como o provocado pela H. armigera no Brasil. Esses modelos têm como objetivo orientar as tomadas de decisão estratégicas e adotar as melhores táticas no gerenciamento de pragas, como possíveis restrições de importação de mercadorias oriundas de locais com pragas potenciais ou refinar o design de pesquisas, desenvolvendo modelos mais precisos de interceptação de pragas quarentenárias, similar ao observado no Usda-Aphis (Vanette et al., 2010). No Brasil, poucos são os estudos utilizando essas ferramentas de modelagem na proteção fitossanitária, visto que é uma ciência multidisciplinar, ou seja, é necessário conhecimento sobre modelagem matemática, biologia e ecologia de insetos. Em 2014, por meio da Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), foi desenvolvido um projeto-piloto com modelos matemáticos aplicados ao controle de insetos. Porém, dada a importância do Brasil no cenário agrícola mundial e o grande volume de mercadorias importadas/exportadas, ainda é pouco. É necessário que haja um engajamento dos órgãos de regulação fitossanitária e pesquisadores buscando uma maior colaboração internacional para construir modelos mais robustos e com rigor científico necessário para que essas pesquisas fomentem políticas proC tecionistas.
avaliação de potenciais riscos à biodiversidade e a avaliação do potencial invasor das espécies são alguns exemplos de ferramentas utilizadas nessas análises (Wittenberg et al., 2001; Worner; Gevrey, 2006). Para quantificar esta ameaça e desenvolver uma política de biossegurança eficaz é necessária uma compreensão das fontes potenciais das pragas, a probabilidade de chegada ao país e o estabelecimento em um determinado local, bem como estimar os seus possíveis impactos (Paini et al, 2011). Desta forma, o uso da informação sobre a biologia e o comportamento da espécie em locais onde é invasora e os dados climáticos dessas áreas são de grande utilidade para complementar as informações referentes ao seu habitat natural na modelagem (Ziller et al., 2007; Paini et al., 2011). Alguns países no mundo já utilizam essas análises de risco de introdução de pragas exóticas com sucesso, podendo-se destacar a Austrália, os EUA, a Coreia do Sul e a China (Zalucki; Furlong, 2005; Kriticos et al., 2015; GE et al., 2017; Byeon et al., 2018). Na China, pesquisadores utilizaram modelos para prever introdução de Rhagoletis pomonella (Walsh) (Diptera: Tephritidae) e Spodoptera exigua (Hübner) (Lepidoptera: Noctuidae) (Zheng et al, 2012). Kriticos et al. (2015) refinaram o modelo Climex, um software que utiliza informações climáticas
e de biologia do inseto e foi empregado para alertar os gerentes de biossegurança americanos para o potencial de invasão de H. armigera na América do Norte, identificando áreas que são adequadas para o estabelecimento e crescimento populacional durante as estações favoráveis, cujo valor de produção das culturas neste ambiente favorável a introdução e estabelecimento da H. armigera representaria 843 milhões de dólares por ano (Figura 3). Além de criar modelos de introdução é possível predizer a variação temporal e espacial de pragas endêmicas dentro do país. Em 2005, Zalucki e Furlong conduziram um trabalho por meio do modelo de previsão Climex em que definiram a variação temporal da abundância de H. armigera e de H. punctigera em determinados locais no interior da Austrália usando dados meteorológicos históricos. Dessa forma foi possível orientar os produtores sobre as condições e o período mais favorável à ocorrência das pragas. As análises de risco de pragas são poderosas ferramentas de comunicação visual para descrever onde espécies exóticas invasoras podem chegar, estabele-
Pastori e Oliveira alertam para os riscos de pragas exóticas no Brasil
Helicoverpa punctigera é uma espécie extremamente polífaga que ataca aproximadamente 130 espécies de plantas
Ruan Carlos de Mesquita Oliveira e Patrik Luiz Pastori, Universidade Federal do Ceará
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Soja
Além da química
Igo Estrela CNA
A formação de perfil do solo exige que fatores da química, da física e da biologia sejam considerados e manejados em conjunto, de modo a criar ambientes que sustentem elevados patamares produtivos
O
impacto da formação do perfil do solo na produtividade agrícola tem sido cada vez mais evidenciado, principalmente em safras onde a precipitação é insuficiente ou irregular. As perdas em produtividade são mais expressivas quando os níveis de precipitação insuficientes coincidem com os períodos de floração, maturação e enchimento de grãos, estádios das culturas que requerem elevada oferta hídrica. O crescimento das raízes em profundidade com o objetivo de maior tolerância ao estresse hídrico tem sido um dos principais objetivos que impulsionaram a busca pela formação do perfil do solo (Figura 1).
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No entanto, além de melhorar a eficiência de utilização da água disponível no perfil, o maior desenvolvimento das raízes das plantas traz diversos outros benefícios, como a eficiente recuperação de nutrientes que podem ser lixiviados, a melhor interação com a microbiota e a maior capacidade de tolerar ataque de pragas e patógenos. Diante disso, mesmo para áreas em que o suprimento hídrico não seja uma limitação, a formação do perfil possibilitará o desenvolvimento mais adequado das plantas, aumentando a capacidade de tolerar estresses bióticos e abióticos. A formação do perfil do solo é frequentemente associada apenas à maior
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disponibilidade de nutrientes distribuídos para camadas abaixo de 20cm de profundidade de solo, dando maior relevância para os atributos químicos. No entanto, a construção do perfil vai além do aumento dos teores de nutrientes, pois os parâmetros relacionados à física e à microbiologia do solo exercem grande influência no desenvolvimento das raízes e consequentemente das plantas. Portanto, esses fatores devem ser trabalhados em conjunto para que possibilitem maior equilíbrio dos nutrientes, diversidade microbiana e estruturação do solo. No que se refere à oferta de nutrientes para a formação do perfil do solo, ainda
que todos os macronutrientes e micronutrientes sejam essenciais às plantas, alguns assumem maior importância em função das características dos solos brasileiros e dos próprios nutrientes. O cálcio, por exemplo, participa em diversas funções essenciais para o crescimento adequado das plantas, principalmente relacionado ao desenvolvimento das raízes, pois é componente da parede celular. Esse efeito é demonstrado claramente na Figura 2, onde o aumento da disponibilidade de cálcio no solo promoveu um crescimento linear da massa de raízes de cana-de-açúcar. Apesar da importante participação do cálcio para o crescimento adequado das raízes, a oferta desse nutriente nos solos brasileiros é frequentemente baixa ao longo de todo o perfil do solo. Adicionalmente, em função de sua limitada mobilidade nas plantas via floema, o crescimento das raízes em profundidade é dependente da sua disponibilidade em todo o perfil do solo. Outro elemento que possui grande influência no crescimento das raízes é o alumínio, que na forma Al3+ é tóxico para o crescimento radicular, reduzindo o seu comprimento e consequentemente a absorção de nutrientes pelas plantas. Em seu estado natural, a maior parte das regiões agrícolas brasileiras apresenta elevados teores de alumínio ao longo do perfil e, para áreas já corrigidas, é comum haver níveis inadequados de saturação por alumínio em camadas mais profundas (abaixo de 40cm). Essa condição limita o crescimento radicular às camadas superficiais do solo, onde normalmente foi realizada a correção com a utilização de calcário. A redução da toxidez por alumínio e o aumento dos teores de cálcio em profundidade favorecem o crescimento do sistema radicular das plantas. O uso do calcário com essa finalidade promove o aumento dos teores de cálcio e a redução da toxidez por alumínio principalmente na camada onde é incorporado, porém tem pouco efeito sobre as camadas mais profundas. A aplicação combinada de calcário com fontes que apresentam maior solubilidade, como o gesso, pode ser uma alternativa para o incremento dos teores de cálcio no perfil e redução da toxidez por alumínio sem a necessidade de revolvimento do solo, que sabidamente tem efeito negativo sobre outros parâmetros.
Esse efeito é demonstrado na Figura 3, onde a aplicação de calcário e gesso promoveu o aumento dos teores de cálcio até 60cm profundidade após um ano da aplicação quando comparado com a aplicação isolada do calcário. Além dos fatores relacionados à oferta de nutrientes, a construção do perfil é influenciada pela estruturação do solo. Essa estrutura é composta pela agregação das partículas do solo com os componentes minerais e orgânicos, o que resulta na formação de macro e microagregados. Tal propriedade exerce influência no desenvolvimento radicular, atividade microbiana, infiltração e retenção de água, matéria orgânica e uma infinidade de outras propriedades. O manejo empregado nas áreas agrícolas exerce grande influência sobre a estruturação do solo, tanto de forma positiva como negativa. Práticas que proporcionam o aumento do aporte de biomassa vegetal, formação e manutenção da palhada e o revolvimento mínimo do solo favorecem uma boa estruturação do solo. Por outro lado, operações com umidade inadequada e revolvimento do solo são bons exemplos de manejos que frequentemente ocasionam a deformação dos agregados do solo e resultam na formação de zonas de impedimento ao crescimento radicular, reduzindo a capacidade da planta de utilizar a água e nutrientes disponíveis (Figura 4). Dentre as práticas de manejo que contribuem para uma boa
Figura 2 - Disponibilidade de cálcio no perfil do solo e massa de raízes de cana-de-açúcar de primeiro corte cultivada em Latossolo Vermelho. Fonte: Modificado de Araújo et al, 2016
Figura 3 - Efeito da aplicação combinada de calcário e gesso sobre a disponibilidade de cálcio no perfil de um Latossolo Vermelho. Fonte: modificado de Araújo et al, 2016
Figura 1 - Representação da disponibilidade de água em um perfil do solo com limitações para o crescimento radicular
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Larissa G. A. Tormen
estruturação do solo está a utilização de plantas de cobertura, que favorecem inúmeros benefícios ao sistema. Esse efeito ocorre principalmente devido ao maior aporte de biomassa vegetal, tanto aérea como de raízes, além da maior diversificação de matérias vegetais com distintos crescimentos radiculares e tempo de decomposição. Algumas plantas de cobertura têm sido amplamente utilizadas no Brasil, como é o caso de milheto (Pennisetum sp.), brachiaria (Brachiaria sp.), aveia (Avena sativa/Avena strigosa), nabo (Raphanus sativus) e crotalária (Crotalaria sp.) A forma de implementação das plantas de cobertura dentro do sistema de produção varia muito entre regiões e mesmo propriedades, porém o mais usual tem sido a sua semeadura após a colheita da cultura de verão, que na maior parte das áreas é a soja. Isso ocorre normalmente no final da estação chuvosa em boa parte das regiões, impondo diferentes cenários de disponibilidade hídrica para o crescimento das plantas de cobertura. Desse modo, a escolha da planta de cobertura precisa considerar, além do objetivo principal de sua implantação, as condições ambientais às quais será submetida e que condicionam seu desenvolvimento. As plantas de cobertura possuem importante participação na formação do perfil do solo, pois condicionam suas propriedades químicas, físicas e biológicas. Do ponto de vista da química do solo, as plantas de cobertura promovem a ciclagem e incorporação de nutrientes, possibilitando a maior eficiência de sua utilização e o aumento dos teores de matéria orgânica no solo. No caso dos atributos físicos e biológicos, as plantas de cobertura auxiliam na estruturação e proteção das camadas superficiais do solo, reduzindo a oscilação térmica, promovendo maior infil-
Figura 4 - Raízes de soja deformadas em função da baixa estruturação e compactação do solo
tração de água e redução da taxa de evaporação. A soma desses fatores, associada ao aporte de resíduos vegetais, contribui para o aumento da biodiversidade de micro-organismos do solo, constituindo um ambiente mais equilibrado entre micro-organismos benéficos e fitopatogênicos. O alcance de maiores patamares produtivos e a estabilidade desses potenciais está diretamente relacionado à capacidade dos cultivos agrícolas em tolerar situações de estresses, sejam eles bióticos ou abióticos. A construção do perfil do solo tem participação fundamental no desenvolvimento de plantas com sistemas radiculares profundos e volumosos, tornando-as mais resilientes aos inúmeros estresses aos quais serão submetidas. Diante desse cenário, para a construção do perfil os fatores da química, da física e da biologia do solo devem ser considerados e manejados em conjunto, de modo a criar ambientes de solos que sustentem C elevados patamares produtivos. Larissa Gomes Araújo Tormen, Instituto Phytus
C
Figura 5 - Plantas de cobertura, comumente utilizadas (a) brachiaria (Brachiaria sp.), (b) aveia (Avena sativa), (c) nabo (Raphanus sativus), (d) milheto (Pennisetum sp.) e (e) crotalária (Crotalaria sp.)
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Larissa aborda os fatores a serem observados quanto ao perfil do solo
Algodão
Vilão da qualidade Vetor de viroses, capaz de se alimentar e sobreviver em plantas daninhas e diversos cultivos, o pulgão-do-algodoeiro é uma séria ameaça à produtividade e à qualidade da fibra. Modificações na dinâmica populacional do inseto e no sistema de produção fazem com que o manejo integrado de pragas (MIP) necessite ser tratado de forma mais estratégica em função das multiculturas hospedeiras
Germison Tomquelski
O
Brasil a cada ano se destaca na produção de algodão mundialmente. Entre os fatores que proporcionam essa posição está a qualidade de fibra, que permite ao País aumentar as vendas para os mais diversos mercados. A região do Cerrado proporciona condições intrínsecas para que a cultura tenha um bom desenvolvimento e, ao final, uma boa colheita. As estratégias de manejo, aliadas ao outono e inverno secos por ocasião da colheita, proporcionam condições ideais para a qualidade da fibra em relação a comprimento, refletância, micronaire, entre outros parâmetros. Ao mesmo tempo, o agroecossistema no Centro-Oeste promove um ambiente favorável à multiplicação de pragas, pois prevalece um sistema de produção com grandes extensões de áreas, com as culturas muitas vezes semeadas em janelas extensas, propiciando que as pragas migrem entre talhões próximos. Aliado a isto, outros fatores como condições climáticas favoráveis, altas temperaturas no verão, e inverno ameno, tornam-se ideais para a multiplicação dos insetos. A planta de algodoeiro é atacada por um grande número de pragas, que durante o ciclo da cultura são capazes de causar redução na produção e na qualidade do produto, resultando em prejuízos consideráveis. A cultura chega a alcançar, em determinadas cultivares e regiões, 220 dias no campo, levando a grandes desafios, uma vez que pode compreender várias gerações de espécies pragas Entre as pragas, o pulgão Aphis gossypii é uma das primeiras que aparecem na cultura, colonizando plantas pequenas, já no início do ciclo. Nessa fase pode causar danos que impactem e até limitem a produtividade. No passado, com a utilização de cultivares sensíveis à doença azul (mosaico das nervuras), o pulgão do algodoeiro foi alvo de 80% das pulverizações realizadas para o controle de pragas (Papa, 2001). Atualmente, na região dos Chapadões (Chapadão do Sul, Costa Rica/ Mato Grosso do Sul e Chapadão do Céu/Goiás) o cotonicultor tem realizado em média de três a seis intervenções para o seu manejo ao longo do ciclo da cultura. Os pulgões são insetos de tamanho pequeno, coloração variável de amarelo-claro a verde-escuro. Vivem sob as folhas e brotos novos das plantas, sugando a seiva. Os adultos apresentam tamanho em torno de 1,5mm, sendo o ciclo médio de oito dias. É uma praga em que a fêmea pode gerar de 25 a 50 indivíduos, sendo a longevidade média dos indivíduos de 20 dias. A capacidade de reprodução destes insetos é
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Gráfico 1 - Frequência relativa de insetos em plantas de trapoeraba (Commelina benghalensis) na região de Chapadão do Sul/MS, na cultura do algodoeiro. Fundação Chapadão – Maio 2012. safra 2011/2012
enorme, favorecida por temperaturas elevadas e condições normais de umidade relativa. Entretanto, em condições de umidade baixa e estiagem, a situação pode se agravar (Degrande, 1998). No clima brasileiro ocorre exclusivamente por partenogênese telítoca, isto é, sem a presença do macho, sendo tanto as formas aladas quanto as ápteras, constituídas de fêmeas larvíparas. No início da colonização, os indivíduos são ápteros, tanto ninfas quanto adultos reprodutivos na colônia não possuem asas. Existem diferenças fisiológicas e morfológicas entre formas ápteras e formas aladas, uma vez que cada uma delas tem uma função biológica. As formas ápteras permanecem na planta e têm a função de multiplicar e perpetuar a espécie, logo são altamente reprodutivas, por outro lado possuem corpo menos esclerotizado, menos robusto. Quando a população aumenta na colônia, o contato tátil entre os pulgões, principalmente entre antenas, serve como estímulo – sinal para que formas aladas sejam desenvolvidas. Fatores químicos podem exercer papel secundário nessa indução. Já as formas aladas são desenvolvidas para a função de migração, então são mais robustos, corpo mais rígido, possuem boa capacidade de voo e podem suportar maiores períodos sem se alimentar, além de possuir capacidade sensorial elevada devido às antenas mais longas e aos olhos bem desenvolvidos, o que permite localizar o novo hospedeiro, que pode ser outra planta de algodão ou outra espécie vegetal (Braendle et al., 2006). A dispersão dos indivíduos pode 38
ocorrer, ainda, por correntes de ar que os levam a grandes distâncias e dispersam por toda lavoura. O pulgão suga a seiva das plantas, reduzindo o crescimento e desenvolvimento, provoca encarquilhamento das folhas e deformação dos brotos. Ao sugarem as plantas, os pulgões secretam o honey-dew, líquido que apresenta altos teores de açúcares provenientes da seiva da planta, que cai nas folhas e favorece o desenvolvimento de fungos oportunistas como o fumagina (Capnodium spp.) que dificulta a respiração e a fotossíntese da planta, contribuindo, também, para o seu enfraquecimento (Gallo et al., 2002). Os pulgões podem ser transmissores de vírus causadores de doenças como o vermelhão do algodoeiro e a doença azul (mosaico das nervuras – “forma Ribeirão Bonito”), que provocam sérios danos à cultura (Santos, 2001). Nas últimas safras, em função da adoção de cultivares com maior tolerância/resistência a essas duas viroses, outra doença tem se pronunciado e chamado a atenção de produtores, a virose atípica. Os sintomas dessa doença são palidez das nervuras e enrugamento das bordas, e com sua progressão as folhas ganham coloração avermelhada-arroxeada. Seus prejuízos têm sido comumente observados nas mais diversas localidades brasileiras, sendo comum os técnicos relatarem prejuízos da ordem de 10% na produtividade, mesmo sendo realizado o controle da praga.
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MANEJO
Em cultivares suscetíveis, o nível de controle usual era de 5% de plantas atacadas/infestadas (Degrande, 1998). Em variedades resistentes ao vermelhão e à doença azul, o nível de controle usual é de até 10% de plantas, com a presença de colônias, considerando o risco de transmissão da doença atípica, ocorrendo tardiamente. A amostragem deve ser constante em virtude da presença de plantas no campo o ano todo. Os pulgões são pragas polífagas, sendo encontrados em diversas espécies de plantas cultivadas ou daninhas, podendo desta forma servir de refúgio para os indivíduos. As equipes técnicas necessitam treinamento e aperfeiçoamento, a fim de possibilitar o melhor entendimento das informações sobre a dinâmica populacional desses insetos, aliados a observações de progresso das doenças. Por exemplo, o fato de formas aladas se desenvolverem a partir de uma colônia já formada indica que a infestação pode iniciar de forma mais pontual, o que permite o tratamento apenas de talhões com a presença do inseto, evitando a dispersão para o restante da área e diminuindo a necessidade de aplicação em área total. Entre os fatores que têm levado ao aumento populacional da praga pode ser apontada a intensa utilização de inseticidas para o controle do bicudo-do-algodoeiro, que resultou em diminuição importante de inimigos naturais de várias famílias de predadores e parasitoides, principalmente Coccinelidae (joaninhas predadoras) Cycloneda sanguinea, Eriopis connexa, Scymnus sp., Hypodammia convergens, entre outras; e a família Aphidiidae, onde está inserido o parasitoide Lysiphlebus testaceipes, encontrado em determinadas localidades. Outro fator apontado nas últimas safras que contribui para o aumento populacional, reside na utilização de adubo nitrogenado em maior quantidade na cultura, sendo muito comum aplicações tardias (em torno dos 75-90 dias), a fim de promover maior produtividade. Plantas bem nutridas e com alto teor de nitrogênio na seiva representam uma fonte atrativa de alimento e desenvolvimento rápido de colônias.
Os pulgões são pragas polífagas, sendo encontrados em diversas espécies de plantas cultivadas ou daninhas, podendo desta forma servir de refúgio para os indivíduos. Dessa forma, um outro fator que dificulta o manejo da praga é a ocorrência de determinadas plantas daninhas como trapoeraba (Commelina benghalensis), caruru (Amaranthus sp.), entre outras, pois fazem com que o inseto se abrigue, propiciando a reinfestação da cultura (Gráfico 1). Estas modificações na dinâmica do inseto e no sistema de produção fazem com que o manejo integrado de pragas (MIP) necessite ser tratado de forma mais estratégica em função das multiculturas hospedeiras. O conhecimento da praga, assim como da lavoura, pelo “produtor-técnico” é fundamental para o bom manejo. A prática da destruição de soqueiras é uma alternativa no manejo da praga, diminuindo as populações, para a safra seguinte, o que pode interferir principalmente na dinâmica das doenças (viroses). Essas plantas remanescentes são local de refúgio e desenvolvimento de colônias que migraram de locais próximos, e podem servir como fonte de inóculo e fornecer insetos infectivos para novos cultivos. Esta prática leva o cotonicultor a retirar totalmente a cultura do campo em um determinado período de tempo, proposto pelas associações de produtores e órgãos de defesa agropecuária, também chamado de vazio sanitário. Além de contribuir para o manejo do bicudo, também representa uma importante ferramenta de manejo epidemiológico de doenças, como as viroses transmitidas por pulgões, uma vez que reduz tanto a população de insetos quanto a fonte de inóculo na área. Pensando na implantação da lavoura, a primeira ferramenta utilizada pelo produtor é o tratamento de sementes, para propiciar bom desenvolvimento inicial das plantas. Diversos ingredientes ativos se encontram registrados para o controle da praga, com destaque para os neonicotinoides thiametoxan, clotianidim, imidacloprid e acetamiprid. Outra medida complementar e a mais adotada pelos produtores consiste em pulverizações, que em determinadas fases são muito importantes, principalmente nas janelas de adubações ni-
A
trogenadas, em função da maior presença da praga. Diversos inseticidas estão registrados para o manejo da praga, como carbosulfan, acetamiprid, thiametoxan, imidacloprid, tiacloprid, flonicamid, pimetrozina, diafentiuron, ciantraniliprole, acefato, além das novas moléculas sulfoxaflor e flupiradifurone com alta efetividade no controle. Altas populações, aliadas a condições favoráveis, têm demandado a necessidade de reaplicações. O intervalo é dependente do monitoramento, sendo que algumas alternativas têm proporcionado intervalos superiores a 14 dias, e outras intervalos de cinco a sete dias. Vários fatores técnicos podem e devem ser levados em conta na escolha dos produtos a serem utilizados. Além da efetividade de controle, a seletividade a inimigos naturais é importante para que esses organismos que ajudam a manter populações de diversos insetos-praga não sejam impactados negativamente já no início da cultura. Além disso, produtos que não afetem o equilíbrio entre ácaros predadores e fitófagos protegem o produtor de favorecer a ocorrência de outro problema na sua lavoura, o ataque de ácaros. Por fim, considerando que essa é uma praga que não possui reprodução sexuada, ou seja, as ninfas são clones da mãe, é importantíssimo respeitar a rotação de mecanismo de ação, considerando os produtos incluídos desde o tratamento de sementes. Essa é uma prática importante para evitar/retardar a seleção de populações resistentes em campo e preservar a efetividade dos produtos disponíveis para seu manejo. De modo geral, os pulgões são um desafio constante para o produtor em função dos diversos pontos já expostos: viroses, plantas daninhas, vazio sanitário, período da cultura no campo e manejo para altas rentabilidades- qualidade. Somente uma boa base e estratégias integradas podem fazer C a diferença na qualidade final desta importante cultura. Germison Tomquelski e Yasmin Milken, Fundação Chapadão
B
Figura 1 - (A) Fêmea alada - início de colonização em nova planta; (B) colônia de indivíduos ápteros já estabelecida
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Polinizadores
Dirceu Gassen
Convívio desejável Abelhas e atividade agrícola podem e devem conviver em equilíbrio, com benefícios mútuos. Aplicações em horários, doses e momentos adequados e uso da tecnologia e de boas práticas podem auxiliar para que essa convivência ocorra com cooperação e menos riscos
A
integração das atividades da agricultura com aquelas da apicultura e meliponicultura é benéfica e possível. Abordada como um componente importante da sustentabilidade, esta assimilação demanda medidas para a mitigação de riscos de práticas agrícolas sobre as abelhas. Em escala, a maioria das culturas de interesse agrícola necessita da utilização de pesticidas para o controle dos seus antagonistas (como pragas, doenças e plantas daninhas), e as medidas de boas práticas agrícolas na aplicação destes produtos são fundamentais na adoção do Manejo Integrado de Pragas (MIP). Tratamentos fitossanitários devem ser realizados somente quando forem realmente necessários, seguindo rigorosamente as instruções
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de uso, por exemplo, sem extrapolar a dosagem recomendada e com produtos autorizados para a cultura e respeitando as condições climáticas nas aplicações. Estas são medidas básicas para a minimização de riscos, ao lado da assistência técnica qualificada. Conhecer os principais polinizadores a conservar, os produtos sele-
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tivos e o padrão de uso com base no comportamento destes insetos são medidas essenciais para escolhas que minimizam os riscos de contaminação das abelhas no campo.
POLINIZAÇÃO
A polinização é um serviço entomológico que ocorre em ecossistemas, seja agrícola ou natural. Ao contrário do que se acredita, o agente polinizador visita as plantas atrás de recursos florais para sua alimentação e não com a intenção de polinizar flores. Daí decorre a dificuldade de mensurar os tais valores destes serviços ecossistêmicos em Entomologia. Pelo grau de dependência, algumas plantas não dependem de agentes externos, como as abelhas, para que ocorra a fecundação dos seus óvulos e realizam a autopolinização (por exemplo: arroz, feijão, sorgo e trigo), ou no cultivo nem mesmo as flores têm significado (alho, cana-de-açúcar, mandioca e tabaco). Outras lavouras têm uma dependência muito restrita de polinizadores (algodoeiro, cafeeiro, mamoneira e soja). De outro lado, a polinização cruzada proporciona variabilidade genética da espécie vegetal diversificando genomas de plantas, alguns mais vigorosos e produtivos. Os casos da castanheira, do guaranazeiro, da goiabeira e do maracujazeiro são ilustrativos neste aspecto. Para uma grande maioria de espécies de plantas, os polinizadores são essenciais, pois sem eles muitas não conseguiriam se reproduzir e, consequentemente, não seria possível produzir frutos, sementes, amêndoas ou
Ellen P. de Souza
Presença de Apis mellifera em flor de algodoeiro
castanhas, que são utilizados em larga escala pela sociedade humana; além, de contribuírem para a manutenção da vegetação nativa e no incremento produtivo de diversas culturas. Assim, as plantas atraem os polinizadores oferecendo recompensas como pólen, néctar, óleos, resinas, cores e odores, que por sua vez atraem uma variedade de visitantes florais. Sabe-se que os polinizadores mais eficientes por excelência são os insetos, destacando-se as abelhas criadas ou silvestres. Entre os gêneros de abelhas que se destacam como polinizadores de cultivos estão o Centris, de abelhas solitárias coletoras de óleo, o Xylocopa, que também são abelhas solitárias conhecidas como abelhas carpinteiras por nidificarem em madeira e são muito importantes para o maracujazeiro e a castanheira do Brasil. O gênero Bombus também se destaca com as mamangavas, também muito importantes para a cultura do maracujá, por sua vez o grupo de gêneros das abelhas sociais sem ferrão (meliponíneos e mesmo Trigona) são úteis para a polinização de várias plantas. A abelha mais conhecida, citada e usada em monoculturas, pertence à espécie domesticada Apis mellifera (Hymenoptera: Apidae), comumente denominada abelha africanizada ou melífera, pois possui uma ampla distribuição geográfica. É generalista ao forragear uma enorme quantidade de
Dirceu Gassen
Abelhas sociais sem ferrão são úteis para a polinização de várias plantas
plantas e cultivos, com elevada intensidade, visitando várias flores devido à sua grande necessidade nutricional para manutenção da colônia. Além disso, é amplamente manejada para a exploração dos seus produtos como mel, geleia real, própolis, pólen apícola e cera. Também são comumente utilizadas na mobilidade da apicultura migratória, com o objetivo de realizar a polinização de culturas no auge de sua floração para que se alcance o máximo da produtividade (eventualmente qualidade) da cultura e coleta de produtos apícolas. Por sua vez, os meliponíneos costumam ter manejos mais artesanais e são menos conheci-
dos cientificamente, o que não reduz o serviço prestado por eles.
MEDIDAS DE MITIGAÇÃO DE RISCOS PARA POLINIZADORES
O primeiro ponto é distinguir causas de potenciais mortandades de abelhas, como a importância de separar claramente as causas incidentais e acidentais das ações deliberadas. Além disso, entender que o Distúrbio do Colapso das Colmeias (DCC) tem supostas causas múltiplas, ocorrendo em períodos cíclicos nos últimos séculos, predominantemente no Hemisfério Norte e não exclusivamente
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Ellen P. de Souza
Dinâmica temporal de abelhas A. mellifera em um cultivo de soja de ciclo indeterminado, ao longo do período de floração estimado pelo modelo linear generalizado de Poisson. (Fonte da tese Souza, E.P. 2019)
Apis mellifera não empelota pólen de algodoeiro na corbícula, ele apenas fica sobre o corpo da operária
causado por pesticidas. A proximidade das abelhas com culturas agrícolas as torna expostas aos diferentes produtos fitossanitários empregados na proteção dos cultivos, o que causa elevada preocupação com a saúde desses insetos. Assim, dada a integração da agricultura com a apicultura e a meliponicultura, medidas de mitigação de riscos de pesticidas para tais polinizadores são necessárias. A adoção plena do MIP nas lavouras é o primeiro passo desta conciliação. O uso do monitoramento de pragas e organismos benéficos como instrumento das decisões devidamente associado à aplicação dos métodos de controle cultural, resistência de plantas, controle biológico ou natural, recursos regulatórios, dentre outros, descomplica a necessidade de utilização de pesticidas em uma emergência para prevenir a extrapolação do nível de dano econômico. Conhecer a lista de produtos seletivos a esses polinizadores para escolhas acertadas é chave. Também, ter um conhecimento prévio da lista dos principais polinizadores que visitam a cultura em que se pretende realizar tais aplicações, bem como seu comportamento de forrageamento na cultura, é de elevada importância para ações de conservação. Na parte operacional, evitar aplicações diretamente sobre abelhas em visitação nos campos de cultivo, por exemplo após o início da manhã até o final da tarde, principalmente no período de floração das culturas, pois é quando estão mais atrativas às abelhas, procurando realizar estes tratamentos bem cedo ou próximo do crepúsculo ou à noite, sempre seguindo as recomendações de utilização das bulas dos produtos fitossanitários. Simplificando, evitar aplicar pesticidas
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entre 8h e 16h, o que tem também algum significado prático nas eficácias das aplicações, por causa dos frequentes ventos intensos e suas rajadas, temperaturas mais elevadas e umidades do ar baixas. O mais indicado é realizar aplicações de produtos fitossanitários quando não existir abelhas ou apiários próximos aos cultivos, porém muitas vezes isso não é possível. Então, se viável, caso existam colônias alocadas nos cultivos durante a florada não é recomendada a aplicação até que sejam removidas. Alternativamente, recomenda-se a proteção das colônias na hora da aplicação, fechando o alvado ou a fenda de entrada e saída dos adultos das abelhas da colmeia. Para otimizar a validade, a aplicabilidade e a funcionalidade destas medidas é notável a necessidade de diálogo frequente e profissional entre vizinhos apicultores e agricultores e seus gestores, ou mesmo entre prestadores de serviços de polinização e responsáveis pelas lavouras do entorno. Na sua grande maioria, as abelhas forrageiam num raio de até dois a três quilômetros da colmeia. A composição de locais de forrageamento com outras plantas que permitam uma flora apícola maior, diversificada e mais atrativa que o cultivo também é recomendada, como uma alternativa no incremento da diversidade de habitats e plantas no entorno donde as abelhas possam coletar recursos florais, locais estes onde não ocorreram aplicações de produtos fitossanitários. Para este fim, têm sido sugeridas plantas como: assa-peixe, vassourão-branco, astrapeia-rosa, eucalipto-anão-de-flores-vermelhas, cambará-lixa, paineira-bombax, resedá-branco, resedá-rosa, ipê-de-jardim, dentre outras. É oportuna, ainda, a conservação da vegetação nativa pró-
de áreas de vegetação natural e culturas agrícolas vizinhas em fase de florescimento e visitação de abelhas. Indica-se que antes das aplicações deve-se notificar os apicultores localizados a um raio de até seis quilômetros com antecedência mínima de 48 horas, para que possam proteger suas colmeias, e recomenda-se que as aplicações sejam feitas a uma altura de três a cinco metros de altura de voo sobre a cultura a ser pulverizada. Destaca-se que os apicultores no anonimato ou aqueles que colocam suas colmeias clandestinamente em locais não autorizados acabam ficando sujeitos a surpreendentes problemas de mortandade de abelhas ou colmeias. O volume de aplicação deve ser no mínimo de 50 litros de calda por hectare, se viável para o sucesso do tratamento fitossanitário, e as condições climáticas devem ser respeitadas conforme as bulas de registros dos produtos fitossanitários, procurando aplicar quando a velocidade do vento estiver entre 3km/h e 7km/h, a temperatura estiver inferior a 30ºC com a umidade relativa do ar superior a 55% e com gotas finas e médias, visando assim reduzir ao máximo as perdas por deriva e evaporação e garantin-
do um controle eficiente das pragas. Alguns estados da Federação detêm suas próprias normas para pulverização aérea, por isso é preciso atenção no momento da aplicação. Contemporaneamente, em um ambiente de agricultura 4.0, onde os dados coletados, transmitidos e processados em tempo real melhoram a produtividade e a sustentabilidade do campo, faz-se necessário o desenvolvimento de produtos, processos e serviços que utilizem georreferenciamento (GIS/GPS) das colmeias, aplicativos de mapeamento e intercomunicação, mapas e sistemas de aviso para alertar riscos iminentes. Em suma, nota-se aqui a importância evidente do diálogo permanente entre vizinhos apicultores e agricultores (ou seus gestores) para o gerenciamento de riscos, com vistas a minimizar problemas de mortalidade de abelhas e evitar conflitos interpesC soais, judiciais ou de negócios.
Ellen P. Souza e Paulo E. Degrande, Univ. Federal da Grande Dourados (UFGD) Faculdade de Ciências Agrárias
Wenderson Araújo/CNA
xima das áreas de cultivo agrícola, que forneçam habitats com flores para os polinizadores como fonte de recursos mais atrativa e eficiente que a própria cultura agrícola. Assim, o número de visitas nos cultivos que recebem aplicações diminuirá e os riscos de contaminação serão menores. Outro ponto a ser observado é o respeito às faixas de segurança para as aplicações (distância entre cultivo e áreas de preservação ou conservação), de acordo com os conceitos de boas práticas agrícolas e a legislação pertinente de cada localidade ou bula do produto. Indica-se sempre realizar periodicamente a manutenção dos equipamentos de pulverização terrestres, bem como seguir as dosagens recomendadas, com volume de calda e tamanho das gotas para cada produto a ser aplicado; assim, será obtido o máximo de efetividade no controle de pragas, serão evitadas perdas por deriva e consequentemente previne-se a contaminação de polinizadores colaborando para sua conservação. Quanto às recomendações para as aplicações aéreas, que não são mais deletérias que as terrestres comparativamente, propõe-se não aplicar em uma distância menor que 300 metros
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Coluna Agronegócios
Agronegócio: a alavanca para a recuperação da crise
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m seu cenário base de abril de 2020, o mais otimista, o Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê que a economia mundial contrairá 3% neste ano. Já o cenário mais pessimista prevê uma extensão da pandemia para além de 2020, com a queda da atividade econômica podendo atingir 11%. Três meses antes, o FMI previa avanço de 3,3% para a economia mundial. O FMI também prevê queda de 11% no comércio mundial neste ano. Algumas commodities, como minérios e petróleo, terão forte queda nas cotações, podendo ultrapassar 40% no caso do petróleo. Ainda de acordo com o FMI, a recessão será maior que a crise de 2008/2009, podendo superar a Grande Depressão de 1929. Entrementes, o impacto será diferenciado no mundo. A Zona do Euro terá a maior queda (7,5%), seguida por EUA (5,9%), América Latina e Caribe (5,3%), Oriente Médio e Ásia Central (2,8%) e África Subsaariana (1,6%). A única região do mundo onde o FMI prevê crescimento positivo é no conjunto de países emergentes e em desenvolvimento da Ásia (+1%). Em valores absolutos, o FMI prevê redução do PIB mundial em torno de 9 trilhões de dólares, cerca de 40% do PIB dos EUA em 2019. Em direção oposta, para China e Índia são projetados, respectivamente, crescimentos de 1,2% e 1,9%. O Brasil deverá apresentar uma recessão de 5,3%, inferior aos países europeus (Itália -9,1%; Espanha -8%. França -7,2%, Alemanha -7%) e similar ao Japão (-5,2%). Já para 2021, o FMI prevê um crescimento de 5,8% da economia mundial, comandada pelo crescimento da China (9,2%), da Índia (7,4%) e da Alemanha (5,2%). Embora a recessão afete a economia como um todo, alguns setores serão mais atingidos que outros, sendo o mercado internacional de alimentos um dos menos prejudicados. O agronegócio reúne todas as condições para ser a mola mestra do alavancamento da economia brasileira pós-pandemia, devendo esta oportunidade ser trabalhada com especial afinco pelos formuladores de políticas públicas e pela sociedade. E nossa melhor oportunidade está nos parceiros asiáticos, em especial a China.
ASPECTOS A CONSIDERAR
a) Como regra geral, quando a renda per capita aumenta, a primeira renda adicional vai para alimentação; quando a renda diminui, o último corte é da alimentação; b) Internamente serão menos afetados setores com mandatos, caso do biodiesel. Serão prejudicados setores concorrenciais, como o do bioetanol (apesar do mandato de mistura na gasolina) e o da bioeletricidade, pela queda no consumo de energia e de seus preços; c) O entendimento da dimensão e distribuição geográfica da demanda mundial pós-pandemia, categorizada por produtos e setorizada por países, regiões e blocos econômicos, é crucial neste momento; d) A princípio, a China assume importância ainda maior do que já possui, pela projeção de que venha a manter um crescimento positivo do PIB, aspecto que será crucial para que as perspectivas pré-pandemia, de crescimento na demanda por produtos agropecuários, sejam mantidas. Entre estes produtos estão as carnes, em virtude de restrições internas de abastecimento, ressaltando a necessidade da recomposição de rebanho de suínos, por sua vez, deve manter aquecida a demanda por grãos, como soja e milho;
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e) Mesmo com queda no PIB, a renda per capita na zona do euro é suficientemente elevada para não afetar com intensidade as despesas com alimentação, mas sua produção será atingida; f) Produtos agrícolas não essenciais serão mais prejudicados. Exemplo característico serão flores e plantas ornamentais. Em relação aos grandes produtos de exportação do Brasil (carnes, soja e milho), será fundamental o cotejo do abastecimento interno x demanda internacional, em função da valorização cambial (que deve persistir, no mínimo, até 2021), com eventuais elevações de cotações, caso outros países produtores tenham problemas para atender seus clientes. A logística interna e internacional é um dos fatores-chave para o abastecimento mundial, assim como a operação dos portos é fundamental, tanto para o escoamento da safra quanto para o ingresso de insumos.
UM OLHAR PARA A CONCORRÊNCIA
Atenção especial deve ser dada no levantamento de informações e análise das intenções de plantio e de comercialização dos concorrentes. Em particular, é fundamental dispor de informações sempre atualizadas sobre o desenrolar da implantação das culturas de soja e milho nos EUA e o avanço das intenções de produtores tradicionais (exemplo: Argentina) ou de novos (exemplo: Ucrânia). Acompanhamento dos estoques mundiais também é muito importante para atualização do cenário. Em maio, a estimativa do USDA para a produção de soja norte-americana da safra 2020/2021 foi de 114,17Mt (96,84Mt em 2019), em uma área de 34,4Mha. Os estoques finais estarão no patamar mínimo de quatro anos (8,71Mt), o que indica sustentação de cotações na CBOT. O USDA estima exportações de 55,79Mt e esmagamento interno de 57,97Mt. A produção de milho dos EUA foi estimada em 392,71Mt (347,79Mt em 2019), frustrando expectativas do mercado (que previa 397,07Mt). Isto indicava, em fevereiro, cotações mais elevadas, o que pode não ocorrer, seja pela redução da demanda mundial ou pelos estoques elevados (67Mt). O USDA aponta a destinação de 138,44Mt de milho para etanol, com exportações de 53,34Mt, retomando o patamar histórico do market share dos EUA. Enfatiza-se que, em ambos os casos, deve haver uma revisão dos números, pois, até a última semana de maio, os agricultores tinham conseguido semear apenas 29% do total esperado.
A ALAVANCA
Até o início de junho, o agronegócio foi o setor da economia menos prejudicado pela pandemia de Covid-19, e os prognósticos apontam que a sua recuperação será mais intensa e mais rápida de toda a economia, desde que saibamos aproveitar as oportunidades, em especial estreitando os laços com parceiros estratégicos como a China e outros países asiáticos, além de evitarmos possíveis barreiras comerciais. Uma vez mais os brasileiros terão motivos para agradecer C ao agronegócio brasileiro.
Decio Luiz Gazzoni O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja
Coluna Mercado Agrícola
Agro continua a dar sustentabilidade à economia brasileira
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safra 2019/20 já está fechada, com os últimos números próximos de 250 milhões de toneladas, recorde histórico de produção, mesmo com seca sobre as lavouras da safra de verão no Sul e problemas também na safrinha. O novo Plano Safra aumentou o volume de recursos, que chegaram a R$ 236,3 bilhões, frente aos R$
MILHO
A colheita do milho da safrinha segue em bom ritmo, com os produtores entregando os contratos programados e segurando parte para negociar à frente. As apostas são de que entre setembro e outubro o mercado reaja, com espaço para crescer em cotações. Dessa forma, com demanda mais forte no final do ano e exportações fluindo, o mercado pode ganhar ritmo. No momento a corrida é para atender os contratos programados, que estão pagando mais que o grão disponível, com poucos fechamentos novos. Os indicativos são de safra pouco acima de 70 milhões de toneladas, com o Mato Grosso na liderança com mais de 32 milhões de toneladas. O volume total da safra do Brasil deve andar perto de 100 milhões de toneladas e a exportação tende a ficar entre 32 e 35 milhões de toneladas neste ano. A demanda interna deve seguir aquecida porque há forte demanda por car-
222,7 bilhões do ano passado. A pandemia vai passar e o agronegócio brasileiro vai ser fundamental para ajudar a juntar os pedaços da economia em frangalhos para voltar a crescer e recuperar os milhões de empregos que estão sendo perdidos com o coronavírus. O setor agrícola segue forte e as exportações brasileiras também.
nes na exportação, o que dará fôlego ao setor quase toda a safra. As exportações seguem de ração nestas próximas semanas e meses. aceleradas e tudo aponta para recorde de exportação neste ano, com tendência de ulSOJA trapassar 1,5 milhão de toneladas exportaO mercado da soja do Brasil já negociou das, o que dá fôlego aos indicativos internos. quase 90% da safra, fato histórico, porque A safra, segundo a Companhia Nacional de normalmente este nível de negócios somen- Abastecimento (Conab), foi de 11,1 milhões te era atingido entre novembro e dezembro de toneladas, enquanto a demanda interna e agora já há pouco produto para atender deve ultrapassar esse número e há grandes o mercado interno no segundo semestre. volumes sendo exportados. Havia pouco mais Haverá locais que terão de importar soja, co- de 500 mil toneladas de estoque inicial e as mo o Rio Grande do Sul, que deve comprar importações no primeiro semestre foram muialguns volumes do Paraguai. As exportações to fracas devido ao dólar em alta. O segundo perderam ritmo em novos negócios, mas os semestre tende a ser de indicativos firmes e C embarques seguem em ritmo acelerado. O alta demanda. complexo soja deve fechar o ano com mais de 100 milhões de toneladas embarcadas. Vlamir Brandalizze Twitter@brandalizzecons ARROZ www.brandalizzeconsulting.com.br Muitos produtores aproveitaram as forInstagram BrandalizzeConsulting tes altas do primeiro semestre e já venderam ou Vlamir Brandalizze
Curtas e boas TRIGO - O mercado segue favorável aos produtores, com cotações atrativas que variam dos R$ 1.100,00 aos R$ 1.250,00 por tonelada no Brasil. A nova safra nos campos registra aproximadamente 10% de crescimento na área, com potencial para colheita de seis milhões de toneladas, quase um milhão a mais que a safra passada. Os produtores estão investindo em boa tecnologia para ganhar em produtividade e qualidade. A demanda deve passar de 12 milhões de toneladas, conforme a Conab, e com isso o Brasil, mesmo crescendo em produção, deve crescer em importação, o que favorecerá os produtores. EUA - Os produtores plantaram a safra no período ideal. Agora anseiam por clima ideal em julho e agosto para garantir uma safra de 400 milhões de toneladas de milho e 112 milhões de toneladas de soja. Se houver calor extremo nestes dois meses, parte deste potencial será comprometida. O verão está chegando mais cedo e com previsão de que deve ser quente. A safra está nos campos e os riscos ainda serão grandes. CHINA - A China tem sofrido com o calor neste verão e assim há indicativos de que parte da safra local possa estar sendo comprometida. Mas o fator importante do país é que seguem comprando agressivamente soja, milho, trigo e arroz. Para não correr riscos, querem
aumentar os estoques para não sofrerem como ocorreu neste último fevereiro, em plena pandemia, quando registram os estoques mais baixos desde 2013. Cogita-se que vão importar mais de 95 milhões de toneladas de soja neste ano e devem bater a marca de 100 milhões de toneladas nesta nova safra de 2020/21. É preciso muita comida para suprir mais de 1,5 bilhão de habitantes do país. ARGENTINA - A safra dos argentinos está fechando com bons números, com a soja pouco abaixo de 50 milhões de toneladas e o milho próximo disso também. Os primeiros dados da safra 2021 também apontam para isso. Os produtores temem que o governo venha a abocanhar mais uma fatia do setor neste novo ano em função da grande crise financeira que atinge o país. Já há problemas para receber os novos insumos para a safra que vem pela frente, devido à disputa cambial, onde o governo quer que os produtores paguem com câmbio maior que o negociado inicialmente. Se isso ocorrer, parte dos negócios deve ser desfeita e fertilizantes e defensivos podem não chegar aos campos. Resta a dúvida se o país irá conseguir plantar o que está programado. Desta forma, a nova safra ainda é uma incógnita, o que impulsiona as cotações internacionais.
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Coluna ANPII
Foco em bioinsumos Mapa cria programa nacional com objetivo de ampliar e fortalecer o uso de insumos para promoção de desenvolvimento sustentável da agropecuária brasileira
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á escrevemos em artigos anteriores que a agricultu- a legislação proposta, com o objetivo de adequá-la às reais ra do século 21 caminha para ter a linha de produtos necessidades da agricultura brasileira. biológicos como um de seus vetores mais importantes. Um dos pontos que chamam mais a atenção dos produtoUma série de fatores, já listados em dezenas de trabalhos, le- res de inoculantes é o que se refere à produção do produto va irreversivelmente a produção agrícola para este caminho. biológico na própria fazenda (on farm). Esta prática vem se Tanto no que tange à fixação biológica de nitrogênio, como disseminando em algumas fazendas e já foi objeto de outros em organismos promotores de crescimento e de controle artigos nossos, mostrando que a produção de inoculantes à biológico, o leque de produtos à base ou oriundos de micro- base de Rhizobium, Bradyrhizobium e Azospirillum necessita -organismos vem tendo cada vez mais aceitação por parte do de um elevado respaldo em conhecimentos e procedimentos agricultor brasileiro. microbiológicos, o que redunda em altos investimentos, que Dentro da tarefa de ordenar a política agrícola brasileira, o inviabilizam sua produção de forma econômica, pois somenMinistério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) te a alta escala traz rendimento a este tipo de produção. São criou o Programa Nacional de Bioinsumos “que tem por ob- necessárias condições de elevado padrão tecnológico, com jetivo ampliar e fortalecer o uso de insumos para promoção todas as técnicas de microbiologia industrial para que se obde desenvolvimento sustentável da agropetenha um produto eficaz. cuária brasileira”. A FBN é uma tecnologia fundamenNa década de 70 do século passado, tal para a competitividade da soja no um dos grandes marcos da soja no Brasil Brasil, respondendo por significativos foi a criação pelo então Ministério da Agriganhos para o agricultor, para o País e A FBN é uma cultura, da Comissão Nacional da Soja, da para o ambiente, com a redução das qual fiz parte durante um período e com a emissões de carbono para a atmosfetecnologia presença do professor Jardim Freire e da ra. Como apresenta esta elevada imfundamental cientista Johanna Dobereiner. Esta comissão portância, deve ser tratado com o mápara a delineou a fixação biológica do nitrogênio ximo de cuidado para que não se perca (FBN), como a fonte preferencial de forneou mesmo diminua a produtividade, competitividade cimento de nitrogênio para soja. Isto foi um este recurso que o Brasil tem utilizado da soja marco na cultura da oleaginosa no Brasil e de forma tão eficiente. Uma produção o passo inicial para todo o sistema que foi de inoculante de baixa qualidade, sem no Brasil, montado a partir daí, levando o País a ser dúvida, afetará o aporte de nitrogênio respondendo o que mais e melhor utiliza o nitrogênio via na cultura da soja e trará diminuição por biológica no mundo. na produtividade ou exigirá o aporAssim, iniciativas para organizar e increte de fertilizantes nitrogenados, com significativos mentar atividades que tragam maior produtodas as desvantagens que estes proganhos para o tividade para o agricultor e ganhos para a o dutos têm na cultura da soja, embora sociedade como um todo, podem, se bem sejam essenciais em outras culturas. agricultor, para implementadas, mudar os rumos da agriMas temos certeza de que a nova o País e para o cultura e trazer um significativo aumento na legislação levará tudo isto em conoferta de alimentos para o Brasil e o munta e irá fazer exigências para que a ambiente do. Esperamos que esta nova iniciativa da produção que, eventualmente, vier a atual gestão do Mapa venha a frutificar com ser realizada em fazendas, levará em a mesma força como ocorreu há 50 anos. consideração a importância da FBN e O Projeto abrange diversos pontos e a necessidade de que venha a ser feita sinaliza várias ações que poderão trazer diretrizes para o dedentro das boas práticas de fabricação para que o agricultor senvolvimento da atividade no País de uma forma integrada, e a sociedade continuem a desfrutar dos benefícios do forC juntando as competências da área de gestão do Mapa, de necimento de nitrogênio via biológica. pesquisa da Embrapa e de universidades e institutos com as empresas privadas de produção de insumos biológicos. Solon Araújo, As portarias para a implantação do plano estão em conConsultor da ANPII sulta pública, permitindo que a sociedade se manifeste sobre
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