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Eficiência dos nematicidas

Eficiência detalhada

Nematicidas químicos e biológicos integram as principais estratégias de manejo contra fitonematoides na cultura da soja. Ambos possuem especificidades de ação e seu uso precisa considerar fatores como a correta identificação e a quantificação da espécie presente na área

Autilização de nematicidas químicos ou biológicos na cultura da soja é uma das principais estratégias empregadas pelos produtores no manejo frente aos fitonematoides. Nematicidas, de maneira geral, têm o papel de proteger o desenvolvimento do sistema radicular em suas fases iniciais, para garantir sua boa formação, e ainda interferir no ciclo biológico desses micro-organismos, regulando sua densidade populacional no ambiente.

Embora sejam crescentes os relatos de áreas afetadas por

fitonematoides em diversos cultivos e regiões, tecnologias têm sido desenvolvidas nos últimos anos buscando auxiliar a convivência com esses micro-organismos, devido à impossibilidade de erradicação. No tocante a isso, o manejo acaba se tornando uma tarefa um pouco complexa, devido às inúmeras espécies já identificadas, capazes de interferir diretamente no funcionamento fisiológico da planta, refletindo diretamente em perdas de produtividade.

Nos últimos anos, os fitonematoides têm sido um dos

Gráfico 1 - Incrementos médios de produtividade, comparando parcelas com o uso de nematicidas químicos, versus testemunha sem o uso de nematicidas em diferentes anos agrícolas (Dados internos Instituto Phytus)

Gráfico 2 - Valores médios de produtividade, comparando parcelas com o uso de nematicidas biológicos, versus testemunha sem o uso de nematicidas em diferentes anos agrícolas (Dados internos Instituto Phytus)

principais grupos capazes de limitar a produção de alimentos, conduzindo o ritmo de cultivo em algumas regiões produtoras do Brasil. As principais espécies associadas na diminuição da produtividade da cultura da soja são os nematoides formadores de galhas (Meloidogyne javanica e M. incognita), o nematoide do cisto da soja (Heterodera glycines), o nematoide das lesões radiculares (Pratylenchus brachyurus) e o nematoide reniformis (Rotylenchulus reniformis). Além dessas espécies, tem aumentado a ocorrência de nematoides emergentes, como é o caso de Helicotylenchus dihystera, Scutellonema brachyurus, Tubixaba tuxaua e Aphelenchoides besseyi. Isso em parte se dá ao modelo de sistema de produção altamente intensivo, bem como produtivo, ligado às condições propícias para o aumento desses micro-organismos de solo.

Tecnologias para o manejo têm sido desenvolvidas anualmente, como é o caso de nematicidas. Tecnologias de fácil uso têm permitido o cultivo em áreas infestadas, com o objetivo de reduzir as perdas de produtividade, com incrementos produtivos, que podem variar na média de dois sacos por hectare a cinco sacos por hectare (Gráficos 1 e 2).

Atualmente, as principais formas de aplicação são via tratamento de sementes e sulco de semeadura. São tecnologias similares com o mesmo objetivo comum, proteger as plântulas contra os fitonematoides. O tratamento de sementes com produtos químicos e/ou biológicos tem por objetivo carregar substâncias capazes de inibir e/ou reduzir o ataque desses micro- -organismos de solo, principalmente em seus primeiros estádios de desenvolvimento (estádio preferencial para infecção dos fitonematoides e de maior vulnerabilidade das plântulas ao ataque, ou seja, fase onde o dano é sempre maior e irreversível), reduzindo os danos e garantindo a formação de uma plântula capaz de se desenvolver e produzir (Figura 1).

A outra forma de utilização dos nematicidas é através da aplicação direta no sulco de semeadura. Essa modalidade de apli

Figura 1 - Raiz de uma planta de soja, infectada por fitonematoide em pleno desenvolvimento vegetativo

Figura 2 - Sistema radicular de uma planta de soja em desenvolvimento

cação é capaz de direcionar os produtos próximos às sementes, para criar uma zona protetora para o desenvolvimento inicial das plântulas.

Os nematicidas químicos apresentam diversos mecanismos de ação, podendo atuar diretamente no sistema nervoso, na síntese de proteínas e em processos ligados à respiração dos fitonematoides. Em suma, tais eventos interferem diretamente nos processos de infecção, reprodução e sobrevivência desses micro-organismos. Ao entrarem em contato com os fitonematoides em suas fases infectivas, essas substâncias irão interferir diretamente nos processos mencionados anteriormente, com maior ênfase no processo de infecção das raízes, promovendo uma proteção em seu estádio de maior vulnerabilidade para as plântulas. Outro ponto importante dessa tecnologia é o retardo, e até a inibição da eclosão dos ovos dos fitonematoides, que ficam presentes no solo de uma safra para outra. No Brasil, atualmente existem aproximadamente dez produtos registrados para o manejo desses micro-organismos, sendo a base dessa tecnologia composta de produtos não fumigantes, pertencentes aos grupos químicos organofosforado, metilcarbamato, avermectina, fluoroalquenil sulfona heterocíclica, benzimidazol + fenilpiridinilamina, benzamida piramida. Estes nematicidas possuem uma persistência reduzida no ambiente, como moléculas tóxicas, quando comparados aos primeiros nematicidas lançados para o manejo de fitonematoides, onde a base era composta de produtos fumigantes de alta toxicidade para o ambiente.

Os nematicidas à base de micro- -organismos (nematicidas biológicos - AGB) têm crescido exponencialmente nos últimos anos. Essa tecnologia tem por objetivo a utilização de micro-organismos benéficos (inimigos naturais) para regular as atividades e populações dos fitonematoides. Os principais grupos de inimigos naturais com formulações de nematicidas para o uso no manejo dos fitonema

toides são compostos em sua maioria por fungos e bactérias. Atualmente, existem mais de 20 nematicidas biológicos registrados para o manejo dos fitonematoides.

Esses produtos podem ser aplicados via tratamento de sementes ou sulco de semeadura. Entretanto, os mecanismos de ação entre bactérias e fungos são distintos. Os de origem fúngica, sobre condições favoráveis do ambiente, atuam parasitando ou predando ovos, juvenis e adultos presentes no solo. As bactérias atuam colonizando todo o sistema radicular (criando um biofilme protetor) alimentando-se dos exsudatos radiculares (Substâncias utilizadas pelos fitonematoides, para descobrir a localização das raízes), confundindo os nematoides sobre a localização real da raiz, contribuindo para o gasto energético, exaurindo assim todas suas reservas. Outro mecanismo envolvido em ambos os agentes de biocontrole (bactérias e fungos) é o de antibiose (Liberação de substâncias, capazes de interferir diretamente na infecção, desenvolvimento e reprodução dos fitonematoides). As principais toxinas/enzimas excretadas são proteases, quitinases e lipases. Essas toxinas podem atuar em diferentes fases do ciclo biológico dos fitonematoides, desde o ovo até a fase de interação nematoides-planta. Esses agentes antagonistas ainda possuem potencial de compor a fração biótica do solo, aumentando assim a competição no solo, podendo tornar o ambien

Santos aborda o papel de nematicidas químicos e biológicos

Figuras 3 e 4 - Lavoura de soja infestada por M. javanica safra 2014/15, cultivar TEC 6029 IPRO (esquerda), e ano seguinte cultivar SYN VTOP RR associada a nematicidas, safra 2015/16 (Dados internos Instituto Phytus)

te mais supressivo e equilibrado. Além dessas características, os nematicidas podem ainda auxiliar no desenvolvimento do sistema radicular, acelerando o seu crescimento, deixando o sistema radicular por menos tempo exposto à câmara de maior infestação dos fitonematoides (Figura 2).

Cabe salientar que áreas que possuem problemas com fitonematoides não podem apresentar qualquer impedimento para o crescimento livre das raízes, sejam de ordem física ou química, caso contrário, as raízes ficarão confinadas à zona de maior concentração dos fitonematoides.

O cuidado para com esses produtos químicos e biológicos é a sua utilização de maneira isolada. O ajuste dessas ferramentas com uma variedade de soja resistente/tolerante, atrelado a um sistema de rotação, é praticamente vital para o sucesso de um programa de manejo de médio a longo prazo. Um exemplo prático disso é quando o produtor faz o diagnóstico da espécie de nematoide presente na sua lavoura, em função dos sintomas observados (geralmente reboleiras), o simples fato de não repetir a mesma variedade em que observou o problema já é um passo importante, pois essa troca de variedade trará à população de fitonematoides um novo cenário quanto à demanda por alimento, principalmente se a cultivar escolhida apresentar características de resistência/tolerância à espécie envolvida (Figuras 3 e 4).

Portanto, é importante salientar que essas ferramentas de manejo possuem mecanismos de ação diferentes, com o objetivo principal de evitar a alimentação e a reprodução dos fitonematoides, quebrando desse modo o seu ciclo de vida. Essas ações irão dificultar ou impedir o crescimento populacional no solo, de forma a permitir o cultivo econômico nessas áreas. Apesar dos inúmeros benefícios atrelados a essas tecnologias, nenhuma delas, quando usadas isoladamente, trará uma resposta maior de controle que as utilizadas de maneira conjunta. Cabe ainda ressaltar que os produtores precisam realizar o trabalho de base, que começa pela identificação e quantificação correta das espécies presentes na área, pois os nematicidas, tanto quí

micos quanto biológicos, apresentam certa especificidade

C e seu uso deve estar atrelado à identificação da espécie presente na área.

Paulo Santos, Phytus Group

Figura 7 - Teores de clorofila (mg.kg -1 ) nas amostras de grãos de soja das diferentes microrregiões dos estados do Brasil, na safra 2016/17. As cores representam a intensidade da característica nas diferentes microrregiões brasileiras

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