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Coluna Agronegócios
Oceanos mais quentes e seu impacto na agricultura
Aagricultura é fortemente influenciada pelo clima. Chama a atenção o fato de que, desde 1990, praticamente todos os anos a quantidade de energia (calor) retida nos oceanos é maior que no ano anterior. Os oceanos do mundo foram mais quentes em 2019 do que em qualquer outro momento da história humana registrada. O estudo foi conduzido por uma equipe internacional (link.springer.com/article/10.1007%2Fs00376-020-9283-7). A temperatura dos oceanos não está apenas aumentando, mas também acelerando o aumento.
Em 2019, para aumentar 0,075°C acima da média de 1981- 2010, os oceanos absorveram 228 sextilhões de joules de calor (228ZJ). A absorção dos últimos 25 anos equivaleu a 3,6 bilhões de bombas atômicas similares à lançada sobre Hiroshima! Ou o equivalente a 500 mil anos do consumo global de energia verificado em 2018. Lijing Cheng, o cientista líder do estudo, afirma que o aquecimento dos oceanos é mais uma prova das mudanças climáticas, pois, além das emissões humanas de gases de efeito estufa, não há alternativas razoáveis para explicá-lo. O acúmulo de calor nos oceanos é a métrica mais precisa para medir as mudanças climáticas globais, pois os oceanos retêm 96% da radiação que chega à Terra. A Figura 1 mostra a variação do calor retido nos oceanos (medidos em zeta joules - ZJ), em relação à média do período 1958-2018 (159.226.119.60/cheng/images_files/OHC2000m_monthly_timeseries.txt); e a variação da temperatura da Terra (em °C) em relação à média do período 1981-2010 (skepticalscience.com/print. php?n=4366). A Figura 2 mostra a concentração (ppm) do CO 2 na atmosfera (esrl.noaa.gov/gmd/ccgg/trends/global.html). É patente a relação de causa e efeito entre o aumento da concentração de gás carbônico e o aumento da temperatura da Terra e dos oceanos.
EL NIÑO E LA NIÑA A alteração da quantidade de calor dos oceanos afetará esses fenômenos. Em um ano “normal”, os ventos alísios do Pacífico sopram no sentido Leste-Oeste, elevando a superfície do oceano em meio metro na costa Leste da Ásia e Austrália. Isto provoca a ressurgência de águas profundas, mais frias. Quando ocorre El Niño, direção, diminuindo a ressurgência de águas e aumentando sua temperatura na costa da América do Sul.
O oceano mais quente gera massas de ar quente e úmido, provocando chuvas excepcionais na América do Sul e secas na Indonésia e na Austrália. La Niña é o fenômeno inverso, com temperaturas frias na região equatorial do Pacífico. No Brasil, o efeito do El Niño no volume de chuvas, na duração do período chuvoso e nas temperaturas, depende de cada região e da intensidade do fenômeno: 1) Norte e Nordeste: diminuição de chuvas causando secas no Sertão nordestino e incêndios florestais na Amazônia; 2) Sudeste e Centro-Oeste: aumento da temperatura média e instabilidade no regime pluviométrico; 3) Sul: aumento da temperatura média e da precipitação, principalmente na primavera e no período entre maio e julho. os ventos sobre o Pacífico sopram com menos força ou invertem a
O TEMPO SE ESGOTA Para restringir o aquecimento da Terra entre 2°C e 2,4°C até 2100, em relação ao período pré-industrial, a concentração de CO 2 na atmosfera não poderia ultrapassar 400ppm, de acordo com o último relatório dos peritos da ONU sobre o clima (IPCC). Já ultrapassamos este valor em 2015! Quanto mais reduzirmos as emissões dos gases de efeito estufa, menos o oceano se aquecerá. Reduzir, reutilizar e reciclar, além de não desmatar, não queimar florestas e usar energia limpa são as atitudes a tomar.
Alternativamente, pode-se esconder a cabeça no chão, feito avestruz, criticar e ironizar a cruzada de Greta Thunberg e outros ativistas, que alertam para o futuro sombrio decorrente das mudanças climáticas. Essa última atitude não resolve o problema, mas cria a ilusão de que algum ente superior poderia resolvê-lo por nós. Entrementes, nossos netos não nos perdoarão se assim agirmos, legando-lhes uma herança maldita e irreversível. C
Decio Luiz Gazzoni O autor é Engenheiro Agrônomo, membro do Conselho Científico Agrossustentável
Figura 1 - Variações na quantidade de calor dos oceanos e na temperatura da Terra Figura 2 - Concentração de gás carbônico na atmosfera