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Herbicidas pré-emergentes no arroz
Ferramenta reposicionada
Como aplicar herbicidas pré-emergentes em ponto de agulha e em sistema de semeadura direta de arroz irrigado sem perder a eficiência no controle de capim-arroz
Com o aumento no número de casos de resistência de plantas daninhas a herbicidas, cada vez mais deve-se preconizar a diversificação das ferramentas no manejo das culturas. Dentre elas, os herbicidas pré-emergentes tornam- -se alternativa viável para o controle de plantas daninhas resistentes ou de difícil controle, além de serem opção para a rotação de mecanismos de ação. Contando, para o manejo de capim-arroz (Echinochloa spp.), uma das principais plantas daninhas na orizicultura, deve-se saber qual herbicida pré-emergente é o mais
adequado para obter controle satisfatório e reduzir a perda de produtividade.
O capim-arroz apresenta grande distribuição e competitividade nos diversos sistemas de cultivo do arroz no mundo, estimando-se que nas condições de cultivo da região Sul do Brasil cada planta de capim-arroz por metro quadrado pode causar perda na produtividade de grãos entre 8,4% e 11,3% (Agostinetto et al, 2007). No Brasil, existem casos de resistência de capim-arroz aos herbicidas mimetizadores de auxinas, inibidores de ALS e
ACCase (Heap, 2019), mecanismos que compreendem os principais herbicidas para uso em pós-emergência no arroz. Diante disso, deve-se preconizar outros mecanismos de ação para evitar mais casos de resistência.
A FERRAMENTA E A OCASIÃO Existem diferentes manejos e momentos de aplicação dos herbicidas pré- -emergentes para controle de plantas daninhas na cultura do arroz.
1) Uso de herbicidas em pré-emergência e ponto de agulha
A aplicação de herbicidas pré-emergentes pode reduzir a infestação inicial, reduzindo a competição na fase de emergência da cultura e podendo facilitar o controle em pós-emergência, havendo relatos de aumento do controle em 25% com relação à utilização somente de herbicidas pós-emergentes (Chauan, 2012).
Outra maneira do uso de pré-emergentes, particularmente no arroz, é no subperíodo da semeadura-emergência, e tendo-se como limite a data em que se inicia o estádio fenológico S3, que corresponde à emissão do coleóptilo da planta de arroz, popularmente chamado de “ponto de agulha” (Crusciol et al, 2002) (Figura 1). Este estádio é considerado quando o prófilo (estrutura de proteção dos novos colmos) das plântulas de espécies poaceas, ainda se encontra protegido do atrito e pressão do solo pelo coleóptilo. Após emergir no solo, as células dessa bainha senescem em função do estresse oxidativo causado pela luz (Carpita et al, 2001 e Inada et al, 2002). Para que esta estratégia seja eficiente, há a necessidade de aplicação em conjunto de herbicida de ação total, normalmente glifosato. Assim, eliminam-se da lavoura as plantas daninhas até então emergidas. O manejo com dessecação em ponto de agulha ampliou o controle de diversos herbicidas seletivos ao arroz, aplicados em pré ou pós-emergência (Theisen et al, 2013). Diante disso, tem- -se realizado diversos estudos para a utilização de herbicidas não só no sistema
T.F.S. de Freitas e D. Grohs; Fonte: SOSBAI, 2018
Figura 1 - Estádios de plântulas de arroz e o momento de “ponto de agulha”
Figura 2 - Fitotoxicidade à cultura do arroz 15 (a) e 21 (b) dias após a emergência em função de manejos de aplicação de herbicidas pré-emergentes. Capão do Leão/RS, 2017. 1Médias seguidas por letras distintas na barra de mesma cor, diferem entre si pelo teste de Duncan (p≤0,05). * ou ns compara épocas de aplicação pelo teste t (p≤0,05)
Figura 3 - Controle de capim-arroz (a) e produtividade de grãos de arroz (b) em função de manejos de aplicação de herbicidas pré-emergentes. Capão do Leão/RS, 2017. 1Médias seguidas por letras distintas na barra de mesma cor, diferem entre si pelo teste de Duncan (p≤0,05). * ou ns compara épocas de aplicação pelo teste t (p≤0,05)
Figura 4 - Controle de capim-arroz 15 (a) e 21 (b) dias após a emergência, e produtividade de grãos de arroz (e) em função de sistemas de cultivo e herbicidas pré-emergentes. Cachoeirinha /RS, 2017. 1Médias seguidas por letras distintas na barra de mesma cor, diferem entre si pelo teste de Duncan (p≤0,05). * ou ns compara sistemas de cultivo pelo teste t (p≤0,05)
plante-aplique como também em ponto de agulha.
Observou-se que a época de aplicação dos herbicidas implica diferenças na resposta, em relação à fitotoxicidade entre aplicações em plante-aplique (logo após a semeadura) e ponto de agulha (Figura 2). Aos 15 dias após a emergência do arroz (DAE), para aplicação em plante-aplique, o tratamento que apresentou maior fitotoxicidade para a cultura do arroz foi o herbicida oxifluorfem, que não diferiu do tratamento com clomazone. Em aplicação em ponto de agulha, também se observou maior fitotoxicidade para o tratamento com oxifluorfem, seguido do clomazone. Os demais tratamentos apresentaram baixa fitotoxicidade à cultura, com valores inferiores a 6%.
Na comparação dos métodos de manejo para cada herbicida, a aplicação de clomazone, imazapir + imazapique, oxadiazona e oxifluorfem, em ponto de agulha, proporcionou maior fitotoxicidade à cultura (Figura 2). Aos 21 DAE, para plante-aplique e ponto de agulha, observou-se que o tratamento que causou maior fitotoxicidade para cultura do arroz foi clomazone e oxifluorfem, confirmando os dados anteriores.
Destaca-se, todavia, que aos 15 DAE, no manejo de aplicação plante-aplique, os tratamentos com clomazone, imazapir + imazapique e quincloraque proporcionaram maior controle de capim-arroz (Figura 3). Entretanto, os valores de controle ficaram abaixo de 80% para esses tratamentos, sendo que para a aplicação realizada em ponto de agulha esses herbicidas evidenciaram controle superior, justificando a importância dessa ferramenta para o controle adequado da planta daninha.
É relevante destacar que, historicamente, os herbicidas pré- -emergentes foram utilizados na modalidade “plante-aplique” no arroz, cuja possibilidade de uso em “ponto de agulha” e com maior eficiência é preponderante para o adequado manejo da resistência de capim-arroz na cultura. No âmbito geral, aplicações em ponto de agulha proporcionam maior fitotoxicidade à cultura quando comparadas às aplicações mais tradicionais de plante-aplique, contudo proporcionaram também maior controle de capim-arroz.
2) Uso de pré-emergentes em diferentes sistemas de cultivo A cultura do arroz irrigado passou por inúmeras mudanças nos últimos anos, no que diz respeito à adoção de sistemas de cultivo, onde se verifica mais intensamente a adoção de sistemas mais conservacionistas de solo, como o cultivo mínimo e a semeadura direta. Todavia, por terem como o alvo o solo, os herbicidas pré- -emergentes sofrem influência nesses tipos de sistema, podendo ficar retidos na palhada, não expressando seu potencial de controle, principalmente. Nesse sentido, é necessário compreender a dinâmica do seu uso nessa realidade.
No sistema convencional, o tratamento com quincloraque proporcionou maior controle de capim-arroz, não diferindo dos tratamentos com clomazona e oxifluorfem aos 15 DAE (Figura 4). No sistema de cultivo plantio direto, também se verificou que quincloraque foi o mais eficiente no controle de capim-arroz, sendo similar ao tratamento com oxadiazona. Ao comparar os sistemas de cultivo, observou-se que pendimetalina, quando utilizado em plantio direto, proporcionou melhor controle de capim-arroz em relação ao sistema convencional.
Na avaliação realizada aos 21 DAE, no sistema convencional e
plantio direto o melhor tratamento foi verificado com quincloraque, sendo verificado controle superior a 90% (Figura 4). Os herbicidas clomazona, oxadiazona e oxifluorfem em plantio direto obtiveram controle superior a 80%. Assim, a palhada presente no solo pode apresentar efeito supressor de plantas daninhas, justificando o melhor controle para alguns casos. Nesse sentido, constatou-se que oxadiazona, quando utilizado em plantio direto, proporcionou melhor controle de capim-arroz em relação ao sistema convencional.
O melhor controle de capim-arroz reflete em maior produtividade de grãos de arroz, porém não houve diferença entre o arroz cultivado no sistema plantio direto e convencional, observando-se somente efeito de tratamento de herbicidas (Figura 4), sendo estes resultados atribuídos à pequena diferença em controle observado entre tratamentos nos dois sistemas. Os tratamentos com os herbicidas quincloraque, clomazona e oxadiazon proporcionaram maiores produtividades, diferindo estatisticamente apenas da testemunha sem controle, confirmando o potencial de uso em sistemas de semeadura direta em arroz irrigado com a presença de palha na superfície do solo (Figura 5).
EM CONCLUSÃO É possível perceber que diante dos sérios problemas de resistência de capim-
Lagartas podem gerar grandes prejuízos na cultura da soja, sendo que até a safra 2014/2015 eram consideradas pragas de maior importância
-arroz a herbicidas, o uso de pré-emergentes é uma ferramenta importante para evitar as perdas de produtividade causadas pela planta daninha. Ainda, por apresentarem mecanismos de ação distintos, são relevantes para a rotação de herbicidas nos sistemas de produção. Mesmo que pouca informação esteja disponível acerca do uso desses herbicidas nas lavouras de arroz irrigado, mediante a disposição das tecnologias atuais, os resultados apontam que os pré-emergentes podem ser utilizados em ponto
C de agulha e em sistema de semeadura direta com manutenção da sua eficiência para o controle de capim-arroz.
Dirceu Agostinetto, Universidade Federal de Pelotas André da Rosa Ulguim e Roberto Ávila Neto, Universidade Federal de Santa Maria Edna Almeida de Souza, Universidade Federal de Pelotas André Andres, Embrapa Clima Temperado