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Como manejar nematoides
Agentes invisíveis
Considerados inimigos ocultos por possuírem medidas microscópicas, hábito subterrâneo e apresentar difícil identificação a campo, nematoides são responsáveis por prejuízos estimados em R$ 16,2 bilhões na cultura da soja. Conhecer corretamente o inimigo é indispensável para a tomada de decisão sobre o tipo de manejo a ser adotado contra esses parasitas
Fotos Tatiane Cheila Zambiasi
OBrasil é o maior exportador de soja e o segundo maior produtor mundial do grão, sendo que a produção estimada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) na safra 2018/19 foi de 14,843 milhões de toneladas com área plantada de 35,822 milhões de hectares e produtividade média de 3.206kg/ha.
A forte expansão das áreas cultivadas com essa commoditie, associada a práticas agrícolas de rotação de culturas inadequadas ou inexistentes, proporciona o aumento na incidência de nematoides. São considerados inimigos ocultos, pois possuem medidas microscópicas, hábito subterrâneo e difícil identificação a campo. Assim, esses agentes invisíveis vêm aumentando e ganhando espaço no cenário brasileiro como um dos principais problemas fitossanitários da cultura da soja, sendo que em casos extremos podem inviabilizar áreas de cultivo.
Na cultura da soja, os principais nematoides são o nematoide-das-galhas (Meloidogyne incognita e Meloidogyne javanica), o nematoide-das-lesões -radiculares (Pratylenchus brachyurus) e o nematoide- -de-cisto-da-soja (Heterodera glycines). Os sintomas na parte aérea das plantas, na maioria das vezes, são facilmente confundidos com outras causas, como deficiência nutricional, ataque de pragas e doenças, estiagem e compactação de solo. De acordo com a Sociedade Brasileira de Nematologia, as perdas ocasionadas pelos nematoides ao agronegócio chegam a patamares de R$ 35 bilhões por ano, sendo que na cultura da soja a estimativa é de R$ 16,2 bilhões.
NEMATOIDE-DAS-LESÕES (PRATYLENCHUS BRACHYURUS) Habitante natural das regiões de cerrado, o Pratylenchus brachyurus vem tornando-se uma preocupação para os produtores de soja, pois suas populações vêm aumentando nos últimos anos. O principal dano ocasionado pelo parasita é a redução do sistema radicular, ocasionando o escurecimento das raízes e diminuição de porte das plantas. Sua patogenicidade pode ser influenciada pela interação com fungos dos gêneros Fusarium e Verticillium. A duração do ciclo de vida varia de acordo com a temperatura e a umidade, sendo de sete a dez semanas.
NEMATOIDE-DAS-GALHAS (MELOIDOGYNE INCOGNITA E MELOIDOGYNE JAVANICA) As espécies Meloidogyne incognita e Meloidogyne javanica apresentam ampla distribuição geográfica e são as maiores causadoras de danos na cultura da soja no Brasil. Em lavouras atacadas, observam-se reboleiras com plantas amarelecidas, redução de porte, engrossamento das raízes (galhas), abortamento de vagens e amadurecimento prematuro. De modo geral, o ciclo biológico dessas espécies dura em torno de seis a sete semanas, com temperaturas na faixa de 25°C a 30°C.
NEMATOIDE DE CISTO (HETERODERA GLYCINES) O nematoide de cisto (Heterodera glycines) apresenta particularidades em relação aos demais nematoides em soja, pois apresenta diversas raças e sua sobrevivência ocorre através de cistos que podem ficar viáveis por mais de dez anos. No Mato Grosso, há relatos de 16 raças (raças 1, 2, 3, 4, 4+, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14 e 14+). A sintomatologia principal são pontuações branco/amarelada com formato de limão (fêmeas na fase adulta aderidas nas raízes). Seu ciclo biológico dura em torno de 25 a 30 dias, com temperaturas variando entre 23ºC e 28°C.
COLETA E IDENTIFICAÇÃO DE NEMATOIDES Os sistemas de produção utilizados no Mato Grosso são baseados em monocultura ou sucessão contínua de culturas hospedeiras, o que vem acarretando aumento das populações dos fitonematoides e contribuindo para a queda de rendimento da planta e perdas de produção. Sendo assim, é inevitável traçar manejos estratégicos para a redução dos danos causados pelos parasitas.
A fim de aumentar as chances de sucesso nas escolhas de manejo, é necessário realizar a identificação da espécie do nematoide que ocorre na área de cultivo e quantificar sua população. Isso por que a diagnose visual de sintomas no campo é limitada pelo fato de o profissional conseguir identificar apenas o gênero e não a espécie, como por exemplo diferenciar Meloidogyne javanica de Meloidogyne incognita. E nem identificar raça, no caso de cisto, tornando restritas suas opções de manejos. Para isso, torna-se indispensável que as coletas de solo e raiz sejam realizadas corretamente e encaminhadas para um laboratório
Sintomas de escurecimento e necrose provocados pelo nematoide-das-lesões em raízes de soja
Presença de galhas radiculares em raízes de soja

de nematologia.
ESTRATÉGIAS DE MANEJO DE NEMATOIDES Atualmente o maior desafio para os profissionais é elaborar estratégias de manejo para reduzir as populações de nematoides, sendo que uma vez instalado, nunca mais poderá ser erradicado. Para isso, existem diversas medidas para reduzir o nível populacional, como a utilização de produtos químicos ou biológicos no

Fêmeas do nematoide de cisto da soja em raízes da cultura

Equipamentos para coleta de solo e raiz para análise de solo

Passos para obter sucesso no manejo de nematoides
1° Identificação das espécies de fitonematoides ocorrentes na área de cultivo, bem como seu nível populacional.
2° Realizar boas práticas agrícolas relacionadas à higienização/ limpeza de máquinas e implementos utilizados em áreas com presença de nematoides.
3° Adotar táticas de manejo integrado, como por exemplo, controle biológico, químico, rotação de culturas não hospedeiras e variedades resistentes.
4° Monitorar suas áreas anualmente para verificar a eficiência dos manejos utilizados e dinâmica populacional dos nematoides.
tratamento de semente ou via sulco, cultivares resistentes ou tolerantes, culturas alternativas, controle físico e manejo adequado de plantas daninhas hospedeiras. Todavia, é imprescindível a identificação e quantificação do nível populacional, pois isso vai afetar a tomada de decisão do manejo a ser adotado, sendo que altas populações necessitaram de manejos integrados.
A primeira alternativa de manejo é o cuidado com a disseminação dos parasitas para locais onde não se tem a incidência. A disseminação ocorre por partículas de solo, desse modo, é preciso ter cuidado com erosão de solo, máquinas e implementos agrícolas. Sendo assim, se faz extremamente importante fazer o levantamento das áreas infestadas para traçar estratégias de semeadura e limpeza das máquinas, evitando sua disseminação.
USO DA TECNOLOGIA PARA IDENTIFICAÇÃO DE MANCHAS A utilização da tecnologia no meio agrícola é antiga, tendo como destaque principal, a utilização do GPS (Global Positioning System) que possibilitou a otimização nos processos agrícolas através de máquinas guiadas por computadores. A partir daí, houve uma grande expansão de softwares e aplicativos que vieram para auxiliar na coleta de dados e informações.
Uma ferramenta tecnológica que tem auxiliado no levantamento e na investigação de locais com incidência de nematoides é o EOS – Land Viewer, que utiliza satélites para predizer manchas que podem ser possíveis focos dos parasitas. As principais bandas utilizadas para a investigação são o NDVI e infravermelho. O NDVI é um índice de vegetação que permite gerar uma imagem demonstrando a biomassa relativa, sendo que colorações de verde-escuro demonstram vegetações densas, já tonalidades de verde-claro indicam vegetação menos densa. Assim como o NDVI, o infravermelho é um índice de vegetação, porém mensura a vegetação através de cores vermelhas, sendo vermelho-escuro vegetação densa e vermelho-claro vegetação rala.
Com auxílio dessa ferramenta é possível maximizar a operacionalidade das coletas, pois as áreas são extensas, o que onera e dificulta o processo. Após mapeadas, essas amostras são encaminhadas ao laboratório onde é feito o processamento, e com os resultados em mãos, é possível montar mapas para população dos nematoides para auxiliar na tomada de decisão a respeito do manejo mais adequado.
RESISTÊNCIA GENÉTICA O uso da resistência genética de plantas para redução dos níveis populacionais de nematoides é uma das alternativas mais eficientes e econômicas. A maioria das cultivares apresenta resistência a cisto e, posteriormente para galha, já para o nematoide-das-lesões não há cultivares resistentes no mercado, e sim materiais que apresentam fatores de reprodução diferentes. É importante salientar que o sucesso do uso dessa tecnologia passará pela identificação da espécie predominante na área e, às vezes, deverão ser adotadas medidas complementares.
CONTROLE BIOLÓGICO A utilização de produtos biológicos para controle de nematoi
de vem aumentando gradativamente nos últimos anos por sua eficácia indiscutível e menor agressão ao ambiente. Os ingredientes ativos dos nematicidas são à base de fungos (Purpureocillium lilacinus e Pochonia chlamydosporia) e bactérias (Bacillus spp. e Pasteuria nishizawae). Um dos desafios, assim como o armazenamento e operacional, para a utilização desses micro-organismos é de ordem técnica, visto que se posicionados de maneira incorreta vão aumentar o custo da lavoura sem trazer benefícios.
CONTROLE QUÍMICO O controle químico é amplamente utilizado e difundido no Brasil. São produtos de ação mais rápida em relação aos biológicos e utilizados via tratamento de sementes (abamectina, fluensulfona, tiofanato-metílico) ou via sulco (cadusafós). Segundo informações do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), será liberado o registro de produtos à base do ingrediente ativo fluopiram para controle de nematoide nas culturas de batata, café, cana e soja. Esse alternativa de manejo é uma excelente opção, porém muitas vezes deverá ser associada a outras técnicas.
CULTURAS ALTERNATIVAS O controle de nematoide com culturas de cobertura consiste na utilização de espécies hospedeiras (aumentam a população) e não hospedeiras (reduzem a população). Com isso, espécies como crotalária, milheto, mamona, sorgo e milho estão em crescente aumento de área. Porém, o posicionamento de culturas de cobertura deve ser bem estudado e planejado, pois algumas espécies são não hospedeiras para cisto e galha, mas são hospedeiras para Pratylenchus. No momento, o nematoide de cisto possui mais opções de manejo de coberturas em relação aos nematoides de galhas e das lesões.
CONTROLE FÍSICO E CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS O controle físico é uma técnica que está baseada na diminuição das populações dos nematoides por exposição à luz,
Pontos 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 Coordenadas 13.42556°S 45.98918°W 13.42024°S 45.98416°W 13.41834°S 45.98853°W 13.41851°S 45.97813°W 13.41736°S 45.97240°W 13.41421°S 45.96982°W 13.41463°S 45.97478°W 13.41723°S 45.99145°W 13.41172°S 45.99098°W 13.40778°S 45.97229°W 13.40379°S 45.97628°W 13.39935°S 45.98383°W 13.40031°S 45.98697°W 13.39778°S 45.99122°W 13.39029°S 45.99173°W 13.39110°S 45.98877°W 13.38964°S 45.98564°W 13.39432°S 45.98072°W 13.39116°S 45.97832°W 13.38565°S 45.97615°W 13.38864°S 45.97508°W 13.38916°S 45.96757°W 13.38983°S 45.96527°W 13.38069°S 45.96948°W 13.39743°S 45.96349°W 13.39805°S 45.95993°W 13.40039°S 45.96027°W 13.40605°S 45.95360°W 13.40256°S 45.95587°W 13.40047°S 45.94939°W 13.39693°S 45.95113°W 13.39183°S 45.95806°W 13.37979°S 45.95611°W 13.36822°S 45.96808°W 13.36887°S 45.97169°W 13.37666°S 45.98079°W 13.37492°S 45.98358°W 13.38240°S 45.98446°W 13.38018°S 45.99019°W 13.38167°S 45.99418°W 13.38916°S 45.99160°W 13.38870°S 45.99454°W 13.38538°S 45.99667°W 13.37384°S 45.99782°W 13.37417°S 45.99283°W 13.37071°S 45.99443°W 13.37294°S 45.99235°W 13.37292°S 45.98802°W 13.37173°S 45.98510°W 13.36808°S 45.98143°W 13.36993°S 45.97830°W 13.36762°S 45.97274°W 13.36584°S 45.96888°W 13.36267°S 45.96128°W Indíce de clorofila 0.759 0.560 0.557 0.465 0.481 0.563 0.438 0.796 0.745 0.555 0.867 0.951 0.952 0.899 0.832 0.844 0.773 0.867 0.588 0.690 0.508 0.539 0.832 0.810 0.635 0.669 0.677 0.544 0.593 0.586 0.841 0.913 0.938 0.746 0.801 0.762 0.785 0.706 0.653 0.644 0.763 0.658 0.509 0.519 0.759 0.785 0.796 0.762 0.897 0.882 0.884 0.877 0.887 0.865 Utilização da banda NDVI para identificação de manchas


Utilização da banda infravermelho para identificação de manchas
contudo, ainda é um tema muito discutido, pois seus benefícios não são bem explícitos, além do mais, pode se tornar uma prática de disseminação.
O controle adequado de plantas daninhas é extremamente importante para manter as populações baixas, sendo que diversas espécies são hospedeiras e se mal manejadas podem anular as demais práticas de manejo. C
Tatiane Cheila Zambiasi, AgroLab Willian Pies, Universidade Federal Fronteira Sul AgroLab