1415-482X tubro/2011• ISSN Ou obr em et -S Agosto Ano 15 • Nº 57 •
I SSN 1415 - 482X
9 771415 482002
nicanorcoelho@gmail.com
Dourados-MS
Ano 15 โ ข No 57
Pรกgs. 1-44
Ago.-Set.-Out./2011
[ CARO LEITOR Revista AranduLEITOR chega ao seu 14 ano ACARO de publicação interrupta, trazendo 0
aos leitores a produção acadêmica e artística de Mato Grosso do Sul e de outras regiões do país. Nesta edição, apresentamos estudos sobre novas tecnologias na educação e na odontologia; a violência; o turismo e a literatura. “A educação douradense na Blogosfera: A experiência de sucesso no uso de blogs na E. E. Floriano Viegas Machado” do”, escrito por mim em conjunto com Claudinei Menezes de Santana e Selma Roso Feitosa, traz uma análise das atividades desenvolvidas com o uso dessa nova ferramenta de interação e ensino. Em “ Violência e criminalidade: Entre a subjetividade e a objetividade” objetividade”, Giselia Lopes Vicente busca compreender qual o sentido atribuído à violência por alguns atores sociais. Domitila Medeiros Arce e Cinara Kottwitz Manzano Brenzan fazem um importante estudo sobre o turismo sul-matogrossense, no artigo “Acarne de jacaré, o turismo e a cultura gastronômica de Bonito -MS” nito-MS” -MS”. O dentista e professor Rodrigo Dalla Lana Mattiello escreveu sobre “Nanotecnologia em Odontologia: Implantes dentários de acelerada cicatrização óssea” sea”. E persistindo com o projeto de divulgação dos autores regionais, publicamos a seleção “O medo noturno e outros poemas” poemas”, de Edy Sális Leite. Nicanor Coelho, Editor
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Editor NICANOR COELHO nicanorcoelho@gmail.com Conselho Editorial Consultivo ÉLVIO LOPES, GICELMA DA FONSECA CHACAROSQUI e LUIZ CARLOS LUCIANO Conselho Científico ANDRÉ MARTINS BARBOSA, CARLOS MAGNO MIERES AMARILHA, CÉLIA REGINA DELÁCIO FERNANDES, LUCIANO SERAFIM, MARIA JOSÉ MARTINELLI SILVA CALIXTO, MARIO VITO COMAR, NICANOR COELHO, PAULO SÉRGIO NOLASCO DOS SANTOS e ROGÉRIO SILVA PEREIRA Editor de Arte LUCIANO SERAFIM PUBLICAÇÃO DO
EDITADO POR
Rua Mato Grosso, 1831, 10 Andar, Sala 01 Centro • Dourados • MS CEP 79810-110 Telefones: (67) 3423-0020 e 9238-0022 Site: www.nicanorcoelho.com.br CNPJ 06.115.732/0001-03
Revista Arandu: Informação, Arte, Ciência, Literatura / Grupo Literário Arandu - Ano 15 - No 57 (Agosto-Setembro-Outubro/2011). Dourados: Nicanor Coelho Editor, 2011. Trimestral ISSN 1415-482X 1. Informação - Periódicos; 2. Arte - Periódicos; 3. Ciência - Periódicos; 4. Literatura Periódicos; 5. Grupo Literário Arandu.
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[ SUMÁRIO
A educação douradense na Blogos-fera: A experiência de sucesso no uso de blogs na E. E. Floriano Viegas Machado ........................... 5 Claudinei Menezes de Santana Nicanor Souza Coelho Selma Roso Feitosa Violência e criminalidade: Entre a subjetividade e a objetividade ...................... 17 Giselia Lopes Vicente A carne de jacaré, o turismo e a cultura gastronômica de Bonito-MS ..................... 24 Domitila Medeiros Arce Cinara Kott-witz Manzano Brenzan O medo noturno e outros poemas ............................... 36 Edy Sális Leite Nanotecnologia em Odontologia: Implantes dentários de acelerada cicatrização óssea ...... 41 Rodrigo Dalla Lana Mattiello
Capa: Fachada da E.E. Floriano Viegas Machado, em Dourados-MS Foto de Nicanor Coelho
INDEXAÇÃO •
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A EDUCAÇÃO DOURADENSE NA BLOGOSFERA: A EXPERIÊNCIA DE SUCESSO NO USO DE BLOGS NA E. E. FLORIANO VIEGAS MACHADO Claudinei Menezes de SANTANA Nicanor Souza COELHO Selma Roso FEITOSA INTRODUÇÃO Este artigo busca analisar o fenômeno dos blogs e sua utilização como ferramenta suplementar de ensino na educação. Para tanto, empreendemos estudos sobre os conceitos de blog e blogosfera, traçando a trajetória desde a criação desta ferramenta até a sua profusão nos dias atuais. Num segundo momento, analisamos a experiência da Escola Estadual Floriano Viegas Machado, em Dourados, Mato Grosso do Sul, que desde 2009 tem utilizado uma série de diversos blogs como ferramenta de interação entre alunos e professores, com a publicação de inúmeras atividades pedagógicas. Encerrando este trabalho, anexamos a entrevista do professor de Geografia da referida Escola, Ênio Ribeiro de Oliveira, que fala sobre essa experiência.
1. O QUE É BLOGOSFERA? É difícil precisar quando surgiu o primeiro blog ou quem era o seu autor. Mas, segundo o espanhol Jose Luis Orihuela, da Faculdade de Comunicação da Universidade de Navarra, que se define como "professor universitário, palestrante e blogueiro" e é um dos principais especialistas em
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webjornalismo no mundo, o primeiro blog surgiu em 1992 com o nome What's new in 92? A página foi criada por Tim-Berners Lee para divulgar as novidades do projeto do Word Wide Web; entretanto, não tinha nem o formato e nem as características de um diário virtual, aspecto que caracterizou o surgimento dos blogs na web, no final dos anos 1990. Orihuela afirma que, inicialmente, a base dos blogs eram os links com um breve comentário e um registro da navegação na web. Os blogs são como pequenas estações de rádio ou jornais de pequena circulação: são formadores de opinião. E as pessoas agem com base nas informações oferecidas na blogosfera. Por isso devemos ter cautela e ética ao escrever... O termo blogosfera é atribuído a toda a comunidade de blogs na internet. "Trata-se da parte da infra-estrutura pela qual idéias são desenvolvidas e transmitidas. Ela é um universo de informação, assim como a televisão, os jornais e os programas de rádio". O termo foi cunhado em 10 de setembro de 1999 por Brad L. Graham como uma piada. Ele foi recunhado em 2002 por William Quick e foi rapidamente adotado e propagado pela comunidade de blogs sobre guerras em curso (warblogs). Muitos continuaram a tratar o termo como uma piada. Todavia, a mídia estadunidense - o programa Morning Edition da National Public Radio, Day To Day, All Things Considered e outros - começaram a usar o termo várias vezes para discutir opinião pública. Acidentalmente ou não, o termo tem similaridade com a palavra mais antiga "logosfera". "Logo" significa muitas coisas, principalmente "palavra", e "esfera" pode ser interpretado como "mundo", resultando em "o mundo das palavras", o universo do discurso. O termo também se aproxima na pronúncia e no significado do termo "noosfera", o mundo do pensamento. A existência da blogosfera ocasionou o surgimento de diversos sites e serviços da Internet voltados a fornecer ferramentas para o acompanhamento da mesma. Sites como Technorati e Bloglines usam os links criados pelos blogueiros para rastrear as interconexões entre os blogs. Aproveitando as vantagens dos links em hipertexto, que funcionam como marcadores dos assuntos que os blogueiros estão discutindo, esses sites podem seguir o movimento de uma conversa de um blog a outro. Eles também podem ajudar os pesquisadores da informação a descobrir com que velocidade um meme espalha-se pela blogosfera.
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2. O USO DO BLOG NA EDUCAÇÃO Atualmente, o blog é um importante instrumento de comunicação, interação e compartilhamento de idéias, informações e conhecimentos de forma colaborativa, e por estas características, torna-se uma importante ferramenta que pode ser explorada potencialmente na área educacional. No entanto, ao considerar o blog como ambiente virtual de aprendizagem, a aprendizagem neste ambiente não pode ser passiva. Os alunos não devem ser apenas responsáveis pela sua conexão, mas também devem contribuir com o processo de aprendizagem, pois aprender é um processo ativo, do qual tanto professor quanto aluno devem participar. Segundo Soares e Almeida (2005, p. 3): Um ambiente de aprendizagem pode ser concebido de forma a romper com as práticas usuais e tradicionais de ensino-aprendizagem como transmissão e passividade do aluno e possibilitar a construção de uma cultura informatizada e um saber cooperativo, onde a interação e a comunicação são fontes da construção da aprendizagem.
Assim sendo, é necessário que o professor domine as novas tecnologias de informação e comunicação (NTics) refletindo sobre suas possibilidades, propondo atividades e estratégias diferenciadas ao utilizar os blogs. A cada dia cresce a utilização dos blogs por alunos e professores, surgindo assim formas diferentes de utilizá-lo: podem ser utilizados como um recurso pedagógico ou como uma estratégia pedagógica. Portanto, o tema é importante pela atualidade, pois muito se tem discutido sobre a importância e a validade das novas tecnologias de informação e comunicação (NTics), especialmente as que envolvem acesso à internet. A escola, principalmente as que possuem acesso à internet, não podem fazer de conta que os blogs não existem. Mas mais do incluir a utilização dos blogs na educação, é necessário refletir sobre as suas possibilidades pedagógicas. Desta forma, buscamos analisar neste artigo a experiência da Escola Estadual Floriano Viegas Machado, em Dourados, Mato Grosso do Sul, que desde 2009 tem utilizado uma série de blogs como ferramentas de apoio didático nas diversas disciplinas ministradas.
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Figura 1 - Página principal do blog da E.E. Floriano Viegas Machado
2.1 A experiência dos professores da E. E. Floriano Viegas Machado ao utilizar os blogs como recurso didático Segundo o professor Ênio Ribeiro de Oliveira, que leciona Geografia na da Escola Estadual Floriano Viegas Machado: A sala de tecnologia faz parte de uma ação do Ministério da Educação e da Secretaria Estadual de Educação do Governo Estadual, qual seja a de que a Escola deve apropriar-se das conquistas tecnológicas com vista a organização do trabalho pedagógico na mesma. No entanto, há uma resistência muito grande dos professores em aderir ao uso destas tecnologias, e no caso, dos blogs, essa resistência se torna maior porque o professor, não raro, ainda tem medo do computador, da internet, etc, já que muitos professores são oriundos de gerações anteriores ao período de popularização do computador.
Apesar deste fato apontado por Oliveira, os professores daquela escola participaram de treinamento oferecido pelo NTE - Núcleo de Tecnologia
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Educacional. Num primeiro momento, foi criado o blog da Escola Estadual Floriano Viegas Machado, cuja primeira postagem foi publicada em 17 de junho de 2009. Nota-se que era um teste, com a publicação de um slide show chamado "A Estrelinha Verde", uma mensagem de esperança. A segunda postagem, também naquele dia 17, era outro slide show, mostrando os resultados de um trabalho de Língua Portuguesa que consistia em diversas HQs (histórias em quadrinhos) sobre meio ambiente, desenvolvidas por alunos do 6º Ano vespertino, sob orientação da professora Graciella D. Loss (Figuras 1 e 2).
Figuras 2 e 3: História em quadrinhos exibida no blog da E.E. Floriano Viegas Machado.
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São ao todo oito histórias (ou melhor: atividades). Percebemos que a publicação no blog serve como uma espécie de "prestação de contas" dos trabalhos desenvolvidos em sala de aula. Além disso, a manutenção dessas atividades online durante tanto tempo servem também como uma preservação da memória da escola, pois uma vez devolvidos estes desenhos aos alunos muitas vezes são extraviados e nunca mais se tem acesso aos mesmos. Em julho de 2009, surge a primeira postagem que busca interagir diretamente com os alunos:
Figura 4 - Primeira atividade postada no blog. A partir de então, a postagem de atividades se torna freqüente. São publicadas também aulas expositivas em Power Point, certamente após terem sido exibidas em sala de aula. A grande maioria aulas básicas, como as quatros operações matemáticas, tabuadas, jogos diversos, conjugação de verbos, estrutura de palavras, formação de palavras, atividades sobre educação no trânsito, conceitos de saúde e higiene, etc - sempre com um viés interativo e acrescidas de diversos links (endereços) para outros sites que muitas vezes aprimoram aqueles conceitos básicos. Nesta etapa inicial do projeto, quando os professores ainda não haviam criados seus blogs individuais, as atividades de todas disciplinas eram publicadas no blog da Escola, sempre com o cabeçalho da mensagem indicando de que professor e para quais alunos se destinavam, como no exemplo abaixo:
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Figura 5 Ao clicar nos locais indicados, abria-se o link com a atividade ou site onde estava publicada. Em agosto de 2009, quando notícias sobre a suposta "gripe suína" (ou vírus H1N1) era divulgadas com alardes pelo mundo todos e cuidados com a higiene se tornaram uma espécie de histeria entre a população, foi publicado no blog um vídeo sobre o tema:
Figura 6 - "Gripe suína": cuidados com a higiene
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O recurso dos vídeos, disponíveis na internet, para os mais diversos fins, são muito difundidos no blog. No mesmo dia em que foi publicado aquele sobre "gripe suína", também foi postado um outro, sobre educação no trânsito, com o personagem Pateta, da Disney:
Figura 7 - Cena do desenho animado "Motor mania" (1950) Ainda sobre o trânsito, semanas depois da postagem com o Pateta, é indicado um link (figura 8) que direciona para o site do DENATRAN - Departamento Nacional de Trânsito, onde estão disponíveis mais vídeos educativos (figura 9):
Figura 8
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Figura 9 - Site do DENATRAN - Departamento Nacional de Trânsito Mas nem só de atividades pedagógicas é alimentado o blog. Há espaço também para reflexões espirituosas sobre esperança, ética e outros "temas edificantes", bem como para a publicação de fotos dos eventos e confraternizações ocorridas na escola.
Figura 10 - Slide show com as fotos da confraternização de fim de ano
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Após quase um ano de experiências com o blog da Escola, os professores criaram os seus blogs individuais, nos quais passaram a publicar os conteúdos das disciplinas que ministram.
BLOGS DE PROFESSORES DA E.E . FLORIANO VIEGAS MACHADO Blog do NTE – Núcleo de Tecnologi a Educacional Ênio / G eografia Teacher Mi - Língua Inglesa G raciela / Língua Portuguesa G raciele / Língua Portuguesa e Liter atura Profª ÂNG ELA – Sal a de Tecnologia Eliane / Língua Por tuguesa Mara / Matemá tica Marly / Matemá tica Flávio / Biologia Camila / Física Julio / Geografi a Simone / Matemá tica Luiz / Biologia Fotolog Do Darcízio Tânia / Ed. Física
Tabela 1 - Lista de blogs individuais dos professores
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Notamos que as postagens nesses blogs seguem mais ou menos os mesmos padrões do blog da Escola: atividades, textos, vídeos, músicas e outros recursos interativos, além de publicação de fotos das atividades desenvolvidas naquela matéria. Todos estes blogs tem seus links listados na barra lateral do Escola.
CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao longo dos estudos para a escrita deste artigo, buscamos em primeiro lugar entender o que dizem os teóricos da educação sobre a utilização dos blogs na educação. Em sua maioria são favoráveis, porém com a ressalva de antes de usar tal ferramenta, o professor deve antes dominar seu funcionamento e fazer dela um apoio às suas aulas - ou seja: a internet e blogs são um veículos de difusão de conhecimento e interação, não o propósito final das aulas. Numa segunda etapa, tomamos como exemplo prático a experiência da Escola Estadual Floriano Viegas Machado, que desde 2009 tem utilizado com freqüência diversos blogs como ferramentas de apoio pedagógico em aulas de todas as disciplinas oferecidas. O que percebemos ao analisar o blog dessa escola é que o uso foi positivo, uma vez que reuniu esforços coletivos da comunidade escolar em torno do seu conteúdo, promovendo uma interação entre os alunos e professores. Outro dado que merece nota em nossa análise é o fato de que os blogs, ao fim de tudo, tornou também uma espécie de arquivo interativo de todas as atividades desenvolvidas na escola ao longo dos meses, uma vez que ali se encontram desde atividades pedagógicas até fotos dos eventos e confraternizações. Por fim, no anexo a seguir, encontra-se a entrevista realizada pelo site Midiaflex.com com o professor de Geografia da Escola Estadual Floriano Viegas Machado, Enio Ribeiro de Oliveira. O professor conta sobre a sua experiência com utilização dos blogs pela Escola, bem como discorre sobre a importância da interação promovida pelos mesmos.
REFÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS LÉVY, Pierre. As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da informática. Rio de Janeiro: Editora 34, 1993. ORIHUELA, José Luis. Blogs e blogosfera: o meio e a comunidade. In:
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ORDUÑA, Octavio Isaac Rojas (org.). Blogs: Revolucionando os meios de comunicação. São Paulo, Thomson, 2007 SCHITTINE, Denise. Blog: Comunicação e escrita íntima na internet. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2004. SOARES, Eliana Maria do Sacramento; ALMEIDA, Cláudia Zamboni. Interface gráfica e mediação pedagógica em ambientes virtuais: algumas considerações. In: Congresso Nacional de Ambientes hipermídia para aprendizagem, 2006, Florianópolis. Anais do CONAHPA, 2006.
VIOLÊNCIA E CRIMINALIDADE: ENTRE A SUBJETIVIDADE E A OBJETIVIDADE Giselia Lopes VICENTE1 RESUMO Este trabalho busca através da pesquisa bibliográfica levantar dados que auxiliem na compreensão do sentido que os atores sociais atribuem à violência, analisando o que é determinante no direcionamento da ação violenta do indivíduo, observando a relação deste com meio social. Palavras-Chave: Violência, Crime, Punição
ABSTRACT This study aims to collect data through a bibliography research in an attempt to comprehend the mechanisms that are inherent to violence from the view of the citizens furthermore provide an analysis of which factors can be described as triggering stimulus of the individual’s violent behavior, as well as to observe the impacts of that in society. Keywords: Violence, Crime, Punishment
INTRODUÇÃO Para iniciar a discussão é preciso antes que se faça uma contextualização histórica da violência. Assim, Paul Recoeur diz: Que a violência tenha existido sempre, em toda parte, é algo que não se contesta, quando pensamos na maneira pela qual se edificam e se desmoronam os impérios, se firmam os prestígios pessoais, se entre-devoram as religiões, se perpetuam ou se derrubam os privi-
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Bacharel em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Grande Dourados - UFGD.
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légios da propriedade e do poder, e até mesmo como se consolida a autoridade dos mestres do pensamento. (RECOEUR, apud SILVA, 2001:.44)
A partir do citado acima percebemos que a violência possui uma forte ligação com o poder e com outros segmentos da sociedade. Para discorrer sobre o tema da violência na contemporaneidade, Adorno faz uma análise do Ralph Dahrendorf, que de forma geral tenta elaborar a construção de uma teoria para o conflito social. Este último autor aponta que os conflitos contemporâneos deixaram de focar apenas a distribuição falha de recursos para se preocupar com a lei e a ordem. Neste sentido o que contribuiu para esta mudança foi à capacidade de diferentes grupos sociais influenciarem as estruturas detentoras da norma. Dahrendorf explica que um dos fatores para essa nova forma de conflito é a anomia (desgaste da lei e da ordem) que ocorre quando o Estado torna-se incapaz de cuidar da segurança dos cidadãos e de seus bens. (ADORNO, 1998). O autor atenta que estas constatações de Dahrendorf se apóiam no aumento dos índices de criminalidade e numa diminuição das forças punitivas do Estado. Isso porque na década de 60 houve um aumento de crimes contra a pessoa como assassinatos, assaltos, roubos e estupros. Mais do que o aumento da criminalidade o que se torna preocupante é o número de pessoas que sobrevivem do mundo do crime, e o surgimento de novas formas de crime. Sérgio Adorno também cita Lagrange e Roché (1993) que expõem que em fins do século XIX e fins do século XX: “O crime ocupa face dianteira da cena pública: converte-se em inquietação coletiva, em objeto de interesse por parte dos analistas e em alvo da moralidade pública e dos princípios da organização social” (ADORNO, 1998: 27). Soma-se a isto o fato de que o século XIX foi considerado uma era de conflitos em relação à discriminação racial e a crise de valores. Outro período notável no histórico da violência é a estabilidade nas taxas de criminalidade entre 1860-1950. Após este intervalo diferentes analistas verificaram um aumento nas tendências do crime principalmente nos países de língua inglesa e aos poucos para países de tradição católica como os da América Latina.
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Além da associação de poder e violência, temos também o papel da mesma como fundadora de identidades, destaca-se que a manipulação da memória de um dado grupo, esconde por vezes um atrelamento à violência. Isso porque dificilmente encontramos uma comunidade histórica que não seja legitimada, ou originada por um ato violento, a designação de acontecimentos fundadores está associada a acontecimentos violentos, como por exemplo: a chegada do europeu à América em 1492 e o genocídio indígena. (SILVA, 2001)
A INTERPRETAÇÃO DA VIOLÊNCIA COMO ALGO CAUSAL O que é violência? Quando se faz essa pergunta quase todo ser humano responde o que no seu intelecto conhece por violência, e a resposta é quase sempre a mesma. Relacionando a violência a agressão física. O que acaba inibindo uma construção diferenciada do que venha a ser violência. Segundo a definição do Dicionário do pensamento social do século XX, violência é a ação ou ato de empregar força física (contra alguém ou algo) ou intimidação moral contra alguém, ou melhor, na forma jurídica violência. Assim, para a os juristas, violência, é o constrangimento moral e físico exercido sobre alguém, para obrigá-lo a submeter-se à vontade de outro (coação) ou de forma Violenta. Em outras palavras, guerra tortura, assassinato, preconceito. Para os direitos humanos violência é vista como todas as violações dos direitos civis (propriedade, liberdade); políticos (direito de votar e ser votado); sociais (habitação, saúde, segurança); econômicos (emprego, salário) e culturas (exercer sua própria cultura); cultural (direito efetivar sua cultura), e ainda, a violência urbana, que seria o conjunto (de quebras de regras, como assassinato, seqüestro), porém não se pode restringir a violência, ao crime, em virtude de todo o efeito que provocam sobre as pessoas e as regras de convívio na cidade. A violência urbana corrói a qualidade de vida. Segundo Eleutério em seu artigo, análise do concreto de crime, crime é um fenômeno social, um episódio da vida de um indivíduo, e este não sendo mutável estático no tempo e no espaço. “Cada crime tem a sua história, a sua especificidade, não há dois crimes perfeitamente iguais. Assim o crime não tem uma definição pelo código penal.” Eleutério diz que as escolas penais definem o crime, em conceito formal a relação de um termo corresponde à definição nominal, ou seja, relação de um termo ao objeto ao qual o designa. O conceito material corresponde à definição real, que pro-
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cura estabelecer o conteúdo do fato punível, e o conceito analítico que indica as características em elementos constitutivos do crime, portanto, de grande importância técnica. O suposto crime deve ser analisado levandose em consideração o universo o qual o circunda, a onde muitas vezes acaba não qualificando o fato como crime, em decorrência de que outros elementos podem ter causado o fato, como no dito homicídio que muitas vezes pode ter sido causado por legítima defesa. (ELEUTÉRIO, 2009) Segundo Porto, o individuo não pode ser visto sem ação dentro do meio social, pelo contrário ele deve ser visto como agente, ou melhor, autônomo nas suas decisões. Nesse sentido Durkheim diz que a representação individual esta a todo momentos negociando sua postura social. Mas a representação coletiva, essa não é resultado do eu, e sim do nós, o que dificulta sua transformação, se tornando mais rígida. Essas ações coletivas estão intrinsecamente ligadas a crenças, valores e ditados populares. Nesse sentido Porto diz que em uma sociedade, onde o Estado é mínimo, temos a sobressalta de valores no meio da sociedade, ou seja, representações sociais distintas poderiam surgir e pretender a hegemonia. Isso seria gestado por dois fatores: 1º desigualdade social, que enfraqueceria a homogeneidade social, em virtude do crescente individualismo; 2º que esta conectada ao 1º elemento, que seria a autonomia do indivíduo, que traz para suas ações toda a sua experiência de vida. Dessa forma a violência seria a forma de estabelecer relações sociais, resultado dos conflitos sociais. (PORTO, 2006) Segundo Adorno, para Dahrendorf esses conflitos são gestados porque os indivíduos não se sentem representados, ou protegidos pelo Estado, onde este é visto como um Estado mínimo, sendo um elemento de pouca ação na luta para impor a lei a fim de combater a violência. Com relação a esse aspecto Adorno aponta que outros elementos contribuem para esse Estado mínimo, como o descaso da polícia, o autor ainda afirma que o aumento da criminalidade pode estar ligado ao número de denúncias e não com um desenvolvimento da criminalidade. Assim, não se tem teses científicas, fidedignas, para confirmar que tenha havido de fato um aumento da criminalidade nos últimos trinta ou quarenta anos. Pode ser que as tendências observadas reflitam outro tipo de comportamento: maior inclinação dos cidadãos em denunciar os crimes de que foram vítimas. Isso sugere, por conseguinte, que o sentimento de insegurança e medo diante do
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crime e o desejo de mais punições, em especial punições mais rigorosas, parecem responder por outras inquietações que vão além do domínio da delinqüência. (ADORNO, 1998:30)
A partir do exposto acima, observamos que esse crescimento da criminalidade, gera o aumento da impunidade, devido à complexa categorização do fato, a ânsia por justiça cresce e acaba sendo elemento fomentador de quebra da ordem. Adorno afirma que quando o Estado é visto como incapaz, se torna mais vulnerável, e mais falível na proteção do cidadão e de seus bens materiais e simbólicos. Sendo assim, toda a insegurança remete ao sentimento de perda, uma perda que causa segundo Adorno, “pânico moral”, o que gera a falta de solidariedade, e quebra dos vínculos morais. Vínculos este que ligam os indivíduos às instituições.. Observamos que agora é o eu que esta por “cima” do nós, o que gera anomia social, e que resulta em uma ânsia por justiça, mas o que se deseja são punições e não limites sancionados pela lei. Logo o desejo é por ordem, argumento este presente na fala de cidadãos e autoridades e que é instigado pelos meios de comunicação, que propaga o desejo de punir, e punir de forma severa. No desejo pela punição severa, os indivíduos acabam vendo na utilização da dor e da exposição do delinquente uma forma de dar exemplo e inibir os que desejam cometer delitos. Adorno ainda alerta que não se pode focar nos conflitos de forma parecida como se pensava os liberais, isso porque o principio liberal, estava focado somente no eu e não no coletivo, o que deixaria de fora conflitos como racismo, genocídio, narcotráfico, etc. Mas o autor atenta que não se pode separar o fato de seu momento histórico, de forma que a não ligação ao tempo/espaço/circunstância em que o fato ocorre, acabaria por falsear as informações, e ainda, partiriam para um determinismo, a onde o homem é seria visto como anti-social. Assim, como diria Hobbes o homem é lobo do próprio homem, nesse sentido acabaria se fazendo uma análise simplista da criminalidade, sendo o réu visto pela sociedade como uma pessoa desprovida de sentimentos e emoções, comparando-o com um animal. Dessa forma Adorno diz que o crime organizado não é algo novo, ele já estava presente na Idade Média, a diferença é que nessa época não se fazia propaganda deles.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS Adorno diz que o crime organizado no século XIX e XX, se propagou com o intuito de proteção social, e como maneira de formar uma identidade de grupo local. Porém, ele se tornou uma “facção” de economia subterrânea de dinheiro. Assim, os indivíduos que são vistos como pessoas “honestas”, estão envolvidos como, bancários, políticos, juízes e apenas o traficante que é a parte visível e que fica com a menor parte do lucro, que é visto como criminoso. Dessa forma, acaba sendo um problema ao judiciário, já que o processo é complexo, em virtude do envolvimento de indivíduos de várias esferas da sociedade, e ainda não se consegue ir muito além do visível, sem contar no sigilo das apurações, já que as testemunhas sempre correm risco de morte. Outro fator importante é a relação trabalho/crime, o que antes se conseguia separar por limites de fronteira essa relação, hoje não é fácil em virtude da globalização. Segundo adorno o narcotráfico rompeu as fronteiras do trabalho/delinqüência, em virtude de que transformou suas atividades em trabalho assalariado. Nesse caso os “funcionários” começam ganhando um salário e podem pode chegar à gerente da atividade, o que gera uma disputa entre os membros dessa organização na busca pela ascensão e nesse caso o envolvimento é maior com o crime, na busca pelo respeito dos outros membros para se fazer notar pelo “dono da boca”. O fato de que a lei penal muitas vezes acaba não sendo eficaz, já que não se pode punir se o ato não se enquadra dentro das exigências legais, o que diminui o peso do ato sob a ótica penal. O problema é que o crime é sempre difícil de julgar, mesmo quando o ato se enquadra no código penal e ainda se sabe quem cometeu tal delito. Isso porque os elementos que circundam a ação são tão complexos que não se consegue ligar o objeto ao fato, e dessa forma não se consegue ligar o ato ao causador, ou responsável. E quando se puni alguém estes são na maioria das vezes os subordinados e nunca os verdadeiros chefes. Dessa forma se a sociedade não vê um culpado sendo punido, tende a ver o Estado como incapaz de garantir a ordem e a paz social.
REFERÊNCIAS ADORNO, Sérgio. Conflitualidade e violência: reflexões sobre a anomia na contemporaneidade. Tempo Social; Rev.Sociol.USP:São Paulo,10(1):19-47, maio
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de 1998. SILVA, Helenice Rodrigues da. A violência na história e a causa da desobediência civil. Rev. História: Questões & Debates, Curitiba, n. 35, p. 43-60, 2001. Editora da UFPR. Disponível em <http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/historia/ article/viewFile/2674/2211> Acesso em 02/12/09. PORTO, Maria Stela Grossi. Crenças, valores e representações sociais da violência. Sociologias; Rev. Sociol. UNB: Porto Alegre, 8(16): 250-273, jul/dez de 2006. ELEUTÉRIO, Fernando. Análise do conceito de crime. Disponível em < www.uepg.br/rj/a1v1at09.htm> Acesso em 24/11/09. ASBLASTER, Anthony. Violência. www.serasa.com/guiacontraviolência/ violência.htm FOUCAULT, M. Vigiar e punir: histórias das violências nas prisões. PetrópolisRJ:Vozes, 2002.
A CARNE DE JACARÉ, O TURISMO E A CULTURA GASTRONÔMICA DE BONITO-MS Domitilla Medeiros ARCE1 Cinara Kottwitz Manzano BRENZAN2 RESUMO Este ensaio tem por objetivo analisar se a população de Bonito, Mato Grosso do Sul, considera a carne de jacaré como iguaria típica ou apenas como uma carne exótica. Paralelamente, busca-se também a opinião dos turistas nacionais e internacionais sobre quais pratos identificam como típicos da gastronomia bonitense. Para a realização da pesquisa adotou-se a revisão bibliográfica e a pesquisa de campo por meio de entrevistas realizadas entre julho de 2010 e março de 2011 com 30 turistas entre brasileiros e estrangeiros e 30 atores locais, que permitiram identificar o papel da carne de jacaré na gastronomia local. Constatou-se, após a aferição dos resultados, que a carne de jacaré é um produto inserido na gastronomia de Bonito, por meio da atividade turística, que acabou por consolidar-se no imaginário do turista como um prato típico, apesar de não retratar a gastronomia da população autóctone. Palavras chave chave: Cultura gastronômica; Carne de jacaré; Turismo.
RESUMEN Este ensayo tiene por objetivo analizar si la población de la ciudad de Bonito, provincia de Mato Grosso do Sul, Brasil, considera la carne de caimán como un plato típico o solamente como una carne exótica. En paralelo si
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Especialista em Gestão de Negócios (MBA) pelo Centro Universitário da Grande Dourados (UNIGRAN). Bacharel em Turismo pela Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS). Email: domiarce@yahoo.com.br. 2 Professora-Coordenadora do Curso de Administração do Centro Técnico-Educacional Superior do Oeste Paranaense (CTESOP) e Professora convidada do MBA em Gestão de Negócios do Centro Universitário da Grande Dourados (UNIGRAN). Mestre em Administração pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Bacharel em Administração pela Faculdade CTESOP. Email: cinaramanzano@yahoo.com.br
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busca también la opinión de los turistas nacionales e internacionales sobre cuales platos identifican como típicos de la gastronomía de Bonito. Para la realización de la investigación si adoptó una revisión bibliográfica y la investigación de campo por medio de entrevistas realizadas de julio de 2010 a marzo de 2011 con 30 turistas, incluido brasileños y extranjeros, y 30 atores locales, que permitirán identificar el papel de la carne de caimán en la gastronomía local. Si Constató, con la medición de los resultados, que la carne de caimán é un producto inserido en la gastronomía de Bonito, por medio de la actividad turística, que si consolidó en el imaginario del turista como un plato típico, a pesar de no retratar la gastronomía de la población autóctona. Palabras clave clave: Cultura gastronômica; Carne de caimán; Turismo.
INTRODUÇÃO O município de Bonito, famoso destino ecoturístico integrante da Serra da Bodoquena, localiza-se no estado de Mato Grosso do Sul, centrooeste brasileiro. A Serra da Bodoquena, como é popularmente denominada, é na realidade um planalto com escarpa3 voltada para o Pantanal, planície reconhecida por sua rica biodiversidade, que vem despontando como destino turístico ao lado de Bonito. Segundo Coelho (2005), a Serra da Bodoquena possui altitudes médias entre 400 e 650 metros acima do nível do mar e situa-se no sudoeste do estado de Mato Grosso do Sul, estendendo-se por uma faixa de 300 km no sentido norte-sul. Engloba além de Bonito (a 300 km da capital, Campo Grande), os municípios de Jardim, Bodoquena e Porto Murtinho. A principal característica da região é a cristalinidade das águas dos seus rios, cachoeiras e belas cavernas com espeleotemas4, resultado do relevo cárstico, ou seja, formado por rochas calcárias. Além da visitação aos singulares atrativos naturais, principal chamariz turístico, nos últimos anos, o marketing turístico vem estimulando o consumo da carne de jacaré e de outras “caças exóticas5” pelos turistas, 3
Relevo acidentado, íngreme. Formações calcárias, tais como estalactites, estalagmites, cortinas e outros. 5 Utiliza-se o termo exótico para referir-se a um alimento diferente daquele no qual a população autóctone está acostumada, podendo inclusive, ser considerado estranho pela mesma. Optou-se pela expressão “caças exóticas”, pelo fato dos animais integrarem a fauna local, apesar de serem criados em cativeiro, conforme as regulamentações exigidas. 4
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apresentando-a como um prato típico da gastronomia bonitense. Seu objetivo é fomentar a comercialização da gastronomia de Bonito, criando assim mais uma atração imperdível do roteiro turístico. Contudo, cabe uma análise referente à percepção dos turistas sobre os pratos típicos da gastronomia local para uma subsequente comparação com o sentimento dos atores locais em relação à carne de jacaré. A analogia proposta pretende identificar o papel da carne de jacaré sobre duas óticas distintas: a do morador e a do turista. Por conseguinte, o objetivo principal da pesquisa é identificar o posicionamento dos bonitenses quanto à carne de jacaré e a visão dos turistas nacionais e internacionais sobre quais pratos consideram típicos da gastronomia bonitense. Para a realização da mesma, adotou-se a revisão bibliográfica e a pesquisa de campo por meio de entrevistas. Furasté define a pesquisa de campo como “[...] uma abordagem características das Ciências Humanas e Sociais, ou por quaisquer outras que busquem a integração com a comunidade, e para sua valorização, são utilizados questionários, entrevistas, protocolos verbais, observações” (2005, p. 35). As entrevistas foram realizadas entre julho de 2010 e março de 2011, englobando períodos de alta e baixa temporada turística. A escolha dos turistas e dos moradores foi aleatória, apesar da seleção ter sido alicerçada no equilíbrio entre os gêneros. Assim, foram entrevistados 30 turistas entre brasileiros e estrangeiros e 30 atores locais, sendo 15 turistas do sexo feminino e 15 do sexo masculino e 15 moradores do sexo feminino e 15 do sexo masculino. Justifica-se tal parâmetro pelo fato dos turistas de Bonito geralmente viajarem em família ou casal, optando-se por entrevistar apenas um dos integrantes do grupo, seguindo a sequência dos gêneros previamente estabelecida. No entanto, antes de apresentar os resultados da pesquisa, é necessário abordar algumas questões relacionadas à gastronomia no âmbito da tradição e da inovação, bem como, as referentes à inserção do produto carne de jacaré na localidade turística estudada.
TRADIÇÃO E INOVAÇÃO GASTRONÔMICA A gastronomia pode ser definida como “[...] a atividade culinária desenvolvida dentro de princípios ‘científicos’ ou por técnicas alicerçadas em anos de descobertas e experiências que visavam equilibrar sabores e ingredientes” (BARRETO; SENRA, 2004, p. 393). A gastronomia típica envolve ainda, outros aspectos fortemente arraigados a questão cultural.
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Uma gastronomia típica, para ser interpretada, requer, além do entendimento histórico do local, a compreensão da cultura do lugar e de suas peculiaridades. É importante visualizar, além da paisagem para compreender o típico do lugar na conjuntura contemporânea. O termo “prato típico” é utilizado para designar um acepipe ou iguaria gastronômica tradicionalmente preparada em uma localidade, a qual deve interagir com a história desse grupo e, integrar-se a um panorama cultural que vai muito além do prato em si. Neste cenário, o alimento atua como um componente fortalecedor da identidade dos autóctones, podendo tornar-se um símbolo da mesma por retratar sua cozinha regional. “As cozinhas regionais são elementos de valorização cultural e de geração de recursos econômicos. A gastronomia típica se constitui em afirmação de uma identidade que se deseja fortalecer e algumas vezes construir” (MARIANI et al., 2010, p. 81-2). Dessa forma, a gastronomia insere-se como um patrimônio imaterial com grande relevância identitária. A atividade turística, muitas vezes, acarreta um resgate cultural, contribuindo para a conservação desse patrimônio imaterial, mesmo que esteja intrínseco o fator econômico de ampliar as demandas turísticas. Consoante a Schlüter, A dimensão social e cultural da gastronomia determinou incorporála ao ‘complexo emaranhado’ das políticas de patrimônio cultural’. O uso que o turismo faz do patrimônio determina que a gastronomia adquira cada vez maior importância para promover um destino e captar correntes turísticas (2003, p. 69).
As peculiaridades gastronômicas de uma região ou localidade podem ainda, originar um novo leque turístico, o chamado turismo gastronômico, onde um dos principais chamarizes é a própria gastronomia do lugar. Em linhas gerais, a gastronomia típica representa a cultura de um lugar. Essencialmente, atua como o retrato da alimentação do autóctone, seja de caráter regular ou especial, como é o caso da alimentação de domingo ou de datas comemorativas. No entanto, justamente por integrar o sistema cultural de uma localidade, a gastronomia também está sujeita aos mesmos fenômenos. Para o antropólogo CUCHE, a cultura, por seu dinamismo, vive um processo contínuo de transformação:
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O processo que cada cultura sofre em situação de contato cultural, processo de desestruturação e depois de reestruturação, é em realidade o próprio princípio da evolução de qualquer cultura. Toda cultura é um processo permanente de construção, desconstrução e reconstrução. O que varia é a importância de cada fase, segundo as situações. Talvez fosse melhor substituir a palavra ‘cultura’ por ‘culturação’ (já contido em ‘aculturação’) para sublinhar esta dimensão dinâmica da cultura (2002, p. 137).
O contato entre culturas diferentes acaba sendo inevitável. Ainda que a atividade turística não seja desenvolvida em um território, há a tecnologia e a informação para mitigar as fronteiras. Como ressalta o também antropólogo Laraia, “[...] É praticamente impossível imaginar a existência de um sistema cultural que seja afetado apenas pela mudança interna. Isto somente seria possível no caso [...] de um povo totalmente isolado dos demais” (1989, p. 100). Portanto, inclusive, as cozinhas tradicionais6 convivem com inúmeras inovações, relevantes em função da tecnologia, saúde, moda, disponibilidade, preço de venda do produto e outros. Sucintamente, podem ser definidas como cozinhas tradicionais aquelas que possuem traços marcantes para identificar um povo ou grupo étnico. Atualmente está em voga, a chamada releitura, que permite uma reinterpretação de um prato, mantendo sua essência. A releitura surgiu como uma forma de adaptar-se às exigências ou necessidades da demanda turística ou não e da oferta de insumos. Segundo Barreto; Senra, “No afã de agradar ao turista, adaptam-se receitas, mudam-se condimentos, até mesmo os mais tradicionais pratos de algumas culinárias, ou ainda mudandose os hábitos alimentares de uma região” (2004, p. 396). O desafio da gastronomia em um mundo globalizado é sintonizar-se com as inovações, ser capaz de absorver as novas tendências e inclusive, de adaptar-se a padronização, sem submergir sua autenticidade. A autenticidade, assim como a regionalidade, são as manifestações das experiências vivenciadas por meio da alimentação, adequadas aos aspectos geográficos, aos valores e culturas formadoras do lugar.
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As cozinhas tradicionais possuem significativa bagagem cultural. O legado imaterial é transmitido de geração para geração por meio da convivência cotidiana, que perpassa as técnicas de preparo dos pratos, as receitas e o simbolismo, que apregoa quando e como o prato deve ser preparado.
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Schlüter (2003) relata que, na Argentina, as rotas gastronômicas foram estruturadas conforme um produto chave, relevante para atrair correntes turísticas ao se acoplarem com as raízes culturais da localidade. Dentre as principais rotas criadas estão a do caprino, do marisco, da truta, da fruta fina, do ovino e do cervo. No caso da rota do marisco, a população não incorpora em sua dieta o produto promovido pelo turismo. No Brasil, a cozinha mineira e a cozinha baiana são motivo de orgulho para seus cidadãos e atuam como atrativo turístico, principal ou secundário para motivar uma viagem. A degustação dos pratos pode oferecer além da experiência sensorial vinculada as características organolépticas7, uma experiência cultural, ao representar uma aproximação imaginária com a realidade visitada. Nestas regiões, o desenvolvimento da atividade turística acabou fortalecendo a identidade gastronômica local e inclusive, em alguns casos, resgatando antigas receitas e modos de preparo em processo de esquecimento. Em suma, por seu caráter dinâmico, a cultura está sujeita a transformações. De modo geral, o desafio imposto é conservar a essência da cultura do lugar, sem descaracterizá-la, mesmo com a incorporação de novos elementos culturais.
BONITO-MS E O PRODUTO CARNE DE JACARÉ Em Bonito, ainda no final dos anos 1990, foi inaugurado o primeiro restaurante com um cardápio que oferecia carnes exóticas, tais como paca, javonteiro (cruzamento de javali com porco monteiro), capivara e jacaré. No entanto, o boom da carne de jacaré, a principal dentre as carnes exóticas comercializadas, intensificou-se nos últimos cinco anos por meio de ferramentas publicitárias que vendem a carne de jacaré como um prato típico bonitense. Atualmente, cerca de quinze estabelecimentos de alimentação servem carne de jacaré via sistema a la Carte, dentre restaurantes, lanchonetes, bares, pastelarias e uma confeitaria, com preços que variam de R$5,00 (pastel de jacaré) a R$70,00 (porção de filé de jacaré acompanhada de guarnições). No caso de Bonito, a carne de jacaré foi inserida como produto típico pela atividade turística, como uma tentativa de destacar a gastronomia
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Cor, sabor, aroma e textura dos alimentos.
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local por meio do exótico, do novo. De qualquer forma, conforme já abordado, existem outras localidades nacionais e internacionais, onde iguarias são trabalhadas turisticamente, apesar de não caracterizarem-se como tradição, seja por serem criações recentes ou mesmo por estarem consolidando-se como tradicionais. Uma maneira de divulgar um novo produto ou de associá-lo a determinada cultura e território é por meio de concursos e festivais gastronômicos. Em 2009, durante o Festival Gastronômico de Bonito, os destaques do evento foram às iguarias a base de peixes e jacaré. Embora Bonito esteja conquistando espaço como a cidade sul-matogrossense da carne de jacaré, tal iguaria, não é singularidade sua no âmbito estadual. Em novembro de 2010, na segunda edição do Festival Pantaneiro de Aquidauana8- MS a carne de jacaré foi incluída no cardápio por meio dos pratos “Jacaré à dorê”, servido com as guarnições batatas fritas, arroz e pirão; e “Trio do Pantanal”, composto por pintado a dorê, isca de jacaré, costela de pacu, mandioca frita, molho tártaro, arroz e pirão de peixe. No município de Aquidauana há duas fazendas (mesmo proprietário) que criam e abatem jacaré precoce para a produção de carne e couro. Em média, o jacaré precoce atinge porte para abate com idade entre 12 e 15 meses, enquanto que na produção tradicional leva em torno de 30 meses. Com relação ao couro de jacaré precoce, a vantagem é que este é livre de placas ósseas e consequentemente, 100% aproveitável industrialmente. A carne de jacaré precoce é produzida para consumo interno dos próprios hóspedes durante a estada em uma das fazendas criadoras, a qual também desenvolve atividade turística. Os pratos a base de jacaré precoce aproveitam todo o animal, com exceção da cabeça, que é empalhada e vendida como suvenir. Além da degustação da carne, há também a opção de visita técnica ao projeto de produção, o que agrega valor à experiência ao interagir-se com o processo produtivo. Já no pantanal mato-grossense, há alguns anos um grupo de produtores rurais desenvolveu uma nova atividade econômica, o primeiro criatório comercial de jacaré do Brasil, a Cooperativa dos Criadores de Jacaré no Pantanal (COOCRIJAPAN), com sede em Cáceres- MT. Segundo o site da cooperativa, a iniciativa almeja, “além de preservar e combater ações predatórias, [...] gerar emprego e renda para a comunidade” (COOCRIJAPAN, 2008).
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Município localizado a 200 km de Bonito, já no pantanal sul-mato-grossense, do qual fazem parte também os municípios de Miranda e Corumbá.
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A cooperativa realiza pesquisas fundamentadas na conservação da espécie Jacaré do Pantanal (Caiman crocodilus yacare), sob a fiscalização de órgãos ambientais, como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (IBAMA). Além da comercialização da carne de jacaré, as peles também são aproveitadas, sendo vendidas às indústrias de beneficiamento de couro para a confecção de artigos finos. Em Mato Grosso do Sul, é possível adquirir a carne de jacaré da COOCRIJAPAN em Campo Grande, pela Rede Comper de supermercados e em Bonito pelo supermercado da Rede Econômica.
RESULTADOS DA PESQUISA Conforme elucidado, a escolha dos 30 turistas foi aleatória. Buscouse apenas o equilíbrio entre os gêneros: foram entrevistadas 15 pessoas do sexo feminino e 15 do sexo masculino, com faixa etária oscilando entre 21 e 60 anos. Com relação aos residentes, optou-se pelo mesmo sistema da faixa etária equivalente a 50% de cada gênero, porém, a pesquisa restringiu-se aos moradores que viviam há pelo menos cinco anos no município. A faixa etária dos bonitenses entrevistados oscila entre 25 e 65 anos. A amostragem da população residente foi dividida em três perfis distintos: perfil 1 – mora em Bonito há cinco ou dez anos (3%); perfil 2 – mora entre 11 e 20 anos (60%); perfil 3 – mora em Bonito há mais de 21 anos (37%). Apenas os perfis 1 e 2 mencionaram a carne de jacaré como prato típico de Bonito. Assim sendo, apenas 7% dos moradores a considera prato típico, enquanto que a grande maioria, representada por 93% não a considera como um prato típico de Bonito. Dentre os turistas brasileiros, que correspondem a 67% da amostragem, 40% são provenientes dos estados de São Paulo e Rio Grande do Sul. Os demais pertencem aos seguintes estados: Paraná, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Pará, Bahia e Distrito Federal. Já os estrangeiros entrevistados, os quais representam 33% da amostragem, são provenientes de oito países diferentes: Alemanha, Paraguai, Argentina, Inglaterra, EUA, Itália, França e Japão. A maioria dos turistas (97%) identificou a carne de jacaré como acepipe da gastronomia típica, cuja significativa abrangência pode ser visualizada na figura 1. No decorrer da entrevista, grande parte dos turistas alegou que já a havia degustado durante a viagem ou que gostariam de saboreá-la antes de deixarem a cidade.
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Figura 1 - Percentual de turistas (brasileiros e estrangeiros) que identificaram a carne de jacaré como típica de Bonito-MS. Fonte: elaborado pelas autoras. Todos os turistas brasileiros mencionaram a carne de jacaré dentre as iguarias típicas. Entre os estrangeiros, 90% citaram a carne de jacaré como prato típico. Cabe relatar que todos os turistas mencionaram o peixe como alimento típico. Alguns turistas brasileiros também citaram o nome popular do peixe de água doce consumido, destacando-se, o pintado (Pseudoplatystoma corruscans), com 75% das respostas. Os demais peixes mencionados foram: pacu (Piaractus mesopotamicus) e piraputanga (Brycon orbygnianus). Por outro lado, foi quase unânime a opinião dos atores locais, que afirmaram considerar a carne de jacaré como um alimento exótico, raramente consumindo-a, seja por questões culturais ou econômicas. Quando interpelados se já haviam provado carne de jacaré, 90% responderam afirmativamente e 10% ainda não a provaram, mesmo vivendo na cidade há mais de 20 anos (perfil 3). Com relação à opinião sobre a carne de jacaré, independentemente de já a terem degustado: 57% a consideram, exótica, enquanto que 40% a rotulam como cara e 3% ainda não têm opinião formada, conforme explicitado na figura 2:
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Figura 2 - Opinião dos moradores de Bonito-MS sobre a carne de jacaré. Fonte: elaborado pelas autoras. Na dieta do bonitense, a principal carne consumida é a carne bovina, acompanhada principalmente das seguintes guarnições: mandioca, farinha de mandioca, arroz branco e feijão. Uma dieta bem semelhante a do pantaneiro. Em geral, as carnes substitutas da bovina são a de frango/ galinha, porco e em menor quantidade, peixe. Em suma, a carne de jacaré é facilmente encontrada em Bonito, seja em casas especializadas em carnes exóticas, ou em estabelecimentos mais genéricos. É considerada como um produto típico pelos turistas. Degustála faz parte, inclusive da programação turística, não importando a modalidade do prato servido. A carne de jacaré é servida nos principais estabelecimentos de Alimentos & Bebidas, tanto em versões mais sofisticadas, na forma de filé, geralmente grelhado, como prato principal, quanto na forma de aperitivos (como a isca a dorê) e em versões mais populares, em sanduíches, lanches e pastel.
CONSIDERAÇÕES FINAIS A carne de jacaré, produto inserido na gastronomia de Bonito por meio da atividade turística, a princípio como um chamariz para destacar a gastronomia da localidade no cenário estadual, acabou por consolidar-se
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no imaginário do turista como um produto gastronômico típico. Além do jacaré, o peixe, principalmente o pintado, é outro prato considerado como típico da gastronomia bonitense dentro do âmbito turístico. Apesar de não retratar fielmente a gastronomia da população autóctone, a carne de jacaré não acarretou rupturas na identidade do bonitense, que tem uma alimentação característica bem definida: é clara sua predileção pela carne bovina. A comunidade, por estar habituada ao contato com outras culturas em decorrência do turismo, acaba por acolher como novos moradores, pessoas de outras regiões e até de outros países, os quais, elegem Bonito como morada atraídos principalmente pelas oportunidades decorrentes da atividade turística. O contato com a natureza, a segurança e o jeito de cidade interiorana que ainda mantém, embora seja uma cidade turística que chega a dobrar sua população nos períodos de alta temporada também constituem fortes atrativos para captar novos moradores. Portanto, a carne de jacaré, tem um apelo apenas turístico, não sendo considerada como produto típico pelos autóctones. Somente alguns moradores, provenientes de outras regiões, que vivem na cidade há pouco tempo e tem poder aquisitivo para consumi-la, apresentam esse hábito. Porém, políticas de incentivo ao seu consumo que facilitem o acesso à mesma poderão estimular o consumo por parte dos moradores. Contudo, cabe ressaltar que uma inserção forçada seria uma conduta negativa e desnecessária. O respeito aos valores de uma cultura é fundamental para manter a harmonia do lugar.
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O MEDO NOTURNO E OUTROS POEMAS Edy Sális LEITE1 O medo noturno E passa sem teto de estrelas, Sem chão de lua E chuva de olhares, O noturno. E o caminho é longo. Os passos passam impassíveis. E impassíveis Carregam consigo O latido dos cães, O aterrador canto da coruja, O chacoalhar do mamoeiro. A sombra indiscreta de amantes, Sob árvores, que lhes esconde a Vergonha e o nobre ato do beijo, Impacienta o noturno. O que aflige o noturno é a quietude Por onde vai. Tudo é silêncio. Cadê o boa-noite? O como vai? — Vou sozinho. Buscar entre Corpos de celulose, Mortificados por tintas Que insistem em me roubar Uma polução voluntária.
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Professor. Membro-fundador do Grupo Literário Arandu.
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Já fujo desse refúgio. Ou escravismo. O medo instala-se no noturno. Não como prisão, E sim força. Força de liberdade, que o faz Sentir-se laureado por ser só. Um noturno: Livre, rítmico, Na luz cegante do Imenso quarto escuro.
As sombras De tudo sobra um pouco. Às vezes um botão. Às vezes um rato. (Carlos Drummond de Andrade) As sombras da noite Encobrem a cidade de luzes falsas. Morcegos voam perdidos, Saídos de prédios insanos. É a hora em que as pernas, Presas pelo tempo, Atropelam O sinal vermelho. É o tempo sóbrio De amantes embriagados. Esse tempo, Essa noite, Essa hora, Passa pelos passos Carregados de dor. A sombra do imoral Encobre os habitantes Urbanos e priva-os da luz da justiça.
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A prostituta esconde o sedento Bandido no meio das pernas. A noite é traiçoeira. É cúmplice da prostituta, É amante do bandido. O bandido vive entre ratos.
Apologia apocalíptica do medo Poupe-me. Não me crucifique. Eu não tenho culpa De ter caído Seu teto de ouro, Ou mesmo o teu Papel ter perdido A elástica Virgindade Monetária. São Pesadelos Que eu não preciso Ter. Nem mesmo me Aconselha Nestas trilhas de Pedras e De fumaça. Não me torture. Eu não tenho Olhos que Seguiriam O teu horizonte Apocalíptico. Eu não tenho Boca que Cantaria
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A tua canção De acordes Bélicos. Eu não tenho A vida que Vívida, Vivida Sem víveres Orgânicos, Comeria teu Concreto e Teu ferro Retorcido. Eu tenho apenas Um Corpo mutilado E uma Fome eterna. Mas teu aço E teu concreto, São instigáveis.
Canto puro Eu esperei um canto puro. Eu esperei uma esperança fria. O tempo passou. Não me trouxe dor Nem cansaço. Essa batalha não foi inútil. O tempo que esperei, Trouxe descompassado esse canto puro. As ruas, todas, O esperavam comigo. Ele voava por aí. Livre, Puro.
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Homens agressivos, Destroçaram a paz. Mas havia ainda a fria esperança, Que descortinava, Meio tímida, Um breve abraço. Havia homens que não escondiam Segredos, nem enganos. Já não fabricam esses homens. Já não existem. Mas os sinto. Já não me falam, Mas lhes converso. Já não me segredam seus nomes, Suas doenças, Suas dúvidas. Na verdade, Já não os tenho. Na verdade, Tenho apenas Um canto puro E compartilho Contigo, Tímido. Mas já não precisa guardá-lo. Deixe-o por aí, Livre, Puro. Há um sorriso que o espera No escuro. No escuro não é Proibido sorrir.
NANOTECNOLOGIA EM ODONTOLOGIA: IMPLANTES DENTÁRIOS DE ACELERADA CICATRIZAÇÃO ÓSSEA Rodrigo Dalla Lana MATTIELLO1 O aumento da expectativa de vida no Brasil e nos demais países de igual ou de maior desenvolvimento social e econômico é um fenômeno bem estabelecido, em razão dos avanços dos estudos no campo da Saúde e da melhora na qualidade de vida. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que, no ano de 2025, o Brasil terá a sexta maior população idosa do mundo e, pela primeira vez na história do país, teremos mais idosos do que crianças. Atuando junto com as demais áreas da saúde, a odontologia participa ativamente no aumento da expectativa e da qualidade de vida dos idosos, recuperando-lhes a capacidade de mastigação dos alimentos, a fala, a estética e a auto-estima, sendo eles parcial ou totalmente desdentados. Isto permite ao indivíduo desfrutar do envelhecimento com boa qualidadede vida física,social e psicológica. O edentulismo, ou seja, a ausência de dentes pode ter vários fatores causais como a precariedade da saúde bucal, traumatismos dentários, doenças como a cárie e a doença periodontal dentre outros fatores. Portanto, indivíduos que estão livres destes fatores, consequentemente preservarão por mais tempo seus dentes naturais independente da sua faixa etária de vida. As perdas dentárias acarretam sérios problemas. Afetam a mastigação e a digestão de alimentos dificultando cortá-los, triturá-los e moê-los, acabando por sobrecarregar o estômago e o intestino podendo causar problemas gastrointestinais e nutricionais. Afetam ainda a fonação, levando a uma dificuldade em pronunciar determinadas letras e sílabas das palavras. Por fim, comprometem a estética e auto-estima do indivíduo, isolando-o socialmente.
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Cirurgião Dentista - CRO/MS 4066. Especialista em Implantodontia. Mestre em Saúde/UFMS. Professor Colaborador Protese Fixa/Oclusão (UFMS). Professor de diversos Cursos de Especialização em Implantodontia no Brasil. rodrigo_mattiello@hotmail.com
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Ano 15 • No 57 • Agosto-Setembro-Outubro/2011
A Implantodontia osseointegrada, ou seja, os implantes dentários modificaram o tratamento dentário dos pacientes sendo eles idosos ou não, com ausências dentárias unitárias, múltiplas ou totais. O tratamento com implantes oferece muitos benefícios aos pacientes devolvendo principalmente a função da mastigação e a estética quando comparados aos tratamentos convencionais como a prótese total (dentadura) ou próteses parciais removíveis. O implante dentário é basicamente um cilindro de titânio que é implantado cirurgicamente nos ossos maxilares através de uma técnica cirúrgica atraumática e sem dor, utilizando equipamentos da mais alta qualidade e precisão. Após a fixação cirúrgica do implante dentário, tradicionalmente , torna-se necessário aguardar o período de cicatrização óssea fisiológica que variam de 4 a 6 meses dependendo da região operada ou do quadro clínico individual de cada paciente. Após esse período de cicatrização o implante é considerado osseointegrado, isto é, o contato direto e estrutural do implante ao osso ordenado e saudável sendo capaz de suportar forças mastigatórias. Após obtida a osseointegração, uma prótese fixa sobre implante é confeccionada. Por serem integrados ao osso, os implantes oferecem um suporte estável e seguro para os dentes artificiais. Outra grande vantagem é que não há desconforto causado por problemas de instabilidade de próteses parciais removíveis ou dentaduras e também não há necessidade de comprometer os dentes naturais adjacentes, situações muito comuns em pessoas que usam prótese. Além disso, o tratamento com implantes dentários exibe elevados índices de sucesso com grande previsibilidade de resultados, sendo hoje em dia o tratamento de primeira escolha para ausências dentárias. O avanço das pesquisas científicas, procurando minimizar as chances de perda dos implantes e de redução do tempo de tratamento trouxe a resposta que todos esperavam: através da nanotecnologia e de novos tratamentos de superfície dos implantes, chegaram os implantes de cicatrização rápida ou bio-reativos. Esses implantes proporcionam aos pacientes maior segurança na fase de cicatrização óssea e acima de tudo uma redução no tempo de tratamento, pois estes implantes obtêm a cicatrização óssea definitiva chamada de osseointegração em apenas 21 dias ao invés dos 120 a 180 dias necessários para a cicatrização de implantes convencionais. Os implantes de cicatrização óssea acelerada diferenciam-se dos implantes dentários convencionais basicamente pelo tratamento
surperficial recebido no processo de fabrição. A eles são incorporados elementos como o cálcio, fósforo e outros minerais, tornando a superfície do implante ativa no processo de cicatrização óssea aumentando o percentual de contato osso/implante e a densidade óssea local após a cicatrização. Esses sistemas associados às porcelanas de última geração, proporcionam um resultado estético de excelência nas reabilitações orais. Dentes saudáveis não só contribuem para uma boa aparência, mas também são importantes para que você possa falar bem e mastigar corretamente, ter hálito saudável além de ter boa apresentação, itens fundamentais para você ingressar ou se manter no competitivo mercado de trabalho.
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