Revista Arandu # 67

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67 bril/2014 • ISSN

Ano 17 •

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A representação social do fenômeno neopentecostal na visão de adeptos e não adeptos ao

Neopentecostalismo


GRUPO LITERÁRIO ARANDU Fundado em 17 de maio de 1997, pelos escritores Carlos Magno Mieres Amarilha, Edy Salis Leite, Luciano Serafim, Maria Lucia Tolouei, Nicanor Coelho, Regina Meyer e Simone Areco, com objetivo de incentivar a publicação de obras literárias dos novos autores douradenses. O Grupo se apresentou à sociedade por meio da realização da 1ª Feira de Poesia, nos dias 17 e 18 de maio de 1997, evento que contou com a exposição de varais com poemas de poetas já consagrados em Dourados e de estudantes de escolas públicas e particulares, no Parque dos Ipês, além de apresentações musicais e de capoeira. Na ocasião, foi publicado o Manifesto Arandu, que reivindicava espaços para a difusão e valorização da literatura sul-matogrossense. Em agosto de 1997, lançou a Revista Arandu, com periodicidade trimestral. Em 19 anos de atividades, publicou dezenas de livros de diversos autores e realizou cursos de formação continuada, colóquios e palestras sobre sobre Educação, Literatura e Patrimônio Cultural de Mato Grosso do Sul.


nicanorcoelho@gmail.com

Dourados-MS

Ano 17 โ ข Nยบ 67

Pรกgs. 1-82

Fevereiro-Marรงo-Abril/2014


[ CARO LEITOR Nesta edição, a Revista Arandu estampa em suas páginas um único artigo, algo inédito em seus 17 anos de publicação. O feito se justifica por se tratar uma ampla pesquisa, realizada porDariane Silva Batista, Edenia Fernandes Santos, Laura Vargas Medina, Leila Dolci, Mayara Mariane Abrantes Pego, Cristiano da Silveira Longo e Stella Narita, intitulada “A representação social do fenômeno Neopentecostal na visão de adeptos e não adeptos ao neopentecostalismo”. Conforme nos apresenta o resumo, “o estudo buscou identificar aspectos presentes e constitutivos das representações sociais que sustentam o crescente aumento no número de adeptos às denominações religiosas Neopentecostais baseada na teologia da prosperidade. Abordou-se tal crescimento como um fenômeno social, apoiando-se em Sigmund Freud, Kurt Lewin e Serge Moscovici, bem como em estudos de psicólogos sociais brasileiros críticos como Mary Jane Spink e Pedrinho Guareschi. Apresenta um breve histórico das denominações evangélicas no Brasil, do Pentecostalismo, passando pelo Neopentecostalismo e chegando ao Neopentecostalismo que se pauta na teologia da prosperidade. Foi realizada uma pesquisa qualitativa, a partir de um estudo de campo com sete indivíduos, sendo dois adeptos ao Neopentecostalismo que se pauta pela Teologia da Prosperidade e cinco não adeptos”. Boa Leitura! Nicanor Coelho Editor

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Editor NICANOR COELHO nicanorcoelho@gmail.com Conselho Editorial Consultivo ÉLVIO LOPES, GICELMA DA FONSECA CHACAROSQUI e LUIZ CARLOS LUCIANO Conselho Científico ANDRÉ MARTINS BARBOSA, CARLOS MAGNO MIERES AMARILHA, CÉLIA REGINA DELÁCIO FERNANDES, LUCIANO SERAFIM, MARIA JOSÉ MARTINELLI SILVA CALIXTO, MARIO VITO COMAR, NICANOR COELHO, PAULO SÉRGIO NOLASCO DOS SANTOS e ROGÉRIO SILVA PEREIRA Editor de Arte LUCIANO SERAFIM PUBLICAÇÃO DO

EDITADO POR

Rua Mato Grosso, 1831, 10 Andar, Sala 01 Centro • Dourados • MS CEP 79810-110 Telefones: (67) 3423-0020 e 9238-0022 Site: www.nicanorcoelho.com.br CNPJ 06.115.732/0001-03

Revista Arandu: Informação, Arte, Ciência, Literatura / Grupo Literário Arandu - Ano 17 N o 67 (Fevereiro-Março-Abril/2014). Dourados (MS): Nicanor Coelho Editor, 2014. Trimestral ISSN 1415-482X 1. Informação - Periódicos; 2. Arte - Periódicos; 3. Ciência - Periódicos; 4. Literatura Periódicos; 5. Grupo Literário Arandu.


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[SUMÁRIO

A representação social do fenômeno Neopentecostal na visão de adeptos e não adeptos ao neopentecostalismo ........................................................ 5 Dariane Silva Batista Edenia Fernandes Santos Laura Vargas Medina Leila Dolci Mayara Mariane Abrantes Pego Cristiano da Silveira Longo Stella Narita

INDEXAÇÃO •

CAPES - Classificada na Lista Qualis www.capes.gov.br

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A REPRE SENT AÇÃO SOCIAL DO REPRESENT SENTAÇÃO FENÔMENO NE OPENTE COS TAL NA NEOPENTE OPENTEC OST VISÃO DE ADEPTOS E NÃO ADEPTOS AO NE OPENTE COS TALISMO ”1 NEOPENTE OPENTEC OST ALISMO” Dariane Silva Batista2 Edenia Fernandes Santos2 Laura Vargas Medina2 Leila Dolci2 Mayara Mariane Abrantes Pego2 Cristiano da Silveira Longo3 Stella Narita4 RESUMO

O estudo buscou identificar aspectos presentes e constitutivos das representações sociais que sustentam o crescente aumento no número de adeptos às denominações religiosas Neopentecostais baseada na teologia da prosperidade. Abordouse tal crescimento como um fenômeno social, apoiando-se em Sigmund Freud, Kurt Lewin e Serge Moscovici, bem como em estudos de psicólogos sociais brasileiros críticos como Mary Jane 1

Trabalho de investigação científica desenvolvido junto ao curso de Psicologia da Universidade Paulista (UNIP), campus Alphaville (turno matutino), durante o ano de 2010 ao longo das disciplinas Projeto de Pesquisa e Pesquisa de Campo em Psicologia Social, sob a orientação do Prof. Dr. Cristiano da Silveira Longo, então Titular da Unip.

2 Alunos do Curso de Graduação em Psicologia da Universidade Paulista (UNIP), campus Alphaville (turno matutino). 3

Professor Adjunto à Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), psicólogo, mestre e doutor em Psicologia pela Universidade de São Paulo (USP). 4 Professora Adjunta à Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD); graduada em Psicologia e Filosofia pela Universidade de São Paulo (USP), mestre em Psicologia Social e doutora em Integração da América Latina pela mesma universidade.


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Spink e Pedrinho Guareschi. Apresenta um breve histórico das denominações evangélicas no Brasil, do Pentecostalismo, passando pelo Neopentecostalismo e chegando ao Neopentecostalismo que se pauta na teologia da prosperidade. Foi realizada uma pesquisa qualitativa, a partir de um estudo de campo com sete indivíduos, sendo dois adeptos ao Neopentecostalismo que se pauta pela Teologia da Prosperidade e cinco não adeptos. Partiu-se da hipótese que as características presentes nas denominações neopentecostais que se pautam pela teologia da prosperidade, tais como afrouxamento nos costumes e as promessas apresentadas pela teologia da prosperidade seriam as principais causas deste crescimento, hipótese que foi parcialmente confirmada visto que há outros fatores que contribuem para tal fenômeno, tais como os movimentos de fé dos indivíduos, a busca de uma religiosidade e aspectos culturais e sócio-históricos. Palavras-chave: Psicologia Social, Representação Social, Identidade e Pentecostal. ABSTRACT

The study sought to identify aspects present and constituting of the social representation in growing increase in the number of adherents of religious denominations charismatic movement that are based on the theology of prosperity. Discussed during the search such growth as a social phenomenon. Our theoretical references come from Sigmund Freud, Kurt Lewin, Serge Moscovici, Mary Jane Spink and Pedrinho Guareschi, besides to show a brief historical report of Evangelical denominations in Brazil, From Pentecostalism, passing by the charismatic movement and reaching to charismatic movement that are based on theology of prosperity. Was conducted a qualitative research, whose technical procedure was a field study with seven individuals, two adherents of charismatic movement that are based on theology of Prosperity and five non-adherents. Our hypothesis that the characteristics present in the denominations charismatic movement that are based on the theology of


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prosperity, such as: loosening in customs and the promises made by prosperity would be the main causes of this growth was partly confirmed, since we see other facts which contribute to this phenomenon such as: the movements of faith of individuals seeking a religiosity and cultural aspects. Keywords: social psychology, identity and social representation, Pentecostalism.

“As pessoas não devem dar oferta para ajudar a igreja, mas para ajudar a si próprias. Quem dá está fazendo um investimento em si, na sua vida. É o que mostra a Bíblia. Quem dá tudo recebe tudo de Deus. É inevitável. É toma lá, dá cá”. (Edir Macedo) 1. INTRODUÇÃO: TEMA, PROBLEMA E REFERENCIAL TEÓRICO

Qual a Representação Social que poderíamos identificar em nossa sociedade com relação ao aumento no número de denominações religiosas Neopentecostais no Brasil? Buscando compreender este fenômeno, partimos do referencial teórico da Psicologia Social onde reportamo-nos aos conceitos de Representação Social, Identidade e Dinâmica de Grupos. Na Psicanálise atentamos aos temas Psicologia das Massas e Religião como Ilusão, abordados por Freud. Apresentamos ainda um breve histórico do Pentecostalismo até o Neopentecostalismo. Inúmeros podem ser os fatores que conduzem os indivíduos a procurar as novas igrejas evangélicas, alguns de cunho individual, como a busca de identidade, a necessidade de pertencimento e busca de amparo. Poderíamos, por outro lado, avaliar os fatores presentes nas Igrejas Neopentecostais, como o afrouxamento dos costumes que caracteriza o Neopentecostalismo, além, da Teolo-


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gia da Prosperidade presente em algumas denominações religiosas Neopentecostais, que atribuem a prosperidade do indivíduo ao seu sucesso financeiro convocando seus adeptos e aliados a partir de cenas teatrais, comoventes e com presença diária nos veículos de comunicação. Sendo alvo de nosso estudo a Representação Social entre adeptos e não adeptos as Igrejas Neopentecostais que se pautam pela Teologia da Prosperidade. Sem emitir juízo de valores, quanto às bases teológicas que orientam estas Igrejas ou a aplicação destas, estudamos o tema como um fenômeno social, que representa o recorte de uma sociedade em movimento em determinado tempo e contexto. Para a elaboração da fundamentação teórica de nossa pesquisa, cujo tema é o Neopentecostalismo, buscamos artigos nas bases de dados Bireme e Scielo. Inicialmente usamos as palavraschave Psicologia Social, Representação Social, Identidade e Pentecostal; encontramos seis artigos sobre o assunto, dentre eles, selecionamos um, e a partir de seu conteúdo, procuramos através das palavras -chave Fenômeno, Religião e Conversão outros artigos que se relacionassem com o artigo inicialmente selecionado, desta busca encontramos cinco artigos que serviram de referências para nossa revisão bibliográfica. A partir destes artigos buscamos fundamentar nossa pesquisa baseando-nos nas obras de autores como Antônio Ciampa, Paulo Romeiro, Serge Moscovici e Sigmund Freud. Direcionamos nossa fundamentação teórica a partir dos seguintes conceitos: Representação Social, Identidade, Grupos Humanos, Psicologia das Massas, Pentecostalismo e Neopentecostalismo. O interesse por tal pesquisa surgiu pela curiosidade em saber qual a Representação Social que o fenômeno Neopentecostal gera em adeptos e não adeptos às Igrejas Neopentecostais que se pautam pela Teologia da Prosperidade. Ao estudarmos sobre a representação social deste fenômeno foi igualmente necessário identificar quais influências o mesmo promove no comportamento humano. Para tanto, apresentamos a seguir os conceitos que foram recorrentes em nossa pesquisa. O objetivo deste estudo


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foi, pois, compreender o grande movimento da contemporaneidade envolvendo as Igrejas Evangélicas Neopentecostais que se pautam pela Teologia da Prosperidade, seu rápido crescimento, quem são o que buscam seus adeptos e como todo esse mover é representado socialmente por adeptos e não adeptos. Como resultado, buscamos agregar conhecimento acadêmico sobre o tema de cunho atual com base na teoria das Representações Sociais de Moscovici, e nos comprometemos com a divulgação e publicação do mesmo. E partimos do pressuposto que a liberalidade dos costumes aliado às promessas apresentadas pela Teologia da Prosperidade presentes em algumas denominações religiosas, são responsáveis pelo movimento crescente do fenômeno Neopentecostal. Entendemos ainda que nosso estudo justificou-se, do ponto de vista de sua relevância acadêmica, por agregar conhecimento às produções já existentes na área, resultando no interesse do grupo em aprofundar o conhecimento sobre o tema. Já sob o aspecto de sua relevância social, justificou-se pelo assunto caracterizar um fenômeno da sociedade atual, uma vez que, o crescimento desse fenômeno pôde ser facilmente visualizado através dos discursos ouvidos na mídia e até mesmo em cenas do cotidiano. Posto isso, apresentaremos a seguir uma breve recuperação histórica acerca da origem do fenômeno Pentecostal, do Pentecostalismo e Neopentecostalismo no Brasil A palavra Pentecostal origina-se do termo bíblico “pentecostalismo” que foi um acontecimento retratado no segundo capítulo do livro de Atos dos Apóstolos encontrado na Bíblia Sagrada. Este livro narra o momento em que Maria (mãe de Jesus) e cerca de 120 discípulos, instruídos por Jesus, reuniram-se num cenáculo em Jerusalém para esperar a vinda do Espírito Santo prometida por Cristo. No quinquagésimo dia posterior à Páscoa, depois de esperarem por dez dias, a promessa de Jesus cumpriu-se. Lucas, apóstolo de Jesus, descreveu assim o evento: “Quando se completaram os dias do Pentecostes, estavam todos juntos no mesmo lugar; e, de repente, veio do céu um


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estrondo, como de vento que soprava impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam sentados. Apareceram-lhes repartidas umas como línguas de fogo, e pousou sobre cada um deles. Foram todos cheios do Espírito Santo e começaram a falar várias línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem.” (ATOS 2:1- 4) p.1185.

De acordo com Romeiro (2005), no Brasil o Pentecostalismo foi dividido em três ondas. Na primeira onda estão as Igrejas Congregação Cristã no Brasil (1910) e Assembleia de Deus (1911). A segunda onda, a partir dos anos 1950, inclui a Igreja do Evangelho Quadrangular (1953), O Brasil para Cristo (1955), Deus É Amor (1962), Casa da Benção e outras de menor expressão. A terceira onda começa na segunda metade da década de 1970 e inclui a Igreja Universal do Reino de Deus (1977), Internacional da Graça de Deus (1980), Cristo Vive (1986), Comunidade Sara a Nossa Terra (1976), Comunidade da Graça (1979) e Renascer em Cristo (1986). Segundo Romeiro (2005), o Pentecostalismo no Brasil apresentou um crescimento fenomenal a partir dos anos 50. De acordo com o senso 2000 divulgado pelo IBGE foi registrado um aumento de mais de 117% (cento e dezessete por cento) no número de adeptos entre os anos de 1991 e 2000, o que no Brasil atingiu 26 milhões de evangélicos. Conforme o autor, os Pentecostais surgiram com ênfase nas manifestações dos dons espirituais, anos mais tarde surgiram os Neopentecostais que por sua vez, não apresentam uma linha teórica própria, muitas de suas posições doutrinárias assemelham-se às do Pentecostalismo da primeira e segunda onda. Questões acerca da fé cristã como, justificação pela fé, adoção e predestinação valorizadas pelos Pentecostais aparecem com pouca frequência nas pregações Neopentecostais. Por não possuir uma teologia definida, o movimento Neopentecostal se constitui de várias posições doutrinárias e correntes teológicas. Além disso, por se tratar de um movimento fragmentado onde alguns líderes são figuras fortes e carismáticas,


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cada grupo escolhe no que quer crer e determina sua própria liturgia. Diante disso, cada denominação religiosa investe no que mais lhe interessa, algumas procuram desenvolver ministério de cura e libertação, outras de batalha espiritual, cura interior, espíritos territoriais, mapeamento espiritual e prosperidade financeira (ROMEIRO, 2005). O Neopentecostalismo tem suas raízes no movimento Pentecostal. No Brasil as igrejas Neopentecostais surgiram a partir da década de 1970, com destaque para a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), a Igreja Apostólica Renascer em Cristo e a Igreja Internacional da Graça de Deus, que são ícones entre as Igrejas Neopentecostais que se pautam pela Teologia da Prosperidade, entre outros grupos. Os fundadores da Igreja Universal, Edir Macedo, e da Igreja Internacional da Graça de Deus, R. R. Soares que se desligaram da igreja Nova Vida, marcaram o início do Neopentecostalismo no Brasil, pautando-se em uma mensagem triunfalista baseada na Teologia da saúde e da prosperidade, surgida na primeira metade do século XX (ROMEIRO, 2005). Algumas denominações Neopentecostais têm como uma de suas bases teóricas a “Teologia da Prosperidade”, também conhecida como confissão positiva, palavra da fé, movimento da fé e evangelho da saúde e da prosperidade, que por sua vez é um movimento religioso surgido nas primeiras décadas do Século XX nos Estados Unidos da América. Sua doutrina afirma que a partir da interpretação de alguns textos bíblicos, os indivíduos que são verdadeiramente fiéis a Deus devem desfrutar de uma excelente situação na área financeira, na saúde, etc. O pioneiro desse movimento foi o norte americano Essek. M Kenyon, e o maior divulgador desta teologia foi Kenneth Hagin. A Teologia da Prosperidade influenciou muitos pregadores, ganhando reconhecimento mundial (ROMEIRO, 2005). Para o autor, o propósito de algumas denominações Neopentecostais consiste em proclamar que a pobreza não faz parte dos propósitos divinos, e que o cristão não deve ser atingido pelas instabilidades da vida, pelo contrário, tendo criado o ser humano a sua imagem e semelhança,


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Deus deseja distribuir riquezas, saúde e felicidade àqueles que têm fé e seguem a lei divina. “Sem nada a perder, mas tudo a ganhar, o fiel é incentivado a apostar tudo para que, de imediato ou em curto período de tempo, qualquer situação de revés mude radicalmente, experimentando assim o sentimento de já estar no caminho da prosperidade.” (ORO et. al., 2003, p. 32-33)

Portanto, fica claro que do fiel não é exigido mais do que uma contribuição financeira para torna-lo apto às benesses de Deus. O prefixo neo nos remete tanto a sua formação, quanto ao caráter inovador do Neopentecostalismo, embora recente entre nós, esse termo já é empregado nos Estados Unidos há vários anos (MARIANO, 1999). Segundo Campos (1997), no contexto norte-americano o termo “Neopentecostalismo” é atribuído às pessoas com mentalidade Pentecostal, mas que se consideram adeptas de uma “renovação espiritual” dentro dos próprios quadros denominacionais que pertencem. Esse “Neopentecostalismo” ganhou força no mundo religioso norte-americano nos anos 70, período em que também começou a penetrar na América Latina, provocando o surgimento de novas igrejas, seitas e denominações, assim como mudanças nas principais denominações protestantes brasileiras (CAMPOS, 1997). Silva & Holanda (2008), por sua vez, apresentam-nos as características fundamentais do movimento Neopentecostal de algumas denominações religiosas: a) guerra espiritual contra o diabo. Admitem a presença demoníaca no cotidiano das pessoas, e por isso adotam práticas de exorcismo onde requisitam a manifestação do demônio para poder expulsá-lo em nome de Deus; b) ênfase à Teologia da Prosperidade, que se pauta na ideia de que o homem veio ao mundo sob a benção de Deus e, portanto, tem direito a todas as riquezas da terra; c) liberalização dos estereotipados usos e costumes. As denominações Neopentecostais apresentam um afrouxamento no uso e costu-


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mes de seus fiéis, não estabelecendo regras quanto a sua aparência, vestimentas, alimentos e outros aspectos presentes em seu cotidiano; d) estruturação empresarial: as igrejas apresentam estrutura organizacional com hierarquia bem definida, departamentalização e expectativas de lucros; e) líder carismático. Um líder carismático, segundo Romeiro (2005), apresenta características de um “vendedor entusiasmado”, com poder de persuasão e de manipulação, enfeitiça seus ouvintes ao defender as ideias que representa. Nas últimas décadas o movimento Neopentecostal tem conquistado um grande espaço em meio a nossa sociedade, não somente conseguindo mobilizar as massas e controlando grandes somas de dinheiro, como ganhando espaço em boa parte da mídia eletrônica. No início, o processo de evangelização de algumas denominações Neopentecostais era pessoal, através da distribuição de folhetos, reuniões ao ar livre entre outros. Em seguida adotaram outros métodos evangelísticos através de rádios e grandes concentrações de fé. Atualmente somam todos esses métodos e investem agressivamente na mídia televisiva (SILVA & HOLANDA, 2008). A presença dessas denominações religiosas na mídia caracteriza a era da “igreja eletrônica” no Brasil. “A década de 1990, no Brasil, está marcada por uma disputa acirrada e proselitismo entre denominações cristãs pela mídia televisiva. Acelera – se a luta entre igrejas pela concessão de canais de televisão e emissoras de rádio. Dezenas delas alugam espaços nos canais convencionais abertos com o intuito de mostrarem sua cara. Em termos de opção religiosa, os canais pagos exibem programas para todos os gostos. Vivemos a era da “igreja eletrônica” (...). A TV comercial foi – se transformando num campo fértil para a expansão da mídia religiosa (...). As iniciativas religiosas não conseguem fugir de seu aspecto institucional, que, automaticamente, as situam no âmbito empresarial, transformando a fé em mercadoria.” (DIAS, 2001, p.22, grifo nosso)


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Uma das principais diferenças entre o Pentecostal e o Neopentecostal é no sentido de que o primeiro enfatiza o batismo no Espírito Santo e o falar em línguas estranhas como revestimento de poder. Já o Neopentecostal enfatiza o afrouxamento dos costumes, no entanto, algumas denominações Neopentecostais se pautam na Teologia da Prosperidade, ou seja, a ideia de trocar dinheiro por benção. Para esses, vida abundante é desfrutar de todo o conforto presente neste mundo. “Em processo de acomodação a sociedade, os crentes, mormente os Neopentecostais, mudaram sua relação com o dinheiro, que adquiriu conotação e valor teológico positivos, tornando-se até objeto de cultos especiais - correntes da prosperidade, baseados na formulação “é dando que se recebe”. Pastores, sem cerimônia, passaram a pedi-lo em grandes quantias, enquanto os fiéis, sem culpa, assumiram seus desejos de consumo e ambições materiais. Mas a nova relação dos pastores com o dinheiro, encarada como charlatanice por muitos, veio somar-se as acusações de fisiologismos e corrupção, na política partidária, ao enriquecimento de líderes ministeriais e à exploração da credulidade e ingenuidade dos fiéis. Com isso, a boa reputação de muitas lideranças Pentecostais, se não foi a nocaute, passou a ser seriamente questionada.” (MARIANO 1999, p. 183-184).

Segundo Guareschi (apud GUARESCHI & JOVCHELOLOVITH, 1995) as pregações realizadas pelos pastores Neopentecostais são legítimas práticas ideológicas, uma vez que eles utilizam formas simbólicas aliadas às práticas que apelam ao afetivo e ao emocional para criar e manter relações de dominação e ainda omitem as relações de dominação e exploração existentes na sociedade, direcionando as causas dos problemas ao demônio e afirmando como única solução entregar-se a Jesus. Assim como os autores compreendemos essas práticas ideológicas como instrumentos de alienação que, à partir de um discurso que em geral


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vem ao encontro da necessidade do fiel (cura e/ou necessidade financeira), os pastores conseguem promover entre os fiéis e a igreja uma relação comercial, onde os fiéis se sentem em dívida com Deus pela benção almejada e/ou alcançada Guareschi (apud GUARESCHI & JOVCHELOLOVITH, 1995). Diante disso, nos perguntamos: quanto vale uma benção? Venham, paguem e levem a sua! Finalizando nossa extensa Introdução, passaremos agora ao referencial teórico que subsidiou nos estudo, e feito isso, caracterizaremos a metodologia privilegiada e os métodos utilizados em nosso estudo. Nossa pesquisa foi orientada pelo referencial da Psicologia Social, fundamentada pela Teoria das Representações Sociais, afinal as representações do fenômeno Neopentecostal são constituídas nos espaços de conversação e por isso, devem ser compreendidas dentro de uma realidade social. Conforme Sá (1993, apud SPINK, 1993), a Teoria das Representações Sociais (RS) originouse na Europa no trabalho de Serge Moscovici em 1961 em seu estudo La psychanalyse, son image et son public. Tratando-se de uma construção psicossociológica do conhecimento, partindo da tradição da sociologia do conhecimento. Spink (1993) remete-se à idéia de Robert Farr que considera a teoria de RS como uma importante contribuição à Psicologia Social, especialmente nos Estados Unidos e Grã-Bretanha, que por sua vez era marcada pelo individualismo. O desejo de Moscovici era superar as diferenças de conceitos existentes e a visão de realidade estabelecida pelo positivismo na Psicologia Social da época que era considerado parcial, incapaz de dar conta e explicar as dimensões histórico-críticas (GUARESCHI & JOVCHE-LOLOVITH, 1995). O próprio Moscovici (2003) faz uma crítica e discuti a superação da visão positivista, visão esta que limitava a compreensão dos fenômenos sociais, ao citar “a falta de uma tendência teórica maior em direção a um novo enfoque de compreensão da realidade” (MOSCOVICI, 2003, p.49), ou seja, uma tendência teórica, dinâmica e explicativa que compreendesse as dimensões físicas, sociais e culturais, que


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abrangesse a dimensão dos meios de comunicação e das mentes das pessoas, cultural, cognitiva, objetiva e subjetiva. Segundo Spink (1993), RS são constituídas a partir do conhecimento mobilizado pelas pessoas comuns, em seu cotidiano, através do diálogo, da comunicação informal em suas relações interpessoais. Esse conhecimento não pode ser considerado uma simples opinião sobre assuntos diversos, mas conforme ratificado por Spink (1993), que por sua vez, utilizou o conceito de Moscovici, a RS deve ser considerada como verdadeira “teoria do senso comum” (p.26) ou ciência coletiva, que interpreta e constrói a realidade social. Encontramos na obra de Spink (1993) a definição dada por Jodelet (1989) sobre RS da seguinte maneira: [RS são] “... uma forma de conhecimento, socialmente elaborada e compartilhada, tendo uma visão prática e concorrendo para a construção de uma realidade comum a um conjunto social.” (JODELET, 1989, p. 36).

Representação Social é uma compreensão alcançada por indivíduos que pensam, são ativos, criativos e comunicam suas representações, ou seja, um homem produto e produtor de suas elaborações que por sua vez, são partilhadas coletivamente com o objetivo de interpretar o real. Nas sociedades contemporâneas existem duas classes de universo: os consensuais e os reificados. Os universos consensuais ou do senso comum é onde há espaços de conversação e trocas de informações. Já os universos reificados ou universo da ciência, possuem a necessidade de comprovação e de criar verdades absolutas por meio de pesquisas. Estes dois universos dialogam para desvendar um viés ideológico (MOSCOVICI, 2003). A teoria das RS é uma estrutura de dupla natureza, a conceptual que é capaz de se aplicar a um objeto ausente, dando-lhe sentido, simbolizando-o e a figurativa que por sua vez recupera esse objeto materializando-o. Esta dinâmica se dá de forma indissociável, dialeticamente (MOSCOVICI, 2003). Segundo Moscovici, “[...] o propósito de todas as RS é o de transfor-


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mar o não familiar ou a própria não familiaridade em família.” (MOSCOVICI, 2003, p.54). Diante deste propósito, o mesmo autor refere-se ao processo de ancoragem como uma forma de classificar coisas que não são classificadas e ao processo de objetivação como uma forma de materializar a palavra, torná-la palpável, portanto, ambos os processos são geradores de RS. “As palavras não falam sobre nada e com isso, somos compelidos a ligá-las a algo.” (MOSCOVICI, 2003, p.71). Considerando nosso objetivo de pesquisa, que foi compreender a RS do fenômeno do crescimento das Igrejas Neopentecostais na contemporaneidade na visão de adeptos e não adeptos ao Neopentecos-talismo e a partir da visão de Moscovici percebemos que as pessoas que procuram a religião como forma de vivenciar experiências espirituais realizam o movimento de “ancorar” o sobrenatural nomeando-o, objetivando-o e materializando-o, dando concretude a sua fé. Por exemplo, o poder do Espírito Santo que desce como fogo, segundo os fiéis, onde o sobrenatural Espírito Santo é nomeado Espírito Santo de Deus e materializado ao ser comparado ao fogo, que por sua vez, é palpável. Foi objetivo essa pesquisa compreender o grande movimento envolvendo as igrejas evangélicas Neopentecostais, consideramos necessário apresentar brevemente o conceito de identidade que nos ajudou a compreender quem são, o que buscam seus adeptos e por fim a representação social desse fenômeno. Segundo Ciampa (1987), a identidade se constrói como determinada e ao mesmo tempo determinante, afinal o indivíduo tem um papel ativo nessa construção e se apropria da mesma, ou seja, ele é personagem de uma história que ele mesmo construiu e a partir disso vai se constituindo como autor. Portanto, compreendemos identidade pessoal sendo ao mesmo tempo identidade social. De acordo com Ciampa (1987), a identidade é constituída de múltiplos personagens que se conservam, se sucedem, coexistem e se alternam no contexto das relações sociais, a essa dinâmica que garante a necessidade da identidade como repetição diferenciada ele chama metamorfose. Nós seres humanos


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estamos em constante transformação, metamorfoseando-nos. Conforme Ciampa (1987) “[...] metamorfose que se concretiza, em cada momento, de uma forma específica, dadas condições históricas e sociais determinadas.” (p. 121). Ao estudarmos sobre o crescimento Neopentecostal e a representação social deste fenômeno, devemos considerar que as pessoas quando buscam associação à essa prática religiosa estão na verdade envolvidas em um movimento de busca de mais um papel, a identidade de “filhos e filhas de Deus”. Ao buscarmos na língua portuguesa definição para grupos ou associações, sejam de cunho religioso ou não, identificamos que os termos subentendem uma sociedade organizada que reúne indivíduos que compartilham objetivos, um grupo de pessoas que agem e defendem interesses comuns (HOLANDA, 1993). Esta pesquisa teve como base o referencial teórico da Psicologia Social o que nos levou a uma articulação de conceitos a partir de uma ótica sócio histórica. A revisão bibliográfica seguiu autores e temas com uma visão macro, voltada para o contexto das relações interpessoais e intergrupais. Foi uma das proposições da pesquisa pensarmos sobre os seguidores, adeptos de uma determinada congregação religiosa, como membros de um grupo inseridos em um determinado momento o ano de 2010 na região metropolitana de São Paulo, entender e descrever o contexto social no qual este grupo está inserido, estudar as características destes grupos, seus interesses a atividades comuns, sem expressar opiniões ou juízos de valores a respeito das motivações destes grupos. Tentamos a partir desta pesquisa, nos aproxima e compreender qual a dinâmica destes grupos. A gênese de um grupo e a sua formação determinará as características deste grupo. Como este grupo vai agir, as leis que irão orientar as atividades, bem como quais serão os objetivos comuns que constituem a formação deste grupo. A dinâmica ocorre a partir das relações interpessoais internas do grupo e também das relações intergrupais e o amadurecimento destas relações ao longo da existência deste grupo (MAILHIOT, 1998). A partir da


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teoria dos grupos de Kurt Lewin divulgada nos anos de 1950, podemos identificar tais conceitos aplicados aos grupos que estudamos. Assim, entendemos que ao examinarmos nosso problema de pesquisa foi possível identificar e correlacionar tais conceitos com a realidade destes grupos. Em Psicologia, o termo maioria psicológica, refere-se a um grupo que dispõe de uma estrutura que lhe permite se autodeterminar, há estatutos que lhe garantem autonomia sobre o futuro coletivo de seus membros: “[...] todo o grupo humano que se percebe na posse de plenos direitos [...]” (MAILHIOT, 1998, p.30). A maioria psicológica se constitui geralmente por uma minoria demográfica, ou seja, um pequeno grupo privilegiado, que podemos apontar em nosso estudo, como sendo composto pelos pastores e dirigentes das congregações religiosas. O grupo que Kurt Lewin definiu como minoria psicológica se constitui por um grupo de indivíduos maior em número de pessoas, mas que existe e se desenvolve sob a tutela de outro grupo que representa a maioria psicológica. Os membros de uma minoria psicológica, não se sentem amparados pelo mesmo estatuto, eles se percebem inferiores e aceitam a condição de não ter acesso a estes privilégios (MAILHIOT, 1998). De forma análoga podemos identificar como minoria psicológica os fiéis das congregações religiosas, adeptos ou não. Já o conceito de Campo social, segundo Kurt Lewin trazido na obra de Mailhot (1998), é onde ocorrem as relações intergrupais, onde se desenvolve a totalidade dinâmica é palco dos constantes movimentos intra e inter grupais. O termo totalidade dinâmica é muito mais complexo, Mailhiot (1998) o define como uma característica presente em todos os grupos humanos. Nos interessou identificar tais aspectos nos grupos Neopentecostais que se pautam pela Teologia da Prosperidade. Ao estudarmos a RS do fenômeno do crescente número de novas Igrejas Neopentecostais que se baseiam na Teologia da Prosperidade em nosso contexto social, buscamos uma base teórica e metodológica, para tanto seguimos os referenciais teóricos que delinearam o início da Psicologia Social, buscando na obra de


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Haguette (2007) o conceito sobre atividades grupais estudado por Georg Mead onde Haguette (2007, p.27) afirma “[...] toda a atividade grupal se baseia no comportamento cooperativo.” Nem todo o comportamento cooperativo, porém, vai caracterizar uma atividade grupal, um formigueiro, por exemplo, não caracteriza uma atividade grupal, pois não apresenta a diversidade de comportamentos que estão presentes nas associações humanas onde há a percepção de cada indivíduo sobre a intenção dos atos dos outros membros e uma relação direta entre estas intenções percebidas e seus próprios atos. Haguette (2007) escreve ainda sobre os elementos linguísticos, símbolos significantes, que permitem aos indivíduos compartilharem, participarem de uma troca e dividirem algo comum. Nos grupos Neopentecostais, tais ícones são muito fortes e reforçados através das transmissões de programas de televisão. Os testemunhos são um dos símbolos de grande representatividade, outro símbolo são as bênçãos, ambos de grande poder e impacto entre os seguidores. Gritos, gestos, palavras de ordem, postura direcionada e ensaiada compõe o setting, apropriado para divulgar e compartilhar esses símbolos significantes. Estes símbolos, uma vez compartilhados pelos membros do grupo tornam-se ícones muito fortes (HAGUETTE, 2007). De acordo com Freud (1978) existe uma grande variedade de grupos existentes, diferentes em sua formação ou manutenção. Os efêmeros, os permanentes, os breves, os naturais e os que nos interessam em especial, pela vinculação com essa pesquisa, que são os grupos artificiais. Segundo o mesmo autor, o exército ou uma organização religiosa são exemplos de grupos artificiais, permanente e extremamente organizado, onde seus membros se mantêm ligados ao grupo por suas próprias convicções. Mesmo com todas as diferenças, Exército e Igreja oferecem aos membros de seus grupos a mesma ilusão, a existência de um líder. Esse líder forte que apesar de sua superioridade, acolhe a todos os membros do grupo como iguais. Esta é a ilusão que mantém a religião, traduzida pelo amor incondicional de Cristo aos seus seguidores,


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onde todos são iguais aos olhos do líder, ou pelo menos podem buscá-lo como modelo. Esses membros também se percebem iguais entre si, abrindo inclusive a interpretação possível sobre membros de uma determinada organização religiosa que se autodenominam, “irmãos”, tal como membros de uma mesma família e filhos do mesmo “Pai” (FREUD, 1978). Os laços presentes entre os membros de um grupo concedem a cada um deles, falta de personalidade. Freud atribuía a essa circunstância a possibilidade de ocorrência que poderiam gerar limitações e alterações possíveis de serem observadas nas personalidades, dos membros desses grupos. Sempre estarão presentes em grupos religiosos segundo Freud (1978), os laços com o líder ou seu representante bem como com os outros membros do grupo. Um líder abstrato tornase fraco, portanto é necessário que um líder religioso, exerça sua liderança de forma a ocupar o lugar do “chefe invisível” (FREUD, 1990). Não podemos ignorar o fato de que um líder religioso desempenha também o seu papel de homem comum, subordinado às necessidades do cotidiano. Da mesma forma que ocorre com outras organizações religiosas, as Igrejas Neopentecostais se estruturam como empresas, com destaque para as Igrejas Neopente-costais que se baseiam na Teologia da Prosperidade que utilizam além da mídia impressa, espaços comprados em canais de televisão e rádio, planejamento e expectativa de lucro (SILVA & HOLANDA, 2008). Os líderes podem apresentar alto nível de satisfação pela forma de trabalho ligado à comunidade, mas sofrem com as pressões do mercado, passam pelo mesmo estresse ao qual está exposto um líder empresarial de uma organização com nenhuma característica religiosa. Podemos pensar sobre a espiritualidade nas organizações profissionais, que pode estar presente na gestão de uma organização não religiosa e não estar presente em uma organização religiosa, enquanto uma empresa do mercado da fé, onde um número cada vez maior de novas congregações religiosas disputam as contribuições dos fiéis. Segundo Freud (1978), a religião é uma ilusão. Indivíduos desempenham um papel difícil de avaliar. Segundo o mesmo autor


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a civilização humana adquiriu conhecimento e capacidade com intenção de controlar as forças da natureza e conseguir dela tirar riqueza para a sua própria satisfação, a partir destes conhecimentos surgem aqueles indivíduos mais fortes que se sobressaem, querendo buscar privilégios, e assim a civilização tem de ser defendida contra o próprio indivíduo. Surge então a figura do líder, para organizar, manter a distribuição de riquezas e proteger os homens dos próprios homens. “Algo foi imposto pela maioria resistente por uma minoria que compreendeu como obter a posse dos meios de poder e coerção.” (FREUD, 1978, p. 88).

Segundo Freud (1978) se não houvesse proibições no mundo, se pudéssemos tomar a mulher que quiséssemos, matar sem hesitação, pegarmos qualquer pertence de outro homem, a vida seria uma sucessão de satisfação, só que todos os outros teriam os mesmos desejos que nós. Pensando dessa maneira só existiria uma pessoa que se tornaria irrestritamente feliz através da remoção das restrições da civilização, e essa pessoa seria o tirano, o ditador e mesmo ele teria motivos para que todos observassem pelo menos um mandamento, “não matarás”. Para a humanidade em geral, a vida é difícil de suportar, existem várias privações impossíveis de controlar, as catástrofes da terra, as doenças, a morte. O homem sente-se desamparado, procura pelo pai e pelos deuses, (FREUD, 1978). Nos últimos anos, essa procura citada por Freud intensificou-se e para atender a essa demanda surgiram inúmeras denominações religiosas acolhendo essas pessoas que buscam pertencimento. De acordo com Freud (1990) a civilização anseia pelo Pai e Deus era o pai exaltado e constituía a raiz da necessidade da religião, em função do desamparo e da necessidade de proteção do homem. O desamparo se apresenta entre os humanos, a partir da infância permanecendo por toda a vida no “estado infantil”, que segundo o mesmo autor é o que mantém no homem a necessidade de proteção. Neste estado na-


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tural de desamparo, o indivíduo tem a necessidade de sentir-se acolhido, de ater-se a existência de um “Pai”, alguém mais poderoso que pode ser encontrado em uma congregação religiosa, onde estaria presente a “Providência Divina”. 2. NO TAS ME TODOLÓGICA S, APRE SENT AÇÃO NOT MET ODOLÓGICAS, APRESENT SENTAÇÃO E DISC USSÃO DOS RE SUL TADOS SULT DISCUSSÃO RESUL

Tratou-se nosso estudo de uma pesquisa social que partiu de uma epistemologia qualitativa cujo procedimento técnico foi um estudo de campo. O estudo de campo é um modelo clássico de investigação da Antropologia, onde surgiu. Atualmente é utilizado em várias áreas do conhecimento humano, como Sociologia e Saúde Pública. Este modelo se adequou a uma pesquisa qualitativa na área da Psicologia Social, pois foi direcionado para um grupo que apresentou algumas características em comum; um grupo de trabalho, de lazer ou de alguma outra atividade humana Gil (2007), por exemplo, os adeptos e não adeptos ao Neopentecostalismo que se pautam pela Teologia da Prosperidade. O estudo de campo teve como característica a observação direta do grupo estudado, realização de entrevistas, filmagens, dramatizações, construção de frases e desenhos a fim de facilitar a coleta de material que possibilite a riqueza na análise dos dados coletados (GIL, 2007). Segundo González Rey (2005) o bom relato qualitativo sempre mostra as concepções do pesquisador, gerando reflexões e críticas sobre os resultados, de modo a abrir novas zonas de sentido, ou seja, um processo contínuo. “[...] o propósito fundamental da pesquisa qualitativa é a compreensão, exploração e especificação do fenômeno social.” (NARDI & SANTOS, 2003, p. 55). Nesse sentido nosso projeto de pesquisa explicitou academicamente seus dados obtidos para mensuração do fenômeno Neopentecostal, uma vez que o crescimento de tal fenômeno e sua relação com o social agregou fatores individuais de cada sujeito que a ele se remete. Conforme Minayo (2009), “Metodologia


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é o caminho do pensamento e a prática exercida na abordagem da realidade. Ela inclui as concepções teóricas da abordagem articulando-se com a teoria, com a realidade empírica e com os pensamentos sobre a realidade.” (MINAYO, 2009, p.14-15). Visto que nossa pesquisa se pautou em entrevistas semi-estruturadas, buscamos absorver dos sujeitos entrevistados através de relatos orais suas concepções em relação ao Neopentecostalismo que se pauta pela Teologia da Prosperidade, uma vez que a representação que o sujeito deu a esse fenômeno se deveu a seu contato com a realidade vivenciada. Na elaboração de uma pesquisa social qualitativa, é de suma importância que o pesquisador esteja atento a construir um ambiente que favoreça a relação entre pesquisador e pesquisado, somente à partir dessa relação será possível o acesso às significações que o sujeito dá às suas experiências e as construções de novos conhecimentos. Embora seja muito importante estabelecer essa relação, foi indispensável pautar tal pesquisa em uma metodologia, o que garantiu a cientificidade da mesma, além de atentar para não incorrer em subjetivismo e parcialidades. A escolha dos sujeitos e a postura investigativa do pesquisador são itens de extrema importância em uma pesquisa social, pois de acordo com Minayo (2009, p.13), “[...] a pesquisa social lida com seres humanos que, por razões sociais e de classe, de faixa etária, ou por qualquer outro motivo, tem um substrato comum de identidade com o investigador, tornando-os solidariamente imbricados e comprometidos”. Foram entrevistados sete indivíduos sendo dois adeptos ao Neopentecostalismo que se pauta pela Teologia da Prosperidade, um adepto ao Neopentecostalismo que não se pauta pela Teologia da Prosperidade e quatro não adeptos ao Neopentecostalismo que se pauta pela Teologia da Prosperidade, de ambos os sexos com idade entre 25 (vinte e cinco) e 50 (cinquenta) anos, com escolaridade mínima do ensino médio concluído. Os quesitos etnia e classe social não foram avaliados, pois não consideramos quesitos relevantes para essa pesquisa. Dentre os adeptos ao Neopentecostalismo


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que se pauta pela Teologia da Prosperidade, entrevistamos um líder religioso e um fiel, adeptos no mínimo há um ano. Quanto aos adeptos ao Neopentecostalismo que não se pauta pela Teologia da Prosperidade, entrevistamos um líder adepto no mínimo há um ano. No grupo de não adeptos ao Neopentecostalismo que se pauta pela Teologia da Prosperidade, entrevistamos um adepto ao espiritismo Kardecista, um Padre católico, um convertido ao Pentecostalismo e um agnóstico. Durante nossa ida a campo, identificamos a necessidade de alterarmos a idade mínima de 25 (vinte e cinco) para 22 (vinte e dois) anos, uma vez que, entrevistamos um pastor de 22 (vinte e dois) anos, cujo demais requisitos foram atendidos e sua participação contribuiu para a nossa pesquisa. A seguir apresentamos os locais onde foram realizadas as entrevistas e um breve histórico de cada local. A entrevista com um adepto à denominação Neopentecostal que se pauta pela teologia da prosperidade foi feitas com um pastor da igreja IURD – Igreja Universal do Reino de Deus, no município de Carapicuíba no estado de São Paulo. A IURD é uma igreja cristã protestante de tendência Neopentecostal fundada em 1977 por Edir Macedo e tornou-se o terceiro maior grupo Neopentecostal do Brasil. Está presente em quase 200 países, segundo a instituição sendo mais disseminada nos países de língua portuguesa. Em 2009 (mais de trinta anos após sua fundação), a IURD possuía no Brasil mais de cinco mil templos e dez milhões de fiéis que seguem quase 15 mil pastores. É considerado o movimento evangélico mais influente do Brasil na atualidade. A entrevista com a denominação Neopentecostal que não se pauta pela Teologia da Prosperidade foi realizada em uma Igreja Evangélica localizada no município de Osasco, Estado de São Paulo. Conforme consta no site desta Igreja, em 1970 Deus promoveu uma obra extraordinária e santa no grupo de irmãos que resolveu levar Deus a sério, o evangelho de Jesus, a bíblia como a Palavra de Deus, a vida cristã, a santificação, as almas perdidas. Sem que estivesse procurando novidades, o grupo se identificou com o movimento que estava acontecendo na igreja evangélica brasileira em todas


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as denominações históricas. Houve várias cisões, e algumas de abrangência nacional, como foi o nosso caso. Um grupo de quarenta membros, entre os quais cinco presbíteros, quatro diáconos e duas diaconisas, acompanhados de quarenta menores e ou não professos “saiu” e se constituiu em Igreja. Atualmente, estão com 1410 membros, fora os membros das Congregações e Igrejas emancipadas. O Líder católico entrevistado foi um padre da Igreja Católica Apostólica Romana, em Paróquia localizada no bairro Alphaville no município de Santana de Parnaíba, São Paulo. A Paróquia tem 16 anos. Com o crescimento da comunidade e das ações desenvolvidas, Padre G. deu início ao projeto do salão paroquial. A entrevista com o um adepto ao espiritismo seria realizada num Centro Kardecista no bairro Alphaville, no município de Santana de Parnaíba. A casa foi fundada em Janeiro de 1989 como uma sociedade civil, religiosa e filantrópica. Tem por objetivo através dos programas promoverem assistência social às famílias carentes, asilos e orfanatos de Santana de Parnaíba. Realizaríamos a entrevista com o sujeito adepto ao pentecostalismo numa Igreja Pentecostal de Barueri, estado de São Paulo. Esta denominação religiosa teve sua fundação, quando no final do Século XIX, o italiano Louis Francescon recebeu, segundo seu relato, contido no site da igreja, uma revelação acerca do batismo por imersão, que lhe advertia por não ter cumprido essa ordenança deixado por Jesus Cristo, separou-se do grupo Presbiterianovaldense ao qual pertencia. Vindo para o Brasil em 1910, Francescon realizou o primeiro batismo em Santo Antonio da Platina, Paraná, batizando mais de dez pessoas; depois se dirigiu para a cidade de São Paulo onde deu continuidade à sua obra. Optamos por contatar os demais sujeitos através de rede de indicações, sendo essas indicações feitas pelos componentes de nosso grupo de pesquisa. Em relação às mudanças, os sujeitos, adepto ao espiritismo e o agnóstico, ambos foram entrevistados em suas respectivas residências localizadas em diferentes bairros no município de Barueri. Quanto o sujeito adepto ao pentecostalismo a entrevista foi realizada com um adepto que pertence a uma Igreja


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Pentecostal Assembléia de Deus localizada na cidade de Barueri. A Assembléia de Deus chegou ao Brasil por intermédio dos missionários suecos Gunnar Vingren e Daniel Berg, que aportaram em Belém, capital do Estado do Pará, em 1910, vindo dos Estados Unidos. As Assembléias de Deus brasileiras estão organizadas em forma de árvore, onde cada Ministério é constituído pela igreja-sede com suas respectivas filiadas, congregações e pontos de pregação (sub congregações). O mais expressivo dos ministérios independentes é o Ministério de Madureira, cuja igreja já existia desde 1930, fundada pelo pastor Paulo Leivas Macalão. O Ministério de Madureira, assim conhecido por ter sua sede no bairro de mesmo nome, na cidade do Rio de Janeiro, sob a presidência vitalícia do pastor (hoje bispo) Manuel Ferreira, em São Paulo sua sede com maior expressividade está no campo do Bras. Os demais locais pretendidos para a realização de nossas entrevistas foram mantidos. Em termos dos instrumentos de coleta de dados que concebemos e utilizamos em campo, apoiamo-nos no psicólogo social Fernando Gonzáles Rey (2005), para quem instrumento é toda situação ou recurso que permite ao outro expressar-se no contexto de relação que caracteriza a pesquisa, não queríamos que o outro respondesse de acordo com a nossa expectativa, mas sim facilitar essa expressão através de um instrumento e uma aplicação flexível. Diante disso, o autor ainda ratifica “O instrumento é uma ferramenta interativa, não uma via objetiva geradora de resultados capazes de refletir diretamente a natureza do estudado independentemente do pesquisador.” (GONZÁLES REY, 2005, p.80). Segundo o mesmo autor, através dos instrumentos formamos uma relação com os outros, obtendo assim um sistema único de informação, instrumentos não são a única via de produção de resultados. Esse resultado produzido de uma forma parcial constituirá apenas em hipótese, que só se confirmará no sistema completo da informação produzida. Dessa forma, como instrumento de coleta de dados, utilizamos 02 (dois) roteiros de entrevistas semiestruturadas, sendo um para adeptos e um para não


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adeptos ao Neopentecostalismo, cujo conteúdo contemplou 16 (dezesseis) questões abordando o tema proposto pela pesquisa. A partir desse instrumento buscamos compreender a subjetividade e os processos de significação dos sujeitos. Como aparatos para a realização da pesquisa o grupo utilizou: papel, caneta para anotações de comportamentos não verbais, celulares (Samsung SGH-J700L, Samsung F 250, Motorola, V9, Sony Ericsson W 380), para gravação do conteúdo das entrevistas. Em termos de nossos procedimentos de condução da pesquisa, cabem alguns breves apontamentos. Inicialmente as instituições foram contatadas para o agendamento de nossa visita; no dia agendado nos dirigimos às instituições com o Projeto de Pesquisa e os Termos de Consentimento Livre e Esclarecido, bem como o parecer de aprovação da pesquisa do Comitê de Ética e Pesquisa (CEPPE) da UNIP, para apresentação dos mesmos junto ao representante da instituição. Pretendíamos durante essa apresentação solicitarmos autorização para a realização das entrevistas com alguns membros da instituição, bem como a utilização de um espaço na própria instituição para ser o setting da entrevista. Após acordo entre as partes, em relação às instituições religiosas assistiríamos a uma cerimônia religiosa em suas respectivas instituições e ao final da cerimônia abordaríamos alguns de seus membros para que, após identificarmos se eles fazem parte dos padrões estabelecidos para os sujeitos da pesquisa, apresentássemos nosso Projeto de Pesquisa, os colocaríamos a par de todos os procedimentos éticos e convidaríamos a participarem de nossa pesquisa, porém optamos por realizar as entrevistas com os líderes das instituições e entrevistarmos os adeptos através de rede de indicações. Quanto ao agnóstico, entraríamos em contato com o mesmo através de uma universidade tomando as mesmas medidas citadas anteriormente para solicitar autorização do representante da universidade com o intuito de abordar um de seus alunos que possuísse as características exigidas em relação os sujeitos da pesquisa e que fosse agnóstico. Em seguida apresentaríamos a ele nosso Projeto de Pesquisa e Termo de Consen-


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timento, informando-o sobre os procedimentos éticos adotados e então, o convidando-o para participar de nossa pesquisa, porém optamos por contatá-lo através de rede de indicação. No decorrer da fase de pesquisa de campo, modificamos a abordagem aos sujeitos entrevistados, onde os líderes religiosos entrevistados, sendo um padre da Igreja Católica Apostólico Romana, um pastor da IURD e um pastor da Evangélicco, não falaram em nome de suas respectivas instituições, colocaram-se nas entrevistas exclusivamente como pessoas inseridas em nossa sociedade, que dentre muitos papeis que desempenham em suas vidas, são também líderes religiosos. Tão pouco se fez necessário que estes líderes dessem autorizações para que entrevistássemos sujeitos em suas instituições. Quanto aos sujeitos, inicialmente consideramos a mesma quantidade de adeptos e não adeptos, portanto, dois adeptos ao Neopentecostalismo que não se pauta pela Teologia da Prosperidade, dois adeptos ao Neopentecostalismo que se pauta pela Teologia da Prosperidade e quatro sujeitos de outras denominações religiosas. Totalizando oito sujeitos, sendo que devido ao tempo reduzido e principalmente por considerarmos que os dados até então coletados (sete entrevistas) eram ricos e suficientes para embasar nossa pesquisa, optamos por não executar a oitava entrevista, conforme planejado e registrado inicialmente no projeto. As entrevistas realizadas foram: com um adepto ao Neopentecostalismo que não se pauta pela Teologia da Prosperidade, com dois adeptos ao Neopentecostalismo que se pauta pela Teologia da Prosperidade, três sujeitos de outras denominações e um agnóstico. Depois de autorizadas, iniciamos as entrevistas a partir de 02 (dois) roteiros compostos por 16 (dezesseis) questões distintas para adeptos e não adeptos5, tratando-se de perguntas semiestru-turadas, 5

Roteiro de Entrevista Semiestruturada para adeptos ao Neopentecostalismo: 1. Fale um pouco sobre si; 2. Fale sobre alguns de seus objetivos de vida em curto prazo, e de longo prazo; 3. Fale sobre algo que alegre a sua vida; 4.O que você faz no seu tempo livre?; 5. Você manteve algum tipo de vínculo com alguma outra denominação religiosa?; 6. O que levou você a procurar esta denominação


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pré-estabelecidas acerca do tema Neopentecostalismo que se pauta pela Teologia da Prosperidade, cuja ordem pôde ser flexível. A cada entrevista utilizamos dois gravadores para registrarmos todo o conteúdo manifesto durante sua execução, o que favoreceu a transcrição literal, além de papel e caneta para registrarmos os comportamentos não verbais dos sujeitos. Após a coleta de dados todo o conteúdo foi transcrito, categorizado e analisado. 14. Em termos éticos, por se tratar de uma pesquisa com seres humanos, conduzimo-la dentro dos procedimentos éticos apresentados pelo Código de Ética Profissional do Psicólogo e a Resolução 16/2000 a fim de possibilitarmos segurança aos sujeitos da pesquisa, bem como evitar a incidência de vieses que poderiam invalidar nossa pesquisa. Para tanto, informamos aos entrevistados o objetivo da pesquisa e do uso das informações, gareligiosa? Fale um pouco sobre isto; 7. Nos últimos anos em nosso país podemos constatar um grande aumento no número de denominações religiosas, pertencentes a diversas ordens e orientações teológicas. Estão entre estas, as denominações religiosas Neopentecostais pautadas pela Teologia da Prosperidade, como as igrejas: Universal do Reino de Deus, Igreja Internacional da Graça de Deus, Igreja Mundial do Poder de Deus. A partir do seu ponto de vista, quais as causas que levam as pessoas a procurarem essas denominações religiosas? 8. Diante do aumento do número de Igrejas Neopentecostais pautadas pela Teologia da Prosperidade, o que você vê de pontos positivos e negativos para a sociedade?; 9. Como um adepto ao Neopentecostalismo pautado pela Teologia da Prosperidade, como era sua vida antes de se tornar adepto? O que mudou em sua vida?; 10. Você já fez algum propósito com Deus?; 11. Na sua opinião o que é ser abençoado por Deus? O que é preciso fazer para ser?; 12. Você se considera responsável pelo crescimento de sua igreja? Como você contribuiu para esse crescimento? Quais as vantagens de ser colaborador?;13. Se pedíssemos para você pensar sobre as denominações religiosas Neopentecostais pautadas pela Teologia da Prosperidade, qual palavra ou expressão que lhe viria à cabeça?;14.Diante das necessidades do dia a dia cabe a cada um de nós buscarmos o próprio sustento e manutenção, visto que tais necessidades fazem parte de nossas vidas. Pensando sobre estas questões do cotidiano, como você vê o assunto “dinheiro” na Igreja? Em qualquer aspecto (contribuição dos fiéis, dízimo, auxílio aos necessitados, oferta).; 15. Você poderia deixar uma mensagem acerca do assunto abordado?; 16. Antes de encerrarmos nossa conversa, você gostaria de acrescentar algo? Roteiro de Entrevista Semiestruturada para não adeptos ao Neopentecostalismo: 1.Fale um pouco sobre si.; 2. Fale sobre alguns de seus objetivos de vida em curto prazo, e de longo prazo?; 3. Fale sobre algo que alegre a sua vida? 4. O que você faz no seu tempo


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rantindo o direito ao sigilo das mesmas ali apresentadas. Segundo Haguete (2003) a entrevista social também deverá ser considerada como uma fonte de viés localizado tanto aos fatores externos ao observador, tais como roteiro ou entrevistado, como na situação de interação entre o entrevistado e o entrevistador. A partir de nosso tema escolhido pudemos associar esta questão, sabendo distinguir as informações de caráter subjetivo das de caráter objetivo, propostas por adeptos e não adeptos, onde muitas vezes são apresentadas questões de valores que podem ser modificadas por reações cognitivas e emocionais e relatadas através de sua capacidade pessoal de verbalização. Após as entrevistas realizadas, gravadas e transcritas, utilizamos procedimentos qualitativos de análise. Muitos fatores implicam em uma análise qualitativa, por livre? 5. Você mantém ou manteve algum tipo de vínculo com alguma denominação religiosa? 6. O que levou você a procurar esta denominação religiosa? 7. Nos últimos anos em nosso país podemos constatar um grande aumento no número de denominações religiosas, pertencentes a diversas ordens e orientações teológicas. 8. Estão entre estas denominações religiosas Neopentecostais pautadas pela Teologia da Prosperidade, como as igrejas: Universal do Reino de Deus, Igreja Internacional da Graça de Deus, Igreja Mundial do Poder de Deus. A partir do seu ponto de vista, quais as causas que levam as pessoas a procurarem essas denominações religiosas? 9. Diante do aumento do número de denominações religiosas Neopentecostais pautadas pela Teologia da Prosperidade, o que você vê de pontos positivos e negativos para a sociedade? 10. Na sua opinião o que muda na vida de pessoas adeptas ao Neopentecostalismo pautado pela Teologia da Prosperidade? 11. Você já fez algum propósito com Deus ou conhece alguém que já tenha feito? 12. Na sua opinião o que é ser abençoado por Deus? O que é preciso fazer para ser? 13. Caso você participe de alguma denominação religiosa, você se considera responsável pelo seu crescimento? 14. Como você contribui para esse crescimento? Quais as vantagens de ser colaborador? 15. Se pedíssemos para você pensar sobre as denominações religiosas Neopentecostais pautadas pela Teologia da Prosperidade, qual palavra ou expressão que lhe viria à cabeça? 16. Diante das necessidades do dia a dia cabe a cada um de nós buscarmos o próprio sustento e manutenção, visto que tais necessidades fazem parte de nossas vidas. Pensando sobre estas questões do cotidiano, como você vê o assunto “dinheiro” na Igreja? Em qualquer aspecto (contribuição dos fiéis, dízimo, auxílio aos necessitados, oferta). 17.Você poderia deixar uma mensagem acerca do assunto abordado? 18. Antes de encerrarmos nossa conversa, você gostaria de acrescentar algo?


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exemplo, a natureza dos dados coletados, os objetivos do projeto e os pressupostos teóricos que nortearam a pesquisa, o que exige grande atenção nos procedimentos analíticos (GIL, 2007). Realizamos uma análise de conteúdo, na qual buscamos identificar nas respostas uma recorrência aos temas abordados nas entrevistas. Utilizamos entrevistas semiestrutu-radas, o que possibilitou aos entrevistados respostas amplas que trouxeram assuntos menos relevantes ao propósito da pesquisa, o que exigiu de nós uma redução de dados. Segundo Gil (2007) este procedimento é o primeiro passo em um processo de análise qualitativa de conteúdo, que por sua vez, consiste em abstrair, simplificar e transformar as entrevistas transcritas em informações fidedignas aos significados originais. De acordo com o mesmo autor, nesta fase de redução de dados será importante ter clareza sobre os objetivos da pesquisa, a fim de que não se percam conteúdos significativos ou que sejam mantidos dados não relevantes. Os relatos verbais e comportamentos não verbais de cada sujeito nos permitiram acessar aspectos subjetivos, sobre os quais somente ele tem acesso. O sujeito disponibiliza recortes de sua consciência, cabendo ao pesquisador captar todos os aspectos da entrevista, e organizar tais conteúdos classificando-os de acordo com seus significados. Relatos verbais, não são falas do cotidiano, pois resultam de um planejamento prévio, elaborado pelo pesquisador que sabe o que e por que perguntar (TUNES & SIMÃO, 1998). Após aprovação de nosso projeto de pesquisa junto ao CEPPE em 30 de julho de 2010, iniciamos a fase de contatos com a finalidade de agendamento das entrevistas previstas no projeto. Na segunda quinzena de agosto contatamos e agendamos as entrevistas. A primeira entrevista realizada foi com um líder não adepto ao Neopentecostalismo pautado pela teologia da prosperidade, padre católico. Fomos recebidas na Paróquia em um setting adequado; o entrevistado se mostrou solícito e envolvido com o tema. Nossa entrevista durou cerca de 50 (cinquenta) minutos e após a realização da entrevista discutimos nossas impressões sobre a mesma, onde identificamos a necessidade de rever nossa postu-


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ra. Por ser nossa primeira entrevista estávamos ansiosas e apreensivas. Identificamos a necessidade de maior atenção aos aparatos eletrônicos utilizados e também a importância de alternar as entrevistadoras a fim de tornar a entrevista mais dinâmica, uma vez que, o entrevistador tende a dirigir-se à pessoa que lhe fez a pergunta. Em nossa segunda entrevista já estávamos mais tranqüilas e familiarizadas com o roteiro, e tal condição nos permitiu conduzir informalmente a entrevista sem nos afastarmos do tema proposto pela pesquisa. O entrevistado foi um líder neopentecostal pautado pela teologia da prosperidade, um pastor da Igreja IURD. Devido a esse entrevistado ter 22 (vinte e dois) anos, optamos por alterar os requisitos que previamente havíamos delimitado para nossos sujeitos, passando a idade mínima de 25 (vinte e cinco) para 22 (vinte e dois) anos. Cogitamos não utilizar essa entrevista devido a pouca idade do sujeito, porém conversando com outro pastor da mesma denominação religiosa que não nos permitiu gravar a entrevista percebemos um discurso recorrente entre os dois, fato que nos deixou seguras na utilização da entrevista do jovem pastor. A terceira entrevista foi realizada com um não adepto ao Neopentecostalismo que se pauta pela teologia da prosperidade, um sujeito adepto ao Pentecostalismo da Igreja Assembléia de Deus. Iniciamos a entrevista nas dependências da Igreja, porém esse local não se mostrou um setting apropriado devido ao barulho, por isso houve necessidade de troca de local, após esta troca a entrevista transcorreu normalmente. O entrevistado se mostrou participativo, abordando os temas propostos de forma bem ampla. A entrevista transcorreu de forma dinâmica, onde foi estabelecida uma relação empática. O quarto sujeito entrevistado foi um líder espírita que nos recebeu em sua residência. A entrevista ocorreu de modo tranquilo, com um tempo adequado e participação pertinente de todos os presentes. Destacamos que este foi o único entrevistado que leu atentamente o termo de consentimento, inclusive fazendo perguntas a respeito do termo e da pesquisa. Seguindo a ordem das entrevistas agendadas, o sujeito da quin-


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ta entrevista, um não adepto ao Neopentecostalismo que se pauta pela teologia da prosperidade, uma agnóstica. Tratou-se de uma entrevista descontraída com duração de aproximadamente 30 (minutos). Ao final da entrevista o sujeito deixou claro que foi sucinto em suas palavras por saber a dificuldade que é uma transcrição de entrevista. Já nossa sexta entrevista foi realizada com um adepto ao Neopentecostalismo que se pauta pela teologia da prosperidade, um diácono da Igreja Renascer em Cristo. Entre as entrevistas realizadas, esta foi a mais extensa com duração de aproximadamente uma hora e trinta minutos. O entrevistado havia solicitado e recebido previamente o roteiro e percebeu-se durante a entrevista que ele havia estudado o roteiro de perguntas, algumas vezes citando que trazia com ele anotações a cerca do mesmo. Por solicitação do entrevistado nos encontramos em uma cafeteria, o que definitivamente não se mostrou um setting adequado devido ao barulho e a falta de privacidade. A última entrevista realizada foi com um líder Neopentecostal, porem não adepto ao Neopentecostalismo que se pauta pela teologia da prosperidade, um pastor da Igreja Evangélica de Osasco. Foi uma entrevista extensa de aproximadamente sessenta minutos; o entrevistado estava a par da pesquisa, uma vez que previamente havia solicitado e recebido o projeto na íntegra. O setting foi adequado, porém percebeu-se se na fala do entrevistado um bloqueio de informações, tal percepção se confirmou visto que ao final da entrevista após certifica-se de que os gravadores estavam desligados o sujeito retomou o conteúdo do roteiro desenvolvendo outras idéias e falas, as quais ele não nos autorizou gravar. Durante a fase de campo nos deparamos com algumas dificuldades, como a recusa de um pastor neopentecostal que se pauta pela teologia da prosperidade em conceder a entrevista, aceitando apenas uma conversa informal sem registros, neste caso optamos por ouvi-lo e inclusive utilizamos seus comentários em nossas discussões. Este posicionamento de recusa nos conduziu à procura de outro líder neopentecostal que se pauta pela teologia da prosperidade.


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Outra dificuldade vivenciada foi em relação aos agendamentos de entrevistas visto que alguns sujeitos não tinham disponibilidade para nos atender, o que nos levou a marcar e desmarcar nossas entrevistas com alguns sujeitos por diversas vezes. Durante algumas entrevistas o setting escolhido não se mostrou adequado, destacamos a entrevista com o adepto ao Pentecostalismo onde a mesma teve que ser interrompida para a mudança de setting. Já a entrevista com o adepto ao Neopentecostalismo que se pauta pela teologia da prosperidade foi realizada em uma cafeteria (por opção do próprio sujeito), mas tivemos dificuldades na condução da entrevista, pois no setting havia barulho e falta de privacidade. Algumas mudanças de estratégias com relação as entrevistas fizeram-se necessárias durante a fase de campo, ao invés de abordamos os sujeitos após o culto religioso, optamos por contatá-los através de rede de indicação, sendo estas indicações feitas pelos componentes de nosso grupo de pesquisa. Já os líderes adeptos e não adeptos ao Neopentecostalismo foram contatados diretamente em suas instituições. Ao agnóstico também se aplicou a rede de indicação. Para a realização de nossa pesquisa pretendíamos entrevistar 08 (oito) sujeitos dos quais 07 (sete) foram entrevistados. Devido ao tempo reduzido e principalmente porque, após darmos início aos procedimentos de análise de dados percebemos que as entrevista então realizadas haviam fornecido um material rico e interessante, discutimos no grupo e com o professor orientador e optamos por não executar a oitava entrevista, conforme planejado e registrado inicialmente no projeto. A seguir apresentamos as categorias analíticas de nosso estudo, sustentadas por expressões de adeptos e não adeptos ao neopentecostalismo.6 6 As expressões identificadas com um asterisco, referem-se ao contexto de serem ou não adeptos ao Neopentecostalismo que se pauta pela teologia da prosperidade. A disposição dos depoentes e suas respectivas falas nos quadros de categorias respeitaram a mesma ordem crescente, por data de realização das entrevistas. O conteúdo literal das falas dos depoentes foram apresentados entre aspas (“ “), já o conteúdo sem aspas refere-se as falas que sofreram redução de dados.


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QUADRO 1. Categoria “Influências da família na escolha da religiosidade”. DEPOENTES *ADEPTOS “...fui católico desde que nasci. Minha família era Adepto a Igreja católica...mãe...era católica praticante mesmo...” Renascer em “...foi através do vínculo da família com a igreja Cristo católica que entendi que existia um Deus...” “...relação com a igreja católica, acho que foi assim, na minha... família... um grande influenciador...” “...Meus pais continuam católicos...” ”...religião estava na história da família que foi mudando...” “ Tenho uma filha e eu vou educar ela assim... deixar claro para ela o livre arbítrio e o caminho. A bíblia me garante que quando ela crescer ela não vai se desviar dele...” “...o que me motivou a chegar na igreja foi...mudança Pastor da Igreja que eu vi na minha família...”; Universal do Reino “...vendo essa mudança foi que me despertou a de Deus vontade de conhecer aonde eles estavam indo, então eu comecei a ir na igreja essa época...” “...queria saber o motivo de tanta fé que eles tinham, tanto assim na igreja, e foi ai que comecei na igreja...” DEPOENTES *NÃO ADEPTOS Padre da Igreja “...Eu nasci de família católica e sempre fui Católica católico...” Apostólica “...meu pai, minha mãe, que conduziram nessa Romana direção...” Pastor da Igreja Evangélica Neopentecostal

“... a minha família vem de bisavô neste contexto de linha evangélica...” “... eu fui criado neste contexto de Igreja... mas era uma igreja mais tradicional...”

Líder Espírita Kardecista

“...minha mãe...queria levar meu pai...eu comecei a acompanhar ela...”

Adepto ao Pentecostalismo

"... através de meus pais eu conheci a igreja...” "...meus pais me trouxeram como criança e eu cresci nesse ambiente pentecostal..." “... Eu fui batizada na igreja católica. Eu fiz ... comunhão...”

Agnóstico


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A categoria “Influencias da família na escolha da religiosidade” (Quadro 1) apresenta o quanto a família influenciou a escolha da religiosidade. Em geral a família quando inserida em um contexto religioso procura educar os filhos baseado nos mandamentos de sua respectiva doutrina, isso necessariamente não determinará a continuidade dos filhos na doutrina ensinada, pois, caberá ao próprio sujeito fazer suas escolhas “... bom, cheguei na igreja com dezesseis anos e até mesmo o que me motivou a chegar na igreja foi... a mudança que eu vi na minha família, meu pai que era doente, tinha câncer que foi curado na igreja até mesmo. Então vendo essa mudança foi que me despertou a vontade de conhecer aonde eles estavam indo, então eu comecei a ir na igreja essa época. Nunca fui, nunca fiz muitas besteira... nunca vivi uma vida muito errada, mas eu queria saber o motivo de tanta fé que eles tinham, tanto assim na igreja, e foi ai que comecei na igreja, comecei a participar , fui vendo essas mudança na vida deles, foi que me interessou, então que eu cheguei...” (PASTOR DA IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS).

Através do vínculo familiar, as mudanças positivas ou negativas podem ser identificadas contribuindo para que o sujeito possa fazer suas escolhas em relação ao caminho que deseja seguir.


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QUADRO 2. Categoria “Estratégias adotadas pelas igrejas, que contribuem para o seu crescimento”. DEPOENTES Adepto a Igreja Renascer em Cristo DEPOENTES Padre da igreja Católica Apostólica Romana

Pastor da Igreja Evangélica Neopentecostal

Líder Espírita Kardecista

Adepto ao Pentecostalismo Agnóstico

*ADEPTOS “...na evangélica...cantam, dançam, fazem... Usam jeans...não tem rigidez...” A igreja permite que os adeptos sejam pessoas comuns, “...igreja é mais imediatista....soluciona problemas.” *NÃO ADEPTOS “...eles conseguem fazer uma coisa...que é o anseio do momento...conseguem colocar você próximo dos outros...mas não tão próximo...depois parece que esvazia.. mas ao mesmo tempo você fica descolado...” “...a igreja católica...tem trabalhado muito em formar pequenas comunidades...tem lutado pra formar pequenos grupos...pra colocar a pessoa em contato, fazer, participar das missas, mais envolvimento...” Trabalhar com células porque fica mais fácil o pastoreio, fica mais fácil cuidar de um grupo menor “... chegar próximo de uma história de vida... ou... das necessidades espirituais, e qualquer coisa parecida...” “... mostrar... que Jesus pode mudar uma vida, de dentro para fora...” Alimentar as ovelhas ajudá‐las nas dificuldades do dia a dia, em sua luta espiritual. “... cumprir o papel evangelístico que Jesus deixou aqui na terra, que é a base ide por todo mundo fazei discípulo...” “... precisa ter também metodologia diferente...” “...algumas pessoas são convidadas...” “...alguns ficam captando...” “...quando...estão passando por necessidade... emocional...enfermidade...” “...começam a se aproximar e interagir...” “...como...estive abraçando carinhosamente...” “...levando pra algum templo religioso...” “...tornaram‐se evangélicos...” “...eles começam a perder adeptos... são obrigados a recorrer lá nas velhas formas do passado e trazer para atualidade como novidade...” “...vejo movimento de busca da seita... busca de poder aquisitivo ...quando começam a perder o poder de fogo ...eles são obrigados a reeditar tudo ...modificar totalmente o foco é igual marketing hoje em dia...” “... ofertas... melhoria de vida repentina... reuniões focadas pra prosperidade... a pessoa é estimula da fé pra melhorar de vida financeiramente,... é o slogan que chama bastante a atenção, prosperidade...” “... Imediatismo acho que esse é o foco...” Pode ser que algumas dessas igrejas ofereçam algum pacote que satisfaça algumas pessoas.


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A categoria “Estratégias adotadas pelas igrejas, que contribuem para o seu crescimento” (Quadro 2), apresenta conteúdos que indicam o que as Igrejas fazem visando o crescimento no número de fiéis. De acordo com Pierucci e Prandi, (1996), as religiões estabelecem relações diferentes com a cultura, esta dinâmica de relações é importante para entender seu crescimento, estagnação ou declínio e é a partir destas dinâmicas que as religiões moldam suas estratégias de conversão, definem consumidores, propagandas e estabelecem meios e técnicas para captar fiéis. Atualmente algumas denominações religiosas realizam trabalhos de evangelização em pequenos grupos objetivando estarem mais próximos dos fiéis, conhecê-los, cuidá-los. Estratégias como essa não foram identificadas em Igrejas neopentecostais que se pautam pela teologia da prosperidade, visto que uma de suas características consiste em arrebatar multidões. “... mais é, as pessoas estão em busca de se encontrar mesmo né uhum, eu imagino que seja isso, então ah, pode ser que a igreja é... essas daí por exemplo, ofereçam algum pacote que satisfaça algumas pessoas né fica todo mundo procurando e eu não critico...” (AGNÓSTICA).

Essas estratégias ou pacotes, falando particularmente das igrejas neopentecostais que se pautam pela teologia da prosperidade, contemplam campanhas, reuniões, entre outras, cujos temas centrais são verdadeiros chamarizes, remetem-se a prosperidade e a cura de todos os males, conforme trecho de nossa entrevista: “ofertas... melhoria de vida repentina... reuniões focadas pra prosperidade... a pessoa é estimula da fé pra melhorar de vida financeiramente... é o slogan que chama bastante a atenção, prosperidade...” (ADEPTO AO PENTECOSTALISMO).


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De maneira geral, diversas são as estratégias adotadas pelas igrejas para obtenção de fiéis, essas estratégias se diferem no sentido de qual o público alvo, qual é a pretensão da igreja e qual o contexto cultural inserido, ou seja, as denominações religiosas possuem públicos diferentes, logo deverão possuir metodologias diferentes.

DEPOENTES Adepto a Igreja Renascer em Cristo

QUADRO 3. Categoria “Motivações que conduzem as pessoas às igrejas”. *ADEPTOS “...questão aí, também de afinidades de crenças.” “...procurar alguma coisa que agregue mais... na sua vida.” “...todos nós temos ...um vazio, uma coisa... uma ansiedade... uma carência que só Deus preenche.” “... toda a criação anseia pelo criador ...” “...essa necessidade... foi preenchida... na igreja evangélica.” “... Aumenta a tua fé.. sem fé é impossível agradar a Deus...é a certeza daquilo que você não vê, mas você espera...” “... se você não sabe... se tá certo ou se tá errado... mas você acha na... bíblia...isto te orienta...” “... bíblia fala ...de ética...de moral...de bem, de vida.... porque isso é muito mais incisivo no evangélico...fica muito mais claro...Querido, não...você não deve fazer isso...” “...As pessoas precisam de respostas... tem necessidade...de encontrar Deus.” “...tem gente que vai por farra...que vai porque gosta... se assemelha,... se identifica com o pastor ...na...essência...procurar...preencher a lacuna... necessidade de resposta... em Deus...” “...serem mais felizes...garantir a vida eterna...” “...estão congregadas ali...estão em busca de Deus...” “...você tem que encontrar o caminho que te mude e o caminho... é Deus.” “...você que habilita a benção de Deus na sua vida... você é que dá o passo.” “...é que a gente tem que estar preparado para ser abençoado por Deus...” “...não viro as costas para Deus. Me relaciono com ele, falo com ele, assim eu vou ser abençoado...” “...Não interessa... quando você acredita que Deus é soberano...” “...eu permaneço firme porque eu acredito...”


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Pastor da Igreja Universal do Reino de Deus DEPOENTES Padre da igreja Católica Apostólica Romana

Pastor da Igreja Evangélica Neopentecost al Líder Espírita Kardecista

Agnóstico

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“...acredito... pelo despertar da fé das pessoas... uma saída pra diversos tipos de problemas... por não ter encontrado lá fora... não ter achado uma saída pra esse problemas... tem procurado a igreja... se apegar mais em Deus, é acreditar mais em Deus... certeza que Deus pode trazer uma saída... solução pros problemas... vivido... devido aos problemas e ao sofrimento... tem buscado mais a Deus...” *NÃO ADEPTOS “...anseio que a pessoa tem...” “...algo maior transcendente...” “...não só imanente...” “...proposta mais próxima...mais envolvente...que alcance você...” “...você ganha...estabilidade...” “...você não fica mais anônimo...” “...bem estar...” “... a pessoa que procura está aberto para Deus...” “... ele está procurando uma vida com Deus...” “... quem procura é porque ele quer muita espiritualidade na vida dele, e ele procura Deus...” “... as pessoas estão em busca de se encontrar mesmo...” “...é a carência no geral...social...intelectual...” “...uma doença...sofrimento...desemprego...” “...leva a pessoa a buscar...” “...fontes de conhecimento...” “...desenvolvimento...” “...o ser humano erra tanto no seu dia a dia...questão de trabalho...erra intimamente...chega um momento...fica desnorteado...ele tem que recorrer a determinadas pessoas pra poder tentar se encontrar de novo...” “... elas estão em busca de uma comunidade de um pertencimento uma coisa que se perdeu hoje em dia...” ”... a palavra chave é o pertencimento, pra mim né e busca de caminho...” “... uma razão de viver...” “... sentir que existem mais pessoas ao meu redor que pensam como eu...” As pessoas vão a igreja querendo realmente uma opinião, às vezes do pastor e do líder. As pessoas estão carentes... de uma comunidade, de uma ajuda, de um caminho...”


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Na categoria “Motivações que conduzem as pessoas às igrejas” (Quadro 3) foi possível identificar, a partir das falas dos sujeitos, aspectos que desde o início da pesquisa, cogitamos como fatores possivelmente presentes entre os adeptos de quaisquer denominações religiosas sem, no entanto, termos elencado tais fatores em nossa hipótese, como causas no fenômeno do crescimento das denominações neopentecostais no Brasil. Um desses aspectos que surgiram nessa categoria foram as questões relacionadas à necessidade inerente ao ser humano na busca de uma religiosidade. Segundo Siqueira (2006) o termo religiosidade, tem sua raiz, na articulação da palavra “religando” que surgiu o sentido de ligar-se ou religar-se a Deus, ligação esta baseada na submissão do homem a Deus e adoração do homem a Deus que lhe retribuiria com amor. Com o passar do tempo esta “religação” passou à religiosidade, com um sentido mais amplo, não apenas religiosidade para com Deus compreende também outras formas de poderes invisíveis, divinos ou sobre naturais. O autor usa inclusive a expressão; “homo religiosus”, afirmação esta que o autor coloca em questionamento. “... quem procura é porque ele quer muita espiritualidade na vida dele, e ele procura Deus... então isso é umas das coisas que eu enxergo no fato de procurar...” (PASTOR DA IGREJA EVANGÉLICA NEOPENTECOSTAL).

Poderíamos entender a religiosidade como característica constitutiva da existência humana? Siqueira (2006). Entendemos que sim, a religiosidade é inerente a condição humana. “... eu penso que esse anseio que a pessoa humana tem dentro dela, algo maior transcendente, não só do imanente, e ai se você tem uma proposta mais próxima, mais envolvente, que alcance você em determinado momento, eu acho que você acaba seguindo essa proposta, mas pra mim o que esta no fundo de tudo isso, é esse desejo mesmo de vida eterna,


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de algo maior do que só essa vida que se tem no cotidiano...”(PADRE DA IGREJA CATÓLICA APOSTÓLICA ROMANA).

Outro aspecto são os laços presentes entre os membros de um grupo que concedem a cada um deles, falta de personalidade (FREUD,1978). Segundo o mesmo autor, essa circunstância possibilita ocorrências que poderiam gerar limitações e alterações possíveis de serem observadas nas personalidades, dos membros desses grupos. “... caminho mesmo... existem mais pessoas ao meu redor que pensam como eu acho que o principal, palavra chave é o pertencimento... e busca de caminho...” (AGNÓSTICA)

Podemos observar também a fala de outro entrevistado. “Você pertencendo a uma denominação assim você ganha, essa possibilidade, essa estabilidade, encontre outras pessoas que também pensam como você, caminha em uma direção próxima da que você caminha, você não fica mais anônimo no meio de tanta gente, pertencimento, o envolvimento, ficar próximo de alguém. Isso é bom, é necessário.” (PADRE DA IGREJA CATÓLICA APOSTÓLICA ROMANA).

Os anseios e necessidades inerentes à condição humana conduzem os indivíduos na busca da religiosidade, em alguns casos, com uma crescente escolha, pelas denominações religiosas neopentecostais.


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QUADRO 4. Categoria “Possíveis mudanças na vida das pessoas que se tornam adeptas ao Neopentecostalismo que se pauta pela teologia da prosperidade”. DEPOENTES Adepto a Igreja Renascer em Cristo

Pastor da Igreja Universal do Reino de Deus

DEPOENTES Padre da igreja Católica Apostólica Romana Pastor da Igreja Evangélica Neopentecostal

*ADEPTOS ”...Depois ...você passou realmente a entender e a aceitar a Deus.” “...tem gente que está na...a igreja...continua a mesma porcaria de antes...Ele não quer mudar...” “...mudou pra mim... eu era...cheio de críticas... encucado ...problemas...infância...casa...pai alcoólatra...ausente... casa cheia de mulheres...” “Não tinha referência...tudo para ser um homossexual... era pessoa problemática ...atormentado...sonhava que matava...meu pai...Comecei a entender a existência de Deus... começou a mudar...Deus... vai...me ajudar...” “...mudou bastante também foi, na família,...” “...movimento evangélico...Deus mudou primeiro a mim, depois os outros...”, “... principal mudança que foi eu acho que foi, dentro da minha família... deixar caminhos... de morte...” “...minha vida que mudou da água para o vinho... Deus chegou antes...” “...minhas irmãs mudaram...da água para o vinho.” “...só vai ter essa mudança se... conhecer Jesus...” “...mudança de vida, mudança de... hábitos de personalidade...” “...conversão...converto, mudo de caminho.” “...O caminho é Jesus...quando a gente entende isso...a coisa muda para melhor...” “...mudou...em mim...comecei a ser uma pessoa mais independente...tenho que ter minhas coisas...resolver minhas coisas...ter despertado pra vida...” “...mudou...comecei a ser uma pessoa com mais atitude, arrumei um emprego e comecei a trabalhar...” “...passa a pensar de uma maneira diferente...modo diferente de pensar...modo diferente de encarar a vida...” *NÃO ADEPTOS “...tomam a proposta de Jesus Cristo...é gostoso ouvir o evangelho...produz bem estar na vida das pessoas...faz bem para ela...” “... se essa pessoa conheceu a Jesus de verdade, muda tudo...” “... se essa pessoa conheceu apenas as normas da Igreja muda só para um regime eclesiástico...” ó ó


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Líder Espírita Kardecista

Adepto ao Pentecostalismo Agnóstico

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“... se ela só pertence a uma Igreja o que muda são só os rituais...” “... eu enxergo mudanças quando Jesus entra na vida de uma pessoa... do contrário... talvez haja mudança de uma... forma de comportamento, mas não interno não de caráter, isso não muda...” “... eu creio em mudanças de verdade... não só de rótulo de comportamento...” “...que precisa melhorar algo dentro de você...a pessoa passa a ser mais consciente das suas responsabilidades...valorizar mais a ação...passa a ser mais honesta...mais ética...” “... a pessoa consegue ser mais organizada...pensar melhor antes de tomar atitudes...” “... eu acho que se encontram...”

Na categoria acima, “Possíveis mudanças na vida das pessoas que se tornam adeptas ao Neopentecostalismo que se pauta pela teologia da prosperidade” (Quadro 4), as respostas dos sujeitos seguem na direção de uma representação social positivada acerca das mudanças que ocorrem ou e esperado que ocorra na vida das pessoas que se tornam adeptas. Segundo Prandi (2008) quando se tem uma religião internalizada, a mesma influencia a visão de mundo, além de orientar condutas, mudar hábitos e valores. Podemos relacionar tais mudanças citadas pelo autor aos testemunhos de vida relatados por alguns adeptos ao Neopentecostalismo que se pauta pela teologia da prosperidade na mídia. As mudanças, de forma geral, são avaliadas como positivas. São vistas como algo que transformou para melhor a vida do adepto. “... minha mãe chegou na igreja, ela foi na igreja alguns dias, meu pai mesmo assim ainda não ia, ai depois que a situação piorou um pouco mais, ele resolveu tentar, ai foi quando ele foi, ai foi curado, eu vi minha mãe que também era uma pessoa depressiva e tudo mais, fui vendo a mudança na vida deles e isso me interessou, falei assim bom se tem ajudado eles pode me ajudar também...” (PASTOR DA IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS).


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De certa forma, tais mudanças, são esperadas pelos depoentes sejam eles adeptos ao neopentecostalismo que se pauta pela teologia da prosperidade ou não. Essa mudança, de acordo com as falas dos depoentes, não ocorreria pelo simples fato de que a pessoa tornou-se adepto de uma denominação religiosa, mas porque através dessa denominação religiosa ele teve contato com os ensinamentos que constam na bíblia e a partir destes ensinamentos encontraria a Deus. “... então... você tem que encontrar o caminho que te mude e o caminho que te mude é com Deus. Então o testemunho de vida, em relação ao que muda... é a conversão. É a sua mudança de vida. Tenho certeza de que eu ia por um caminho e olha... esse caminho não era bom...” (ADEPTO A IGREJA RENASCER EM CRISTO). “... o que muda... quando a aplicação da palavra vem de uma forma certa a pessoa consegue ser mais organizada, pensar melhor antes de fazer, tomar atitudes, então eu vejo como ponto positivo no meio neopentecostal...” (ADEPTO AO PENTECOSTALISMO).

Em geral, as mudanças são vistas como positivas, salvo casos de tendências fanáticas que possam surgir.


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QUADRO 5. Categoria “Fatores positivos em relação ao crescimento das igrejas neopentecostais que se pautam pela teologia da prosperidade”. DEPOENTES

*ADEPTOS “...é expansão do reino de Deus...quando você trabalha com isso, é o Adepto a Igreja reino de Deus que está se instalando na terra... bom que seja assim... Renascer em Deus tem que prevalecer...” Cristo “...é a divulgação do caminho de Jesus...” “...vejo tudo de bom na expansão do reino de Deus.. quanto mais expandir...melhor...vai alcançar mais pessoas...o meio evangélico é mais eficaz... abrangência do reino de Deus, da salvação das pessoas...” “...O ponto é sempre positivo na questão da expansão dessas igrejas.” “...são muito... positivos...na expansão...as igrejas têm...crescer bastante...” Pastor da Igreja O crescimento das igrejas neopentecostais pautadas pela teologia da Universal do prosperidade pode fazer com que as pessoas pensem de um modo Reino de Deus diferente e melhor. DEPOENTES *NÃO ADEPTOS “...desejo mesmo de vida eterna...” Padre da igreja “...esse desejo esta no ser humano...” Católica “...é gostoso ouvir o evangelho...” Apostólica “...vem de encontro aos anseios...” Romana “...isso produz bem estar na vida das pessoas...” “...faz bem para ela... é algo bom...se sente bem...” “...dá limites para conduzir a sua vida...” “...ficar próximo de alguém, isso é bom...” “... Então a vantagem é que se cresce muito se propaga muito...” Pastor da Igreja “... você ter uma vida com Deus e viver isso independente da onde você Evangélica está...” Neopentecostal “... a bíblia nunca foi tão divulgada como hoje...” “... quando você junta... um milhão de pessoas, um cantor sertanejo e você tem um padre ...lá é uma maneira de divulgar o evangelho...” “..melhorar algo dentro de você...” Líder Espírita “...a pessoa passa a ser mais consciente...suas responsabilidades...” Kardecista “...valorizar mais a ação...” “...passa a ser mais honesta...mais ética...” “...eu prefiro mil vezes que apareça cinquenta igrejas na vila do que cinco botecos...de certa forma alguma coisa vai trazer de bom, pra essas pessoas...” “...tem sim o lado positivo, de alguma forma vai fazer que o ser humano se contenha em algumas atitudes...nem que seja o medo de uma represália...” “ ...melhorar a vida das pessoas...” Adepto ao “ ...oferta pra ajudar, desde que não prejudique as pessoas.” Pentecostalismo “... tem visões no meio neopentecostal que são importantíssima que até prega o paradigma que são pontos importantes...orientam” “...aquelas reuniões de empresário ajuda bastante...”


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A categoria do quadro 5 tem como intuito apresentar os fatores positivos vistos pelos sujeitos entrevistados em relação ao crescimento das Igrejas Neopentecostais pautadas pela teologia da prosperidade. Independente da orientação religiosa dos sujeitos entrevistados suas falas apontam o crescimento envolvendo as Igrejas Neopentecostais como fator positivo, uma vez que as motivações das pessoas que procuram essas denominações consistem em buscar melhores condições sociais, financeiros de saúde, etc. “... eu prefiro mil vezes apareça cinquenta igrejas na vila do que cinco botecos, então de certa forma alguma coisa vai trazer de bom, pra essas pessoas, nem que seja o medo imposto por uma doutrina que faça que a pessoa esteja ali, dando o seu dinheirinho na igreja, mas pelo menos ela esta se contendo um pouco mais, ela não passa, ela deixa muitas vezes de exercer vícios visíveis para manter apenas seus vícios interiores, baseados no seu orgulho na sua vontade...” (LÍDER ESPÍRITA KARDECISTA).

Outro aspecto ratificado pelos depoentes refere-se a ampliação da mensagem bíblica na sociedade. “... Positivo... eu vejo tudo de bom na expansão do reino de Deus... A bíblia diz assim; se vocês não falarem, as pedras falarão... Então, o crescimento da igreja tem que acontecer, porque se nós não fizermos isso... Deus vai levantar coisas para falar dele... quanto mais expandir isso, melhor vai alcançar mais pessoas. Tem muita gente que não consegue ter acesso a isso, então precisa expandir mais...” (ADEPTO A IGREJA RENASCER EM CRISTO).

O movimento de fé das pessoas inseridas no contexto neopentecostal é visto pelos depoentes como uma possibilidade de conduzir seus adeptos à atitudes mais honestas e éticas para condução de suas vidas.


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QUADRO 6. Categoria “Fatores negativos em relação ao crescimento das igrejas neopentecostais que se pautam pela teologia da prosperidade”. DEPOENTES Adepto a Igreja Renascer em Cristo

Pastor da Igreja Universal do Reino de Deus

DEPOENTES Padre da igreja Católica Apostólica Romana

Pastor da Igreja Evangélica Neopentecostal

Líder Espírita Kardecista

*ADEPTOS Não vejo ponto negativo na expansão do movimento das igrejas pentecostais. “...coisa...que vejo de ruim...quando alguém faz expansão por motivos que não sejam Jesus...Isso acontece, mas é coisa pontual... culpado não é a igreja,...não é Deus...não é o que está na bíblia.” “...um pastor briga com o outro,...vai e monta outra igreja... fruto de uma cisão...” As pessoas fazem da igreja como o pior lugar do mundo. “... um lugar que ninguém gostaria de estar... lugar que vai te impor a fazer algo...” Veem o comportamento de algum membro da igreja e dizem que não querem ser iguais a ele. *NÃO ADEPTOS “...algumas pessoas instrumentalizarem...anseios...” “...canalizar para fins de força política de lobby...” “...até para recursos financeiros...” “...vaidade pessoal...” “...projetar em cima...e tirar proveito dessa situação...” “...as pessoas não tem noção que estão sendo instrumentalizadas...” “... tem lugares que tem contextos que às vezes eu fico pensando... tem até vergonha de dizer que é pastor...” “... eu vejo tantos escândalos...” Alguns evangélicos aparecem em nomes de subornos, de corrupção e de tanta coisa, não é a Igreja que está por trás disso. “... muitas pessoas...diz sou católico, sou carismático, sou evangélico de nome, mais não vive aquilo...” A generalização que a sociedade faz diante de escândalos envolvendo pessoas que se dizem evangélicos. “... a desvantagem é que talvez a qualidade deste evangelho não é um evangelho bíblico... que está centrado na palavra... “ “...lado da exploração...falta de cultura religiosa...” “...querer facilidade...” “...pedindo coisas...” “...tirando muito proveito...disso...”


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Adepto ao Pentecostalismo

“...fanatismo...” “...não se preocupa com mudança interior...” “...vira as costas e toma mesma atitude...” “...se não houver a mudança...” “...meros zumbis...” “...a religião na grande maioria das vezes dentro de todas as denominações nada mais é do que um produto algo vendável...” “ ...interpretação bíblica superficial... o que realmente a palavra de Deus diz... o que o evangelho prega acerca do que é ser um cristão... o neopentecostalismo oculta esse lado...” “...questão de interpretação doutrinária das escrituras... por exemplo: se a pessoa está doente é por que a fé dela está fraca, isso não é a realidade bíblica...” “...o ponto negativo é dizer que a pessoa não tem fé pelo fato de tá passando pela crise, nem sempre é assim...”

A categoria “Fatores negativos em relação ao crescimento das igrejas neopentecostais que se pautam pela teologia da prosperidade” (Quadro 6) tem como intuito apresentar os fatores negativos vistos pelos sujeitos entrevistados em relação ao crescimento das igrejas Neopentecostais pautadas pela teologia da prosperidade. O movimento neopentecostal, de acordo com Romeiro (2005) por não possuir uma teologia definida, se constitui de várias posições doutrinárias e correntes teológicas, além disso, por se tratar de um movimento fragmentado onde alguns líderes são figuras fortes e carismáticas, cada grupo escolhe no que quer crer e determina sua própria liturgia. “... como pontos negativos, agora a luz do evangelho quem tem um conhecimento assim bíblico, agente vê que a interpretação bíblica ela fica meio superficial...”(ADEPTO AO PENTECOSTALISMO)

Os depoentes apontam como pontos negativos em relação ao crescimento das igrejas estudas a visão superficial da bíblia e sua forma de atrair grandes massas, praticadas pelas igrejas e que estas vem construindo uma imagem de comércio, sustentada pelas inúmeras promessas divulgadas pelas mesmas.


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QUADRO 7. Categoria “Como é avaliada a presença das Igrejas Neopentecostais que se pautam pela Teologia da Prosperidade nos meios de comunicação de massa (rádio e televisão)”. DEPOENTES Adepto a Igreja Renascer em Cristo

DEPOENTES Padre da igreja Católica Apostólica Romana Pastor da Igreja Evangélica Neopentecostal

Líder Espírita Kardecista Adepto ao Pentecostalismo

*ADEPTOS A mídia é um meio para cumprir um mandamento bíblico que é o de pregar o evangelho a todas as criaturas do mundo. “... temos que trabalhar... Levar o reino de Deus às pessoas...” Crítica da mídia porque a igreja pede dinheiro. “... temos que fazer... crescer a igreja... quero expandir o reino de Deus... com recursos atuais. Jesus... subia nos telhados para fala... a multidão acompanhava... hoje no telhado... eu ponho uma antena... atinjo... pessoas...” “... eu tenho que fazer obras maiores... Jesus falava no telhado hoje eu falo na tv...preciso...paga pela tv.” “... dificuldades, inclusive com a liderança da igreja... “...viram na mídia... um monte de acusações... tentaram imputar na mídia a imagem da igreja...” “... a mídia... expressão... Corpo de Cristo... ligo a tv e vejo lá... Edir Macedo... Silas Malafaia... RR Soares... penso. O corpo de Cristo avança...” *NÃO ADEPTOS “... aquilo que hoje está na mídia...” “... bancada evangélica... acabam elegendo um número significativo de deputados e senadores... esse poder... votos coesos... eles agem por interesse... a coisa é bem montada... um grande poder na assembleia... manipular essa população...” Você tem uma imagem televisiva que é passada que é bem diferente, das Igrejas do cotidiano “... você olha e fala assim que todo crente é desse jeito, todo crente é daquela forma, ou rotular, todo católico é dessa forma e não é, entendeu?...” “... algumas Igrejas apresentam... promessas de cura... dinheiro, eu ouço isso na televisão e você também, a bíblia... nunca prometeu riqueza pra ninguém, a benção de Deus que está lá é no âmbito geral...” “... hoje em dia vê uma igreja universal na TV onde tem sessão de descarrego, sessão de cura, tem um monte de coisa...” “... exatamente, isso que tem mobilizado as massas...” “... TV, rádio, reuniões que reúnem milhares pessoas, lançando aquele propósito, causa também do amor, dos relacionamentos, tem várias áreas... vai na ferida da pessoa, se a pessoa ta sofrendo naquela área ..já vai naquele propósito.”


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A categoria “Como é avaliada a presença das Igrejas Neopentecostais que se pautam pela Teologia da Prosperidade nos meios de comunicação de massa (rádio e televisão)” (Quadro 7) tem como objetivo apresentar como é vista pela sociedade a presença das igrejas neopentecostais que se pautam pela teologia da prosperidade nos meios de comunicação em massa tais como televisão e rádio. A presença maciça das Igrejas, em sua maioria, Neopentecostais nos veículos de comunicação, é uma nova forma de evangelização que vem ganhando espaço de maneira significativa em nossa sociedade, caracterizando-se como um instrumento de evangelização e captação fiéis. É através deste espaço que as Igrejas divulgam suas promessas e tentam dar peso ao cumprimento das mesmas através de testemunhos de cura e prosperidade financeira, conforme o comentário abaixo: “... “algumas Igrejas têm... algumas caminhadas que... por exemplo, algumas promessas de cura, promessas de dinheiro, eu ouço isso na televisão e você também, tá, eu ouço isso e tal eu ouço isso, tá, a bíblia na realidade se você conhecer um pouco mais, ela nunca prometeu riqueza pra ninguém, a benção de Deus que está lá é no âmbito geral, eu conheço muita gente que não tem nada a ver com Deus e tem dinheiro...” (PASTOR DA IGREJA EVANGÉLICA NEOPENTECOSTAL).

Segundo Romeiro (2005) a disputa pelo espaço na mídia está longe de terminar e a tendência é crescer cada vez mais. Alimentado pelo mercado e pelas pressões financeiras das instituições, algo que exige um marketing na busca por novos adeptos. “... como agente vê na TV, no radio, são reuniões que reúnem milhares pessoas, lançando aquele propósito ou até mesmo causa também do amor, dos relacionamentos, tem várias áreas... é vai na ferida da pessoa né, então se a pessoa ta so-


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frendo naquela área opa! chamou atenção, já vai naquele propósito...” (ADEPTO AO PENTECOSTALISMO).

As igrejas midiáticas apresentam em seus programas inúmeras promessas e é evidente que os telespectadores se identificam com as mesmas, atentando para aquilo que mais chama sua atenção, dependendo da situação que estão passando. Estes programas de televisão acabam proporcionando atrativos às questões mais recorrentes da sociedade, como dificuldades financeiras, enfermidades, necessidade de pertencimento entre outros. “... tem ocasiões na bíblia que fala que Jesus subia nos telhados, que entrava nas casas e que a multidão acompanhava. Hoje eu não preciso mais subir no telhado, agora o que é que tem no telhado?... uma antena neh...? Eu tô um pouquinho mais moderno que Jesus... Então eu ponho uma antena e atinjo aquela pessoa. Ele diz assim lá em João 14:12: “... que aquele que crer em mim, também fará as obras que eu faço e as fará maior que estas... porque eu vou para o meu pai...” Então eu vou fazer maior do que ele, eu vou falar para mais pessoas do que ele, eu vou evangelizar mais do que ele... então eu tenho que...fazer obras maiores... se ele falava no telhado hoje eu falo na tv...” (ADEPTO A IGREJA RENASCER EM CRISTO).

A presença das igrejas neopentecostais que se pautam pela teologia da prosperidade nos meios de comunicação é vista como uma forma atualizada de acesso a grandes massas, esta presença também é avaliada de maneira subjetiva pelos entrevistados com conotação tanto positiva quanto negativa, onde a positiva seria a divulgação do evangelho pelo mundo e a negativa consiste em apresentar promessas de prosperidade financeira em nome de Deus uma vez que o mesmo não prometeu riquezas para ninguém e, além disso, transmitem uma imagem distorcida do evangélico o que contribui para uma representação social negativa do mesmo.


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QUADRO 8. Categoria “Concepções sobre as Igrejas”. DEPOENTES Adepto a Igreja Renascer em Cristo

Pastor da Igreja Universal do Reino de Deus DEPOENTES Padre da igreja Católica Apostólica Romana Pastor da Igreja Evangélica Neopentecostal

*ADEPTOS “... a igreja é a porta para conhecer Jesus.” “... a igreja é Jesus... os dogmas da igreja é que são diferentes...” “... igreja evangélica...mais incisiva...nela a gente sabe o caminho...” “... o que eu ouvi na igreja evangélica foi muito mais contundente... focada, mais rápido...” “... a visão da igreja... é uma visão de reconstrução...” “... me achego mais a Deus... me aproximo mais dele...na igreja ....tem o caminho...” “... cada uma tem... suas particularidades...” “... a igreja na essência... fazer Jesus ser o centro das coisas...” “... nas evangélicas... tem muito mais novidades, tem o que as pessoas gostam...” “... a igreja tá muito avançada... tá no rádio... tá na mídia... no jornal... no meio artístico... acessível em todos os lugares...tá no governo... “ “... todas as igrejas... se pedem... muitas pessoas vêem isso... a igreja... como um comércio... não é assim...” *NÃO ADEPTOS “... a igreja católica é muito de Deus ...” “... são igrejas que atraem muita gente...”

O mais importante não é conhecer uma Igreja, nem ser membro de uma... o importante é conhecer Jesus. “... Igreja nenhuma salva...” “... Igreja nenhuma muda a vida de ninguém, pode mudar comportamento...” “... bancada evangélica...” ”... é muito mais fácil convidar uma pessoa para ir a minha casa do que ir na Igreja...” “... a Igreja tem uma barreira...” Se você for pensar a Igreja não tem muitos atrativos. “... vida com Deus não é só Igreja... ás vezes Igreja até nem trás muito vida com Deus...” “... Igreja é algo que a gente vai no convívio com os irmãos...” “... único caminho é Jesus, não é a Igreja...” “... lugar que nós nos reunimos por afinidades, por uma série de questões...”


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Líder Espírita Kardecista

Agnóstico

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“... é mais difícil ir para a igreja... talvez num evento esporádico...” “... convidar para um culto é muito complicado...” “... será que vão fazer uma lavagem cerebral na minha cabeça? Ou será que eu vou ter que mudar? Será que eu não vou poder mais ir aos lugares que eu ia?...” “... as Igrejas estão mudando...” “... atinge parcelas diferentes, atinge público diferente, atinge... pessoas diferentes...” “... eu não queria estar em uma Igreja com alguns parâmetros... mais rígidos... uso e costumes nós chamamos...” Talvez o medo que as pessoas sentem do possível vínculo seja uma herança da rigidez Pentecostal. “... manifestação em línguas... era proibida dentro da igreja católica tradicional...” “... já não é mais a essência que era as igrejas protestantes do começo...” “... muito provavelmente essas igrejas fazem bem...” “... uma preocupação é saber será que todas essas igrejas são realmente éticas ehh honestas né. Ai é uma dúvida...” “... deve existir... igrejas que tenham esse nível de respeito com os fiéis...” “... se a igreja fosse realmente descente...”

A categoria “Concepções sobre as Igrejas” (Quadro 8) apresenta as representações acerca das Igrejas sendo estas de qualquer linha teológica. Em geral, as pessoas concebem a Igreja como um caminho, um acesso à Jesus, um lugar onde elas se reúnem por diversos fatores, desde necessidades materiais à afinidades. Por outro lado existem algumas barreiras que são enxergadas por algumas pessoas em relação ao acesso a igreja, principalmente em se tratando de um possível vínculo. Isso é percebido mesmo diante de igrejas que possuem afrouxamento dos costumes como é o caso das neopentecostais, visto a herança da rigidez pentecostal presente no imaginário social. Considerando que cada denominação religiosa possui sua própria doutrina ou seu próprio movimento, cabe a cada indiví-


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duo escolher onde quer estar de acordo com as características da Igreja. Sobre este aspecto, Prandi (2008), diz que a religião não é mais herdada e sim adquirida por escolha própria. A fala abaixo exemplifica esta adesão referida pelo autor: “... eu sabia o que eu não queria, então eu não queria estar em uma Igreja com alguns parâmetros, digamos, mais rígidos,... uso e costumes nós chamamos, então isso eu não queria, isso eu não quero para mim, e a minha mãe fazia parte de uma Igreja desse jeito, não pode, não pode não pode...” (PASTOR DA IGREJA EVANGÉLICA NEOPENTECOSTAL).

Podemos supor que a presença ou ausência de normas rígidas como, por exemplo, usos e costumes contribuem para uma possível adesão ou afastamento das pessoas em relação a uma denominação religiosa. Em um mesmo movimento religioso pode haver discursos e práticas diferentes. Vivemos em uma sociedade capitalista, imediatista e consumista, se uma igreja para se desenvolver precisa a priori conhecer a cultura existente, logo saberá quais são suas demandas e então traçará estratégias para atendê-las.


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QUADRO 9. Categoria “Representações acerca dos evangélicos tradicionais”. DEPOENTES Adepto a Igreja Renascer em Cristo

Pastor da Igreja Universal do Reino de Deus

DEPOENTES Pastor da Igreja Evangélica Neopentecostal

Adepto ao Pentecostalismo

*ADEPTOS “... crentes...só pensam em Jesus...” “... evangélicos como aquelas pessoas de saias compridas, cabelos longos com pelos debaixo do braço... com uma bíblia... uma herança Pentecostal...onde muitas vezes há o abuso de doutrinas...”. “... você não pode fazer isso... não pode fazer aquilo... não pode assistir televisão...” “... eu te encontro no shopping e falo... você não pode ir no shopping, você vai na igreja...” “... você... tem uma namorada... não pode ficar aqui com ela... tem que ficar na igreja... tem que se vestir assim se você colocar um shorts... é errado...” *NÃO ADEPTOS “... não pode ter televisão em casa, não pode ir para o cinema, não pode usar bermuda...” “... antigamente você via... aquela pessoa distante, aquele cara de terno e gravata domingo na hora do almoço, destoa muitas vezes...” “... Igreja tal... passo a imagem... do evangélico cabisbaixo... chato... complicado... que não vai no cinema...” “... antigamente fazia isto agora não faz... porque não pode, a Igreja não permite, humm... isso não muda nada...” “... comunidades mais tradicionais em sua maioria os pastores querem conhecer... visitas são comuns...” “... a questão de costumes é parte do princípio... as igrejas tradicionais, mais antigas, eles... pregam o evangelho pra restauração de vidas, no sentido espiritual, questão de pecado, de vícios, vários outros aspectos... o trabalho nunca é individualizado, é observado pelo pastor...”


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A categoria “Representações acerca dos evangélicos tradicionais” (Quadro 9) se refere às representações construídas socialmente acerca do evangélico tradicional, considerando tradicional como sendo o evangélico pentecostal, cujas características se pautam em usos e costumes rígidos além de receberem o Espírito Santo através de manifestações representam os dons de Deus. A rigidez pentecostal em relação aos usos e costumes corrobora para a construção de representações acerca do evangélico, conforme a fala a seguir: “... uma moça que ela é lésbica e é filha de uma cantora famosa, e ela tinha uma namorada e ela... ela tentou se inserir no meio da igreja evangélica mas não foi aceita devido e essa prática dela pelo fato dela ser lésbica não ser aceita, e é uma coisa... que... que a bíblia ela... vem de encontro né a essa prática, então ali foi relatado esse assunto, que a pessoa não foi aceita na comunidade, porque... pra quem é evangélico, quem é cristão, segue a palavra de Deus isso daí não é aceito a pessoa precisa tirar esse pecado ...”(ADEPTO AO PENTECOSTALISMO).

Se compreendermos que nos relacionamos com o mundo da mesma forma em que nos relacionamos conosco, podemos suspeitar que os evangélicos tradicionais transmitem rigidez em suas relações. Alguns usam o discurso de romper com as “coisas do mundo”, para tanto se privam de diversas situações cotidianas, o que ajuda a reforçar a imagem perante a sociedade de uma pessoa chata, distante e presa às doutrinas. Diante disso, surgem alguns questionamentos, conforme o depoimento abaixo: “... antigamente fazia isto agora não faz isso porque não pode, a Igreja não permite, humm... isso não muda nada, o que muda a vida é Deus na vida de uma pessoa, então isso muda, então mais pode ser que uma série de modos de ser, modos operantes de ser é claro, é devido a cultura que a gente tem e


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tudo mais...” (PASTOR DA IGREJA EVANGÉLICA NEOPENTECOSTAL).

O rigor doutrinário estabelecido em algumas denominações religiosas, principalmente as pentecostais, desperta em muitas pessoas o receio de se vincular a uma igreja evangélica, pois esses candidatos à conversão não aceitam abrir mão de alguns comportamentos que, por sua vez, são abominados por essas igrejas. QUADRO 10. Categoria “Representações acerca dos novos evangélicos”. DEPOENTES *ADEPTOS “... uma vida é comum como qualquer outra...” Adepto a Igreja “...o centro da nossa vida...é Jesus.” “...tenho obrigação de realizar meus sonhos Renascer em materiais...materiais...espirituais e emocionais...” Cristo “... eu sou um projeto de Deus...” “...você é como eu uma pessoa que Deus ama...não depende da igreja...”. Somos fruto do sonho de Deus. “... eu me amo... para poder amar o próximo...” “... me cuido... tenho tempo de descanso e lazer... exercícios...vou a restaurantes...assistir televisão... gosto de ler...curso que estou fazendo...” “... questão fundamental...o não‐fanatismo...” “... uma família... comum como qualquer outra, cheia de problema ...” “... não posso ser permissivo... tudo é lícito, mas nem tudo me convém... Deus respeita nosso livre arbítrio... deu liberdade.” “... posso roubar... matar... sabe porquê que eu não faço? Porque eu não quero...sei a verdade...isso não me faz bem...” “... você tem consciência... do que é errado...” “... sou a mesma pessoa aqui... na igreja, na empresa... Eu erro, eu acerto... Eu tento caminhar para a perfeição...” Eu sei que o perfeito é Jesus, é nele que eu tenho que me espelhar e em mais ninguém.


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DEPOENTES Pastor da Igreja Evangélica Neopentecostal

Adepto ao Pentecostalismo

“... evangélicos cantam, dançam... usam jeans... não tem rigidez de costumes...” “... sou careta, neste sentido prefiro ser careta... e me manter próximo à Jesus...” “... manter... as pontas da vida... trabalho, escola, família...” “... faço um trabalho... me empenho em ajudar a reconstruir a vida das pessoas... reconstruir o que está destruído.” “... sou evangélico... acredito... quero falar de Deus...” *NÃO ADEPTOS “... hoje você usa bermuda...” “... eu gosto demais de cinema... tem um monte aqui na Igreja que vivem indo para os estádios... eu sou uma pessoa normal, vou para a praia na medida do meu possível... tem um monte de gente da Igreja que tem casa de campo tem casa na praia...” “... agente vê assim na questão do neopentecostal... às vezes a pessoa tá envolvida com algumas coisas que em outras comunidades seriam rejeitadas não seriam aceitas no ceio da comunidade...” “... no movimento neopentecostal que as pessoas já são inseridas imediatamente...”

A partir da análise da categoria “Representações acerca dos novos evangélicos” (Quadro 10), buscamos identificar qual a representação social que surge em relação aos evangélicos ligados às novas igrejas, que embora se denominem Igrejas Evangélicas, apresentam muitas diferenças com relação às igrejas Evangélicas tradicionais. Tais diferenças se caracterizam principalmente pelo afrouxamento das regras de conduta social, reconhecidas no meio evangélico, como usos e costumes. “Há alguns anos atrás, as pessoas rotulavam os evangélicos como aquelas pessoas de sais compridas, cabelos longos com pelos debaixo do braço, que andavam com uma bíblia debaixo do braço... E hoje não tem mais nada a ver com isso”. (ADEPTO A IGREJA RENASCER EM CRISTO).


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Segundo Siqueira (2006) as igrejas que adotam uma postura retrógrada e desconsideram os aspectos culturais vigentes em um determinado tempo e contexto, mostram-se desatualizadas e por consequência, fora da realidade, tornam-se incapazes de acompanhar os tempos, abre-se aí espaço para as novas igrejas, que se apresentem mais próximas das demandas culturais sociais e econômicas da sociedade contemporânea. São as igrejas neopentecostais as quais amparam a fé dos novos evangélicos. Já Prandi (2008) considera que os valores e normas das religiões só fazem sentido no contexto da realidade vivida pelos indivíduos em relação às ações que os orientam e que podem constituir padrões culturais. Durante a pesquisa de campo foi possível identificar para além das falas dos depoentes o quanto as novas denominações religiosas, como as estudadas, são permeadas pela preocupação em estarem adequadas ao contexto cultural. QUADRO 11. Categoria “Atitudes pessoais que contribuem para o crescimento das igrejas”. DEPOENTES *ADEPTOS “...Não... perder...oportunidade de falar de Jesus...” Adepto a Igreja Renascer em Cristo “...não quero ser mais um... quero ser mais.... ser diferente...ser um em Deus... preserva aquilo que... a Deus...” “...me considero contribuidor da igreja...eu soube...permanecer firme...” “... eu permaneço firme... porque eu acredito prioritariamente em Deus.” Uma pessoa que dá à sociedade o testemunho de sua conduta com Deus contribui para o crescimento de sua igreja. “...me coloco como uma pessoa que é... Tem Pastor da Igreja ajudado no que pode... Responsável eu não sou Universal do Reino pelo crescimento da igreja...uma pedrinha lá eu tô de Deus colocando, uma contribuição a gente tá dando...” “... A gente contribui é dando a nossa vida, como a gente deu...Viver só disso, viver só de ajudar as pessoas e se preocupar em ajudar...falar e fazer o que deve fazer...”


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Agnóstico

*NÃO ADEPTOS “...vou dar o minha melhor contribuição... eu procuro fazer o melhor, me envolver, trabalhar...” “... quando eu falo de Jesus para uma pessoa...” “... eu tenho uma parcela de contribuição para o crescimento...” “... eu não falo do evangelho para uma pessoa e depois dou o cartãozinho pra ele e falo olha, a Igreja que eu tô fica neste lugar, achando que ele vai vim pra cá...” “... eu procuro estar perto dessas pessoas, procuro meu exemplo de vida, nas minhas mensagens nas minhas pregações...” “... o que eu faço lá na minha mensagem eu procuro ser na minha vida... então eu tento contribuir dessa forma...” “... primeiro receber bem as pessoas... procurar não ser uma pessoa falsa... agindo sempre da mesma maneira... passar com muita responsabilidade os conceitos praticados... falar das palestras, do passe, da água purificada, das entrevistas, do trabalho mediúnico...” “... todo cristão tem a responsabilidade de ajudar sua comunidade...” “... receber as novas pessoas que estão chegando...” “... promover um ambiente agradável...” “... ajudar as pessoas quando elas precisam...” “... demonstrar o amor fraternal...” “... oração, uma visita, um conselho...” “... as pessoas acabam trazendo mais gente para a igreja, elas querem que as pessoas conheçam o que elas conhecem...” “... além do dinheiro, elas participam, o que é muito positivo... é bacana você fazer uma coisa pela comunidade se isso te dá prazer... te dá a sensação de estar... de ser abençoado...”


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No quadro 11 temos a categoria “Atitudes pessoais que contribuem para o crescimento das igrejas.”, é composta por partes dos discursos dos sujeitos que entendem que em diferentes níveis, todos os adeptos de uma determinada igreja, tornam-se responsáveis pelo seu crescimento. São atitudes dos adeptos para além das contribuições financeiras dadas para a igreja. Há uma representação social que entende o adepto como um testemunho vivo do que é a vida com Deus dentro de uma igreja, se as atitudes desse adepto são elogiáveis, por extensão a igreja da qual ele faz parte é considerada uma boa igreja. Nesta visão a dimensão da conduta humana ficaria subordinada ao fato do indivíduo ser adepto de uma determinada denominação religiosa. Principalmente no discurso de adeptos as denominações evangélicas, os sujeitos se colocam como se falar de Jesus, falar em Deus faça parte de suas obrigações diárias, como adeptos de uma igreja. “Eu não quero ser mais um... Não quero ser mais um porque isto é o comum. Quero ser diferente e diferente é o de Deus, diferente é o que preserva aquilo que realmente faz bem e faz bem a Deus...” (ADEPTO A IGREJA RENASCER EM CRISTO).

A identidade é construída e o indivíduo tem um papel ativo nessa construção e se apropria desta identidade. Ele é personagem de uma história que ele mesmo construiu e a partir disso vai se constituindo como autor. Portanto, compreendemos identidade pessoal como sendo ao mesmo tempo uma identidade social (CIAMPA,1987). Os evangélicos percebem-se e são percebidos socialmente como portadores desta identidade, são pessoas que divulgam sua crença.


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QUADRO 12. Categoria “Representações sobre a imagem do líder das denominações religiosas neopentecostais que se pautam pela teologia da prosperidade”. DEPOENTES *ADEPTOS Adepto a Igreja “... o caminho é o Bispo... O caminho é o Papa... Renascer em Cristo não o caminho não é o Papa... O caminho é Jesus.” “... sou diácono... há uma hierarquia na igreja... presbítero, diácono, pastor...” “A igreja católica também tem cargos... mas esses cargos... não tem nada há ver. O que tem há ver... é a unção... a vida com Deus...” Pastor da Igreja “... tem um líder e ele decide... eu to aqui hoje, se Universal do Reino eu vou ficar aqui a vida inteira eu não sei... “ de Deus DEPOENTES *NÃO ADEPTOS Padre da igreja “... eles agem por interesse... parte da liderança Católica Apostólica existe um projeto... algo intencional... a coisa é Romana bem montada, é um grande poder... na assembleia... manipular essa população...” Líder Espírita Kardecista

Adepto ao Pentecostalismo

Agnóstico

“... a religião agoniza por causa dos lideres... porque são muitos duros, ou porque erram... começam a perder adeptos... são obrigados a recorrer, lá nas velhas formas do passado e trazer para atualidade como novidade... “... no sentido do pastor saber quem você é que muda porque a pessoa se sente valorizada... exemplo: ele se preocupa comigo, quando ele não me vê lá na reunião ele quer saber da pessoa...” “... tem alguns que deixa a desejar...” “... além dele trazer a interpretação bíblica o sermão, ele tem que ser um líder, tem que trazer uma boa influência, tem que ser exemplo, ele é um ponto de referência...” “... a posição dele é um canal de benção é uma representação do próprio Deus, ele tá ali representando...” “... se os lideres forem conscientes de que o papel deles é muito importante...”


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A categoria “Representações sobre a imagem do líder das denominações religiosas neopentecostais que se pautam pela teologia da prosperidade” (Quadro12), a partir das entrevistas, surgiram mensagens que nos remeteram às palavras de Freud (1978) quanto a importância na relação com o líder que sempre estarão presentes em grupos religiosos. Segundo o mesmo autor os laços com o líder ou seu representante e também com os outros membros do grupo é condição para a manutenção de um grupo. Um líder abstrato torna-se fraco, portanto é necessário que um líder religioso, exerça sua liderança de forma a ocupar o lugar do “chefe invisível” (FREUD, 1990). O líder religioso como o representante, o da palavra de Deus. “Hoje eu sou diácono, sou diácono dentro da entre aspas, hierarquia da igreja eh... Tem presbítero, tem diácono, tem pastor, bispo... A igreja católica também tem cargos. Hoje eu sou diácono, já preparado para ser um presbítero. Um presbítero é um pré-pastor, um posto antes do pastor. Mas esses cargos essas coisas, não tem nada há ver. O que tem há ver... é a unção...” (ADEPTO A IGREJA RENASCER EM CRISTO).

O líder religioso como representante da palavra de Deus, precisa ser exemplo para seus fiéis, normalmente é exigido que o mesmo apresente características culturalmente aceitáveis esperadas para um cargo religioso, tais como: ser casado, que sua família participe da igreja e manter uma conduta irrepreensível como modelo a ser seguido.


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QUADRO 13. Categoria “Concepção sobre o assunto ‘dinheiro na igreja’” DEPOENTES *ADEPTOS “... preocupação... com as pessoas... um Adepto a Igreja contexto... não consigo fazer isso se eu não Renascer em Cristo tiver uma estrutura... sem dinheiro...” A mídia critica a igreja, porque a igreja pede dinheiro, mas não há como fazer a obra de Deus sem uma estrutura financeira. “... a igreja pede dinheiro... temos que fazer... crescer a igreja... quero expandir o reino de Deus... com recursos atuais...” Pastor da Igreja “... o dinheiro é a moeda de troca de hoje... Universal do Reino então a igreja é praticamente como um de Deus comércio... muitas pessoas têm visto assim...” “... dinheiro na igreja... é o sustento da igreja... é o que mantém a igreja... manter os pastores que tem na igreja, manter os programas, as programações que as igrejas tem hoje...” DEPOENTES *NÃO ADEPTOS “... a igreja católica tá procurando fazer a Padre da igreja pastoral do dizimo...” Católica Apostólica “... pessoas que frequentam... mantém essa Romana igreja...” “... promoções como almoço, quermesse, bingo...” “... visamos... primeiro construir um espaço físico...manter esse espaço...” “... tem funcionários... água, luz...” “... parte desse dinheiro... destinada atender... necessidades...” “... distribuição cestas básicas... ajuda aqui, lá...” “... temos uma entidade... que acolhe e trabalha com crianças...” “... a igreja tem uma administração, conselho econômico...”


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Pastor da Igreja Evangélica Neopentecostal

Líder Espírita Kardecista

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“... é uma parte, às vezes até polêmica...” “... a bíblia nos ensina que nós devemos trazer as nossas ofertas, dízimos e ofertas... pra casa do tesouro, o que ela chama de casa do tesouro na realidade é o contexto bíblico...” “... a necessidade da contribuição... eu acho que é duas questões, uma delas é que você mantém... a casa do tesouro, nós estamos numa estrutura, tem água, luz, tem telefone...” “... no nosso dia a dia tudo gira em torno de dinheiro...” “... a igreja não vai se manter em pé se não tiver colaboração...de todo mundo que frequenta...” “... o dinheiro não é ruim, ele é sempre bom...” “... paga imposto... manutenção...” “... cada um doa o que a consciência mandar...” “... a gente está sempre precisando correr atrás...” “... fazer eventos... festas... venda de lanches e doces...” “... maioria das igrejas evangélicas trabalham com base na palavra a questão do dizimo e ofertas voluntária, é isso que acontece na manutenção no geral da nossa comunidade é dessa forma...” “... a maioria segue a mesma linha, até a igreja católica também segue o mesmo padrão...” “... as pessoas que mantêm a comunidade não tem como ser de uma outra forma, não tem patrocínio de empresas é muito difícil... são as pessoas que contribuem...” “... tem que ser de coração aberto...” “... questão de dinheiro nas neopentecostais... acho que força muito é na parte das ofertas... grandes desafios... doações acho que força um pouco, agora a questão de dízimos é natural...” “... questão de ofertar demais, isso aí extrapola...” Não vejo nenhum mal nos fiéis contribuírem. “... é o sustento da Igreja...” “... eu não veria um mal nisso se fosse uma... ideia bem comunitária... todo mundo... contribui com o que tem pra gente fazer alguma coisa melhor...”


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Agnóstico

“... porque precisa manter o prédio da igreja, a infraestrutura... a manutenção...” “... se é uma comunidade aqueles que podem ajudam...” É o dinheiro arrecadado quando não usado de modo correto vai para os mesmos lugares onde são encaminhados nossos impostos, para o bolso de alguém, não sei quem. Do líder é, ou de alguém. Não sei! “... a gente sabe que nem sempre o dinheiro vai pros fins devidos...” Pode ser que tenha uma igreja que faça tudo direitinho que a contribuição financeira realmente seja pra manter a igreja. “... mas há muitas que não tratam o dinheiro arrecadado de um modo honesto...” ”... já ouvi... muitas historias de gente... que tratam a igreja como um comércio e só pensam no dizimo...” “... Concordo é um negócio. Todo mundo tem que sobreviver né... agora deixe tudo muito claro...”

A categoria “Concepção sobre o assunto ‘dinheiro na igreja’” (Quadro 13) apresenta as concepções dos entrevistados sobre a relação de dinheiro na Igreja, sendo esta Igreja de qualquer linha teológica. De maneira geral, os entrevistados compreendem que para uma Igreja manter sua estrutura e expansão é necessário que os seus fiéis contribuam financeiramente, seja através de ofertas, dízimos, campanhas entre outros. É bem verdade que as Igrejas neopentecostais especialmente as que se pautam pela teologia da prosperidade justificam sua postura de impor exacerbadamente a contribuição financeira aos seus fiéis remetendo-se à textos bíblicos, respaldadas pelo que acreditam ser “palavra de Deus”. As palavras do Bispo Edir Macedo, fundador da IURD, são trazidas por Tavolaro (2007), ao citar que Deus prometeu e por isso tem a obrigação de responder a todos os sacrifícios financeiros feitos pelos fiéis, com bênçãos.


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Explicitamente as igrejas não cobram por seus serviços, seja uma toalhinha abençoada, uma unção com óleo santo ou até mesmo uma oração, mas de maneira velada através de seus discursos elas transmitem aos fiéis a concepção de uma relação de troca com Deus, como se a contribuição financeira fosse condição fundamental para que eles, os fiéis, passem a ser merecedores da benção. “... já ouvi muitas vezes, muitas histórias... de gente que tratam fatores que tratam a igreja como um comércio e só pensam no dizimo né, são fatos né... um cunhado meu que teve contato com um pastor e o pastor abriu, eu não lembro de que igreja era... mas é uma até de uma rede de televisão e abriu o jogo então, olha se você quiser abrir uma igreja, o lucro é tanto, abriu o balancete como é que é como é que não é...” (AGNÓSTICA).

Algumas falas apresentam conotação crítica a postura das igrejas no que diz respeito a obrigatoriedade da oferta financeira e insinuações acerca de como e onde é empregado o dinheiro arrecadado. “... pros mesmos lugares onde são encaminhados nossos impostos quando o governo não usa o dinheiro do modo correto... pro bolso de alguém, não sei quem. Do líder é ou de alguém. Não sei...” (AGNÓSTICA).

A ideia do demônio associada ao dinheiro vem sendo modificada pelas igrejas neopentecostais que se pautam pela teologia da prosperidade o que para Prandi (2008) caracteriza uma religião atualizada e de acordo com as novas demandas sociais afinal, vivemos em uma sociedade capitalista, imediatista e consumista, se uma igreja para se desenvolver precisa a priori conhecer a cultura existente, logo saberá quais são suas demandas e então traçará estratégias para atendê-las. Segundo o mes-


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mo autor de maneira estratégica as igrejas neopentecostais particularmente as que se baseiam pela teologia da prosperidade pautam seu sucesso em mostrar ao fiel o que elas pode fazer por ele, oferecendo recursos simbólicos que torne a vida mais fácil de ser vivida, sem que ele tenha que abandonar as coisas boas que este mundo oferece, ou seja, a religião tornou-se uma mercadoria que vale o quanto for sua eficiência perante os problemas cotidianos da vida das pessoas. Nos reportamos ao termo “religião de consumo” utilizado por Prandi (2008) para em nossa concepção atender uma sociedade de consumo. Partindo da análise do conjunto de categorias procuramos construir uma relação entre os dados coletados e os temas propostos e abordados pela pesquisa ancorando-os nos aspectos culturais. Segundo Prandi (2008) os valores e normas das religiões só fazem sentido no contexto da realidade vivida pelos indivíduos em relação às ações que os orientam e que podem constituir padrões culturais. Refletindo a respeito das categorias 9 e 10 , onde foram elencadas as RS acerca dos adeptos às denominações evangélicas tradicionais e os adeptos as denominações neopentecostais foi possível perceber a diferença atribuída a cada grupo ao observarmos comportamentos não verbais dos depoentes, foi possível perceber um tom pejorativo quando as mensagens das falas referiam-se as características dos evangélicos tradicionais, como sendo algo retrógrado e fora do contexto. Já as mensagens referentes aos novos evangélicos vêm carregadas de aprovação onde registram as características dos novos evangélicos como algo que atribuísse a eles uma superioridade sobre os evangélicos tradicionais. Qual seriam as motivações contidas nestas mensagens? Baseadas em nosso referencial teórico e discussões do grupo, inferimos que estas RS, positivas e negativas estão diretamente relacionadas à proximidade com o padrão cultural vigente. Quanto mais próximo do padrão cultural, mais aceitável e admirável são os padrões de conduta. De acordo com o mesmo autor, neste enredo contemporâneo, o Pentecostalismo com sua


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rigidez doutrinária passou a não atender satisfatoriamente aos novos padrões sociais. Em outras cinco categorias foi possível perceber nas mensagens que falam a respeito do crescimento no número de adeptos às novas denominações neopentecostais estudadas como algo bem aceito. Pode ser estabelecida uma RS deste crescimento, o qual é visto pela sociedade entre adeptos e não adeptos como positivo. Na categoria 3 que contem as falas sobre as motivações que conduzem as pessoas às igrejas e na categoria 4 onde foram elencadas mensagens a respeito das possíveis mudanças na vida das pessoas, os fatores positivos e negativos deste crescimento presentes nas categorias 5 e 6 respectivamente e ainda a categoria 8 “concepções sobre as igreja”, onde estão presentes a RS dos depoentes sobre as igrejas. Ao procedermos na análise mais aprofundada destas mensagens, pudemos inferir que esta RS positiva presente no fenômeno do crescimento das denominações estudas, está relacionada ao fato de que a RS das igrejas no Brasil, independente da denominação religiosa é positiva. Os termos religião e religiosidade, remetem à ideia de boa conduta, pessoas de bons princípios. Onde nos reportamos a ideia de Siqueira (2006) que atribuiu ao comportamento dos membros de denominações religiosas, um indicativo de um estilo de comportamento baseado na retidão, na consciência e lealdade. Como exemplo, nos reportamos à fala do líder Kardecista a respeito do crescimento das igrejas e perfil dos adeptos: “Da maneira mais simples possível, independente da denominação, da maneira que existe dentro da religião, eu acho que tem um lado positivo, eu prefiro mil vezes apareça cinquenta igrejas na vila do que cinco botecos, então de certa forma alguma coisa vai trazer de bom, pra essas pessoas, nem que seja o medo imposto por uma doutrina que faça que a pessoa esteja ali, dando o seu dinheirinho na igreja, mas pelo menos ela esta se contendo um pouco mais, ela não passa, ela deixa muitas vezes de exercer vícios visíveis


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para manter apenas seus vícios interiores, baseados no seu orgulho na sua vontade.”(LIDER ESPÍRITA KARDECISTA, pg. 140)

A fala do líder Kardecista nos traz um pouco das características da RS que referimos anteriormente. Os adeptos ou frequentadores das igrejas, ainda que mantenham suas condutas falhas, ainda assim, apresentariam condutas com maior aceitação social do que as pessoas que não estão ligadas a nenhuma denominação religiosa. As categorias de análise 2, 7, trazem nos sentidos das falas, as RS existentes com relação as igrejas e destas com seus fiéis. Na categoria 2 temos as estratégias utilizadas pelas igrejas na captação de fiéis, na categoria 7 como é vista a presença das Igrejas Neopentecostais estudadas na mídia, ambas categorias trazem de certa forma, uma avaliação dos depoentes a respeito das condutas das igrejas. As pregações das igrejas neopentecostais que se pautam pela teologia da prosperidade adotam um entonação triunfalista, que orienta seus fiéis no sentido de buscar e alcançar o sucesso quase imediato. Podemos utilizar como exemplo as mensagens divulgadas nas palavras do bispo Edir Macedo fundador IURD, no artigo de Mesquita (2007) a ideia de que ser cristão é a de ser filho de Deus, portanto tornar-se “ co-herdeiro de Jesus”: “Ah são as ofertas né de uma melhoria de vida repentina né, acho que esse é o atrativo do movimento neopentecostal, a gente vê que tem as reuniões focadas pra prosperidade principalmente... esse daí é o slogan né que chama bastante a atenção... prosperidade, e como nosso povo brasileiro é sofrido né, então acho que esse é o principal atrativo, a prosperidade em pouco tempo através da fé, então através da fé da pessoa, a pessoa é estimula da fé pra melhorar de vida financeiramente.”(ADEPTO AO PENTECOSTALISMO, p. 144).


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As abordagens incisivas recorrentes nas pregações são vistas como estratégicas no crescimento das denominações neopentecostais que se pautam pela Outro aspecto da conduta das igrejas é a utilização da mídia, meios de comunicação de massa. São programas na televisão, em horário nobre, onde são apresentadas multidões, grandes templos, muitos testemunhos de superação e sucesso. Os convertidos surgem frente às câmeras, apresentam seus emocionados discursos de triunfo no que são amparados e estimulados pelos lideres. É necessário registrar, entretanto, que outras denominações religiosas, a católica, por exemplo, se utilizam dos meios de comunicação para divulgarem suas doutrinas, porém nenhuma doutrina se utiliza do show televisivo como as neopentecostais estudadas. Discursos inflamados convocam aos telespectadores e aos presentes nos templos a participarem campanhas direcionadas à solução dosa problemas do cotidiano. “Então eu vou fazer maior do que ele, eu vou falar para mais pessoas do que ele, eu vou evangelizar mais do que ele. Eu vou continuar a obra dele. Então eu tenho que...fazer obras maiores... se ele falava no telhado hoje eu falo na tv, agora para falar na tv...pera lá... eu preciso neh...?! É... Então acho que os pontos são muito mais positivos nessa expansão, acho que as igrejas têm mesmo é que crescer bastante, nós temos que trabalhar muito no sentido de levar o reino de Deus às pessoas ahn?!” (ADEPTO A IGREJA RENASCER EM CRISTO, p. 185)

Na visão dos adeptos a essas denominações a presença na mídia é altamente positiva, pois é entendida como importante instrumento na divulgação a palavra de Deus. A RS social desta presença na mídia é de algo que caracteriza tais denominações religiosas. Nas categorias 11e12, onde temos na categoria 11 atitudes dos fiéis para com a igreja e como estas atitudes contribuem com


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o crescimento da mesma e na categoria 12 onde procuramos entrar em contato com a RS sobre a imagem do líder das denominações religiosas neopentecostais que se pautam pela teologia da prosperidade. Na categoria 11, referente a atitudes dos fiéis surgiram falas contendo mensagens que atribuem aos adeptos e fiéis, independente da denominação religiosa são co-responsáveis pelo crescimento das igrejas as quais pertencem. Os adeptos entende que suas atitudes podem e devem contribuir com este crescimento, através de exemplos de vida e de seus discurso, como referido na fala do pastor Neopentecostal “...nunca perder uma oportunidade de falar em Jesus”. Quanto a RS sobre a imagem do líder, mesmo quando a fala do depoente afirma ser a Igreja maior que o líder, ainda assim a figura do líder é reconhecida como referencial, como um representante, alguém que representa aquela denominação religiosa. “É mas vai muito além, o pastor ele... além dele trazer a interpretação bíblica o sermão, ele tem que ser um líder, tem que trazer uma boa influencia, tem que ser exemplo, ele é um ponto de referencia não tem jeito, e as pessoas vão olhar pra ele...” (ADEPTO AO PENTECOSTALISMO, p145)

De acordo com o pensamento de Freud apresentado em Siqueira (2006), Deus seria a personificação de um pai glorioso, portanto uma criação humana e para dar concretude a este Deus surge a figura do líder religioso, um representante desse pai glorioso. “...eu acho que eles agem por interesse, na parte do povo não, o povo é levado, mas acho que na parte da liderança existe um projeto nessa direção, algo intencional, a coisa é bem montada é um grande poder...”(PADRE DA IGRAJA CATÓLICA APOSTÓLICA ROMANA, p. 116)

A força que atribuída à figura do líder é inegável, mas nem


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sempre admirada, principalmente as figuras dos lideres que estão à frente das novas denominações neopentecostais que se pautam pela teologia da prosperidade. A categoria 13 traz como tema, como é vista a questão da relação com o dinheiro nas igrejas neopentecostais que se pautam pela teologia da prosperidade, é entendida como uma relação natural, onde igrejas e fies encontram-se inseridos em um contexto capitalista onde as necessidades materiais e os desejos de aquisições são tratados como urgências que precisam ser satisfeitas e atendidas. Assim como o fiel precisa de dinheiro para sobreviver neste mundo capitalista a igreja também precisa. Em um contexto onde tudo é comercializado, embora não seja unânime a aceitação das práticas presentes nas igrejas neopentecostais estudadas, onde a benção de Deus parece estar a disposição dos que contribuem financeiramente com a igreja, tais práticas estão próximas do padrão cultural e de consumo que marcam nossa sociedade. Avaliando a inter-relação presente entre as categorias, foi possível nos aproximarmos da complexidade presente na RS do fenômeno do crescimento das igrejas neopentecostais que se pautam pela teologia da prosperidade. Pudemos verificar há existência de RS sobre o fenômeno, a partir das referencias possíveis de identificar e que em diferentes níveis ou graus de entendimento estão presentes nos discursos dos depoentes, a RS a respeito do crescimento acelerado no numero de adeptos às denominações religiosas estudas, é uma RS positivada, de algo muito próximo e permeada pelos padrões culturais atuais, além de atender as características econômicas presentes no cotidiano da sociedade. Segundo nos traz Siqueira (2006) neste crescimento temos uma religião que traz em seu modus operandi uma adequação aos padrões de consumo presentes em uma sociedade técnicocientífica, inspirada pelo consumo.


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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa objetivou compreender o fenomenal crescimento que envolve as Igrejas evangélicas neopentecostais que se pautam pela teologia da prosperidade, quem são, quais são as motivações de seus fiéis que cada vez mais lotam seus templos, e como todo este movimento é representado socialmente por adeptos e não adeptos ao Neopentecostalismo que se pauta na teologia da prosperidade. Percebemos que a fé abarca as motivações dos candidatos à conversão. Estes, por sua vez, acreditam que vão conseguir saldar suas dívidas, prosperarem financeiramente, curar suas enfermidades, reestruturar suas famílias e são movidos pela fé até o lugar onde é oferecido todo esse pacote. Neste caso, as estratégias de marketing adotadas pelas igrejas estudadas fazem toda a diferença no tocante ao seu crescimento, suas propagandas através de panfletos, banners e especialmente na mídia televisiva que se caracteriza atualmente como um importante instrumento de evangelização que indicam para seus “clientes” onde encontrarão o que procuram. Qual a igreja que prometendo curas, prosperidade e solução de conflitos familiares, não vai crescer? A partir desta pesquisa compreendemos que as motivações dos candidatos à conversão que procuram as igrejas estudadas são representadas socialmente de diversas formas, seja pela busca de pertencimento considerando o homem um ser carente em uma sociedade individualizada, pela busca de uma vida com Deus considerando que Deus seria o provedor de todo o bem, pela prosperidade financeira e cura de enfermidades considerando que as pessoas que buscam essas denominações religiosas estudadas são vistas como quem buscam solução para os problemas, em sua maioria de ordem financeira e cura de enfermidades. Através de interpretações bíblicas os neopentecostais estudados entendem e divulgam que Deus prometeu que seus fiéis devem desfrutar de uma excelente situação na área financeira e na saúde, sendo que neste discurso é pautada sua principal característica, a


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teologia da prosperidade. Ainda considerando as motivações dos fiéis percebemos que o vínculo a essas igrejas é facilitado pelo afrouxamento dos costumes presentes nas Igrejas neopentecostais estudadas, este aspecto é importante para compreendermos que atualmente o individuo tem a liberdade de escolher qual igreja quer se vincular a partir das características apresentadas por elas, talvez aí esteja um dos motivos da estagnação pentecostal e do crescimento neopentecostal. Diante disso, consideramos que nossa hipótese inicialmente apresentada onde estabelecemos que o afrouxamento dos costumes aliada às promessas apresentadas pela teologia da prosperidade presentes em algumas denominações religiosas, são responsáveis pelo movimento crescente do fenômeno Neopentecostal foi confirmada parcialmente, visto o surgimento de outras representações sociais acerca do tema estudado. Vivemos em uma sociedade imediatista e consumista, logo uma religião para se estabelecer deve estar adaptada aos novos tempos e em sintonia com as exigências culturais deste contexto. Entendemos que esse é o diferencial das igrejas neopentecostais estudadas em relação às outras igrejas protestantes ou católicas, afinal, as neopentecostais se mostram mais próximas aos valores da pós modernidade. Elas ainda pautam seus discursos no “é dando que se recebe” e indicam como condição para adquirir a graça oferecer um sacrifício à Deus, sendo este sacrifício, o financeiro, como se o dinheiro doado fosse condição para ser abençoado. Além disso, essas igrejas estabelecem como a graça almejada pelo fiel acontecerá, normalmente participando de alguma campanha ou sendo sócio da igreja, uma vez que as demandas são imediatas, nada melhor do que mostrar como e em quanto tempo os fiéis alcançarão o que desejam. Se acaso a graça não for atingida, a culpa recai sobre o indivíduo que não teve fé e sobre o demônio que o desvirtuou do propósito. Entendemos que é confortável ou satisfatório para o indivíduo estar em uma igreja onde a responsabilidade por suas escolhas não são totalmente assumidas, pois a mesma é dividida ou associada diretamente ao demônio, pro-


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vedor de todo o mal, por isso os neopentecostais veem a necessidade de expulsá-lo em nome de Deus. Tendo em vista que Religião e Cultura são indissociáveis, diversas igrejas neopentecostais que se pautam pela teologia da prosperidade adotam estratégias para captação de fiéis a partir da utilização de símbolos culturais, em seus rituais utilizam símbolos afro-brasileiros como por exemplo, o sal grosso ou até mesmo expressões como “encosto” com o intuito de familiarizar os fiéis ou os candidatos à conversão que estão inseridos em um contexto multicultural. Para a construção desta pesquisa tivemos contato com diversos materiais referente às religiões protestantes, principalmente às Neopentecostais que se pautam pela teologia da prosperidade, que foi o nosso foco de pesquisa. Identificamos a influencia da cultura no que tange as características das igrejas que estudamos. Considerando que este não era o foco de nossa pesquisa, vislumbramos novas pesquisas baseadas na relação Religião e Cultura. Seria o movimento neopentecostal uma exigência da sociedade pós-moderna? Algumas dificuldades foram identificadas durante o percurso de nossa pesquisa, dentre elas destacamos o setting de uma de nossas entrevistas que se mostrou impróprio visto o barulho e falta de privacidade, a hesitação de dois entrevistados em falar sobre o assunto abordado durante a gravação da entrevista, ficando eles à vontade para falar de maneira mais crítica após o término da mesma sem autorização para gravarmos. Ambas as dificuldades foram enfrentadas de forma satisfatória considerando que elas não invalidaram nossa pesquisa que por sua vez, se mostrou enriquecedora e produtiva. Por fim através desta experiência de pesquisa foi possível identificar que a fé, independente da intencionalidade, e as características destas denominações que estão mais próximas aos valores da sociedade pós moderna, são aspectos presentes no fenômeno do crescimento das igrejas neopentecostais que se pautam pela teologia da prosperidade.


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