PROGRAMAÇÃO ASSOCIAÇÃO “OS FILHOS DE LUMIÈRE” AUDITÓRIO Organização e Produção Cristina Grande Pedro Rocha Ana Conde Coordenação Técnica e Som Nuno Aragão Luz Rui Barbosa Cinema/Vídeo Carla Pinto
MOMENTO XIV
SERVIÇO EDUCATIVO
CICLO O SABOR DO CINEMA
Programação/Coordenação Elisabete Alves Sofia Victorino Consultora Elvira Leite Assistentes Cristina Lapa Carla Almeida Diana Cruz
07 DEZ, DOMINGO, 16h00 MÁSCARAS > Noémia Delgado
Informações: 808 200 543 Reserva Bilhetes: 226 156 584 Geral: 226 156 584 Rua D. João de Castro, 210 4150-417 Porto. Portugal www.serralves.pt | serralves@serralves.pt
APOIO
MÁSCARAS
Realização e montagem: Noémia Delgado Texto: Ernesto Veiga de Oliveira e Benjamim Pereira Assistentes de realização: Ernesto Veiga de Oliveira e Benjamim Pereira Narração: Alexandre O’Neill Fotografia: Acácio de Almeida e José Reynès Director de som: Philippe Constantini Locais: Varge, Grijó da Parada, Bemposta, Podence, Rio de Onor, Bragança Produção: CPC – Centro Português de Cinema PORTUGAL, 1976 Montadora de filmes importantes como O PASSADO E O PRESENTE de Manoel de Oliveira e MUDAR DE VIDA de Paulo Rocha e autora do maravilhoso filme que temos hoje a honra de dar a ver ou rever, Noémia Delgado é uma figura um tanto esquecida do cinema português. Só a circunstância de MÁSCARAS ter acontecido num país «periférico» (e porventura o facto de o filme ser assinado por uma mulher...) pode explicar que esta obra não tenha sido elevada ao patamar dos exemplos mais felizes do cinema dito directo. Para percebermos totalmente a aura oculta do filme, convém começarmos por lembrar que a ele devemos, em larga medida, o renascimento de um ritual em extinção, pela força maior de uma guerra colonial que, durante 13 anos, para si sorveu os protagonistas das festas dos rapazes que o filme retrata. Foi a energia reencontrada na reencenação para a câmara de um rito perdido que inspirou o desejo de relançar os caretos, num contexto tão peculiarmente intenso – no sentido de intensa busca de uma identidade sonegada – como foi o do imediato pós 25 de Abril. Rodado com meios técnicos modestos, o filme contou,
por significativo paradoxo, com o contributo de uma participação humana particularmente densa, cuja expressão sensual nos faz vibrar, ao tempo que reconhecemos naqueles corpo e vozes o país desconhecido que fomos (e vamos, ó lá se vamos...) sendo. A longa-metragem de Noémia Delgado mostra-nos preparação e o desenrolar das festas do solstício, festas tradicionais do chamado Ciclo de Inverno em algumas aldeias de Trás-os-Montes, num ritual no qual intervêm as máscaras de vários géneros que são típicas do extremo nordeste de Portugal. As festas saturnianas decorrem entre o Natal e a Quarta-Feira de Cinzas. A Festa dos Rapazes é um ritual milenar, que também se encontra em algumas sociedades tradicionais africanas. Julga-se que o pano de fundo destas festividades é o mito do eterno retorno e a forma que ele aqui adopta é a do ciclo agrário, tendo como figura maior a Terra Mãe. Por eterno retorno entenda-se a mundividência própria das sociedades primitivas que, baseando-se na observação empírica dos fenómenos naturais do ano solar e do movimento dos astros, assume, ao contrário da ideia linear da História introduzida pelo cristianismo, a vida como uma realidade cíclica. Convém sublinhar que, em Trás-os-Montes, as festas saturnianas foram, durante muito tempo, alvo de condenação por parte da igreja católica, verificando-se hoje em dia uma situação caracterizada por um acentuado sincretismo. Não resistimos a acrescentar que, para além de se nos oferecer como um retrato realmente alternativo do pós-Abril num certo Portugal riscado do mapa das prioridades políticas, MÁSCARAS de Noémia Delgado resulta também de um olhar feminino que, com uma imensa delicadeza, escava os mistérios da masculinidade, através de uma postura que Rouch descrevia como um «acreditar na crença sem todavia aderir aos seus pressupostos». Nesta hipótese de cinema em que a carne das pessoas é a própria matéria dos livros, saudemos no gesto de Noémia Delgado a atenção efectiva e genuína a uma alteridade gritante, que se traduz por algo bem mais perturbante do que o regular – e tão politicamente correcto – verbo de encher.