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PROGRAMAÇÃO ASSOCIAÇÃO “OS FILHOS DE LUMIÈRE” AUDITÓRIO Organização e Produção Cristina Grande Pedro Rocha Ana Conde Coordenação Técnica e Som Nuno Aragão Luz Rui Barbosa Cinema/Vídeo Carla Pinto SERVIÇO EDUCATIVO Programação/Coordenação Elisabete Alves Sofia Victorino Consultora Elvira Leite Assistentes Cristina Lapa Carla Almeida Diana Cruz

PRÓXIMA SESSÃO

29 MAR 2009 (Dom) / 16h00

CEREJAS AO BORRALHO / Tiago Afonso / m/12 COMÉDIA INFANTIL / Solveig Nordlund / m/12

Ciclo O Sabor do Cinema Momento XV

FEV-ABR 2009 AUDITÓRIO

Informações: 808 200 543 Reserva Bilhetes: 226 156 584 Geral: 226 156 584 Rua D. João de Castro, 210 4150-417 Porto. Portugal www.serralves.pt | serralves@serralves.pt

22 MAR 2009 (Dom) / 16h00

APOIO

MÃE HÁ SÓ UMA / João Canijo / m/12 HISTOIRE D’UN SECRET / Mariana Otero / m/12


MÃE HÁ SÓ UMA

Realização: João Canijo Fotografia:João Castanheira Argumento e diálogos: Rita Blanco e Vera Barreto Montagem: João Braz Som: Branko Noskov, Elsa Ferreira Interpretação: Rita Blanco e Vera Barreto Produção: João Canijo PORTUGAL, 2007

Nos seus momentos mais felizes, João Canijo tem-nos vindo recentemente a habituar a um cinema que, tal como o «cinéma direct», não se furta de lidar / mexer com as realidades brutais do aqui e agora. E, nessa perspectiva, adopta protocolos de filmagem e soluções estéticas de risco, virtualmente tão brutais como as realidades que pretende abordar. Esta sua pequena experiência cinematográfica, intitulada MÃE HÁ SÓ UMA, é um gesto a vários títulos de cariz familiar, mas todavia retoma e amplia preocupações antigas (veja-se o bem menos feliz A FILHA DA MÃE), incidindo abruptamente, como já em NOITE ESCURA, sobre o tema da relação mãe / filha, mas desta feita sem a almofada das referências, nomeadamente as de natureza mítica a Clitemnestras, Ifigénias, Electras e quejandas... Ora, como num dueto mãe / filha, estamos sempre numa situação arquetípica e saturada de imaginários (Bergman pairando por aí, mas também todos os metteurs en scène, de teatro ou cinema, que sobrevoaram ou agarraram o tema), a força desta curta-metragem de Canijo reside principalmente na desmistificação resultante de uma extrema proximidade face às personagens que, envoltas num ambiente especular, estilhaçado, rubro, sanguíneo, intra-uterino, confrontam os seus respectivos vazios, atravancados de histórias e afectos por contar, construindo incomunicações verbais, ternuras inábeis e indizíveis. Passados escassos minutos in-vitro / in vídeo, neste filme de actrizes e luzes, estamos perante uma espécie de eterna primeira vez: de ser mãe, de ser filha, de nascer.

HISTÓRIA DE UM SEGREDO Título original: Histoire d’un secret Argumento: Mariana Otero Fotografia: Hélène Louvart Som: Patrick Genet Montagem: Nelly Quettier Misturas: Pascal Rousselle Produtor delegado: Denis Freyd (Achipel 35) Co-produção: INA em associação com France 5 FRANÇA, 2005

O que é um segredo? Um segredo é algo tão precioso ou importante que se guarda para ser, um dia, contado. Revelado em todo o incómodo nó de sentidos que encerra. É deste princípio que Mariana Otero parte para a extraordinária aventura da realização de um filme-inquérito - em tudo íntimo mas pensado como um genuíno gesto público acerca do mistério que paira sobre o falecimento precoce de sua mãe, a pintora Clotilde Vautier.

O segredo sobre o qual Mariana inquire junto dos seus próximos - entre os quais avulta a figura de seu pai - está tanto mais bem guardado quanto envolve circunstâncias de absurda ilegalidade, tragicamente entrelaçadas na trama de silêncios que encobrem os motivos de uma morte evitável. Essa morte, tornada tabu no seio da família, por entraves sociais e emocionais difíceis de enfrentar, vitimou uma mulher que, no pleno uso das suas faculdades de escolha (mas privada dos meios para, em segurança, tornar efectiva a sua opção) declina a perspectiva de ser mãe pela terceira vez, por não se encontrar em condições financeiras e psíquicas de assumir uma nova maternidade. A persistência extrema de Mariana Otero em quebrar o mutismo de todos quantos, por uma paradoxal inversão de valores, se sentem culpados, acaba por ser coroada por um duplo êxito: 1) Por um lado, é possível designar os verdadeiros responsáveis pelo crime, a saber: quem, pela violência da lei, dispôs ilegitimamente do corpo de uma mulher na flor da idade. 2) Por outro lado, é possível tirar da situação de invisibilidade, onde se encontrou longos anos, a poderosa obra plástica de Clotilde Vautier, que transita do estatuto de cadáver no armário para as paredes de uma pasmosa exposição retrospectiva. O ponto final abruptamente posto na história de Clotilde Vautier é algo de tão insuportável que nem a cena redentora da exposição pode (ou pretende) resgatar. Ponto final numa vida fértil, uma vida densa no domínio da criação pictórica, assente em bases familiares financeiramente precárias mas excepcionalmente exaltantes no terreno dos afectos e imaginações. Talvez por isso, Mariana Otero não se limite à prossecução, com canina teimosia, do seu inquérito, incluindo no filme cenas de reconstituição que funcionam como o exacto oposto do que aconteceria com sequências do mesmo tipo num filme policial. Para que o filme se cumpra, Mariana Otero corre o risco de dar todo o lugar necessário ao que não se diz, ao que não se vê, ao que já não é, ao que já não há.


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