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PROGRAMAÇÃO ASSOCIAÇÃO “OS FILHOS DE LUMIÈRE” AUDITÓRIO Organização e Produção Cristina Grande Pedro Rocha Ana Conde colaboração: Joana Ferreira Coordenação Técnica e Som Nuno Aragão Luz Rui Barbosa Cinema/Vídeo Carla Pinto SERVIÇO EDUCATIVO Programação/Coordenação Elisabete Alves Sofia Victorino Consultora Elvira Leite Assistentes Cristina Lapa Carla Almeida Diana Cruz

PRÓXIMA SESSÃO

5 ABR 2009 (Dom) / 16h00

CORRENTE, Rodrigo Areias, M/12 OS CONTOS DA LUA VAGA, Kenzi Mizoguchi, M/12

Ciclo O Sabor do Cinema Momento XV

FEV-ABR 2009 AUDITÓRIO

Informações: 808 200 543 Reserva Bilhetes: 226 156 584 Geral: 226 156 584 Rua D. João de Castro, 210 4150-417 Porto. Portugal www.serralves.pt | serralves@serralves.pt

29 MAR 2009 (Dom) / 16h00 APOIO

CEREJAS AO BORRALHO / Tiago Afonso /M/12 COMÉDIA INFANTIL / Solveig Nordlund / m/12


COMÉDIA INFANTIL

Realização: Solveig Nordlund Argumento: Tommy Karlmark a partir do texto de Henning Mankell Fotografia: Lisa Hagstrand Som: Gabriel Mondlane, Tommy Ottebjer Anotação: Margarida Cardoso Música: Johan Zachrisson Montagem: Nelly Quettier Produção: Henrique Espírito Santo Interpretação: Evaristo Abreu, Adelino Branquinho, Augusto Cabral, Mónica Chilave, Francisco Chilengue, Beatriz Chissembe; Yolanda Fumo, Jaime Júlio, Adelino Mendonça, João Manja, Lília Mompié, Casimiro Nbusse, Joaquina Odete, Lucrécia Paco, André Ruco, Sérgio Titos Suécia, Portugal, Moçambique, 1998

CEREJAS AO BORRALHO

Realização, câmara e montagem: Tiago Afonso Música: Fernando Rodrigues Portugal, 2006 Filme de câmara - no duplo sentido da sua economia em termos de composição e de se articular em torno do espaço casa -, esta curta-metragem de Tiago Afonso descreve, com os seus «moyens du bord» que são também os meios de um «carnet de bord», o que pode ser uma felicidade concreta e sitiada. Articuladas com as sonoridades de Fernando Rodrigues - que lhes confere uma densidade contígua a uma espécie de caos organizado - as imagens confundem vários tempos dentro do espaço doméstico, tanto ao nível da cronologia - um bebé pode decrescer, pois que ele é (e já não o mais previsível gato preto) a encarnação do próprio espírito do lugar, como se percebe no magnífico plano em que o avistamos, em sombra chinesa, sentado ao fundo do corredor - como também através da sobreposição dos objectos banais sobre os quais o olhar viaja, quase sem se deter. É um pouco como se as coisas da casa travassem a difícil batalha de aprenderem a viver umas com as outras: há, na cozinha, um combate entre uma pomba e um gato, uma mãe em azáfama, que se rebela contra o facto de ser filmada; há, no corredor, visitas que se derramam, uma criança que tenta extrair sons de uma flauta de bisel; há, no quarto, o convívio onírico entre os objectos inanimados que possuem uma espécie de vida própria. Donde a percepção aguda de que seres e objectos vivem, projectiva e retroactivamente, mesmo quando estamos a olhar para eles. Lá fora, a natureza é bela e estranha - e bélica - em todas as estações. E se «em Maio se comem cerejas ao borralho», é porque, como sábios e poetas antigos muitas vezes fizeram notar, os mundos e seus ciclos coabitam num eterno desacerto.

Tempo de guerra é ainda tempo de pão. O que é a guerra senão esse tempo no qual um homem pode morrer nessa hora em que fabrica o seu pão, tenta ganhar o seu pão, faz bicha na padaria? As crianças são o pão sacrificial da guerra quando, como no filme de Solveig Nordlund, ela se aproxima inexoravelmente do coração da cidade. Entre Nélio, o protagonista de COMÉDIA INFANTIL, e Maio, a criança que reina no território da casa de CEREJAS AO BORRALHO, há o espaço imenso de uma diferença gritante: aquela que distingue o teatro sangrento da guerra das pequenas guerras mentais no teatro da paz. Órfão e confiado à sua sorte, Nélio não pode, como Maio, crescer em todos os sentidos, inclusive o de decrescer. Ele está condenado a crescer sempre e depressa, sempre em fuga, em sabedorias ocultas, depressa de mais, perseguido que é por uma ficção que lhe escapa, e pretendendo, por isso, conquistar um lugar trágico onde possa contar a sua história. Para que assim se cumpra uma espécie de sagração da criança pela criança. Solveig Nordlund, realizadora originária da Suécia de há longos anos a trabalhar em Portugal, primeiro como montadora, depois como autora de uma já considerável obra, tem mantido uma assaz curiosa postura no quadro daquilo a que podemos chamar o cinema português de autor. Nos seus filmes, as fundas preocupações políticas (atente-se nos títulos dos filmes e pólos de criação a que o seu nome ficou ligado nos anos 70) entrelaçam-se intimamente com «histórias de/da vida», sempre narradas num tom e moldadas por um olhar intensamente pessoais. O seu injustamente esquecido DINA E DJANGO, por exemplo, oferecia-nos uma janela aberta sobre o 25 de Abril (entre)visto por um casal de adolescentes cujo percurso de delinquência quase se assemelha a uma paródia de Bonnie and Clyde, à escala de um país onde o sonho de revolução não oferece lugar às formas de sonho que os protagonistas acalentam. O embate entre o indivíduo - muitas vezes em tormentoso crescimento - e a pesada história do território onde ele se move estão pois, desde há muito na mira de Solveig Nordlund. Porque, precisamente, o mais certo é o indivíduo estar à mercê dessas tais ficções à solta, contra as quais é difícil armar-se e rebelar-se sem colocar o seu próprio corpo na ara do sacrifício.


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