PROGRAMAÇÃO ASSOCIAÇÃO “OS FILHOS DE LUMIÈRE” AUDITÓRIO Organização e Produção Cristina Grande Pedro Rocha Ana Conde colaboração: Joana Ferreira Coordenação Técnica e Som Nuno Aragão Luz Rui Barbosa Cinema/Vídeo Carla Pinto SERVIÇO EDUCATIVO Programação/Coordenação Elisabete Alves Sofia Victorino Consultora Elvira Leite Assistentes Cristina Lapa Carla Almeida Diana Cruz
Ciclo O Sabor do Cinema Momento XV
FEV-ABR 2009 AUDITÓRIO
Informações: 808 200 543 Reserva Bilhetes: 226 156 584 Geral: 226 156 584 Rua D. João de Castro, 210 4150-417 Porto. Portugal www.serralves.pt | serralves@serralves.pt
05 ABR 2009 (Dom) / 16h00 APOIO
OS CONTOS DA LUA VAGA / Kenji Mizoguchi /M/12 CORRENTE / Rodrigo Areias / m/12
intensa actividade comercial. O comércio é assim a outra face da pilhagem e, como ela, derruba inexoravelmente os valores que, na sua comovente timidez, as confissões de amor, proferidas por Miyagi, enunciam: «Eu só quero ajudar-te», «Eu só ficar perto de ti». Curioso será também realçar, que é o ponderado Genjuro – e não o seu irmão Tobei, fascinado pela aura dos samurais – a verse compelido para um confronto directo e físico com a morte, através do encontro amoroso com o fantasma vampiresco da Dama Wasaka e, depois, do desencontro com o fantasma acolhedor da sua falecida mulher. A procura de um «estilo novo» não impede Mizoguchi de se aventurar na realização de uma ficção situada no século XVI e o seu happy end – mitigado porque Miyagi já só fantasmaticamente está presente, mas intenso precisamente por isso – deixa-nos o travo amargo de uma história minúscula que na história maiúscula, absurdamente, se repete. CORRENTE Título do filme: CORRENTE Realização: Rodrigo Areias Fotografia: Jorge Quintela Montagem: Tomás Baltazar Música: Sean Riley & The Slowriders Som: Tiago Raposinho Interpretação: Inês Mariana Moitas, Vítor Correia
PORTUGAL, 2008 OS CONTOS DA LUA VAGA Título original: Ugetsu Monogatari Título em português: OS CONTOS DA LUA VAGA Realização: Kenji Mizoguchi Argumento: Yoshikata Yoda, Matsuraro Kawaguchi, a partir de duas novelas dos «Contos da lua vaga» de Akinari Ueda Fotografia: Kazuo Miyagawa Música: Fumio Hayasaka, Tamekichi Mochizuki, Ichirô Saitô Montagem: M. Myiata Cenografia: Ito Kisaku Interpretação: Machiko Kyo, Kinuyo Tanaka, Mitsuko Mito, Masayuki Mori, Eitaro Ozawa, Ikio Sawamura, Kikue Mori Produção: Masaichi Nagata JAPÃO, 1953 Que um filme sobre a ternura perdida – e, paradoxalmente, reencontrada – assente numa explicitação vertiginosa da violência -das relações humanas parece-me ser a primeira qualidade que ressalta desta obra-prima de Mizoguchi e do cinema universal. Realizada num tempo ainda muito próximo do drama bélico que assolou o Japão, esta obra coloca-nos perante uma reflexão duríssima acerca das ambições viris de sucesso, conquista e lucro que norteiam os homens em tempo de guerra e remetem para segundo plano os elos que os prendem às pessoas amadas e aos antigos ofícios. OS CONTOS DA LUA VAGA, não obstante uma brisa de lirismo que perpassa ao longo do filme, dão-nos conta de um mundo em permanente sobressalto, entre ataques surpresa e pilhagens esperadas, um mundo cuja ininterrupta convulsão se alimenta dos desejos, pueris mas devastadores, dos homens. Não é novidade para ninguém que a guerra desperte as mais negativas paixões, mas não deixa de ser curioso constatar que, desde os primeiros segundos, Mizoguchi associa o «instinto» bélico à explosão libidinal de um desejo de posse, de um desejo de enriquecimento através de uma
Tomando como referência – até musical e cenográfica – um certo classicismo americano, Rodrigo Areias propõe-nos, com esta curta-metragem, rodada a preto e branco, uma espécie de devaneio alegórico sobre o desejo erótico, cujo título desde logo desvenda o duplo carácter de desejo-fluxo e de desejo-grilheta das emoções em causa. Decididamente afastado de qualquer intenção realista – a mina e a energia que o trabalho lá dentro gera são apenas a outra face da corrente do rio transposto pelo protagonista, este último significativamente agarrado à mala onde arruma tudo quanto tapa a nudez necessária face ao objecto do seu desejo -, o realizador dispõe, com um desvelo que roça o puro esteticismo, os elementos e os motivos de uma relação ficcional assente na atracção. E há nesta escolha quase xadrezística a qualidade inegável da contenção: as personagens, colocadas num tempo socialmente vago, são como que intemporais; o curso de água funciona como barreira que separa e como torrente que aproxima; a montanha apresenta-se como puro obstáculo a uma imediata realização das pulsões; a mina, com as suas máquinas a girar e os seus tapetes rolantes, é uma metáfora não apenas da engrenagem da libido como também do próprio cinema, enquanto matéria produzida por máquina, e suporte, destinado a desfilar, que em si tem impressos a espessura dos banhos e a dureza dos relevos criados por luz e sombra. A banda sono-musical, desdenhando os sincronismos ou a verosimilhança das densidades e das perspectivas, acentua o efeito de irrealidade e de fechamento no aquário – ou no caldo – desta pequena história que desagua numa imagem situada no plano – ou no limbo – do simbólico. Rodrigo Areias, tal como outros realizadores das novas ou das novíssimas gerações de cine-autores portugueses, parece mais preocupado com a inserção do seu fazer cinematográfico numa história, real ou fantasmática, do cinema, do que efectivamente virado para uma reflexão sobre o aqui e o agora, postura que fora marca recorrente da maioria dos mestres nacionais durante o longo período que vai do Cinema Novo até ao dealbar do século XXI.